Você está na página 1de 48

2017

CARTILHA SOBRE
BAMBU

Abordagem dos principais aspectos que envolvem o MANEJO


ADEQUADO desta versátil planta, que acompanha a história
da humanidade desde tempos imemoriáveis e que tem sido
vista como “A MADEIRA DO FUTURO”, por sua alta
produtividade e excelentes características físicas, química e
mecânicas.
Esta cartilha foi elaborada com a intenção de divulgar informações sobre as
potencialidades do bambu, uma planta muito especial, que acompanha a
humanidade desde os seus primórdios e que até hoje, mesmo com toda a
tecnologia e modernidade, está sendo vista como “a madeira do futuro”.
As informações aqui contidas são frutos de pesquisa teórica e prática,
iniciada em meados de 2005. Começou como um hobby de final de semana,
criando luminárias e artefatos com o bambu. Com o passar do tempo o trabalho foi
crescendo e criou-se a necessidade de maior conhecimento sobre esta versátil
planta, pois algumas peças foram rapidamente devoradas pelos carunchos.

Quando comecei a pesquisar sobre o bambu fiquei impressionado com as


possibilidades de utilização, grande variedade de gêneros e espécies e inúmeras
outras particularidades desta planta.

No final de 2009 iniciamos o Projeto “Espaço Naturalmente”, um local


que serve como um laboratório, onde testamos e desenvolvemos as técnicas de
Permacultura, como saneamento ecológico, Bioconstrução com Terra Crua e
Bambu, fornos e fogões à lenha com combustão eficiente, jardins comestíveis e
alimentos orgânicos de polinização aberta/sementes crioulas, artefatos de bambu
etc. Neste local também ministramos cursos relacionados a Permacultura, Bambu e
Bioconstrução.

Nesta caminhada percebemos que através do PLANEJAMENTO


ECOLÓGICO, utilizando das técnicas de Permacultura, que é o resgate da cultura
tradicional somada as ciências modernas, e se utilizando de uma forte base
“ÉTICA” (Cuidado com a Terra / Cuidado com as Pessoas / Partilha Justa
dos Recursos Naturais) podemos criar ambientes humanos sustentáveis (casas /
comunidades) totalmente integrados com o ambiente e ecossistema.
Podemos utilizar recursos locais, respeitando e entendendo os ciclos
naturais, adaptando a arquitetura ao clima local, produzindo alimentos saudáveis e
nutritivos através das técnicas de agroecologia e agrofloresta, saneando o esgoto
através de “Jardins Filtradores” (Saneamento Ecológico), utilizando e
desenvolvendo tecnologias apropriadas e utilizando energias renováveis,
reinserindo o “Ser Humano” em seu habitat natural, de forma cooperativa
com a natureza e com as pessoas! E tudo isto através de técnicas de fácil
entendimento e aplicação, sendo apenas necessário empenho e dedicação no
desenvolvimento prático destas técnicas, no melhor estilo “faça você mesmo”,
junto com amigos e familiares.
Quando construímos algo coletivamente, estamos construindo também
laços de amizade e alegria, pois a cooperação faz parte da essência humana e
assim se contagia facilmente as pessoas ao redor de algo em comum e positivo
para todos! Isto não tem nada de novo, é o resgate de uma cultura humana
integrada com a sua Mãe Natureza!
Carlos Eduardo da Silveira
Bambuzeiro e Permacultor

2
Índice

1- Introdução...........................................................4

2- História................................................................5

3- Botânica...............................................................7

4- Morfologia............................................................8

5- Crescimento e Desenvolvimento dos Colmos......11

6- Florescimento.....................................................12

7- Cultivo................................................................12

8- Manejo................................................................13

9- Plantio................................................................16

10- Corte.................................................................19

11- Cura..................................................................22

12- Tratamento.......................................................23

13- Armazenagem de colmos..................................28

14-Espécies e Aplicações.........................................29

15-Diversos.............................................................33

16-Bambu Medicinal................................................34

17-Detalhes Práticos...............................................35

Anexos....................................................................35

3
1-Introdução
BAMBU: um recurso sustentável e renovável
●Planta perene e rústica que pode ser cultivada em solos com baixa fertilidade;

●Depois que um bambuzal atinge sua idade adulta, em torno de 5 a 8 anos,


produz colmos (troncos) anualmente;

●Não precisa ser replantado (a extração de madeira é apenas uma “poda”).


Um bambuzal bem manejado pode viver mais de 120 anos;

●Brotos para alimentação, rico em proteínas, fibras e substâncias antioxidantes.


Pode substituir a extração do Palmito Juçara, ameaçado de extinção;

●Fitorremediação (utilização de plantas como agentes descontaminantes de solo e


água) que pode ser utilizada em recuperação de áreas degradadas. O bambu
também pode ser utilizado no tratamento de águas residuais de esgotos
domésticos;

●Ciclagem de nutrientes (grande produção de biomassa);

●Grande versatilidade de aplicações e usos;

●Excelentes características físicas, químicas e mecânicas.

Frases sobre o Bambu:

“Por se tratar de uma planta tropical, perene, renovável e que produz colmos
anualmente sem a necessidade de replantio, o Bambu apresenta um grande
potencial agrícola. Além de ser um eficiente sequestrador de carbono, apresenta
excelentes características físicas, químicas e mecânicas.
Pode ser utilizado em reflorestamentos, na recomposição de matas ciliares, e
também como um protetor e regenerador ambiental, bem como pode ser
empregado em diversas aplicações ao natural ou após sofrer um adequado
processamento.
Porém o Bambu ainda é pouco utilizado, quer seja pelo desconhecimento de suas
espécies, de suas características e aplicações, quer seja devido à falta de pesquisas
específicas e à ineficiente divulgação das informações disponíveis.
No Brasil, o uso que se faz do Bambu, excetuando-se a produção de papel, está
restrito a algumas aplicações tradicionais, como artesanato, vara de pescar,
fabricação de móveis, e na produção de brotos comestíveis (PEREIRA, 2001).”

“O Bambu é o recurso natural que se renova em menor intervalo de tempo,


não havendo nenhuma outra espécie florestal que possa competir com o Bambu em
velocidade de crescimento e de aproveitamento por área (JARAMILLO, 1992).”

“O Bambu, uma planta predominantemente tropical e que cresce mais


rapidamente do que qualquer outra planta do planeta, necessitando, em
média, de 3 a 6 meses para que um broto atinja sua altura máxima, de até
30 metros, para as espécies denominadas de gigantes, apresenta uma admirável
vitalidade, grande versatilidade, leveza, resistência e facilidade em ser trabalhado
com ferramentas simples, formidável beleza do colmo ao natural ou após ser
processado, qualidades que lhe têm proporcionado o mais longo e variado papel

4
na evolução da cultura humana, quando comparado com qualquer outro tipo de
planta (FARRELY, 1984).”

“O Bambu sempre esteve presente na cultura e na vida diária do homem


primitivo de todos os continentes com exceção da Europa que não tem o Bambu
na forma nativa.
Nos tempos mais remotos o Bambu era empregado na fabricação de arcos e
flechas, habitações, utensílios domésticos, embarcações e outros.
Mais tarde o Bambu foi matéria prima na construção da primeira lâmpada,
avião e bicicleta (SALGADO, 1992).”

Estudos realizados no Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade


de Engenharia da UNESP em Bauru mostram que as espécies mais
indicadas para o uso estrutural na construção civil são as dos gêneros
Guadua (conhecido no Brasil como Taquaruçu), Dendrocalamus
(denominado Bambu gigante ou Bambu balde) e Phyllostachys pubescens.

2-História
A origem do Bambu, segundo Hidalgo Lopes, remonta o final do período
Cretáceo e início do período Terciário, por volta de 65 milhões de anos atrás.
Sítios arqueológicos no Equador mostram que o Bambu é utilizado há cerca
de 5000 anos na América do Sul, primeiramente pelos indígenas. O artigo do Dr.
J.J. Parsons na Geographical Review Vol. 81: “Giant American Bamboo in the
Vernacular Architeture os Colombia and Ecuador”, de 1991 é didático no assunto.
Pontes, cercas, barricadas, aquedutos e até prisões já foram feitas de bambu da
espécie Guadua Angustifolia, preferido dos colombianos e equatorianos.

O Bambu foi e é utilizado das mais variadas formas possíveis, alimentação


humana, palitos de dentes e churrasco, palhetas de saxofones, pranchas de surf,
skate, como armadilhas para peixes e como Arma de Guerra.

No Quilombo dos Palmares foram usadas Armadilhas de bambu, como


arma de defesa, também usavam paliçadas, de forma a impedir o avanço do
inimigo.

O bambu por ser biodegradável, quando soterrado, não apresenta a


mesma resistência que materiais como; pedra, osso, cerâmica, vidro, chifre,
metais, dificultando sua colaboração com a Arqueologia, sendo, portanto muito raro
achados de artefatos de bambu, dependem muito das condições do solo e do clima
para que cheguem ate nossos dias. Atualmente alguns achados na China estão
sendo revelados.

Na lenda do Saci-Perere, ele nasce dentro do colmo do bambu, passa sete


anos dentro do colmo, depois sai, e vive setenta e sete anos, durante o dia ele fica
dentro do bambu e a noite sai, para fazer suas traquinagens.
A colheita do Bambu no Japão para determinados fins, é realizada com
muito respeito, apenas homens com mais de sessenta anos, vestidos todos de
branco.

Uma antiga lenda Chinesa diz que, um grupo de sábios fugitivos da ira de
um Imperador se refugiou num bambuzal, só que naquela época o bambu era uma
planta sagrada na China, acredita-se que um espírito, o elemental do bambu
morava no interior do colmo. Esses sábios, sem ter nada para comer, passaram a

5
comer os brotos do bambu, e utilizá-lo para fazer casas, móveis e todos os
utensílios de uma casa. Com a morte do imperador que havia perseguido o grupo
inicial de sábios e quando o novo imperador assumiu, já se falava na Cidade de
Bambu, então o novo imperador mandou um destacamento procurar a Cidade de
Bambu. Quando a encontraram, os habitantes mostraram para os emissários do
imperador tudo o que haviam feito com Bambu. Então construíram um barco de
bambu e enviaram para o imperador. Este liberou o uso do bambu para se fazer
qualquer coisa com ele, passando a ser utilizado de forma irrestrita na China.

Durante o Ciclo das Navegações, principalmente os Portugueses e


Espanhóis, introduziram algumas espécies de bambu no Novo Mundo,
normalmente provenientes do Oriente.
Algumas dessas espécies se aclimataram muito bem nos países para que
foram levadas, no Brasil a mais comum é a Bambusa Vulgaris.

Para denominar esta planta, os indígenas brasileiros empregam, entre


outras, as palavras Taboca e Taquara.

No setor da construção civil, o uso do bambu é bastante difundido na Ásia


e em outros países da América Latina, como Peru, Equador, Costa Rica e Colômbia,
onde vários exemplos de edificações confirmam sua potencialidade.
Vale ressaltar o trabalho dos arquitetos Oscar Hidalgo e Simon Vélez na
Colômbia, que pela sua técnica refinada tem difundido o uso adequado do bambu
na construção civil.

O importante centro de pesquisa chinês China Bamboo Research Center –


CBRC (2001) destacou que a partir dos anos 80 tem havido uma intensificação no
uso do bambu em diversas áreas industriais, sobressaindo-se a produção de
alimentos, fabricação de papel, além de aplicações em engenharia e na química.

Produtos à base de bambu processado podem substituir, ou até mesmo


evitar, o corte e o uso predatório de florestas tropicais, destacando-se, dentre
outros, produtos como carvão ativado, palitos, chapas de aglomerados, chapas de
fibra orientada (OSB), chapas entrelaçadas para uso em fôrmas para concreto
(compensado de bambu), painéis, produtos à base de bambu laminado colado( tais
como pisos, forros, lambris), esteiras, compósitos, componentes para construção e
habitações, movelaria, dentre outros.

Dos anos 2000 em diante estão começando a ocorrer algumas ações


governamentais de apoio ao uso do bambu, como editais de projetos para o
financiamento de pesquisa e recentemente um projeto aprovado pela Comissão de
Agricultura e Reforma Agrária (CRA) que cria a Política Nacional de Incentivo ao
Manejo Sustentado e ao Cultivo do Bambu.

Em relação às propriedades estruturais do Bambu, Janssen (2000)


comentou que se forem consideradas as relações de resistência / massa
específica e rigidez / massa específica, tais valores superam as madeiras e
o concreto, podendo ser tais relações comparáveis, inclusive ao aço.

Os principais centros de pesquisa no Brasil são: PUC-Rio, se


destacando na área de construção, estudada pela AMBENTEC, dirigida pelo
professor Ghavami e também na área de Desing com o LILD (Laboratório de
Investigação de Livre Design) dirigida pelo professor Ripper; IAC – Instituto
Agronômico de Campinas, que possui o maior banco de espécies de bambu no
Brasil, com cerca de 100 espécies; InBambu em Alagoas e a UNESP.

6
3-Botânica
Os Bambus pertencem à família Gramínea e subfamília Bambusoidea,
algumas vezes tratados separadamente como pertencentes à família Bambusacea,
com aproximadamente 50 gêneros e 1300 espécies, que se distribuem
naturalmente dos trópicos às regiões temperadas, tendo, no entanto, maior
ocorrência nas zonas quentes e com chuvas abundantes das regiões tropicais e
subtropicais da Ásia, África e América do Sul. Os bambus nativos crescem
naturalmente em todos os continentes, exceto na Europa, sendo que 62%
das espécies são nativas da Ásia, 34% das Américas, e 4% da África e
Oceania (HIDALGO LOPEZ, 2003).

São encontrados em altitudes que variam de zero até 4800 metros.


Os tons de cor são variados: preto, vermelho, azul, violeta, tendo o verde e o
amarelo como principais.
No Brasil, as espécies nativas são em sua grande maioria enquadradas na
categoria de ornamentais, e estão associadas a um meio ambiente específico, como
as florestas. A maioria das espécies de bambu que se vê plantadas são exóticas,
originárias em sua maior parte de países orientais, de onde foram sendo trazidas e
aqui introduzidas desde o tempo do descobrimento, exceção feita ao gênero
Guadua, originário da América, sendo muito utilizado na Colômbia e
Equador, e possuindo várias espécies nativas no Brasil (PEREIRA, 2001).
De acordo com Figueira & Gonçalves (2004), o Brasil possui 34 gêneros
e 232 espécies de Bambus nativos (174 consideradas endêmicas), sendo
considerados 16 gêneros de bambus do tipo herbáceo (ornamental) e 18 gêneros
do tipo lenhoso.
Dentre os bambus lenhosos existem 6 gêneros (com 129 espécies)
endêmicos, destacando-se os gêneros Merostachys, com 53 espécies;
Chusquea (*bambu maciço), com 40 espécies; e Guadua, com 16 espécies.
No Brasil ocorrem 89% de todos os gêneros e 65% de todas as espécies
conhecidas na América.
Conforme Azzini & Beraldo (2001), algumas espécies de bambu nativas
no Brasil são conhecidas geralmente como: taquara, taboca, jativoca,
taquaruçú ou taboca-açú, conforme a região de ocorrência. Essas espécies de
bambus ocorrem, de acordo com Filgueiras & Gonçalves (2004), em ambientes de
mata, como a Floresta Atlântica (65%), Amazônia (26%), e os Cerrados
(9%) servindo como um tipo de cicatrização da floresta quando se processa a
retirada indiscriminada das árvores.

7
4-Morfologia
(*Forma e disposição das partes que compõem um vegetal.)
Apesar de ser uma gramínea, os Bambus apresentam hábito arborecente, e
possui parte subterrânea com rizoma e raiz e a parte aérea constituída por colmo,
folhas e ramificações.

*Partes do bambu (NMBA, 2004)


Rizoma Paquimorfo - Entouceirante

8
4.1-Rizoma
É um caule subterrâneo dotado de nós e entrenós com folhas reduzidas a
escamas e que se desenvolve paralelamente a superfície do solo. Não deve ser
confundido com a raiz que é uma parte distinta da planta.
Os rizomas se reproduzem de outros rizomas mais antigos e permanecem
conectados entre si. Nesta interconexão, todos os indivíduos de um mesmo grupo
são descendentes do rizoma primordial, e são, até certo ponto, interdependentes e
solidários, pois entre eles há troca de fotoassimilados (energia). Os brotos utilizam
as reservas de um grupo para crescerem e brotarem.
Os bambus do centro do grupo são os mais velhos e os da periferia os mais
jovens.
Os Bambus podem ser divididos em seis tipos diferentes de rizomas, sendo
três os principais:

●Entouceirante (Simpodial)
●Alastrante (Monopodial)
●Semi-Entouceirante (anfipodial)

*Diferentes tipos de rizomas (NMBA 2004).

Paquimorfo, também denominado entouceirante ou Simpodial,


apresenta os gêneros Bambusa e Dendrocalamus como principais
representantes. A maior parte destes bambus se desenvolve melhor em climas
tropicais, apresentando um crescimento mais lento em temperaturas baixas. Seus
rizomas são sólidos, com raízes na sua parte inferior e se denominam paquimorfos
por serem curtos e grossos. Os rizomas são dotados de gemas laterais que dão
origem somente a novos rizomas.

Leptomorfo, também denominado Alastrante ou Monopodial, são bem


resistentes ao frio, tem como representante mais conhecido o gênero
Phyllostachys . Os rizomas leptomorfos raramente são sólidos e de um modo
geral apresentam diâmetros menores que o dos seus colmos correspondentes. Nos
nós dos rizomas encontram-se algumas gemas que permanecem por um tempo ou
permanentemente dormentes. Geralmente quando em estado ativo estas gemas
brotam e produzem colmos esparsos o que permite caminhar entre eles.

9
Estes bambus são extremamente invasores, demandando cuidados
especiais ao serem cultivados. Tais cuidados referem-se à necessidade de manter a
floresta plantada confinada em uma área previamente definida, evitando desta
forma conflitos com vizinhos, com as áreas de reserva legal, áreas de preservação
permanente e a competição com outras culturas na mesma propriedade. Os
bambus leptmorfos podem ser isolados por meio de barreiras físicas como: mantas
plásticas, estradas com trânsito regular e cursos d’água. Vale lembrar contudo que
não é recomendado o uso dos cursos naturais de água para este fim, uma vez que
dado a grande capacidade de estabelecimento das espécies deste grupo, a invasão
da mata ciliar seria inevitável. Tal fato além de causar um dano ambiental seria por
consequência uma transgressão da legislação ambiental brasileira.

Anfimorfo, também denominado Semi-Entouceirante ou Anfipodial,


possuem rizomas de hábito intermediário ao Paquimorfo e Leptomorfo. Um mesmo
indivíduo forma várias touceiras próximas e interligadas pelo rizoma. O seu
principal representante é o gênero Guadua, nativo das Américas.

4.2-Colmo
O colmo, originando-se de uma gema ativa do rizoma, compõe a parte
aérea dos bambus e dá sustentação para os ramos e folhas. Como os bambus não
apresentam crescimento radial, o colmo já surge com o seu diâmetro máximo
na base e afunila em direção ao ápice assumindo assim a sua forma cônica. Os
colmos são segmentados por nós e os espaços compreendidos entre dois nós são
denominados entrenós, que são menores na base, aumentam o seu comprimento
na parte mediana e reduzem novamente o tamanho na medida em que vão
aproximando do ápice.
Os bambus são plantas de rápido crescimento que expressa de forma
visível no alongamento dos seus colmos. Na sua fase inicial de crescimento
observam-se as maiores velocidades de crescimento do reino vegetal, com algumas
espécies gigantes crescendo até 40 cm por dia.

4.3-Raízes
As raízes dos bambus partem dos rizomas, se lançam na projeção da copa
numa profundidade diretamente proporcional as dimensões de cada espécie. Por
ser uma monocotiledônea a raiz é fasciculada ,sendo portanto destituído de raiz
principal. Além de ancorar a planta, juntamente com os rizomas, as raízes têm a
importante função de extrair nutrientes e água do solo.

4.5-Folhas e ramificações
As folhas dos bambus respondem pela função de elaborar as substâncias
necessárias ao rápido crescimento desta planta através do processo da
fotossíntese. Características como: dimensão, formato da lâmina e presença de
pelos nas folhas são informações taxonômicas de grande valia para a identificação
das espécies.
A grande quantidade de folhas depositadas constantemente no solo
demonstra que esta planta tem uma notável capacidade de reposição foliar e
produção de biomassa.
Durante as primeiras fases do seu desenvolvimento os colmos dos bambus
são protegidos pela folha do colmo que apresenta uma bainha com uma área
muitas vezes superior ao da lâmina. Quando o ápice do colmo ultrapassa o dossel,
alcançando a luz, aumenta a emissão de ramificações e o solo na projeção da
planta fica tomado pelas folhas caulinares que vão gradativamente se
desprendendo do colmo. Nos bambus do gênero Guadua as folhas caulinares são
mais persistentes, podendo acompanhar o colmo por boa parte da sua existência.

10
As ramificações dos bambus originam-se das gemas localizadas nos nós e
são sempre alternas. Diferem entre as espécies, além de outras características,
pelo número e a posição que partem do colmo assim como pela presença ou não de
espinhos. Os espinhos, sempre presentes nos bambus do gênero Guadua, embora
não sejam restritivos, representam uma dificuldade a mais no manejo de florestas
comerciais de bambus. São tão agressivos que podem facilmente perfurar um
calçado.

5- Crescimento e desenvolvimento dos colmos


● A fase de brotação dos bambus entouceirantes inicia-se em
meados da primavera e permanece durante todo o verão.

● A fase de brotação dos bambus alastrantes ocorre entre os


meses de agosto a novembro.
*Estas épocas de brotação são referentes ao hemisfério sul.

Existem 3 fases de crescimento e desenvolvimento dos colmos:


●Fase 1- Alongamento do colmo: inicia-se quando os colmos, ainda na forma de
brotos, são tenros, apresentam entre 30 e 40 cm de altura e estão completamente
cobertos pelas folhas caulinares. Esta fase termina quando os colmos atingem
praticamente a altura total;
●Fase 2- Aparecimento de brotações laterais: estas brotações laterais dão
origem aos ramos. Nesta fase as folhas caulinares começam a se desprender do
colmo.
●Fase 3- Aparecimento das folhas: é caracterizada pelo aparecimento das folhas
e estende-se até o desenvolvimento completo da copa do colmo.

●O total desenvolvimento dos colmos se dá em aproximadamente:


(desde o broto até sua altura máxima)

4 meses para entouceirantes;


2 meses para alastrantes.
*É o vegetal que cresce mais rápido na natureza.

A maturidade dos colmos acontece quando estes atingem 3 anos,


para bambus de rizoma paquimorfo (entouceirante) e 5 anos para bambus
de rizoma leptomorfo (alastrante).

11
6- Florescimento
Em muitas espécies de bambus o florescimento é um fenômeno raro,
podendo acontecer em intervalos de até 120 anos. Várias espécies de bambus
morrem ao florescer devido a energia desprendida pela planta para a formação de
um grande número de sementes.
Porém, nem todo bambu que floresce morre. Ximena Londoño afirma que o
gênero Guadua costuma ter sempre um indivíduo florescendo em um dado grupo.

Os bambus apresentam três tipos de florações:


●Esporádica - ocorre apenas em algumas plantas de uma população
sendo que ao florescer a planta ou parte dela morre.

●Sincrônica - ocorre simultaneamente em todas as plantas de uma


população. Neste caso toda a população poderá morrer. As causas deste tipo de
floração continuam sendo um enigma para os botânicos, existindo muitas teorias
carentes de comprovação.
A ocorrência simultânea de florações de uma mesma espécie em diferentes
locais do mundo é um evento ainda estudado. A teoria mais aceita é que as plantas
de um mesmo clone (reproduzidas através de pedaços de uma mesma planta)
podem florescer simultaneamente em locais diferentes.

●Floração de “stress” – ocorre quando a planta é submetida a uma


agressão ou uma forte adversidade ambiental. Neste caso pode ocorrer o
florescimento em apenas alguns bambus.

7- CULTIVO
O estabelecimento de uma plantação de bambu demora, em média, de
cinco a oito anos, dependendo das condições locais, quando a moita atinge as
dimensões características da espécie, como diâmetro, espessura da parede e altura
do colmo (KUSACK, 1999).
Porém, uma touceira conterá sempre certa quantidade de colmos com
variadas idades, denominados brotos (um ano), jovens (de um a três anos) e
maduros (superior a três anos), sendo em média, formados dez novos colmos
anualmente, em touceiras que se encontrem estabilizadas.
Não há, ainda, uma concordância sobre a produtividade alcançada pelo
bambu (LIESE, 1985), sendo obtidos valores anuais da ordem de 10 t/ha a 30 t/ha.
O colmo de bambu tem sua durabilidade durante certo tempo no
bambuzal, pois se trata de uma cultura perene, que se renova ou brota todo
ano, com isso o colmo cresce e depois de alguns anos morre. Este tempo pode
variar conforme o gênero. O gênero Bambusa dura em torno de 7 anos, já o
Dendrocalamus dura de 15 a 20 anos na touceira.

Vantagens para produção de matéria prima para fins estruturais:

●Planta rústica que se adapta bem em diferentes climas e solos;

●Depois que um BAMBUZAL atinge a maturidade, em torno de 8 anos,


pode-se coletar colmos anualmente;

●Com o manejo adequado, não precisa ser replantado.

12
Comparação entre o cultivo de Bambu, Pinus e Eucalipto:

8-Manejo
As mudas de bambus recém plantadas levarão certo período até
começarem a desenvolver colmos com o diâmetro definitivo da espécie. As plantas
irão, ano a ano, aumentar o número de colmos por bambuzal e aumentar em
diâmetro e altura a cada nova brotação. Isso acontece até o momento em que
seja alcançado o diâmetro e altura máxima de cada espécie.
Normalmente o primeiro manejo de uma plantação estabelecida de bambu
inicia-se no quarto ano, por meio da retirada e da limpeza dos colmos que
nasceram no primeiro ano. No quinto ano se retiram ou se colhem os colmos
nascidos no segundo ano, e assim sucessivamente. Como regra geral deve-se
colher anualmente somente os colmos maduros, com pelo menos três anos, e os
colmos defeituosos ou que iriam congestionar a moita.
O ideal é fazer uma marcação com o ano de nascimento em cada colmo,
assim teremos maior precisão na hora de colher os colmos maduros.
Durante a fase de formação, a plantação necessita apenas de capinas
mecânicas ou manuais, isto quando o mato estiver crescido. Essa recomendação é
necessária até o segundo ano, pois a partir do terceiro já não mais será preciso,
já que o bambuzal desenvolver-se-á suficientemente abafando o mato.
Devem ser feitas limpezas periódicas nos bambuzais, para eliminar os
caules secos, velhos, com defeitos e quebrados e deixar as touceiras mais arejadas.
Tal prática propicia maior recebimento dos raios solares e evita também, na hora
da colheita, que o agricultor tenha dificuldades no corte e remoção das plantas
melhores.
Segundo especialistas, o mais importante é o raleamento anual da colheita,
que consiste em retirar da touceira todos os bambus finos e fracos, que devem ser
cortados pela base, pois assim ter-se-á uma touceira mais rala e com maior
ventilação, constituída apenas de bambus fortes, espessos e uniformes.
Não é recomendável ainda deixar restos vegetais amontoados nas
touceiras, que podem prejudicar o bom desenvolvimento dos novos brotos. Mas
nem todos os restos vegetais devem ser retirados, como é o caso das folhas que
cobrem o solo, pois servem de adubo, fornecem sílica e impedem a evaporação da
água do solo; dessa forma, mantém-se maior umidade e evita-se
superaquecimento, causado pela incidência direta dos raios solares.

8.1- Produtividade
A produtividade dos bambuzais varia em função dos seguintes fatores:
características naturais da espécie, disponibilidade de água e nutrientes, qualidade
do manejo realizado e condições climáticas.
Em estudo sobre o desenvolvimento de touceiras de bambu gigante
(Dendrolamus sp) no campus de Bauru, da UNESP, com manejo anual, verificou-se

13
a produção anual média de 8 colmos por touceira, ou 1640 colmos por hectare com
espaçamento entre mudas de 7x7m. (Pereira, Beraldo, 2007).
Já os bambus alastrantes varia de ano para ano, ocorrendo alternância
entre ano mais produtivo e ano menos produtivo (Austin et al., 1977). Um
bambuzal da espécie Phyllostachys bambusoides, desenvolvendo-se em clima
temperado, produz entre 1000 e 3700 colmos hectare ano, enquanto a espécie
Phyllostachys pubescens (mossô), em clima temperado, varia de 500 a 1500
colmos hectare/ano (Austin et al., 1977).
Sem a realização do manejo anual, o cultivo regride e perde
vertiginosamente a produtividade ideal característica de cada espécie.

8.2-Tipos de manejo específicos:


Quando são bambuzais que já existiam, e que nunca foram manejados,
ou apenas cortados esporadicamente, temos que analisar alguns fatores:
-As posições e crescimento de fibras ao longo dos colmos, como a
tortuosidade e redução de tamanho (encolhimento, muitas vezes causado pela
super população de bambuzal não manejado);
-Adensamento da touceira, verificar se existem colmos de boa qualidade,
mas sem disponibilidade de corte;
-A produção real, o que pode ser realmente utilizado;

Cálculo para verificação do bom desenvolvimento do bambuzal


Para saber se realmente o colmo está atingindo uma boa qualidade e se o
bambuzal está tendo um bom desempenho, recomenda-se o seguinte cálculo:

Diâmetro do pé do colmo X X 60
Resultado maior que o colmo, bambuzal de má qualidade;
Resultado menor que o colmo, bambuzal de boa qualidade.
*Cálculo proposto por Ueda (China)

●Raleamento
Retirada dos colmos podres e finos, varas quebradas e excesso de galhos.
Colher 50% dos maduros, deixando o restante dos colmos maduros em
diferentes setores da touceira.
Fazer caminhos para acessar o centro da touceira, onde estão os bambus
mais antigos.
Manejo indicado para touceiras com bambus fortes, retilíneos e não muito
adensados.

●Corte total
Cortar todos os colmos da touceira. Corte na altura de 30 cm, um pouco
depois do período de chuvas.
Manejo indicado para touceiras adensadas (populosa), com muitos colmos
podres, fracos e finos, com pouca brotação e irregular.
Após aproximadamente 4 anos começa a emitir novamente os colmos no
diâmetro da espécie.
Pode matar a touceira.
Fazer uma única vez na planta.

●Corte parcial
Dividir a touceira em seis setores. Retirar todos os colmos de um setor por
ano. Após seis anos a touceira estará renovada.
Indicado para touceiras com muitos bambus maduros e de boa qualidade.

14
8.3-Manejo para obtenção de brotos comestíveis
O manejo da plantação para fornecimento de brotos é um pouco diferente
do manejo para obtenção de colmos estruturais. Enquanto que nesse último caso
deseja-se a maior quantidade de colmos possíveis em uma touceira (normalmente
de 40 a 50 colmos, entre brotos, jovens e adultos), para a produção de brotos a
touceira não deve apresentar mais do que dez colmos. O manejo consiste
basicamente em cortar o broto com 30 a 40 cm, assim que ele interrompe seu
crescimento inicial, que pode durar de 10 a 15 dias. Depois desta fase o broto irá
crescer e se tornar muito fibroso, tornando-se, portanto, inadequado para o
consumo humano. Assim que um broto é colhido, é ativada uma nova gema
presente no rizoma (para as espécies entouceirantes) e produz-se um novo broto,
que, ao ser colhido, vai estimular uma nova gema e um novo broto, podendo tal
fato repetir-se durante dois a três meses. Para alcançar grande produtividade a
touceira necessita de adubação mais frequente para este tipo de manejo, sendo
indicado adubar mensalmente as touceiras durante o período de colheita.
Também se deve deixar que anualmente dois a três brotos se transformem
em colmos maduros, os quais serão as mães para os brotos do ano seguinte.
A maioria das espécies de bambu fornece brotos comestíveis, ricos em
proteínas, fibras e substâncias antioxidantes, os quais muito se assemelham
em ao palmito jussara (Euterpe edulis). O broto de bambu apresenta uma textura
suave e um tanto crocante, sendo muito utilizado nas culinárias chinesa e japonesa.
Algumas espécies, como o Dendrocalamus giganteus, Dendrocalamus asper,
Dendrocalamus latiflorus, Bambusa oldhami e Phyllostachys pubecens, são
muito apreciados na produção de brotos.
Na prática, o broto de qualquer espécie de bambu é comestível, pois o que
varia é a quantidade de ácido cianídrico presente, e que vai ser responsável pela
qualidade do sabor. As espécies Guadua angustifólia e Bambusa vulgaris não
são muito apreciadas, pois produzem brotos muito amargos.
Portanto, antes de utilizar um broto de bambu na alimentação humana,
deve-se fazer uma fervura de pelo menos trinta minutos, acrescentando uma
porção de bicarbonato de sódio ou de fermento branco, o que normalmente é
suficiente para eliminar o ácido cianídrico e, consequentemente o sabor amargo do
broto. Para as espécies com maior concentração de ácido cianídrico sugere-se fazer
duas ou mais fervuras, trocando a água a cada fervura.

*Foto da esquerda: gemas ativas no rizoma (Dendrocalamus asper /


entouceirante), que dão origem a novos brotos de bambu.
*Foto da direita: brotos iniciando o crescimento.

15
*Brotos de Phylostachys (Bambu alastrante).

9-Plantio
●Propriedades físicas do solo: as características físicas tais como declividade do
terre, textura do solo, densidade, capacidade de retenção de umidade e
temperatura constituem importantes fatores para o bom desenvolvimento dos
bambus. (kleinhenz; Midmore, 2001).
Os alastrantes em seu ambiente natural predominam em regiões
montanhosas, principalmente nas encostas. Os entouceirantes, por sua vez, nas
áreas de ocorrência natural, são mais comumente encontrados em regiões
planas, onde se adaptam melhor (Fu; Banik, 1995).
Solos ricos em pequenas partículas, como os argilosos, são pouco
apropriados para o cultivo de bambu. A alta densidade do solo limita o bom
desenvolvimento dos rizomas e raízes.
Por outro lado solos ricos em partículas grandes, como os arenosos,
também não são ideais para o crescimento dos bambus, pois apresentam baixa
capacidade de retenção de umidade. Entretanto, a incorporação de matéria
orgânica aos solos extremamente arenosos pode melhorar a capacidade de
retenção de água e, consequentemente colaborar para da produtividade destes
solos.
As condições ideais, quanto às propriedades físicas do solo para o
desenvolvimento de bambuzais são: abundância de matéria orgânica, boa
drenagem e alta umidade. Vale ressaltar que quando se fala em alta umidade,
estamos nos referindo a solos com boa capacidade de retenção de água e não
a solos encharcados, como os de regiões de brejo e banhados.

●Propriedades químicas do solo: além da disponibilidade de nutrientes, a


salinidade e o grau de acidez são fatores de grande relevância para o cultivo de
bambus.
A maioria das espécies de bambu é intolerante a condições de alta
salinidade dos solos.
Com relação ao grau de acidez do solo, os bambus em geral desenvolvem-
se, preferencialmente, em solos com pH entre 5,0 e 6,5 ou até 7,0 para
proporcionar melhor assimilação de Fósforo pelo bambuzal.

16
●Condições climáticas: os bambus alastrantes, em geral, se desenvolvem melhor
em regiões de clima temperado, onde as estações do ano são bem definidas.
Os bambus entouceirantes preferem as regiões tropicais.
Porém, é possível encontrar bambus alastrantes e entouceirantes
desenvolvendo-se relativamente bem em condições diferentes das descritas acima.
Os bambus entouceirantes tem pouca resistência a geadas, principalmente
quando se trata de uma planta jovem.
De um modo geral os bambus se desenvolvem bem em regiões com
precipitações oscilando entre 1.800mm e 2.500mm anuais e umidade relativa entre
75% - 85% (Pereira e Beraldo, 2007).
Os bambus lenhosos em geral se desenvolvem bem em condições de semi
sombreamento, mas atingem o desenvolvimento ótimo em condições de insolação
total.

●Exigências nutricionais: antes de iniciar a fertilização, é importante que seja


realizada uma análise de solo para a verificação da fertilidade e principalmente do
grau de acidez do mesmo.
Espécies de bambu, em geral, necessitam dos macronutrientes, em
quantidade, na seguinte ordem decrescente: K (potássio) > N (nitrogênio) > Ca
(cálcio) > Mg (magnésio) > P (fósforo) > S (enxofre).
Com relação aos micronutrientes a relação é a seguinte: Fe (ferro) >
Zn (zinco) > Mn (manganês) > B (boro) > Cu (cobre).
Além dos minerais citados, os bambus necessitam de grandes aportes de
Silício (Si), na forma de silicatos, para o seu desenvolvimento.
O Potásio (K) é o nutriente mais exigido pelos bambuzais em todas as
fases de desenvolvimento. Esse mineral é responsável pela formação dos açúcares
nas folhas e o seu transporte para os colmos. Bambuzais bem providos de K são
mais resistentes às secas, ao frio e às pragas.
Já o Nitrogênio (N) é consumido em maiores quantidades pela planta nos
estágios iniciais de desenvolvimento.
O Cálcio (Ca), nos bambuzais, é responsável pelo cumprimento de
importantes funções fisiológicas, além de facilitar a assimilação de todos os demais
nutrientes.

●Manutenção: devemos ter em mente que um solo saudável resulta em plantas


saudáveis e em menos trabalho. Por isso recomenda-se a adoção de medidas que
visem preservar a qualidade e as propriedades do solo. Nesse sentido
recomendamos a incorporação de composto orgânico e mulch, pelo menos duas
vezes ao ano. Jamais se deve manter o solo descoberto, pois solos sem cobertura
vegetal são mais susceptíveis a compactação, à erosão e à lixiviação dos
nutrientes.
A adubação de manutenção, a cada ano, deverá suprir a planta,
principalmente de K e N.

9.1-Preparo da cova e plantio


Abrir um buraco no solo com aproximadamente 50cm de diâmetro por
50cm de profundidade, em seguida coloca-se no fundo do buraco uma camada de
aproximadamente 20cm de esterco de curral curtido e revigorado com 300g de
calcário dolomítico, visando o fornecimento de Cálcio e Magnésio e eventuais
correções de acidez do solo.
Depois desta etapa coloca-se o torrão da muda na cova, completando o
restante do volume com terra preta e com a primeira camada de 20 cm de solo que
foi retirada para a abertura do buraco. Deve-se atentar para deixar a muda
levemente abaixo do nível do solo, formando uma suave depressão, de modo que a
água de chuvas e regas possa se acumular no pé da muda. Por fim o solo deve ser

17
coberto com mulch (cobertura vegetal seca), para diminuir a perda de umidade do
solo e proteção contra a lixiviação.
Os maiores cuidados nesta fase são com as regas, que devem ser
frequentes, e com o ataque de formigas saúvas, principalmente com mudas jovens.
Também deverá ser feito capinas periódicas, nos primeiros anos, evitando que a
muda fique sufocada. O gado gosta de comer as folhas de bambu e pode se tornar
um problema no início do plantio, quando as mudas ainda são pequenas.

9.2-Espaçamento
Para espécies gigantes, geralmente se utiliza o espaçamento de 7x5
metros, com ruas largas para manuseio e transporte dos colmos de forma prática
e eficiente. As espécies alastrantes podem ser plantadas em 3x3 metros, de
forma a deixar também ruas largas para manuseio e transporte, o que facilitará o
controle de invasão, que poderá ser manual, com a retirada de novas brotações e
rizomas ou então fazendo valetas que limitarão o seu sistema radicular.

9.3-Produção de mudas
A forma mais utilizada para fazer mudas de bambu é a propagação
vegetativa.
Pode ser realizada por separação de colmos, rizomas ou galhos.

Separação de rizomas
Deve-se escolher rizomas de um ano de idade no máximo.
Para rizomas paquimorfos (entouceirante) corta-se no pescoço, onde se
liga ao rizoma antigo, e acima do primeiro nó do seu jovem colmo. Depois planta-
se vertical, com o colmo para fora, ou horizontalmente, com o rizoma a poucos
centímetros abaixo da terra.

Para rizomas leptomorfos (alastrante) sem colmos deve-se cortar um


segmento com pelo menos três nós com gemas não usadas. Planta-se
horizontalmente, abaixo da terra. No caso de rizomas leptomorfos com colmos
deve-se cortar um segmento com algumas gemas e acima do primeiro nó do
colmo. Depois planta-se o rizoma horizontalmente abaixo da terra, com o colmo
para fora.

Separação de colmos
Funciona muito bem com gêneros tropicais como Bambusa e
Dendrocalamus. O colmo deve ter até um ano de idade. Deve-se deixar os
galhos principais que saem das gemas dos nós do colmo, mas cortados acima dos
seus primeiros nós.
Pode-se usar um nó simples, ou seja, cortar antes e depois de um nó,
enterrando horizontalmente, com o galho apontando para cima.

18
Pode-se também usar um nó duplo, ou seja, cortando antes de um nó e
depois do nó seguinte. Ainda pode-se fazer um furo, encher parcialmente a parte
interna do entrenó de água, e tapar com alguma bucha (algodão, pano). Depois
enterra-se com algum galho orientado para cima. Este método é mais seguro de
funcionar do que o simples.

Galho lateral
Indicado para bambus entouceirantes.
Corta-se o galho na base, onde se liga ao colmo. Deixa-se o galho com 3
nós, cortando acima do terceiro nó. Enterra até a metade, em vaso ou sacos para
mudas. Tem um índice de 50% de “pega”.
Depois de 6 meses pode ser plantado no local definitivo.
*Mistura da terra para o saco de muda:
50% de areia + 25% de esterco curtido + 25% de argila.

10-Corte
A moita ou bosque necessita ser podada todos os anos. Assim haverá
mais luz para a fotossíntese e mais nutrientes para os colmos restantes.

●Todos os colmos secos e podres devem ser retirados.


●O ponto de corte deve ser logo acima do primeiro nó aparente,
rente ao solo.

O corte deve ser bem acima do nó, evitando deixar um “copo”. A água
da chuva contida nestes “copos” apodrece o rizoma abaixo da terra e prejudica a
formação de novos brotos no bambuzal.
Usa-se uma serra de poda ou “dente de tubarão” para o manejo adequado.
Evitamos usar facões para este tipo de corte, visto que este procedimento poderá
trincar o bambu, favorecendo o apodrecimento do rizoma na touceira ou bosque.
Como visto anteriormente, a maturidade dos colmos acontece
quando estes atingem 3 anos, para bambus de rizoma paquimorfo
(entouceirante) e 5 anos para bambus de rizoma leptomorfo (alastrante).

19
*Detalhe do ponto de corte, acima do nó, sem formar copo. Evitando assim
que acumule água e apodreça o rizoma, prejudicando novas brotações

10.1- Identificação da idade dos colmos de bambu:


●Colmos maduros apresentam fungos e liquens, tendo aspecto de “sujo”.

●Colmos jovens são “limpos” e muitas vezes ainda apresentam um pó


esbranquiçado próximo dos nós, proveniente da folha caulinar, que após alguns
meses de vida do colmo, se desprende do mesmo.

Colmo com fungos e liquens Colmo recoberto pela folha caulinar

20
10.2- A colheita de colmos de Bambu deve
respeitar a fisiologia da planta
Devemos evitar colher no período em que a planta está emitindo os
brotos e os momentos que antecedem esta fase. Nesta hora os colmos maduros
estão carregados de carboidratos presentes na seiva, já que durante esta fase
os colmos realizam a função de transloucar boa parte da seiva, que é produzida na
fotossíntese, via rizomas aos brotos, como suprimento energético para seu
crescimento. Esse processo de translocação de seiva se prolonga até o momento
em que os novos colmos completam o desenvolvimento das estruturas foliares.
Quando os últimos colmos gerados já apresentam superfície foliar
suficiente para realizar a fotossíntese é que os colmos maduros podem ser
removidos, sem prejudicar o crescimento dos colmos jovens e para a obtenção de
colmos com menor quantidade de amido, o alimento de fungos e insetos.

●Entouceirantes (paquimorfos):
colheita entre julho, agosto e setembro.

●Alastrantes (leptomorfos):
colheita entre os meses de dezembro a maio.
*Referente às regiões Sul e Sudeste do Brasil

Estando na época certa do ano deve-se escolher a fase adequada da lua,


esta sendo a lua minguante.
Outra atenção especial a ser tomada é a idade do bambu. Para fins de
tecelagem ou cestaria usam-se os bambus jovens e imaturos, pela sua
flexibilidade. Para fins de construção deve-se usar os bambus maduros, mas
não podres, com cerca de 3 a 6 anos, quando atingiram sua resistência ideal.

Para evitar que o bambu “trinque”, devemos furar os diafragmas


(membrana que divide os entrenós internamente) logo após o corte. Pode ser feito
com barra de ferro ou outro bambu menor.

21
11- Cura
O processo de cura consiste na secagem e diminuição da seiva, que é alimento
dos insetos que atacam o bambu.
*Não confundir com tratamento.
Em diversos materiais sobre bambu os processos de cura são
erroneamente confundidos com tratamentos, podendo causar danos ou acidentes,
pois estes bambus “curados” ainda tem grande possibilidade de pegarem caruncho
ou o tigre do bambu, que são os insetos que se alimentam das paredes internas
dos colmos de bambu.
Outro problema que encontramos na produção e comercialização de colmos
de bambus no Brasil é que alguns produtores que comercializam varas do gênero
Phyllostachys (Cana da Índia / Mirim / Mossô), costumam utilizar o método de
fervura das varas em água ou no vapor, e vendem estes mesmos bambus como
“tratados”, porém estes mesmos colmos não estão imunizados corretamente.

●Cura na mata: cortar o colmo de bambu e deixar no próprio bambuzal,


escorado, por 30 dias, ainda com as folhas. Durante este tempo o bambu irá
transpirar boa parte de sua seiva através das folhas. Também fica mais fácil de
retirar os colmos do bambuzal, visto que estes ficarão mais leves (com menos
umidade). Não é 100% eficiente.

●Imersão em água: As varas de bambu devem ficar totalmente


imersas em água por quatro semanas – o bambu é rico em amido e açúcar que
serão eliminados em grande parte (mas não totalmente) com esse banho – após,
devem ser armazenadas na posição vertical, em ambiente livre de umidade e sem
incidência direta dos raios de sol nas varas, para uma secagem lenta e natural.
O amido irá degradar-se através de fermentação anaeróbica.
Outro modo muito utilizado para “cura” é ferver o bambu em água.
Aconselham-se períodos de 15 a 60 minutos para cada grupo. Porém, as varas
curadas com este método ficam mais suscetíveis a trincar. Utilizado para bambus
de rizoma alastrante (Phyllostachys)

●Cura pela ação do fogo: consiste em submeter os colmos ao


aquecimento em fogo direto, para eliminar a seiva por exsudação. Com o
aquecimento procura-se alterar (degradar) quimicamente o amido, tornando-o
menos atrativo ao caruncho.
Essa cura é utilizada para colmos de bambu pertencentes ao gênero
Phyllostachys. Durante a cura com fogo ocorre o derretimento de uma cera
natural presente nas camadas periféricas do colmo. Geralmente essa cera é
retirada, ainda quente, com a fricção de um pano. Nestes bambus, obtém-se com
este processo, uma coloração parda brilhante, conferindo excelente aspecto
estético ao colmo.
No entanto, espécies de bambus entouceirantes, não adquirem tal
coloração e nem tal brilho característico.
Com maçarico
Deve-se começar a secagem a partir da base da vara, indo em direção a
parte superior. Técnica conhecida como “Penteamento de Fibras”, por alinhar as
fibras do bambu.
Utiliza-se fogo baixo, sempre girando o bambu para que seque de forma
uniforme.
Antes de iniciar o processo com fogo, devemos perfurar os diafragmas
(parede interna dos nós), com um pedaço de ferro, por exemplo, evitando riscos de
um entrenó “estourar” com a pressão que fica ao ser aquecido.

Esta cura é indicada para os bambus alastrantes (leptomorfos).

22
*É comum este processo de cura com maçarico (fogo), ou a fervura em
água, ser chamado de “tratamento”, porém, vale ressaltar que não é tratamento,
sendo este outro processo (ver item 12). Em nossa experiência prática com o uso
do bambu constatamos que uma porcentagem em torno de 5 a 10% das varas
curadas com fogo são atacadas por Brocas e/ou Tigres do Bambu, que são os
insetos que devoram os bambus.

Processo de cura com maçarico.


Podemos fazer uns detalhes mais escuros no bambu, utilizando o fogo.

12-Tratamento
O bambu possui teor de amido relativamente elevado em sua
constituição, por isso ele é bastante susceptível ao ataque de pragas. Para se obter
maior resistência e durabilidade, principalmente quando destinado à construção,
é muito importante que algumas providências sejam tomadas no sentido de
otimizar o aproveitamento desse material.

Existe muita informação divergente sobre este assunto!

O bambu absorve água e não absorve óleo, deste modo devemos utilizar
uma substância que seja inseticida e/ou fungicida solúvel em água, para um
tratamento eficiente do bambu.

Alguns métodos como o uso do fogo, imersão em água ou defumação são


processos ineficientes e não se caracterizam como tratamento.

O tratamento consiste em colocar uma


substância imunizante (inseticida e/ou fungicida)
dentro das fibras do bambu.

23
Para este processo existem alguns métodos, como substituição de seiva,
imersão em solução preservativa, boucherie (por pressão) etc.

Detalhe importante:
Os bambus têm o crescimento diferente das árvores. Enquanto as árvores
crescem finas e vão engrossando seu caule com o tempo, os bambus já nascem
grossos, na grossura que serão a vida inteira. Com o tempo eles engrossam a
parede interna, ou seja, a parte mais mole do tronco do bambu é a parede
interna, onde os bichos costumam atacar (Broca e Tigre do Bambu).
Deste modo não adianta passar veneno ou defumar por fora, pois o ponto
crítico do bambu são as paredes internas.

12.1-Tratamento artesanal e natural


Solução preservativa: Tanino
Tratamento natural contra fungos e insetos.
Os taninos são componentes polifenólicos distribuídos em plantas,
alimentos e bebidas (MAKKAR; BECKER, 1998, SANTOS et al. 1997). De acordo
com Zucker (1983), os taninos encontram-se distribuídos em plantas superiores,
ocorrendo em aproximadamente 30% das famílias. Eles são solúveis em água e
solventes orgânicos polares, sendo capazes de precipitar proteínas (HARTICH;
KOLODZIEJ, 1997).
Pode-se extrair o Tanino de forma alternativa através da fervura da casca
da árvore, ou através de fornecimento de empresas que tem o processo
industrializado de extração, sendo fornecido em liquido concentrado ou em pó para
diluição.
Utilizado em larga escala no curtimento do couro.

ÁRVORES EM QUE A CASCA PODE SER APROVEITADA PARA


A EXTRAÇÃO DO TANINO:
1. ACÁCIA NEGRA E ACÁCIA MIMOSA;
2. IMBAÚBA-VERMELHA, EMBAÚBA, EMBAÚVA;
3. GRÁPIA, GRAPINHAPUNHA, GARAPA;
4. SUCARÁ, AÇUCARÁ, CORONDA, CORONILHA;
5. BRACATINGA, ABRACATINGA, YBIRÁ-CAÁ-TINGA;
6. CABREÚVA, CABRIÚVA, ÓLEO-PARDO, CABURE;
7. ANGICO, ANGICO-VERMELHO, GURUCAIA, PARICÁ, ANGICO-CAÁ;
8. AMENDOIM, CANAFÍSTULA, GUARACAIA, IBIRÁ-PUITÁ;
9. PAU-JACARÉ;
10. JACATIRÃO, JACATIRÃO-AÇU, CARVALHO-VERMELHO, NHACATIRÃO;
11. CATIGUÁ, CARRAPETA, QUEBRA-MACHADO, CAÁ-TING-NÁ;
12. CAPOROROCA, CAPOROROCA-VERMELHA, CAPOROROCÃO;
13. ARAÇÁ,ARAÇAZEIRO,ARAÇA-DA-PRAIA,ARAÇA-AMARELO
14. CAMBOATÁ-VERMELHO, CUVUTÃ, ARCO-DE-PENEIRA;
15. AÇOITA-CAVALO, IVATINGI, IVATINGUI.
*Lista disponibilizada por Luciano Tizziani em “Tratamento preservativo
ecológico de bambus”.

Outras árvores que apresentam elevado teor de taninos totais são a


Goiabeira (Psidium guajava: 13 a 17%) e o Araça Pitanga (Psidium runn: 20%).
A Erva Cidreira de arbusto (Lippia alba) possui 20% de taninos totais e
apresenta um grande potencial para a extração de tanino, por se tratar de um
arbusto e ter rápido crescimento, se comparado às árvores, visto que a coleta da
casca de uma árvore, em grande quantidade, acaba por matar a mesma.

24
Devemos plantar a espécie que pretendemos utilizar para extrair o tanino e utilizá-
lo no tratamento de bambu, em média ou larga escala.
Em pequena escala poderá ser feito uma poda na árvore escolhida e
utilizar galhos e folhas para a produção do chá de tanino.
Este método utilizando o tanino ainda tem poucos dados
publicados.

●Devemos fazer testes práticos para atestar


a viabilidade deste tratamento.
Guilhermo Gayo, dirigente do Takuara Rendá no Paraguai, centro de
estudos sobre o bambu (www.takuararenda.org) aprendeu essa técnica com os
índios do Paraguai. Para produzir o tanino utiliza as cascas e folhas de aroeira
pimenteira e cozinha-se com água.
O tanino inibe o ataque às plantas por herbívoros vertebrados ou
invertebrados, como o caruncho (diminuição da palatabilidade, dificuldades na
digestão, produção de compostos tóxicos a partir da hidrólise dos taninos) e
também por micro-organismos patogênicos tais como os fungos (Wikipédia).

Colocar o “chá” de tanino em um balde, extrair a vara do bambuzal,


colocando a base dentro de um balde com tanino e deixar o bambu apoiado no
bambuzal por 30 dias. Neste tempo o bambu vai puxar o tanino para os colmos. O
tanino sobe aproximadamente 5 metros no colmo. Semelhante ao processo de
“cura na mata”.

*Processo de tratamento com Tanino

12.2-Tratamento Químico
Solução preservativa indicada (baixa toxidade):
Bórax (sal)
*Esta é a substância mais utilizada para tratamento, mundialmente,
entre os profissionais deste ramo.

25
Receita utilizada por Jörg Stamm

●2,5 kg de Bórax
●2,5 kg de Ácido Bórico
●100l de água;
*5% de solução preservativa.

*Dissolver o bórax e o ácido bórico em recipiente com uns 10 litros de água,


dissolvendo lentamente e em recipiente separados. De um dia para o outro vai
mexendo algumas vezes até o “sal” sumir na água.
Depois de dissolvido se adiciona no restante da água, onde se formará o
pentaborato.
Pode-se aquecer a água a 80° para ajudar a dissolver o bórax e ácido bórico,
porém se chegar a 100° o bórax volatiza e se perde.

*Não recomenda-se utilizar os produtos CCB (boro+sulfato cobre +


dicromato) e
CCA (cromo + boro + arsênio) para tratamento de bambus ou madeiras.
O dicromato e o arsênio são altamente tóxicos!

Bórax:
O bórax é um sal natural (pó branco inodoro), não é inflamável, não combustível,
não explosivo e tem baixa toxicidade oral e dermatológica.
-Efeitos do produto: O produto em grande quantidade se inalado pode ser
prejudicial às vias respiratórias.
A exposição do produto a pele não é preocupante, pois o produto não é absorvido
pela pele.
-Efeitos ambientais: O produto em grandes quantidades pode ser perigoso para as
plantas e outras espécies, deve-se reduzir a descarga no meio ambiente.
-Também é utilizado como micronutriente de adubação orgânica, porém bem
diluído (100l água para 1l de solução).

12.3- Formas de utilização das soluções preservativas

●Por capilaridade (ou substituição de seiva)


Logo após o corte do colmo (ou no máximo 12 horas após), imergir a parte
basal (base do colmo) em solução preservativa.
Utilizado em peças de 2,5m até 3m de comprimento.
Pode-se utilizar um tonel de 200l com solução preservativa.
Utiliza-se apenas 100l de solução neste tonel de 200l, para ter espaço para
a colocação dos colmos sem que transborde a solução do tonel.
Deixar por 7 dias no tonel, após virar as varas (parte basal para cima) e
deixar por mais 7 dias.
Logo após a extração do colmo este ainda continua vivo (até 12h após) e
continua “puxando a seiva” e ao ser colocado no tonel com a solução preservativa
esta entra nas fibras substituindo a seiva, que evapora pelo topo cortado do
bambu. Após deixar secar por 2 ou 3 meses.

26
Método de substituição de seiva.

●Boucherie
Consiste em aplicar o produto por pressão. Na parte basal do colmo é
conectada uma bolsa, de forma a ficar bem aderida, ligada a um tubo por onde a
substância preservativa será transportada, do tambor onde está armazenada para o
colmo. Ao passo que a pressão é dada, a substância penetrará pelos vasos
condutores do colmo até sair em sua outra extremidade.
A fonte de pressão pode ser por força gravitacional ou por um compressor
de ar.
Deve ser aplicado aos colmos de bambu recém cortados, e sem perfuração
dos diafragmas do colmo.

*Imagem do Livro “Manual de Construccion con Bambu”

●Por imerção em solução preservativa


Os colmos são totalmente imersos horizontalmente em tanque com
solução preservativa por um período de 4 dias. O tanque pode ser de alvenaria, ou
tonéis de metal cortados pela metade e soldados.
Usam-se os colmos ainda verdes (com seiva), com os diafragmas
perfurados.

27
Neste caso o processo de migração do bórax para dentro das fibras do
bambu se dá por osmose, por isso é importante que as células estejam “vivas”,
absorvendo assim a solução preservativa. Pode ser feito até 2 meses após a
colheita.

*Depois que o bambu está seco, o processo de osmose fica comprometido,


e as paredes do bambu absorvem a água, porém não penetra o sal preservativo na
célula.

*Imagem retirada do livro “Manual do Arquiteto Descalço”.


*Esquema utilizando tonéis abertos e soldados.
Este modelo pode ser utilizado tanto para imersão como fervura de bambus.

●Método do “copão”:
Furam-se todos os diafragmas do bambu menos o último (na parte superior
da vara);
Coloca-se o colmo de bambu na vertical ou na diagonal (dependendo do
comprimento) e preenche o interior do colmo com a solução preservativa
(enchendo como se fosse um “copo”);
Podemos deixar as varas já cortadas no tamanho que iremos utilizar;
Neste caso o processo de penetração da solução preservativa nas fibras dos
bambus se dá por osmose, por isso é importante que as células estejam “vivas”,
absorvendo assim a solução preservativa. Ou seja, deverá ser realizado antes da
vara secar completamente.
O colmo fica com a solução preservativa em seu interior por 4 dias. Ao fim
rompemos o último diafragma e deixamos escorrer a solução para dentro de um
reservatório.
OBS: Neste caso o colmo não poderá apresentar rachaduras ou furos.

13- Armazenagem de colmos


Para armazenar colmos de bambus devemos ter alguns cuidados.
Após a colheita devemos colocá-los em local abrigado da umidade do solo
e da chuva, incidência direta de raios solares nos colmos e boa ventilação.

*É indicado deixar os bambus que ainda contém umidade em pé, na


posição vertical, até a perda total ou quase total da umidade (mudança na
tonalidade de cor), facilitando assim a saída da seiva e dos líquidos de seu interior
e diminuindo a incidência de trincas nos colmos.

A forma mais utilizada para armazenamento dos colmos secos é em


prateleiras horizontais.

28
*Galpão de beneficiamento no Instituto Pindorama – Nova Friburgo-RJ.

14- Espécies e Aplicações

●Bambusa textilis
Espécie de bambu entouceirante, de médio porte, com colmos retos e lisos.
-Altura dos colmos: até 15m;
-Diâmetro dos colmos: 3 a 5cm;
-Espessura da parede: fina;
-Clima e solo: Sub-Tropical, solos médios a ricos;
-Temperatura mínima: -15°C;
-Distribuição natural: China;
-Usos mais comuns: artesanatos e utensílios domésticos.

●Bambusa tulda
Espécie de bambu entouceirante de elevado a médio porte.
-Altura dos colmos: até 30m;
-Diâmetro dos colmos: 7cm;
-Espessura da parede: fina;
-Clima e solo: regiões semi-úmidas;
-Temperatura mínima: -2°C
-Distribuição natural: Bangladesh, Myanmar, Tailândia e Índia;
-Usos mais comuns: polpa e papel, alimento (broto), artesanatos em geral.

●Bambusa vulgaris
Espécie de bambu entouceirante, de médio porte, com colmos tortuosos e elevado
teor de amido.
-Altura dos colmos: 15 a 25m;
-Diâmetro dos colmos: 6 a 15cm;

29
-Espessura da parede: 7 a 15mm;
-Clima e solo: variedade de climas e solos, até 1,500m de altitude.
-Temperatura mínima: -2°C;
-Distribuição natural: Espécie Pantropical;
-Usos mais comuns: Construção, polpa e papel, móveis, andaimes e artesanatos.

●Bambusa tuldoides
Espécie de bambu entouceirante, de médio porte. Bastante comum no Brasil,
conhecido como “Taquara”.
-Altura dos colmos: 12m;
-Diâmetro dos colmos: 6cm;
-Clima e solo: regiões semi-úmidas;
-Temperatura mínima: -9°C
-Distribuição natural: China.
-Usos mais comuns: construção, cercas, artesanatos, móveis e tutoramento de
tomates.

●Bambusa oldhamii
Espécie de bambu entouceirante, com colmos retos, de médio porte.
-Altura dos colmos: 18m;
-Diâmetro dos colmos: 10cm;
-Temperatura mínima: -9°C;
-Distribuição natural: China;
-Usos mais comuns: Alimento (broto), móveis, artesanatos e estruturas
leves.

30
●Dendrocalamus asper:
Espécie de bambu gigante, entouceirante, de grande porte.
-Altura dos colmos: 20 a 30m;
-Diâmetro dos colmos: 8 a 20cm;
-Espessura da parede: 11 a 20mm;
-Clima e solo: regiões úmidas a semi-áridas, solos ricos e altitudes de até 1.000m;
-Temperatura mínima: -5°C;
-Distribuição natural: Índia, Tailândia, Vietnã, Malásia, Indonésia e Filipinas.
-Usos mais comuns: Construção pesada, uma das melhores espécies para produção
de brotos comestíveis, móveis, instrumentos musicais, artesanatos e utensílios
domésticos.

●Dendrocalamus giganteus:
Espécie de bambu gigante, entouceirante, de grande porte.
-Altura dos colmos: 24 a 40m;
-Diâmetro dos colmos: 10 a 20cm;
-Espessura da parede: 1 a 3cm;
-Clima e solo: regiões tropicais úmidas até regiões subtropicais;
-Temperatura mínima: -2°C;
-Distribuição natural: Sri Lanka, Bangladesh, Nepal, Tailândia e China;
-Usos mais comuns: Construção pesada, laminados de bambu, fabricação de polpa
e papel, utensílios, móveis, artesanatos, alimentação (brotos).

31
●Phyllostachys aurea
Espécie de rizoma alastrante, de pequeno porte e muito comum no Brasil.
Popularmente conhecida como “cana da índia”.
-Altura dos colmos: 8m;
-Diâmetro dos colmos: 3 a 6cm;
-Espessura da parede: fina;
-Clima e solo: clima temperado e solo rico em matéria orgânica;
-Temperatura mínima: -18°C;
-Distribuição natural: China;
-Usos mais comuns: móveis, varas de pescar, cerca viva e paisagismo.

●Phyllostachys pubescens
Espécie de rizoma alastrante, de médio porte, também conhecido como Mosô.
-Altura dos colmos: 10 a 20m;
-Diâmetro dos colmos: 7 a 15cm;
-Espessura da parede: média;
-Clima e solo: clima temperado e solo rico em matéria orgânica;
-Temperatura mínima: -15°C;
-Distribuição natural: China;
-Usos mais comuns: Construção, alimento (broto), móveis, artesanatos etc.

32
Phyllostachys aurea Phyllostachys pubecens

●Guadua angustifolia
Espécie de bambu gigante, de rizoma semi-entouceirante, com espinhos nas
gemas, de elevado porte e excelentes propriedades mecânicas e grande
durabilidade natural dos colmos, sendo muito importante para a economia rural na
Colômbia e Equador.
-Altura dos colmos: até 30m;
-Diâmetro dos colmos: até 20cm;
-Espessura da parede: 1,5 a 2cm;
-Clima e solo: Clima trocpical, solos médios a ricos, cresce ao longo de rios ou
colinas;
-Temperatura mínima: -2°C
-Distribuição natural: América do Sul, incluindo a região Norte do Brasil até o
Panamá;
-Usos mais comuns: Construção e usos diversos no meio rural.

33
15-Diversos
Como alternativa ao uso das árvores, tem-se os bambus lenhosos, que
vem sendo utilizado secularmente para várias finalidades. Aproximadamente, 22
milhões de hectares são cultivados em nosso planeta, sendo descritos mais de
4.000 usos para esta planta. É um material ecológico, leve, resistente, versátil e
com excelentes características físicas, químicas e mecânicas, que lhe possibilitam
milhares de aplicações ao natural ou processadas.

Na prática o bambu serve como alimento humano e animal, biomassa


energética para energia renovável e energia limpa, material de construção e
matéria-prima industrial para vários setores-cosmética e medicina, como papel,
celulose e compósitos de madeira, além de também ser identificado como elemento
de conservação e recuperação ambiental, principalmente para conter a erosão.

Estudos de mercado relacionados diretamente com o bambu são mais


comuns nos países asiáticos, pois estes mercados são mais tradicionais na
produção e uso do bambu.

O bambu possui mais celulose que o pinheiro e o eucalipto. A resistência


das fibras apresenta qualidade igual ou superior às fibras da madeira, podendo,
ainda substituir fibras inorgânicas como o asbesto (PAULI, 1999)

No Brasil, o valor total da produção do setor de base florestal em 2005, foi


de 27,8 bilhões de dólares, ou seja, 3,5% do PIB nacional. Neste valor estão
incluídos celulose, papel, madeira industrializada sob todos os processos, móveis,
siderurgia a carvão vegetal e produtos florestais não madeireiros (SBS, 2005).

A existência de áreas de cultivo comercial de bambu no Brasil estão


restritas a plantios nos estados do Maranhão, Paraíba e Pernambuco (RIBEIRO,
2005). Conforme Nunes (2005), os plantios da Paraíba e Pernambuco são
destinados à fabricação de papel objetivando a produção de sacos para embalagem
de cimento portland.

Na China são pesquisados e fabricados (industrializados) diversos produtos


à base de bambu tais como: pisos, forros, lambris, móveis, chapas de tiras,
laminados para assoalho, cortinas, chapas de aglomerado e chapas entrelaçadas
como formas para concreto (compensado de bambu) (QISHENG; SHENXUE, 2001).

A valoração econômica ambiental busca avaliar o valor econômico de um


recurso ambiental através da determinação do que é equivalente, em termos de
outros recursos disponíveis na economia, que estaríamos (os seres humanos)
dispostos a abrir mão de maneira a obter uma melhoria de qualidade ou quantidade
do recurso ambiental.
Com base nestas constatações e tendo as populações uma busca crescente
por recursos naturais renováveis, observasse que esta busca tem aumentado na
medida em que novas tecnologias são inseridas no processo produtivo, fazendo
com que matérias primas de impacto negativo no meio ambiente sejam
substituídas, desta forma o bambu tem se mostrado como um ativo ambiental de
grande potencial no seu complexo produtivo.

34
16-Bambu Medicinal
A folha de bambu oferece benefícios para pele, unhas, dentes e cabelos,
funcionando como um renovador.
As propriedades medicinais do chá das folhas de bambu: diurético,
digestivo, controla febre e tosse, asma, afecções intestinais, osteoporose,
antiartrose, hemorroidas e males do estômago, remineralizante e tônico geral do
organismo, brilho e maciez para os cabelos, antitóxico e anti-helmítico.
A folha de bambu também é excelente para uma pele saudável. Ela tem
uma grande quantidade de sílica que ajuda a deixar a pele com mais elasticidade e
ajuda o organismo produzir colágeno. A melhor forma de usar esse tratamento é
fazer um emplastro de folha de bambu e água quente e colocar diretamente no
rosto.
A sílica encontrada na folha de bambu também é um ótimo tratamento
para manter seus cabelos fortes, com fios brilhantes e crescendo. Receita: ferva 8
copos de água com duas mãos cheias de folhas de bambu. Deixe em ebulição por
três minutos, desligue, tampe e espere pelo menos uma hora antes de aplicar.
Aplique no cabelo e deixe até o dia seguinte.
Uma receita que vem ganhando popularidade entre as mulheres que
querem ter uma unha bonita e forte é a mistura de água fervente e folhas de
bambu. Depois de ferver a mistura deixe esfriar, coe e coloque as mãos na mistura
por cerca de 20 minutos. Enxague com água fria. Para completar faça uma
massagem com óleo de coco.

17-Detalhes Práticos
O Bambu é uma planta muito enigmática e são necessários anos para
começar a entender e compreender a melhor forma de utilizá-la.
O grande desafio é sem dúvida o tratamento/imunização. Se queremos que
um móvel ou estrutura de bambu tenha durabilidade, temos que imunizar contra
insetos (ver capítulo sobre Tratamentos) de forma adequada.
Sobre estruturas de bambu, após a correta imunização e secagem,
devemos levar em conta alguns pontos que não podem ser deixados para trás, se
queremos que uma obra de bambu tenha longevidade: Na Colômbia, a grande
referência em construção civil com Bambu, se diz que uma estrutura de bambu tem
que ter “salto alto e chapéu de aba longa”, ou seja, fundação com no mínimo 40cm
acima do solo e beiral grande para proteção contra umidade e chuva, além do
excesso de sol que poderá fazer com que algumas peças trinquem.

Exemplo de beiral em estruturas de grande porte de Bambu

35
Exemplo de sapatas da fundação elevadas do solo

36
Fontes:

-Manual de Construcción con Bambú; Oscar Hidalgo Lópes

-Manual do Arquiteto Descalço; Johan Van Lengen

-Bambu: Cultivo e Manejo; Thiago Greco e Marina Crowberg;


Florianópolis 2011. Ed. Insular

-Bambu de Corpo e Alma; Marco A. R. Pereira e Antônio L. Beraldo

-Apostila do curso de capacitação em estruturas de bambu;


Instituto Pindorama, 2012. Facilitação de Bruno Salles

-Curso com Jörg Stamm;


Ministrado no Instituto TIBA-RJ, em novembro de 2016.

Elaboração- Equipe Naturalmente


Revisada em março / 2017

37
Anexos
Retirado do livro “Manual de Construcción con Bambú”; de Oscar Hidalgo Lópes.

38
39
40
41
42
43
44
45
46
47
48

Você também pode gostar