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CRIAÇÃO RACIONAL
DE ABELHAS JATAÍ
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Copyright 1989 ícone Editora Ltda.
Pequena bolha alada vem. Fábrica de mel e cera, chega a sua colméia
e mergulha em seu mundo sempre escuro, cheio de trabalho e segredos.
Dentro, em permanente azáfaraa, uma quantidade de pequeninos
seres se agita, construindo e mantendo sua harmonia quase perfeita.
Não há individualidade a zelar lá dentro. Tudo é pelo todo e para o
todo. Para que a colônia dure e se expanda. Para que a espécie se perpetue.
De fora, na luz, outro ser as observa. Um homem. Com carinho e
infinita paciência vai coletando seus dados, pouco a pouco, como uma
operária ao seu pólen. E como esse homem tem muito da índole dos seres
que está a estudar, divide o que observou com os outros, que também o
passarão adiante, numa bela seqüência de ensinamentos.
Antes todos os homens assim o fossem!
Neste livro, sobre as nossas tão amáveis abelhas jataís, os leitores
irão encontrar ensinamentos ei orientações seguras de quem conhece, estuda
e ama o que faz. Em linguagem acessí-
A abrangência do presente trabalho permite recomendá-lo, à guisa
de apresentação, a todos os naturalistas, leigos e pesquisadores, iniciantes e
veteranos da apicultura, técnicos em geral, agrônomos e zootecnistas."
Enfim, presta-se àqueles que desejam informações precisas e
objetivas acerca do assunto.
I - A CADEIA ECOLÓGICA
1 - Trabalho para uma conscientização .................17
A vida, em qualquer ponto da Terra, é uma só. Por mais simples que
se nos apresente, sempre cumpre o seu papel biológico.
Como exemplo, cito as algas, esses seres simples, formados de uma
única célula. Elas são responsáveis por boa parte da oxigenação do ar.
As bactérias, chamadas de rizóbio, fixam o nitrogênio da atmosfera
no solo, vivendo em simbiose com as leguminosas e muitas outras plantas
que se beneficiam do nitrogênio para o seu crescimento.
Certo fungo, chamado de micorriza, além de conviver com as
orquídeas, é responsável pela germinação de suas sementes.
À minhoca drena a água da chuva para o subsolo, com seus túneis
faz com que o oxigênio chegue até as raízes das plantas. Traz para a
superfície os sais minerais, ou seja, os mi-
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cronutrientes através de seus excrementos. Transforma a matéria orgânica
em húmus, adubando a terra.
Os cupins alados, popularmente conhecidos como aleluia, siri, arará,
saem aos milhões em revoadas, logo nas primeiras chuvas de setembro para
cumprirem seu ciclo de vida. Servem para alimentar outros seres, já que são
ricos em proteínas e hormônios, fortificando e induzindo o desenvolvimento
do ovário e esperma das fêmeas e machos de muitos répteis, batráquios,
peixes, aves e alguns mamíferos, bem como para alimentar suas crias. Os
criadores de pássaros também usam para induzi-los à reprodução em
cativeiro.
As vespinhas, cujo ninho parece uma bola de papelão pendurada nos
beirais das casas, armazenam, em cada alvéolo de cria, uma aleluia para
alimentar suas larvas. Por curiosidade, certa vez, colhi num único vespeiro
mais de um copo de aleluia.
Tudo vive em perfeita harmonia e equilíbrio, cada ser cumprindo
uma função específica.
Os mosquitos, cujas larvas ajudam a apressar a decomposição da
matéria, servem de alimento para os girinos, alevinos, alguns tipos de
vespas e marimbondos-caçadores.
O pernilongo tem a mesma função, suas larvas alimentam uma
grande gama de seres aquáticos: girinos, alevinos, larvas de libélulas,
baratas d'água, aranhas, larvas de crustáceos etc.
As sanguessugas já eram conhecidas dos médicos do Império
Romano, que as usavam em seus soldados. Não muito longe, na época dos
boticários, eram guardadas em vidros e usadas quando necessário nas
sangrias dos seus pacientes. Na natureza, este processo se efetua quando os
animais vão saciar a sede. Elas gradam em seus focinhos, efetuando a
sangria. Deste modo, acreditamos que a sanguessuga é um instrumento
natural de sangria que provoca a renovação do sangue para o equilíbrio da
saúde dos animais silvestres.
A barata, destas que vivem atrás dos armários, nos dá uma lição.
Este inseto horrendo, desprezível, mesmo depois de esfacelado, arrastando
parte do abdômen pelas vísceras, tenta
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sobreviver. E pensar que há pessoas que se sentem menos que uma barata,
tentando contra a sua própria vida.
Não compreendo como há homens, sentindo-se orgulhosos e felizes,
perseguindo e prendendo os animais, as aves, derrubando florestas,
envenenando os rios, simplesmente para atender aos seus anseios
mesquinhos e egoísticos. Pensam, talvez, que prendendo os animais,
atirando nas aves, ficam mais homens, que transformando as florestas em
dinheiro, serão os donos do mundo!
A natureza é patrimônio de todos. Aquilo que o homem cria deve
alimentá-lo, porém, o que a natureza cria pertence a ela. Dentro do racional,
do bom senso, sim, o homem pode tirar proveito. Não aprovo as aberrações
e os exageros inconseqüentes e destruidores.
Outros esterilizam a terra com agrotóxicos, venenos que perduram
sem se decomporem até por trinta anos, atingindo os mananciais, dizimando
milhares de seres de vida aquática, tanto da fauna como da flora, que
demoraram séculos e séculos para formarem um ecossistema, quando não,
atingindo os lençóis freáticos, contaminando as fontes.
Na década de 50, tínhamos abundância de peixes em quaisquer rios
do país, suprindo, as necessidades protéicas das populações ribeirinhas;
hoje, colhemos os frutos da inconscientização e muitas vezes da
irresponsabilidade de muitos empresários e latifundiários.
Assistimos em 1985 à triste reportagem da mortandade de paturis,
marrecos e outras aves na região de Ribeirão Preto, dizimadas por
agrotóxicos nos arrozais, ao inconcebível envenenamento de peixes,
causado por lavagem de bomba pulverizadora de inseticidas na cabeceira de
um açude, no bairro do Ramalho, na região de Piraçununga.
Atualmente, há estudos de âmbito internacional, comprovando a
eficiência do controle biológico. Nossos técnicos e engenheiros agrônomos
vêm publicando com freqüência fórmulas simples de inseticidas, repelentes
naturais, lista de plan-
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tas amigas que auxiliam o desenvolvimento de outras plantas e até mesmo
simples fertilizantes que funcionam melhor que os adubos químicos.
A Bíblia nos dá um exemplo significativo. Quando José no Egito
desvendou o sonho do faraó, das sete vacas gordas e sete espigas cheias e as
sete vacas magras e sete espigas finas, que significavam sete anos de fartura
e sete anos de miséria, o faraó nomeou-o para administrar suas terras;
durante os sete anos de fartara, a terra produzia de mãos cheias, durante sete
anos de miséria, vieram pessoas de todas as terras e o Egito alimentou a
todas. José não usou de produtos químicos para ter abundância de colheita.
Gênesis 41:1-57.
Não somos contra a modernização e o progresso. Penso que
quaisquer projetos, que usem os recursos naturais como instrumento, devem
ser pesquisados, estudados e analisados, enfim, deve-se ver os prós e os
contras antes que sejam concretizados, a fim de que não venham afetar o
equilíbrio da natureza e o bem-estar das gerações futuras.
O mercúrio, já foi comprovado, causa deformação genética; caindo
na cadeia ecológica, vai sendo passado de ser para ser, uma vez que não se
decompõe. As partículas deste metal líquido escorrem com as águas da
garimpagem. Vão para os rios, aderem-se às algas que alimentarão os peixes
onívoros e herbívoros e que servirão de alimento aos homens, que, por sua
vez, terão filhos com defeitos congênitos.
A monocultura é outro exemplo. Nos solos onde são feitas as
grandes culturas de algodão e soja por vários anos, podemos afirmar,
categoricamente, que estas terras estão, cada vez mais, morrendo e os rios
que as contornam contaminados, praticamente sem vida.
Ah! meu pantanal matogrossense, ah! minha amazônia, pulmão
verde do mundo, meus filhos não te verão.
Ah! meus bandos de coleirinhas, bigodinhos, patativas, caboclinhos,
azulões, tietês, puvins, pintassilgos e pássaros-pretos mortos pelas nuvens
de agrotóxicos pulverizados sobre
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as lavouras e pomares, ninguém mais ouvirá vossas sinfonias de saudação
nos crepúsculos do dia.
Minha terra tem palmeiras, onde não canta o sabiá. Sabe, meu
cancioneiro Gonçalves Dias, tua Canção do Exílio hoje é utopia.
Matam-se os tatus, os tamanduás, as emas, as seriemas, os inhambus,
as codornas, as perdizes, aumentam os cupinzeiros, os formigueiros, as
cigarrinhas nas pastagens, os gafanhotos, os grilos e há proliferação
incontrolável dos insetos, principalmente de cupins, formigas quenquém e
saúvas.
Matam-se as cobras, as raposas e os gambás, aumentam os ratos,
ratazanas e camundongos.
Matam-se os gaviões, carcará, caruncho, pato, aumentam as cobras,
raposas, gambás, ratos etc.
Matam-se as corujas, aumentam os besouros, as mariposas e
mandruvás. A coruja sondaia é a maior predadora dos ratos.
Matam-se as gralhas, diminui a disseminação de sementes de
araucária, reduzindo as florestas das mesmas, cujos frutos alimentaram
muitos índios e imigrantes italianos na época de escassez da colonização do
estado do Paraná.
A extinção do jacu e da jacutinga de determinadas regiões do estado
de São Paulo reduziu também a disseminação das sementes de inúmeras
palmeiras, que fornecem coquinhos de polpa adocicada, muito apreciados
pelas crianças, além de um palmito de boa qualidade.
A perseguição e matança de certas aves aumenta, consideravelmente,
o número de pragas prejudiciais à lavoura e ao gado. Um bem-te-vi ou um
siriri podem ingerir cerca de 300 insetos diariamente, e uma andorinha,
nada menos que 1.000. Uma garça-carrapateira ou um anum são vorazes
comedores de grilos, gafanhotos e todo tipo de inseto que puderem caçar;
beneficiam também o gado, catando-lhe os carrapatos, razão destas aves
sempre estarem por perto.
Ateia-se fogo nos marimbondos e vespinhas, aumentam os
curuquerês, aranhas, grilos e cupins. Matam-se as mamangavas, diminui a
produção dos maracujazeiros.
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Destroem-se as abelhas, diminui a polinização das floradas, como
conseqüência abaixa a produção nos pomares, nas lavouras e nas hortas.
Observem a contribuição da apis-mellifera no aumento da produção das
frutas e grãos:
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A formiga lava-pé é a grande faxineira do solo, come grande
quantidade de insetos; as formigas pixixica do nordeste são as faxineiras dos
cacaueiros, como nos conta Jorge Amado em um de seus romances.
Os pernilongos, que tinham seu predador natural nos peixinhos
larvófagos, nos guarus, nos lambaris, nos piquiras e nos canivetes,
encontram-se à vontade para proliferarem aos milhões e se espalharem pela
cidade, já que os córregos são verdadeiros depósitos de lixo, de água em
putrefação.
Empresários, filtrai o ar que escapa pelas chaminés das fábricas,
tratai os esgotos antes de encaminhá-los para os riachos, pois ali, bem perto,
estão vossos filhos, precisando de água potável e ar puro para terem uma
vida sadia e viverem com dignidade.
Latifundiários, a monocultura desencadeia as pragas, fazei a rotação
das culturas e deixai alguns hectares de matas, onde elas se abrigarão,
juntamente com os predadores naturais.
Muitas vezes, o homem, por ignorar as leis da natureza, põe em risco
a vida das gerações futuras. Foi pensando nisto e em muito mais que iniciei
este ensaio ecológico. Espero que os indiferentes à natureza, de certa forma,
possam tirar algum proveito desta introdução.
Ainda menino, por mera coincidência, encontrei no alicerce da velha
casa do seu Chiquinho, um canudinho de cera por onde entravam e saíam
umas abelhinhas.
Era bonito vê-las. E na claridade da manhã brilhavam como ouro,
num vaivém sem parar. Num vôo lento chegavam bundudinhas, pesadinhas
de mel, outras pareciam usar botinhas amarelas, chegavam com as patinhas
cheias de pólen, ou bolotinhas de visgo, fato que me custou muito para
entender.
Foi justamente lá que comecei, há 35 anos, a gravar em minha
memória as primeiras páginas deste livro.
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Colméia alojada em gomo de bambu.
Potinhos de mel.
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II. CRIAÇÃO SEM GRANDES INTERESSES
As Abelhas Jataís
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Certa vez perguntei a um senhor se ele já havia tirado o mel de seu
jataí, ao que ele me respondeu:
— Nunca, mas deve ter mais de 8 litros, porque faz vários
anos que ninguém mexe.
Há aqueles que, estando com tosse, usam o mel como xarope. Ainda
aqueles que o usam como colírio, misturam, meio a meio, água destilada
com mel e pingam nos olhos para amenizar conjuntivite ou cataratas.
As jataís permanecem esquecidas pelos seus donos, que se lembram
apenas quando um curioso ou interessado quer saber que abelhinhas são
aquelas. Então, entusiasmados, fazem um relatório completo, onde
conseguiu, como capturou o enxame, ou de quem ganhou.
Não faz muito tempo, quis comprar de um vizinho uma colméia que
estava numa caixa, corroída por cupins - praticamente era o batume
ressecado suspenso por dois fios de arame - simplesmente me respondeu:
— Não dou, não vendo e não troco.
Há 20 anos tive a infelicidade de presenciar o enfincamento de um
tronco de copaíba para servir de mourão. Nele havia um belo jataí. Tentei
dialogar com o sitiante, queria até mesmo comprar o mourão. Contudo, o
homem seriamente me respondeu:
— O senhor vai me desculpar, não vou estragar um mourão desses,
não tenho tempo nem para cuspir, muito menos para andar atrás de abelha.
Saí indignado com a grosseria, não tive chance de explicar-lhe que
as sementes de almeirão, de mostarda, de rabanete, de cebola e outras
hortaliças, bem como dos condimentos, alfavaca, manjericão, salsa e
algumas plantas medicinais tais como erva-doce, menta, melissa e orégano
que ele tinha plantado na horta, em grande parte, eram obra da polinização
das jataís, uma vez que as abelhas Apis mellifera pouco procuram estas
plantinhas.
Felizmente, nem todos são assim. Há os que amam a natureza e
procuram preservar as velhas figueiras, ipês, paineiras,
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jequitibás, jacarandás, guarantãs, maçarandubas, copaíbas,
angiqueiros e muitas outras árvores, principalmente se nelas houver um
abelheiro, alguma orquídea ou mesmo uma casinha de joão-de-barro.
Interessam-se em aprender e se aprimorar. Escrevem para os mais diversos
setores, lêem revistas, jornais, enfim, buscam se conscientizar sobre tudo
que possa se relacionar com o meio ambiente.
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Nos parques e ruas: astrapéia-rosa (abundância de néctar e pólen),
chapéu-de-sol, eucalipto, grevillea, giesta, ipê-do-rio, lantana, quaresmeira,
sibipiruna, unha-de-vaca, violeteiras...
Nos jardins: alecrim, bela-emília (arbusto de florzinhas azuis que
fornece resina, floresce em diversas épocas), calêndulas, camaradinha,
chagas-de-cristo, coroa-de-cristo (fornece néctar, pólen e resina durante o
ano todo), coléus (folhagem de diversas cores), cosmos, girassol, incenso,
margaridas, onze-horas, roseiras...
Nos quintais: uma diversidade grande de árvores frutíferas:
amoreira, abacateiro, cerejeira, cajuzeiros, caramboleiras, goiabeiras,
jambeiros, joão-bolão, laranjeiras, limoeiros, mar-meleiros, macieiras,
mangueiras, nectarineiras, nespereiras, pereiras, pessegueiros, tamarineiras,
uvaieiras, uva-japonesa, videiras...
O pasto apícola na área urbana é realmente vasto e abundante, como
pude observar.
As abelhas jataís em caixas simples podem fornecer no máximo um
copo de mel por ano, portanto, aqueles que moram na cidade e as têm sem
grandes interesses, aconselho-os a pensar numa criação racional, aproveitar
esta disponibilidade abundante das floradas que ocorrem durante os 360 dias
do ano, aumentando a produção das plantas e a produção de mel.
Nossas jataís não têm fronteiras, voam por todos os lados em busca
do precioso néctar, não incomodam ninguém. Que tal, leitor, pensar numa
criação funcional, que exige tão pouco e traz tanta satisfação interior, além
de aumentar o ciclo de amizade e o conhecimento a respeito da natureza?
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Normas a Seguir pelos Criadores sem Grandes Interesses
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do um dos cantos sobre uma mesa ou banco, conforme o desenho. Segure-a
firmemente com a mão esquerda, com a mão direita apanhe um garfo. Após,
assopre as abelhinhas a fim de afastá-las dos potinhos e vá cautelosamente
pressionando com o garfo sobre os mesmos. O mel escorrerá no canto da
caixa que está sobre a mesa, deixe o garfo e escorra o mel numa vasilha.
Retire somente o mel que está acessível. O que se encontra atrás dos
favos de cria é praticamente impossível extraí-lo, sem perder um grande
número de abelhas que morrerão esmagadas ou afogadas nele.
6 - Efetuada a operação, devolva toda a cera retirada à caixa. Feche-
a, certificando se não ficou nenhuma aresta. Se houver, vede-a com fita
crepe, argila, ou use a própria cera delas para a vedação. Coloque a caixa no
mesmo lugar, mantendo a altura e posição. Imediatamente, elas começarão a
entrar e iniciarão a tarefa de calafetagem e arrumação de todo o ninho.
O mel deve ser extraído sempre por volta das 10:00 h da manhã, em
dias ensolarados e sem vento, pois que grande parte das operárias estarão
fora, coletando pólen, resina e néctar, o que facilitará em muito o trabalho
de extração, isto porque teremos menos abelhas na colméia.
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Extração do mel
Método rústico
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Favos de cria com pupas e realeira.
Introdução
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Características das Jataís
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maior número na entrada da primavera, pouco mais de 80 abelhinhas.
As sentinelas que ficam em redor do canudo de entrada podem variar
desde algumas até mais de trinta.
Nossas abelhinhas possuem extraordinária capacidade de se
adaptarem para nidificar nos locais mais inimagináveis, desde que haja
espaço suficiente.
No início da primavera, chegam a fazer até três realeiras (alvéolo
maior na lateral dos favinhos de cria, onde se desenvolverá nova rainha) e
soltam famílias, geralmente no início do verão, perpetuando assim a
espécie.
São extremamente asseadas, não pousando sobre quaisquer dejetos,
como fazem as abelhas arapuá, que retiram material para construir seu
ninho até de estrume de cachorro. Raramente coletam água, pois tiram-na
do próprio néctar, que é aquoso.
A cera é produzida através de glândulas localizadas no dorso do
abdômen. Para elas produzirem 100 g de cera, precisam ingerir mais ou
menos 400 g de mel.
As jataís encontradas na natureza, ou em simples caixinhas,
produzem muito pouco, a média por ano é de um copo de mel. Criadas
racionalmente, podem atingir uma produção anual de até cinco copos de
mel, portanto, conhecendo seus hábitos, comportamentos e preferências,
podemos atingir ótima produção.
Característica do Ninho
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muitos anos num mesmo local, o canudo toma a forma de um gancho,
porém sempre com o orifício de entrada voltado para cima.
Ao redor da base do canudo, elas depositam uma resina viscosa e
pegajosa, onde ficam detidas formigas e outros insetos intrusos. A mesma
resina é usada também para a calafetagem do ninho.
Ninho
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Duas camadas de favos de cria, os da parte inferior formarão
nova colméia.
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Túnel interno que sai do ninho.
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À noite, nos dias de temperaturas baixas, ou muita umidade na
atmosfera, costumam fechar a entrada do canudo com uma película de cera,
repleta de furinhos por onde passa o ar que chega ao interior do ninho,
através do bater de asas constante das abelhinhas que, assim fazendo,
provocam a circulação do ar.
O trabalho externo das abelhinhas somente acontece com
temperaturas acima de 22 graus, umidade relativa do ar em tor no de 25% e
muita luminosidade. Há dias, portanto, que a entrada dificilmente será
aberta, principalmente no inverno oudias chuvosos.
Temperatura, umidade e luminosidade são três fatores primordiais na
criação desta abelhinha.
Fato interessante acontece no verão: quando uma chuva repentina se
aproxima, elas voltam rapidamente e formam um fluxo na entrada do
canudo, num verdadeiro e maravilhoso espetáculo.
As jataís nos trazem satisfação. São carismáticas, atraem nossa
atenção e nos fazem deleitar por alguns instantes, quem sabe, às vezes, em
busca da razão da nossa existência.
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3 - Quanto mais longo for o canudo mais velha será a colméia,
porém isto não significa que a colônia seja forte. Há, pois, colônias alojadas
há anos, em locais tão reduzidos que delimitam o crescimento da população.
Estas colônias costumam enxamear mais do que outras devido às condições
ambientais.
O canudo é aumentado, à medida que a cera e a resina vão ficando
ressecadas, fato que ocorre em virtude da aderência de poeiras e insetos.
Outro fato observável é que da base do canudo até os favos de cria
há aproximadamente 20 cm, que são percorridos pelas abelhinhas através de
um túnel feito de resina e cera, assim elas não expõem suas crias logo na
entrada do ninho.
O Batume
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Os Favos de Cria
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perpostos, dificultando o trabalho de extração de mel pelo apicultor.
Na parte externa do batume, porém dentro da caixa, encontramos as
bolotinhas de resina viscosa que servem para a calafetagem e como arma
contra os invasores da colônia. As jataís contornam a base do canudo de
entrada com esta resina e os insetos que se atreverem a atravessá-la, ali,
ficarão presos.
Principais inimigos:
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3 - As abelhas-limão: em certas regiões são conhecidas por iraxim.
São preto-brilhante, assemelham-se à arapuá, todavia têm o corpo mais
afilado e alongado. Quando macetadas, exalam forte cheiro, idêntico ao do
limão, daí o seu nome popular.
Atacam ferozmente as jataís. Apesar das nossas abelhinhas serem
realmente valentes, acabam sendo massacradas por um verdadeiro exército
dessas predadoras, que invadem a colméia pelo canudo adentro,
apoderando-se do interior do ninho.
Percebendo a tempo, podemos evitar o ataque das abelhas-limão,
transferindo a colméia das jataís a 100 metros de distância.
O apicultor deve impreterivelmente localizar o ninho delas; para isso
tem de ter paciência e persistência e seguir a linha de vôo das predadoras.
Achando o ninho, deve destruí-lo; não existe outra maneira, quando se
pretende criar as abelhas jataís.
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Quando percebemos a tempo, transferimos a colméia doméstica à
distância de 20 metros, no mínimo, e no lugar desta, colocamos uma caixa-
isca, capturando o enxame invasor, ganhamos, então, um novo enxame e
evitamos o massacre.
A maior incidência ocorre no início da primavera e se estende pelo
verão.
As jataís são muito resistentes, uma vez que são nativas adaptadas ao
nosso clima, portanto, dificilmente contraem doenças. Contudo, algumas
medidas preventivas são benéficas.
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O Manejo da Colméia
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O Preparo da Colméia para as Floradas
Um mês antes das floradas, devemos fazer uma vistoria, a fim de nos
certificarmos se elas estão fabricando os potes de mel nas gavetas; caso
contrário, providenciamos alguns potes de mel em colônias vizinhas para
servirem de guia, ou usamos a cera moldada.
É bom reforçarmos os enxames mais fracos, fornecendo-lhes xarope
nos alimentadores; isto induz a postura da rainha, conseqüentemente mais
operárias e assim mais produtividade durante a nova estação.
O Xarope de Reforço
O Alimentador
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muito bem o cochinho, quando formos colocar mais xarope, isto depois de
três dias.
A Enxameação
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A enxameação acontece da seguinte maneira: algumas dezenas de
abelhinhas, ao encontrarem um novo local para nidificar, primeiramente
começam transportando cera e resina da colméia-mãe para a nova morada.
Iniciam vedando todas as frestas. Depois trabalham na construção do túnel
interno e por fim trabalham na construção da parte superior do batume, onde
irão alojar a nova família. No interior do batume, fabricam as lâminas
circulares de cera, na posição horizontal, para confecção dos alvéolos de
cria.
Esta operação dura alguns dias. Somente depois de preparada a nova
moradia é que se mudam em definitivo, juntamente com a rainha já
fecundada.
Portanto, observe que, pelo menos alguns dias, a nova morada
permanece ligada à colméia-mãe. Às vezes, deparamos com algumas
dezenas de abelhinhas esvoaçando em torno de um mourão, alicerces ou
outros lugares quaisquer, procurando um buraco ou fresta para entrar e não
vemos nenhum canudinho de cera. É mais que certo que estão procurando
um novo local, portanto devemos instalar as caixas-isca.
As Caixas-Isca
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Verificando-se que o enxame foi capturado, esperar até a noite e
trazê-lo para o apiário.
A transferência para a caixa definitiva deverá ser efetuada um mês
após, visto que neste período as abelhinhas terão reservas de cera, pólen e
néctar e não sofrerão tanto.
Este processo de captura é o mais cômodo e natural para ampliação
do apiário.
Material necessário:
1 facão
1 machado
1 formão (bem afiados)
1 garfo de cozinha
1 faca
1 frasco de óleo comestível
2 vasilhas com tampa, uma para mel, outra para pólen e
cera
1 caixa de fósforo 1 caixa-padrão
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2° etapa: averiguar, com algumas batidas leves, onde as paredes dos
mourões e das árvores secas fazem barulho chocho; as batidas devem ser
dadas nas imediações do canudo. Em se achando o local, abrir duas fendas,
uma a 20 cm acima, outra a 20 cm abaixo, usar o formão se possível, caso
contrário o machado. Ir lascando o tronco cuidadosamente até avistar o
ninho.
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Transferir a colméia do lugar de origem para o apiário a partir do
terceiro dia, sempre à noite - este tempo é suficiente para que elas fixem
favos de crias, potes de pólen e mel - vedando toda a caixa.
Observação: havendo mel em abundância, a metade dos potinhos de
mel deverá ser distribuída pelas gavetas, a fim de servirem de guia para que
as abelhas depositem o mel ali. A outra metade pode ser guardada para
posterior consumo.
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Aproveitando o Jataí de uma árvore
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abelhinhas têm pouco espaço para armazenar o néctar, quando encontram
espaço sobressalente, passam a ocupá-lo.
Esta experiência,eu a fiz com uma jataí que se encontrava no tronco
de um jacarandá, depois repeti-a numa colméia que se encontrava num
alicerce e os resultados foram positivos.
Quanto a novos enxames, devemos instalar as caixas-isca, pois as
colméias em ambientes pequenos costumam enxamear mais. Instale nas
imediações desta colméia três ou quatro caixas-isca num raio de até 10 cm
que será o suficiente para a captura.
1° Processo
Abrimos uma colméia forte, escolhendo um dia claro, com
temperatura elevada e sem vento, durante o mês de outubro ou novembro, e
inicia-se a verificação do ninho.
Retiramos a cera que circunda os favos de cria, observando se há
realeiras ou mais de uma rainha.
A realeira fica nas laterais dos favos centrais e tem aproximadamente
5 mm de comprimento e 4 mm de diâmetro. Com um pouco de prática e
paciência, podemos facilmente encontrá-la.
Se houver realeira, ela deverá ser retirada juntamente com o favo
onde ela se encontra. Retiramos mais 4 favinhos de cria e colocamos todos
na caixa definitiva. Não devemos esquecer ainda de acrescentar alguns potes
de pólen e mel, bem como parte do batume. Temos de retirar o canudo de
cera da colméia-mãe e colocá-lo na entrada da nova caixa. Transferimos,
então, a colméia-mãe a 50 m de distância. A nova família se formará com as
abelhinhas que estão esvoaçando.
Dentro de poucos dias, nascerá a nova rainha e teremos,
forçosamente, uma outra colméia.
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2° Processo
Diferencia pouca coisa do primeiro. Se a colméia tiver mais de uma
rainha, capturamos uma delas, prendemo-la numa caixa de fósforo vazia.
Após, transferimos alguns potes de mel e pólen, bem como 4 favinhos de
cria e parte da cera do batume para a nova caixa. Em seguida, soltamos a
rainha na caixa e transferimos a colméia-mãe a 50 m de distância. As
abelhinhas que estão esvoaçando, entrarão, na nova caixa e formarão uma
nova família.
Tanto num como noutro processo, a nova caixa tem de ser mantida
na mesma altura, direção e posição do local da colméia-mãe.
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A quantidade de colméias no apiário vai depender do pasto apícola,
podendo comportar desde algumas até mais de 50 colméias, colocadas a 2 m
uma da outra.
As jataís, quando bem manejadas, fornecem pouco mais de 1 litro de
mel por ano, sua extração segue sempre duas etapas cíclicas. A primeira em
fins de setembro e a segunda, em fins de janeiro.
A baixa produção de mel tem como causa principal o restrito pasto
apícola, principalmente nas épocas mais secas do ano. Seguem-se outros
fatores, tais como: falta de padronização das caixas, manejo inadequado e
competição de outros insetos nas floradas.
O Suporte
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A seguir colocamos uma lista de plantas que contribuem para a
formação do campo apícola necessário às abelhas jataís.
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Destacamos a algarobeira que fornece abundância de néctar,
justamente na época do estio, quando poucas plantas estão produzindo. Tem
ainda inúmeras utilidades: das folhagens e semente fazemos ótima ração
para os bovinos, caprinos, ovinos, suínos e aves. Na alimentação humana as
sementes dão ótima farinha para a confecção de bolo, biscoito, geléia, pão,
licor, melaço e papa. Assim, o uso industrial da algarobeira também pode
ser para a fabricação de álcool, aguardente, farinha, goma, tanino,
dormentes, estacas, tacos, móveis, lenha, carvão.
A coroa-de-cristo (Euphorbia milii var. milii) que fornece os três
elementos: pólen, néctar e resina, durante todo o ano, além de formar
intransponível cerca viva, altamente ornamental pela abundância de flores,
de uma rusticidade incrível, e ajudar intensamente no controle biológico.
A astrapéia-rosa (Dombeya wallichii) também floresce no período
mais crítico do ano, junho, julho e agosto, dá abundância de néctar, apesar
do baixo teor de açúcar, é muito procurada pelas abelhas em geral. A
floração é de inúmeros buquês de florzinhas com o formato de uma bola.
Cada buquê tem em média 120 florzinhas. Certa vez, por curiosidade, contei
mais de 800 buquês somente de um lado da árvore e concluí que numa única
florada há, em média, 32.000 florzinhas. A astrapéia-rosa fornece no
período da manhã farta quantidade de néctar; se chacoalharmos um buquê
sobre um prato, verificaremos a presença de inúmeras gotículas de néctar.
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O transporte tem de ser à noite e com muita cautela, evitando os
solavancos. Devemos primeiramente assoprar o canudo de entrada, para que
as abelhinhas deixem-no livre, depois apertá-lo na extremidade de entrada a
fim de que as abelhinhas permaneçam na caixa até o final do transporte. No
outro dia, já estará aberto o canudo, e elas trabalhando.
Uma outra observação sobre as jataís é quanto à coleta do néctar,
pois não são como as apis-mellifera que dão preferência a um tipo de
florada. Isto é, se abre a florada dos laranjais, ou dos eucaliptais, vão todas
para estes tipos de floradas. As jataís coletam néctar ou pólen de diversas
flores ao mesmo tempo. De uma mesma colméia temos abelhinhas
coletando néctar de flores de laranjeira, de manjericão, de gerbão, de
mangueiras etc.
Aconselhamos a instalar o apiário, portanto, no centro das floradas,
isto se quisermos mel de um tipo de florada.
Outro detalhe é colocarmos as colméias sempre sobre suportes, ou
banquetas, a fim de evitarmos os predadores, principalmente as formigas.
Colméia-Padrão
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vagem, ou seja, do canudo de entrada até os favos de cria, tem 20
cm.
2 - Ao abrirmos a caixa, a câmara de cria permanece praticamente
lacrada, mantendo assim a temperatura interna.
3 - Fácil manejo na extração do mel, pois as gavetas são
móveis.
4 - Devido ao uso da cera moldada na gaveta a produção
aumenta, uma vez que, extraído o mel, elas voltam para a caixa
com a cera praticamente intacta.
Descrição da Colméia-Padrão
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Corte Lateral da Caixa-Padrão
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Corte da Caixa-Padrão
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Espaço ocioso, ao lado câmara do ninho. Caixa-padrão vista por cima
com prateleira superior.
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Prateleiras com sarrafinhos.
Os sarrafinhos são os pontos de apoio para os potes de mel e servem
para as jataís não grudarem os mesmos no fundo da prateleira
superior.
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Vista frontal, com unia prateleira com sarrafinhos, observem a
prateleira sem sarrafinhos não funcionam, pois as jataís grudam por
todos os cantos cera, dificultam sua extração.
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Observar como ficam prateleiras sem sarrafinhos. É anti-funcional.
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Caixa simples, rústica e anti-funcional.
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Os preguinhos servem de apoio para as prateleiras se apoiarem sobre
eles. No fundo vemos ao alto potes de mel e pólen. Abaixo favos de
cera, onde as prateleiras irão encostar.
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As gavetas não possuem nem a parte anterior, nem a parte posterior,
isto é, nem têm a frente, nem o fundo, ficam formando uma calha. Sobre a
borda das laterais da gaveta são pregados 8 sarrafinhos no sentido
transversal, ver desenho na página
Estes sarrafinhos servirão de suporte para as jataís fixarem os
potinhos de mel, e ficam 1 cm afastados um do outro.
As gavetas ficam 4 mm afastadas das laterais da caixa e entram na
mesma, correndo sobre dois sarrafinhos-guias de 160 mm de comprimento x
10 mm de largura x 4 mm de altura. O sarrafinho-guia tem de ser pregado
com a parte mais fina, ou seja, a altura no sentido horizontal da caixa, para
que sobrem espaços entre uma gaveta e outra, a fim das gavetas poderem
correr com facilidade.
As gavetas podem ser confeccionadas com chapas de duratex ou
eucatex. Os sarrafinhos poderão ser de pinho ou cedro.
No fundo das gavetas irá a cera moldada ou alguns potinhos de mel
para servirem de guia.
O orifício de entrada das abelhinhas é feito na base da lateral da
câmara do ninho. É um furo de 10 mm de diâmetro, pois se for menor
dificulta a passagem das abelhinhas. Há casos interessantes de se observar,
quando encontramos colméias selvagens com mais de um canudo de
entrada, é que os orifícios de entrada são pequenos demais, dando passagem
para duas ou três abelhinhas de cada vez, razão de serem chamadas de
abelhas das três portas ou das sete portas.
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As Gavetas e os Sarrafinhos-Suportes
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Cera Moldada para Jataís
Material necessário:
- 250 g de cera de jataí
- 300 g de cera de apis-mellifera
- 6 tubos de ensaio de 10 mm de diâmetro
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das colméias de jataís para elas aproveitarem a cera e a sobra do mel. Logo
que elas perceberem, começarão o transporte do mel e da cera para a
colméia. Esta é uma maneira simples de auxiliá-las na penosa e dispendiosa
tarefa da produção de cera.
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Extração do Mel
Exploração Comercial
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esta última tem um rendimento financeiro 12 vezes superior à Tetragonisca
angustula, como podemos verificar pelo quadro abaixo:
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Como puderam observar, os custos com as instalações entre uma e outra
espécie, têm uma diferença de NCz$ 275,00, ou seja, de 44,57 OTN.
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BIBLIOGRAFIA
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