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Adoção: Cecília Regina Alves Lopes
Adoção: Cecília Regina Alves Lopes
ADOÇÃO
Aspectos Históricos, Sociais e Jurídicos da
Inclusão de Crianças e Adolescentes em Famílias Substitutas
UNISAL
LORENA
2008
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ADOÇÃO
Aspectos Históricos, Sociais e Jurídicos da
Inclusão de Crianças e Adolescentes em Famílias Substitutas
UNISAL
LORENA
2008
10
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Ficha catalográfica:
________________________________________________________________
Lopes, Cecília Regina Alves
L881a Adoção: Aspectos históricos, sociais e jurídicos da inclusão de crianças e
adolescentes em famílias substitutas / Cecília Regina Alves Lopes – Lorena:
Centro Universitário Salesiano de São Paulo, 2008.
195 f.
11
12
FOLHA DE APROVAÇÃO
COMISSÃO JULGADORA:
_______________________________________________
Prof. Dr. Maurílio José de Oliveira Camello
________________________________________________
Profª Dra. Regina Vera Villas Bôas
_______________________________________________
12
13
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
13
14
RESUMO
PALAVRAS CHAVES
14
15
ABSTRACT
This paper intends to realize a study about the inclusion of children and teenagers in
substitute families through adoption. The historical, social and legal aspects of adoption is
also emphasized, as its history.The economical, social and structural reasons that lead
children and teenagers in shelters, leaving them away from their families.The national and
international legal system about adoption.The modifications that the “Child and Teenager
Statute” and the New Civil Code brought to the theme.The bill that establishes the New
Adoption Program. The characteristics of children and teenagers that are in shelters. The
main registration of brazilians and foreigns that are interested in adoption.The difference
between the wish of those who want to adopt and the reality of children and teenagers that
are in shelters.The shelters: history, functioning at present, and inspection. The action of
those professionals that deal with adoption. A later adoption, the adoption by different
races, the adoption of children with health problems. The responsible paternity through
adoption.
KEY WORDS
15
16
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................................................09
1. EVOLUÇÃOHISTÓRICADO INSTITUTO......................................................14
1.1. Código de Hammurabi........................................................................................15
1.2. Direito Romano...................................................................................................20
1.2.1. Ad Rogação................................................................................................24
1.2.2. Adoção Stricto Sensu.................................................................................28
1.3. Direito Moderno...................................................................................................32
1.4. Direito Brasileiro..................................................................................................34
1.4.1. Adoção Simples..........................................................................................40
1.4.2. Adoção Plena..............................................................................................43
16
17
4. REQUISITOS GERAIS E ESPECÍFICOS DA INCLUSÃO DE
CRIANÇAS
E ADOLESCENTES EM FAMÍLIA
SUBSTITUTA......................................................................................................................81
4.1 Conceito de Família Substituta...............................................................................81
17
18
5.1. A prática dos abrigos.................................................................................126
5.1.1. Funcionamento .........................................................................................129
5.1.2. Fiscalização...............................................................................................138
CONCLUSÃO................................................................................................................154
ANEXOS
Anexo A – PROJETO DE LEI NACIONAL DA ADOÇÃO.........................163
Anexo B – CADASTRO NACIONAL DA ADOÇÃO –
Resolução nº 54 CNJ....................................................................................................189
Anexo C – PROVIMENTO CG Nº 05/2005 – TJSP......................................191
18
19
INTRODUÇÃO
amplos aspectos, que se inicia com a evolução histórica, passando pelas referências no
direito internacional e nacional, até chegar a demonstrar como é possível, no Brasil, fazer a
multidisciplinar, para onde concorrem as ciências sociais e jurídicas. Esta pesquisa visa
comprovar que a adoção está dentro do direito da criança e do adolescente que vivem em
risco que afligem crianças e adolescentes são a pobreza e a fragilidade da própria estrutura
ribeirões.
19
20
abandonam sua prole. Em relação aos que são abandonados, há uma comiseração, mas,
apesar disso, poucas vezes o abandono é visto como um crime e, raramente, os pais
respondem por seus atos. No âmbito institucional, tenta-se solucionar o problema do filho
e todos vão ao seu encontro e defesa, pois se sabe que ele não sobrevive muito tempo
tempo indeterminado, sem destino, sem norte. Como forma de se defender, eles se
bandos; outras vezes, tornam-se reféns de adultos inescrupulosos, que se aproveitam de sua
condição.
roda dos expostos já existia, e cabia à Santa Casa de Misericórdia a responsabilidade pelo
pessoas que se interessem por seu destino, ficam expostos às situações de risco. Alguns
fogem de qualquer ajuda, temendo ir para instituições, onde julgam que irão perder o que
20
21
Crianças conhecem a vida longe das famílias, quando são exploradas e obrigadas a
sair em busca de dinheiro que garantirá o sustento dos pais e dos irmãos. Começam
para depois perceberem que, mesmo se esforçando, não conseguem o suficiente para seus
pais e padrastos; sendo, a partir daí, alvos de espancamentos, agressões físicas, verbais e até
mesmo sexuais.
Já sem esperanças, eles fogem de suas casas, de seus pais, de seu passado triste, e,
quando se arrependem, alguns tentam voltar, mas seus pais mudaram de endereço, ou a
recepção é por demais decepcionante. A fuga torna-se rotina e a luta desenfreada pela
marginais. Eles deixam a infância e a juventude e começam a viver um outro estágio que,
na maioria das vezes, não é compreendido pela sociedade, que começa a buscar soluções
disciplinadoras e punitivas.
ou mesmo, emprego de baixos salários; e seus filhos ficam expostos a todo tipo de risco.
Depois desse colapso econômico e emocional, que culmina com a retirada forçada
ou a saída espontânea dos filhos da família de origem, crianças e adolescentes passam pela
21
22
Do ponto de vista jurídico, faz-se necessária uma análise e uma discussão sobre o
papel do Estado, enquanto tutor jurisdicional da criança e do adolescente, e que desde que
brasileiro vem sendo chamado a apresentar uma resposta para a questão da menoridade.
nascituro.
Autores consagrados, como o Prof. Sérgio Garcez1, atentam para o fato de que o
adolescente, mas pouco fez com relação à disposição de um tutela estatal de conteúdo civil.
de proteção integral e garante o acesso à Justiça, mas as crianças e adolescentes estão muito
longe de serem assistidos e protegidos. Isso não significa que não se possa mudar essa
realidade e que nada esteja sendo feito. Existem centenas de instituições públicas e privadas
que estão lutando para isso, realizando um trabalho assistencial de amparo à criança e ao
adolescente em situação de risco através dos abrigos e incentivo à sua colocação em família
1
Como reza o artigo 1º, o Estatuto pretendeu dispor sobre a proteção integral à criança e ao adolescente,
estabelecendo inovações de cunho terminológico para questões referentes à pessoa do menor, e de cunho
institucional na questão referente aos novos institutos de proteção ao incapaz por defeito de idade. Com
relação à disposição de uma tutela estatal de conteúdo civil pouco se fez. A nova lei dispôs, em sua Parte
Geral – Livro I, uma série de princípios aplicáveis à proteção dos interesses das crianças e dos adolescentes, e
adotou uma nova terminologia de classificação de incapazes, do zero aos vinte e um anos incompletos.
Reconduziu, ainda na Parte Geral, os antigos e já consagrados institutos de colocação em família substitutiva
da família natural, institutos esses concedidos pelo Poder Judiciário.
22
23
Por todos esses motivos, justifica-se o presente estudo, que se propõe aprofundar
nas pesquisas sobre a realidade social e jurídica que envolve a criança e o adolescente em
funcionamento dos abrigos e seu importante papel para a inserção das crianças e
23
24
1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO INSTITUTO
Pelo crescente número de obras literárias a respeito do tema, pode-se afirmar, sem
medo de exagerar, que nunca se deu tanta atenção ao instituto da adoção no Brasil como na
atualidade. Poder-se-ia até mesmo imaginar que se trata de um instituto há pouco tempo
instituído.
a buscar sua origem, para que se possa entender melhor seus princípios e conceitos.
continuador do culto doméstico, a quem não tivesse descendente. Um dos mais difundidos
foi a adoção, que funcionava como uma fictio iuris, pela qual “uma pessoa recebia na
2
Apud PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Direito de Família. São Paulo: Forense,
2007. v. 5, p. 387.
3
OLIVEIRA, Adriane Stoll de. A Codificação do Direito. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3549>. Acesso em: 16 jun. 2008.
24
25
contornos diferentes do que se entende hoje por adoção, pois as crianças eram removidas de
vez, podiam ser homens ou mulheres, desde que fossem igualmente cidadãos. Os
Constata-se que a adoção foi muito utilizada entre os povos orientais. O Código de
Manu, o Código de Hammurabi e a Bíblia nos dão notícias de sua aplicação no tempo.
ordenamento jurídico.
XXIII a.C., era filho de Gin-Mabullit e foi o sexto soberano da primeira dinastia babilônica.
Espelhou-se Hammurabi nas antigas leis da Caldéia, com maior amplitude de conceitos e
4
ALVIN, Eduardo Freitas. A evolução histórica do instituto da adoção. Disponível em:
<http://www.franca.unesp.br> Acesso em: 17 out. 2007.
5
SIQUEIRA, Libórni. Adoção Doutrina e Jurisprudência. 10. ed. Rio de Janeiro: Folha Carioca, 2004. p. 30.
25
26
remonta ao período de 1728 a 1686 a.C., já ditava as regras relativas à doação na Babilônia.6
Família, nos seus artigos 127 usque194, destacando-se os artigos 185 a 194.7
Art. 185 - Se alguém dá seu nome a uma criança e a cria como filho, este
adotado não poderá mais ser reclamado.
Eduardo Alvin destaca que Antonio Chaves, ao comentar o artigo 185 do Código
de Hammurabi, demonstra o caráter contratual que a adoção tinha à época, com estas
palavras:
6
ALVIN, op. cit., p. 1.
7
SIQUEIRA, op. cit., p. 31.
8
OLIVEIRA, op. cit., p. 4.
9
CÓDIGO HAMMURABI. Disponível em: <http://www.culturabrasil.pro.br/zip/hamurabi.pdf> Acesso em:
23 jun. 2008.
26
27
Enquanto o pai adotivo não criou o adotado, este pode retornar à casa paterna;
mas, uma vez educado, tendo o adotante despendido dinheiro e zelo, o filho
adotivo não pode sem mais deixá-lo e voltar tranqüilamente à casa do pai de
sangue. Estaria lesando aquele princípio de justiça elementar que estabelece que
as prestações recíprocas entre os contratantes devam ser iguais, correspondentes,
princípio que constitui um dos fulcros do direito babilonense e assírio.10
Código de Hammurabi mediante certas condições, como por exemplo, em caso de revolta
do adotado.
Art. 186 - Se alguém adota como filho um menino e depois que o adotou ele se
revolta contra seu pai adotivo e sua mãe, este adotado deverá voltar à sua casa
paterna.
tradução. Liborni Siqueira11, por exemplo, traduz este artigo da seguinte maneira: “O filho
adotivo de um funcionário do palácio ou o filho adotivo de uma sacerdotisa não poderá ser
reclamado” (grifo nosso). Ao nosso ver, valorizam-se os adotantes pela função que
Vemos que outros pesquisadores traduzem este mesmo artigo como: “o dissoluto
(grifo nosso).
10
Apud ALVIN, op. cit., p. 1.
11
SIQUEIRA, op.cit., p. 31.
27
28
Presume-se que seja diante da insignificância social dos pais biológicos perante a
entre as partes, pois tendo o adotante despendido tempo ao ensinar seu ofício e recursos
injusta ao adotante, mas se ao contrário fosse, o adotado poderia voltar à casa paterna.
Art. 188 - Se o membro de uma corporação operária, (operário) toma para criar
um menino e lhe ensina o seu ofício, este não pode mais ser reclamado.
Art. 189 - Se ele não lhe ensinou o seu ofício, o adotado pode voltar à sua casa
paterna.
Foi nos artigos 190 e 191 que observamos o início do direito de igualdade e
equiparação entre os filhos adotivos e os filhos naturais. Estes artigos não proíbem o
retornar ao convívio de sua família de origem, caso sinta-se discriminado, não sem antes ser
Art. 190 - Se alguém não considera entre seus filhos aquele que tomou e criou
como filho, o adotado pode voltar à sua casa paterna.
Art. 191 - Se alguém que tomou e criou um menino como seu filho, põe sua casa
e tem filhos e quer renegar o adotado, o filho adotivo não deverá ir-se embora. O
pai adotivo lhe deverá dar do próprio patrimônio um terço da sua quota de filho
e então ele deverá afasta-se. Do campo, do horto e da casa não deverá dar-lhe
nada.
12
CÓDIGO HAMMURABI. op. cit.
28
29
Nos artigos 192 e 193, Libórni Siqueira novamente interpreta o filho como sendo o
meretriz, que ele traduz como sendo: Se o filho adotivo de um funcionário do palácio ou de
uma sacerdotisa disser a seu pai que o cria ou à sua mãe que o cria...” (grifo nosso).13
Era uma época em que a ofensa era uma ação que exigia uma reação, que por sua
vez gerava nova reação. O indivíduo reagia ao outro indivíduo; em seguida havia a reação
Até mesmo as amas de leite não eram poupadas, caso agissem fora das regras
Art. 194 - Se alguém dá seu filho a ama de leite e o filho morre nas mãos dela,
mas a ama sem ciência do pai e da mãe aleita um outro menino, se lhe deverá
convencê-la de que ela sem ciência do pai e da mãe aleitou um outro menino e
cortar-lhe o seio.
Esse tipo de conduta violenta era regra e não exceção também no âmbito familiar,
nas relações entre patrões e escravos, entre pai e filho, e também nos casos de adoção,
13
SIQUEIRA, op. cit., p. 31.
29
30
sendo considerada justa e legítima, caso o adotante fosse de alguma forma ofendido pelo
adotado.
Art. 195- Se um filho espanca seu pai se lhe deverão decepar as mãos.
primeiro sentido, designa o conjunto de regras jurídicas que vigoraram no império romano
durante cerca de 12 séculos, ou seja, desde a fundação da Cidade, em 753 a. C., até a morte
do imperador Justiniano, em 565 d. C. (para outros de 753 a 1453). Num segundo sentido, o
direito romano é expressão que designa um ramo apenas daquele direito, isto é, o direito
privado romano, com exclusão do direito público, que não atingiu, em Roma, o mesmo
grau de desenvolvimento e perfeição que aquele outro ramo [...] é empregada ainda para
14
CRETELLA JÚNIOR, José. Curso de Direito Civil. 23. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000. p. 8-9.
30
31
Família é vocábulo que, em Roma, além de outros sentidos, significa: 1º, conjunto
nesta expressão não quer dizer pai, mas chefe, efetivo ou em potencial; um impúbere e um
celibatário podem ser Patres). O 2º sentido, o patrimônio do paterfamilias [...] que tem o
grupo doméstico. 15
Nos primeiros tempos, o paterfamílias não era apenas o pai; ele era a autoridade
15
CRETELLA JÚNIOR, op. cit., p. 106.
16
Ibid., p.107.
17
NÓBREGA, Vandick Londres. O Sistema de Direito Privado Romano. Rio de Janeiro: Freitas Bastos,
1959. p. 514.
31
32
(Agrupamento familiar).18
Com tanta exigência para fazer parte do grupo doméstico, é para nós, na
atualidade, difícil imaginar como alguém pudesse ingressar, através da adoção, na domus,
cidadão sui iuris morrer sem deixar descendente. Julgavam eles que sua felicidade, depois
dependentes para consigo nos cultos fúnebres. Por isso, a adoção ganhou expressão como
sendo o último recurso para evitar a extinção de um culto doméstico, pela salvação do fogo
sagrado, pela continuação das oferendas fúnebres e pelo repouso dos manes dos
antepassados.20
continuador do culto doméstico a quem não tivesse descendente. Um dos mais difundidos
18
RODRIGUES, Maria Stella Villela Souto Lopes. A adoção na Constituição Federal o ECA e os
estrangeiros. São Paulo: RT, 1994. p. 7.
19
NÓBREGA, op. cit., p. 514.
20
COULANGES, Fustel de. A cidade Antiga. Disponível em: <http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/cidade
antiga.html>. Acesso em: 26 abr. 2008.
32
33
foi a adoção, que funcionava como uma fictio iuris, pela qual “uma pessoa recebia na
política, que concedia status civitatis a latinos ou a peregrinos, permitindo também que um
um sui iuris, conhecido como ad-rogação e a adoção de um alieni iuris, conhecido como
O indivíduo sui iuris era aquele que não dependia de ninguém [...] e o alieni iuris
Cretella Júnior reforça esse mesmo aspecto quando ensina em seu Curso de Direito
Civil que para compreender a família romana é indispensável clara noção das expressões
21
Apud PEREIRA, 2007, p. 387.
22
NÓBREGA, op. cit., p. 514.
23
CRETELLA JÚNIOR, op. cit., p. 125.
24
NÓBREGA, op. cit., p. 129-169.
33
34
“sui iuris” e “alieni iuris”, pois quanto ao “status familiae” as pessoas se dividem em
Caio Mário da Silva Pereira nos esclarece que o direito romano conheceu três tipos
de adoção:
1.2.1 Ad-rogação
Importante ressaltar que o princípio da ad-rogação era que a adoção devia imitar a
natureza. Por isso, não se admitia a adoção por parte de pessoas que tivessem filhos
naturais, assim como era interdita aos que não podiam ser pais, como os eunucos.
25
CRETELLA JÚNIOR, op. cit., p. 108.
26
PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil. Direito de Família. Rio de Janeiro: Forense,
vol.V. 2007. p. 387-388.
27
NÓBREGA, op. cit., p. 516.
34
35
intervenção do Estado.
especial de ad rogatio, pela qual o adotado capaz (sui iuris) se desligava de sua família e se
Sobre o poder e autoridade das Comitia Curiata, Silvio Meira nos esclarece que:
28
SERRANO, Pablo Jiménez; CASEIRO NETO, Francisco. Direito Romano. Fundamentos, Teoria e
Avaliação dos Conceitos do Direito Romano Aplicados ao Direito Contemporâneo. São Paulo: Desafio
Cultura, 2002. p. 183.
29
PEREIRA, op. cit., p. 387-388.
30
NÓBREGA, op. cit., p. 515.
31
Apud SERRANO; CASEIRO NETO, op. cit., p. 23.
35
36
simplificado, quando a autorização passou a ser dada pelos trinta lictores, que
representavam as trinta cúrias, mas ainda representava uma dificuldade para os habitantes
das províncias.
Nóbrega nos esclarece que no antigo Direito as condições para ad-rogação eram: a
potestas; mulheres e impúberes não podiam ser ad-rogados, porque suas presenças eram
interditas aos comícios por cúrias; o liberto não podia ser ad-rogado por seu patrono; o
menor de 25 anos não podia ser ad-rogado por seu antigo tutor ou curador. No século II,
Antonino Pio amenizou a situação dos impúberes e das mulheres quanto à possibilidade de
rescrito do príncipe. Alguns papiros do Egito indicam a existência de ad-rogação feita por
contrato entre o ad-rogado e o ad-rogante. Este processo não fazia adquirir a patria
potestas, mas podia ser dotado de valor jurídico se lhe fôsse acrescentada uma stipulatio
poenae. 32
exclusividade, até que, já no século VI, o direito justinianeu franqueou-o à mulher que
32
NÓBREGA, op. cit., p. 515.
36
37
consolo [...] 33
adoção devia imitar a natureza (adrogatio imitatur naturam), e o instituto deixou de ser
rogante devia não somente restituir os bens do ad-rogado, mas ainda, este último tinha
rogado aos membros de sua antiga família, caso ele viesse a morrer antes de alcançar a
puberdade. Procurou-se defender os interesses tanto dos filhos dos ad-rogantes, como os do
ad-rogado.
excepcionalmente, se permitia ter menos idade, e a diferença de idade entre ele e o ad-
33
PEREIRA, op. cit., p. 388.
34
NÓBREGA, op. cit., p. 516.
37
38
rogatio em Roma era uma “poderosa arma política, uma vez que, mediante ela, se podiam
obter as honras e a Magistratura, passando-se da classe dos plebeus para a dos patrícios e
A adoção em “stricto sensu” era um ato privado pelo qual um alieni iuris entrava
numa família na qualidade de filho, filha, neto, neta desse novo pater familias. Tratava-se
de um ato mais complexo que a ad-rogação, porque o alieni iuris deve primeiro deixar a
antiga família e depois entrar nesse grupo familiar. É verdade que na ad-rogação o ato se
revestia de maior gravidade, uma vez que havia extinção de um culto doméstico, ao passo
35
NÓBREGA, op. cit., p. 516.
36
CHAVES, Antonio. Adoção: adoção simples e adoção plena. São Paulo: Julex, 1988. p. 42.
37
NÓBREGA, op. cit, p. 517.
38
PEREIRA, op. cit., p. 388.
38
39
ponto de vista jurídico, foi a criação da Lei das XII Tábuas, resultado da luta da plebe por
novos direitos, mas repudiada pelos patrícios e pelo senado. O direito escrito encontrou
nesse ordenamento jurídico “um monumento para o direito que revela claramente uma
Na Tábua IV da Lei das XII Tábuas (ano 451 a.C.) contém a regra “Si pater filium
ter venum duxit filius a patre líber esto”, segundo a qual se o pai tivesse vendido por três
vezes o filho, este ficava livre do pai. Verifica-se que o direito de matar e de vender os
filhos dava legitimidade aos pais, os quais eram, de fato e de direito, chefes das famílias.41
A lei das XII Tábuas contém uma regra segundo a qual se o pai vendesse três
vezes o filho este ficaria livre do pai. Era um processo que permitia ao
paterfamilias fazer sair o filho de seu grupo doméstico. Uma só venda seria
suficiente se o descendente que se pretendesse afastar do grupo doméstico fosse
uma filha, um neto, ou uma neta. Depois dêsse ato, cujo mecanismo não está
completamente esclarecido, o descendente estaria livre da pátria potestas e podia
ser considerado como um sui iuris. Contudo, para que se consumasse a segunda
fase da adoção, não eram necessárias as mesmas formalidades exigidas para a
ad-rogação. No presente caso, a pessoa tornada sui iuris pela tríplice venda não
tinha patrimônio, nem sacra, não sendo, pois necessária a presença do povo
42
romano para autorizar a realização do ato.
39
Apud SERRANO; CASEIRO NETO, op. cit., p. 27.
40
Ibid., p. 27.
41
Ibid., p. 33.
42
NÓBREGA, op. cit., p. 517.
39
40
teria sido devolvido o filho pelo adquirente, após a terceira venda fictícia) compareciam à
seu próprio filho. Não havendo contestação do pai, o Magistrado homologava a declaração
através de um Adictio (pacto) e o menino era considerado filho adotivo. Não se tratava de
Primeiro, o alieni iuris deixa a antiga família e depois entra no novo grupo
formalidade exigida pela ad-rogação, que exigia uma cerimônia religiosa para desligamento
medida em que podia ser feita através de contrato escrito, perante o tabelião, entre o
adotante e o pai verdadeiro, havendo consentimento do adotado, que depois era ratificado
43
NÓBREGA, op. cit., p.517.
44
Ibid.
45
Ibid., p. 518.
40
41
Convém esclarecer que adotado também podia entrar na família do adotante na condição de
neto, que seria considerado como se fosse filho do filho do adotante. Neste caso era
necessária a autorização dêsse filho do adotante, uma vez que o adotado ficaria sendo um
paterfamilias.47
Justiniano o adotado não ficava privado de sucessão na antiga família. A adoção minus
plena não suprimia os direitos que até então possuía o adotado, mas apenas fazia com que
matrimônio.49
Alguns autores, entre eles destacamos Eduardo Alvin, sustentam a idéia de que
para os senhores feudais, como para a Igreja Católica, esta prática contrariava seus
41
42
sucessório.
De fato, tanto aos senhores feudais como à Igreja Católica o instituto em questão
não convinha. Aos primeiros, posto que muitas vezes contrariava seus direitos
hereditários sobre seus feudos, sendo somente admitido quando lhes interessava
do ponto de vista sucessório. À Igreja Católica por ser a adoção considerada
contra os princípios que se formava de família cristã e do sacramento do
matrimônio, que tinha como finalidade única a procriação. 50
A história revela que a Imperatriz Josefina (França) era estéril e, como conseqüência,
incluir a adoção no Código Civil francês e, com isso, exercer uma extraordinária influência
50
ALVIN, op. cit.
51
SERRANO; CASEIRO NETO, op. cit., p. 13.
52
PEREIRA, op. cit., p. 388.
53
SIQUEIRA, op. cit., p. 36.
42
43
adoção no território francês. Esse Código previa quatro tipos de adoção: adoção ordinária,
1927, que deu maior abrangência, fazendo a França adotar os órfãos cujos pais morreram
o instituto da adoção de acordo com as exigências sociais face às seqüelas deixadas pelas
família originária. Daí em diante a maior parte das legislações resolveu seguir o exemplo,
inserindo o instituto nos seus códigos ou através das leis ordinárias específicas.56
54
SIQUEIRA, op. cit., p. 36.
55
Ibid., p. 37.
56
Ibid.
43
44
1.4 Direito Brasileiro
[....] nosso direito pátrio revela as influências do Direito Romano, do Direito Canônico, das
O autor do projeto foi Clóvis Bevilacqua, que deu à adoção o prestígio inicial,
definindo a adoção como um ato civil, pelo qual alguém aceita um estranho na qualidade de
filho, porém seu conceito não foi inserido no Código, que se restringiu apenas às limitações
para a adoção.
O texto original do Código Civil de 1916 estabelecia que a idade dos que poderiam
adotar era 50 (cinqüenta) anos, e que a diferença de idade entre o adotante e o adotado seria
de no mínimo de 18 (dezoito) anos. Exigia também que os adotantes não tivessem filhos
legítimos ou legitimados, comprovando sua esterilidade, sendo seu principal objetivo dar
oportunidade de paternidade a quem não podia ter filhos. Posteriormente esta parte da lei
notadamente quanto à idade do adotante, pois o artigo 368 permitiu a adoção para os
57
SIQUEIRA, op. cit., p. 39.
44
45
e o artigo 370 só permitiu a adoção por duas pessoas, se forem casadas. O artigo
Art. 369. O adotante há de ser, pelo menos, 16 (dezesseis) anos mais velho que
o adotado.
Art. 370. Ninguém pode ser adotado por duas pessoas, salvo se forem marido e
mulher.
Esses artigos definiam a adoção de forma simples, como sendo aquela concernente
A nova lei permitiu ainda que casais com filhos pudessem adotar, sem que isso
comprometesse a sucessão hereditária, e colocou como restrição para o tutor ou curador que
quisesse adotar o pupilo ou curatelado, prestar contas de sua administração dos bens do
menor.
Art. 371. Enquanto não der contas de sua administração, e saldar o seu alcance,
não pode o tutor, ou curador, adotar o pupilo ou o curatelado.
58
PEREIRA, op. cit., p. 395.
45
46
O Código de 1916 não impunha como requisito de validade o
assentimento ao pedido de adoção formulado, mas não define a partir de que idade sua
opinião seria aceita. Neste artigo há também o direito dos pais biológicos ou representante
mãe de uma criança poderia, ao seu livre arbítrio, entregá-la à adoção, a quem bem
entendesse, até mesmo para estrangeiros, sem assistência judicial, através de escritura
pública, desde que o adotante se enquadrasse nas condições estabelecidas nos artigos 368,
369 e 375.
46
47
A adoção não era um ato irrevogável e tinha prazo para terminar. O vínculo
entre adotado e adotante se rompia, sendo, portanto, extinta quando as partes assim
cessasse a interdição.
simplesmente ato solene. Outros, como instituto de ordem pública, produzindo efeitos em
casamento, na adoção podem ser observados os dois aspectos: de sua formação e do status
que gera.59
Art. 375. A adoção far-se-á por escritura pública, em que se não admite
condição, nem termo.
59
PEREIRA, op. cit., p. 393.
47
48
Estabeleceu-se também que os vínculos de parentesco se restringiam
adotado tinha direito a apenas metade do quinhão a que tinha direito o filho biológico.
nítida. O art. 377 do referido diploma estabelecia que a adoção não garantia a sucessão
hereditária, e o art. 378 garantia a manutenção dos adotados em relação aos vínculos
familiares naturais, pois os direitos e deveres em relação a estes não se extinguiam, exceto
o pátrio poder, que se operava pela transferência do pai natural para o pai adotivo.
Felipe Luiz Machado Barros esclarece que “o filho, no Código Civil de 1916,
própria sorte.
desamparada, até que a Assembléia Geral das Nações Unidas proclamou a Declaração dos
Direitos da Criança.
60
BARROS, Felipe Luiz Machado. Uma visão sobre a adoção após a Constituição de 1988. Disponível em:
<http://jus2.uol.co.br/doutrina/texto.asp>. Acesso em: 17 out. 2007.
48
49
Em 1965, entra em vigor a Lei nº 4.655, que dispõe no seu art. 6º sobre a
registro de nascimento da criança adotada, que passou a ser substituído por outro, com os
entra em vigor, instituindo no Brasil o Código de Menores, que tinha como objetivo
adoção plena, que eram consideradas sob essa dupla perspectiva e representavam uma fase
49
50
1.4.1 Adoção Simples
seus sujeitos. Ainda não havia a intervenção do Estado, pois prevalecia a autonomia da
vontade das partes, como convinha à ideologia do Estado Liberal de Direito, cuja
preocupação é defender a sociedade contra o Estado, sem intervir no jogo social, apenas
garantindo a limitação da ação do Estado em face dos direitos dos cidadãos. Todavia já ao
tempo da Lei 3.133/57 começava outro tipo de Estado de Direito, o Estado intervencionista,
1934 e 1946. O Welfare State preocupava-se em modificar as relações sociais, em prol dos
61
ALBERGARIA, Jason. Adoção Simples e Adoção Plena. Rio de Janeiro: Aide, 1990. p. 45.
62
Ibid., p. 31.
50
51
Na época, a adoção simples e a adoção plena eram medidas de proteção e
Menores (Lei nº 6.697/79 ) que nos artigos 27 e seguintes, ditava para a sociedade da
Código de Menores
Art. 27. A adoção simples de menor em situação irregular reger-se-á pela lei
civil, observado o disposto neste Código.
O menor abandonado e sem família era o alvo da adoção simples, que era
realizada através de escritura pública, que era um requisito formal da adoção (CC, arts.134,
I e 375, 1ª parte).
Maria Helena Diniz esclarece que a escritura pública não admitia termo, ou
condição, por ser um negócio solene, pois, em nossa sistemática jurídica, dispensa-se a sua
para o adotado.
51
52
legal, se incapaz. Em regra, o ato de adoção (simples) só se consuma com o registro que se
6015/73, arts. 29, §1º, e 105), efetuando-se à vista de petição acompanhada do translado da
escritura, com audiência do Ministério Público (Lei dos Registros Públicos, art. 98).63
anterior à autorização judicial final, cujo prazo era fixado de acordo com a faixa etária do
encontrasse no lar adotante, e/ou não tivesse qualquer problema de saúde física ou mental.
63
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 1995. p. 284.
64
ALBERGARIA, op. cit., 1990, p. 67.
52
53
1.4.2 Adoção Plena
Código de Menores
Art. 29. A adoção plena atribui a situação de filho ao adotado, desligando-o de
qualquer vinculo com pais e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais.
quanto à adoção simples, o que vale, a fortiori, para a adoção plena. A natureza jurídica da
Art. 30. Caberá adoção plena de menor, de até sete anos de idade, que se
encontre em situação irregular definida no inciso I, art. 2º desta lei, de natureza
não eventual.
Parágrafo único. A adoção plena caberá em favor de menor com mais de sete
anos se, à época em que completou essa idade, já estivesse sob a guarda dos
adotantes.
Um dos requisitos para a adoção plena que mais causou estranheza em nossa
pesquisa é que o Código de Menores limita o direito de ser adotado às crianças de até sete
anos de idade, que se encontrem em situação irregular, admitindo apenas que a adoção se
concretize para as crianças maiores, se o processo tiver iniciado à época em que a criança
65
ALBERGARIA, op. cit., 1990, p. 49.
53
54
Art. 31. A adoção plena será deferida após período mínimo de um ano de estágio
de convivência do menor com os requerentes, computando-se para esse efeito,
qualquer período de tempo, desde que a guarda se tenha iniciado antes de o
menor completar sete anos e comprovada a conveniência da medida.
e adoção plena: artigos 28, §§ 1º e 2º, e 31. O legislador não estabeleceu prazo para o
período de prova em 6, 8, 9 meses ou um ano. Com efeito, o estágio de convivência tem por
abrangendo sua personalidade e vida pregressa bem como dos adotantes, com vistas à
Art. 32. Somente poderão requerer adoção plena casais cujo matrimônio tenha
mais de cinco anos e dos quais pelo menos um dos cônjuges tenha mais de trinta
anos.
Art. 33. Autorizar-se-á a adoção plena ao viúvo ou à viúva, provado que o menor
está integrado em seu lar, onde tenha iniciado estágio de convivência de três
anos ainda em vida do outro cônjuge.
Nos artigos 32, 33 e 34 vemos os requisitos de fundo relativos aos adotantes. A lei
fixa que, no caso de um casal, este seja casado há mais de cinco anos e que pelo menos um
66
ALBERGARIA, 1990, p. 66-67.
54
55
Jason Albergaria ressalta que esse período de cinco anos de matrimônio do casal é
casamento.67
A regra no Código de Menores é que crianças sejam adotadas por casais, mas há
exceções, como o caso das pessoas viúvas que podem adotar desde que o estágio de
convivência com a criança tenha se iniciado três anos antes do óbito do cônjuge; e os
separados judicialmente também podem adotar, desde que o estágio de convivência tenha
iniciado três anos antes da separação e que o casal concorde sobre a guarda do menor.
Nos dias atuais, podemos facilmente imaginar os inúmeros casos em que a criança
não pode ser adotada, diante da morte de um dos cônjuges, pelo fato de o estágio de
convivência não ter completado três anos. Além da viuvez, o pretendente à adoção também
Art. 35. A sentença concessiva da adoção plena terá efeito constitutivo e será
inscrita no registro civil mediante mandado, do qual não se fornecerá certidão.
67
ALBERGARIA, 1990, p. 94.
55
56
adotado.
Art. 37. A adoção plena é irrevogável, ainda que aos adotantes venham a nascer
filhos, aos quais estão equiparados aos adotados, com os mesmos direitos e
deveres.
A adoção plena era uma possibilidade jurídica de que uma criança ou adolescente
fosse integrado ao seio de uma família que não é a sua de origem, como filho legítimo,
sendo esta decisão irrevogável e que garantia ao menor adotado os mesmos direitos e
Não era permitido o fornecimento de certidão deste ato jurídico, sendo vedada
Caio Mário da Silva Pereira esclarece que diversamente da adoção simples, que
tem o caráter contratual, a adoção plena somente se perfaz como um ato complexo, em que
e outra judicial.68
68
Apud ALBERGARIA, op. cit., 1990, p. 51.
56
57
E acrescenta: [...] na adoção podem ser observados os dois aspectos: de sua formação e
do status que gera. No primeiro dar-se-á um contrato de direito de família, submetido aos
requisitos peculiares. No segundo, está presente a sua natureza institucional, que lhe
moderno a adoção simples ou a adoção plena era uma instituição que dependia da sentença
do juiz e do acordo de vontades dos sujeitos da adoção. É um ato misto formado de um ato
Assim, ao terminar este capítulo, pode-se dizer que fizemos uma viagem pela
história do direito de família, buscando através da pesquisa bibliográfica (livros, revistas,
sites etc.) e documental (legislação e jurisprudência) esclarecer como a adoção era
amparada pelo direito, em épocas remotas, precisamente desde o século XXIII a.C., com o
Código de Hammurabi, passando pelo Direito Romano e chegando à modernidade, no
Brasil, com a Lei nº 6.697/79 que instituiu o Código de Menores.
Só depois dessa pesquisa é que se tem condição de entender a atual formulação da
política do instituto da adoção no ordenamento nacional e internacional, que é o próximo
tema.
69
Apud ALBERGARIA, op. cit., 1990, p. 48.
70
ALBERGARIA, op.cit., p. 48.
57
58
2. ATUAL POLÍTICA DA ADOÇÃO NO ORDENAMENTO NACIONAL E
INTERNACIONAL
recebeu um tratamento especial, pois houve uma mudança relativa à sua natureza,
Público, que na forma da lei estabelecerá casos e condições de sua efetivação por parte de
estrangeiros.
Constituição Federal em seu artigo 227 e estabelece como dever da família, da sociedade e
A Constituição Federal não define a adoção, mas o artigo 227 § 6º dispõe sobre a
58
59
margens a interpretações, por não ter contemplado explicitamente, como, por exemplo,
entre o adotado e seus pais biológicos, logo, há perda dos direitos sucessórios entre eles.
Art. 227
§ 6º, Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os
mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias
relativas à filiação.
para trás o processo de “coisificação” que sofria na legislação anterior, onde era quase
como um objeto, que o possuidor podia, a qualquer tempo, retornar ao status quo ante, isto
A adoção deixou de ser contratual (entre as partes) e feita por escritura pública e,
que, posteriormente, é inscrita no registro civil das pessoas naturais, mediante o mandado
judicial.
A participação do Poder Público não é uma intervenção, uma vez que não compete
ao Poder Público intervir na vontade das pessoas, é sim uma participação e assistência para
59
60
de ser adotado, que, até então, era tratado apenas no âmbito da lei infraconstitucional.
Proteção Integral e foi um marco em relação aos esforços que se realizam no plano
política dos Estados Partes para a consecução dos princípios nela estabelecidos, objetivando
Art. 1º Para efeitos da presente Convenção considera-se como criança todo ser
humano com menos de dezoito anos de idade, a não ser que, em conformidade
com a lei aplicável à criança, a maioridade seja alcançada antes.
Esta Convenção assume o caráter de lei internacional, com força vinculante entre
os Estados Partes, pois quase todos os países integrantes da ONU a ratificaram sem
60
61
Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas (1948) já proclamava que
que a família, como grupo fundamental da sociedade e ambiente natural para o crescimento
amor e compreensão.
proteção e o cuidado necessários para que os pais, tutores ou pessoas responsáveis pelas
crianças exerçam, com competência, esta responsabilidade de zelar por suas crianças,
61
62
Quando não for possível que a criança viva no seio de sua família e seja necessária
sua institucionalização, a Convenção adverte os Estados Partes para que certifiquem que os
adequada.
Tal determinação pode ser necessária em casos específicos, por exemplo, nos
casos em que a criança sofre maus-tratos ou descuido por parte de seus pais ou quando
estes vivem separados, e uma decisão deve ser tomada a respeito do local da residência da
criança.
determina que sejam mantidas estas relações pessoais e o contato direto com ambos, a
menos que isso comprometa a integridade da criança e seja contrário ao seu interesse
maior.
62
63
A adoção, nestes casos, tem que ser autorizada pelas autoridades competentes que,
fidedignas sobre a situação jurídica da criança em relação a seus pais e familiares, podendo
A Convenção admite a adoção por estrangeiros, feita em outro país, quando ela
não contar com o interesse de alguma família adotiva em seu próprio país e/ou não tenha o
legal está nas salvaguardas e normas existentes no país de origem da criança, não sendo
admitido que se permitam benefícios financeiros indevidos aos que dela participarem.
adoção internacional, devem assegurar que a colocação da criança em outro país seja feita
(1990) o Brasil ratificou a Convenção sobre os Direitos da Criança (1989), mas podemos
afirmar que esse compromisso internacional inspirou e muito embasou a norma nacional no
momento de sua elaboração, que, por sua vez, tornou-se um marco jurídico e modelo para
63
64
a Assembléia Nacional Constituinte, que fosse aprovado o Capítulo VII que trata dos
estabelece que a criança e o adolescente têm todos os direitos inerentes à pessoa humana,
com absoluta prioridade, é um artigo da Constituição que não é auto-aplicável, então, fez-se
Em meados de 1989, foram realizados estudos para que uma lei federal fosse
Esta lei define que as crianças e adolescentes são sujeitos de direitos, contrariando
o que estabelecia a lei anterior, Código de Menores (1979), que os considerava como
objetos de direito.
entidades, das medidas de proteção, dos atos infracionais, das medidas sócio-educativas,
das medidas aplicáveis aos pais, dos Conselhos Tutelares, do acesso à Justiça e dos crimes
64
65
porque a lei tem sido mal divulgada, consideramos que o ECA não pode ser interpretado de
legislador.
adolescentes em família substituta, tendo em vista que compete ao Estado dar condições
para que a família biológica seja capaz, ela mesma, de cuidar de sua prole.
Art.19 Toda criança e adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da
sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a
convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas
dependentes de substâncias entorpecentes. (grifo nosso)
Dessa forma, a lei dispõe que a criança ou adolescente tem o direito fundamental
medida de caráter excepcional, mas irrevogável, que atribui a condição de filho ao adotado,
65
66
Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos
menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer
cumprir as determinações judiciais.
por seus pais ou responsáveis e aqueles que forem vítimas de maus-tratos e que
sempre amparada por decisão judicial e, dada a sua gravidade, tem de ser fundamentada em
motivos justos, como o descumprimento por parte dos pais do dever de guarda e sustento,
na aplicação da medida, em outras ela só será efetivada depois que os pais estiverem
66
67
Neste artigo está determinado que a adoção de crianças e/ou adolescentes por
vínculo com a família de origem e/ou se não houver interessados brasileiros, ou mesmo
restabelecerá o poder familiar aos pais naturais. A sentença judicial da adoção será inscrita
no Registro Civil mediante mandado, do qual não se fornecerá nenhum tipo de certidão que
o nome dos adotantes como pais, bem como o nome dos seus ascendentes como avós.
adotado.
instituído o novo Código Civil Brasileiro pela Lei n.10.406, de 10 de janeiro de 2002.
Este Código Civil contempla o tema adoção no Livro IV que trata do Direito de
1629).
67
68
menoridade já estivessem sob guarda ou tutela dos adotantes), o novo Código Civil
adultos.
Art. 40 do ECA. O adotando deve contar com, no máximo, dezoito anos à data
do pedido, salvo se já estiver sob a guarda ou tutela dos adotantes.
capítulo IV, que trata da adoção, já inicia com os critérios exigidos para quem deseja adotar
68
69
Maria Helena Diniz ensina que para adotar, o adotante deverá ter, pelo menos,
mais de dezoito anos, pouco importando seu estado civil, sexo ou nacionalidade (adoção
singular). Se a adoção se der por marido e mulher ou por companheiros (adoção conjunta),
bastará que um deles tenha completado dezoito anos e que haja comprovação da
estabilidade da família.”71
(dezesseis anos) para que, quem adota, possa desempenhar com responsabilidade o poder
familiar, que inclui o dever de educar quem ainda se encontra em fase de desenvolvimento,
inaceitável seria que o adotado tivesse igual idade ou fosse mais velho que o adotante.
antes a prestação de contas dos bens dos representados, sob a fiscalização do Ministério
Público, e somente com a aprovação das contas e solvidas as dívidas, poderá o interessado
71
DINIZ, Maria Helena. Código Civil Anotado. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. Vol. 5. p. 1.122.
69
70
Neste artigo, a legislação admite a adoção consentida, isto é, a possibilidade de os
das pessoas para quem desejam entregar o filho(a), ou ainda a confiança dos pais biológicos
nas estruturas e órgãos oficiais, quando entregam os filhos à Justiça sem saber para onde e
O artigo 1624 do Código Civil impõe que o consentimento dos pais biológicos
destituídos do poder familiar. Em qualquer uma destas situações, o Juízo mandará registrar
concordância em ser adotado por determinado interessado, não qualquer um deles, mas
aquele especificamente.
72
GUEIROS, Dalva Azevedo. Adoção Consentida: do desenraizamento social da família à pratica de adoção
aberta. São Paulo: Cortez, 2007, p. 85.
70
71
Art. 1621. Código Civil [...]
entregarem, de livre vontade, os filhos para adoção, o Código Civil admite a revogabilidade
do consentimento dado, desde que esse ocorra antes da publicação da sentença constitutiva
da adoção.
consentimento não impede, por si só, adoção, observado o melhor interesse do adotando.73
existe distinção de sexo para os adotantes, porém, neste artigo, fica subentendido que duas
A lei exige que, além de serem de sexos diferentes, o casal seja casado ou
convivente.
Há uma exceção para essa regra, que é em caso de separação judicial ou divórcio.
O parágrafo único deste artigo dá permissão legal para que um casal possa adotar
conjuntamente, contanto que acordem sobre a guarda e o regime de visitas e que o estágio
estabelecido pelo Código Civil e em seu parágrafo único, que a adoção de maiores de
73
DINIZ, 2008a, p. 1.123.
71
72
dezoito anos dependerá, igualmente, da assistência efetiva do Poder Público e de
sentença constitutiva.
De tão lógico, seria desnecessário insistir, mas o legislador quis deixar claro que
uma adoção só é cabível se trouxer reais benefícios para o adotando, sejam eles materiais
Judiciário, que além de escolher a família substituta, ainda terá de ter a prudência de indicar
Código Civil reforça esse conceito, quando define que, pela adoção, se rompe
Procurando evitar o casamento entre irmãos, a única exceção admitida para que a
consangüinidade entre os pais biológicos e filho (a), que foi adotado(a), prevaleça, ocorre
em caso de dúvidas sobre possível parentesco entre irmãos, e servirá de impedimento para
o casamento.
72
73
Parágrafo único. Se um dos cônjuges ou companheiros adota o filho do outro se mantêm os vínculos
de filiação entre o adotado e o cônjuge ou companheiro do adotante e os respectivos parentes.
O artigo 1626 trata dos vínculos que são rompidos e dos novos vínculos
familiares que se formam através da adoção. Seu parágrafo único, por sua vez, reforça a
Adolescente (art. 41 § 1º), onde um dos cônjuges ou companheiros adota o filho do outro.
Quando o adotado é ainda bem criança e a mudança do prenome não traga nenhum
prejuízo para ele, ou, ainda, quando o adolescente quiser trocar o prenome, o Juízo poderá,
através de decisão judicial, conferir ao adotado, além do nome de família dos adotantes,
uma mudança no seu prenome, desde que isso signifique uma contribuição para seu bom
desenvolvimento.
Nesse sentido, Maria Helena Diniz esclarece que “os efeitos pessoais e
patrimoniais da adoção operam ex nunc , pois terão início a partir do trânsito em julgado da
73
74
retroagirá à data do óbito, produzindo efeito ex tunc, conseqüentemente, o adotado
será tido como herdeiro. Com isso admitida está a adoção pos mortem ou póstuma”.74
Finalizando o capítulo IV que trata da adoção, o Código Civil, em seu artigo 1629,
dispõe que a adoção por estrangeiro obedeça aos casos e condições que forem estabelecidos
em lei, isto é, que sigam os dispositivos legais que regulamentem esse tema, como o
O Projeto de Lei tem 72 artigos e uma justificativa ao final. Está dividido em onze
capítulos. Dispõe sobre a Adoção no Brasil em seus amplos aspectos. Reiterou dispositivos
analisadas.
Em 2003, foi constituída uma Comissão Especial na Câmara dos Deputados, com
74
DINIZ, 2008a, p. 1.128.
74
75
No ano seguinte, ainda que timidamente, houve uma ampliação do debate
Federação.
elaboraram uma carta aberta contrária ao Projeto de Lei, que foi encaminhada para a
fundamenta seu ponto de vista no fato das famílias pobres, que entram no sistema de
justiça, correrem o risco de ter seus filhos facilmente encaminhados para adoção por
Art. 1º PL.
Para os efeitos desta Lei, a adoção é a inclusão de uma pessoa em uma família
distinta da sua natural, de forma irrevogável, gerando vínculos de filiação, com
os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-a de quaisquer
laços com pais e parentes biológicos, salvo os impedimentos matrimoniais,
mediante decisão judicial irrecorrível.
75
76
considerar os motivos que poderão levar à destituição do poder familiar e à adoção,
leva a crer que o julgamento terá um fundo moral e material das famílias pobres.
podem ser facilmente utilizados como justificativas para o encaminhamento para adoção
dos filhos de grande parte da população pobre brasileira. [...] não são os filhos da classe
média, mas, sim, os das famílias pobres, que, aliás, em geral são representados apenas pela
familiares, por fim é que serão penalizados com o encaminhamento dos filhos para
adoção.75
75
SANTA CATARINA. Ministério Público Santa Catarina. Manifesto contra o Projeto de Lei da Adoção –
Não ao PL da Adoção! Informações técnicas. Disponível em < http://www.mp.sc.gov.br>. Acesso em: 27 abr.
2008.
76
77
O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
âmago da doutrina da proteção integral, que alguns artigos do Projeto deixam antever,
família.
institucional, concluindo ser contrário ao Projeto de Lei por considerar que mudanças sobre
promoveu.
76
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS MAGISTRADOS E PROMOTORES DE JUSTIÇA DA INFÂNCIA
E JUVENTUDE (ABMP). Disponível em: <http:// www.abmp.org.br>. Acesso em: 27 abr. 2008.
77
78
77
substituição por outro projeto, PLEITEIAM ao Congresso a rejeição integral da proposta.
Figueiredo78 que responde às objeções mais freqüentes ao Projeto de Lei no site da Câmara
dos Deputados. Ele considera improcedente a afirmação de que a Lei Nacional da Adoção
Na realidade, para ele, a LNA convive com o ECA que diz que a adoção é
excepcional e não pode ser decretada a perda do poder familiar dos pais em razão da
argumenta que o papel proposto pelo ECA era funcionar como “normas gerais de proteção
à infância e à adolescência” e que nada obsta que complementos em lei federal, estaduais e
Para ele, a adoção constitui um micro-sistema jurídico próprio. Por isso, justifica uma lei
Um Projeto de Lei é apenas uma proposta, que poderá resultar em uma Lei ou
simplesmente ser rejeitado. O projeto em questão suscita discussões acaloradas dos dois
77
SANTA CATARINA, 2008.
78
FIGUEIREDO, Luiz Carlos de Barros. Contraditando as objeções mais freqüentes ao PL 1756/03- Lei
Nacional da Adoção. Disponível em: <http://www2.camara.gov.br/internet/comissoes>. Acesso em: 27 abr.
2008.
79
Ibid.
78
79
Temos que considerar que o legislador, por mais que esteja atento no sentido de aglutinar todas as
disposições sobre adoção em uma única lei, pode incorrer no risco de suplantar questões cruciais do
direito da criança e adolescente e sua família, como também quanto ao trabalho realizado pelos técnicos
do Poder Judiciário e dos Abrigos.80
convenção internacional dos direitos da criança, onde nos deparamos com esforços em
todos os níveis para que o instituto seja marcado pela seriedade e segurança em relação ao
Criança e do Adolescente e o novo Código Civil, constatou-se que do ponto de vista legal,
comunitária, o Projeto de Lei que institui o Programa Nacional de Adoção cria mecanismos
As críticas que pairam sobre o Projeto de Lei que institui o Programa Nacional de
Adoção, demonstram a preocupação que a sociedade civil organizada tem com a questão da
criança e do adolescente e ainda, significa que a sociedade não está satisfeita com a
80
THOMAZINI, Ludovina Aurora Z. et al. Análise da Lei Nacional da Adoção: o Projeto de Lei nº 1756/03
proposto pelo Deputado Federal João Matos do PMDB/SC. Caderno dos Grupos de Estudos Serviço Social e
Psicologia Judiciários. São Paulo: SRH-TJSP, n. 3. 2006. p. 213.
79
80
situação atual, marcada por toda ordem de abusos, incluindo a morosidade nos
80
81
3. CONCEITOS JURÍDICOS DO INSTITUTO
abandonada, de cujo abandono somos todos responsáveis. Tem-se ensinado que a dignidade
da pessoa humana não reside apenas em seu valor pessoal, mas decorre, sobretudo, de sua
resposta às atrocidades do nazismo. Um dos pontos mais graves era a presença de milhares
um ordenamento jurídico que, além da forma trouxe valores éticos e reconstruiu os direitos
81
ALBERGARIA, op. cit., 1990, p. 17.
81
82
Brasil inclusive.
sociais.
Para Norberto Bobbio83, os direitos humanos não nascem todos de uma vez, nem
de uma vez por todas. Sendo uma constante construção, os esforços para reconstrução dos
Formas e maneiras diferentes de ação foram criadas para a inclusão dos excluídos
adolescentes abandonados e órfãos, bem como de todos os outros meninos e meninas cujas
responsáveis.
82
LIBERATI, Wilson Donizeti. Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Rideel, 2006. p. 23.
83
Apud PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e Justiça Internacional. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 8.
82
83
Jason Albergaria84 adverte que se tem dito que a dignidade da pessoa humana não
reside apenas em seu valor de pessoa [...]. A ofensa atentatória à dignidade da pessoa
humana desonra a quem a pratica, tolera e sofre, atingindo a comunidade inteira. Logo, uma
criança resgatada em sua dignidade, eleva-se e eleva a sociedade, que se resgata de sua
culpa.
84
ALBERGARIA, Jason. Adoção Plena segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente. Belo Horizonte:
Del Rey, 1996. p. 16.
85
Ibid.
83
84
A Declaração dos Direitos da Criança, adotada pela Assembléia das
efetiva proteção dos direitos fundamentais, como o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
sua família de origem, nosso ordenamento reconhece a adoção como um instituto a ser
adoção aparece em seus artigos 39 a 52, onde se estabelece uma única modalidade (plena),
84
85
colocando fim às duas formas permitidas pela legislação anterior (simples e plena).
uma real vantagem para o adotando, uma vez que se funda em motivos legítimos.
legais de seus efeitos, também busca atingir o equilíbrio entre a norma e a atividade social e
humanitária. [...] A finalidade precípua da adoção é dar uma família a uma criança, é
desenvolvimento econômico e social, podemos perquirir que a adoção pode ser entendida
86
LIBERATI, op. cit., p. 41.
85
86
Aldaíza Sposati considera que o conceito de exclusão social de hoje se
Considero que há uma distinção entre exclusão social e pobreza. Por conter
elementos éticos e culturais, a exclusão social se refere também à discriminação
e a estigmatização. A pobreza define uma situação absoluta ou relativa. Não
entendo estes conceitos como sinônimos quando se tem uma visão alargada da
exclusão, pois ela estende a noção de capacidade aquisitiva relacionada à
pobreza a outras condições atitudinais, comportamentais que não se referem tão
só à capacidade de não retenção de bens. Conseqüentemente, pobre é o que não
tem, enquanto o excluído pode ser o que tem sexo feminino, cor negra, opção
homossexual, é velho etc. A exclusão alcança valores culturais, discriminações.
Isto não significa que o pobre não possa ser.87
culturalmente ajustado.
87
SPOZATI, Aldaíza. Exclusão social. Disponível em:
<http//www.dpi.inpe.br/geopro/exclusão/exclusão.pdf>. Acesso em: 13 nov. 2007.
86
87
O poder público apresenta para esta realidade respostas que ainda estão
que, em geral, eles não têm. Assim, esses jovens não têm qualificação nem para serem
nas ruas ou como agregado de outras famílias, não consegue participar do Programa Bolsa
Família do Governo Federal, pois, para se inscrever, ele precisa de um responsável legal,
instituição torna-se seu guardião, para todos os efeitos de direito. De certa forma,
88
BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego.
Disponível em: <http://www.mte.gov.br/pnpe/default.asp>. Acesso em: 13 nov. 2007.
89
BRASIL, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Programa Bolsa Família. Disponível
em: <http://www.mds.gov.br/bolsafamilia/o_programa_bolsa_familia/o-que-e/>. Acesso em: 06 maio 2008.
87
88
descaracterizam-se as iniciativas públicas, que visam auxiliar às famílias a
problema social que, a médio e longo prazo, terão suas situações agravadas por outros
potencialmente perigosos.
Uma vez adotados, ainda que seja por pessoas estranhas, isto é, que não façam
parte de seu contexto familiar original, as crianças e os adolescentes poderão ter um futuro
diferente.
conjunto de atividades que lhes garantirá seu sustento, segurança, educação, saúde, lazer,
altruística, a vida dos filhos adotivos, tendo em vista seu desenvolvimento harmônico, do
88
89
A adoção representa, de forma genuína, uma oportunidade de inserção de
uma criança ou adolescente em uma família, mas seu efeito principal é salvar toda uma
sociedade, por sua extensão ampliada, que sofre as conseqüências da exclusão, onde
Chega-se ao final deste capítulo com a convicção de que dignidade humana exige
cuidado e respeito pelo outro, principalmente se for uma criança. E que para que haja a
inclusão social é imprescindível a existência de uma família, que pode ser substituta, mas,
que aceite uma criança ou adolescente, como se filho fosse, dando-lhe a dignidade e a
89
90
4. REQUISITOS GERAIS E ESPECÍFICOS DA INCLUSÃO DE CRIANÇAS
Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles
e seus descendentes. Compreende-se por família substituta aquela que é formada por um
casal ou qualquer um deles e uma ou mais crianças e adolescentes, que, não sendo filhos
entre si vínculos afetivos, como se pais e filhos fossem, representam também uma família.
Quando a família natural não pode ou não quer manter sua prole, e essa é
4.2.1 Guarda
90
91
quando impúbere ou, se púbere, de assisti-lo, agir conjuntamente com ele em
situações ocorrentes.90
na mesma moradia entre pais e filhos. Excepcionalmente, deferirá o Juízo próprio a guarda
permanecer sob a responsabilidade de uma pessoa, ou de um casal, que não sejam os pais
criança ou adolescente.
90
SILVA, Ana Maria Milano. Guarda compartilhada. São Paulo: LED, 2006. p. 103-104.
91
Ibid.
91
92
O instituto da guarda conferido a terceiros não retira dos pais a paternidade
deferimento da guarda, será exclusivo dos guardiões. No entanto, é facultado aos guardiões
face do filho.
A guarda assim é da natureza do poder familiar não da sua essência, tanto é que, se
Caso a criança ou adolescente já viva no seio de uma família, que não seja a sua
aplicada fora dos casos de tutela ou adoção, para atender a situações peculiares, e o detentor
Art.33 ECA.
§ 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de fato, podendo ser deferida,
liminar ou incidentalmente, nos procedimentos de tutela e adoção, exceto no de
adoção por estrangeiros.
A revogação da guarda poderá ser feita a qualquer tempo, mediante ato judicial
fundamentado, ouvido o Ministério Público, que cuidará para que sejam resguardados os
interesses da criança, a pedido dos guardiões e/ou dos genitores e/ou pela própria criança
4.2.2 Tutela
92
SILVA, op. cit., 2006, p. 31.
92
93
No sentido jurídico, tutela é uma forma de proteção ao menor de dezoito
anos de idade, órfão ou em caso dos pais decaírem do poder familiar, atribuindo à
terceira pessoa, que poderá ser estranha à relação familiar, as responsabilidades e encargos
integral aos filhos menores, reconhecida através de uma decisão judicial, na forma do art.
criança ou adolescente ser posto sob tutela de terceiros, pois o outro genitor assume o
especialização de uma hipoteca legal dos bens do tutor, condicionando o exercício da tutela
à prestação de caução.
bens ou rendimentos, ou, ainda, se estes forem suficientes apenas para a mantença do
tutelado, isto é, não havendo significativa sobra, e, também, se o tutor for de reconhecida
idoneidade.
93
94
os bens do tutelado, ainda que irrisórios, em proveito deste, cumprindo seus deveres
Art. 1.753. CC. Os tutores não podem conservar em seu poder dinheiro dos
tutelados , além do necessário para as despesas ordinárias com seu sustento, sua
educação e a administração de seus bens.
a servir, ao sobrevir escusa legítima ou ao ser removido. Ele será destituído do cargo de
Art. 22 ECA. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos
filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e
fazer cumprir as determinações judiciais.
Art. 24 ECA. A perda e a suspensão do pátrio poder serão decretadas
judicialmente, em procedimento contraditório, nos casos previstos na legislação
civil, bem como na hipótese de descumprimento injustificado dos deveres e
obrigações a que alude o art. 22.
Art. 38 ECA. Aplica-se à destituição da tutela o disposto no art. 24.
destituído da tutela, foi feita uma equiparação do tutor aos genitores, posto que, fazendo
referência ao art. 24, que por sua vez faz alusão ao art. 22, chega-se ao ponto em que o tutor
tem o dever de sustento, guarda e educação dos tutelados, nas mesmas condições, como se
Sobre esse tema, o legislador no Código Civil (2002), nos artigos 1728 a 1766, fez
sobre as prestações de contas e a cessação da tutela, que não cabe aqui neste trabalho
detalhar.
94
95
4.2.3 Adoção
criança ou adolescente em uma família substituta, por isso mesmo, é o que mais suscita
que nas palavras de Liborni Siqueira93 se resumem em “perfilhar ou tomar por filho ao que
não é por natureza [...] é uma inseminação artificial jurídica” (grifo nosso).
Para Caio Mário da Silva Pereira94 “adoção é o ato jurídico pelo qual uma pessoa
recebe outra como filho, independente de existir entre elas qualquer relação de parentesco
Maria Helena Diniz95 conceitua adoção como “ato jurídico solene pelo qual,
sua família, na condição de filho, pessoa que, geralmente, lhe é estranha. Dá origem,
portanto, a uma relação jurídica de parentesco civil entre adotante e adotado” (grifo
nosso).
93
SIQUEIRA, op. cit., p. 25.
94
PEREIRA, op. cit., 2007, p. 392.
95
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Direito de Família. São Paulo: Saraiva, 2008. Vol.
5. p. 506.
95
96
96
Silvio Rodrigues , citado por Eunice F. R. Granato, conceitua da seguinte
maneira: “adoção vem a ser o ato jurídico pelo qual se estabelece, independentemente
entre duas pessoas, do laço de parentesco do 1º grau na linha reta” (grifo nosso).
Queiroga97, citado por Liborni Siqueira, que conceitua adoção como “ato jurídico que
estabelece entre duas pessoas relações civis de paternidade e de filiação. É um instituo que
muito do comum, isto é, o que a maioria das pessoas pensa a respeito da adoção. Todos
consideram a adoção um ato jurídico que estabelece um vínculo de filiação entre pessoas
que são estranhas entre si e que resulta na igualdade de condições para os adotados e os
pode e quem não pode adotar, através do Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) e do
96
Apud GRANATO, Eunice Ferreira Rodrigues. Adoção: Doutrina & Prática, Curitiba: Juruá. 2006. p. 25.
97
Apud SIQUEIRA, op. cit., p. 26.
96
97
Em geral, qualquer pessoa pode adotar. A legislação considera apenas
algumas peculiaridades como impedimento para a adoção, que podem ser facilmente
identificadas e justificadas.
Civil, podem adotar as pessoas maiores de dezoito anos. No caso de um casal, ao menos um
há de ser, no mínimo, de 16 anos, não se podendo conceber que o adotado tenha idade igual
ou superior ao adotante.
uma criança ou adolescente. A lei faculta a qualquer pessoa, independente do estado civil, a
possibilidade de adotar.
Se a adoção for unilateral, isto é, se der por pessoa solteira ou que não viva em
união estável, formar-se-á uma entidade familiar, ou seja, uma família monoparental.98
registrado somente no nome da mãe ou do pai, e que não tivesse o outro genitor conhecido
98
DINIZ, 2008b, p. 511.
97
98
ou vivo, pudesse ser adotado por alguém próximo. No caso do genitor (a) estar vivo,
matrimônio ou união estável. Ocorrerá impedimento se, na união estável, por exemplo, um
dos dois estiver com sua situação civil a ser resolvida, por exemplo, continua casado, isto é,
concubinato.
Constituição de 1988 que reconhece como entidade familiar a união estável do homem e da
mulher [...] assim, não há como negar o direito de adotar crianças ou adolescentes a pessoas
que vivam em união concubinária digna e cercada de respeito pelo meio social em que
vivem.99
da adoção, que foi confirmada no Estatuto da Criança e do Adolescente e pelo Código Civil
família tivesse iniciado na constância da sociedade conjugal. Além disso, o casal tem de
estar de acordo sobre a guarda da criança e o regime de visitas. Ao qual acrescentamos que
99
GRANATO, op. cit., 2006. p. 86.
98
99
será necessária e oportuna a concordância do casal em relação a outros assuntos do
judicial para fins de adoção, o adotante vier a falecer antes de prolatada a sentença
definitiva.
compreensão com a situação de luto, e não querendo punir o adotado com sua remoção do
seio da família, permitiu a adoção póstuma, desde que, por iniciativa dos adotantes, já tenha
póstuma e os efeitos da adoção retroagem à data do óbito, inclusive para fins sucessórios.
99
100
a maternidade/paternidade através da adoção. A dificuldade se apresenta quando o
pedido é formulado por parceiros homossexuais, pois a lei permite que só um deles
seja o adotante.
preconceituosas. Pessoas do mesmo sexo não poderão jamais ser marido e mulher e a
legislação atual não reconhece a relação entre companheiros homossexuais como sendo
convivência pública, contínua e duradora de um homem com uma mulher, vivendo ou não
sob o mesmo teto, sem vínculo matrimonial, estabelecida como o objetivo de constituir
família, desde que tenha condições de ser convertida em casamento, por não haver
matrimônio. Com base nesses dois requisitos, o relacionamento entre duas pessoas do
100
DINIZ, 2008b, p. 367-368.
100
101
Na doutrina e nos julgados dos Tribunais Superiores encontramos quem,
portanto, passível de
assumir uma criança ou adolescente em adoção. Autores renomados têm sinalizado para
Maria Helena Diniz101, em seu Curso de Direito Civil Brasileiro (vol. 5) cita várias
ementas, onde ora se reconhece a união homossexual como equiparada à união estável, ora
Sul, trazida pela autora, que reconhece judicialmente a união homoafetiva, mantida entre
dois homens, pelo fato de o relacionamento entre eles ser de conhecimento público e por
Na seqüência, outra ementa, trazida pela mesma autora, que diz o contrário:
inscrição no Cadastro de pessoas interessadas em adoção nas Comarcas tem sido rotina, e
sua aceitação ou rejeição baseia-se, muitas vezes, nos princípios e fundamentos pessoais
101
DINIZ, 2008b, p. 371-373.
101
102
do Magistrado, que irá deferir ou indeferir o pedido. Numa mesma Comarca,
alguns casos aparentemente idênticos são deferidos e outros indeferidos. Muda o Juiz,
muda a decisão.
dianteira dos fatos que antecedem a lei admite a possibilidade da adoção por um casal
102
SILVA JÚNIOR, Enézio de Deus. A possibilidade jurídica de adoção por casais homossexuais. Curitiba:
Juruá, 2008. p. 98.
102
103
tem recursos para avaliar os postulantes à adoção (qualquer um deles) e indicar os casos em
que não devem ser deferidos e os que devem, sempre visando as reais vantagens para o
contribuir com as discriminações, o que, infelizmente, aconteceu por muitos anos. [...] Se o
suspenso. [...] O cidadão comum está submetido ao senso comum, ao que vigora como
103
BOCK, Ana. Guerra ao preconceito.Veja. São Paulo, n. 1.646, p. 14, abr. 2000.
104
SILVA JÚNIOR, op. cit., p. 29-30.
103
104
Internacional das Doenças – CID, em 1985, como uma doença mental, passando para o
O Serviço Social Judiciário, por sua vez, realiza o “estudo social do lar legitimante
porém com parcimônia, pois não se busca somente pessoas abastadas para adoção, buscam-
em famílias substitutas; sendo isso inevitável, que existissem casais e famílias constituídas
que os assumissem; sendo isso ainda difícil, que a sociedade brasileira protegesse
O fato de a preferência sexual ser por uma pessoa do mesmo sexo não altera em
pessoas não estão localizadas nos órgãos sexuais delas e nem no uso que se faz deles.107
105
NEVES, Márcia Cristina Ananias. Vademecum do Direito de Família à luz do Novo Código Civil. São
Paulo: Jurídica Brasileira, 2003. p. 441.
106
SIQUEIRA, op. cit., p. 47.
107
NEVES, op. cit., p. 440.
104
105
Art. 29 ECA. Não se deferirá colocação em família substitua a pessoa que revele, por qualquer
modo, incompatibilidade com a natureza da medida e não ofereça ambiente familiar adequado.
Até agora procuramos abordar esse tema com ênfase para as possibilidades
pessoas homossexuais.
doutrinadores, como Jason Albergaria, insistem que sendo a criança separada de seus pais
com um pai e uma mãe, que lhe garanta um desenvolvimento harmonioso e permita que sua
A adoção unilateral realizada por uma pessoa solteira, viúva, separada, ou ainda a
adoção conjunta realizada por um casal homossexual representa, para alguns estudiosos
criança.
identificação da criança, que é considerada essencial para sua socialização. Eles alertam
108
ALBERGARIA, op. cit., 1990, p. 96-97.
105
106
que a conduta anti-social da criança está vinculada à anomalia da identificação e
que a criança vai identificar-se com sua função social segundo o sexo.
Universidade dos Estudos de Roma Francesco D’Agostinho “A tarefa do jurista hoje não é
lhe cabe refletir sobre qual pode ser a melhor política social a adotar em relação aos
não é um problema de direito, mas de fato; isto é, que pertence a uma daquelas dimensões
Esse tema é por demais intrigante para se esgotar nessas poucas palavras e requer
de origem, se possível pelos próprios pais. Na impossibilidade dessa situação, eles devem
ser assumidos por seus parentes, como: irmãos, avós, tios e outros, mediante o termo de
guarda.
legislação pátria faz apenas duas ressalvas: os avós estão impedidos de adotar os netos e os
irmãos estão impedidos de adotar os irmãos. Fora estes dois vínculos de parentesco (avós e
109
D’AGOSTINHO, Francesco. Matrimónio entre homossexuais. L.Osservatore Romano, Roma, 6, set.,
1997. Antropologia Cristã e Homossexualidade -10, p. 10-11.
106
107
Art. 42. ECA
§ 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do adotando.
(ampliada). O que não aconteceria se um avô viesse a adotar o neto, pois ele estaria
biológico, irmão de seus sobrinhos, confundindo, assim, toda a ordem familiar, inclusive
Dada a clareza de como a lei trata esse assunto, na atualidade não se tem mais
pedidos desta natureza, mas alguns processos iniciados antes da vigência do ECA, onde
pedido.
4.3.4 Nacionalidade
110
SIQUEIRA, op. cit., p. 289.
107
108
A adoção internacional, ao longo do tempo, foi analisada sob dois
assumidos pelos países do primeiro mundo. Por outro lado, era vista como uma agressão,
adoção, muitos países foram gradativamente adaptando suas legislações sobre a adoção, o
reconhecida , desde que atenta ao melhor interesse da criança. Vejamos na íntegra o art. 21:
111
Apud ALBERGARIA, op. cit., 1990, p. 199-202.
108
109
cuidar da criança, no caso em que a mesma não possa ser colocada em um lar de adoção ou
entregue a uma família adotiva ou não logre atendimento adequado em seu país de origem; (grifo
nosso) c) a criança adotada em outro país goze
de salvaguardas e normas equivalentes às existentes em seu país de origem com relação à adoção; (grifo
nosso) d) todas
as medidas apropriadas sejam adotadas, a fim de garantir que, em caso de
adoção em outro país, a colocação não permita benefícios financeiros indevidos
aos que dela participarem; (grifo nosso) e)
quando necessário, promover os objetivos do presente Artigo mediante ajustes
ou acordos bilaterais ou multilaterais, e envidarão esforços, nesse contexto, com
vistas a assegurar que a colocação da criança em outro país seja levada a cabo
por intermédio das autoridades ou organismos competentes (grifo nosso).
Haia, aos 29 de maio de 1993, que passou a vigorar no Brasil em 1º de julho de 1999.
112
PADUA, Isabel Cristina S. Moreira Pimenta de. et al. O Direito da criança a um lar acima de preconceitos
e nacionalidade. Cadernos dos Grupos de Estudos Serviço Social e Psicologia Judiciária. São Paulo: SRH-
TJSP. 2006, n. 3. p. 55-56.
109
110
Observa-se que, aos poucos, a adoção internacional foi perdendo o caráter
assistencialista dos países ricos em relação aos países pobres e assume a conotação de
Maria Helena Diniz esclarece sobre esse assunto que os Tribunais têm julgado,
como base no fato de no Brasil prevalecer a lei do domicílio (LICC, art. 7º), e reconhecido
o direito de qualquer estrangeiro, que aqui seja radicado e residente, de adotar uma criança
brasileira, mesmo que a lei de seu país de origem ignore o instituto da adoção, seguindo o
mesmo procedimento exigido ao adotante brasileiro [...] desde que comprovada sua
Art. 7o LICC
uma criança ou adolescente por uma família substituta estrangeira se estiver completamente
Art. 31 ECA.
113
DINIZ, 2008b, p. 526-527.
110
111
pouco tempo, era admitida a adoção por procuração. Esse método era muito usado por
casais estrangeiros que outorgavam uma procuração para um conhecido brasileiro, para dar
entrada ao processo de adoção. Hoje essa possibilidade é vedada, e o estrangeiro que quiser
porém, existindo a possibilidade de uma adoção, os estrangeiros são chamados para estar
de São Paulo é feito através de um processo judicial e está sujeito à decisão do Juiz de
Internacional.
111
112
Brasil é de no mínimo 15 dias, se a criança tiver menos de dois anos, e de um mês, para o
família e vice-versa, mas é também para que o Juízo se convença de que os adotantes
nova família.
conflito de leis, por isso, além de todo aparato psicossocial anterior à sentença definitiva,
para que não haja erros ou precipitação no envio de crianças e adolescentes para o exterior,
há de se analisar a legislação do país que irá receber o adotado, pois é lá que os primeiros
114
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Pedido de habilitação de entidade estrangeira
junto ao CEJAI. Proc. 000001 de 1999. Disponível em: <http://www.biblioteca.tj.sp.gov/acervo/legislação>.
Acesso em: 18 jul. 2008.
115
ALBERGARIA, op. cit., 1990, p. 224.
112
113
Se a autoridade judiciária brasileira, que estiver analisando o pedido de
por exemplo, a igualdade de tratamento com os filhos dos adotantes, como ocorre no Brasil.
Se esse direito de igualdade não for garantido, cabe ao Magistrado negar a inscrição ou, até
Georgette Nacarato Nazo conclui este raciocínio dizendo que se assim não agisse,
Adotar, na Comarca onde mora, o legislador do ECA quis proibir a conhecida “adoção à
Essa prática de adoção “à brasileira” ou informal foi usada durante muitos anos,
mas nem todos os casos tiveram um final feliz, pois nem todos os adotantes estavam
116
Apud MONACO, Gustavo Ferraz de Campos. Direitos da Criança e Adoção Internacional. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2002. p. 113.
113
114
preparados para assumir a responsabilidade, e o filho adotado era visto como filho
Os motivos que levam alguém a registrar filho alheio como próprio, por esse
método, são os mais variados, mais fácil é intuir que, dentre eles, estão a esquiva
a um processo judicial de adoção demorado e dispendioso, mormente quanto se
tem que contratar um advogado; o medo de não lhe ser concedida a adoção por
meios regulares e, pior ainda, de lhe ser tomada a criança, sob o pretexto de se
atender a outros pretendentes há mais tempo “na fila” ou melhor qualificados; ou
ainda, pela intenção de se ocultar à criança a sua verdadeira origem.117
Outro tipo de adoção bastante usual no Brasil é a adoção “intuitu personae”, que
consiste no prévio acerto entre os pais biológicos e os adotantes, para que a criança seja
entregue àqueles ainda recém-nascida. Nesse caso, não há a intenção dos adotantes em
registrar a criança em seu nome, como se seu filho fosse. Logo após receber o recém-
Art. 28 ECA
§ 2º Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o grau de parentesco e a
relação de afinidade, a fim de evitar ou minorar as conseqüências decorrentes da
medida.
consente que o companheiro ou marido adote seu filho; ou ainda, a adoção por terceiros,
quando o adotante não é parente da criança, mas está na guarda de fato da criança, tendo
117
GRANATO, op. cit., p. 131.
114
115
muitos casais a buscar uma criança, por exemplo, a esperança de que um filho
sabendo onde o filho está, ameaçam querer a criança de volta; ou os pais biológicos passam
vantagens financeiras para intermediar essa relação entre os pais biológicos e os adotantes.
Sendo possível, o ECA também adverte para que a criança ou adolescente seja
ouvido em Juízo e emita sua opinião sobre a adoção, que será devidamente considerada.
Adoção
115
116
Em São Paulo, o Tribunal de Justiça, através da Corregedoria Geral da
Justiça, tem publicado vários Provimentos que estabelecem alguns procedimentos para
Estado.
revogou o Provimento nº 14/2004, porém manteve o que preconiza o ECA, quando no seu
artigo 1º estabelece que todo Juízo da Infância e Juventude do Estado fica obrigado a
Juventude do Estado.
Setores Técnicos, onde Assistentes Sociais estão preparados para fornecer todo tipo de
116
117
atestados de antecedentes criminais e certidões negativas da Vara Criminal
da Criança e do Adolescente, a saber, quando a adoção conta com o consentimento dos pais
biológicos ou quando os genitores indicam quem desejariam que adotasse seu filho (adoção
Justiça, para que o consentimento tenha valor legal, mesmo que haja declaração dos
genitores registrada em Cartório, ou ainda que eles tenham expressado seu desejo em
estudo psicossocial, vai além da qualificação dos interessados, pois visa conhecer as reais
motivações dos interessados na adoção e como estes estão preparados para os eventuais
Muitas das dúvidas que os interessados têm sobre adoção são respondidas, nesta
fase, pela Equipe Técnica do Judiciário, que objetiva também demonstrar aos pretendentes
à adoção que a criança desejada talvez não exista e que eles poderão permanecer durante
anos aguardando uma oportunidade de adotar, caso não sejam flexíveis em relação às
118
MORAES, Solange T. et al. Sistematização do trabalho elaborado pelo Grupo de Estudos Adoção I desde
1995. Grupo de Estudos Serviço Social e Psicologia Judiciários. São Paulo: SRH-TJSP. n. 3. 2005, p. 14.
117
118
características da criança ou adolescente. Quanto maior o nível de exigência dos
É neste momento que se esclarece aos pretendentes que o Poder Judiciário não sai
em busca de crianças para satisfazer casais que, não tendo filhos, procuram
desesperadamente por uma criança para adotar. Ao contrário, buscam-se pessoas que
Para delimitação do estudo, iremos nos ater apenas à Comissão Estadual Judiciária
(CEJAI), foi criada através da portaria nº 2656/92 pelo Presidente do Tribunal de Justiça,
sendo que compete a este órgão o controle das adoções internacionais a partir da habilitação
competente de seu país de origem, que comprove sua qualificação para o exercício da
118
119
adoção. Deve também apresentar um estudo psicossocial elaborado por agência
internacionais.
Com este banco de dados, desde 2004, a CEJAI realiza um trabalho estatístico
São Paulo.119
119
FRIAS, Clarinda; PENHA, Silvia Nascimento (Orgs.). Perfil dos Requerentes nacionais habilitados à
adoção no Estado de São Paulo. São Paulo: TJSP-CEJAI, 2007. Digitado. 48 p.
119
120
Vejamos os dados mais recentes. Em 2006 foram analisadas 2.208
etária de 41 a 50 anos.
por pessoas de cor parda. Observou-se também que 44,19% dos inscritos possuem grau de
Em relação ao estado civil, constatou-se que 84,79% são casados e 10,41% vivem
biológicos; 11,01% são casais que possuem filhos em comum e 11,28% apenas um dos
Sobre a renda familiar mensal dos interessados em adotar identificou-se que 17,98%
possuía (em 2006) uma renda que variava entre R$ 1.140,00 a R$ 1.900,00 e 30,48%
uma renda superior a R$ 7.600,00 foi o equivalente a apenas 0,23% dos inscritos.
120
FRIAS, Clarinda; PENHA, Silvia Nascimento (Orgs.). Perfil dos Requerentes estrangeiros que
solicitaram habilitação à CEJAI do TJSP durante o ano de 2006. São Paulo: TJSP-CEJAI, 2007. Digitado. 44
p.
120
121
Noruega também apresentaram cerca de 10 candidatos cada um, que representou
casos.
Agência de Adoção (89,12%), devidamente credenciada pelo órgão, porém, os países que
Em relação ao estado civil dos estrangeiros, em 2006, constatou-se que 99% eram
casados e apenas 1% vivia em união estável, sendo que do total, 61,79% tinham entre cinco
e vinte anos de convivência, com predominância da faixa de cinco até dez anos de união
(35,38%).
completo, neste caso, as estatísticas apontam 107 homens e 130 mulheres universitários.
realidade nacional, com 25,50% na faixa de US$50.000 a US$70.000 e 23% com renda
superior a US$100.000.
Com esse valioso estudo (que é mais amplo do que aqui expusemos) a CEJAI de
São Paulo nos permite fazer uma análise sobre o perfil das pessoas interessadas e traçar um
121
122
paralelo com suas expectativas em relação às principais características das crianças
• Idade
23,14% dos inscritos e pelas crianças dos 12 aos 24 meses há 25,72% dos inscritos
interessados.
de interessados e observamos que, com 6 anos de idade, a criança passa a ter mínima
chance de ser adotada, pois apenas 2,4% dos brasileiros inscritos a adotaria. Acima de dez
anos de idade, apenas 0,1% dos inscritos manifestaram disposição para adotá-la. Não
• Sexo
Dos 2.208 casos de pessoas habilitadas para adotar houve uma predominância
(60,46%) em não optar por um determinado sexo. A preferência pelo sexo feminino
totalizou 30,89% dos inscritos e apenas 8,65% optaram pelo sexo masculino.
122
123
Durante o processo de habilitação feito na Comarca de origem do
enviada à CEJAI, onde os requerentes são levados a responder quais as restrições que
ser os mais importantes, como: 43,70% dos inscritos aceitariam crianças com problemas
físicos tratáveis leves e 42,48% aceitariam crianças com HIV negativado. O percentual de
pessoas dispostas a adotar crianças com HIV+ ou com problemas físicos não tratáveis não
Em relação à saúde mental dos adotados, constatou-se que 12,68% dos inscritos
aceitariam crianças com problemas mentais tratáveis leves e 51,77% aceitariam crianças
com problemas psicológicos leves. Somente 1,36% dos inscritos aceitariam crianças com
problemas mentais não tratáveis e 6,79% aceitariam crianças com problemas psicológicos
graves.
• Cor
em 44,16% dos casos, pela cor branca e apenas 1,04% pela cor preta. Pela cor parda
123
124
Segundo a CEJAI de São Paulo as principais características físicas e
adoção são:
• Idade
recém-nascidos. Dos habilitados ninguém optou por crianças até um ano de idade.
Observa-se que 24,68% optou por crianças até seis anos e 14,64% por crianças até
cinco anos. A soma das porcentagens dos interessados nas crianças entre 6 e 10 anos é de
26,37%, o que nos parece ser a única alternativa de adoção para as crianças brasileiras
• Sexo
declararam preferência por crianças do sexo feminino e 5,44% por crianças do sexo
masculino. Quando os pretendentes aceitavam mais de uma criança, constata-se que 3,77%
estrangeiros inscritos também estão dispostos a adotar uma criança que apresente
aplica para os casos em que as doenças (físicas ou mentais) sejam graves ou não tratáveis.
Destes, 57,94% dos inscritos aceitariam crianças com problemas físicos tratáveis
124
125
Observa-se também que 21,96% aceitariam crianças com problemas
graves.
Por outro lado, observa-se que 99,53% não aceitariam, se fossem consultados,
crianças com problemas físicos não tratáveis e 100% não aceitariam crianças portadoras do
vírus HIV+.
98,60% não aceitariam crianças com problemas mentais não tratáveis e 98,60% também
• Cor
em adoção, a CEJAI informa que 64,43% dos casos declararam não ter preferência de cor.
A preferência pela cor branca representa 8,79% dos interessados e pela cor preta 1,67%,
dificuldades de transpor.
Concluímos que o valioso estudo realizado pela CEJAI de São Paulo (que é muito
mais amplo do que expomos aqui) nos dá a oportunidade de relacionarmos o perfil dos
brasileiros interessados em adoção com o perfil dos estrangeiros. Ao mesmo tempo em que
atentas para o fato que um número considerável de crianças é adotada por estrangeiros por
125
126
Crianças e adolescentes estão nos abrigos aguardando uma oportunidade
de serem inseridos em uma família substituta, e para eles não importa se é uma família
do Banco Nacional de Adoção, que tem por finalidade consolidar dados de todas as
sistema do respectivo Estado e terão acesso integral aos cadastrados. Caberá à Corregedoria
de cada Estado cadastrar e liberar o acesso ao juiz competente das comarcas, e ser o zelador
se decidir pela adoção de uma criança ou adolescente por uma família estrangeira, em
126
127
Um ponto importante da Resolução nº 54 é que em seu artigo 6º está
família natural.
funcionar, sem prejuízo, com base em provimentos estaduais que regulamentam seu
funcionamento.
127
128
instituições, conhecidas como colégios internos, era sempre visto como algo extremamente
Inicialmente, eram os próprios pais que levavam seus filhos para serem educados.
cresciam e eram educadas, somente mantendo contato com a família nos feriados e nas
férias escolares.
no Brasil inclusive.
compromisso e, portanto deve ser planejada, ordenada e regulada por normas objetivas,
121
RIZZINI, Irene. A institucionalização de crianças no Brasil: percurso histórico e desafios do presente.
São Paulo: Loyola, 2004.
122
SANTOS, Manuel Esaú Souza Ponciano dos. Luz e Sombras: Internatos no Brasil. São Paulo: Salesianas.
2000, p. 186.
128
129
Dom Bosco entendia que “a função protetora do colégio exige notável rigor na
educação, de clara separação do mundo externo (grifo nosso). A severidade exigida é, assim,
internato. [...] à luz dessa concepção de internato (robusta unidade educativa, protetora e
Souza Ponciano dos Santos, em sua obra Luz e Sombras: internatos do Brasil, abarcou o
período de 1883 a 1975, mostrando, nestes quase cem anos, sua importância social e
política. Nesse período, o Brasil saiu do período colonial, passou por vários regimes
chegar a uma sociedade industrial, urbana, mantendo os internatos como uma modalidade
positiva de educação.
Mais recentemente, com a Lei n. 6.697, de 10 de outubro de 1979, que instituiu o Código
123
SANTOS, op. cit., p. 192-194.
129
130
Público.
Art.2º
Num país pobre, como o Brasil, aos poucos, o Poder Judiciário, através do Juizado
130
131
Sendo considerados em situação irregular, estes internos eram afastados dos pais e
permaneciam durante anos na instituição e não estavam à disposição para uma possível
adoção.
crianças e jovens pobres, até que o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), quando
trata das Medidas de Proteção (arts. 98-102), rompeu e proibiu a internação dos casos de
seja passível de intervenção estatal, em razão de sua conduta e sempre que seus direitos
atos infracionais; e, para as crianças e adolescentes vítimas da ação, omissão ou abuso dos
131
132
(art. 91 parágrafo único), dentre os quais será escolhido seu Dirigente, que por sua vez será
de direito.
132
133
o ECA, no artigo 93, admite que, em caráter excepcional e de urgência, o abrigo receba
obrigatório que se faça a comunicação do fato até o segundo dia útil imediato.
A lei estabelece ainda que, para o bom funcionamento, o abrigo deve adotar os
seguintes princípios:
da família de origem;
adolescentes abrigados;
Consideramos que a lei que dispõe sobre o tema estabelece parâmetros mínimos
(IPEA) reforça a idéia de que o abrigo é uma medida de proteção que pode ser um portal
aberto para novas realizações, principalmente em relação a uma futura adoção; mas
133
134
também pode ser um portal fechado que, na prática, enclausura crianças e adolescentes,
para Crianças e Adolescentes da Rede SAC pelo Instituto de Pesquisa Aplicada – IPEA
o levantamento nacional constatou que 66,9% tinham o aspecto externo com características
abrigados por entidade, constatou-se que os Conselhos Municipais dos Direitos da Criança
por instituição.
124
OLIVEIRA, Rita C. S. (Org.). Quero voltar para casa. São Paulo: AASPTJ-SP, 2007, p. 59.
134
135
conservadorismo, pois, aos moldes dos antigos orfanatos, 80,3% das entidades pesquisadas
tentam prover e garantir todo tipo de assistência ao abrigado, como: escolas, atendimento
como parte importante na formação das crianças e adolescentes, pois apenas 27,5% das
5.1.1 Funcionamento
e casas-lares – são instituições responsáveis por zelar pela integridade física e emocional de
crianças e adolescentes que tiveram seus direitos desatendidos ou violados, seja por uma
situação de abandono social, seja pelo risco pessoal a que foram expostos pela negligência
135
136
excepcional” (art. 101, parágrafo único). Aqueles que, em casos extremos, necessitam
proteção.125
adolescente, não a única, nem a primeira. Sua aplicação representa um grande impacto na
vida das crianças e adolescentes e, por isso mesmo, deve ser evitada ou adiada, buscando
pais e responsáveis, fica cada vez mais difícil a não utilização do abrigo. Sem alternativas
conseqüências graves na vida de muitas pessoas. Não havendo programas sociais que
adolescentes.
adolescentes que vivem em abrigos estão fixados pela lei, porém, na prática, como nos
125
SILVA, Enid Rocha Andrade da. (Org.). Os abrigos para crianças e adolescentes e o Direito à
convivência familiar e comunitária. Brasília: IPEA-CONANDA, 2005, p. 186.
126
WEBER, Lídia Natália Dobrianskyj. Abrigos - Da Institucionalização à Adoção: Um Caminho Possível?,
Disponível em:< http://www.cecif.org.br/abrigos_caminho.htm.>. Acesso em: 02 maio 2008.
136
137
estudo sobre abrigos no Brasil, desde 1996, que o entendimento que ela dá para o abrigo,
Fazemos essa consideração, pois a nosso ver, o termo internato exige um esclarecimento,
infratores, o que, de maneira alguma, desmerece a idéia central da autora sobre o abandono
Serviços de Ação Continuada, coordenado por Enid Rocha Andrade Silva, foi realizado um
estudo com o objetivo de conhecer o perfil dos abrigos, bem como as características dos
serviços oferecidos por essas instituições às crianças e aos adolescentes, à luz do ECA, com
127
SILVA, Enid Rocha Andrade da. (Org.). Levantamento Nacional de Abrigos para crianças e adolescentes
da Rede de Serviços de Ação Continuada. Brasília: IPEA-CONANDA, 2003. 71 p.
137
138
instituições pesquisadas, 68% não são governamentais. A grande maioria (67,2%) tem
orientação religiosa, com ênfase para os católicos que totalizam 62,1%. A participação
efetiva, em nível de direção dos abrigos, está 59,3% nas mãos dos voluntários, isto é,
pessoas que dedicam parte do seu tempo sem receber remuneração por seu trabalho.
ou carência de recursos materiais. Neste caso, a criança ou adolescente deve ser mantido
oficiais de auxílio.
138
139
pelos próprios pais, nos leva a refletir que, possivelmente, a principal motivação para tal
conduta, esteja relacionada com as dificuldades materiais dos pais para manter a prole,
motivo este, muito maior do que o desinteresse e desamor em relação aos filhos.
Social (LOAS), que prevê a implementação de mínimos sociais que protejam a família, a
social promovidos pelo Estado, não são compatíveis com o mínimo necessário para se ter
uma vida digna e que permita aos próprios pais assumirem sua prole.
Nesse sentido, lembra a pesquisadora Dalva Azevedo Gueiros como deve ser a
social, posto que o afastamento do convívio familiar, motivado pela carência material, além
128
GUEIROS, Dalva Azevedo. Adoção Consentida: do desenraizamento social da família à prática de adoção
aberta. São Paulo: Cortez, 2007. p. 169.
139
140
ações preventivas.
abrigadas em instituições.
adolescente, por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável, motivada por
ECA
Art. 129 São medidas aplicáveis aos pais ou responsável
I. [...]
II. inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio orientação e
tratamento a alcoólatras e toxicômanos.
Pelos dados da pesquisa, apenas 5,2% das crianças e adolescentes que estão nos
abrigos são órfãos e 7,0% tinham vivência na rua. Na conclusão, os pesquisadores afirmam
140
141
Deste ponto em diante, não resta nenhuma dúvida sobre a importância do trabalho
do abrigo para a preservação dos vínculos familiares. Essa idéia não parece ser fácil, aliás,
Aquele pai ou mãe agressor, adicto, pobre, inculto, que aparentemente nada fez, ou tudo
fez, para que seu filho esteja abrigado, tem direito ao respeito e ao incentivo a uma
mudança de vida.
Do lado dos pais, os sentimentos pela perda do filho, motivados por um estado de
ECA
Art. 92 As entidades que desenvolvam programas de abrigo deverão adotar os
seguintes princípios:
129
OLIVEIRA, op. cit., 2007, p. 119.
141
142
Este trabalho não é atribuição exclusiva dos abrigos e envolve a todas as pessoas
que mantêm contato com a criança ou adolescente, inclusive os técnicos das Varas da
Infância e Juventude, por isso precisa ser planejado. O trabalho de preparação da criança e
do adolescente para sua inserção em uma família substituta tem que ser feito anteriormente
citados.130
condicionar seu futuro e sua infância já tão comprometidos. Não basta apenas encontrar os
pais adotivos e colocar a criança junto aos mesmos, é fundamental a preparação desta antes
da Adoção. Desde o momento em que a criança se abre para esta possibilidade, se abre
também para a questão de suas origens. [...] A maior parte das crianças em condição de ser
adotada não é órfã, passou por contínuas circunstâncias, nas quais a dor nunca esteve
O desejo de ter uma família não pode se transformar em um sofrimento por não
conseguir esta família. A criança ou adolescente hão de estar preparados para serem
130
MORAES, op. cit., p. 31.
131
ABRAMOVICI, op. cit., p. 248.
142
143
colocados em uma família substituta, porém, não ansiosos e, muito menos, dependentes
em famílias substitutas começam a exprimir seu desejo de não ser adotado, rejeitando
qualquer forma de aproximação com possíveis interessados, desistindo das poucas chances
adolescentes na comunidade, uma vez que, participando ativamente das atividades sociais,
o abrigado sente-se como uma pessoa digna, querida, sendo aceita, apesar de ainda não ter
sido adotado.
132
MORAES, op.cit.
133
Ibid.
143
144
5.1.2 Fiscalização
contas enviadas aos órgãos públicos e privados responsáveis pelos convênios e todos os
serviços prestados.
medidas aplicáveis, além das ações de responsabilidade civil e criminal de seus dirigentes
144
145
direitos das crianças e adolescentes assegurados pela lei, deverá o fato ser comunicado ao
Para caracterizar o perfil das crianças abrigadas utilizamos três fontes confiáveis:
• Idade
Das crianças que estão abrigadas, 4% estão na faixa etária entre 0 e 3 anos de
idade; 18% na faixa entre 3 e 6 anos; 42 % na faixa de 7 a 10 anos; 32% na faixa entre 11 e
134
ASSOCIAZIONE AMICI DEI BAMBINI (Ai.Bi). Principais características das crianças e adolescentes
abrigados no Brasil. Disponível em:<http://www.aibi.org.br/bororecriancas.html>. Acesso em: 28 abr. 2008.
145
146
que as 20.000 crianças abrigadas no Brasil, em 2003, apresentavam a seguinte faixa etária:
registrar que, apesar da medida de abrigo se aplicar apenas à população menor de 18 anos,
• Sexo
Na pesquisa realizada pela Ai.Bi. do Brasil, há uma divisão de 50% para cada
totalizando 61% dos casos. A autora levanta a hipótese de que o percentual elevado de
sudeste, para o ano 2000. Conforme os indicadores sociais do IBGE, no período de 2000 a
meninos e 4.989.691 para as meninas. Isto é, refletindo nos abrigos a realidade social
ampliada.
135
SILVA, op. cit., 2003, p. 48.
136
SILVEIRA, Ana Maria. Adoção de Crianças Negras: inclusão ou exclusão? São Paulo: Veras, 2005. p.
103-104.
146
147
• Cor da pele
esclarece que na adoção há certa preferência por crianças brancas, e que. atualmente, no
quadro das instituições que abrigam crianças abandonadas na cidade de São Paulo, o perfil
étnico que se mostra visível tem a predominância de negros abrigados (68%), não obstante
Sudeste do país é composta por 64% de indivíduos brancos e 6,75 de negros e 28,4% de
pardos. Aliado às condições de pobreza, a que muitas famílias negras estão submetidas, não
se pode negar que esse segmento continua sendo preterido no processo de adoção.
Em relação à cor da pele, o IPEA informa na mesma página que entre as crianças e
adolescentes abrigados, no período da pesquisa, 63% são da raça negra, sendo 21% negros
e 42% pardos; 35% são brancos e cerca de 2% são das raças amarela e indígenas.
• Permanência no abrigo
Segundo a Ai.Bi. do Brasil, das crianças que estão abrigadas, 25% estão ali pelo
período de 0 a 6 meses de permanência; 18% estão abrigados entre 7 meses e um ano; 18%
137
SILVA, op. cit., 2003. p. 50.
147
148
estão abrigados entre 1 ano e um mês e 2 anos; 7% estão abrigados entre 2 anos e um mês e
3 anos; 21% estão abrigados entre 3 anos e um mês e 4 anos e 11% estão abrigados há mais
de 4 anos.
Segundo a Ai.Bi. do Brasil a grande maioria dos abrigados, cerca de 68% das
crianças e adolescentes, possui irmãos também abrigados, enquanto que 32% não possuem
irmãos. Este dado expressa o grau de dificuldade que os órgãos têm para a colocação de
Mesmo que isso represente uma grande dificuldade, a lei assim define e, portanto,
deve ser consenso entre os que trabalham na área, que devem dar prioridade à perpetuação
dos laços familiares e buscar colocar o grupo de irmãos em uma mesma família substituta.
adolescente abrigado
Adolescentes da Rede SAC realizado pelo IPEA, nos revelam que o atendimento
número de abrigados, tem revelado os custos pessoais que tal situação acarreta: carência
se vivenciados por longos períodos, representam não apenas uma violação de direitos, mas
148
149
deixam marcas irreversíveis na vida dessas crianças e desses adolescentes que, com
reconhece o espaço institucional como sendo o seu lar. O caráter provisório que é atribuído
ao abrigo, como uma garantia de direitos para a criança e o adolescente, tem contornos
penosos para a formação do abrigado. Provisório até quando? É a pergunta diária que se
faz.
Crianças e adolescentes (não parentes), que viveram juntos nos abrigos, sofrem
com a perda dos laços afetivos com os internos que retornam ao convívio familiar ou foram
inseridos em famílias substitutas, e não são incentivados (pelo abrigo) a voltar para uma
visita aos amigos que ficaram e, assim, dar continuidade a uma amizade sincera. Este é
138
SILVA, op. cit., 2005, p. 190.
149
150
perdas profundas.
intimidade nem a cumplicidade próprias do meio familiar, acarretando, não raro, prejuízos
criança está sempre na condição de assistida, privada dos direitos concretos e da real
inserção numa família, pois o processo de criação e educação dos filhos deve ser permeado
Como vimos no item 5.2, uma das principais características das crianças ou
adolescentes que vivem em abrigos, que chama mais atenção, é a daqueles com idade
tem sido alvo de estudos e representa uma das múltiplas preocupações sobre o tema
adoção, pois, pelas pesquisas realizadas pelo CEJAI-SP, constata-se o grande número de
139
MORAES, op. cit., p. 30.
150
151
interessados brasileiros nas crianças recém-nascidas ou com idade inferior a dois anos, e o
A adoção de uma criança maior de dois anos de idade é denominada como adoção
tardia, em decorrência da idade da criança, ou seja, que é adotada tarde demais. Pois, há
entendimento de que, quanto mais nova a criança, mais fácil é para os adotantes, pois é
sendo aquela em que crianças com mais de dois anos de idade são escolhidas por pessoas
interessadas em adotá-las, justamente por terem esta idade e não porque foram a última
criança que sobrou para ser adotada, ou ainda, aquela criança que ninguém mais quer.
A idade acima de dois anos não é o único definidor desta modalidade. As crianças
consideradas “velhas” para adoção ou foram abandonadas tardiamente pelas mães, que por
ou foram retiradas dos pais pelo poder judiciário, que os julgou incapazes de mantê-las em
seu pátrio poder, ou, ainda, foram ‘esquecidas’ pelo Estado desde muito pequenas em
A adoção tardia é uma opção dos adotantes e dos adotados. Não vemos entre os
adotantes que se dispõem a adotar uma criança maior conflitos pessoais, quando eles
140
Apud CAMARGO, op. cit., 2006, p. 89.
151
152
Marlizete Maldonado Vargas esclarece que a criança terá mais dificuldade para
reconstruir novos vínculos significativos com os pais adotivos se lhe foi possível
processo de regressão, que varia de uma criança para outra, e pode incluir fantasias de
voltar à barriga da mãe e de ser parecida fisicamente com os pais adotivos, o que sinaliza
É muito comum uma criança, especialmente se vive em lar social e vem adaptada
ao mesmo, quando colocada na situação de ser adotada, negar-se inicialmente a aceitar essa
possibilidade. Se estiver num local onde é bem cuidada, não vê porque deverá deixá-lo. Ela
não reconhece nada acerca da nova família e traz consigo a dolorosa história de sua vida de
origem, aquela que a abandonou de fato. É compreensível que por analogia, todos os pais
Com relação aos adotantes, é necessário que se verifique como lidam com
141
MORAES, op. cit., p. 22-23.
142
ABRAMOVICI, op. cit., p. 249.
152
153
É papel dos profissionais que acompanham cada caso, fazer uma preparação para
preparar a criança para uma abertura em relação a uma possível adoção, antes do primeiro
Para Abramovici, a adoção tardia não é uma questão meramente cronológica, mas
sim de elaboração das perdas sofridas pela criança. Podemos ter uma criança de pouca
idade, mas que, devido a seu processo histórico de vida não esteja preparada para uma
sendo que, em contrapartida, podemos ter uma criança de mais idade que já tenha elaborado
Estando pais adotivos e criança adotada preparados, não restam dúvidas quanto à
integração entre eles, e o acompanhamento posterior é apenas uma forma de permitir aos
dois lados refletirem eventuais dificuldades, que gradativamente vão sendo superadas.
Ainda que seja mais comum o desejo por crianças de 0 a 1 ano, são freqüentes os
casos bem sucedidos de adoção de crianças mais velhas, e até considerados por alguns
143
MORAES, op.cit., p. 23.
144
ABRAMOVICI, op. cit., p. 253.
153
154
criança a ser adotada acompanham. As restrições quanto à cor da pele, tipo de cabelo, cor
sentimentos preconceituosos em relação à idade e cor. Para eles a adoção inter-racial é uma
das expressões desta flexibilização, pois, além da indiferença em relação à cor da pele, não
[...] como conseqüência da rejeição das crianças negras por casais brasileiros, há
um grande número delas adotadas por estrangeiros. Este fato é preocupante, uma
vez que a adoção internacional perpassa por um fenômeno muito mais profundo
que a simples mudança da realidade sócio-econômica e cultural da criança
adotada. Trata-se de uma polêmica mistura de valores e formas de perceber a
vida, distintos em cada povo e em cada continente. 146
145
PADUA, Isabel Cristina Stabille Moreira Pimenta de. Adoção de Crianças Maiores. Caderno dos Grupos
de Estudos Serviço Social e Psicologia Judiciários. São Paulo: SRH-TJSP. n. 2. 2006, Digitado. p. 83.
146
ABRAMOVICI, op. cit., p. 247.
154
155
inclusive, onde apesar das evidências há uma tendência a negá-lo, embora as conseqüências
diferente daquela que ocorre com outros cidadãos do mesmo grupo racial nos demais
realidade, o destino de pobres, abandonados e negros, mesmo incluídos pela lei, tem se
concretizado com base nos padrões dominantes de uma sociedade pautada na ideologia
outras áreas. Um interessado em adoção carrega consigo seus mitos, medos e preconceitos,
que influenciam na hora de decidir sobre as características da criança que deseja adotar.
dizem não ser preconceituosas, mas preferem crianças brancas, no máximo, próximas da
Do ponto de vista dos técnicos que avaliam os interessados em adotar, não cabem
críticas ou rejeições sobre o tema, pois fantasias em relação às características do filho que
147
SILVEIRA, op. cit., p. 18.
155
156
irão adotar devem ser respeitadas, mas, admite-se um questionamento sobre os motivos das
em relação ao futuro que envolvem, por exemplo, o medo de que a criança negra ao ser
adotada seja rejeitada no seio da família ampliada (avós, tios, primos etc.), ou rejeitada no
meio social, geralmente formado por pessoas brancas, em que viverá. Os adotantes
declaram que não suportariam ver o filho adotado sofrer discriminação, não percebendo
convivência íntima com descendentes da raça negra; que os interessados denotam postura
de medo frente à adoção de uma criança negra, por desconhecerem como lidar com as
adoção devem ser inseridos em famílias que tenham características raciais semelhantes.
Essa tese prevalece apenas para inserção em famílias residentes em território nacional.
148
ABRAMOVICI, op. cit., p. 245.
156
157
Vale enfatizar que aos técnicos compete avaliar se a família que pretende adotar
uma criança de etnia diversa está, de fato, estruturada para valorizar tanto suas
características físicas quanto sua cultura de origem, para que possa lhe garantir um
amada.150
adoção se recusarem a adotar uma criança portadora de necessidades especiais, por sua falta
os pretendentes à adoção não sabem como lidar com a situação e temem não conseguir
cuidar da criança.
149
SILVEIRA, op. cit., p. 118.
150
MORAES, op. cit., p. 18.
157
158
filho. Tendo passado por todo o processo de adoção, a perda do filho representaria uma
Crianças com algum problema de saúde mais grave – transtorno mental ou vírus
HIV – são de difícil inserção em família adotiva. Das famílias inscritas para
adoção que compuseram o universo estudado, 96,4% informaram que não
aceitariam crianças em situações especiais de saúde. Apenas 1,4% desses
pretendentes informaram que adotariam crianças com deficiência física. [...] No
processo de colocação parece que não basta só a criança ser de origem branca ou
ter caracteres raciais que correspondam às expectativas dos adotantes. É
necessário estar em perfeitas condições de saúde e não ser portadora de nenhum
componente hereditário ou genético que possa remontar às suas raízes ou que
comprometa a pureza e a superioridade da raça do adotante.151
inscritos, 43,70% só aceitam crianças com problemas físicos tratáveis leves e 42,48%
crianças com HIV+ ou com problemas físicos não tratáveis não ultrapassa os 7,0% dos
inscritos. Em relação à saúde mental dos adotados constatou-se que 12,68% dos inscritos
aceitariam crianças com problemas mentais tratáveis leves e 51,77% aceitariam crianças
com problemas psicológicos leves. Somente 1,36% dos inscritos aceitariam crianças com
problemas mentais não tratáveis e 6,79% aceitariam crianças com problemas psicológicos
graves.
151
SILVEIRA, op. cit., p. 111.
158
159
têm sido mais importantes na escolha das crianças que serão adotadas do que qualquer
criança que desejavam adotar, responde que gostaria de adotar uma criança que
correspondesse à fantasia de ser parecido com eles, de preferência da mesma cor e que,
quanto menor em idade, melhor. O desejo é de ter o próprio filho, só que sem a
Diante desse quadro, ainda se questiona por que há filas de pretendentes à adoção,
onde pessoas estão aguardando há alguns anos a oportunidade de adotar e não conseguem,
Mas, no final deste estudo, concluímos que a adoção, para os pretendentes, é uma
idealização da paternidade, onde a criança deve atender as suas exigências mais íntimas, e,
ainda, que algumas ações do Judiciário, como a busca por conciliar os interesses dos
159
160
CONCLUSÃO
de São Paulo, Unidade de Lorena, na linha de pesquisa Direito, Ética e Cidadania foi um
Na primeira parte, fez-se uma viagem pela história do direito de família, buscando
através de uma pesquisa bibliográfica (livros, revistas, sites etc.) esclarecer como a adoção
160
161
indisponíveis.
Na quarta parte, o estudo sobre quem pode e quem não pode adotar, as restrições
possibilita conhecer quem são estas pessoas, seus reais interesses e motivações, e, assim,
Nacional da Adoção que entrou em vigor no dia de sua publicação no Diário Oficial.
161
162
Pesquisa Econômica Aplicada (2003) que aponta que, na prática, os abrigos ainda não
cumprem totalmente o que deveriam, porém estão no caminho para chegar lá.
crianças o direito à convivência familiar e comunitária, direito este assegurado por lei, e,
por que crianças e adolescentes são esquecidas nos abrigos e ali permanecem por longos
períodos.
fiscalização sistemática.
evidência de que, se os procedimentos para adoção não forem bem executados, resultará na
perpetuação do abrigo, como única e última saída para os que ali vivem.
As pesquisas apresentadas nos mostram que uma criança mais velha, de etnia
diferente, com limitações em sua saúde física e/ou mental é indesejável aos pretendentes
162
163
à adoção e também para toda a sociedade, que, mesmo diante dos fatos, vive o mito da não
Após este estudo, constata-se que a adoção, em primeiro lugar, é uma opção. Opta-
se por ter um filho, mesmo que este não saia de nossas entranhas. Decide-se no âmbito
familiar sobre quem adotar, quando adotar e por que adotar. Por isso, não se admite engano.
possibilidades.
Fizemos todo esse percurso para, finalmente, concluir que a adoção é a forma mais
família adotante encontrará o prazer de dizer, por exemplo: “aquele menino negro ali, é
meu filho”... ou “aquela menina com síndrome de down, é minha filha” ... sem medo e
preconceito.
163
164
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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168
169
ANEXO A
CAPÍTULO I
Art. 1º Para os efeitos desta Lei, a adoção é a inclusão de uma pessoa em uma família
distinta da sua natural, de forma irrevogável, gerando vínculos de filiação, com os mesmos
direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-a de quaisquer laços com pais e
parentes biológicos, salvo os impedimentos matrimoniais, mediante decisão judicial
irrecorrível.
§ 1º A adoção somente será concedida quando representar real vantagem para o adotando,
fundar-se em motivos legítimos e quando os adotantes comprovarem ambiente familiar
adequado e não revelarem qualquer incompatibilidade com a natureza da medida.
§ 4º O adotado terá direito à revelação de sua condição de filho adotivo, com acesso a toda
a documentação disponível a respeito de sua família natural, podendo, para tanto, contar
com a orientação especializada da equipe técnica do Juizado da Infância e da Juventude, ou
de organismo credenciado previsto no art. 58 desta Lei.
Art. 2º O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial que será inscrita no registro
civil mediante mandado do qual não se fornecerá certidão.
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§ 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes como pais, bem como o dos seus
ascendentes.
§ 3º Nenhuma observação sobre a natureza do ato poderá constar nas certidões de registro.
CAPÍTULO II
Art. 3º Qualquer pessoa maior de 18 anos pode adotar, independente do estado civil, sexo,
cor, origem ou credo religioso, obedecidos aos requisitos específicos desta Lei.
§ 2º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais velho que o adotado,
dispensado o limite para um dos cônjuges ou companheiros na hipótese de adoção em
conjunto.
170
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segundo grau, compareçam ante a Autoridade Judiciária mais próxima, dentro em 10 (dez)
dias do passamento, pedindo que se lhes tome por termo as seguintes declarações:
III que em sua presença, o adotante, livre e espontaneamente, declarou a sua vontade de ter
o adotando como filho;
Art. 5º Enquanto não der contas de sua administração e não saldar eventual débito, desde
que este seja proveniente de ato não doloso, não poderá o tutor ou o curador adotar o pupilo
ou curatelado.
Art. 6º Podem ser adotadas crianças, adolescentes e adultos, obedecidos aos requisitos
específicos desta Lei, sendo vedada a adoção por procuração.
§ 1º É defeso a adoção de nascituro, ainda que haja documento público firmado pela mãe e
pelo suposto pai anuindo com tal pretensão.
§ 2º Sempre que possível, o adotando será ouvido em audiência e sua opinião devidamente
considerada.
§ 3º Tratando-se de adotando maior de doze anos, sua oitiva é obrigatória, somente não
sendo respeitada eventual opinião sua em contrário se comprovadamente seus argumentos
negativos forem danosos aos seus interesses futuros.
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172
CAPÍTULO III
§ 6º Em cada Estado será obrigatória a consulta ao banco de dados estadual, quando não
existir candidato domiciliado na comarca interessado na adoção da criança ou adolescente,
172
173
CAPÍTULO IV
Art. 8º Somente poderá ser deferida adoção em favor de candidato domiciliado no Brasil
não inscrito no cadastro a que alude o art. 7º desta Lei quando se tratar de pedido de adoção
unilateral, ou formulada por parente próximo, ou com adesão expressa dos genitores, ou
quando se tratar de guarda fática, em que o lapso de tempo de convivência comprove a
fixação de laços de afinidade e afetividade.
CAPÍTULO V
DO ESTÁGIO DE CONVIVÊNCIA
173
174
CAPÍTULO VI
DA ADOÇÃO INTERNACIONAL
Art. 10. Para os fins e efeitos desta Lei, considera-se internacional a adoção sempre que
ocorrerem as circunstâncias previstas no artigo 2o da Convenção de 29 de maio de 1993,
relativa à proteção de crianças e sobre a cooperação em matéria de adoção internacional,
aprovada pelo Decreto Legislativo n.º 1, de 14 de janeiro de 1999 e promulgada pelo
Decreto n.º 3.087, de 21 de junho de 1999.
§ 1º Será permitida a adoção internacional para pretendentes oriundos de países que ainda
não ratificaram a Convenção mencionada no caput deste artigo, desde que não haja
candidato interessado domiciliado no Brasil ou em outro país que tenha ratificado o aludido
instrumento multilateral, que haja acordo de reciprocidade celebrado com o país de origem
do adotante e que sejam cumpridos os demais requisitos estabelecidos nesta Lei.
Art. 11. A colocação de criança brasileira ou que aqui seja domiciliada, em família
substituta que resida em outro país, somente poderá ser feita na modalidade de adoção.
§ 2o Não se aplica a regra contida no "caput" deste artigo à hipótese de tutela, que for
decorrência do exercício do Poder Familiar, prevista no artigo 1729 do Código Civil
Brasileiro, ou decorrente da aplicação do artigo 1731 daquele mesmo Código.
Art. 12. A adoção internacional em hipótese alguma poderá ser feita sem que os adotantes
sejam ouvidos pela Autoridade Judiciária brasileira e aqui cumpram o Estágio de
Convivência que for determinado.
174
175
Art. 13. A Autoridade Judiciária somente poderá dar início ao processo de adoção
internacional de criança ou adolescente brasileiro ou aqui domiciliado, após ter:
c) obtido, se for o caso, o consentimento dos titulares do Poder Familiar e estar certo de
que eles foram devidamente orientados e informados das conseqüências de tal manifestação
de vontade, em especial de que a adoção extinguirá o poder que têm sobre o filho, na forma
do que dispõe o artigo 1635, inciso IV, do Código Civil Brasileiro;
f) verificado que os requisitos necessários, tanto à luz do que dispõe esta Lei, como da
legislação do país de acolhimento estão preenchidos.
Parágrafo único. O consentimento previsto no item "c" somente terá valor se for dado após
o nascimento da criança.
Art. 14. Quando o Brasil for o país de acolhimento, antes do início do processo de adoção
no país de origem, ou da vinda da criança ou adolescente, se a adoção tiver que ser
processada aqui:
a) Autoridade Judiciária verificará se os futuros pais adotivos são adequados, estão aptos e
foram devidamente orientados a respeito da adoção, encaminhando cópia do processo de
habilitação à Autoridade Central Estadual, devidamente sentenciado, para expedição de
Certificado de Conformidade;
Seção I
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III cooperar com as Autoridades Centrais dos Estados que aderiram à Convenção e
promover ações de cooperação técnica e colaboração entre as Autoridades Centrais dos
Estados Federados brasileiros e do Distrito Federal, a fim de assegurar a proteção das
crianças e adolescentes e visando a alcançar os demais objetivos daquele Tratado
Internacional;
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c) os nomes das crianças e dos adolescentes disponíveis para adoção por candidatos
estrangeiros;
VII fornecer ao Ministério das Relações Exteriores os dados a respeito das crianças e dos
adolescentes adotados, contidos no banco de dados mencionado no inciso anterior, para que
os envie às Repartições Consulares brasileiras incumbidas de efetuar a matrícula dos
brasileiros residentes no exterior, independentemente do fato da recepção automática da
sentença do Juiz Nacional e da assunção da nacionalidade do Estado de acolhida;
VIII tomar, em conjunto com as Autoridades Centrais dos Estados Federados e do Distrito
Federal, diretamente ou com a colaboração de outras Autoridades Públicas, todas as
medidas apropriadas para prevenir benefícios materiais induzidos por ocasião de uma
adoção e para impedir quaisquer práticas contrárias aos objetivos da Convenção
mencionada neste Decreto.
§ 2º Para os fins do inciso V deste artigo, fica estabelecido o prazo de sessenta dias para
que os Organismos Internacionais que atuam na cooperação em adoção internacional
cumpram as exigências oficiadas, sob pena de indeferimento, a contar da comunicação
oficial da Autoridade Central Administrativa Federal por meio de aviso de recebimento.
Art. 17. Serão Autoridades Centrais no âmbito dos Estados Federados e do Distrito Federal
as Comissões Estaduais Judiciárias de Adoção, instituídas nos respectivos Poderes
Judiciários, ou os órgãos análogos com distinta nomenclatura, aos quais compete exercer as
atribuições operacionais e procedimentais previstas nesta Lei e na Convenção já
mencionada, que não se incluam naquelas de natureza administrativa a cargo da Autoridade
Central Administrativa Federal.
177
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Art. 18. Compete exclusivamente às Autoridades Centrais Estaduais, quando o Brasil for
país de acolhimento, considerando o que tiver sido decidido pela Autoridade Judiciária na
forma do artigo 5o, manter contato com as Autoridades Centrais dos países de origem, para
manifestar o de acordo com o processamento da adoção, na forma estabelecida na letra "c",
do artigo 17 da Convenção.
b) verificar se houve, quando for o caso, regular consentimento dos titulares do Poder
Familiar, ou se sentença de destituição de tal poder transitou em julgado, após regular
processo, comunicando que a criança ou adolescente é adotável;
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§ 1º Para os fins da letra "a" deste artigo a Autoridade Judiciária encaminhará à Autoridade
Central Estadual relatório a respeito da criança e do adolescente, em que deverão constar os
dados necessários à informação, no prazo de cinco dias após o trânsito em julgado da
sentença que decretou a perda do Poder Familiar.
CAPÍTULO VII
§ 1º Se o pai ou a mãe abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles inerentes ou
arruinando os bens dos filhos, poderão ter o Poder Familiar suspenso em procedimento
regular.
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CAPÍTULO VIII
DA ADOÇÃO DE ADULTOS
Art. 22. A adoção de maiores de dezoito anos dependerá, igualmente, da assistência efetiva
do Poder Público e de sentença constitutiva.
Art. 23. Aplicar-se-ão, no que couber, às adoções de maiores de dezoito anos as regras da
adoção para crianças e adolescentes previstas nesta legislação.
Art. 24. As adoções de maiores de dezoito anos serão processadas nas Varas com
competência para os feitos de família, na forma que dispuser a Organização Judiciária do
respectivo Estado da Federação.
CAPÍTULO IX
DOS PROCEDIMENTOS
Art. 25. Aos procedimentos regulados neste Capítulo aplicam-se as regras de competência
estabelecidas nos arts. 147, I e II e 148, III, da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990.
Art. 26. Se a medida judicial a ser adotada não corresponder a procedimento previsto nesta
ou em outra Lei, a Autoridade Judiciária poderá investigar os fatos e ordenar de ofício as
providências necessárias, ouvido o Ministério Público.
Art. 27. Não é obrigatória a participação de advogado nos procedimentos afetos a esta Lei,
quando não houver pretensão resistida.
Seção I
Art. 28. O procedimento para a perda ou suspensão do Poder Familiar terá início por
provocação do Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse.
Parágrafo único. À falta de iniciativa dos legitimados, a Autoridade Judiciária dará curador
especial à criança ou adolescente, para promover a competente ação em 30 (trinta) dias,
recaindo a nomeação, preferencialmente, na pessoa detentora da guarda.
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Art. 30. Havendo motivo grave, poderá a Autoridade Judiciária, ouvido o Ministério
Público, decretar a suspensão do Poder Familiar, liminar ou incidentalmente, até o
julgamento definitivo da causa, ficando a criança ou adolescente confiado a pessoa idônea,
mediante termo de responsabilidade, ou, à falta desta, colocado provisoriamente em
instituição de Abrigo.
Art. 31. O requerido será citado para, no prazo de dez dias, oferecer resposta escrita,
indicando as provas a serem produzidas e oferecendo, desde logo, o rol de testemunhas e
documentos.
Parágrafo único. Deverão ser esgotados todos os meios para a citação pessoal.
Art. 32. Se o requerido não tiver possibilidade de constituir advogado, sem prejuízo do
próprio sustento e de sua família, poderá requerer, em cartório, que lhe seja nomeado
dativo, ao qual incumbirá a apresentação de resposta, contando-se o prazo a partir da
intimação do despacho de nomeação.
Art. 34. Não sendo contestado o pedido, a Autoridade Judiciária dará vistas dos autos ao
Ministério Público, por cinco dias, salvo quando este for o requerente, decidindo em igual
prazo.
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Art. 35. Apresentada a resposta, a Autoridade Judiciária dará vistas dos autos ao Ministério
Público, por cinco dias, salvo quando este for o requerente, designando, desde logo,
audiência de instrução e julgamento.
Art. 36. A sentença que decretar a perda ou a suspensão do Poder Familiar será averbada à
margem do registro de nascimento da criança ou adolescente.
Art. 37. Às ações para decretação da perda ou suspensão do Poder Familiar aplicam-se as
regras de competência estabelecidas no parágrafo único do artigo n.º 148 da Lei n.º
8.069/90.
Art. 38. O Ministério Público terá o prazo máximo de trinta dias para ajuizar a ação de
decretação da perda do Poder Familiar, contados da data em que o fato supostamente
ensejador de sua decretação tenha chegado ao seu conhecimento e a ação deverá ser
decidida em primeiro grau no máximo em cento e vinte dias, contados da distribuição do
feito, incorrendo os responsáveis pelo eventual descumprimento dos prazos nas penalidades
estabelecidas nas respectivas Leis Orgânicas.
Seção II
Art. 39. O pretendente à adoção domiciliado no Brasil apresentará petição inicial na qual
conste sua qualificação completa, dados familiares e o perfil da criança ou do adolescente
que pretende adotar, acompanhada de cópias autenticadas de Certidão de nascimento ou
casamento, Registro Geral, CPF, comprovante de renda e domicílio, atestados de sanidade
física e mental, declarações de idoneidade moral, Certidão de antecedentes criminais, além
de documento comprobatório de sua participação na preparação pedagógica e emocional a
que alude o § 2º do art. 7º desta Lei.
182
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Seção III
Art. 40. Concluído o cadastramento da criança ou adolescente nos termos do §4ºdo art. 7º
desta Lei, será providenciada a convocação do pretendente à adoção inscrito no cadastro
local, segundo os critérios de prioridade estabelecidos, o qual apresentará seu pedido por
dependência ao processo no qual o adotando foi declarado como adotável. A Autoridade
Judiciária autorizará a entrega do adotando ao adotante, mediante termo de guarda
provisória, fixando prazo de Estágio de Convivência.
§ 2º Serão abertas vistas dos autos ao Ministério Público, que emitirá parecer final ou
requererá realização de audiência.
Seção IV
Art. 41. Somente serão admitidos pedidos de adoção com dispensa de prévio
cadastramento quando o requerente, além dos requisitos previstos nos incisos I a IV do
artigo nº 29 desta Lei, comprovar na petição inicial que se inclui em uma das hipóteses do
artigo 8º, também desta Lei.
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§ 1º Nos casos de adoção unilateral, de parente próximo ou com adesão expressa, será
obrigatória a realização de audiência, na presença da Autoridade Judiciária e do Promotor
de Justiça, para oitiva dos genitores, salvo se falecidos, decaídos do Poder Familiar,
desconhecidos ou declarados judicialmente ausentes, ocasião em que deverão ser
advertidos da irrevogabilidade da medida. Se os genitores forem menores de dezoito anos,
ainda que assistidos ou representados pelos pais, a Autoridade Judiciária lhes dará curador
especial, consignando no termo que a concordância se dá em relação à adoção e não
exclusivamente para aquele pedido que está sendo processado.
§ 2º Nos casos de adoção de criança ou adolescente que se encontre sob a guarda de fato
do adotante por lapso de tempo que permita confirmar a formação de vínculos de afinidade
e afetividade, será obrigatória a formação do contraditório, aplicando-se, no que couber, as
regras do artigo subsequente.
Seção V
Art. 42. A ação de adoção cumulada com Decretação de Perda do Poder Familiar somente
poderá ser intentada pela parte que comprove o legítimo interesse, que seja domiciliada no
Brasil e que detenha a posse de fato ou guarda judicial do adotando, demonstrando que a
família natural infringiu uma ou mais das hipóteses previstas nos incisos I a IV, do art. 21,
desta Lei.
Art. 43. Aplicam-se aos pedidos de adoção cumulada com Decretação da Perda do Poder
Familiar as regras de procedimento previstas nos artigos 27 a 38 desta Lei.
Seção VI
Adoção Internacional
Art. 44. A adoção internacional deve observar, sob pena de nulidade, rigorosamente o
procedimento previsto nesta Seção.
Art. 45. A Autoridade Judiciária somente poderá dar início ao processo de adoção
internacional, autorizando que o adotante tenha contato com a criança ou adolescente
depois das providências administrativas previstas nos artigos 13 e 19 desta Lei, em especial
a observação do prazo de validade do Certificado de Habilitação a que alude a letra "e" do
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Art. 46. Observar-se-á, no mais, no que tange ao procedimento, o que dispuser esta Lei
para as adoções nacionais.
Art. 48. O processo de adoção, assim como todo o histórico de vida do adotado e outros
dados que digam respeito ao mesmo, deverão ficar arquivados, por prazo não inferior a 50
anos, mesmo que tenham sido repassados à Autoridade Central do país de acolhimento.
Art. 49. Nas adoções internacionais, quando o Brasil for o país de acolhimento e o país de
origem tiver aderido à Convenção relativa à proteção de crianças e sobre a cooperação em
matéria de adoção internacional, a decisão da autoridade competente daquele Estado será
conhecida pela Autoridade Judiciária brasileira que tiver processado a habilitação dos pais
adotivos e somente após tal providência é que serão encaminhados os documentos
necessários à Autoridade Central Administrativa Federal, através da Autoridade Central
Estadual, para as providências necessárias à expedição do Certificado de Naturalização
Provisório.
Art. 50. Nas adoções internacionais, quando o Brasil for o país de acolhimento e a adoção
não tenha sido deferida no país de origem, porque a sua legislação a delega ao país de
acolhimento, ou, ainda, na hipótese de mesmo com decisão, a criança ou adolescente for
oriundo de Estado que não tenha aderido à Convenção referida, deverá ser instaurado
processo de adoção, que seguirá as regras da adoção nacional.
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Parágrafo único. Nas hipóteses previstas neste artigo, a Autoridade Judiciária, na sentença,
deverá determinar a expedição de ofício, para as providências necessárias à obtenção de
naturalização provisória.
CAPÍTULO X
DOS RECURSOS
Art. 51. A sentença que deferir adoção produz efeito desde logo, embora sujeita à
apelação, que será recebida exclusivamente no efeito devolutivo.
Art. 52. A sentença que destituir ambos ou qualquer dos genitores do Poder Familiar, fica
sujeita a apelação, que deverá ser recebida apenas no efeito devolutivo.
Art. 53. Os agravos e demais recursos devem observar o que dispuser a respeito o Código
de Processo Civil.
Art. 55. O relator deverá colocar o processo em mesa para julgamento no prazo máximo de
60 dias, contados da conclusão.
Art. 58. Aplicam-se às adoções, no mais, o que dispõe o artigo 198, incisos VII e VIII, do
Estatuto da Criança e do Adolescente.
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CAPÍTULO XI
Art. 59. A União, os Estados e os Municípios definirão em suas Leis Orçamentárias anuais
e plurianuais um percentual mínimo de suas receitas destinados aos respectivos Fundos
Nacional, Estaduais e Municipais de Direitos da Criança e do Adolescente, sendo
obrigatória a alocação de recursos a programas direcionados ao apoio e ao fortalecimento
da convivência familiar e comunitária.
Art. 60. Os Estados poderão, por intermédio da Autoridade Central em matéria de adoção
da respectiva unidade da federação, credenciar e firmar convênios com Organizações
Sociais e Organizações da Sociedade Civil Sem Fins Lucrativos, ou Organizações de
Sociedade Civil de Interesse Público, definidas pela Lei nº 9.790, de 23 de março de 1999,
que se dediquem e promovam ações voltadas à adoções e acompanhamentos pós-adotivos
de domiciliados no Brasil, para atuarem como parceiros na preparação pedagógica e
emocional de pretendentes à adoção.
Art. 61. A União e os Estados, através dos Poderes Executivo e Judiciário, promoverão
conjuntamente a permanente qualificação dos profissionais que atuam direta ou
indiretamente na promoção da adoção, com a participação da Autoridade Central
Administrativa Federal e das Autoridades Centrais das respectivas unidades da federação.
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Art. 64. Ficam acrescidos ao art.92 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, os seguintes
inciso e parágrafos:
§ 3º Para os demais programas de acolhimento, quando não executados por pessoa jurídica
e não havendo organismo credenciado para as finalidades de reintegração familiar e
localização dos familiares das crianças ou adolescentes acolhidos, essas funções ficarão ao
encargo da Vara da Infância e Juventude competente.
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§ 11. A proposta de projeto de vida deverá ser homologada pela Autoridade Judiciária,
após parecer de sua equipe técnica, podendo ser reavaliada periodicamente, conforme a
necessidade.
§ 13. A entidade de Abrigo, para atendimento dos prazos estabelecidos nesta Lei e
cumprimento dos princípios inerentes ao direitos fundamentais do abrigado:
§ 14. As entidades de Abrigo terão o prazo máximo de dois anos para adaptarem suas
instalações para a modalidade de unidade residencial, na forma prevista nesta Lei, a contar
da vigência desta.
§ 16. Os recursos destinados para os programas de abrigamento deverão ser previstos nas
dotações orçamentárias das Secretarias de Educação e Saúde e não poderão ser distribuídos
pelo critério per capita.
§ 17. Os dirigentes da entidade de Abrigo que não cumprirem as exigências desta Lei
deverão ser destituídos, mediante representação do Ministério Público ou Conselho Tutelar.
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Art. 65. Fica acrescido o inciso XII ao artigo 136 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990,
com a seguinte redação:
Art. 67. Fica instituído o "subsídio-adoção", nos termos desta Lei, tendo como beneficiário
o servidor público federal, civil ou militar, ativo ou inativo, que adotar judicialmente, a
partir da regulamentação desta Lei, criança ou adolescente órfão, filhos de pais
desconhecidos ou destituídos do Poder Familiar, egresso de instituição de Abrigo público
ou privado, ou em Família de Apoio, o qual será devido desde a concessão da guarda
provisória em processo de adoção .
Art. 68. O regulamento do imposto de renda assegurará aos contribuintes que adotarem, a
partir da vigência desta Lei, crianças com necessidades especiais, portadores de
enfermidade grave, física ou mental ou da síndrome da deficiência imunológica, ou mesmo
190
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grupo de irmãos, com três ou mais integrantes , ou em faixa etária superior aos 10 (dez)
anos, o direito à dedução em dobro aos valores estabelecidos por dependente.
Art. 69. O art. 392-A da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto- Lei nº
5.452, de 1º de maio de 1943, passa a vigorar acrescido do seguinte dispositivo, que será o
seu § 4º, passando o de atual nomenclatura a ser o § 5º:
Art. 70. Fica acrescido o parágrafo único ao art. 71-A da Lei nº 8.213, de 24 de julho de
1991, instituído pela Lei nº 10.421, de 15 de abril de 2002, com a seguinte redação:
"Art. 71-A..."
Art. 73. O não cumprimento quanto à instalação e operacionalização dos cadastros nos
moldes previstos no artigo 7º desta Lei acarretará penas disciplinares pelos seus Agentes
Judiciários responsáveis , previstas no artigo 42 da Lei Complementar nº35/79 e multa
pecuniária, aplicada à pessoa jurídica, mínima de cem salários mínimos e máxima de mil
salários mínimos por comarca.
Parágrafo único. Incorrem nas mesmas sanções os agentes ou pessoa jurídica responsável
pela omissão na implantação do Banco de Dados Nacional de adotantes e adotáveis.
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Art. 75. Ficam revogados os artigos 39 a 52 e 155 a 163 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de
1990; o inciso III do artigo 10, os artigos 1618 a 1629, 1637 e 1638 da Lei nº 10.406, de 10
de janeiro de 2002- Código Civil e demais disposições em contrário.
Como se observa, a linha que norteou a elaboração desse Projeto de Lei não foi, jamais, o
confronto com o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n.º 8.069/90), mas, ao
contrário, o resgate dos seus princípios norteadores que, na área da adoção, foram
duramente golpeados com a entrada em vigor do Novo Código Civil.
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Esses e outros equívocos perpetrados pelo Novo Código Civil precisam ser corrigidos, sob
pena de todas as evoluções conseguidas com a vigência do ECA serem perdidas. Como
existem problemas conceituais de envergadura a serem enfrentados, pois, como é sabido, a
Lei de Introdução ao Código Civil estabelece que Lei posterior revoga Lei anterior, ainda
que tal não esteja previsto expressamente, mas quando legisla integralmente sobre a mesma
matéria, sem se falar que o Código Civil é Lei complementar, enquanto que o ECA é Lei
ordinária, sempre que não for possível uma interpretação harmônica entre as duas
legislações teriam que prevalecer os comandos emanados do Código Civil, mesmo que
muitas vezes contrários aos interesses das crianças. Fora disso, a outra alternativa, quando
cabível, seria a autoridade judiciária fazer a declaração incidente da inconstitucionalidade
da Lei nova, em um trabalho penoso, desgastante e de efeitos apenas inter- partes.
Por tudo isso, a verdadeira solução parece ser uma alteração legislativa de fôlego e não
simples remendos, resgatando-se tudo o que havia de bom no ECA, corrigindo-se algumas
imperfeições suas e, principalmente, tratando de inovações não alcançadas nem no Estatuto,
nem no Novo Código Civil como, por exemplo o cadastro de adoção.
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de dados estadual e outro nacional, estabelecendo prazos para a sua implantação e sanção
para os recalcitrantes; 6) restringe as hipóteses de dispensa de prévio cadastramento, fixa
regras claras para o Estágio de Convivência; 7) distingue regras para adoção de crianças e
adolescentes das aplicáveis aos adultos; 8) disciplina a adoção internacional, como manda a
Constituição Federal e a Convenção de Haia; 9) retoma os conceitos básicos da perda do
Poder Familiar que estavam contidos no Estatuto e foram prejudicados com o Novo Código
Civil; 10) regula os procedimentos das diversas ações respeitantes à adoção, à perda do
Poder Familiar, assim como disciplina um adequado sistema recursal; 11) prevê
obrigatoriedade de alocação de recursos públicos em favor de projetos direcionados para a
convivência familiar e comunitária, alem da permanente qualificação dos operadores do
sistema; 12) prevê a possibilidade de criação de Organismos credenciados para fomentar as
adoções nacionais; 13) impõe a existência de uma "Guia de Abrigamento", como fórmula
de minorar o excessivo número de institucionalizações desnecessárias que ocorrem em todo
o país; 14) obriga os Conselhos Tutelares a disporem de um cadastro das crianças e
adolescentes por eles abrigadas, punindo as pessoas físicas e jurídicas que não nortearem
suas ações segundo os princípios dessa Lei; 15) obriga a preservação de informes sobre os
abrigados em instituições por cinqüenta anos, legitimando os dirigentes dos Abrigos para
proporem ações de decretação da perda do Poder Familiar, nos casos de omissão de quem
detenha legítimo interesse ou do Ministério Público; 16) institui o subsídio-adoção, amplia
o auxílio maternidade, cria o auxílio paternidade para pais adotivos solteiros, prevê
incentivo no imposto de renda para os adotantes de casos particularmente difíceis, como os
de grupos de irmãos, crianças portadoras do vírus HIV, etc.
Estas, entre tantas outras que podem ser enumeradas, razões que inspiraram e nortearam a
elaboração e apresentação deste Projeto de Lei ao Congresso Nacional.
PMDB/SC
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ANEXO B
CADASTRO NACIONAL DE ADOÇÃO – Resolução n. 54 CNJ
RESOLVE:
Art. 1º. O Conselho Nacional de Justiça implantará o Banco Nacional de Adoção, que tem
por finalidade consolidar dados de todas as comarcas das unidades da federação referentes
a crianças e adolescentes disponíveis para adoção, após o trânsito em julgado dos
respectivos processos, assim como dos pretendentes a adoção domiciliados no Brasil e
devidamente habilitados.
Art. 2º. O Banco Nacional de Adoção ficará hospedado no Conselho Nacional de Justiça,
assegurado o acesso aos dados nele contidos exclusivamente pelos órgãos autorizados.
Art. 3º. As Corregedorias dos Tribunais de Justiça funcionarão como administradoras do
sistema do respectivo Estado, e terão acesso integral aos cadastrados, com atribuição de
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cadastrar e liberar o acesso ao juiz competente de cada uma das comarcas, bem como zelar
pela correta alimentação do sistema, que deverá se ultimar no prazo de 180 dias da
publicação desta Resolução.
Art. 4º. As Corregedorias Gerais da Justiça e os juizes responsáveis pela alimentação diária
do sistema encaminharão os dados por meio eletrônico ao Banco Nacional de Adoção.
Art. 5º. O Conselho Nacional de Justiça prestará o apoio técnico necessário aos Tribunais
de Justiça dos Estados e do Distrito Federal para alimentar os dados do Banco Nacional de
Adoção.
Parágrafo único – Os Tribunais poderão manter os atuais sistemas de controle de
adoções em utilização, ou substituí-los por outro que entendam mais adequados, desde que
assegurada a migração dos dados, por meio eletrônico, contidos nas fichas e formulários
que integram os anexos desta Resolução.
Art. 6º. O Conselho Nacional de Justiça, as Comissões Estaduais Judiciárias de Adoção –
CEJAS/Cejais e as Corregedorias Gerais da Justiça devem fomentar campanhas
incentivando a adoção de crianças e adolescentes em abrigos e sem perspectivas de
reinserção na família natural.
Parágrafo único – O Conselho Nacional de Justiça celebrará convênio com a
Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República – SEDH para troca
de dados e consultas ao Banco Nacional de Adoção.
Art. 7º. Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação.
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ANEXO C
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Artigo 10 - Este Provimento entrará em vigor na data de sua publicação,
revogadas as disposições em contrário.
São Paulo, 03 de março de 2005.
dessa vara. Para tanto apresenta(m) a qualificação anexa e os documentos exigidos pelo
Aproveito(amos) o ensejo para requerer a designação de data para início das providências
pelo Setor Técnico e concorda(m) que as intimações sejam feitas por meio
Termos em que,
Pede(m) deferimento.
_____________________
_____________________
200
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RELAÇÃO DE DOCUMENTOS:
1- Carteira de Identidade (RG);
2- Cartão de Identificação do Contribuinte (CIC/CPF);
3- Certidão de Casamento (de expedição recente);
4- Certidão de Nascimento, se solteiro (de expedição recente);
5- Comprovante de residência (conta de água, luz, telefone, energia elétrica,
correspondência bancária ou de cartão de crédito, etc.);
6- Comprovante de rendimentos, ou declaração equivalente (holerite, declaração do
imposto de renda, declaração do empregador em papel timbrado ou com firma
reconhecida, etc.);
7- Atestado ou declaração médica de sanidade física e mental;
8- Fotografias do(s) pretendente(s) e de sua residência (parte externa e interna).
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