Você está na página 1de 21

COMUNICAÇÃO DIGITAL

Internet e
participação
política em
sociedades
democráticas TODO TEMA TEM os seus truísmos, uns efe-
tivos, outros presumidos. Nas discussões
RESUMO sobre new media e democracia, por exem-
O artigo trata do tema da participação política na literatura plo, presume-se que sejam truísmos as
recente sobre os efeitos políticos da Internet. O seu propósi- afirmações de que meios e modos da co-
to é examinar a tese segundo a qual a internet constitui um municação são fundamentais para a de-
ambiente de comunicação que tenderia a transformar o pa- mocracia de massa, e de que nas socieda-
drão atual de baixa participação política por parte da esfera des contemporâneas há baixos níveis de
civil nas democracias contemporâneas. participação civil, portanto, de democra-
cia. Aliás, assumindo-se tais verdades
ABSTRACT como pressupostos é que se enceta, a par-
This article deals with the most recent literature devoted to tir daí, a discussão - ainda incerta quanto
the political effects of Internet and, very specially, to the aos resultados, mas já fortemente polari-
issue of citizen’s participation in the policy sphere. Its main zada (Wilhelm, 2000) - sobre se os novos
purpose is the examination of one hypothesis according to meios de massa, principalmente a inter-
which the Internet is frequently defined as a com- net, podem ajudar a resolver o déficit de-
municational environment that would transform the mocrático da sociedade contemporânea.
present withdrawal of masses from political participation. A afirmação da baixa participação de-
mocrática é, ao fim e ao cabo, um diagnós-
PALAVRAS-CHAVE (KEY WORDS) tico sobre o padrão democrático das socie-
- Participação política (political participation) dades contemporâneas. Não se trata, a ri-
- Internet (internet) gor, de uma crise da democracia, que,
- Comunicação política (political communication) como idéia ou como ideal, jamais esteve
em tão alta conta. O que todos vêem como
problemático é o sistema de práticas, insti-
tuições e valores da política contemporâ-
nea à medida que se constata a sua distân-
cia de um padrão de democracia considera-
do ideal.

1 O problema da participação
política

Antes de tudo, há de se perguntar, que ca-


racterísticas uma democracia efetiva deve-
ria ter. Evitando afrontar diretamente neste
artigo a questão mais complicada dos mo-
Wilson Gomes delos de democracia (Held, 1987; Dahlberg,
UFBa 2001), tomo e desenvolvo a sumarização

58 Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 27 • agosto 2005 • quadrimestral


feita por Bucy e Gregson (2000), que parece apatia dos eleitores, a ausência de efetivi-
dar conta da mais corrente compreensão do dade (disempowerment) da cidadania no que
tema. Numa democracia capaz de satisfa- tange aos negócios públicos, o desinteresse
zer aos requisitos básicos de participação público na vida política, uma informação
democrática deveriam estar presentes, num política distorcida ou excessivamente de-
nível socialmente relevante: pendente dos meios de massa, o baixo ca-
pital político da esfera civil, a desconexão
a) um volume adequado de conhecimento entre sociedade política e esfera civil, a au-
político estrutural e circunstancial, um es- sência do mais elementar sentido de sobe-
toque apropriado de informações não-dis- rania popular e a desconfiança generaliza-
torcidas e relevantes, suficientes para habi- da com respeito à sociedade política (Cobb
litar o cidadão a níveis adequados de com- e Elder, 1983; Bucy e Gregson, 2000, Blum-
preensão de questões, argumentos, posi- ler e Gurevich, 1995; Verba et al., 1995;
ções e matérias relativas aos negócios pú- Schattan e Nobre, 2004).
blicos e ao jogo político;
Em suma, a política contemporânea
b) possibilidade, dada aos cidadãos, de aparece, em grande parte da literatura que
acesso a debates públicos já começados e trata da relação entre os novos meios de
possibilidade de iniciar novos debates des- comunicação e a política, como incapaz de
ta natureza, onde a cidadania deveria exer- satisfazer os requisitos da democracia em
citar a oportunidade de envolver-se em seu sentido mais próprio. E o fenômeno
contraposições argumentativas, de desen- mais comumente identificado como em es-
volver os seus próprios argumentos, de en- treita relação ao déficit democrático con-
volver-se em procedimentos deliberativos temporâneo é, em geral, designado pelo
no interior dos quais pode formar a própria verbete “participação política”. O sujeito
opinião e decisão políticas; dessa participação política, cuja crise é
aqui diagnosticada, é, evidentemente, o
c) meios e oportunidades de participação público, a cidadania, a esfera civil. Mas
em instituições democráticas ou em grupos quando se pergunta sobre o locus de tal
de pressão - mediante ações como voto, afi- participação as respostas podem variar, in-
liação, comparecimento a eventos políticos dicando, também numa lista aleatória, a
ou através de outras atividades políticas vida pública, as eleições, a política institu-
nacionais ou locais; cional, os negócios públicos, a decisão po-
lítica. A variação na resposta indica, em ge-
d) habilitação para e oportunidades efica- ral, os modelos de democracia de cada um:
zes de comunicação da esfera civil com os há desde modelos mais institucionais de
seus representantes (em níveis local, nacio- democracia aos quais bastaria, em princí-
nal ou internacional) e para deles cobrar ex- pio, a indicação de um déficit de participa-
plicações e prestação de conta. ção civil na genérica “vida pública”, até
modelos de democracia forte (participativa
É à luz destes requisitos, ou de outros ou direta) que vêem uma crise justamente
a estes assemelhados, que estaria em crise na baixa efetividade política do cidadão,
o modelo de democracia representativa, ou no baixo nível de influência civil na esfera
de democracia liberal, os seus procedimen- de decisão política. Ficando nos dois extre-
tos de condução dos negócios públicos ou mos do exemplo, a uns bastaria que a po-
de tomada de decisão e a sua vinculação à pulação votasse e fosse politicamente bem
vontade e opinião públicas. A um tempo informada enquanto a outros seria necessá-
resultado e sintoma de tal crise seriam, rio, ademais, que o cidadão tivesse oportu-
numa lista aleatória e com imbricações, a nidades de deliberação no que se refere às

Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 27 • agosto 2005 • quadrimestral 59


políticas adotadas pelo Estado. dução da “opinião pública”.
Mas se falta participação política é Ainda no horizonte da cultura políti-
porque faltam também outros requisitos da ca, são indicados freqüentemente como dé-
vida democrática. Algumas dessas faltas ficits fundamentais uma generalizada falta
são relacionadas à cultura política, sendo de conhecimento e de interesse políticos.
«cultura» entendida aqui como mentalida- Primeiro, faltaria à esfera civil o conheci-
des, valores, convicções e representações mento ou uma visão acurada da vida pú-
compartilhadas. Faltaria à cultura política blica, um repertório suficientemente provi-
dos cidadãos nas democracias contemporâ- do de informações sobre processos e con-
neas um elementar sentido de efetividade teúdos que orientam o funcionamento da
das práticas políticas civis. Parece ausente sociedade política, bem como sobre o esta-
a esta mentalidade a sensação de que há do das coisas e das circunstâncias concretas
uma conexão de causa e efeito entre a ação que constituem as conjunturas políticas. Se-
do cidadão e o modo como as coisas refe- gundo, a literatura contemporânea sobre o
rentes ao Estado se decidem. Este senti- tema insiste fortemente no baixo nível de
mento se reforça pela impressão de que, interesse político por parte do público em
com efeito, as indústrias da notícia, do lo- geral. Talvez em virtude de a imagem pú-
bby e da consultoria política têm muito blica predominante do campo político o re-
maior eficácia junto à sociedade política e presentar como infestado por inconfessá-
ao Estado de que a esfera civil. Haveria veis e inegáveis interesses não-públicos,
como que uma marginalização do papel talvez em virtude do sentimento dominan-
dos cidadãos. te de parca efetividade da ação política do
A ausência de efetividade se experi- cidadão comum, o fato é que um nível rele-
menta, no final das contas, como descone- vante de interesse político é considerado,
xão entre a esfera onde se toma a decisão na literatura corrente sobre o tema, posse
política e onde se controla o Estado, de um específica apenas de parcela muito peque-
lado, e a esfera da cidadania, do outro. Su- na da população.
cessivas ondas de profissionalização da Por fim, há faltas diretamente relacio-
função política – primeiro, profissionaliza- nadas aos meios, modos e oportunidades
ção da classe dos representantes e tomado- de participação civil na vida política. Há,
res de decisão, depois, dos agentes envol- antes de tudo, a questão dos mecanismos
vidos nas funções de pressão externa à so- de participação política, considerados fun-
ciedade política (lobistas, jornalistas e con- damentais para uma democracia onde a es-
sultores), por fim, da própria sociedade ci- fera civil tenha uma presença forte (Barber,
vil (a profissionalização das ONGs sendo 1984; Conway, 2000); mecanismos que são
apenas um exemplo) – geraram a sensação uma fonte de preocupação “em parte por-
de ineficácia da ação política do cidadão que são vistos como formas de manter um
comum e teriam contribuído para arruinar acesso aberto ao sistema político” (Bucy e
as condições da participação cívica. Gregson, 2000). Reduzidas principalmente
A esta convicção deve se somar, ade- a plebiscitos com “cardápio restrito” (ou
mais, a formação de uma péssima imagem seja, com opções já preestabelecidas pelo
pública da sociedade política, entendida campo político), a movimentos sociais
como orientada exclusivamente por linhas “profissionalizados” e a esporádicas mani-
de força imanentes ao jogo político (acú- festações públicas, as oportunidades que o
mulo de capital político para o próprio domínio civil teria de fazer-se valer na esfe-
grupo ou partido, contraposição entre go- ra da decisão política são poucas, controla-
verno e oposição, etc.) ou por interesses das pelo gatekeeping do Estado ou do jorna-
não-públicos oriundos da esfera econômica lismo e produzem resultados que não obri-
ou das indústrias especializadas em pro- gam nem comprometem a classe política.

60 Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 27 • agosto 2005 • quadrimestral


Nos modelos de democracia delibera- ções e sujeitos e tudo o mais do domínio
tiva, ademais, a questão não diz respeito das representações, dos valores e do imagi-
simplesmente a meios e oportunidades, nário. Pois bem, parece bastante comum a
mas à qualidade e a requisitos referentes idéia de que convicções e representações
aos modos de participação civil disponí- podem ser importantes para promover ou
veis. O fulcro do problema seria a questão desestimular a participação civil na políti-
da argumentação pública, desde a troca de ca. Assim, se o público tem a impressão de
razões em público sobre questões de con- que a sua intervenção política pode fazer
cernência comum (Maia, 2002) até o escrutí- alguma diferença para conduzir nesta ou
nio público das deliberações políticas do naquela direção a decisão acerca dos negó-
Estado. Nesta perspectiva, são hoje raras e cios públicos, então possivelmente se senti-
pouco efetivas as oportunidades de partici- rá compelido a produzir intervenções mais
pação civil mediante discussão pública dos constantes e mais qualificadas. Na mesma
negócios públicos. Ainda mais se o requisi- linha estaria a convicção de que a esfera
to for de uma discussão pública que satis- civil é, ao fim e ao cabo, aquela que exerce
faça os requisitos de autenticidade e de efe- a soberania política e que a ela estaria asso-
tividade. “Autenticidade” no sentido de ciada essencialmente, como mandatária de
imunidade a coações externas à discussão, uma mandante civil, a sociedade política.
lealdade no debate, racionalidade ou, pelo Por fim, acredita-se, uma imagem adequa-
menos, razoabilidade argumentativa. “Efe- da dos representantes, do Estado e das
tividade” diz respeito à possibilidade de suas demais instituições, entendidos como
produção de efeitos na esfera da decisão coisa e serviço públicos, seria decisiva para
política. Em outras palavras, faltaria então uma cultura cívica de maior participação.
um volume qualificado de arenas públicas Por fim, há as condições de natureza
autênticas ou uma densidade socialmente instrumental, aquelas referidas aos meios e
importante de oportunidades de delibera- modos destinados a assegurar as oportuni-
ção pública. dades de participação política. Convicções
Do conjunto da crítica, pode-se, por e informação são ainda pouco se não apoia-
outro lado, inferir as condições requeridas das em oportunidades.
para a participação política. E estas são, em Mesmo porque tanto umas quanto ou-
geral, de tríplice natureza: cognitiva, cultu- tra recebem considerável reforço positivo
ral e instrumental. São condições cogniti- quando confrontadas com a experiência
vas, naturalmente, aquelas relacionadas à concreta de efetividade política da esfera
informação e conhecimento, tanto aquelas civil ou com um conjunto de experimentos
que nos instruem sobre a natureza do Esta- e iniciativas que obtêm êxito na extensão
do e da sociedade política, seus instrumen- das oportunidades de participação demo-
tos, instituições e processos, como aquelas crática.
que nos aparelham para formar uma opi-
nião suficientemente qualificada sobre as
circunstâncias do jogo político, sobre as po- 2 Das razões do déficit de
sições em disputa, sobre o estado do cam- participação política
po político.
Há também as condições culturais, re- Constatado o morbo, buscam-se-lhe as cau-
lacionadas à cultura política, entendida a sas. O que estaria entre a esfera civil e uma
cultura ainda no sentido de significados e participação política com intensidade sufi-
valores socialmente compartilhados. Neste ciente para satisfazer a um padrão adequa-
âmbito, lidamos com concepções dissemi- do de democracia? No fundo, trata-se aqui
nadas, imagens públicas dominantes, im- da pergunta sobre o porquê de as nossas
pressões e opiniões sobre matérias, posi- sociedades serem em geral deficitárias no

Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 27 • agosto 2005 • quadrimestral 61


que diz respeito aos requisitos adequados petição no interior do jogo político seria
para a participação civil. prejudicado pelo material distorcido pro-
A busca de causas de fenômenos soci- duzido pelos meios de comunicação de
ais complexos pode resultar, como se sabe, massa, embora também pela informação
numa agonia reflexiva perpétua, pois o oferecida pelos políticos, sumária e insufi-
jogo conceitual de encaixes, engates e cone- ciente; b) “O debate racional é comprometi-
xões, mediante o qual se estabelecem as re- do em virtude das matérias sensacionalis-
lações de causalidade, pode facilmente se tas e com um enfoque personalista que per-
tornar descontrolado. O discurso que nós meiam a esfera pública mediante os meios
examinamos, todavia, não nos leva tão lon- de massa”; c) “A participação ou é desen-
ge assim. Num horizonte mais amplo, re- corajada ou tem diminuída a sua importân-
mete-se o fenômeno a causas genéricas cia pelo desprezo crescente pelos represen-
que, por sua vez, constituem alguns dos tantes políticos, o que deve ser atribuído,
truísmos da ciência e da filosofia políticas em boa parte pelo menos, ao tratamento
contemporâneas: declínio da vida cívica desdenhoso (e freqüentemente ridículo) a
em geral, crise da democracia representati- que os submetem os meios de massa”; d)
va em particular. Uma das plataformas ar- “O conceito de representação perde legiti-
gumentativas mais freqüentadas desse dis- midade à medida que os representantes
curso consiste, todavia, numa vinculação eleitos são apresentados como desconecta-
unidirecional da baixa participação, da de- dos do interesse do seu eleitorado”.
sinformação e do desinteresse políticos da Na já vasta literatura devotada a
esfera civil à comunicação de massa. apontar o déficit democrático dos meios
E aqui o discurso costuma ter duas di- de comunicação de massa, identificam-se
mensões complementares. A primeira des- razões circunstanciais e razões estruturais
tas costuma insistir no fracasso dos meios para tanto. São circunstanciais, digamos
de comunicação de massa - e fracasso fre- assim, aquelas relacionadas ao estado
qüentemente atribuído não à sua natureza, atual de funcionamento das indústrias da
mas às circunstâncias atuais do seu uso - informação e da cultura de massa, aos
em cumprir as suas promessas como ins- princípios que atualmente orientam os
trumentos privilegiados para a extensão campos sociais que se formaram no seu
das possibilidades de participação demo- interior e à forma contemporânea da sua
crática. É um discurso de frustração. A se- relação com os mercados consumidores
gunda dimensão tende a impingir aos mei- de notícias e entretenimento. Razões es-
os de massa responsabilidades pelo baixo truturais estão em relação à natureza
padrão de democracia participativa nas so- mesma dos meios de massa, não obstante
ciedades contemporâneas, não apenas, por- a diversidade dentre eles, tendo particu-
tanto, pelo que deixa de fazer, mas, sobre- lar ênfase o fato de produzirem fluxos de
tudo, porque o que faz resulta daninho e informação com vetor unidirecional - a fa-
“hostil à causa da democracia, servindo na migerada mão única da comunicação de
verdade para a solapar” (Barnett, 1997). massa.
Trata-se de um discurso de imputação de De todo modo, da configuração dos
culpa. meios de comunicação emergiriam, se-
Os dois discursos freqüentemente são gundo os críticos, algumas das suas ca-
misturados, como acontece em artigo de racterísticas que atingem diretamente as
Barnet (1997, p. 203) que aponta conseqüên- condições cognitivas e culturais da parti-
cias deprimentes da tradicional comunica- cipação política. A forte concorrência in-
ção de massa sobre as condições funda- terna entre as indústrias de informação e,
mentais para a participação política: a) O neste contexto, o imperativo de atendi-
entendimento básico das posições em com- mento às necessidades do mercado de

62 Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 27 • agosto 2005 • quadrimestral


notícias e entretenimento levaram a co- 3 O que a internet pode fazer pela
municação de massa a assumir caracterís- participação política?
ticas que, numa lista aleatória, vão do sen-
sacionalismo à simplificação das questões O passo seguinte neste processo consiste
e informações políticas, da seleção e orde- na entrada em cena dos novos meios de co-
nação das matérias políticas segundo inte- municação, particularmente da internet.
resses de competição e consumo a distor- Deles se diz particularmente que algumas
ções, voluntárias ou involuntárias, em vir- das suas características estruturais e cir-
tude de a pauta política estar orientada pe- cunstanciais parecem adequadas para me-
los imperativos de venda. lhorar a qualidade democrática das socie-
O resultado seria um baixo teor de dades contemporâneas, ou porque não são
informação política e um nível ainda me- acometidas pelos mesmos déficits antide-
nor de informação política qualificada, a mocráticos apontados nos meios anteriores
que se contrapõe um volume considerá- ou sobretudo porque trazem consigo mui-
vel de representações que desqualificam tas vantagens suplementares para o incre-
sujeitos, procedimentos e princípios do mento da participação democrática. Da
campo político. Com isso, o campo políti- perspectiva de uma revisão de literatura, é
co se aparelha para tentar dobrar o fluxo pelo menos digno de menção o fato de que
da comunicação política aos seus interes- o grosso da publicação que mais fortemen-
ses, com alto padrão de profissionaliza- te denunciava a crise da comunicação polí-
ção no gerenciamento da informação e tica, no final dos anos 80 e primeira metade
com o desenvolvimento de ferramentas e dos 90, coincide com a fase de maior encan-
habilitações agilmente manejadas com os tamento com o advento dos novos meios
quais busca administrar não apenas o que de massa; advento saudado como o renas-
exibir e o que proteger da esfera de visi- cimento das possibilidades democráticas.
bilidade mediática, mas também busca Neste momento não nos encontramos
manipular ou, em geral, ter supremacia mais na fase entusiasmada dos estudos so-
sobre os agentes da indústria da notícia, bre os impactos sociais e políticos da inter-
no controle da informação política circu- net, que foi predominante até parte da se-
lante. gunda metade dos anos 90. E começamos a
Na tensão entre os dois campos, en- ponderar com mais equilíbrio os argumen-
tão, seria gerada uma espiral que condu- tos crescentemente antiutópicos, quando
ziria a níveis cada vez mais baixos de não sombrios e persecutórios, típicos da
participação política. O jornalismo, na fase que se seguiu. É um bom momento,
fase da indústria da informação, não teria então, para uma avaliação mais ponderada
mais a cidadania como sua referência bá- das promessas e realizações da internet
sica, orientando-se por princípios inter- para a democracia.
nos ao campo do jornalismo ou por cir- Antes de tudo não há como negar que
cunstâncias industriais de sobrevivência o advento do formato Web da internet, no
e lucro num mercado competitivo. Por início dos anos 90, trouxe consigo enormes
sua vez, a esfera civil tenderia a não con- expectativas no que respeita à renovação
ferir credibilidade ao jornalismo, outrora das possibilidades de participação demo-
autodesignado cão de guarda do interes- crática. Os exageros da retórica da revolu-
se público, e passaria a desconfiar da re- ção tecnológica são por demais conhecidos
levância e da veracidade da informação para que mereçam maiores comentários.
política disponível. Assim, como histori- De todo modo, havia nos planos teórico e
camente desconfia de que a informação prático a sincera esperança de uma renova-
produzida pela esfera política está, antes, ção, induzida pela internet, da esfera públi-
voltada para a sua manipulação 1. ca e da democracia participativa. Pratica-

Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 27 • agosto 2005 • quadrimestral 63


mente sem exceção, quase todas as formas civil, dispensando o atravessador, repre-
de ação política por parte da esfera civil sentado pelo campo do jornalismo. Com
podiam agora ser realizadas mediante a in- isso, informação política poderia enfim
ternet, do contato e pressão sobre os repre- chegar ao público diretamente de um for-
sentantes eleitos até a formação da opinião necedor que era ao mesmo tempo um
pública, do engajamento e participação em agente do campo político. As ciberfacilidades
discussões sobre os negócios públicos até a (Choucri, 2000) da produção de informação
afiliação a partidos ou movimentos da soci- a um baixo custo, somadas a um igualmen-
edade civil, da manifestação à mobilização, te baixo custo de uma distribuição que, po-
da interação com candidatos até a doação rém, detinha grande potencialidade de
para fundos partidários ou de organizações atingir um público extenso, foram aprovei-
civis, da intervenção em fóruns eletrônicos tadas antes de tudo pelos candidatos, de-
sobre matéria da deliberação da sociedade pois pelas instituições e agentes do Estado
política até a intervenção em plebiscitos e dos seus poderes.
on-line. Na literatura sobre o impacto da inter-
O julgamento do alcance, sentido e, net sobre a extensão das possibilidades de
sobretudo, da forma que esta democracia participação política, dois temas se desta-
digital assumia, como era de se esperar, cam pela sua reiteração. Primeiro, insiste-
não era preciso nem uniforme. A esse res- se no revigoramento da esfera da discussão
peito, diz com muita propriedade H. Bu- pública como efeito direto da entrada em
chstein (1997, p. 248): cena de um novo meio ambiente de comu-
nicação política. Segundo, destaca-se a ca-
O que, de fato, a internet significa pacidade da internet, em particular, e dos
para a democracia, o que, exatamente, novos meios, em geral, de superar o déficit
computer democracy quer dizer é con- democrático dos tradicionais meios de co-
troverso e pouco claro. Enquanto al- municação de massa.
guns vêem a internet como uma ferra- No primeiro caso, trata-se dos novos
menta de coleta de informações, ou- arranjos e possibilidades da esfera pública
tros destacam o seu potencial deli- via internet. Naturalmente, também aqui há
berativo. Outros enfatizam o seu pa- os entusiasmados segundo os quais a inter-
pel no processo de formação da von- net reúne as condições mais qualificadas
tade política. Outros ainda a querem para uma discussão pública extensa e efeti-
empregar como uma ferramenta para va, mas há também os céticos para os quais
a produção da decisão política. (...) os ambientes de comunicação on-line estão
Assim, alguns vêem a Net como com- longe de atender aos padrões de uma esfe-
plementar à existente democracia re- ra de debate público correspondente a uma
presentativa, enquanto outros defen- democracia forte. Na perspectiva mais oti-
dem mais radicalmente que os meios mista, a que nos interessa a este ponto do
eletrônicos hão de superar muitos dos argumento, a nova tecnologia parece satis-
problemas de escala que fizeram da fazer a
democracia direta um ideal impraticá-
vel. Para eles, a esperança é que os (...) todos os requisitos básicos da teo-
town meetings eletrônicos e a democra- ria normativa de Habermas sobre a es-
cia de apertar botões venham final- fera pública democrática: é um modo
mente substituir as velhas instituições universal, anti-hierárquico, complexo
da democracia representativa. e exigente. Porque oferece acesso uni-
versal, comunicação não-coercitiva, li-
Também a esfera política podia, en- berdade de expressão, agenda irres-
fim, comunicar-se diretamente com a esfera trita, participação fora das tradicionais

64 Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 27 • agosto 2005 • quadrimestral


instituições políticas e porque gera tendemos como uma dimensão sem fron-
opinião pública mediante processos teiras ou se a compreendemos como uma
de discussão, a internet parece a mais malha que inclui o local, o nacional ou o
ideal situação de comunicação (Buch- internacional. Assim, para alguns, gover-
stein, 1997, p. 251). nos e sociedade civil locais, nacionais e in-
ternacionais deveriam ter a responsabilida-
Ou como diz Steven Barnett, a internet de de promover as iniciativas instrumen-
representa o ambiente de comunicação que tais para o debate, para outros, “a internet
atualmente mais corresponde ao requisito mesma cria comunidades de notícias e leva
de “uma zona neutra onde o acesso à infor- a situações ideais de comunicação entre su-
mação relevante que afeta o bem público é jeitos fisicamente remotos, mas virtualmen-
amplamente disponível, onde a discussão te conectados, por meio disso configurando
é imune à dominação do Estado e onde to- condições ideais para o surgimento de uma
dos os participantes do debate público fa- nova esfera pública” (Jensen, 2003, p. 350).
zem isso em bases igualitárias” (Curran, O segundo tema é aquele da supera-
1991; Barnett, 1997, p. 207). ção do viés não-democrático e, no limite,
Isso porque não apenas há muitas e antidemocrático, dos meios de comunica-
mui variadas ferramentas para a discussão ção mais antigos. Tanto da perspectiva do
pública on-line, mas também porque temos campo político quanto daquela da esfera
um meio com grande capacidade de “co- civil. A sociedade política ganha à medida
nectar indivíduos em redes que tornarão que:
possíveis verdadeiras discussões e debates
participativos em grandes distâncias” (Bar- Primeiro, o comunicador tem pleno
ber, 1984, p. 274). Além do mais, uma esfe- controle sobre a mensagem. Normal-
ra pública on-line dispensaria uma série de mente ele não é censurado ou filtrado
dificuldades que estão sempre a rondar as por outros, isto é, a mensagem que é
discussões off-line: há as superações das enviada ao destinatário supera o pro-
injunções, filtros e controles interpostos em cesso de edição jornalística. Segundo,
geral por parte de instâncias que se situam a internet é potencialmente interativa,
fora da situação de debate, da disparidade isto é, torna-se possível um diálogo
inicial nas discussões promovidas pelas di- de mão dupla entre quem envia e
ferenças de valor relativo de cada um na quem recebe. Terceiro, o novo meio
sociedade (reduzida em virtude da possi- provê àquele que envia um recurso
bilidade do anonimato, por ex.), das limita- relativamente barato para transmitir
ções de espaço (obrigação de contigüidade) grandes volumes de informação. Final-
e tempo (obrigação de contemporaneidade) mente, a técnica sofisticada da comuni-
que afetam as discussões off-line, etc. cação via Web dá ao comunicador uma
É claro que a questão técnica sobre ampla gama de possibilidades donde
como estabelecer e reforçar iniciativas des- escolher a forma da comunicação (texto,
tinadas a incrementar a discussão pública imagens, som e vídeo) considerada
on-line ainda está em aberto, a depender mais apropriada para uma mensagem
da compreensão da internet - se como espa- particular. Em conclusão, a Web provê
ço autônomo da sociedade civil, de onde os agentes políticos com a oportunida-
deveriam partir as iniciativas, ou se se trata de pela qual ansiava, isto é, a de ter
de um domínio sob o cuidado dos Estados, controle total sobre a produção da men-
que então deveriam promover instrumen- sagem e comunicar diretamente com os
tos de debate. Na mesma linha, da compre- potenciais eleitores sem ter os meios de
ensão espacial da internet depende a res- massa filtrando-lhe a informação
ponsabilidade sobre as iniciativas: se a en- (Carlson e Djupsund, 2001, p. 69).

Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 27 • agosto 2005 • quadrimestral 65


A primeira conseqüência disto está re- vel de remover os obstáculos de tempo e
lacionada ao fato de que assim se torna espaço para a participação política. “Poten-
acessível à esfera civil uma visão mais dire- cialmente”, dizem os defensores desta po-
ta da sociedade política e das suas mensa- sição, “todo indivíduo pode se comunicar
gens, dispensando-se, de algum modo, um com qualquer outro indivíduo, não apenas
sistema de intermediação considerado or- da cidade, da região ou do estado, mas ul-
questrado, profissionalizado e que tenderia timamente de qualquer lugar do mundo.
a tornar o público meramente apreciador Com os obstáculos de tempo e espaço eli-
do jogo político. Ademais, o enorme siste- minados, um diálogo on-line genuíno é
ma de informação política - proveniente do possível entre qualquer número de indiví-
campo político, da própria esfera civil e até duos que desejem trocar idéias” (Barnett,
mesmo da indústria da notícia – disponível 1997, p. 194). Não só, esta troca de idéias -
nos ilimitados repositórios Web permitiria que off-line pode se dar apenas em tempo
ao cidadão uma avaliação mais acurada da real, e é limitada à obrigação de contempo-
vida política e da esfera pública. A infor- raneidade entre os que discutem, além de
mação política nas redes de computadores ser dotada de restrições de conteúdo e nú-
é mais variada do que a informação indus- mero – admite a não-contemporaneidade,
trial, pois contém não apenas o registro da inclui qualquer volume de pessoas e quais-
atualidade jornalística selecionada e edita- quer lugares. E a troca de idéias é apenas
da pelo campo do jornalismo, mas também um exemplo de participação política, de
toda a sorte de registro de fatos e atos polí- forma que o que dela aqui se diz se pode-
ticos do passado. Ademais, esta informação ria igualmente dizer da disseminação de
há de ser mais integral e mais rica, pois em informações políticas, da cobrança exercida
princípio o sistema de informação Web sobre os representantes eleitos, da contri-
configura uma gigantesca e completa enci- buição para a produção de leis, de eventu-
clopédia política e cultural, onde se tem ais ou possíveis participações em plebisci-
desde a atualidade jornalística até o resul- tos ou eleições, etc.
tado da investigação científica. Além disso,
a informação política em rede está disponí- II. Extensão e qualidade do estoque de in-
vel a um acesso mais rápido, mais barato e formações on-line. Das informações políti-
mais cômodo do que a informação política cas fundamentais para a formação da posi-
industrial. Por fim, a internet inclui e supe- ção política do cidadão já falamos na con-
ra a informação industrial, permitindo, traposição acima entre novos e velhos mei-
ademais, acesso a informações que os mei- os de massa. Ademais, temos a informação
os industriais de notícias não conseguem, instrumental necessária para que a cidada-
não querem ou não podem divulgar. nia usufrua dos serviços do Estado, possa
Assegurados os dois temas-chave, a exercer cobrança e pressão sobre governos
literatura sobre internet e participação polí- e parlamentos, tenha controle cognitivo so-
tica prossegue através de grandes listas das bre o estado dos negócios públicos. De for-
vantagens democráticas da internet. Sem ma que, no que tange ao aumento de infor-
pretender, com isso, uma síntese das sínte- mação política e conhecimento público das
ses, mas apenas produzir um sumário do matérias e questões políticas, talvez jamais
debate, identifico em seguida sete blocos a cidadania tenha estado tão bem fornida
temáticos onde tais vantagens são apresen- de insumos (cf. Gimmler, 2001, p. 32). Bar-
tadas e discutidas. nett vai mais além na sua resenha das ca-
racterísticas da informação política on-line.
I. Superação dos limites de tempo e espaço
para a participação política. Os novos mei- Todo debate privado ou público so-
os de comunicação têm o potencial inegá- bre tendências econômicas, desempre-

66 Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 27 • agosto 2005 • quadrimestral


go, o estado dos serviços de saúde ou bilidade é uma espécie de palavra mágica
sobre a melhoria nas escolas pode ser nesta literatura. Supõe, por contrariedade,
imediatamente informado com rique- a superação de uma situação de segredo,
za de dados factuais e estatísticos. de reserva ou de indisponibilidade - fieira
Pode ser posta on-line informação de semântica que serve para a referência co-
departamentos governamentais, escri- mum a algumas das maiores ameaças a
tórios de atendimento ao público, bi- qualquer regime democrático e que, ade-
bliotecas, câmaras ou qualquer outra mais, aponta na direção das temíveis idéias
instituição pública. Todo documento de governos invisíveis, decisão a portas fe-
que é parte de procedimentos chadas e tirania. Por isso se insiste sobre-
legislativos normais ou processos de maneira no fato de a internet constituir
consulta – livros verdes, livro brancos, uma oportunidade, possivelmente inalcan-
submissões de partes interessadas, ar- çável por outros meios, de disponibilida-
gumentos de indivíduos privados – de, abertura e transparência. Em primeiro
pode ser disponível instantaneamen- lugar, trata-se do acesso à res publica, ao Es-
te. Não há necessidade de qualquer tado naquilo que nele deve estar sob o con-
desculpa para um debate conduzido trole cognitivo direto do público: atos, pro-
em ignorância (Barnett 1997, p. 205). cedimentos, registros, circunstâncias, pro-
cessos legislativos e administrativos etc.
Em segundo lugar, acesso à informação po-
III. Comodidade, conforto, conveniência e lítica de toda a natureza, em todos os seus
custo. A idéia de um engajamento estóico e formatos e de diversas proveniências.
de uma equivalência entre ação política,
martírio e sacrifício não poderia parecer
mais distante dos imaginários dos cida- V. Sem filtros nem controles. Faz parte do
dãos das democracias modernas. A dispen- charme libertário da internet a reiteração de
sa do deslocamento espacial, do hiperenga- que nela se verifica, como em nenhum ou-
jamento, da submissão às condições hostis, tro médio, um “livre fluxo de informação”.
desconfortáveis e cansativas das assembléi- Acredita-se mesmo que, “em contraste com
as presenciais, a possibilidade de intervir o autoritarismo, não há censura na net, nem
desde o conforto da própria estação de tra- política nem criminal nem moral” (Buchs-
balho, no escritório ou em casa, a conveni- tein, 1997, p. 252). Os mais corajosos chega-
ência de fazer as coisas no próprio ritmo e ram mesmo a levantar, nos anos mais entu-
segundo as próprias disponibilidades, o siasmados, a tese de que a rede, em virtude
fato de se poder prescindir dos requisitos da sua descentralização e do seu espraia-
formais e rituais das instituições, ou da mento transnacional, não só não deveria
convivência forçada com estranhos, tudo como não poderia ser controlada por cor-
isso depõe em favor de uma participação porações ou por governos nacionais e lo-
mais fácil e mais conveniente, além de mais cais. Este é provavelmente o âmbito da lite-
barata, feita sob medida para a sociabilida- ratura sobre internet em que as perspecti-
de numa cultura hedonista, individualista vas do libertarianismo mais prosperaram.
e flexível. Um modo mais do que adequa- Imune ao controle de conteúdo e de provi-
do para uma esfera civil que não mais se mento, a rede seria uma zona protegida
pensa prioritariamente como sociedade ci- onde poderiam prosperar as liberdades bá-
vil organizada, mas como uma nebulosa de sicas de expressão e opinião.
interesses difusos e de laços esporádicos e
mutáveis.
VI. Interatividade e interação. Trata-se de
IV. Facilidade e extensão de acesso. Acessi- argumento central na afirmação do papel

Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 27 • agosto 2005 • quadrimestral 67


dos novos meios de massa no incremento dãos entre si, que finda por coincidir com a
da participação política: a estrutura e os já descrita idéia de discussão pública polí-
dispositivos mais comuns da internet, par- tica. Este tipo de interatividade horizontal,
ticularmente a Web e o correio eletrônico, quando atinge um fluxo demograficamente
fazem com que ela forneça eficientes canais importante de comunicação política, é ca-
perfeitamente adaptados para fluxos de co- paz, por sua vez, de produzir enorme efei-
municação e informação em mão dupla en- to sobre os outros campos e sistemas soci-
tre cidadãos e sociedade política. Canais ais – inclusive sobre a política institucional.
que, em princípio, “mantêm os cidadãos Quando (e se) efetiva, a arquitetura de
informados sobre o que estão fazendo comunicação em mão dupla é instrumento
aqueles que exercem funções no Estado e formidável para quebrar a bruxaria que
mantêm os que têm funções no Estado in- mantém o público numa condição de passi-
formados sobre o que os cidadãos querem” vidade no processo político. A interação
(Milbrath, 1965, p. 144). política é, neste sentido, uma forma de in-
O conceito de interatividade se torna crementar o poder simbólico e material do
peça-chave da argumentação a respeito da público, como eleitor mas também como
qualidade democrática de uma sociedade. sujeito constante de convicções, posições e
Se a idéia de soberania popular sustenta vontade a respeito dos negócios públicos.
uma dada forma de governo, esta idéia há Além disso, se a interação é capaz, pelo
de se materializar em meios e modos pelos menos em princípio, de levar os agentes
quais o mandante político, o povo, faz-se políticos a alterarem as suas posições polí-
valer na esfera restrita da produção da de- ticas para melhor ajustá-las à disposição do
cisão política, ocupada pelos representan- público, é também, por conseqüência, ca-
tes ou mandatários. Se os fluxos de infor- paz de produzir um efeito igualmente im-
mação provêm unilateralmente do centro portante na cultura política, pois contribui
da esfera da decisão política, orientando-se ao mesmo tempo para recompor a sensação
vetorialmente em direção ao público enten- de efetividade política da esfera civil e
dido apenas como consumidor de informa- para produzir o sentimento de que os
ção e, esporadicamente, eleitorado, falta a agentes políticos devem responder à cida-
esta democracia qualquer sentido de sobe- dania pelas suas decisões e pelas suas
rania popular que supere o mero e episódi- ações referentes aos negócios de interesse
co exercício eleitoral. Neste sentido, uma público. Leva, portanto, à formação de um
estrutura multilateral, dotada de fluxos cidadão mais cioso da sua força política e a
multidirecionais de informação e comuni- uma classe política mais ciente das suas
cação, é sintoma de uma estrutura política obrigações democráticas de prestação pú-
onde se reconhece que a esfera civil tem blica de contas.
algo a dizer e pode influenciar diretamente Bem empregada pelo campo político,
a decisão política, de uma estrutura onde esta arquitetura de comunicação em mão
governos e legislativos são sensíveis à von- dupla dá ao agente político um “barômetro
tade e à opinião da cidadania. da opinião pública, com a sua capacidade
A noção de interatividade política an- de oferecer reação a eventos e decisões em
corada na internet se refere a uma comuni- tempo real” (Bucy e Gregson, 2000, p. 369).
cação contínua e de iniciativa recíproca en- Adequadamente empregada pela esfera ci-
tre esfera civil e agentes políticos, uma co- vil, esta mesma arquitetura pode incremen-
municação que deve servir para um recí- tar uma democracia eletrônica qualificada,
proco feedback entre cidadania e sociedade pois permite uma expansão potencialmen-
política (Hacker, 1996). Ademais, há, natu- te ilimitada das vozes que podem vir a ser
ralmente, que se admitir um padrão de in- ouvidas na esfera política, reforça o sentido
teratividade horizontal, isto é, dos cida- de responsabilidade do sistema político,

68 Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 27 • agosto 2005 • quadrimestral


revigora a esfera pública e os fluxos hori- meio da internet, o isolamento físico, políti-
zontais de comunicação entre cidadãos, re- co e mediático a que foram confinados, a
vigora o sentido de conexão entre cidada- rede vem sendo vista como o paraíso dos
nia e sociedade política. Como diz Rachel meios alternativos ou radicais de comuni-
Gibson (2001, p. 563): cação política.
Os exemplos se multiplicam, bem
Se o requisito para melhorar a vida como a lista das vantagens da internet para
democrática é a injeção de mais deli- a intervenção política de grupos alternati-
beração de massa, então, certamente, vos e marginalizados. São inegáveis o valor
este novo meio com as suas oportuni- e o sentido da internet para a sociedade ci-
dades de debate em mão dupla ou vil organizada, mas também para as mobi-
multidirecionais oferece uma solução lizações esporádicas e as intervenções pon-
potencial. Dos modelos radicais de tuais que mais correspondem aos modelos
democracia direta a sistemas repre- de esfera civil não-orgânica que, a meu ver,
sentativos mais delgados e transpa- predomina nesses dias. De um lado temos
rentes, as propriedades interativas da as ONGs e os grandes movimentos multi-
internet poderiam levar a um novo ní- nacionais motivados e orientados por cau-
vel de prestação de contas dos gover- sas ambientais, por exemplo, que corres-
nantes e a um novo nível de diálogo pondem mais ou menos ao primeiro mode-
público. lo, enquanto de outro temos as smart mobs,
as carta-correntes de causas e protestos (Al-
buquerque e Sá, 2001), a doação anônima
VII. Oportunidade para vozes minoritárias de fundos, o engajamento individualista
ou excluídas. Por fim, características pró- por meio dos blogs, tudo isso que constitui
prias da internet a convertem num ambien- um modelo de militância confortável e con-
te de comunicação ideal para vozes que veniente, mas nem por isso desprovida de
não costumam ser ouvidas no madrigal efeito e sentido. Além disso, direita e es-
considerado socialmente relevante. Algu- querda, grupos democráticos e grupos an-
mas dessas vozes estão fora do concerto tidemocráticos, todos têm o seu espaço de
porque pertencem a grupos, classes, povos manifestação na rede. Grupos que não de-
etc. que são socialmente postos à margem têm a chance, por uma razão ou outra, de
dos fluxos predominantes de comunicação. se fazer presentes na esfera de visibilidade
Outras são atribuídas a grupos por nature- pública predominante, encontram na inter-
za arredios à participação política em suas net a oportunidade de dar o seu recado. “A
formas mais tradicionais. internet lhes oferece, então, um meio não
O último caso é aquele dos jovens, apenas de comunicar com seus seguidores,
por exemplo. Dado o seu entusiasmo pela como também o potencial para ir além do
internet, onde ainda constituem o público «gueto radical» tanto direta (sem interme-
predominante, têm eles agora as melhores diários) quanto indiretamente, mediante in-
oportunidades de intervenção no campo fluência sobre os meios de massa.” (Dow-
político desde que as últimas gerações ney e Fenton 2003, p.190)
abandonaram as manifestações de rua e o
hiperengajamento juvenil em organizações
da sociedade civil. O primeiro caso é aque- 4 A perspectiva dos críticos
le dos alternativos, dos marginalizados,
dos contrapúblicos (Downey e Fenton, Não resta dúvida, portanto, de que a inter-
2003). Desde a cause célèbre do ativismo di- net pode fazer muito pela participação po-
gital representado pelo episódio dos zapa- lítica. Enquanto durou a fase de entusias-
tistas em 1994, capazes de romper, por mo no estudo sobre o impacto político da

Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 27 • agosto 2005 • quadrimestral 69


internet, o discurso poderia parar aqui. de, mas de realidade. Que tipo de informa-
Agora, entretanto, é crescente a literatura ção política temos hoje na rede? Antes de
que insiste em apresentar um conjunto de tudo, a informação de atualidade aí inseri-
restrições e déficits, próprios da internet, da pelas indústrias da informação, que, en-
no que tange à sua contribuição às demo- trementes, transferiram também para a in-
cracias modernas. Essa nova literatura tem ternet a sua oferta ao mercado de notícias.
vários estratos e vários níveis de radicalis- Esta padece daqueles limites que vêm sen-
mo, pois pode envolver desde publicações do apontados desde os anos oitenta na lite-
dotadas de um viés antiutópico, neoludita e ratura sobre jornalismo e democracia. De-
tecnofóbico até as posições céticas e realistas, pois, temos informação produzida por ins-
desde as posições que incluem a internet tituições e organismos da sociedade civil,
em teorias da conspiração - em cujo centro em geral qualificada, em geral composta
estaria o capitalismo avançado e a sua ide- por dados e análises de fatos e circunstân-
ologia, para uns, ou simplesmente o mal cias políticas, séria e consistente, mas natu-
moral, para outros – até aqueles que consi- ralmente restrita ao interesse, viés e foco da
deram-na um meio neutro, com um enorme instituição. Temos ainda informação pro-
potencial democrático mas que em geral duzida por agentes do campo político, em
não tem entregue o que promete. Vale no- geral peças da política de imagem, inter-
tar que grande parte da crítica à internet venções que funcionam como lances na ten-
não se dirige diretamente à sua arquitetura tativa de imposição da imagem pública
técnica, nem à rede como fato social, mas predominante do grupo político e dos seus
tem como endereço certo um sistema de re- adversários. Um tipo de informação que,
presentações empolgadas sobre a internet, por isso mesmo, é de baixa qualidade para
que elevou à última potência as suas carac- uma formação adequada da opinião públi-
terísticas positivas sem se importar em ofe- ca. Assim, a maior parte da informação po-
recer apoios concretos às suas assunções. lítica tem como fonte indivíduos privados
Em suma, o adversário em geral é menos a com interesse político.
internet e mais a retórica sobre a internet e O problema relativo a este tipo de in-
os imaginários ciberentusiasmados que pros- formação diz respeito à seleção, credibili-
peram na academia e no jornalismo. dade, relevância e confiabilidade. Como
pode o cidadão comum distinguir num vo-
lume absurdo de informação política entre
I. Informação política qualificada? Come- aquela confiável, veraz e relevante e aquela
çamos com uma das desconfianças com errônea, distorcida e falsa? A elite, mesmo
maior potencial crítico sobre as qualidades aquela pertencente à esfera civil, está apa-
democráticas da internet. Como esta é uma relhada para operar, sem grandes proble-
dimensão particularmente delicada da de- mas, esta distinção, mas é justamente a eli-
mocracia moderna, já que a qualidade da te quem dela não precisaria, em princípio,
participação política depende da qualida- porque possui outras fontes e recursos
de e extensão da informação política dispo- para formar o próprio quadro de conheci-
nível, o modo como esta questão se resolve mento sobre a política.
é decisivo para um juízo geral sobre a ca- Por fim, o Estado é um provedor de
pacidade que a internet teria de melhorar a informação política. Sobre os estados re-
democracia. pousavam muitas das expectativas sobre o
Não há dúvida sobre a quantidade da potencial de transparência da rede, pois se
informação disponível pela internet nem há esperava que processos, arquivos e bancos
dúvida sobre o fato de ela ser potencial- de dados relativos às decisões que afetam a
mente variada em origem e natureza. Aqui coisa pública fossem abertos ao olhar pú-
o problema, todavia, não é de possibilida- blico através da rede. Ora, o fato é que os

70 Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 27 • agosto 2005 • quadrimestral


estados são ainda quase completamente governo, das corporações ou dos gru-
parcimônia informativa e reserva de infor- pos de pressão de liberar apenas in-
mação. A sua comunicação on-line com o formação seletiva e distorcida (Barnett
público é ainda majoritariamente a produ- 1997, p. 209).
ção de materiais destinados a produzir,
unidirecionalmente, opinião pública favo- II. Desigualdade de acesso. Outro dos
rável ou, no melhor dos casos, a prestação charmes da internet tem sido alvo de inexo-
de informações básicas sobre o funciona- rável crítica, na forma da desconfiança so-
mento do Estado. bre a capacidade que a rede teria de au-
Assim, apesar de dispor de uma ar- mentar o quociente de isonomia política
quitetura que favorece a existência de in- dentre os cidadãos. Há, também, aqui vári-
formação política qualificada e extensa, as os aspectos em jogo.
sociedades contemporâneas não parecem O primeiro aspecto diz respeito ao
ser capazes ainda de empregá-la de forma conceito-chave «inclusão», decisivo em
a assegurar uma coisa e outra. A informa- qualquer modelo de democracia (Dean,
ção política qualificada predominante con- 2003). Uma autêntica experiência de demo-
tinua sendo a dos meios de massa, agora cracia, acredita-se, depende basicamente de
também em formato Web e a informação uma paridade fundamental dentre os cida-
política mais extensamente disponível é, dãos; paridade que deve ser superior e pri-
em geral, de pouca serventia para o públi- mária em face de todas as concretas dispa-
co, pois representa normalmente uma mas- ridades que sobre ela se coloquem posteri-
sa disforme de dados, desprovida, ade- ormente. Daí a busca pela igualdade de
mais, de marcadores de credibilidade. E o oportunidades e pela equanimidade de
Estado se fecha ainda em reserva, silêncio e meios e recursos, fenômenos que impõem
segredo, protegendo-se do olhar público, naturalmente a busca da inclusão de todos
como sempre o fez. os cidadãos na situação onde oportunida-
Este diagnóstico, obviamente, não fe- des, meios e recursos estão disponíveis
cha a questão, apenas substitui uma insen- para a ação política. Ora, sabe-se que ne-
sata laudatio às maravilhas da informação nhuma sociedade, nem mesmo aquelas
política on-line por uma tarefa política, se mais homogêneas, até agora verificou uma
queremos realmente explorar a alternativa distribuição equânime de acesso às oportu-
da internet como instrumento de extensão nidades digitais de participação. Por um
das oportunidades políticas e não acredita- lado, há uma correspondência positiva en-
mos que a democracia desça gratuita e es- tre o grau de homogeneidade na distribui-
pontaneamente do céu. ção de recursos e habilitações sociais e a
velocidade com que a isonomia digital
Se a qualidade de uma democracia in- vem crescentemente se estabelecendo. Por
formada depende da qualidade da in- outro lado, em sociedades profundamente
formação disponível, fontes devem desiguais do ponto de vista econômico e
ser persuadidas a colocarem tanta in- na posse de habilidades educacionais bási-
formação política relevante quanto cas, sem mencionar o que se refere mais
possível no domínio público. Isso especificamente à diferença de níveis de
pode certamente ser promovido por posse de capital cultural, as contrastantes
intervenção do governo – seja por desigualdades de oportunidades digitais
meio de instrumentos legislativos ou parecem incorporar-se tranqüilamente ao
da vontade ministerial –, mas é difícil nosso repertório de desigualdades como
de ver como a existência de uma novas árvores se incorporam, sem mais, à
superhighway por si só pode diminuir paisagem.
a crescente tendência das fontes do Por enquanto, o que se vê em geral é

Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 27 • agosto 2005 • quadrimestral 71


que a distribuição desigual de competênci- por exemplo, a questão da informação polí-
as técnicas, de recursos financeiros e de ha- tica on-line. Mesmo que ela fosse abundan-
bilidades educacionais se transforma numa te e qualificada, só se poderia pensar em
nova desigualdade de oportunidades polí- efeitos da informação política on-line sobre
ticas, que ao invés de resolver as desigual- práticas políticas se levássemos em conta a
dades anteriores, torna-as ainda mais gra- cultura política predominante2. Neste caso,
ves quando o crescente aumento das opor- há de se considerar que à oferta de infor-
tunidades digitais de participação política mação política deve corresponder a exis-
termina por ficar fora do alcance de uma tência de um real e significativo interesse
parcela considerável da população. Por político na esfera civil. Há informação polí-
isso mesmo alguns suspeitam que a estrati- tica disponível, mas há um interesse signi-
ficação social aumentaria com o incremento ficativo do usuário da internet em informa-
das oportunidades digitais, e o fosso que ção política? Temos poucos indícios empí-
separa os ricos e os pobres em informação ricos de haver suficiente vontade e interes-
e em chances de participação acrescentaria se no jogo político, no processo político e
ao patrimônio de uns mais um conjunto de no estado dos negócios públicos para su-
vantagens que a outros não são dadas. perar o senso de apatia predominante na
Em toda parte há evidências de que o cultura política contemporânea. E é difícil
fosso que separa os ricos dos pobres em imaginar que apenas a mudança do meio
oportunidades de acesso à internet vem di- de informação e de envolvimento político
minuindo, numa velocidade maior nos paí- possa alterar a cultura política predomi-
ses altamente industrializados e com maior nante.
dificuldade nos outros países. De toda sor-
te, está evolução tenderá a se estabilizar IV. Os meios de massa continuam predo-
nos limites das classes sociais, isto é, con- minando. Esperava-se que a internet modi-
duzirá no máximo a que os integrantes das ficasse o panorama da comunicação políti-
classes altas e médias tenham um acesso ca, superando os déficits democráticos da
homogêneo ao mundo digital, a prescindir comunicação de massa e, naturalmente, a
de diferenças de sexo, status e idade, por própria influência destes como controlado-
exemplo. No extremo, integrará, através do res da esfera de visibilidade pública, daí a
serviço público, os membros das classes frustração evidente quando se constata que
baixas que possuam capital cultural seme- até agora os meios de massa são os fornece-
lhante àquele das classes superiores. dores prioritários de informação política
Tudo isso certamente não é pouco, relevante (Coombs e Curtbirth, 1998) e que
mas simplesmente replicará o padrão de não há qualquer indício de que tenham o
injustiça social já operando em todas as so- seu lugar ameaçado pela internet.
ciedades. Provavelmente chegaremos a De fato, até agora não há qualquer
igualar as diferenças entre classes estabele- evidência sustentável de que os meios de
cidas por razões econômicas e culturais e massa possam perder o seu lugar de con-
as classes estabelecidas pelas oportunida- trole da esfera de visibilidade pública. A
des digitais. O que não passa de uma iso- internet, nesse caso, não lhes representou
nomia da injustiça. uma ameaça, mas uma oportunidade, pois
crescentemente a indústria da informação
III. Cultura política. Atualmente está em simplesmente se concede uma espécie de
voga uma convocação realista dos defenso- sósia digital. A clonagem digital dos mais
res dos impactos positivos da internet so- importantes meios de massa já é extrema-
bre a participação política a refletir sobre a mente extensa no que diz respeito ao jorna-
cultura política e as suas injunções sobre lismo impresso e é progressiva no que tan-
qualquer tipo de efeito político. Tome-se, ge ao jornalismo de televisão e ao radiojor-

72 Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 27 • agosto 2005 • quadrimestral


nalismo. Não há por que se imaginar que cipais dos estoques disponíveis de infor-
este movimento regrida ou mesmo se esta- mação política atualizada, objetiva e crítica.
bilize. Com isso, a internet não apenas não De perto, a comunicação de massa releva
diminuiu o impacto dos meios de massa um perfil muito mais complicado na sua
como, ao contrário, acrescentou-lhe um ou- relação com a democracia e a política do
tro público consumidor e uma outra zona que a retórica hipercrítica dos anos 90 per-
de influência. Certamente as versões on- mite supor (este argumento se encontra de-
line de um jornal ou uma televisão tendem senvolvido com maior detalhe em Gomes,
a adquirir características da rede como o 2004).
código hipertextual, a interatividade e as
suas peculiaridades de arquivo (Dahlgren, V. O sistema político continua fechado.
2001, p. 46). Por outro lado, essas versões Uma outra objeção aos efeitos positivos da
on-line trazem à internet a lógica dos meios internet para a participação política apóia-
de massa ordinários quando replicam o se nas evidências relativas ao funcionamen-
fluxo unidirecional de comunicação (da in- to do sistema político. Provavelmente esta
dústria para o público), considerado em classe de objeções faz sentido apenas por-
geral um vetor pouco democrático. que uma certa retórica democrática da in-
Dado que o Estado não se tornou um ternet, na sua fé de que o meio constitui ao
grande fornecedor de informação política mesmo o instrumento de comunicação e o
on-line qualificada, como se esperava, e seu conteúdo, prestou pouca atenção à cul-
dado que a grande expansão verificada re- tura e ao sistema políticos. Superada esta
centemente na internet pública obedeceu literatura, descobre-se o óbvio, a saber, que
principalmente a critérios comerciais – in- a mudança do ambiente da comunicação
clusive a critérios e interesses das indústri- não reconfigura automaticamente o ambi-
as da informação, da cultura e do entreteni- ente político nem as convicções que o
mento –, a internet aumentou em muito acompanham. Assim, novamente nos en-
pouco a sua influência alternativa (aos ou- contramos diante de uma frustração que só
tros meios de massa) sobre grandes extra- se explica pelo irrealismo da expectativa
tos de público. O seu poder como fonte al- anterior: um meio de comunicação, per se,
ternativa, capaz de revitalizar o processo não basta para modificar um sistema políti-
democrático, manteve-se, então, pouco sig- co.
nificativo e a sua presença demonstrou-se Vejamos, por exemplo, o caso dos
ainda muito pouco construtiva de uma al- partidos políticos, formidável maquinaria
teração no panorama político (Wilhelm, devotada ao funcionamento da política ins-
2000). A comunicação política com capaci- titucional. Resistiu ao contraste com outra
dade de atingir públicos de massa e produ- gigantesca e socialmente influente maqui-
zir efeito sobre o domínio público e sobre a naria, aquela da indústria e do campo da
esfera política continua sendo aquela pro- informação, adaptando-se onde houve ne-
duzida e distribuída pelos meios de massa, cessidade, impondo-se como e quando
com todos os limites que isso, em princí- pôde, aproveitando-se das brechas no siste-
pio, comportaria. ma que lhe se contrapunha. Por que não
Esta, porém, pode ser em grande par- haveria de resistir à internet, que é muito
te uma falsa questão. Talvez tenha chegado mais flexível, ainda em formação e maleá-
o momento de pelo menos se desafiar a vel? Ora, os partidos políticos adaptam-se
tese de que os meios de massa se tornaram com velocidade à época e à voga da inter-
intrinsecamente antidemocráticos. Há certa- net, mas, pelo menos por enquanto, subs-
mente ainda muito espaço para a delibera- tancialmente para dela servir-se instrumen-
ção pública através dos meios de comuni- talmente para fazer o que sempre fizeram:
cação e estes são ainda os provedores prin- propaganda, política de imagem, condução

Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 27 • agosto 2005 • quadrimestral 73


da opinião pública. Aliás, como correta- lhes têm sido mais seguro e próspero do
mente destaca Bucy e Gregson (1997, p. que o mundo off-line.
358), “dada a tendência dos partidos tradi- No rol dos paradoxos que comprome-
cionais a normalizar a atividade política, tem a performance democrática da internet
esperanças de uma radical transformação está, por exemplo, o anonimato. Antes, não
da política, mesmo no ciberespaço, presu- se via na possibilidade de participar de de-
mivelmente não se realizarão”. Os partidos bates ou produzir informação anonima-
são uma máquina para a normalização, isto mente nada além de vantagens para a de-
é., um aparelho de assimilação, de enfra- mocracia. Da perspectiva do debate, por
quecimento de alternativas ousadas, de exemplo, o anonimato representaria efeti-
manutenção do seu sistema de vida, de for- vamente uma vantagem porque, como diz
ma que as forças que defendem a internet Jensen, “o status, o trabalho e a educação
como alternativa teriam que representar do debatedor perderiam importância e a
um contrapoder muito mais forte do que qualidade dos argumentos se tornaria a
atualmente representam para ter alguma questão-chave”. Hoje, começam a despon-
chance contra eles. tar os aspectos negativos implicados no
anonimato, porque se sabe que este “pode
VI. Liberdade e controle. No momento da levar à irresponsabilidade, ao hate speech e
mais inflamada retórica emancipatória da ao declínio de uma cultura de debate” (Jen-
internet, a rede era entendida como uma sen, 2003, p. 358).
reserva ambiental protegida contra qual-
quer injunção de controle e filtro e dedica- VII. O panótico e a ciberameaça. O charme
da a cultivar a plena liberdade de expres- libertário da internet está definitivamente
são. Liberdade que, naturalmente, deveria em crise. À retórica entusiasmada que a
ser considerada automaticamente como considerava uma espécie de maravilha de-
uma virtude democrática. mocrática parece se contrapor agora uma
O modelo de democracia liberal-indi- retórica paranóica na qual o universo digi-
vidualista conhecido como libertarianismo tal se converte em instrumento do mal. E
encontrava na forma do ciberlibertarianis- há hipérboles de um lado e do outro.
mo a sua ponta-de-lança. Primeiro, claro, o universo digital re-
Rapidamente se descobriu, entretanto, forçou imensamente a fantasia de um big
que a equação segundo a qual a liberdade brother eletrônico, isto é, um sistema de es-
sempre está do lado da democracia e o con- pionagem high-tech controlada por um
trole do lado da tirania é só um artifício centro qualquer de poder. Nas palavras de
retórico do liberalismo na sua forma mais Hubertus Buchstein (1997, p. 250),
extremada. Há informação má, perigosa,
criminosa, falsa, ofensiva à dignidade hu- a mudança do dia-a-dia político na
mana, injuriosa e antidemocrática e defen- rede irá aumentar a capacidade de
der o seu direito de existir não é o mesmo controle de agências do governo e de
que lutar por direitos civis no ciberespaço, companhias capitalistas. Dado o fato
como querem os libertarianistas, mas enga- de que praticamente cada movimento
jar-se na proteção do direito ao hate speech, singular na rede deixa rastros digitais
ao racismo publicado, à discriminação de que se podem seguir, as novas tecno-
minorias (Gomes, 2002). E se na internet de logias da informação e da comunica-
fato floresce um espaço da liberdade de ex- ção permitem a um pequeno número
pressão e de experiência democrática, ela de pessoas, do governo e de agências
igualmente se transformou no paraíso dos corporativas, por exemplo, monitorar
conservadores, da ultradireita, dos racistas e praticamente controlar um enorme
e dos xenófobos, um refúgio que, aliás, número de pessoas.

74 Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 27 • agosto 2005 • quadrimestral


Ademais, a experiência americana do promessas de efeitos sociais. Recursos tec-
11 de setembro e a descoberta do emprego nológicos são instrumentos à disposição de
da internet pelo terrorismo confundiram al- agentes sociais, estes sim com capacidade
guns parâmetros de julgamento e pelo me- de fazer promessas ou de frustrar esperan-
nos a retórica popular está indecisa sobre ças. A internet não frustrou expectativas de
se a internet, que além disso já vem sendo participação política porque tampouco po-
associada à pedofilia, está para o bem ou deria formular promessas de transformação
para o mal. A codificação por criptografia, da democracia. É um ambiente, um meio
antes considerada um instrumento para que, como ainda é claro para todos, está
proteger a comunicação entre privados da pleno de possibilidades, desde que as soci-
injunção dos controladores on-line, agora edades consigam dela retirar tudo o que de
virou paradoxalmente a razão de mais uma vantajoso à democracia pode oferecer (Ha-
inquietação, também em nome de valores mlett, 2003). E aparentemente a sociedade
democráticos. civil e o Estado não têm ainda conseguido
explorar plenamente as possibilidades fa-
Agora se teme que as novas técnicas voráveis à democracia que a internet con-
de criptografização permitam ao cri- tém.
me organizado, terroristas, traficantes Há, porém, algumas deficiências de
de drogas e espiões em escala interna- argumento que provavelmente torna mais
cional o uso da rede para comunica- complicada a compreensão do potencial
ções não-controláveis. Esta possibili- democrático da internet. Primeiro, a contra-
dade levou à formação de uma coali- posição elementar e seca entre internet e
zão de críticos da internet que inclui meios tradicionais de comunicação. O am-
desde feministas querendo banir ma- biente de comunicação que a internet cons-
teriais sexistas, até a polícia e agências titui não se justapõe, mas provavelmente
do governo temendo a comunicação chegará a incluir praticamente as estrutu-
criptografada por bandos internacio- ras, princípios e funções das indústrias da
nais de terroristas ou espiões, até cultura, do entretenimento e da informa-
companhias privadas desejosas de as- ção. Muito provavelmente teremos uma in-
segurar os copyrights, até tipos de ternet corporativa, industrial, ainda maior e
conservadores dos valores familiares mais intensa, convivendo com uma internet
tentando proteger a moral social pública e privada, em combinações as mais
(Buchstein, 1997, p. 252). variadas, com efeitos políticos ainda a se-
rem determinados. Provavelmente, a con-
Na verdade, o que está em crise é uma traposição nítida entre a internet livre e a
concepção unidimensional da internet, que serviço da liberdade e dos interesses públi-
nela divisava apenas um instrumento para o cos e particulares, de um lado, e os velhos
progresso e para a democracia. Aparente- meios de massa controladores e a serviço
mente, também aqui o que pode ser usado dos interesses de mercado, do outro, per-
para o bem pode igualmente o ser emprega- derá rapidamente sentido, devendo ser
do para o mal. E a internet, seus aparatos, substituída por uma tipologia mais com-
sistemas e agentes tanto podem servir à de- plexa e flexível.
mocracia quanto ao seu contrário. Ademais, há um segundo argumento
que não nos leva muito longe na avaliação
da potencialidade democrática da socieda-
5 Para concluir de contemporânea. O surgimento da inter-
net no seu formato Web acontece quase
O que dizer de tudo isso? Recursos tecno- contemporaneamente ao estabelecimento
lógicos não podem frustrar nem realizar de uma inflexão extremamente desencanta-

Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 27 • agosto 2005 • quadrimestral 75


da e crítica sobre as possibilidades demo- Como corretamente apontou Peter
cráticas dos meios de massa. Talvez por Dahlgren, “a questão hoje não é tanto como
isso mesmo ela tenha parecido naquele a internet vai mudar a vida política, mas,
momento como o modelo das nossas espe- sobretudo, o que pode motivar mais pesso-
ranças democráticas. Estabeleceu-se uma as a ver-se como cidadãos de uma demo-
simetria com o sinal invertido: quanto mais cracia, a envolver-se na política e – para
intensamente alguns falavam contra os aqueles que têm acesso – a empregar as
meios de massa já estabelecidos tanto mais possibilidades que a rede ainda oferece.
intensamente alguns falavam em favor do Algumas respostas deverão ser encontra-
novo meio emergente. E facilmente os dis- das na rede mesma, mas a maioria reside
cursos entregaram-se a hipérboles nos dois nas nossas circunstâncias sociais” (2001, p.
sentidos, para falar mal da televisão e dos 53). É preciso, então, que se saia o mais ra-
jornais de massa, de um lado, e para falar pidamente possível da retórica do diagnós-
bem da internet e seus dispositivos, do ou- tico (positivo ou negativo) para uma pers-
tro. Os discursos, de algum modo, devem pectiva de responsabilidade e tarefa .
ter-se contaminado reciprocamente. Quinze
anos depois, talvez se possa admitir o exa-
gero retórico num discurso quanto noutro. Notas
De forma que nem a internet poderia
assegurar, a prescindir da cultura e do sis- 1 Há uma literatura sobre comunicação e política bastante
tema políticos, tudo aquilo que dela se volumosa com forte ênfase na demonstração da deficiên-
queria esperar em termos de incremento da cia circunstancial e estrutural da comunicação de massa
participação democrática, nem os meios de no que tange à qualificação da cidadania, dentre as
massa significam apenas indigência e misé- quais destacam-se Patterson, 1994; Blumler e Gurevitch,
ria democrática. Em ambos os casos, nada é 1995; Entman, 1989; Yengar e Kinder, 1987; Postman,
definitivo e se dá automaticamente. Na ver- 1985; Jamieson, 1992 e Fallows, 1997.
dade, o verdadeiro é provavelmente o con-
trário disso: de um lado é preciso mano- 2 Stephen Coleman (1999: p. 17) ilustra, a meu ver, ade-
brar socialmente a internet para que as suas quadamente esta situação: “The factor which determi-
possibilidades se transformem em oportu- nes whether ICTs serve as democratizing force is the
nidades democráticas3, de outro lado, há political culture in which they develop. Clearly, a public
ainda espaço para manobra no que tange which opted (by autonomous choice rather than market
ao rádio, jornais e televisão no sentido de imposition) to use the vast expansion of digital
que eles cumpram um importante papel television channels to become more intimately involved
para uma democracia centrada na cidada- in game shows and tele-shopping rather than empower-
nia ativa. Seria estúpido imaginar que a es- ing themselves in relation to government would be either
fera civil pudesse prescindir, na sua tentati- complacently indifferent or happy with the delivery of
va de aumentar a sua capacidade de influ- government or both. There is no reason to force people to
enciar a decisão política, do emprego dos be informed, as long as they are sufficiently informed to
meios de comunicação de massa - que ain- know what they’re missing”.
da controlam a esfera de visibilidade pú-
blica da política - supondo que a internet 3 Neste sentido, estou disposto a concordar com Kirsi
sozinha teria a capacidade de lhe devolver Kallio e Jyrki Käkönen quando falam que o problema
as oportunidades de participação política aqui é de estrutura e de intervenção no nível estrutural
de que necessita. Tanto a internet quanto os (2003, p. 3): “To our understanding the problem could
meios tradicionais de massa devem ser ex- be that both politics and democracy do not anymore
plorados, isso sim, no sentido de que se do- have a real meaning in current political structures and
brem ao interesse público. Como isso pode therefore people are loosing their interest in politics. In
ser feito, entretanto, já é uma outra história. case this is a justified conclusion e-democracy fails to

76 Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 27 • agosto 2005 • quadrimestral


increase democracy. It only creates an illusion of COOMBS, W.T.; CUTBIRTH, C.W. Mediated political
democratic participation. In case the problem is more communication, the Internet, and the new knowledge
structural than just lack of participation the whole elites: prospects and portents. Telematics and Informatics, 15,
question about e-democracy has to be connected to de- 1998, p. 203-217.
and re-construction of social and political structures”.
CONWAY, M. M. Political Participation in the United States, 3a. ed.
Referências Washington, DC: CQ Press, 2000.

ALBUQUERQUE, A.; SÁ, S. A tragédia dos ursos na China CURRAN, J. Mass Media and Democracy: A Reappraisal.
e outras mensagens: observações sobre e-política e In: CURRAN, J.; GUREVITCH, M. (Org.) Mass Media and
globalização In: FAUSTO NETO, A. et al. (Org.) Práticas Society. London: Edward Arnold, 1991, p. 82–117.
mediáticas e espaço público. Porto Alegre : Editora da PUC/
RS, 2001, p. 143-181. DAHLBERG, L. Democracy via Cyberspace. New Media &
Society, 3(2), 2001, p. 157–177.
BARBER, B. Strong Democracy: participatory politics for a new
age. Berkeley: University of California Press, 1984. DAHLGREN, P. The Public Sphere and the Net. In:
BENNETT, W. L. e ENTMAN, R. M. (Org.) Mediated
BARNETT, S. New Media, Old Problems: new technology Politics: Communication in the Future of Democracy.
and the political process. European Journal of Communication, Cambridge: Cambridge University Press, 2001, p. 33-55.
12 (2) 1997: p. 193–218.
DEAN, J. Why the Net is not a Public Sphere. Constellations,
BERELSON, B. Democratic Theory and Public Opinion. 10 (1), 2003, p. 95-112.
Public Opinion Quarterly, 16 (3), 1952: 313–30.
DOWNEY, J.; FENTON, N. New Media, Counter Publicity
BLUMLER, J.G.; GUREVITCH, M. The Crisis of Public and the Public Sphere. New Media & Society, 5 (2), 2003, p.
Communication. London: Routledge, 1995. 185–202.

BUCHSTEIN, H. Bytes that Bite: The Internet and Deliberative ENTMAN, R. M. Democracy without Citizens: Media and the
Democracy. Constellations, 4 (2), 1997, p. 248-263. Decay of American Politics. Oxford: Oxford University
Press, 1989.
BUCY, E. P.; D’ANGELO, P. The Crisis of Political
Communication: Normative Critiques of News and GIBSON, R. Elections Online: Assessing Internet Voting in
Democratic Processes. Communication Yearbook 22, 1999: p. Light of the Arizona Democratic Primary. Political Science
301–39. Quarterly, 116 (4), 2001, p. 561-583.

BUCY, E. P.; GREGSON, K. S. Media participation: A GIMMLER, A. Deliberative Democracy, the Public Sphere and
legitimizing mechanism of mass democracy. New Media & the Internet. Philosophy & Social Criticism, 27 (4), 2001, p.21–39.
Society, 3 (3), 2000, p. 357–380.
GOMES, W. Internet, Censura e Liberdade. In: PAIVA, R. (Org.)
CARLSON, T.; DJUPSUND, G. Old Wine in New Bottles? The Ética, Cidadania e Imprensa. Rio de Janeiro: Mauad,
1999 Finnish Election Campaign on the Internet. Harvard 2002, p. 133-164.
International Journal of Press Politics, 6 (1), 2001, p.68-87.
GOMES, W. Transformações da política na era da comunicação de massa.
CHOUCRI, N. CyberPolitics in International Relations. São Paulo: Paulus, 2004.
International Political Science Review 21(3), 2000, p. 243–263.
HELD, D. Models of democracy. Stanford: Stanford University
COBB, R.W.; ELDER, C.D. Participation in American politics: The Press, 1987.
dynamics of Agenda-Building, 2a. ed. Baltimore, MD:
Johns Hopkins University Press, 1983. HACKER, K.L. Missing Links in the Evolution of Electronic

Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 27 • agosto 2005 • quadrimestral 77


Democratization. Media, Culture & Society, 18 (2), 1996, p. Political Life in Cyberspace. New York, Routledge, 2000.
213–232.
YENGAR, S.; KINDER, D. R. News that Mathers: Television and
HAMLETT, P. W. Technology Theory and Deliberative American Opinion. Chicago: The University of Chicago
Democracy. Science, Technology, & Human Values, 28 (1), Press, 1987.
2003, p. 112-140.

JAMIESON, K. H. Dirty Politics: Deception, Distraction, and


Democracy. Oxford: Oxford University Press, 1992.

JENSEN, J.L. Public Spheres on the Internet: Anarchic or


Government-Sponsored - A Comparison. Scandinavian
Political Studies, 26 (4), 2003, p. 349-374.

KALLIO, K.; KÄKÖNEN, J. (2002) Internet in improving


democracy? Some critical remarks. Trabalho apresentado no
Euricom colloquium: Electronic networks and demo-
cratic engagement, Nijmegen, 2002. Disponível na
internet: http:// baserv.uci.kun.nl/~jankow/Euricom/
abstracts/N%20Kallio%20&%20Kakonen.htm.

MAIA, R. Redes cívicas e internet: do ambiente informativo


denso às condições da deliberação pública. In: EISEN-
BERG, J.; CEPIK, M. (Org.) Internet e política: Teorias da
democracia eletrônica. Belo Horizonte: Editora da
UFMG, 2002, p. 46-72.

MILBRATH, L.W. Political Participation: How and why do People


get involved in Politics? Chicago: Rand McNally, 1965.

NEUMAN, W.R. The Paradox of Mass Politics: Knowledge and


Opinion in the American Electorate. Cambridge, MA:
Harvard University Press, 1986.

PATTERSON, T. Out of Order. New York: Vintage Books,


1994.

POSTMAN, N. Amusing Ourselves to Death: Public Discourse in


the Age of Show Business. New York: Penguin Books,
1985.

SCHUDSON, M. The Good Citizen: A History of American


Civic Life. New York: Free Press, 1998.

VERBA, S.; SCHLOZMAN, K. L.; BRADY, H. E. Voice and


Equality: Civic Volunteerism in American Politics.
Cambridge, MA: Harvard University Press, 1995.

WILHELM, A. G. Democracy in the Digital Age: Challenges to

78 Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 27 • agosto 2005 • quadrimestral

Você também pode gostar