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NÚMERO 5: A CAPOEIRA GOSPEL

O lançamento de um post sobre a Capoeira Gospel enfureceu a massa capoeirista.


Acusações de apropriação cultural e palavras de ordem contra evangélicos foram a tônica
da polêmica.

Os a favor

Os defensores da Capoeira Gospel dizem que estão simplesmente louvando a Cristo e


exercendo a sua fé em encontros particulares, onde não ofendem as crenças alheias.

Dizem também que os capoeiristas gospel conseguem chegar onde os outros não chegam,
estabelecendo pontes dentro das igrejas e quebrando preconceitos das famílias que
anteriormente demonizavam a Capoeira.

Os contra

Os críticos os associam com um movimento maior, que envolveria um projeto de


assimilação da cultura negra e a manipulação por políticos da bancada evangélica.

A Capoeira Gospel seria apenas mais uma faceta do racismo brasileiro, tentando apagar a
conexão entre a Capoeira e a África e suas tradições, como as religiões de matriz africana.

O legado
Existem algumas questões que seguirão sendo ponto de discussão neste tema.

O que os Capoeiras de Cristo ou a Capoeira Gospel propõem é uma releitura da tradição,


excluindo cânticos que citem Orixás ou Santos Católicos e compondo novas cantigas de
louvor a Jesus.

Isso suscita algumas questões:

Uma primeira temática é que os capoeiristas tradicionais seguirão tendo uma enorme
resistência a essas modificações, pelo simples fato da Capoeira ser uma arte que se baseia
na repetição das tradições.

Um segundo problema é que existem correntes pentecostais que são historicamente


alinhadas com a opressão contra a cultura de matriz africana. Não são poucos nem distantes
os ataques a casas de Candomblé ou Umbanda no País incentivados por segmentos
pentecostais.

De acordo com os críticos, em última instância um capoeirista gospel estaria se


posicionando politicamente ao lado dos que atacam a cultura negra e consequentemente
lutando contra a própria Capoeira.

E um último problema é que segundo os críticos, o capoeirista gospel estaria alinhado com
a bancada evangélica no governo, juntamente com os apoiadores da bancada ruralista, a das
armas e outras linhas de direita.

O que é certo é que o crescimento do movimento pentecostal no Brasil está trazendo mais
capoeiristas gospel e que o debate não acabou.

Sendo a Capoeira um cultura popular, não é de se estranhar que ela e a religião evangélica
estejam ocupando os mesmos espaços e tendo que dialogar, pois é no seio do povo que os
pentecostais têm sua força.

Conclusão

Processos complexos não podem ser respondidos de maneira simples e os assuntos acima,
antes de serem causa, são sintomas de questões muito mais profundas envolvendo assuntos
delicados por natureza: envolvimento da cultura popular com cultura de massa;
rompimento de paradigmas educacionais; sexismo, machismo e violência contra a mulher;
racismo, religião e apropriação cultural.

As polêmicas estão aí e 2018 tem tudo para ser um ano de grandes debates.

Axé!

Mestre Ferradura
PS – Deixe sua opinião nos comentários abaixo! Compartilhe e participe dos debates você
também!

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← CAPOEIRA FALA BEM?

21 de junho de 2017
| 175 Comentários

Nesta semana viralizou um vídeo em que um mestre de Capoeira, em pleno evento


feminino, suspende no ar uma capoeirista e beija suas nádegas.

Ao colocá-la no chão, recebe uma cotovelada e um tapa, revidando imediatamente com um


chute que a joga longe.
Todos os elementos de uma notícia bombástica estão ali: exposição pública do corpo
feminino, violência gratuita, covardia e um terreno fértil para o esporte preferido dos
tablóides sensacionalistas: fofoca.

Teria sido lindo se algum capoeirista presente, QUALQUER UM, independentemente de


gênero, idade ou tempo de Capoeira, tivesse entrado na roda e gritado: “Iê! Parou!” e dito:
“Enquanto não se discutir o absurdo da situação que houve aqui não tem cabimento
continuar a roda!” e aberto uma roda de conversas para debater a questão, expondo o
ridículo do ato impróprio. Se a roda é de todos, todos são responsáveis.

Mas isso não aconteceu. Nunca acontece. A indignação vem depois, via facebook.

Quantas vezes não vimos situações de opressão ou de violência muito parecidas com essa,
em que ninguém falou nada?

Três coisas me chamam a atenção nesta roda:

1. A normalização da violência contra a mulher: o corpo da mulher é historicamente


explorado pelos homens, que se sentem no direito de fazer com ele o que bem
entendem, ao ponto do tal mestre se sentir no direito de beijar a bunda da sua
oponente e ninguém parar a roda para falar nada.
2. A normalização da violência na Capoeira: uma roda de confraternização tem um
jogo onde após uma suspendida, uma cotovelada, um tapa e uma bicuda ninguém
para a roda para falar nada.
3. A normalização da violência discursiva: um bombardeio de comentários que
incitam ainda mais a violência se espalham como fogo no facebook. Todos falamos
muito.

VIOLÊNCIA
O tal mestre provavelmente foi convidado para o evento e certamente não foi a primeira
vez que resolveu mostrar toda sua valentia. Sobram dúvidas: quem o convidou? Por que
ninguém falou nada? Por quê não se parou a roda?

O cara errou. Errou feio. Errou de um jeito que nunca mais vai errar. Qualquer tipo de
violência contra uma mulher deve ser reprimida. Ponto final. Não há o que relativizar.

Mas cooommooo isssoo foi aconteceeeer??? Uma dúvida: será que ele é tããããooooo
diferente dos demais capoeiristas que estavam ali? Ou de todos nós?

O cara está sendo execrado e linchado publicamente, recebendo dezenas de ameaças dos
valentões do facebook, que lhe enviam convites virtuais para visitar suas rodas e resolver as
coisas do jeito Maçaranduba de ser.
Nos comentários do vídeo aparecem homens-machos-masculinos super interessantes,
dizendo: “Se fosse minha irmã eu quebrava no pau” ou “Ela é namorada de alguém!
Merece respeito”.

Amigo, olha só: se porrada resolvesse e educasse, a cadeia tava cheia de gente educada e
regenerada. Não adianta querer ensinar o cidadão que violentou com a mesma moeda da
violência. Na política do olho por olho, todos terminam cegos. E não, não é porque ela é
namorada ou irmã de alguém que o beijo na bunda foi desrespeitoso, ok?! É desrespeitoso
porque foi uma opressão e ponto final.

MORALISMO
O curioso é que de repente aparece um monte de guardiões da moral, todos super
revoltados, como se o distinto cidadão que fez o ato tivesse vindo de outro planeta ou de
outra arte qualquer. Ele era um marciano praticante de yoga tântrica? Não. É um capoeirista
como tantos outros que saiu do seu país para tentar a sorte em terras estrangeiras, levando
consigo o seu título de mestre de Capoeira e sua vivência pessoal de ser fruto de
uma cultura machista e violenta. O beijo, o chute, o tapa, a cotovelada e todo o resto da
cena não se deu numa arte distante de um país desconhecido. Pelo contrário, a cena é bem
comum na Capoeira e no Brasil em geral, com algumas variáveis. Na resolução de conflitos
da Capoeira, o machismo e a violência são regra, não exceção.
O QUE EU TENHO EM COMUM COM
ELE?
É só dar uma breve pesquisa e você vai ver que tem muitos, mas muitos amigos em comum
com ele no facebook. Surpreso? Não deveria. Saiba que entre os seus amigos há misóginos,
homofóbicos, racistas e imbecis de todas as categorias. Como somos produto do meio, isso
quer dizer alguma coisa sobre nós mesmos…

É bem mais fácil xingar o vacilão do que pensar que ele tem mãe, esposa, filha; que tem um
mestre de Capoeira; que tem alunos; que é mais um representante da Capoeira na Europa,
que já apareceu até no Luciano Huck (pesquisa aí no Youtube)… Que na verdade, ele é
muito parecido com o espelho que temos em casa.

EU NÃO SOU MACHISTA! ELE É QUE


É!

Todos contra o machismo! Será mesmo? Amigo guardião da moral: não é você que se irrita
com a forma de sua namorada de se vestir? Não é você que sempre que vê uma mulher na
rua se sente no direito de dizer um “pssssiiiiuuuu”? Não é você que no meio de um evento
de Capoeira começa a puxar papo torto com garotas que não te deram abertura para isso?
Não é você que chega num curso de Capoeira já contando as horas para o momento de
relax onde você vai tentar dar em cima das alunas? Não é você que confunde a admiração
de uma mulher pela sua Capoeira com interesse sexual pelos seus atributos físicos? Não é
você que é casado com uma capoeirista mas faz questão de que todo mundo saiba que você
é pegador sinistrão cheio de amantes?

Quem nunca viu um mestre ou um futuro mestre de Capoeira ser inconveniente com
mulheres, seja na roda, seja nos comentários, seja no samba ou nas festas?

A ideia de que o capoeirista tem que ser “pegador” faz parte em grande parte do nosso
meio. Assédio sexual na Capoeira é quase sempre jogado para baixo dos panos, com as
mulheres tendo que se afastar e sendo constantemente colocadas à prova ao se esquivarem
dos ataques físicos que são piores fora da roda do que dentro dela.

Será que não chegou a hora dos capoeiristas homens refletirem mais seriamente sobre suas
próprias ações? Será que somos tão diferentes assim do agressor em questão?

SEXO
Uma musiquinha tirada a engraçadinha era cantada até pouco tempo nas rodas de Capoeira
e ainda pode ser encontrada nos sites de letras:
De um tempo para cá a coisa melhorou. Pelo menos não se ouve este tipo de imbecilidade
na maioria das rodas, mas a sexualização continua sendo parte integrante da nossa cultura.
Por exemplo, quando colocamos a palavra “Capoeira” no Youtube qual é o vídeo com
recorde de visualizações? Mestre Bimba? Mestre Pastinha?

Não. O primeiro é este, com mais de 22 MILHÕES de visualizações

Quando se liga o vídeo não há nada de Capoeira e sim uma cena de samba. Será que isso
quer dizer algo?

A figura feminina faz parte constante dos papos de bar pós-roda. “Comi essa, essa e
aquela”, “Viu aquela gostosa de abadá coladinho?”, “Vai ter muita mulher no evento de
beltrano?”
Quando as mulheres reclamam do machismo elas são vistas como “exageradas” ou então
“estão de mi-mi-mi”.

Neste meio tempo um indivíduo se sente na liberdade de beijar a bunda da oponente na


roda, assim como outro se sente na liberdade de chamá-la de “gostooosssaaa” na esquina ou
mandar o clássico “te chupo toda” no meio da rua.

VIOLÊNCIA

Seguindo nas buscas do Youtube, chegamos em vídeos deste tipo. Os mais de 2 milhões de
visualizações em um ano não dizem nada sobre nós? Sobre o que valorizamos?

Agora, sempre que aparece algum capoeirista desmaiando um adolescente numa roda ou
bicando uma mulher num evento brota pacifista de todos os cantos.

Amigo pacifista: não é você que acha maneirão tatuar a testa do ladrão de bicicleta? Não é
você que vota em quem diz que “bandido bom é bandido morto”? Que prefere ter filho
morto do que gay? Que incita os alunos a darem chutes sem controle, tapas na cara e
quedas de wrestling? Não é você que que quando alguém se machuca na roda é o primeiro
a dizer: “Deu mole! Se estivesse treinando mais isso não acontecia”?

Não é você que incentiva uma Capoeira cheia de “raça”, “guerreira”, “pronta para tudo”?

Um pouco mais de bom-senso faz bem para todo mundo: não se deveria suspender ninguém
numa roda de Capoeira. Tampouco dar um tapa na cara e uma cotovelada, muito menos
bicar a caixa torácica de uma pessoa com metade do seu peso. Beijar as nádegas é apenas
mais um ato surreal num festival de anomalias que longe de serem alienígenas, dizem
muito de nós mesmos.

Se começarem a tatuar cada um dos vacilos que vemos na Capoeira vai faltar testa e tinta…
FOFOCA
Diariamente são postados centenas de vídeos e textos interessantes sobre cultura, política,
corpo e outros assuntos super interessantes à Capoeira. No entanto, vídeos escandalosos e
mensagens de fofoca fazem mais sucesso. Basta postar algo como: “Tem muito capoeirista
comprando seu título de Mestre” ou “Olhe o trabalho de beltrano: isso não é Capoeira!”
para se ganhar uma visibilidade baseada na fofoca. Quem nunca viu um mestre de Capoeira
que passa a maior parte do seu tempo falando mal do trabalho dos outros?

Essa é a cultura da fofoca, mas isso é assunto para um próximo post! Por hoje é só!

Axé!

Mestre Ferradura

PS – Compartilhe este post e comente suas ideias! Se você gostou ou se você acha que
estou de “mi-mi-mi”, diga aí e marque os amigos para debatermos juntos!

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CAPOEIRA FALA BEM? →
175 thoughts on “CAPOEIRA: VIOLÊNCIA,
SEXO E FOFOCA”

1.

Mestre Penninha RJ on 21 de junho de 2017

Acho que situações que deveriam parar a roda é generalizada e não somente em
casos como esse! Quanto a roda ser de todos discordo já que o ritual é iniciado e
termina com o gunga e quem o segura. Roda na rua e de rua são duas coisas
diferentes. O que está faltando hoje é de Mestres, Contramestres e Professores se
colocando a favor da capoeira e não dos capoeiristas! Forte abraço para todos da
grande família capoeirista!!!

Responder

omriferra on 22 de junho de 2017

Olá, amigo Mestre Peninha. O gunga pode ser um instrumento sagrado ou apenas
um pedaço de madeira, dependendo de quem o segura.
Obrigado pelo comentário. Forte abraço!

Responder

2.

Gisele Figueira on 21 de junho de 2017

Simplesmente um resumo de nossa atualidade. Não tem como ser mais pontual.
PERFEITO MESTRE.
Instrutora Gisele Figueira – Belém/Pa

Responder

omriferra on 22 de junho de 2017

Sigamos juntos, Gisele!Obrigado pelo comentário. Forte abraço!


Responder

3.

Renata Martielo on 21 de junho de 2017

Boa camarada! Criticar, comentar, reproduzir não mudam uma sociedade. Vamos
debater aberta e francamente, isso sim!

Responder

omriferra on 22 de junho de 2017

É isso, Renata! Te admiro! Abraço!

Responder

4.

Toninho Muricy on 21 de junho de 2017

Ferradura, muito boa sua reflexao. Mas me incomoda um pouco a critica a quem
critica o acontecido. Entendo seu ponto de vista, mas acho que nao se deve tambem
“passar a mao na cabeça” numa situaçao dessa, embora nao seja isto o que vc esta
fazendo. É preciso se criticar e refletir este tipo de atitude. Ninguem é perfeito, mas
isso nao nos tira o direito de criticar e reclamar.E pessoalmente acho que a menina
reagiu ao que o “mestre” fez com ela. É justo ela reagir, nao é justo ele agredir antes
ou depois.
Abs.

Toninho Muricy

Responder

omriferra on 22 de junho de 2017

Obrigado pelo comentário, Muricy. Não há crítica a quem critica. Há crítica ao falso
moralismo. Forte abraço!
Responder

5.

Apache on 21 de junho de 2017

Muito legal Mestre! Primeiro obrigado por abordar tópicos importantes para o
mundo que vivemos. Eu nasci em uma época e família de machismo top e cada dia
que passa e um exercício pra tentar me corrigir!
E parabens por sua coragem de falar e assinar embaixo. Não da mais pra ficar
calado! Abraço

Responder

omriferra on 22 de junho de 2017

Sigamos juntos, amigo! Obrigado pelo comentário. Forte abraço!

08 de março de 2017
| 12 Comentários
Poucas coisas geram tanta polêmica no mundo da Capoeira como a palavra “Mestre”.

A primeira pergunta que geralmente um capoeirista faz ao outro, curioso em saber quais
conexões ambos têm em comum é: “Quem é seu mestre?”, seguida de: “Ele foi formado
por quem?” ou “Qual é o seu grupo?”.

Entre os mestres é praticamente unânime o discurso sobre a necessidade de um capoeirista


se formar dentro de uma escola ou grupo de Capoeira e a rejeição pelos capoeiristas “free-
lancers”, avulsos, mesmo que estes joguem, toquem e cantem muito bem. É natural,
portanto, que o próprio título “Capoeira sem Mestre” provoque em muitos um incômodo,
pois a noção de pertencimento na Capoeira está muito associada ao fazer parte e ser aceito
numa comunidade que compartilha valores comuns.

Não pretendemos entrar no mérito sobre o que dá autoridade para que qualquer um se
julgue no direito de dizer se o outro é mais ou menos legítimo por ter ou não mestre. Isso é
assunto para outro texto. Neste aqui vamos discorrer simplesmente sobre um fenômeno que
existe, um fato real e inexorável: existe Capoeira sem Mestre. Existe há muito tempo e
sempre vai existir.

Existe Capoeira sem Mestre há muito tempo

A história da Capoeira pode ser dividida em dois momentos, como defende Nestor
Capoeira:

1. A era dos valentões

Manduca do Praia, Besouro Preto, Nascimento Grande ou outros desordeiros famosos não
têm a alcunha de “mestre” no imaginário coletivo da Capoeira e quando os capoeiristas
modernos se referem a eles utilizam somente seus nomes.

2. A era dos educadores

Já Bimba, Pastinha, Waldemar e a geração que logrou dar visibilidade positiva à Capoeira
são respeitosamente chamados de “Mestre”, sendo uma gafe se referir a estes sem o devido
título antecedendo seus nomes.
Histórico

A transição de uma era à outra se deu na primeira e se acelerou na segunda metade do


século 20. Como a era dos educadores é um fenômeno recente que segue em permanente
mudança, ainda não se chegou a um modelo fixo de ensino-aprendizagem que contemple
todas as variáveis derivadas de seu crescimento e sua difusão pelo mundo. Se hoje em dia é
uma quase unanimidade a ideia da necessidade de pertencimento a um grupo com aulas
presenciais nos moldes da escola tradicional, historicamente nem sempre foi assim.

Ensino à distância na Capoeira

Desde 1907, pelo menos, existem tentativas de se ensinar Capoeira sem a presença de um
Mestre, transmitindo saberes por outros meios, como o livro apócrifo cuja assinatura parece
se referir à “Ofereço, Dedico e Consagro à Distinta Mocidade”.

Detalhe: este livro foi publicado quando os Mestres Bimba e Pastinha ainda eram crianças!
ODC: 1907

Em 1928, quando os Mestres Bimba e Pastinha eram ainda homens jovens, vem o livro de
Zuma, cujo detalhamento o transforma em referência nacional em relação à Capoeira.

1928

Em 1945, no fim da 2a Guerra Mundial, quando mal a Capoeira havia saído do Código
Penal e as escolas de Capoeira dos Mestres Bimba e Pastinha ainda eram fenômeno recente,
sai o livro de Inezil Penna Marinho, um ícone da Educação Física Brasileira.
1945

Seguindo esta tradição de ensino à distância, em 1961 vem o livro de Lamartine Costa, cujo
título foi usado como inspiração deste texto:
1961

Na década de 80, Nestor Capoeira publica seu Pequeno Manual do Jogador de Capoeira.
Este livro já nasceu escrito em inglês, com o título “The Little Capoeira Book”, voltado ao
ensino à distância, desta vez para estrangeiros:
1981

As décadas seguintes veem o nascimento dos vídeos tutoriais em VHS, com diversos
mestres gravando movimentos e cursos para serem comercializados. Na sequência, o VHS
vira DVD e o DVD, mp3. Filmes como “Esporte Sangrento” e videogames como “Tekken”
serviram de referencial pedagógico para milhares de jovens no exterior, que não tinham
acesso às fontes primárias de conhecimento e aprendiam como podiam, consumindo a
informação que chegava pelas TVs.
Eddy Gordo – Tekken

Esporte Sangrento

Com o advento da internet a velocidade da informação se exponencializa, fazendo


verdadeiras comunidades de ensino-aprendizagem por meio das redes sociais, com
capoeiristas transmitindo informação 24 horas por dia em todo o planeta.
Sempre vai existir Capoeira sem Mestre

Existe um motivo simples para acreditarmos que sempre haverá Capoeira sem Mestre: o
sucesso da Capoeira! Conforme se espalha pelo mundo e conquista mais e mais adeptos, o
número de alunos cresce em progressão geométrica, enquanto o número de mestres
formados se mantém sempre em velocidade menor.

Cada vez que a Capoeira chega em uma pequena cidade do interior do Brasil profundo ou
num longínquo país asiático, novos alunos são incorporados à segunda coluna. Neste meio
tempo, pouquíssimos mestres são formados.

Pedagogia do século 21

As novas tecnologias já fazem parte da realidade da geração que iniciou a Capoeira depois
de 2005. Facebook, Youtube e até Whatsapp são mecanismos para transmitir informação.
Se há 20 anos era raro um capoeirista ter mais de 10 fitas K7 com canções, hoje temos
canais de música no Youtube com milhares delas. Se há 10 anos era comum o capoeirista
proibir qualquer tipo de registro e filmagem em seus eventos, hoje em dia os próprios
mestres levam celulares às rodas e publicam os jogos em transmissões ao vivo.
O Instituto Brasileiro de Capoeira-Educação – IBCE

Pensando nesta nova realidade foi lançado o Instituto Brasileiro de Capoeira-Educação


(IBCE), um órgão difusor de metodologias online, voltadas aos professores de Capoeira no
Brasil e no mundo.

O 1o Curso de Capacitação Profissional oferecido pelo IBCE será lançado no dia


27/03/2017. Este curso será uma especialização no Método de Capoeira-Educação
Brincadeira de Angola, metodologia criada pelo Mestre Ferradura e continuamente
aprimorada há mais de 20 anos.

O curso será democrático, terá informações de alta qualidade e o que é melhor, totalmente
GRATUITO.

Quer saber mais?

Clique neste link e inscreva-se para receber informações em primeira mão sobre o Curso de
Capacitação Profissional em Capoeira Infantil, no Método de Capoeira-Educação
Brincadeira de Angola.

WWW.CAPOEIRAIBCE.COM.BR

A partir desta semana virão muitas informações também pelo Canal Abeiramar.tv e pelo
Portal Capoeira. Fique ligado! Axé!

Comente abaixo o que você acha do assunto e compartilhe este texto com seus amigos!

Um abraço!

Mestre Ferradura
Texto de Mestre Ferradura

Imagens: quase todas encontradas na internet. Agradecimentos especiais a Jerohen


Rouxinol pela ajuda com as imagens faltantes.

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← 3 BONS MOTIVOS PARA VOCÊ APOIAR O RED BULL PARANAUÊ (e um para
não apoiar)
CAPOEIRA: VIOLÊNCIA, SEXO E FOFOCA →
12 thoughts on “CAPOEIRA SEM MESTRE”

1.

Denis Piolho Lopes on 08 de março de 2017

Top!!!!!! Grande Mestre Ferradura, espalhando conhecimento!!!!

Responder

2.

Itaborá on 09 de março de 2017


Boa desenvoltura nexte texto. Mesmo o mestre Nestor Capoeira escrevendo um
livro para aquêles que poderiam aprender de longe, o livro foi escrito por um mestre
o que consequentemente dá validade ao que foi publicado.

Responder

BULL PARANAUÊ (e um para não


apoiar)
10 de janeiro de 2017
| 17 Comentários
Em breve haverá as seletivas para a escolha do “capoeirista mais completo do mundo”, no

Red Bull Paranauê, seja lá o que isso significa…

É um marco, porque, até onde eu sei, é a 1a vez na história que uma grande
empresa promove um evento de Capoeira. Promove, não somente patrocina ou apóia.
Tem gente torcendo contra, e apresentam argumentos inteligentes e coerentes. Tem gente
achando o máximo, sem enxergar nenhum problema. Polêmicas a parte, o evento será
grande e promete atrair muita gente!

Então vamos aos 3 motivos de por quê acho que se deve apoiar o evento e 1 para não
apoiar!

Motivo1: Competição na Capoeira não é novidade!

– Capoeiristas como Mestre Bimba e alunos ou os alunos de Sinhozinho fizeram


competição de vale-tudo entre si e contra outras lutas e isso ajudou a promover a Capoeira
desde, pelo menos, a década de 1930.

– Mestre Gato Preto ganhou uma competição de berimbau contra Mestre Canjiquinha, e
isso deu notoriedade a ele e a Capoeira.

– O grupo Senzala ganhou 3 vezes uma competição que ajudou a divulgar a Capoeira,
dando notoriedade nos jornais do RJ, na década de 60.

-As federações esportivas fazem competições de Capoeira desde o tempo do ronca e quem
vai negar a importância que elas tiveram para o crescimento da Capoeira em SP, por
exemplo?

– O pessoal mais novo não conheceu, mas os JEBS, competições feitas nas Universidades,
ajudaram muito a consolidar a Capoeira em muitos locais do Centro-Oeste e do Nordeste,
principalmente.

Motivo 2: Sempre existe O MELHOR

Ser melhor é subjetivo, por isso o que é melhor para um, não é para outro. Da mesma
forma, o que achamos melhor num dia, no outro já não é, mas todo dia, a cada instante,
tomamos decisões baseadas em juízos subjetivos de valor: “o que é melhor neste momento?
Café ou suco? Cinema ou livro?”. Se perguntarmos para as pessoas, no fim de uma roda:
“qual foi o melhor jogo da roda, na sua opinião?”, provavelmente ouviremos respostas
diferentes, mas cada um está julgando baseado no que viu e sentiu ser melhor, segundo seus
critérios pessoais. O negócio é que a Capoeira é uma arte e apreciação de arte é sempre
subjetiva.

Qual o problema de reconhecer o MELHOR?

Não devemos ter medo de dizer que consideramos alguém o melhor na sua área. Numa lista
dos melhores jogadores de futebol de todos os tempos, você tiraria Pelé? E numa lista dos
grandes jogadores de Capoeira, alguém excluiria Mestre Cobra Mansa?

Assim como todos debatem sobre qual foi a MELHOR escola de samba do ano, ou o
MELHOR filme que ganhou o Oscar, ou o MELHOR livro que ganha o PULITZER,
haverá debate sobre quem foi o MELHOR ou mais completo Capoeira. Julgamento de arte,
de qualquer arte, é sempre subjetivo! Mas ser melhor não é vergonha! Eu, capoeirista,
tenho que reconhecer que tem muita gente que é melhor do que eu, em vários aspectos!
Melhor de canto, melhor de jogo, melhor de toque… Que coisa boa! Posso aprender com
eles! Não preciso ser o suprassumo das galáxias do berimbau quando tenho Rafael
Xikarangoma para admirar como alguém melhor!

Motivo 3: A ancestralidade e o exemplo dos mais velhos.

Vários dos antigos estão lá no Red Bull Paranauê, começando por Mestre João Grande e
Mestre Jair Moura, passando por Mestre Nenel e Mestre Itapuã, continuando com Mestre
Jogo de Dentro, Mestre Virgílio, Mestre Lua Rasta e outros.

Julgar que os Mestres mais velhos estão sendo enganados ou que estão se vendendo é
ignorar a inteligência, a visão de mundo e a capacidade crítica de nossos ancestrais
culturais. Se eles estão lá, é porque apóiam a ideia e o conceito como algo positivo para a
Capoeira em geral, mesmo não aplicando a mesma ideologia nos seus trabalhos.

RED BULL MANJA DOS PARANAUÊ?

O skate, o surf, o Jiu Jitsu, o MMA e até mesmo o samba, o rap, o hip-hop ou o rock são
movimentos de massa que, ao serem midiatizados, anos atrás, tinham praticantes que se
consideravam puristas, que afirmavam que a midiatização mataria a alma de suas artes. O
que aconteceu? Justamente o contrário, uma projeção enorme, possibilitando o avanço dos
artistas.

E a Capoeira com isso?

A Capoeira se projeta e carrega a todos em sua trajetória. Muitos criticaram quando do


lançamento do filme “Esporte Sangrento”, do videogame Tekken, quando o Mestre Boneco
vivia nos programas Globo ou mais recentemente, quando Mestres como Sabia ou Gege
carregaram a tocha olímpica. Ainda assim, o crescimento proporcionado por estes
fenômenos ajudou a Capoeira e consequentemente a todos os capoeiristas.

Não importa quem vai ser o campeão do Festival. Ele vai continuar sendo um capoeirista
igual, melhor ou pior que qualquer outro. O bom é que, independentemente do campeão,
todo mundo vai sair ganhando, inclusive quem está criticando.

UM MOTIVO PARA NÃO APOIAR

A Red Bull é uma empresa que faz parte do mundo capitalista, cujo objetivo é somente
gerar lucro e renda. Se você não quer viver a contradição de apoiar o capitalismo, não apoie
o Red Bull! Mas lembre-se que patrocínio da Petrobras é advindo de dinheiro sujo de outra
empresa capitalista. Que edital de apoio do Governo Federal está envolvido com a sujeira
política de sempre. Que o seu smartphone foi construído com mão-de-obra semi-escrava
em algum país asiático e que absolutamente tudo que você come ou veste foi produzido na
lógica da exploração do homem pelo homem. Não se vive no mundo real sem cair em
contradição, pois questões complexas não são resolvidas com respostas simples.

CONCLUSÃO

Não é porque eu não faço competição e não compartilho do paradigma da competitividade


é que não quer dizer que não haja coisas positivas nele. As contradições fazem parte da
Capoeira e é sempre bom dialogar e fazer pontes com todos que a estão defendendo,
mesmo que eu discorde em muitos aspectos. Afinal, eu levo em conta que posso estar
errado.

No mais, o Capoeirista mais completo é aquele que tem coração pra sentir amor pela
Capoeira como um todo, e não somente pela parte que lhe toca.

Axé!

Ferradura

*************************************************************************
****************************************************************

E você? Tem talvez 3 motivos para não apoiar e 1 para apoiar? Ou tem outras idéias a
respeito? Comente e compartilhe para estarmos sempre debatendo e trocando ideias! Quem
troca ideia sai com duas!

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CAPOEIRA SEM MESTRE →
17 thoughts on “3 BONS MOTIVOS PARA
VOCÊ APOIAR O RED BULL PARANAUÊ (e
um para não apoiar)”

1.

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10 de janeiro de 2017
concordo em gênero, número e grau! não gostou, não participa

Responder

2.

Paulo Cesar Ribeiro on 10 de janeiro de 2017

Olá…
A competição dentro da Capoeira é só mais uma vertente dessa rica cultura. Fui
forjado dentro de uma academia de capoeira que viu nas competições um meio de se
sobreviver apenas de capoeira, mas nunca deixando a parte cultural de lado. Hoje eu
não trabalho a competição mas não demonizo quem goste. Meu único medo é que
as competições acabem deturpando nossa arte luta, descaracterizando uma cultura
tão rica.

Axé a todos. Salve capoeira.

Responder

3.

Danylo on 10 de janeiro de 2017

Mestre, fiquei feliz com seu texto.


Você não acha muito pretensioso o nome do evento?

Concordo com “o melhor” mas no caso, eles querem “o mais completo”.

Responder

4.

Muriel capoeira on 10 de janeiro de 2017

Muito lúcido a sua interpretação do Campeonato patrocinado pela Red Bull .


Quanto ao ponto negativo da Red Bull em ser uma empresa capitalista, na atual
conjectura vivemos isso . Se não formos aceitar a Red Bull não podemos aceitar a
Nike por exemplo , pois essa empresa tem seus navios negreiros lotados de criança (
escravidão infantil ) .
O único ponto negativo que vejo é em relação a bebida , pois sabemos os danos que
o produto pode causar no seu organismo se for consumido diariamente, mas cada
um bebe o quer !
A Coca Cola é prejudicial a saúde e está no mundo inteiro sendo umas das maiores
empresas do nosso planeta .
Como disse antes , a Red Bull está patrocinando o evento e cabe aos mestres
direcionarem a campanha( 0u a competição) de um forma produtiva para a capoeira
. Parabéns pelo texto !

Responder

5.

Rafael Barbosa on 10 de janeiro de 2017

Texto sensacional! Parabéns!

Responder

6.

Mestre Fernando Rabelo on 10 de janeiro de 2017

Nem precisava tantas explicações. Ajudei a fazer muitos campeonatos dentro do


Sistema Esportivo da Capoeira. É muito legal, encontram -se amigos que ha muito
nao se viam, a adrenalina sobe, só alegria. To dentro, me orientem como posso
contribuir.

Responder

7.

Scandar Gasperazzo Ignatius on 10 de janeiro de 2017

Um aspecto achei interessante nessa competição da redbull, que é a idéia do


“capoeira mais completo”, que me parece que segue a orientação do Mestre
Canjiquinha sempre repassada pelo Mestre Brasília aos seus alunos. Ele era contra a
divisão da capoeira em tipos diferentes: Angola e regional. Ele dizia que a capoeira
é uma só e o bom capoeirista tem que saber jogar rápido, lento, em cima, em baixo,
jogo de dentro (fechado, sem espaço), samango (jogo de briga), “pãnha laranja no
chão tico-tico” (brincadeira do lenço no meio da roda pra pegar com a boca), aberto,
mandingado, com arma branca (navalha, facão, pau), etc. Acho que esse é um ponto
pra se pensar, vocês não acham? Ainda que cada pessoa vá naturalmente
desenvolver seu próprio estilo, privilegiando um jeito ou outro de jogar, parece um
pouco limitante aceitar a divisão por estilos e treinar só um.

Responder
8.

Mestre Pernambuco on 10 de janeiro de 2017

A capoeira é um conjunto de muitos e muitos anos e não um ato de poucos minutos


pra se tira o melhor.

O melhor pra quem???? Pro sistema capitalista. Pra capoeira de fato e direito não há
melhor ou pior e sim um sistema dominante que não nos da o que é de fato e direito.
A verdadeira liberdade de irmos e formentos e infraestrutura pra arte NEGRA. Que
por ser negra e mesmo assim agregando todas as cores desse nosso país, si assim
possamos fala que é nosso. Não nos deixa implementa uma única lei aprovada em
congresso a 10.639/2003.

Nos der o direito realmente de fato da implementação da lei, lutemos por isso, que
assim a Vitoria será de todos e não de um só.

Responder

9.

JOÃO FELIPE OLIVEIRA on 11 de janeiro de 2017

sou a favor ate porque a competição é uma forma de amadurecimento de qualquer


esporte ,a partir do momento que um club de futebol sai da liga amadora para uma
divisão profissional ela ganha merito e reconhecimento e mais pessoas torcendo por
ela assim é a capoeira saindo do estagio amador para algo mais profissional muitos
que estão criticando são os primeiros a fazerem torneios internos com inscrição de 5
reais pega o dinheiro e da o troféu de plastico pro esportista que esta ali colocando
sua integridade física a prova .o Redbull paranaue nada mais é do que um evento
para promover nossa arte e trazer mais apreciadores do nosso esporte para dentro
das academias independente o simbolo ou estilo que você joga ,pois o leigo quer
aprender capoeira e para ele tudo é capoeira enquanto ele não compreende como
distingue um grupo de outro angola da regioná contemporâneo de estilizado
capitães de barauna e assim sucessivamente . axé formado Felipe

Responder

10.

Stefano on 11 de janeiro de 2017


Ah Você já ganhou com esse artigo!

Mas… Maradona è melhor que Pelé sem dúvidas

Responder

11.

Anderson Miranda on 11 de janeiro de 2017

Parabéns mestre bom raciocínio.

Responder

12.

Anderson Miranda on 11 de janeiro de 2017

Parabéns mestre, bom raciocínio.

Responder

13.

Toninho Muricy on 11 de janeiro de 2017

Mestre Ferradura, com todo o respeito a seu trabalho e a sua pessoa, mas a meu ver
duas contradições são muito serias nesta proposta do Paranaue da Red Bull.
Primeiro a de se julgar um capoeirista por apenas 40 segundos de jogo! Isso,
sinceramente, é ridículo! Qualquer torneio de MMA dá mais tempo aos seus
competidores do que esses 40 segundos! E, na boa, como misturar os estilos na
mesma categoria de competicão? Como se pode pedir a um capoeirista regional que
jogue angola ou o contrario, talvez ainda mais complicado – se pedir a um angoleiro
que jogue Regional? Lamento que a necessidade financeira leve Mestres como Joao
Grande e Jogo de Dentro a participarem e a legitimar um evento como esse. Nao
sou totalmente contra uma competição de Capoeira, mas é preciso criterios
minimamente razoaveis para que isso seja legitimo. Grande abraço.

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