Você está na página 1de 109

L

íng
uaP
ort
ugu
esa
L
íng
uaP
ort
ugu
esa
PROF. KARINA BERSAN ROCHA

CURSO DE LICENCIATURA EM INFORMÁTICA

VITÓRIA

2009
2

Governo Federal
Ministro de Educação
Fernando Haddad

Ifes – Instituto Federal do Espírito Santo


Reitor
Dênio Rebello Arantes

Pró-Reitora de Ensino
Cristiane Tenan Schlittler dos Santos

Coordenadora do CEAD – Centro de Educação a Distância


Yvina Pavan Baldo

Coordenadoras da UAB – Universidade Aberta do Brasil


Yvina Pavan Baldo
Maria das Graças Zamborlini

Curso de Licenciatura em Informática


Coordenação de Curso
Giovany Frossard Teixeira

Designer Instrucional
Jonathan Toczek Souza

Professor Especialista/Autor
Karina Bersan Rocha

Catalogação da fonte: Rogéria Gomes Belchior - CRB 12/417


R672l Rocha, Karina Bersan
Língua portuguesa / Karina Bersan Rocha. – 2009. Cachoeiro de Itapemirim:
Ifes, 2009. 108 folhas. Material do curso de Licenciatura de Informática à
Distância – Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Cachoeiro de
Itapemirim, 2009. 1. Língua Portuguesa. I. Título.
CDD 469

DIREITOS RESERVADOS
Ifes – Instituto Federal do Espírito Santo
Av. Vitória – Jucutuquara – Vitória – ES - CEP - (27) 3331.2139

Créditos de autoria da editoração


Capa: Juliana Cristina da Silva
Projeto gráfico: Juliana Cristina da Silva / Nelson Torres
Iconografia: Nelson Torres
Editoração eletrônica: Duo Translations

Revisão de texto:
Zenas Vieira Romano

COPYRIGHT – É proibida a reprodução, mesmo que parcial, por qualquer meio, sem autorização escrita dos autores
e do detentor dos direitos autorais.

Licenciatura em Informática
3

Olá, Aluno(a)!

É um prazer tê-lo conosco.


O Instituto Federal do Espírito Santo - Ifes oferece a você, em parceria
com as Prefeituras e com o Governo Federal, o Curso de Licenciatura em
Informática, na modalidade à distância. Apesar de este curso ser ofertado
à distância, esperamos que haja proximidade entre nós, pois, hoje, graças
aos recursos da tecnologia da informação (e-mails, chat, videoconferênca,
etc.), podemos manter uma comunicação efetiva.
É importante que você conheça toda a equipe envolvida neste curso: coor-
denadores, professores especialistas, tutores à distância e tutores presenciais.
Assim, quando precisar de algum tipo de ajuda, saberá a quem recorrer.
Na EaD - Educação a Distância - você é o grande responsável pelo sucesso
da aprendizagem. Por isso é necessário que se organize para os estudos e
para a realização de todas as atividades, nos prazos estabelecidos, confor-
me orientação dos Professores Especialistas e Tutores.
Fique atento às orientações de estudo que se encontram no Manual do Aluno!
A EaD, pela sua característica de amplitude e pelo uso de tecnologias
modernas, representa uma nova forma de aprender, respeitando, sempre,
o seu tempo.
Desejamos a você sucesso e dedicação!

Equipe do Ifes

Língua Portuguesa
4

ICONOGRAFIA

Veja, abaixo, alguns símbolos utilizados neste material para guiá-lo em seus estudos.

Fala do Professor

Conceitos importantes. Fique atento!

Atividades que devem ser elaboradas por você,


após a leitura dos textos.

Indicação de leituras complemtares, referentes


ao conteúdo estudado.

Destaque de algo importante, referente ao


conteúdo apresentado. Atenção!

Reflexão/questionamento sobre algo impor-


tante referente ao conteúdo apresentado.

Espaço reservado para as anotações que você


julgar necessárias.

Licenciatura em Informática
5

LÍNGUA PORTUGUESA

Cap. 1 - INTRODUÇÃO 11

Cap. 2 - O TEXTO 15
2.1. O que é Texto? 15
2.2 Texto e Textualidade 16
2.3 O que é Escrever Bem? 18

Cap. 3 - LEITURA E COMPREENSÃO DE TEXTO 25


3.1. Lendo o texto: as palavras-chave 26
3.2 As ideias-chave 29

Cap. 4 - COESÃO E COERÊNCIA TEXTUAL 35


4.1. Os Fatores da Coesão Textual na Organização
do Discurso 37
4.2. Os Fatores da Coerência Textual na Organiza-
ção do Discurso 50
4.2.1. As Meta-Regras de Coerência 52
4.3. A progressão Textual 59

Cap. 5 - A TEXTUALIDADE 63
5.1. Fatores de Textualidade 64
5.1.1. Intencionalidade e Aceitabilidade 65
5.1.2. Situacionalidade 65
5.1.3. Informatividade 66
5.1.4. Intertextualidade 67
5.2. As Qualidades de um Texto Escrito 69
5.2.1. Concisão: 70
5.2.2. Correção: 70
5.2.3. Clareza: 71
5.2.4. Originalidade: 71
5.2.5. Adequação: 71
5.2.6. Unidade: 71
5.3. Os Defeitos de um Texto 71
5.3.1. Ambiguidade: 71
5.3.2. Obscuridade : 72
5.3.3. Pleonasmo: 72

Língua Portuguesa
6

5.3.4. Cacofonia: 73
5.3.5. Eco : 73
5.3.6. Prolixidade: 73

Cap. 6 - PRODUÇÃO DE TEXTOS 85


6.1. O Parágrafo 85
6.1.2. O Tópico Frasal 87
6.2.1. Paralelismo 90
6.2.2. Uso dos Pronomes Relativos 95

Cap. 7 - O TEXTO TÉCNICO-CIENTÍFICO:


CONCEITOS E TÉCNICAS 99
7.1. Resumo 99
7.2. Resenha 101

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 107

Licenciatura em Informática
7

APRESENTAÇÃO

Caro(a) aluno(a),
Meu nome é Karina. Sou a professora especialista responsável pela
disciplina de Língua Portuguesa.
Inicio essa conversa com uma breve apresentação de minha trajetó-
ria acadêmica e profissional. Atuo como professora desde 1985, e no
Ifes, desde 1993. Sou Licenciada em Letras - Português, Especializa-
da em Linguística Aplicada ao Ensino de Língua Materna e Mestre
em Estudos Literários pela UFES. No Ifes – Campus Vitória, lecio-
nei vários anos para o Ensino Médio, e hoje trabalho nos Cursos de
Engenharia e Licenciatura, lecionando Língua Portuguesa e outras
disciplinas da área pedagógica (para a Licenciatura).
A disciplina Língua Portuguesa pretende auxiliá-lo a reconhecer
e utilizar as características de um texto escrito claro e correto, do
ponto de vista do nosso idioma. Sabemos que você já se comunica
oralmente e por escrito, mas pretendemos incrementar esse processo,
além de exercitar a produção de alguns textos técnicos e/ou científi-
cos, que serão necessários ao longo do curso.
Este material tem como objetivo auxiliar você no percurso desse
trabalho. Para ser bem sucedido neste curso, é importante que se
tenha compromisso com os estudos, realizando todas as atividades
propostas. Lembro que os exercícios têm como objetivo prepará-lo
para um melhor manejo da Língua e para as atividades avaliativas.
É importante a organização e o controle do seu tempo para o cum-
primento das tarefas.

Desejo-lhe muito sucesso!

Profª Karina Bersan Rocha

Língua Portuguesa
8

APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA

Prezado(a) aluno(a),
Neste primeiro contato, a meta prevista é a apresentação geral da dis-
ciplina Língua Portuguesa. Os objetivos propostos consistem em:
• Conhecer a dinâmica que será desenvolvida ao longo desse
curso.
• Conhecer todos(as) os(as) participantes envolvidos no pro-
cesso educacional.
Para melhor compreensão dessa proposta, é necessário que você
acesse o ambiente virtual de aprendizagem, leia o programa da dis-
ciplina, assista ao vídeo de apresentação do professor e responda ao
questionário. Esse é o primeiro passo para nos conhecermos melhor,
e o conhecimento mútuo, você verá aqui, é essencial a um bom pro-
cesso de comunicação.
Bom trabalho!

Atividade
1. Acesse o Ambiente Virtual de Aprendizagem e assista ao ví-
deo de apresentação do professor.
2. No mesmo ambiente, leia o programa da disciplina e, a seguir,
responda ao Questionário de Apresentação.

___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________

Licenciatura em Informática
9

Prezado(a) aluno(a),
Nesta primeira aula, nossa meta é organizar uma discussão sobre a
importância da leitura e do ato de estudar como um todo. Os obje-
tivos propostos consistem em:
• Relacionar as ideias apresentadas no texto selecionado.
• Analisar a importância da leitura na sua vida acadêmica.
Bom trabalho!

Será necessário que você leia o texto abaixo e depois participe do


Fórum de Comentários, postando dúvidas e sugestões que surjam
a partir da leitura do texto.

Língua Portuguesa
10

Licenciatura em Informática
11

INTRODUÇÃO

O ATO DE ESTUDAR

Texto retirado de: Freire, Paulo. A Importância do Ato de Ler: em


três artigos que se completam. 22 ed. São Paulo: Cortez, 1988. 80 p.

O livro A Importância do Ato de Ler, de Paulo Freire, relata os as-


pectos da biblioteca popular e a relação com a alfabetização de adultos
desenvolvida na República Democrática de São Tomé e Príncipe.

Ao mesmo tempo, esclarece-nos que a leitura da palavra é precedida


da leitura do mundo e também enfatiza a importância crítica da leitura
na alfabetização, situando o papel do educador em uma educação em
que o seu fazer deve ser vivenciado, dentro de uma prática concreta de
libertação e construção da história, inserindo o aluno num processo
criador, de que ele é também um sujeito, “processo que envolve uma
compreensão crítica do ato de ler, que não se esgota na decodificação
pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa
e se alonga na inteligência do mundo. A leitura do mundo precede a
leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir
da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem
dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura
crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto.”

A leitura do seu mundo foi sempre fundamental para a compreensão


da importância do ato de ler, de escrever ou de reescrevê-lo, isto é, de
transformá-lo através de uma prática consciente.

1 Freire, Paulo. A Importância do Ato de Ler: em três artigos


que se completam. 22 ed. São Paulo: Cortez, 1988. 80 p.
2 Sobre o autor: acessar http://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Freire

Língua Portuguesa
12
Capítulo 1

O ATO DE ESTUDAR

Tinha chovido muito toda a noite. Havia enormes poças de água nas par-
tes mais baixas do terreno. Em certos luares a terra, de tão molhada, tinha
virado lama. As vezes, os pés apenas escorregavam nela. As vezes, mais do
que escorregar, os pés se atolavam na lama até acima dos tornozelos. Era
difícil andar. Pedro e Antônio estavam transportando numa camioneta
cestos cheios de cacau para o sítio onde deveriam secar. Em certa altura,
perceberam que a camioneta não atravessaria o atoleiro que tinham pela
frente. Pararam. Desceram da camioneta. Olharam o atoleiro, que era um
problema para eles. Atravessaram os dois metros de lama, defendidos por
suas botas de cano longo. Sentiram a espessura do lamaçal. Pensaram.
Discutiram como resolver o problema. Depois, com a ajuda de algumas
pedras e de galhos secos de árvores, deram ao terreno a consistência mí-
nima para que as rodas da camioneta passassem sem se atolar. Pedro e
Antônio estudaram. Procuraram compreender o problema que tinham a
resolver e, em seguida, encontraram uma resposta precisa.

Não se estuda apenas na escola.

Pedro e Antônio estudaram enquanto trabalhavam. Estudar é assumir


uma atitude séria e curiosa diante de um problema.

Essa atitude séria, interessada e curiosa na procura de compreender as


coisas e os fatos caracteriza o ato de estudar. Não importa que o estudo
seja feito no momento e no lugar do trabalho.

Estudar exige disciplina. Estudar não é fácil porque estudar é criar e não
repetir o que os outros dizem.

O ATO DE ESTUDAR

O estudo exige sempre esta atitude séria e curiosa na procura de com-


preender as coisas e os fatos que observamos. Um texto para ser lido
é um texto para ser estudado. Um texto para ser estudado é um texto
para ser interpretado. Não podemos interpretar um texto se o lemos
sem atenção, sem curiosidade; se desistimos da leitura quando encon-
tramos a primeira dificuldade. Que seria da produção de cacau naquela
roça se Pedro e Antônio tivessem desistido de prosseguir o trabalho por
causa do lamaçal?

Licenciatura em Informática
13
Introdução

Se um texto às vezes é difícil, insista em com­preendê-lo. Trabalhe sobre ele


como Antônio e Pedro trabalharam em relação ao problema do la­maçal.

Estudar exige disciplina. Estudar não é fácil, porque estudar é criar e


recriar, é não repetir o que os outros dizem.

Estudar é um dever revolucionário!

Parecem óbvias as preocupações que este texto sobre o ato de estudar


revela - a de combater, por exemplo, a posição ideológica, por isso mes-
mo nem sempre explicitada, de que só se estuda na escola. Daí que seja
ela, a escola, considerada, deste ponto de vista, como a matriz do co-
nhecimento. Fora da escolarização não há saber ou o saber que existe
fora dela é tido como inferior sem que tenha nada que ver com o rigoro-
so saber do intelectual. Na verdade, porém, este saber tão desdenhado,
“saber de experiência feito”, tem de ser o ponto de partida em qualquer
trabalho de educação popular orientado no sentido da criação de um
conhecimento mais rigoroso por parte das massas populares.

Enquanto expressão da ideologia dominante, este mito penetra as mas-


sas populares provocando nelas às vezes autodesvalia por se sentirem
gente de nenhuma ou de muito pouca “leitura”.

Faz-se preciso, então, enfatizar a atividade prática na realidade con-


creta (atividade a que nunca falta uma dimensão técnica, por isso, in-
telectual, por mais sim­ples que seja) como geradora de saber. O ato
de estudar, de caráter social e não apenas individual, se dá aí também,
independentemente de estarem seus sujeitos conscientes disto ou não.
No fundo, o ato de estudar, enquanto ato curioso do sujeito diante
do mundo, é expressão da forma de estar sendo dos seres humanos,
como seres sociais, históricos, seres fazedores, trans­formadores, que
não apenas sabem mas sabem que sabem.

(...)

“Se está persuadido de que una verdad es fecunda”, diz Gramsci, “sólo
cuando se ha hecho un esfuerzo para conquistada. Que ella no existe
en si y por si, sino que ha sido una conquista del espíritu, que en cada
individuo es preciso que se reproduzca aquel estado de ansiedad que ha
atravesado el estudioso antes de alcanzarla. (...)

Este representar en acto a los oyentes la serie de esfuerzos, los errores y los
aciertos a través de los cuales han passado los hombres para alcanzar el
cono­cimiento actual, es mucho más educativo que la exposición esquemá-
tica de este mismo conocimiento. (...)

Língua Portuguesa
14
Capítulo 1

La enseñanza, desarrollada de esta manera, se con­v ierte en un acto


de liberación.”1

_____________________________

Atividade
3. Acesse o Ambiente Virtual de Aprendizagem para participar do
Fórum de discussão do texto.

___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
____________________________________________________

1 Gramsci, Antonio, citado por Broccoli, Angelo. In: Antonio Gramsci y ta educación
como hegemonía. México, Editorial Nueva Imagen S. A., 1979, p. 47.

Licenciatura em Informática
15
Conceitos de Metodologia da Pesquisa

O TEXTO

Prezado(a) aluno(a),
Esta atividade tem como metas:
• Compreender o que é um texto e a importância de res-
peitar os elementos que formam a textualidade (níveis de
linguagem, propósito comunicativo, estrutura e mecanis-
mos linguísticos).
• Compreender o texto como rede de relações e funções: fa-
tores de contextualização, de coerência e de coesão.
• Produzir um texto colaborativo no ambiente virtual de
aprendizagem.
• Produzir um texto dissertativo breve.
• Realizar exercícios propostos.

Bom trabalho!

2.1. O que é Texto?

A palavra texto origina-se do verbo tecer. Trata-se de um particípio - o


mesmo que tecido. Entende-se por texto toda unidade de significação,
em que se considere alguns aspectos como: quem fala, a quem se fala, o
que se fala e em que contexto a situação comunicativa se realiza.

Os textos podem ser verbais, não-verbais ou, ainda, mistos. Os verbais


são aqueles que utilizam a palavra como código e os não-verbais uti-
lizam-se de outros códigos diferentes da palavra, podendo ser a cor, a
forma, o movimento, etc. Nos textos mistos, encontramos a junção de
mais de um código: o verbal e o não-verbal, simultaneamente; sendo
necessária a análise do todo para a perfeita produção dos sentidos.

Língua Portuguesa
16
Capítulo 2

2.2 Texto e Textualidade

Texto

Um Texto é uma manifestação linguística padronizada por al-


guém, em alguma situação concreta (contexto), com determinada
intenção. O que dá sentido a um texto é, portanto, a combinação
destes fatores: o linguístico, o contextual e o intencional.
Devemos, ainda, considerar outro importante aspecto ao falarmos
sobre texto. Ele é sempre dirigido a alguém, ou seja, a situação de
produção de um texto supõe a existência de um interlocutor a
quem ele se dirige. O sentido dos textos é construído na interação
entre o seu autor e o interlocutor a quem se destina.

O próprio texto permite que você chegue a algumas conclusões sobre as


suas condições de produção (contexto).

A palavra texto provém do latim textum, que significa “tecido, entrela-


çamento”. Há, entretanto, uma razão etimológica para nunca esquecer-
mos que o texto resulta da ação de tecer, entrelaçar unidades e partes a
fim de formarmos um todo inter-relacionado. Daí podemos falar em
textura ou tessitura de um texto: é a rede de relações que garantem sua
coesão, sua unidade.

“... o texto não é um aglomerado de frases. Nenhum texto é uma


peça isolada, nem a manifestação da individualidade de quem o
produzir. De uma forma ou de outra, constrói-se um texto para,
através dele, marcar posição ou participar de um debate de esca-
la mais ampla que está sendo travado na sociedade. Até mesmo
uma notícia jornalística, sob a aparente neutralidade, tem sempre
alguma intenção por trás”. (PLATÃO & FIORIN. Para entender o
texto: Leitura e redação, p. 13).

Textualidade
Entre os fatores que contribuem para formar a textualidade estão: inten-
cionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade, intertex-
tualidade, coesão e coerência textual.

Licenciatura em Informática
17
O Texto

a) Intencionalidade
A intencionalidade concerne ao empenho do produtor em construir um
discurso coerente, coeso e capaz de satisfazer os objetivos que tem em
mente uma determinada situação comunicativa.

b) Aceitabilidade
A aceitabilidade concerne à expectativa do recebedor de que o conjunto
de ocorrências com que se defronta seja um texto coerente, coeso, útil
e relevante para levá-lo a adquirir conhecimentos ou cooperar com os
objetivos do produtor.

c) Situacionalidade
É a situacionalidade que diz respeito aos elementos responsáveis pela
pertinência e relevância do texto quanto ao contexto em que ocorre. É a
adequação do texto à situação sociocomunicativa.

d) Informatividade
A informatividade diz respeito à medida na qual as ocorrências de um
texto são esperadas ou não, conhecidas ou não, no plano conceitual e no
formal. Ocorre que um discurso menos previsível é mais informativo,
porque a sua recepção, embora mais trabalhosa, resulta mais interes-
sante, mais envolvente. Entretanto, se o texto se mostrar inteiramente
inusitado, tenderá a ser rejeitado pelo recebedor, que não conseguirá
processá-lo. Assim, o ideal é o texto se manter num nível mediano de in-
formatividade, no qual se alternam ocorrências de procedimento ime-
diato, que falem do conhecido, com ocorrências de processamento mais
trabalhoso, que trazem a novidade.

e) Intertextualidade
É a transformação de textos, ou seja, um texto escrito remete a outro e as-
sim sucessivamente. Essa transformação não pode ser total e absoluta.

f) Coesão textual
São as articulações gramaticais existentes entre palavras, orações, frases, pará-
grafos e partes maiores de um texto, que garantem sua conexão sequencial.

g) Coerência textual
É o resultado da articulação das ideias de um texto; é a estruturação
lógico-semântica que faz com que numa situação discursiva palavras e
frases componham um todo significativo para os interlocutores.

Língua Portuguesa
18
Capítulo 2

Atividade
6. Observe a proposta dos exercícios abaixo. Além de marcar a op-
ção correta, tente identificar os problemas que levam à inadequação
das demais opções. As respostas estarão disponíveis no Ambiente
Virtual de Aprendizagem após o prazo de entrega da atividade.

1. (FCMSC-SP) Assinale a letra que corresponde à melhor reda-


ção, considerando correção, clareza e concisão.
a) Os candidatos foram solicitados a indicar suas opções.
b) Aos candidatos foram-lhes solicitados indicarem suas opções.
c) Solicitaram os candidatos de que fizessem a indicação de
suas opções.
d) Solicitou-se aos candidatos que indicassem suas opções.
e) Fizeram-se aos candidatos a solicitação da indicação por
suas opções.

2. (FCMSC-SP) Analise a letra que corresponde à melhor reda-


ção, considerando correção, clareza e concisão.
a) Foram chamados sua atenção pelo diretor.
b) O diretor chamou-os sua atenção.
c) O diretor lhes chamou à atenção.
d) Foi-lhe chamado à atenção pelo diretor.
e) O diretor chamou-lhes a atenção.

2.3. O que é Escrever Bem?

O conceito de “escrever bem” varia conforme o tempo. Segundo Carlos Drum-


mond de Andrade, “escrever bem” é cortar palavras e, se observarmos certos
contistas modernos, como Dalton Trevisan, parece que Drummond tem ra-
zão: de fato palavras em excesso são modernamente um pecado mortal. Como
Drummond, Guimarães Rosa enaltece a concisão, quando afirma que as pala-
vras devem ser “cachos de sensações”, ou seja, dizer muito com pouca matéria.
Mas, certamente, escrever bem não se resume à concisão e, muito menos, às
qualidades literárias do texto.

Licenciatura em Informática
19
O Texto

Cada um de nós pode vir a escrever bem, ou melhor do que já o faze-


mos. E a tarefa não é tão difícil: basta evitarmos certos conceitos ul-
trapassados e prestarmos muita atenção a todos os elementos que par-
ticipam do ato comunicativo em que estamos inseridos. Quanto mais
adequados estivermos a esses elementos, melhor escreveremos. Como
tais elementos variam, também se devem modificar as qualidades da
escritura, e talvez aí esteja o segredo: na adequação à variação. Escrever
bem, antecipando nossa conclusão é produzir estratégias comunicativas
adequadas, ou seja, variar segundo as circunstâncias.

Conceitos do “escrever bem”

A língua escrita é indispensável a um progresso mais rápido do conhecimento


humano, apesar das limitações inerentes à linguagem, e, por isso, é necessário
que nós saibamos utilizar a melhor maneira possível. Mas o que é escrever
bem? A resposta certamente varia com o momento histórico: José de Alencar
e Guimarães Rosa não nos dariam a mesma resposta, embora sejam escritores
de esplendorosa qualidade.

Uma primeira ideia a esse respeito é a de que escrever bem se confunde com
escrever de forma gramaticalmente correta. Qualquer usuário de língua por-
tuguesa, no entanto, sabe que nem sempre textos gramaticalmente corretos
são bons textos. Como explicar esse fato?

Ora, todo texto parte de uma intenção comunicativa que, para realizar-se de
forma adequada, necessita levar em conta a situação geral em que se vai efeti-
var: quem são os interlocutores, qual a relação social entre eles, em que local
se processa etc.; assim, considerando-se todos esses elementos situacionais,
pode-se traçar uma estratégia textual que vá ao encontro de nossos desejos, ou
seja, atinja da forma mais adequada possível a finalidade do texto. Em certas
situações de comunicação, torna-se absolutamente indispensável usar a forma
mais cuidadosa da linguagem, o que compreende estar em concordância com
a gramática. Mas, às vezes, pode-se tornar mais eficiente uma forma menos
cuidada, em que as regras gramaticais não sejam totalmente respeitadas.

O que fazer para escrever bem?

Ler muito – e de forma proveitosa – com certeza enriquece indiretamen-


te a experiência humana e amplia a capacidade vocabular, mas, para daí
chegarmos a escrever bem, é indispensável que reaprendamos a ler bem
e a interpretar o que lemos, procurando detectar nos textos as estraté-
gias produtoras dos efeitos que sentimos ao lê-los. Devemos ultrapassar
a barreira do significado para atingirmos a produção da significação.
Apreendendo as estratégias textuais, poderemos certamente aplicá-las a

Língua Portuguesa
20
Capítulo 2

novos textos de forma quase inconsciente, o que nos leva a uma segunda
resposta para escrever bem: escrever sempre, sem medo, entregando seu
modo de ver o mundo aos demais.

Atividade
7. Os exercícios propostos abaixo têm como objetivo verificar a
sua familiaridade com algumas questões da Língua Portuguesa. As
respostas estarão disponíveis após o prazo de entrega da atividade
EXERCÍCIOS

3. Millôr Fernandes, em seu livro Lições de um ignorante, apresen-


ta alguns conhecidíssimos provérbios em linguagem culta, mos-
trando com isso a inadequação dessa variação de linguagem em
situações de informalidade. Procure identificar, nas linhas abaixo,
os ditados populares “traduzidos”.
a) A substância inodora e incolor que já se foi não é mais capaz de comu-
nicar movimento ou ação ao engenho especial para triturar cereais.
b) Aquele que se deixa prender sentimentalmente por criatura
inteiramente destituída de dotes físicos, de encanto, ou graça,
acha-a extraordinariamente dotada desses mesmos encantos que
os outros lhe não vêem.
c) De unidade de cereal em unidade de cereal, a ave de crista car-
nuda e asas curtas e largas da família das galináceas abarrota a
bolsa que existe nessa espécie por uma dilatação do esôfago e na
qual os permanecem antes da passagem à moela.
d) Aquele que anuncia por palavras tudo o que satisfaz ao seu ego
tende a perceber pelos órgãos da audição coisas que não se desti-
nam a aumentar-lhe o sentimento de euforia.

4. Muitas expressões carecem de lógica. Examine as que são dadas


a seguir, corrigindo-as. As frases foram adaptadas de uma coluna
do Jornal do Brasil, da responsabilidade de Sérgio Nogueira Duar-
te, citando pesquisa de um leitor.
a) Houve um acidente com mais uma vítima fatal.
b) Os vencimentos serão pagos numa parcela única.
c) Ninguém se feriu no desabamento, exceto o porteiro.
d) Comprou na padaria o mesmo pão de ontem.

Licenciatura em Informática
21
O Texto

e) Ao contrário do que foi publicado, a exposição tem 18 qua-


dros e não 17.
f) Um homem se afogou e foi tirado do mar desacordado.
g) Telegás, Minasgás. Você liga, a gente traz!

5. Leia outro texto de Millôr Fernandes, que aborda a inadequa-


ção da construção linguística. Em seguida, responda à pergunta.
Certa vez jogava uma partida de sinuca e só havia a bola sete na mesa. De
modo que mastiguei-a lentamente, saboreando-lhe os bocados com prazer.
Refiro-me à refeição que havia pedido ao garçom. Dei-lhe duas tacadas na
cara. Estou me referindo à bola. Em seguida saí montando nela e a égua de
que estou falando agora chegou calmamente à fazenda de minha mãe. Fui
encontrá-la morta na mesa, meu irmão comia-lhe uma perna com prazer e
ofereceu-me um pedaço: “obrigado”, disse eu, “já comi galinha no almoço”.
Logo em seguida chegou minha mulher e deu-me na cara. Um beijo, digo.
Ao mesmo tempo eu dei-lhe um pontapé e a cachorrinha saiu latindo. Então
apertei-a contra mim e dei-lhe um beijo na boca. De minha mulher, digo.
Dei-lhe um abraço. Fazia calor. Daí a pouco minha camisa estava inteiramen-
te molhada. Refiro-me à que estava na corda secando quando começou a cho-
ver. Minha sogra apareceu para apanhar a camisa. Não tive outro remédio se-
não esmagá-la com o pé. Estou falando da barata que ia trepando na cadeira.
Que elementos provocam a confusão no texto acima?

6. (Cesgranrio-RJ) No enunciado “com exceção do escalão mais alto


dos analistas”, a forma com exceção de pode ser substituída, sem altera-
ção de sentido por:
a) até
b) inclusive
c) menos
d) não obstante
e) apesar de

Língua Portuguesa
22
Capítulo 2

7. (Unicamp-SP) Os computadores facilitam a reelaboração de


textos, pois permitem, entre outras coisas, incluir e apagar tre-
chos. A introdução dessa tecnologia na composição de jornais
começou a produzir um tipo especial de erro, devido provavel-
mente ao fato de que o autor se esquece de eliminar partes de
versões anteriores, após introduzir modificações. No trecho se-
guinte, por exemplo, há duas expressões de sentido equivalente,
uma das quais deveria ser eliminada.
Isso porque não é necessário que nesse estágio o planalto não pre-
cisa ainda apresentar sua defesa.
a) Identifique as expressões de sentido que não podem, nesse tre-
cho, ser usadas simultaneamente.
b) Reescreva o trecho de duas maneiras, utilizando, a cada vez,
apenas uma das expressões que você identificou.

8. (Unicamp-SP) O trecho abaixo, extraído do editorial de jor-


nal (portanto, representativo da modalidade culta), contém uma
construção que é de fato erro de concordância.
Pode-se argumentar, é certo, que eram possíveis os percalços
que enfrentariam qualquer programa de estabilização (...) ne-
cessário no Brasil.
Folha de São Paulo, 7 de nov. 1990.
a) Transcreva o trecho em que ocorre um erro de concordância.
b) Lendo atentamente o texto, você descobrirá que existe uma ex-
plicação para esse erro. Qual é ela?
c) Reescreva o trecho de forma a adequá-lo à modalidade escrita culta.

9. (Provão)
I O assédio em si traz no meio um poder aquisitivo escondendo
ao trabalho, assim podendo fazer e refazer, adicionando, junto a essa
conduta de mulher ideal. Não querendo ser prejudicial ao método
agressivo, mas ao jeito decisivo a maneira pela força que o traz da
forma de se agir. A teimosia circunstancial vem devido a exotismo
da participação com credibiloso contraste à elevacidade do adulté-
rio da simples cena de uma turbulência a um ser precioso.
(Trecho de dissertação de um aluno de segundo grau)

Licenciatura em Informática
23
O Texto

II A joia pertenceu originalmente a um sultão que morreu em


circunstâncias misteriosas, quando uma mão saiu do seu prato de
sopa e o estrangulou. O proprietário seguinte foi um lorde inglês,
o qual foi encontrado certo dia, florindo maravilhosamente numa
jardineira. Nada se soube da joia durante algum tempo. Então,
anos depois, ela reapareceu na posse de um milionário texano que
se incendiou enquanto escovava os dentes.
(Woody Allen, Sem plumas)
A respeito desses textos é correto afirmar que:
a) O texto I é incorreto, pois não faz sentido no contexto em que
foi escrito.
b) O texto I e o texto II são incorretos, qualquer que seja o contex-
to imaginado para sua interpretação.
c) O texto I é correto: dada sua finalidade, as relações de sentido
tornam-se claras.
d) Os textos I e II são coerentes: dada sua finalidade, as relações de
sentido tornam-se claras.
e) O texto II é incoerente, pois faz referência a acontecimentos que
contrariam a lógica de qualquer mundo imaginável.

REFERÊNCIAS:
INFANTE, Ulisses. Do texto ao texto: curso prático de leitura e
redação. 5. ed. São Paulo: Scipione, 1998, 312 p.
SAVIOLI, Francisco Platão & FIORIN, José Luiz. Para enten-
der o texto: Leitura e redação. São Paulo: Ática, 1990.

Língua Portuguesa
24
Capítulo 2

Licenciatura em Informática
25
Métodos e Estratégias de Estudo

LEITURA E COMPREENSÃO DE
TEXTO

Prezado(a) aluno (a),


Agora que nós já temos mais familiaridade com as noções de texto
e de textualidade, vamos trabalhar um pouquinho a leitura, o que
facilitará nossa produção textual. Você, como aluno da Licenciatu-
ra em Informática, já deve ter familiaridade com as noções de pala-
vra-chave e ideia-chave. A partir desses dois elementos, realizamos
milhares de buscas na internet. Mas como traçar o caminho oposto?
Como reconhecer, dado o texto, quais são as palavras e ideias-
chave? Esse exercício será essencial, tanto no processo da leitura e
análise de textos técnicos e científicos quanto na compreensão da
estrutura textual, o que facilita o processo de escrita.
Os objetivos propostos nesta semana consistem em:
• Observar as palavras-chave de um texto;
• Apreender as ideias-chave de um texto.
Depois de alcançados esses dois objetivos, compreenderemos melhor
como os textos são tecidos.
É necessário que você acesse o ambiente virtual de aprendizagem
para realizar as atividades propostas.
Bom trabalho!

Língua Portuguesa
26
Capítulo 3

3.1. Lendo o texto: as palavras-chave

Ninguém chega à escrita sem antes ter passado pela leitura. Mas leitura
aqui não significa somente a capacidade de juntar letras, palavras, fra-
ses. Ler é muito mais que isso. É compreender a forma como está teci-
do o texto. Ultrapassar sua superfície e deduzir da leitura seu sentido
maior, que muitas vezes passa despercebido pela maioria dos leitores.
Só uma relação mais próxima do leitor com o texto lhe dará esse sentido.
Ler bem exige tanta habilidade quanto escrever bem. Leitura e escrita
complementam-se. Lendo textos bem estruturados, podemos apreen-
der os procedimentos linguísticos necessários a uma boa redação.

Numa primeira leitura, temos sempre uma noção muito vaga do que o autor quis
dizer. Uma leitura bem feita é aquela capaz de levar a deduzir de um texto ou de um
livro a informação essencial. Para isso, é preciso ter pistas seguras para localizá-­la.
Uma boa estratégia é buscar as palavras mais importantes de cada parágrafo. Elas
constituirão as palavras-chave do texto, em torno das quais as outras se organizam
e criam um intercâmbio de significação para produzirem sentidos.

As palavras-chave formam um centro de expansão que constitui a


base do texto. Tudo deve ajustar-se a elas de forma precisa. A tarefa
do leitor é detectá-las, a fim de realizar uma leitura capaz de dar conta
da totalidade do texto. Geralmente, as palavras-chave de um texto são
aquelas que mais se repetem ao longo desse texto.

Por adquirir tal importância na arquitetura textual, as palavras-chave normal-


mente aparecem ao longo de todo o texto das mais variadas formas: repetidas,
modi­ficadas, retomadas por sinônimos. Elas pavimentam o caminho da leitu-
ra, levando-­nos a compreender melhor o texto. Além disso, fornecem a pista
para uma leitura reconstrutiva porque nos levam à essência da informação.

Licenciatura em Informática
27
Leitura e Compreensão de Texto

Após encontrar as palavras-chave de um texto, devemos tentar reescrevê-lo,


to­mando-as como base. Elas constituem seu esqueleto.

Vejamos um exemplo:

Ninguém se enamora se está, mesmo parcialmente, satisfeito com o que tem e


com o que é. O enamoramento surge da sobrecarga depressiva, isto é, da impos-
sibilidade de encontrar alguma coisa de valor na vida cotidiana. O “sintoma” da
predisposição para o enamoramento não é o desejo consciente de se apaixonar,
enamorar, uma forte intenção de enriquecer o existente, mas sentimento profun-
do de não ser e não ter nada de valor, e a vergonha de não tê-­lo. Esse é o primeiro
sinal da preparação para o enamoramento: o sentimento da nulidade e a vergo-
nha da própria nulidade. Por essa razão, o enamoramento é mais frequente entre
os jovens, pois estes são profundamente inseguros, não têm certeza de seu valor e
muitas vezes se envergonham de si mesmos. E o mesmo é válido em outras idades
da vida, quando se perde algo do nosso ser; no final da juventude ou quando
começa a velhice. Perde-se irreparavelmente algo de si, fica-se privado de valores,
degradado, no confronto com o que se foi. Não é a nostalgia de um amor que nos
faz enamorar-nos, mas a certeza de que nada temos a perder transformando-nos
naquilo em que nos transformamos; é a perspectiva de ter o nada pela frente.
Somente então se estabelece dentro de nós a disposição para o diferente e para o
risco, a propensão de nos lançarmos no tudo ou nada que aqueles que de alguma
forma estão satis­feitos com o próprio ser não poderão experimentar.
ALBERONI, Francesco. Enamoramento e amor. Trad. Ary Gonzalez Galvão. Rio de
Janeiro: Rocco, 1991.p. 46-7.

Além de estar presente no título do livro, a palavra enamoramento aparece


quatro vezes e é retomada pelo verbo enamorar-se três vezes. É a primeira
palavra que nos chama a atenção. Mas não é a única. É preciso descobrir as
outras palavras que com ela formarão os pontos nodais do texto, em que está
concentrada sua maior carga de significação.

Para explicar o que é o enamoramento, Alberom fala:


d) do sentimento da nulidade;
e) da juventude;
f) da velhice.

Uma vez encontradas as palavras-chave, devemos procurar a informa-


ção que elas trazem. O autor do texto diz que:

1. O enamoramento nasce:
1. de uma “sobrecarga depressiva”;
2. de um “sentimento profundo de não ser e não ter nada de valor,
e a vergonha de não tê-lo.”

Língua Portuguesa
28
Capítulo 3

2. O primeiro sinal para o enamoramento é:


f) “o sentimento da nulidade”.

3. Esse sentimento é mais frequente:

a) na juventude, porque os jovens


g) “são profundamente inseguros”;
h) “não têm certeza de seu valor”;
i) “se envergonham de si mesmos”.

b) e na velhice, porque é quando


c) “se perde irreparavelmente algo de si”;
d) “fica-se privado de valores”.

Entre as palavras-chave há uma mais abrangente, da qual podemos par-


tir para esquematizar o texto:

Com os dados recolhidos sobre cada uma dessas palavras é possível re-
sumir o texto de Alberoni numa só frase:

O enamoramento ocorre com mais frequência na juventude e na velhice,


quando o indivíduo experimenta o sentimento da nulidade.

Atividade

01 Leia o texto a seguir e responda às questões propostas (Tarefa


off-line com envio de arquivo único):
TEXTO 1 Posição de pobre
Proprietários e mendigos: duas categorias que se opõem a qualquer
mudança, a qualquer desordem renovadora. Colocados nos dois
extremos da escala social, te­mem toda modificação para bem ou
para mal: estão igualmente estabelecidos, uns na opulência, os ou-
tros na miséria. Entre eles situam-se - suor anônimo, funda­mento
da sociedade - os que se agitam, penam, perseveram e cultivam o
absurdo de esperar. O Estado nutre-se de sua anemia; a ideia de ci-
dadão não teria nem con­teúdo nem realidade sem eles, tampouco o
luxo e a esmola: os ricos e os mendigos são os parasitas do pobre.

Licenciatura em Informática
29
Leitura e Compreensão de Texto

Há mil remédios para a miséria, mas nenhum para a pobreza. Como


socorrer os que insistem em não morrer de fome? Nem Deus poderia
corrigir sua sorte. Entre os favorecidos da fortuna e os esfarrapados, cir-
culam esses esfomeados honoráveis, explo­rados pelo fausto e pelos an-
drajos, saqueados por aqueles que, tendo horror ao traba­lho, instalam-
se, segundo sua sorte ou vocação, no salão ou na rua. E assim avança a
humanidade: com alguns ricos, com alguns mendigos e com todos os
seus pobres...
CIORAN, E. M. Breviário de decomposição. Trad. José Thomaz Bruni.
Rio de janeiro: Rocco, 1989. p. 113-4.
1. Quais as palavras-chave do texto?
2. Retire do texto dados que caracterizam cada uma dessas palavras.
3. Elabore um gráfico com as palavras-chave do texto.
4. Com as características encontradas no texto, redija uma frase para
cada uma das palavras-chave.
5. Sintetize o texto.

3.2. As ideias-chave

Muitas vezes temos dificuldades para chegar


à síntese de um texto só pelas pala¬vras-
chave. Quando isso acontece, a melhor so-
lução é buscar suas ideias-chave. Ve¬jamos
como isso pode ser feito:

Muita gente, pouco emprego


Os megaproblemas das grandes cidades

A população das megacidades cresce muito mais depressa do que sua capa-
cidade de pro­ver empregos e fornecer serviços decentes a seus novos mo-
radores. O fenômeno, detectado no relatório da ONU sobre a população, é
tanto mais grave porque atinge em cheio justamente os países mais pobres.
Das dez megacidades do ano 2000, sete estarão fincadas no Terceiro Mun­
do. As pessoas saem do campo para as cidades por uma razão tão antiga
quanto a Revolução Industrial: querem melhorar de vida. Mesmo apinha-
das em periferias e favelas, suas chances prosperar são maiores do que na
área rural. As cidades, escreveu o historiador Lewis Mumford, são “o lugar
certo para multiplicar oportunidades”.

Língua Portuguesa
30
Capítulo 3

A típica explosão urbana é a registrada em várias cidades da África e da Índia, que


dobram de população a cada doze anos e não dão conta da demanda por emprego,
educação e sa­neamento. Karachi, no Paquistão, com 8,4 milhões de habitantes, quase
nada investe em sua rede de esgotos desde 1962. Mesmo as que crescem a uma taxa
menos selvagem, como a Cidade do México, têm pela frente seus megaproblemas. A
poluição produzida pelos milhões veículos e 35.000 fábricas da capital mexicana, por
exemplo, pode chegar, como em fevereiro ­passado, a um nível quatro vezes além do
ponto em que o ar é considerado seguro em países desenvolvidos.

Ainda que todos os prognósticos sejam pessimistas, não se deve des-


prezar a capacidade de as megacidades encontrarem soluções até para
seus piores desastres. A mobilização da popu­lação da capital mexi-
cana em 1985 para reconstruir partes da cidade arrasadas por um
violentíssimo terremoto evitou o pior - e mostrou que as mobili-
zações coletivas podem driblar o apocalipse anunciado para as megalópoles.

Veja, 14 jul. 1993

O título de um texto costuma dar boas pistas para encontrar suas palavras-
chave. No texto acima, te­mos: grandes cidades e megaproblemas. Essas pala-
vras deverão guiar-nos na busca ideias-chave.

As ideias-chave são frases ou expressões que concentram as pa-


lavras-chave e as relacionam, formando um conjunto de sentido.
São elementos centrais para sintetizar o texto.

Vamos por partes:

1º parágrafo - a reportagem trata dos problemas das megacidades no


ano 2000, quando os países pobres serão os mais afetados pela falta de
infraestrutura. Chegamos à seguinte ideia-­chave:

Os países pobres são os que terão mais problemas urbanos para


resolver no ano 2000.

2° parágrafo - aqui o problema é a explosão urbana. Os exemplos dados


refe­rem-se a países pobres mais uma vez. A ideia-chave do parágrafo é o
crescimento desregrado das cidades desses países. Não é preciso subli-
nhar que isso vai acon­tecer a cidades da África e da Índia. Os exemplos
não interessam numa síntese. Podemos traduzir assim sua ideia-chave:

As cidades dos países pobres crescem desordenadamente.

Licenciatura em Informática
31
Leitura e Compreensão de Texto

3- parágrafo - a ideia-chave deste parágrafo é que, mesmo com proble-


mas tão complexos, as megacidades pobres têm capacidade para resol-
vê-los. O exemplo da Cidade do México é acidental, pois se poderia
citar qualquer outra megacidade do Terceiro Mundo. Por isso não deve-
mos levá-lo em conta na síntese, do mesmo modo como não levamos as
referências às cidades da África e da Índia no parágrafo anterior.

A ideia-chave deste parágrafo é:

As megacidades pobres podem encontrar soluções para seus


problemas.

Com essas três ideias-chave podemos formular um esquema que expli-


que a es­sência do texto:

1. no ano 2000, os países pobres serão os mais atingidos por pro-


blemas urbanos;

2. cidades dos países pobres crescem desordenadamente;

3. megacidades pobres podem encontrar soluções para seus


problemas.

Daí para a síntese é simples. Basta juntar as ideias-chave e dar-lhes uma


boa redação. Neste momento podemos acrescentar alguma ideia ou pa-
lavras que subli­nhamos mas que não entraram no esquema.

Síntese a partir das ideias-chave:

As megacidades no ano 2000 irão enfrentar muitos problemas. As cidades


dos países pobres são as que mais sofrerão devido ao crescimento desorde-
nado de sua população e à poluição. Mas isso não significa o caos absoluto,
pois essas metrópoles do Terceiro Mundo têm capacidade para resolver
esses e outros problemas.

A partir desse trabalho e de posse de determinados recursos que a língua


oferece, o ato de ler e redigir torna-se bem mais fácil. O que dissemos
em relação aos dois textos acima pode ser aplicado à leitura de qualquer
obra, seja qual for sua extensão. Mas vale uma ressalva: a leitura de um
livro não é igual à leitura de um texto de duas ou três páginas. Se for-
mos fazer a leitura de um livro parágrafo por parágrafo para encontrar
as palavras-chave, levaremos muito tempo para concluí-la. Nesse caso,
é melhor procurar as ideias-chave. O título do livro e, sobretudo, o de
cada capítulo são um bom fio condutor porque sintetizam o que é de-
senvolvido a cada passo do texto.

Língua Portuguesa
32
Capítulo 3

Em linhas gerais, para fazermos uma boa leitura, devemos obser-


var os seguintes passos:
1. Procurar as palavras-chave e/ou as ideias-chave do texto;
2. Se o levantamento for só de palavras-chave, procurar as in-
formações que elas trazem;
3. Se o levantamento for de ideias-chave, sublinhá-las e depois
resumi-las de forma pessoal;
4. Elaborar um gráfico ou um esquema para o texto;
5. Sintetizar o texto, dando um bom encadeamento às ideias.

Atividade
02. Leia os textos a seguir e responda às questões propostas (Tare-
fa off-line com envio de arquivo único):
TEXTO 2 Ética e jornalismo
O jornalista não pode ser despido de opinião política. A posição que consi-
dera o jornalista um ser separado da humanidade é uma bobagem. A pró-
pria objetividade é mal-administrada, porque se mistura com a necessida-
de de não se envolver, o que cria uma contradição na própria formulação
política do trabalho jornalístico. Deve­-se, sim, ter opinião, saber onde ela
começa e onde acaba, saber onde ela interfere nas coisas ou não. É preciso
ter consciência. O que se procura, hoje, é exatamente tirar a consciência do
jornalista. O jornalista não deve ser ingênuo, deve ser cético. Ele não pode
ser impiedoso com as coisas sem um critério ético. Nós não temos licença
especial, dada por um xerife sobrenatural, para fazer o que quisermos.
O jornalismo é um meio de ganhar a vida, um trabalho como outro qual-
quer; é uma maneira de viver, não é nenhuma cruzada. E por isso você faz
um acordo con­sigo mesmo: o jornal não é seu, é do dono. Está subentendi-
do que se vai trabalhar de acordo com a norma determinada pelo dono do
jornal, de acordo com as ideias do dono do jornal. É como um médico que
atende um paciente. Esse médico pode ser fascista e o paciente comunis-
ta, mas ele deve atender do mesmo jeito. E vice-versa. Assim, o totalitário
fascista não pode propor no jornal o fim da democracia nem entrevistar
alguém e pedir: “O senhor não quer dizer uma palavrinha contra a de­
mocracia?”; da mesma forma que o revolucionário de esquerda não pode
propor o fim da propriedade privada dos meios de produção. Para trabalhar
em jornal é pre­ciso fazer um armistício consigo próprio.
ABRAMO, Cláudio. A regra do jogo: o jornalista e a ética do marceneiro. São Paulo:
Companhia das Letras, 1993. p. 109-11.

Licenciatura em Informática
33
Leitura e Compreensão de Texto

A. Quais as duas ideias-chave do texto?


B. Sintetize o texto a partir das ideias-chave.

TEXTO 3 Uma escola para os ricos e outra para os pobres


A Escola da Nobreza durou até que as estruturas do mundo feu-
dal, rígidas e hierarquizadas, se tornassem anacrônicas por causa
do desenvolvimento do capita­lismo industrial.
A face do mundo transformou-se pela invenção da máquina e
a utilização de novas fontes de energia. Com a revolução tec-
nológica, novas classes sociais emergi­ram: a nascente burguesia
industrial, responsável pelo progresso técnico, tomou o poder
da velha aristocracia rural; uma classe operária formada pela
concentração, em torno dos novos centros de produção, de uma
mão-de-obra pobre e desqualificada.
Neste panorama de um mundo em mudança, a escola mantinha-
se reservada às elites.
No entanto, o desenvolvimento industrial requer um número
muito maior de quadros técnicos e científicos. Essa exigência eco-
nômica leva a uma mudança radi­cal nos conteúdos da escola. Ela
é forçada a se modernizar.
As disciplinas científicas adquiriram importância crescente ao
lado dos antigos conteúdos clássicos e literários.
Por outro lado, a burguesia dominante começou também a perce-
ber a necessida­de de um mínimo de instrução para a massa tra-
balhadora que se aglomerava nos grandes centros industriais. Os
“ignorantes” deveriam socializar-se, isto é, deveriam ser “educa-
dos” para tornar-se bons cidadãos e trabalhadores disciplinados.
Foi assim que, paralelamente à escola dos ricos, foi surgindo uma
outra escola, a escola dos pobres.
Sua função era dar aos futuros operários o mínimo de cultura ne-
cessário a sua integração por baixo na sociedade industrial.
A coexistência desses dois tipos de escola cria uma situação de
verdadeira segregação ­social. As crianças do “povo” frequenta-
vam a “escola primária”, que não é concebida para dar acesso a
estudos mais aprofundados.
As crianças da elite seguiam um caminho à parte, com acesso ga-
rantido ao ensino de ­nível superior, monopólio da burguesia.
HARPER, Babette et al. Cuidado, escola! São Paulo: Brasiliense, s/d. p. 29.

Língua Portuguesa
34
Capítulo 3

A. As palavras-chave do texto são: revolução tecnológica, esco-


la para os ricos e escol­a para os pobres. Indique as frases que as
desenvolvem.
B. Com base na resposta anterior, complete os seguintes tópicos
com o número de ideias-chave solicitado entre parênteses:
• solução tecnológica (três ideias-chave)
• escola para os ricos (duas ideias-chave)
• escola para os pobres (duas ideias-chave)

O conteúdo deste capítulo foi retirado do livro Roteiro de reda-


ção: lendo e argumentando, com adaptações.
Referência:
VIANNA, Antonio Carlos (coord.). Roteiro de redação: lendo e
argumentando. São Paulo: Scipione, 1998.

Licenciatura em Informática
35

COESÃO E COERÊNCIA TEXTUAL

Prezado(a) aluno(a),
Nesse estágio, além de ter familiaridade com as noções de texto e de
textualidade, espero que você também seja capaz de distinguir as pala-
vras e ideias-chave de um texto. Esse conhecimento será essencial para
percebermos os entrelaçamentos da tecitura do texto, isto é, os pontos
nodais que amarram o texto e facilitam sua objetividade e clareza.
Os objetivos propostos consistem em:
j) Identificar e empregar corretamente os mecanismos de coesão textual;
k) Identificar os fatores de coerência textual;
l) Distinguir textos coerentes de textos incoerentes.
Depois de alcançados esses objetivos, compreenderemos ainda melhor
como os textos são tecidos, e estaremos mais preparados para escrever.
Este capítulo, por trazer muitos conceitos, pode ser um pouco mais traba-
lhoso, mas sua compreensão é essencial ao trabalho de produção de tex-
tos. Por isso, faça todas as tarefas, e entregue-as ao tutor a distância.
Bom Trabalho!

A fala e também o texto escrito não se constituem apenas em uma


sequência de palavras ou de frases. A sucessão de coisas ditas
ou escritas forma uma cadeia que vai muito além da simples se-
quencialidade: há um entrelaçamento significativo que aproxima
as partes formadoras do texto falado ou escrito. Os mecanismos
linguísticos que estabelecem a conectividade e a retomada e ga-
rantem a coesão são os referentes textuais.

Cada uma das coisas ditas estabelece relações de sentido e significado


tanto com os elementos que a antecedem como com os que a sucedem,
construindo uma cadeia textual significativa. Essa coesão (coeso signi-
fica ligado), que dá unidade ao texto, vai sendo construída e se manifes-
ta pelo emprego de diferentes procedimentos, tanto no campo do léxico
como no da gramática.

Língua Portuguesa
36
Capítulo 4

Observe:

Mulheres de três gerações enfrentam o preconceito e revelam


suas experiências.

Elas resolveram falar. Quebrando o muro de silêncio, oito dezenas


de mulheres decidiram contar como aconteceu o fato que marcou
sua vida.

Nesse exemplo, temos os pronomes suas e que retomando mulheres de


três gerações e o fato, respectivamente; e o pronome elas antecipando
oito dezenas de mulheres.

É esse jogo de antecipações e retomadas de palavras e/ou ideias-


chave acrescidas de novas informações que garante a progressão
do texto, sua realização no plano das palavras e das ideias.

De maneira simplificada, poderíamos dizer que o texto é composto por


suas ideias-chave, acrescidas de informações pertinentes sobre elas, e de
elementos articuladores, que relacionam essas ideias e informações.

Não devemos esquecer que, num texto, não existem ou não deve-
riam existir elementos dispensáveis. Os elementos constitutivos
vão construindo o texto, e são as articulações entre vocábulos, en-
tre as partes de uma oração, entre as orações e entre os parágrafos
que determinam a referenciação, os contatos e conexões e estabe-
lecem sentido ao todo.

Os procedimentos que desenvolvem a articulação entre os elementos do


texto – e, algumas vezes, entre o texto e o seu contexto - e garantem a
progressão textual são aqueles que garantem ao texto coesão e coerên-
cia. A coesão diz respeito ao modo como ligamos os elementos textuais
numa sequência; a coerência não é apenas uma marca textual, mas diz
respeito aos conceitos e às relações semânticas que permitem a união
dos elementos textuais.

Licenciatura em Informática
37
Coesão e Coerência Textual

4.1 Os fatores da coesão textual na organização


do discurso

Fonte: CEAD/IFES © - 2009

Nas tirinhas acima, podemos perceber várias palavras que são respon-
sáveis por realizar o nexo, a ligação que se estabelece entre as partes do
texto, como mas (que liga duas orações, estabelecendo relação de opo-
sição entre elas) então (que tem valor interjetivo, indicando surpresa,
espanto), e quer dizer (que introduz uma explicação, um esclarecimen-
to), entre outros. Esses elementos são marcas de coesão textual.

Além disso, são também marcas da coesão textual a concordância entre


nomes ou entre verbos e nomes, verbos e pronomes, e outras.

A coesão é a manifestação linguística da coerência e se realiza nas re-


lações entre elementos sucessivos (artigos, pronomes adjetivos, adjetivos
em relação aos substantivos; formas verbais em relação aos sujeitos; tem-
Língua Portuguesa
38
Capítulo 4

pos verbais nas relações espaço-temporais constitutivas do texto etc.),


na organização de períodos, de parágrafos, das partes do todo, como
formadoras de uma cadeia de sentido capaz de apresentar e desenvolver
um tema ou as unidades de um texto. Construída com os mecanismos
gramaticais e lexicais, confere unidade formal ao texto.

Um texto é tecido em dois eixos: (1) a recorrência ou retomada


das palavras e ideias-chave, que garante a manutenção de dessas
palavras ou ideias ao longo do texto, chamada coesão referencial;
e (2) o acréscimo de novas informações, articuladas pelo uso de
elementos gramaticais, o que garante a progressão textual, chama-
da coesão sequencial.

Atividade 01
Observe o texto abaixo e acompanhe a análise dos mecanismos
de coesão.
Obs. Esta atividade pode parecer um pouco cansativa, mas
é essencial para apreender os mecanismos de coesão e seu
funcionamento.
TEXTO:
IML identifica e libera corpos das oito pessoas mortas em aci-
dente aéreo(1)
da Folha Online, publicado em 05/11/2007, com alterações
Os corpos das oito pessoas(2) que morreram ontem na queda(1)
de um avião(3) sobre dois imóveis na Casa Verde (zona norte de
São Paulo) foram identificados e liberados pelo IML (Instituto
Médico Legal) nesta segunda-feira.
Mais cedo, o diretor-técnico do IML, Carlos Alberto de Souza
Coelho(4), havia afirmado que o reconhecimento(5) de quatro
dos corpos poderia durar até o final da semana. Horas mais tarde,
porém, o processo(5) foi encerrado. Coelho(4) ainda não explicou
o método usado para reconhecer os corpos.
O acidente(1) causou a morte dos dois ocupantes do jato(3)
–piloto(6) e co-piloto(7) - e de seis pessoas(8) de uma mes-
ma família, em terra. Duas meninas - de 11 e de 16 anos -
ficaram feridas.

Licenciatura em Informática
39
Coesão e Coerência Textual

Estão reconhecidos e liberados, portanto, os corpos do piloto


Paulo Roberto Montezuma Firmino(6), 39; do co-piloto, Alberto
Soares Junior(7), 25; de Ana Maria Lima Fernandes(8), 21; e do
marido dela, Lucas de Souza Só Júnior(8), 20; do filho dos dois,
Luan Victor de Lima Só(8), de dez meses, da bisavó dele, Lina
Oliveira Fernandes(8), 74, e do avô, Aires Fernandes(8), 53, e da
avó, Rosa Lacerda de Lima Fernandes(8), 55.
Investigação
Técnicos do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Aci-
dentes Aeronáuticos) realizam nesta segunda-feira um “pente-
fino”(9) na área onde ontem caiu o Learjet(3). O objetivo é recolher
destroços da aeronave(3) que possam auxiliar nas investigações.
Os bombeiros auxiliam as buscas(9).
Também hoje, policiais do 13º DP (Casa Verde) conversam com
familiares das vítimas(8) e testemunhas do acidente em busca de
informações que possam auxiliar o inquérito aberto para investi-
gar o caso(1).
Ontem, o coronel Carlos Minelli de Sá, do SRPV (Serviço Re-
gional de Proteção ao Vôo), órgão ligado à Aeronáutica, afirmou
que, após a decolagem, o Learjet(3) girou à direita, enquanto a
trajetória prevista era virar à esquerda. Controladores da torre de
comando do Campo de Marte teriam tentado alertar piloto(6) e
co-piloto(7) sobre o erro, mas não receberam resposta.
Os motivos pelos quais o Learjet(3) adotou a trajetória errada serão
investigados nos próximos 30 dias. O equipamento do avião(3) que
grava a conversa entre a torre de controle e a cabine do avião - chama-
do CVR (Cockpit Voice Recorder) - foi localizado ontem mesmo.
O jato(3), com capacidade para dez pessoas, era da Reali Táxi Aé-
reo. A empresa afirma que a aeronave(3) estava “dentro de pa-
drões normais de operação”.
Acidente
O avião(3) havia decolado do Campo de Marte (zona norte) às
14h05 de domingo com os dois tripulantes(6 e 7) a bordo e com
destino ao Rio de Janeiro.
Minutos depois, o jato(3) caiu de bico sobre as casas(10) dos nú-
meros 118 e 104 da rua Bernardino de Sena. Os dois imóveis(10)
ficaram destruídos. O avião também causou danos em duas casas
vizinhas, as dos números 120 e 126. O local está interditado, e os
moradores que saíram ilesos foram levados pela Defesa Civil Mu-
nicipal a um hotel da região.

Língua Portuguesa
40
Capítulo 4

Foi o quinto acidente aéreo(1) ocorrido no Estado em cinco dias.


Na tarde da última quinta, três helicópteros caíram em diferentes
pontos de São Paulo –Carapicuíba e Mogi das Cruzes, na região me-
tropolitana; e em Ribeirão Preto (314 km a norte de São Paulo) –
deixando, no total, três pessoas mortas e sete feridas. Na quarta, um
avião Tucano da FAB (Força Aérea Brasileira) caiu em Pirassununga
(213 km a norte de São Paulo). Ninguém ficou ferido.
__________ //_________
Vejamos, por exemplo, o elemento (3), referente ao avião envolvido
no acidente aéreo. Ele foi retomado nove vezes durante o texto. Isso
é necessário à clareza e à compreensão do texto. A memória do leitor
deve ser reavivada a cada instante. Se, por exemplo, o avião fosse
citado uma vez no primeiro parágrafo e retomado somente uma vez,
no último, talvez a clareza da matéria fosse comprometida. Alguns
elementos e suas retomadas estão numerados no texto, para facilitar
sua atenção.
E como retomar os elementos do texto?
Em primeiro lugar, vamos observar a retomada dos elementos lexi-
cais, as palavras ou ideias-chave sobre as quais é organizado o texto.
Essa retomada permite o que chamamos de COESÃO APOIADA
NO LÉXICO. Ela pode dar-se pela reiteração (repetição, total ou
parcial), pela substituição e pela associação.
REPETIÇÃO: entrelaçamentos semânticos de frases por meio da re-
petição. A palavra ou ideia-chave do texto, apoiada na conexão de
elementos léxicos sucessivos, pode ser retomada por simples iteração
(repetição). Nessa reportagem, como já mencionado, o elemento (3)
foi repetido algumas vezes durante o texto. Podemos perceber que a
palavra avião foi bastante usada, principalmente por ele ter sido o ve-
ículo envolvido no acidente, que é a notícia propriamente dita. A re-
petição é um dos principais elementos de coesão do texto jornalístico
fatual, que, por sua natureza, deve dispensar a releitura por parte do
receptor (o leitor, no caso). A repetição pode ser considerada a mais
explícita ferramenta de coesão, mas é preciso tomar cuidado para não
tornar o texto pobre, usando de simples redundância, que denota po-
breza de vocabulário, e que ocorre quando não utilizamos outros tipos
de mecanismos de retomada.
REPETIÇÃO PARCIAL: a repetição também pode ser parcial. Na
retomada de nomes de pessoas, a repetição parcial é o mais comum
mecanismo coesivo do texto jornalístico, como se observa no se-
gundo parágrafo, em que o nome do diretor-técnico do IML, Carlos
Alberto de Souza Coelho, é retomado por Coelho.

Licenciatura em Informática
41
Coesão e Coerência Textual

Costuma-se, uma vez citado o nome completo de um entrevista-


do – ou da vítima de um acidente – repetir somente o(s) seu(s)
sobrenome(s). Quando os nomes em questão são de celebrida-
des (políticos, artistas, escritores, etc.), é de praxe, durante o texto,
utilizar a nominalização por meio da qual são conhecidas pelo
público. Exemplos: Lula (para o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva); Mandela (para o ex-presidente da África do Sul, Nélson
Mandela); etc. Nomes femininos costumam ser retomados pelo
primeiro nome, a não ser nos casos em que os sobrenomes sejam,
no contexto da matéria, mais relevantes e identifiquem as pessoas
a quem se referem com mais propriedade.

SUBSTITUIÇÃO LÉXICA, que se dá tanto pelo emprego de si-


nônimos como de palavras quase sinônimas para retomar um
elemento já citado. Consideram-se aqui, além das palavras sinô-
nimas, aquelas resultantes de famílias ideológicas e do campo as-
sociativo, como, por exemplo, esvoaçar, revoar, voar. No texto, a
palavra avião, além de ter sido repetida, foi substituída por jato,
Learjet e aeronave. Para retomar Reali Táxi Aéreo, no nono pará-
grafo, usa-se a empresa.

g) hipônimos (relações de um termo específico com um termo


de sentido geral, ex.: gato, felino) e hiperônimos (relações de
um termo de sentido mais amplo com outros de sentido mais
específico, ex.: felino, gato);

h) nominalizações (quando um fato, uma ocorrência, aparece


em forma de verbo e, mais adiante, reaparece como substanti-
vo, ex.: consertar, o conserto; viajar, a viagem);

i) generalizações (ex.: o Learjet < o jato) e especificações (ex.:


aeronave > jato > Learjet) e uso de epítetos (palavra ou expres-
são que se associa a um nome ou pronome para qualificá-lo, ex:
“Lula tem feito vários pronunciamentos a respeito da crise. O
presidente comparou a crise no Brasil a uma marolinha.” Nesse
caso, a palavra presidente, além de retomar Lula, também o
qualifica, mas a eficácia do uso do epíteto depende do conheci-
mento que o leitor tem da qualificação empregada;

j) substitutos universais (ex.: João trabalha muito. Também o


faço. (O verbo fazer em substituição ao verbo trabalhar);

k) enunciados que estabelecem a recapitulação da ideia glo-


bal. Ex.: O curral deserto, o chiqueiro das cabras arruinado e
também deserto, a casa do vaqueiro fechada, tudo anunciava
abandono (Vidas Secas). Esse enunciado é chamado de aná-

Língua Portuguesa
42
Capítulo 4

fora conceptual 2. Todo um enunciado anterior e a ideia global


que ele refere são retomados por outro enunciado que os resu-
me e/ou interpreta. Com esse recurso, evitam-se as repetições
e faz-se o discurso avançar, mantendo-se sua unidade.

2. Outros mecanismos de coesão compõem a COESÃO APOIA-


DA NA GRAMÁTICA, mais ligada ao encadeamento sequencial
do texto, que se dá pelo uso de:
PRONOMES (pessoais, adjetivos ou substantivos). Destacam-se aqui
os pronomes pessoais de terceira pessoa, empregados como substi-
tutos de elementos anteriormente presentes no texto, diferentemente
dos pronomes de 1ª e 2ª pessoa que se referem à pessoa que fala e com
quem esta fala. Pronomes são empregados no quarto parágrafo, para
estabelecer as relações de parentesco entre as vítimas, como “o marido
dela”, “a bisavó dele”;
Certos ADVÉRBIOS e EXPRESSÕES ADVERBIAIS, como as em-
pregadas no segundo parágrafo, as expressões mais cedo, horas mais
tarde e ainda são utilizadas para demarcar passagem de tempo;
ARTIGOS;
CONECTIVOS: conjunções e pronomes relativos. Além da
constante referência entre palavras do texto, observa-se na coesão
a propriedade de unir termos e orações por meio de conectivos,
que são representados, na Gramática, por inúmeras palavras e ex-
pressões. No texto, por ex., usa-se constantemente o pronome re-
lativo que para ligar orações, e outras conjunções, como portanto,
no quarto parágrafo. É preciso usar os conectivos com cuidado,
pois uma escolha errada pode ocasionar a deturpação do sentido
do texto. Os pronomes relativos pedem especial atenção;
NUMERAIS;
ELIPSES. A elipse se justifica quando, ao remeter a um enun-
ciado anterior, a palavra elidida é facilmente identificável (Ex.:
O jovem recolheu-se cedo. ... Sabia que ia necessitar de todas as
suas forças. O termo o jovem deixa de ser repetido e, assim, es-
tabelece a relação entre as duas orações.). É a própria ausência
do termo que marca a inter-relação. A identificação pode dar-se
com o próprio enunciado, como no exemplo anterior, ou com
elementos extraverbais, exteriores ao enunciado. Vejam-se os
avisos em lugares públicos (ex.: Perigo!) e as frases exclamativas,
que remetem a uma situação não-verbal. Nesse caso, a articula-
ção se dá entre texto e contexto (extratextual);

2 GUIMARÃES, Elisa. A articulação do texto. Série Princípios, 8 ed. São Paulo: Ática, 2000, p. 32.

Licenciatura em Informática
43
Coesão e Coerência Textual

AS CONCORDÂNCIAS;
A CORRELAÇÃO ENTRE OS TEMPOS VERBAIS. Estes dois
últimos elementos são essenciais, e sua ausência, ou emprego in-
correto, prejudicam a clareza textual.

Os DÊITICOS exercem, por excelência, a função de progressão


textual, dada sua característica: são elementos que não significam,
apenas indicam, remetem aos componentes da situação comuni-
cativa, pois têm a propriedade de fazer referência ao contexto si-
tuacional ou ao próprio discurso. Já os componentes concentram
em si a significação. Referem os participantes do ato de comuni-
cação, o momento e o lugar da enunciação.
Elisa Guimarães ensina a respeito dos dêiticos:
Os pronomes pessoais e as desinências verbais indicam os parti-
cipantes do ato do discurso. Os pronomes demonstrativos, cer-
tas locuções prepositivas e adverbiais, bem como os advérbios de
tempo, referenciam o momento da enunciação, podendo indicar
simultaneidade, anterioridade ou posterioridade. Assim: este, ago-
ra, hoje, neste momento (presente); ultimamente, recentemente,
ontem, há alguns dias, antes de (pretérito); de agora em diante, no
próximo ano, depois de (futuro)3. No texto, temos o uso de ontem,
hoje e nesta segunda-feira, que só podem ser bem compreendidos
se pudermos saber em que data o texto foi escrito e/ou publicado,
neste caso, em 05 de novembro de 2007.

Não só a coesão explícita possibilita a compreensão de um texto.


Muitas vezes a comunicação se faz por meio de uma coesão im-
plícita, apoiada no conhecimento mútuo anterior que os partici-
pantes do processo comunicativo têm da língua.

Atividade 02
Leia com atenção o material teórico e faça os seguintes exercícios, que
devem ser entregues ao tutor a distância. O gabarito para as questões
de múltipla escolha será disponibilizado após o prazo para entrega.

3 GUIMARÃES, Elisa. A articulação do texto. Série Princípios, 8 ed São Paulo: Ática, 2000, p.9-10.

Língua Portuguesa
44
Capítulo 4

1. (PROVA AFTN/RN 2005)


Assinale a opção em que a estrutura sugerida para preenchimento
da lacuna correspondente provoca defeito de coesão e incoerência
nos sentidos do texto. Tente justificar por que isso ocorre.

A violência no País há muito ultrapassou todos os limites.


___1___ dados recentes mostram o Brasil como um dos países
mais violentos do mundo, levando-se em conta o risco de morte
por homicídio.

Em 1980, tínhamos uma média de, aproximadamente, doze homi-


cídios por cem mil habitantes. ___2___, nas duas décadas seguin-
tes, o grau de violência intencional aumentou, chegando a mais do
que o dobro do índice verificado em 1980 – 121,6% –, ___3___,
ao final dos anos 90 foi superado o patamar de 25 homicídios por
cem mil habitantes. ___4___, o PIB por pessoa em idade de traba-
lho decresceu 26,4%, isto é, em média, a cada queda de 1% do PIB
a violência crescia mais do que 5% entre os anos 1980 e 1990.

Estudos do Banco Interamericano de Desenvolvimento mostram


que os custos da violência consumiram, apenas no setor saúde,
1,9% do PIB entre 1996 e 1997. ___5___ a vitimização letal se
distribui de forma desigual: são, sobretudo, os jovens pobres e ne-
gros, do sexo masculino, entre 15 e 24 anos, que têm pago com a
própria vida o preço da escalada da violência no Brasil.

(Adaptado de http:// www.brasil.gov.br/acoes.htm)

a) 1 – Tanto é assim que


b) 2 – Lamentavelmente
c) 3 – ou seja
d) 4 – Simultaneamente
e) 5 – Se bem que

2. Utilizando os recursos de coesão, substitua os elementos repe-


tidos nos textos abaixo:
a) O Brasil vive uma guerra civil e sem trégua. No Brasil, que se

Licenciatura em Informática
45
Coesão e Coerência Textual

orgulha da índole pacifica e hospitaleira de seu povo, a sociedade,


organizada ou não para esse fim, promove a matança impiedo-
sa e fria de crianças e adolescentes. Pelo menos sete milhões de
crianças e adolescentes com menos de 18 anos, segundo estudos
do Fundo das Nações Unidas para a infância (Unicef), vivem nas
ruas das cidades do Brasil.
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
____________________________________________________
b) A poesia às vezes se impõe por sua própria força. Mesmo quem
nunca leu Carlos Drummond de Andrade sabe que ele é um gran-
de poeta. Carlos Drummond de Andrade marcou não só a litera-
tura brasileira, mas também a vida cotidiana de muitas pessoas
ccm suas crônicas publicadas no Jornal do Brasil. A poesia de Car-
los Drummond de Andrade também se preocupou com a nossa
vida cotidiana. Nesses momentos a poesia de Carlos Drummond
de Andrade nos faz refletir sobre sentimentos advindos de certos
fatos que, ditos de outra forma, não nos teriam tocado tanto.
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
____________________________________________________

3. Apresentamos alguns segmentos de discurso separados por um


ponto final. Retire o ponto final e estabeleça entre eles o tipo de
relação que lhe parecer compatível, usando para isso os elementos
de coesão adequados.

a) O solo do Nordeste é muito seco e aparentemente árido. Quan-


do caem as chuvas. Imediatamente brota a vegetação.
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
____________________________________________________

Língua Portuguesa
46
Capítulo 4

b) Uma seca desoladora assolou a região sul, principal celeiro do


país. Vai faltar alimento e os preços vão disparar.
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
____________________________________________________

c) Vai faltar alimento e os preços vão disparar. Uma seca desola-


dora assolou a região sul, principal celeiro do país.
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
____________________________________________________

d) O trânsito em São Paulo ficou completamente paralisa-


do dia 15, das 14 às 18 horas. Fortíssimas chuvas inunda-
ram a cidade.
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
____________________________________________________

4. Os enunciados frasais a seguir apresentam problemas de coesão


por causa do mau uso do conectivo, isto é, da palavra que estabe-
lece a conexão. A palavra ou expressão conectiva inadequada vem
em destaque. Procure descobrir a razão dessa impropriedade de
uso e substituir a forma errada pela correta.

a) Em São Paulo já não chove há mais de dois meses, apesar de


que já se pensa em racionamento de água e energia elétrica.
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
____________________________________________________

Licenciatura em Informática
47
Coesão e Coerência Textual

b) As pessoas caminham pelas ruas, despreocupadas, como se não


existisse perigo algum, mas o policial continua folgadamente to-
mando o seu café no bar.
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
____________________________________________________

c) Talvez seja adiado o jogo entre Botafogo e Vasco, pois o estado


do gramado do Maracanã não é dos piores.
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
____________________________________________________

d) Uma boa parte das crianças mora muito longe, vai à escola com
fome, onde ocorre o grande número de desistências.
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
____________________________________________________

3. Identifique nos textos a seguir todos os termos que retomam as


palavras em itálico:

I. Em outubro de 1839 Paris ainda possuía a mesma mística em-


briagadora que Chopin experimentara ao chegar lá em setembro
de 1831. A ausência de 11 meses só servira para aumentar seu
apaixonado fascínio pela magnífica metrópole espraiada ao longo
das sinuosas margens do Sena. Paris havia-se tornado a amante de
Chopin muito antes de ele conhecer Mme. Sand e durante vários
anos subsequentes suas afeições ficariam divididas entre as duas.
Ambas o adoravam, do mesmo modo que eram, por sua vez, cul-
tuadas por ele, e ambas eram essenciais à sua existência. Com a
saúde debilitada, o jovem músico não podia sobreviver ao estímu-
lo de uma sem o amparo da outra.

ATWOOD, William G. A leoa e seu filhote. Trad. Bárbara Heliodora. Rio de


Janeiro, Zahar, 1982. p. 139.

Língua Portuguesa
48
Capítulo 4

II. Um antigo morador de São Cristóvão contava que, na mocida-


de, viajara diariamente, na barca que fazia o trajeto entre aquela
praia e o Cais Pharoux, ou dos Franceses, como então se dizia,
com um adolescente aparentando 13 ou 14 anos, magrinho, mo-
desta mas limpamente vestido.
A barca vinha cedo para a cidade, e voltava à tarde, conduzindo
sempre os mesmos passageiros, gente que tinha empregos no cen-
tro. Como era natural, a camaradagem se estabeleceu entre esses
companheiros diários, todos conversavam para matar o tempo. Só
o mocinho magro, sempre com um livro na mão, nunca dirigiu a
palavra a ninguém. Mal se sentava, logo afundava na leitura, e assim
ia e voltava, parecendo ignorar os que o cercavam, sem levantar os
olhos do livro, indiferente aos espetáculos da viagem, à beleza da
baía, às embarcações que encontravam. Era Machado de Assis.
Afinal, a única informação segura, clara, que nos chega sobre o
princípio da adolescência de Joaquim Maria é essa imagem. Com
certeza, só sabemos que ia todas as manhãs, bem cedo, do seu
bairro para o centro urbano.

PEREIRA, Lúcia Miguel. Machado de Assis. Belo Horizonte/São Paulo, Ita-


tiaia/Edusp, 1988. p. 45-6.

4. Leia os textos a seguir e escreva os termos retomados pelas pa-


lavras em itálico. Distribua-os em duas colunas: coesão dentro da
frase e coesão entre as frases.
I. Um gel desenvolvido por cientistas americanos para ajudar a
cicatrização de ferimentos profundos e queimaduras graves repre-
sentará o primeiro resultado comercialmente visível de uma nova
geração de medicamentos. A pomada cicatrizante, que chegará às
farmácias americanas até o início do próximo ano, será uma es-
pécie de cola biodegradável, cuja função é juntar as células sadias
em torno do ferimento, reconstituindo os tecidos em um tempo
30% mais rápido que qualquer outro remédio. Além disso, o gel
elimina toda cicatriz. O novo medicamento é fruto do desenvolvi-
mento de um dos ramos mais recentes da medicina, o que estuda
a adesividade das células do corpo humano, a partir de uma cons-
tatação óbvia: os cerca de 100 trilhões de células que formam o
organismo de uma pessoa podem ser comparados a tijolos de um
edifício, que precisam estar devidamente unidos por camadas de
cimento. Se o cimento é de má qualidade ou insuficiente, o prédio
pode ruir. Da mesma forma, os cientistas trabalham agora com
a certeza de que um “cimento biológico” dá estrutura ao corpo

Licenciatura em Informática
49
Coesão e Coerência Textual

humano e o domínio dessa substância fará a medicina avançar a


passos largos no combate a uma série de doenças.
Isto é, 14 out. 1992.

Coesão dentro da frase Coesão entre as frases


que (que chegará) retoma... pomada cicatrizante retoma
cuja (cuja função)... gel...
o (o que estuda)... novo medicamento...
que (que formam)... cimento...
que (que precisam)... cientistas...
dessa substância...

II. A nova vocação dos computadores é funcionar com todo o


aparato técnico fornecido pela informática, só que numa relação
tão visual e emocionante quanto um jogo de videogame. Já exis-
tem máquinas que cruzam essa fronteira, produzindo imagens em
três dimensões nas quais o usuário tem a sensação de penetrar.
Imagine um visor que pode ser preso na frente dos olhos, como
uma máscara de mergulho. Acoplado a um computador, esse vi-
sor cria imagens baseadas num programa e dá à pessoa a ilusão
de que está no ambiente projetado na tela. Há mais. Usando uma
luva cheia de sensores, todos ligados ao mesmo computador, o
operador do equipamento pode tocar objetos que só existem na
tela aberta diante de seus olhos. É possível, por exemplo, operar os
comandos de um caça-bombardeiro com a mão enluvada e ver na
tela os instrumentos sendo manobrados enquanto o avião se move
com toda a aparência de uma situação real. Quem vê a brincadeira
de fora vai enxergar apenas uma pessoa com os olhos cobertos por
uma máscara levantando uma mão enluvada e nada mais.
Veja, 21 out. 1992.

Coesão dentro da frase      Coesão entre as frases


que (que cruzam) retoma...    máquinas retoma...
nas quais...          esse visor...
que (que pode ser preso) ...    operador do equipamento...
todos... operar...
que (que só existem)...       brincadeira...
seus (seus olhos)...        olhos cobertos...
               mão enluvada...

Língua Portuguesa
50
Capítulo 4

4.2 Os fatores da coerência textual na organiza-


ção do discurso

Em princípio, podemos dizer que a coerência textual está ligada à or-


ganização do texto como um todo, à progressão textual, ao uso correto
dos mecanismos de coesão e à adequação da linguagem ao tipo de texto.
No entanto, como vimos, não só a coesão explícita possibilita a com-
preensão de um texto. Muitas vezes a comunicação se faz por meio de
uma coesão implícita, apoiada no conhecimento mútuo anterior que os
participantes do processo comunicativo têm da língua.

O conceito de coerência textual, assim ocomo o de coesão, está intima-


mente ligado à compreensão de texto como unidade de sentido.

Dificilmente podemos definir coerência através de um conceito,


porque ela está diretamente ligada à possibilidade de se estabele-
cer um sentido para ó texto, que lhe é atribuído através do leitor
e depende do repertório de conhecimento que ele possui. Porém,
para Platão & Fiorin “Coerência deve ser entendida como uni-
dade do texto. Um texto coerente é um conjunto harmonioso,
em que todas as partes se encaixam de maneira complementar de
modo que não haja nada destoante, nada ilógico, nada contradi-
tório, nada desconexo. No texto coerente, não ha nenhuma parte
que não se solidariza com as demais.”

A coerência textual é a relação lógica entre as ideias, pois essas devem se


complementar, resultando na não-contradição entre as partes do texto.
Inclui fatores como o conhecimento que o produtor e o receptor têm do
assunto abordado no texto, conhecimento de mundo, o conhecimento
que esses têm da língua que usam e a intertextualidade.

Pode-se concluir que texto coerente é aquele do qual é possível esta-


belecer sentido, é entendido como um princípio de interpretabilidade.
Existem condições de interpretabilidade ligadas diretamente ao texto,
como o conhecimento e o uso adequado dos recursos lexicais e grama-
ticais da língua.

Observe as seguintes orações:

As crianças estão morrendo de fome por causa da riqueza do país.

Adoro sanduíche porque engorda.

Licenciatura em Informática
51
Coesão e Coerência Textual

A primeira oração emprega o conectivo de maneira incorreta, resultan-


do em contradição; as informações e a relação entre elas não estão ex-
pressas com clareza, portanto, é incoerente. Já a segunda oração pode
ser coerente ou não, dependendo do contexto. Em uma sociedade que
valoriza a magreza, ela parece contraditória; mas, dita por alguém que
quer engordar, faz sentido.

O professor Gílson Demétrio Ávalos disponibiliza on line uma aula que


esclarece bastante a questão da coerência textual e reproduzimos aqui,
com algumas adaptações. Vamos acompanhá-la:

Cada palavra tem seu sentido individual, e quando elas se relacionam,


montam um outro sentido. O mesmo raciocínio vale para as frases, os
parágrafos e até os textos. Cada um desses elementos tem um sentido
individual e um tipo de relacionamento com os demais. Caso estas re-
lações sejam feitas da maneira correta, obtemos uma mensagem, um
conteúdo semântico compreensível. Se alguém ouvisse ou lesse coisas
como:

Quem tem uma foto importada de 1000 cc, que custa US$ 20.000,
não vai expô-la ao trânsito de uma cidade como São Paulo.

Holyfield venceu a luta, apesar de ser o mais forte dos lutadores.

não hesitaria em classificá-las como incoerentes. No primeiro caso,


houve o uso inadequado de uma palavra do léxico. Basta trocar a pala-
vra foto pela palavra moto que o texto fica coerente. No segundo caso,
houve uma falha gramatical. A conjunção apesar de não está adequada
para unir as duas ideias expostas no texto. Se a substituirmos pela con-
junção pois tudo volta a ficar bem, em uma outra versão como:

Holyfield venceu a luta, pois era o mais forte dos lutadores.

Mas a coerência de um texto depende também de outros fatores, como


os elementos contextualizadores que são data, local, assinatura, elemen-
tos gráficos etc. “ancoram” um texto em uma situação comunicativa de-
terminada. Imagine o seguinte texto contextualizado de duas maneiras
diferentes:

Hoje, eu, o rei, convido todos a comparecer em massa, para assistir


ao massacre de Israel.

6. assinado: Imperador Tito, Jerusalém, ano 70


7. assinado: Pelé, Rio de Janeiro, 1995.

Língua Portuguesa
52
Capítulo 4

No caso [a], teríamos o relato de fato relacionado à história do povo


judeu. No [b], um prognóstico sobre um jogo de futebol, envolvendo
duas seleções.

Mas a coerência de um texto depende também do nosso conhecimento


de mundo. Alguém que não conheça a história de Roma, da ocupação
da Judeia pelos romanos e a sua destruição pelo imperador Tito, terá
mais dificuldades para entender a primeira contextualização.

Se alguém nos disser que, quando assistia a um casamento, a luz se


apagou justamente no momento em que a noiva ia saindo da igreja,
todos nós saberemos, sem que esteja dito no texto, que a noiva cami-
nhava pelo corredor central da igreja, vinda do altar, em direção à por-
ta principal, e que estava acompanhada do noivo que, nesse momento,
já era seu marido. Tudo isso porque, como ocidentais e brasileiros,
temos, em nosso repertório, o esquema sobre como se processa um
casamento em uma igreja católica. Se disséssemos a mesma coisa a um
indiano, por exemplo, ele teria dificuldade em perceber a coerência do
texto, por falta de repertório.

A propósito, você consegue imaginar o tipo de cultura ou conhecimen-


to de mundo que tornaria coerente o texto a seguir, citado por Richard
Gordon, em seu livro A assustadora história da medicina?

Verrugas – procure um homem que nunca viu o próprio pai e peça para
tocar no seu casaco. Como profilaxia, nunca deixe seus filhos tocarem
na água onde foram cozidos ovos.

4.2.1. As Meta-Regras de Coerência

Pesquisando sobre a coerência dos textos, um estudioso francês


chamado Michel Charolles elencou quatro princípios fundamen-
tais responsáveis pela coerência textual. Chamou-os de meta-re-
gras da coerência. São as seguintes:
Meta-regra da repetição – um texto coerente deve ter ele-
mentos repetidos;
Meta-regra de progressão – um texto coerente deve apresentar
renovação do suporte semântico, isto é, deve avançar nos argu-
mentos, mas utilizando-se de constante retomada das informa-
ções pressupostas ou que possam ser inferidas do texto;
Meta-regra da não-contradição – em um texto coerente, o que
se diz depois não pode contradizer o que se disse antes ou que
ficou pressuposto;
Meta-regra de relação – em um texto coerente, seu conteúdo
deve estar adequado a um estado de coisas no mundo real ou em
mundos possíveis.

Licenciatura em Informática
53
Coesão e Coerência Textual

Vejamos cada uma delas. A primeira, a meta-regra da repetição, nada


mais é do que aquilo que chamamos de coesão textual. O fato de, em uma
frase, recuperarmos termos de frases anteriores, por meio de pronomes,
elipses, elementos lexicais ou substitutivos constitui um processo de repe-
tição ou recorrência. A coesão textual é, portanto, a primeira condição
(necessária, mas não suficiente) para que um texto seja coerente.

A meta-regra de progressão nos diz que um texto deve sempre apre-


sentar informações novas à medida que vai sendo escrito. Vejamos o
texto a seguir:

Essa criança não come nada. Fica apenas brincando com os ta-
lheres, ou seja: pega a colher, o garfo e não olha para o prato de
comida. Ela não se alimenta. Brinca apenas. Diverte-se com uma
colher e um garfo e o prato fica na mesa. O ato de brincar substitui
o ato de alimentar-se.

Esse texto, embora apresente elementos recorrentes (coesão), não apre-


senta progressão. É um texto circular, sem informatividade alguma. Por-
tanto, incoerente. Ainda neste capítulo, trabalharemos um pouco mais a
importância da progressão textual para a coerência dos textos.

A meta-regra da não-contradição nos diz que cada pedaço de texto


deve “fazer sentido” com o que se disse antes. Vejamos o texto a seguir:

Para as tropas aliadas, o dia 4 de junho foi um dia terrível. Os


homens da 4ª Divisão de Infantaria ficaram o dia inteiro no mar.
Os navios-transporte e as embarcações de desembarque faziam
círculos ao largo da ilha de Wight. As ondas arrebentavam sobre
os lados, caía uma chuva forte. Os homens estavam prontos para
o combate, mas sem destino nenhum. Depois dessa exaustiva ca-
minhada, todos estavam cansados. Nesse dia 3 de junho, ninguém
queria jogar dados ou pôquer, ou ler um livro ou ouvir outra ins-
trução. O desânimo tomava conta de todos.

(AMBROSE, O dia D – 6 de julho de 1944: A batalha culminante da Segunda


Grande Guerra, p. 221. – adaptado)

A informação de que os soldados estavam exaustos depois de uma ca-


minhada contradiz o que está pressuposto na parte inicial do texto. Afi-
nal, eles estavam embarcados em navios-transporte e embarcações de
desembarque e pressupõe-se que, nessas condições, soldados não façam
caminhadas. A informação de que no dia 3 de junho ninguém queria
jogar dados ou pôquer etc contradiz o que está explicitado no início: o
dia era 4 de junho. O texto em questão tem coesão, progressão, mas é
contraditório e, por isso, incoerente.

Língua Portuguesa
54
Capítulo 4

Finalmente, a meta-regra de relação estabelece que o conteúdo do tex-


to deve estar adequado a um estado de coisas no mundo real ou em
mundos possíveis. Vejamos o seguinte texto:

O município de São José do Rio Preto abrange uma região imensa


que é composta por vários Estados limítrofes que ocupam uma
área respeitável [...] Conta ainda com uma superpopulação, com
uma maioria de pessoas cultas e uma juventude com grandes re-
cursos educacionais, cursando as várias escolas e faculdades.

Isto posto, nossa cidade sente falta urgente de uma Capela Cre-
matória. Para os leigos é preciso esclarecer que, para um corpo
ser exumado através de forno crematório, há necessidade que ele
registre esta vontade em duas testemunhas. Somente o interessa-
do poderá usar esta forma de suprir seu desejo, caso contrário, a
exumação seria da forma natural, ou seja: o sepultamento. (Diário
da Região,S.J. do Rio Preto,15 abr. 1998 (trecho de uma carta es-
crita por um leitor)

Esse texto contraria de várias maneiras a meta-regra de relação,


pois seu conteúdo não está de acordo com o mundo real. Afinal,
São José do Rio Preto não se limita com vários Estados, não tem
superpopulação, um corpo (uma pessoa morta) não pode mais re-
gistrar vontade alguma, e, se pudesse, não seria em duas testemu-
nhas, mas diante de duas testemunhas. Há também o emprego
inadequado do léxico. Afinal, exumar não é o mesmo que cremar
ou sepultar.

Atividade 03
Leia com atenção o material teórico e faça os seguintes exercícios,
que devem ser entregues ao tutor a distância. O gabarito para as
questões de múltipla escolha será disponibilizado após o prazo
para entrega.
1. Identifique, em cada um dos textos a seguir, a meta-regra de
coerência que foi infringida. Em alguns casos, mais de uma meta-
regra foi infringida. Tente estabelecer a principal. (Estes textos fo-
ram retirados de PETRAS. O melhor do besteirol.)
a)“É realmente apropriado que nos reunamos aqui hoje, para ho-
menagear Abraham Lincoln, o homem que nasceu numa cabana
de troncos que ele construiu com suas próprias mãos”. (Político,
em um discurso, homenageando Lincoln)

Licenciatura em Informática
55
Coesão e Coerência Textual

b)“Damos cem por cento na primeira parte do jogo e, se isso


não for suficiente, na segunda parte damos o resto”. (Yogi Ber-
ra, jogador norte-americano de beisebol, famoso por suas de-
clarações esdrúxulas)
c)“Mantle rebate com as duas mãos porque é anfíbio”. (idem)
d)“Alguma força sinistra entrou, aplicou uma outra fonte de ener-
gia e apagou as informações contidas na fita”. (Alexandre Haig,
oferecendo ao juiz John Sirica uma teoria sobre um “buraco” de
18,5 minutos nas fitas de Nixon, durante o caso Watergate).
e)“Nós não temos censura. O que temos é uma limitação do
que os jornais podem publicar”. (Louis Net, ex-vice-ministro
da Informação da África do Sul).
f)“Substituição de bateria: substitua a bateria velha por uma
bateria nova”. (Instrução em manual de aparelho elétrico).
g)“Por que deveriam os irlandeses ficar de braços cruzados e mãos nos
bolsos enquanto a Inglaterra pede ajuda?” (Sir Thomas Myles, falan-
do em um comício em Dublin, em 1902, sobre a guerra dos Boeres).
h)“Por que os judeus e árabes não podem se reunir e discutir a
questão como bons cristãos?” (Arthur Balfour, estadista britâ-
nico, primeiro-ministro e ministro do Exterior).
i)“Quando um grande número de pessoas não consegue en-
contrar trabalho, o resultado é o desemprego”. (Calvin Coolid-
ge, presidente americano em 1931).
j)“Encontrando um milhão de dólares na rua, eu procuraria o
cara que o perdeu e, se ele fosse pobre, devolveria”. (Yogi Berra).
k)“Acho que os senhores pensam que, em nossa diretoria, me-
tade dos diretores trabalha e a outra metade nada faz. Na ver-
dade, cavalheiros, acontece justamente o contrário”. (Diretor
de empresa, defendendo membros do seu staff).
l)“Um homem não pode estar em dois lugares ao mesmo tem-
po, a menos que ele seja uma ave”. (Sir Boy Roche, deputado
representante de Tralee no Parlamento Britânico).
m)Precisamos de leis que protejam a todos. Homens e mulhe-
res, normais e bichas, qualquer que seja sua perversão sexua...
ahn, preferência. (Bella Abzug, político de Nova Iorque, em um
comício em defesa da Emenda dos Direitos Iguais).
n)“Eu não estava mentindo. Disse, sim, coisas que mais tarde
se viu que eram inverídicas” (Presidente Nixon, em depoimen-
to durante as investigações do caso Watergate).

Língua Portuguesa
56
Capítulo 4

o) “Cuidado! Tocar nesses fios provoca morte instantânea.


Quem for flagrado fazendo isso será processado”. (Tabuleta
numa estação ferroviária).
p) “Aproximadamente 80% da poluição do ar são causados por
hidrocarbonetos liberados pela vegetação, de modo que não
vamos exagerar e criar, e exigir o cumprimento de padrões ri-
gorosos de emissão por fontes artificiais” (Presidente Ronald
Reagan).
q) “Quando dois trens se aproximarem em um cruzamento, am-
bos devem parar por completo e nenhum dos dois iniciar via-
gem até que o outro tenha passado” (De uma lei do Kansas).

Exercícios complementares

1. Observe que, nos trechos abaixo, a ordem que foi dada às pala-
vras, nos enunciados, provoca efeitos semânticos estranhos. Diga
qual é a interpretação estranha que os trechos podem ter e rees-
creva-os de forma a evitar o problema.

a. Fazendo sucesso com a sua nova clínica, a psicóloga Iracema


Leite Ferreira Duarte, localizada na rua Campo Grande, 159.
b. Embarcou para São Paulo Maria Helena Arruda, onde ficará
hospedada no luxuoso hotel Maksoud Plaza. (Correio de Mato
Grosso, 28/8/88)

As questões 2 e 3 referem-se ao texto seguinte. Para responder,


baseie-se exclusivamente nele.

A chuva salvou o GP Brasil. Vinte minutos de toró, mais uma


brilhante corrida de Ayrton Senna, transformaram um passeio
de Alain Prost num pesadelo molhado. O francês da Williams
foi derrotado pela água[...] Para ganhar a corrida de Interlagos,
Senna contou com sorte, perícia, uma tática bem traçada e, so-
bretudo, uma burrada sem tamanho de Alain Prost. O nanico,
que largou na pole, fazia uma prova sem sustos, liderava com
tranquilidade e só perderia se um raio caísse em sua cabeça.
Aconteceu quase isso. Na 30ª passagem, debaixo de um belo
aguaceiro, não parou para colocar pneus “biscoito” e no fim da
Reta dos Boxes perdeu o controle do carro, batendo no Minar-
di de Christian Fittipaldi.
(Folha de S. Paulo, 29/3/93)

Licenciatura em Informática
57
Coesão e Coerência Textual

3. Há no texto várias palavras e expressões ligadas à chuva,


como toró, água, molhado, aguaceiro etc. Ao empregá-las, o
autor procurou:
a. relatar um acontecimento previsível, verificado durante o GP Brasil;
b. apresentar a chuva inesperada como único fator da derrota
de Prost;
c. apresentar dois pontos de vista com relação ao fenômeno da
chuva: um, ligado ao vencido, outro, ao vencedor;
d. conseguir efeitos estilísticos que tornassem o texto mais pre-
ciso e elegante;
e. demonstrar que, às vezes, a providência divina faz sua pró-
pria justiça.

2. Em todo o texto, os nomes de Alain Prost e Ayrton Senna nunca


são retomados expressamente pelo pronome ele. O autor,

a. não repetindo pronomes, caracteriza, com precisão, a perso-


nalidade de cada um dos pilotos;
b. preferindo os recursos utilizados, deprecia Prost e evita pos-
síveis ambiguidades;
c. empregando a expressão “o francês da Williams”, subestima
um possível motivo da superioridade de Prost;
d. utilizando esse expediente, dá o máximo de informações so-
bre os dois pilotos rivais;
e. optando por outras expressões, torna o texto propositada-
mente prolixo e confuso.

3. Assinale a opção em que a mudança na ordem dos termos altera


sensivelmente o sentido do enunciado.

a. É bastante difundida essa crença sobre os sistemas de computação.


Essa crença sobre os sistemas de computação é bastante difundida.
b. O computador é capaz de executar o trabalho de muitas pessoas.
É o computador capaz de executar o trabalho de muitas pessoas.
c. Funcionários menos graduados deixam de participar das decisões.
Deixam de participar das decisões menos funcionários graduados.
d. As novas tarefas padronizadas são fonte potencial de alienação.
São fonte potencial de alienação as novas tarefas padronizadas.

Língua Portuguesa
58
Capítulo 4

e.Esta reação pode se traduzir na falta de colaboração com


os analistas.
Pode esta reação traduzir-se na falta de colaboração com
os analistas.

4. No texto a seguir há um trecho que, se tomado literalmente (ao


pé da letra), leva a uma interpretação absurda:

A oncocercose é uma doença típica de comunidades primitivas.


Não foi desenvolvido ainda nenhum medicamento ou tratamen-
to que possibilite o restabelecimento da visão. Após ser picado
pelo mosquito, o parasita (agente da doença) cai na circulação
sanguínea e passa a provocar irritações oculares até a perda total
da visão.
(Folha de S. Paulo, 2/11/90)

e) Transcreva o trecho problemático.


f) Diga qual a interpretação absurda que se pode extrair desse trecho.
g) Qual a interpretação pretendida pelo autor?
h) Reescreva o trecho de forma a deixar explícita tal interpretação.

5. A história transcrita a seguir contrasta dois mundos, dois es-


tados de coisas: o dia-a-dia cansativo do carregador e a situação
imaginária em que ele se torna presidente da República:

Dois carregadores estão conversando e um diz: “Se eu fosse pre-


sidente da República, eu só acordava lá pelo meio-dia, depois ia
almoçar lá pelas três, quatro horas. Só então é que eu ia fazer o
primeiro carreto”.

O carregador não consegue passar para o mundo imaginário, e aca-


ba misturando-o de maneira surpreendente com o mundo real.

a) Qual é a construção gramatical usada nessa história para dar


acesso ao mundo das fantasias do carregador?
b) Que situação do mundo real ele transfere para o mundo de
suas fantasias?
c) Por que isso é engraçado?

Licenciatura em Informática
59
Coesão e Coerência Textual

6. O trecho seguinte dá a entender algo diferente do que seu autor


certamente quis dizer:

Malcolm Browne, também da Associated Press, deveria ter impe-


dido que o monge budista em Saigon não se imolasse, sentado e
ereto, impedindo o mundo de ver o protesto em cuja foto encon-
trou seu maior impacto?
Caio Túlio Costa, Folha de S. Paulo, 17 mar. 1991.

a) Se tomado ao pé da letra, o que significa exatamente o trecho:


“ .., deveria ter impedido que o monge ... não se imolasse”?
b) Se não foi isso que o autor quis dizer, que sentido pretendeu
dar a esse trecho?

7. Às vezes, quando um texto é ambíguo, é o conhecimento que o


leitor tem dos fatos que lhe permite fazer uma interpretação ade-
quada do que lê. Um bom exemplo é o trecho que segue, no qual
há duas ambiguidades, uma decorrente da ordem das palavras, e a
outra, de uma elipse de sujeito.
O presidente americano (...) produziu um espetáculo cinemato-
gráfico em novembro passado na Arábia Saudita, onde comeu
peru fantasiado de marine no mesmo bandejão em que era servi-
do aos soldados americanos.
Veja, 9 jan. 1991.

a) Quais as interpretações possíveis das construções ambíguas?


b) Reescreva o trecho de modo a impedir interpretações inadequadas.
c) Que tipo de informação o leitor leva em conta para interpre-
tar adequadamente esse trecho?

Língua Portuguesa
60
Capítulo 4

4.3 A progressão textual

“Ninguém escreve bem se não sabe bem o que escrever”

Joaquim Mattoso câmara Jr.

Embora a progressão textual seja um item entre os que garantem a coe-


rência de um texto, vamos dedicar um pouco mais de tempo a ele, pois
um dos problemas mais comuns de um texto é a falta de progressão.

Observe o texto abaixo:

Estou começando a me sentir vazia, pálida, desesperançosa e oca.


O vazio me invade e sinto um tremendo vazio dentro de mim.

Esse texto é circular, ou seja, repete várias vezes a mesma ideia. A pre-
ocupação em garantir a unidade de sentido, somada à dificuldade de
desenvolver novas ideias, pode levar a esse tipo de problema. Vejamos
o que nos dizem Platão e Fiorin:

“Dissemos já que para um conjunto de enunciados linguísticos ser


um texto é preciso que tenha coerência. O que garante a unidade
de sentido é a relação harmoniosa das partes. Unidade, porém,
não quer dizer repetição de ideias, de segmentos com o mesmo
significado. Um bom texto deve ter progressão, isto é, cada seg-
mento que se sucede precisa ir acrescentando informações novas
aos enunciados anteriores. Num texto, é proibido repetir-se, a
menos que essa repetição tenha uma função no texto e, nesse caso,
já não é mais pura repetição. (...)

Em síntese, num texto, cada segmento que ocorre deve acrescen-


tar um dado novo ao anterior. A própria repetição, quando fun-
cional, faz isso e, portanto, justifica-se. Já as repetições sem função
desqualificam o texto.”

Assim, concluímos que, para um texto fazer sentido, é essencial introduzir


informações novas, e articulá-las às informações já existentes no texto.

Atividade 04
Leia com atenção o material teórico e faça os seguintes exercícios,
que devem ser entregues ao tutor a distância.

Licenciatura em Informática
61
Coesão e Coerência Textual

1. Para cada frase abaixo, redija uma segunda com novas informa-
ções, substituindo o termo ou expressão em negrito e utilizando o
recurso de coesão sugerido entre parênteses.

a) Um dos graves problemas das metrópoles são os meios de lo-


comoção. (palavra sinônima ou quase-sinônima)
b) Ayrton Senna foi um dos maiores esportistas brasileiros. (epíteto)
c) Não se pode comparar São Paulo com o Rio de Janeiro. (pronomes)
d) Muitas pessoas estão preferindo ir morar em pequenas cidades
do interior. (advérbio)
e) O crescimento desordenado degrada qualquer cidade. (nominalização)

2. Para cada item do exercício anterior, acrescente uma terceira


frase que dê continuidade ao seu pensamento, utilizando um re-
curso de coesão a sua escolha.

Referências:
http://www.cce.ufsc.br/~nupill/ensino/a_referenciacao.htm
http://www.fes.br/disciplinas/adm/comex/10%AA%20aula%20
Coer%EAncia%20textual%20-%20macroestrutura%20do%20
texto%20argumentativo.doc
ABREU, Antônio Suárez.Curso de redação. Ática Universidade.
São Paulo: Ática, 2004.
CAMPEDELLI, Samira & SOUZA, Jésus. Português: literatura,
produção de textos e gramática. São Paulo: Saraiva, 2000.
COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e textualidade. 2. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 1999.
FIORIN, José Luiz & PLATÃO SAVIOLI, Francisco. Lições de
texto: leitura e redação. 4. ed. São Paulo: Ática, 2003.
GARCIA, Othon Maria. Comunicação em prosa moderna. 26.
ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.
GUIMARÃES, Elisa. A articulação do texto. Série Princípios, 8
ed. São Paulo: Ática, 2000.
KOCH, Ingedore. Introdução à lingüística textual. São Paulo:
Martins Fontes, 2002.
_________& TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Texto e coerência. São
Paulo: Cortez, 1989.
VIANNA, Antonio Carlos (coord.). Roteiro de redação: lendo e
argumentando. São Paulo: Scipione, 1998.

Língua Portuguesa
62
Capítulo 4

Licenciatura em Informática
63

A TEXTUALIDADE

Prezado (a) aluno (a),


Na primeira aula, falamos brevemente dos fatores que contribuem
para formar a textualidade: intencionalidade, aceitabilidade, situ-
acionalidade, informatividade, intertextualidade, coesão e coerên-
cia textual. Agora que já trabalhamos um pouco mais a coesão e
a coerência textual, aprofundaremos os demais fatores. Você pode
estar se perguntando: como esses estudos me ajudarão a melhorar a
minha produção textual?
Além dos aspectos puramente linguísticos, há outros elementos que
interferem na construção de um texto claro e eficaz, que não podem
ser ignorados.
Os objetivos propostos nesta semana consistem em:
5. reconhecer textos com problemas de textualidade;
6. organizar textos de forma a otimizar a clareza e a correção.
Novamente, nesta semana, as tarefas serão feitas na apostila. Estu-
de bastante, porque já estamos próximos da avaliação presencial.

Bom Trabalho!

Atividade 01
Antes de iniciarmos este capítulo, volte à semana 01 e releia o
conteúdo referente a TEXTUALIDADE.
“... A moléstia é real, os sintomas são claros, a síndrome está com-
pleta: o homem continua cada vez mais incomunicável (porque
deturpou o termo comunicação), incompreendido e/ou incom-
preensível, porque se voltou para dentro e se autoanalisa conti-
nuamente, mas não troca com os outros estas experiências indi-
viduais; está “desaprendendo” a falar, usando somente o linguajar
básico, essencial, e os gestos. Não lê, não se enriquece, não se
transmite. Quem não lê, não escreve. Assim, o homem do século
XX, bicho de concha, criatura intransitiva, se enfurna dentro de si
próprio, ilhando-se cada vez mais, minado pelas duas doenças do
nosso tempo: individualismo e solidão.”
(Ely Vieitez Lanes. Laboratório de literatura.)

Língua Portuguesa
64
Capítulo 5

O texto da professora Ely Lanes, apesar de escrito em 1975, con-


tinua atual. O exercício da comunicação escrita é cada vez mais
precário e econômico e, com isso, muitas vezes perdemos a noção
de que falamos e escrevemos para um outro, alguém que pensa e
escreve diferentemente de nós. Que teve uma trajetória diferente
de vida e de conhecimento Quando essa noção é abandonada, os
textos tendem a ser menos claros e eficiente na sua função comu-
nicativa. Por isso, o estudo dos fatores de textualidade pode nos
ajudar a escrever melhor.

5.1. Fatores de Textualidade

A textualidade é o conjunto de características que fazem que um


texto seja um texto, e não apenas uma sequência de frases. A or-
ganização e a inter-relação de ideias envolvem aspectos internos e
externos ao texto. Tais aspectos afetam a produção e recepção de
textos e são chamados de fatores de textualidade.

Os fatores da textualidade se distinguem em linguísticos e pragmáticos.


Os linguísticos foram abordados no capítulo anterior: a coesão e a co-
erência. Neste capítulo, aprofundaremos um pouco mais a análise dos
fatores pragmáticos (voltados para a prática textual, na atuação infor-
macional e comunicativa) da textualidade. São eles:

Licenciatura em Informática
65
A Textualidade

5.1.1. Intencionalidade e Aceitabilidade

Esses dois fatores estão intimamente ligados, constituem-se em princí-


pio de cooperação, em que o produtor se esforça para produzir um texto
que atenda seus objetivos, e o leitor pressupõe que o texto produzido faz
sentido e é coerente.

A intencionalidade está relacionada ao objetivo da comunicação. Koch


(1984) diz que quem produz um texto “tem determinadas intenções,
consistindo a intelecção na captação dessas intenções, o que leva a pre-
ver, por conseguinte, uma pluralidade de interpretações”. A identifica-
ção das intenções do autor ao produzir um texto é importante à medida
que orienta a interpretação do leitor. Por exemplo, um texto pode ser
aparentemente desconexo, se o seu autor pretende se passar por louco.

A aceitabilidade, por outro lado, consiste na disposição ativa (do leitor)


de participar de um discurso e/ou compartilhar um propósito. Para ha-
ver aceitabilidade, é preciso que leitor aceite a manifestação linguística
como um texto que tenha para ele alguma relevância.

Consideram-se dois aspectos: 1) a maneira pela qual o redator produz o


texto, buscando dar-lhe credibilidade e veracidade; e 2) como o público-
alvo interpreta e dá sentido ao texto de acordo com seu repertório.

5.1.2. Situacionalidade

Todos os dados situacionais interferem na produção e recepção do tex-


to, pois uma determinada informação pode ter o seu sentido alterado,
dependendo da situação em que foi produzida e/ou recebida. Elementos
como assinatura, indicação de local, data e autor mostram a relação do
texto com o seu contexto.

Ao lermos um texto, agregamos a ele as informações de mundo que te-


mos, e o sentido inferido depende do que sabemos sobre suas condições
de produção. Por exemplo, se sabemos o posicionamento político do
autor, entendemos por que ele defende uma ou outra ideia.

Na aula passada, dissemos que a frase “Adoro sanduíche porque engor-


da” pode ser considerada coerente ou não, dependendo do contexto.
Em uma sociedade que valoriza a magreza, ela parece contraditória;
mas, dita por alguém que é muito magro e quer engordar, faz sentido.
Ainda, se for formulada em uma sociedade que valoriza a gordura, re-
cebe nova carga significativa.

Língua Portuguesa
66
Capítulo 5

5.1.3. Informatividade

A informatividade é um dos fatores constitutivos da unidade textual.


Textos de qualquer natureza veiculam algum tipo de informação. O
grau de informatividade de um texto está diretamente relacionado à
informação veiculada: previsível/imprevisível; esperada/não-esperada.
O texto será menos informativo quanto maior for a previsibilidade; e
tanto mais informativo, quanto menor a previsibilidade. Koch & Trava-
glia discorrem, sobre a informatividade, que “se um texto contiver ape-
nas informação esperada/previsível dentro do contexto, terá um grau
de informatividade baixo (grau 1); se, a par da informação esperada /
previsível em dado contexto, o texto contiver informação imprevisível/
não-esperada; terá um grau médio de informatividade (grau 2). Final-
mente, se toda a informação do texto for inesperada/imprevisível, o tex-
to poderá, à primeira vista, parecer incoerente, exigindo do receptor um
esforço maior para calcular-lhe o sentido (grau 3 de informatividade), já
que textos com taxa muito alta de informação nova são de difícil com-
preensão. A informatividade exerce, assim, importante papel na seleção
e arranjo de alternativas no texto, podendo facilitar ou dificultar o esta-
belecimento da coerência.”

Vejamos exemplos de textos com alta e baixa informatividade:

Até os estudos de Fink e Schoenemberger, os resultados ain-


da eram controversos. A dupla pôde medir diretamente a
corrente elétrica graças a um tipo especial de microscópio
eletrônico, capaz de aproximações tão diminutas da amos-
tra que entram em ação fenômenos da mecânica quântica,
segundo a qual a energia não é absorvida ou gerada em um
fluxo con¬tínuo, mas em pequenos pacotes, os quanta (plu-
ral de “quantum”, quantidade em latim).
(Ricardo Bonalume Neto. Folha de S. Paulo, 18/4/99.)

Esse texto, por fazer uso de vários conceitos específicos da Física, apre-
senta um alto grau de informatividade e, por isso, acaba naturalmente se
restringindo a um círculo de leitores iniciados nessa área científica.

Por outro lado, se a informatividade for muito baixa, o leitor pode de-
sinteressar-se do texto, pelo fato de ele não apresentar nada de novo ou
de interessante. Veja, por exemplo, este parágrafo, produzido a respeito
das qualidades da tevê:

Licenciatura em Informática
67
A Textualidade

Quanto aos seus aspectos positivos, ela nos dá informação


sobre o mundo, assim como o Jornal Nacional da Globo.
Alguns programas e até mesmo propagandas nos divertem.
Exemplo: Sai de Baixo e Casseta e planeta. A tevê também
serve como um passatempo com diversas atrações: filmes,
programas de auditório, desenhos, etc.

(Aluno do 1” ano do ensino médio.)

5.1.4. Intertextualidade

Compreende as diversas maneiras pelas quais a produção e a recepção


de um texto dependem do conhecimento de outros textos, anteriormen-
te produzidos, pelos interlocutores. Em sentido estrito, pode-se falar em
alusão, epígrafe, paródia, paráfrase, citação, metalinguagem e polifonia.

maneiras pelas quais a produção e a


pendem do conhecimento de outros
oduzidos, pelos interlocutores. Em
falar em alusão, epígrafe, paródia,
nguagem e polifonia.

A intertextualidade interfere na coerência textual, pois o entendimento


de um texto pode depender do conhecimento de outros. Assim, um tex-
to que faça referências intertextuais diretas só é totalmente compreen-
dido por alguém que tenha conhecimento dessas referências. Quem ler
esse texto sem conhecer as referências pode até atribuir-lhe um sentido,
mas certamente deixará de perceber muitas das significações pretendi-
das pelo seu produtor.

Veja os primeiros parágrafos do texto “Grande ser, tão veredas” de Paulo


Leminski, em que o autor comenta o seriado da TV Globo, baseado no
livro de Guimarães Rosa, procurando manter a linguagem e o estilo do
escritor. O texto foi publicado na Folha de São Paulo na época em que
o seriado foi ao ar, em 1985, e reproduzido por Koch & Travaglia. O
texto remete, pelo título; mas, sobretudo, pela forma em que é escrito, a
Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa:

Língua Portuguesa
68
Capítulo 5

GRANDE SER, TÃO VEREDAS

A pois. E não foi, num vupt-vapt, que as altas histórias gerais


da jagunçagem deram de ostentar suas prosápias e bizarrias
no tal horário nobre da caixinha de surpresas, pro bem e pro
mal, Rede Globo chamada?

Compadre mano velho, mire e veja as voltas que o mun-


do dá. Quem haverá de dizer que toda essa aprazível gen-
te cidadã ia botar gosto em saber das fabulanças daqueles
tempos, quando o desmando e a contra-lei atropelavam os
descampados do Urucuia, lá praquelas bandas brabas, onde
tanto boi berra?

Na época, o texto, publicado em um jornal de circulação nacional des-


tinado a leitores com nível de educação médio a alto, garantiu sua in-
terpretabilidade pelo sucesso que o seriado teve em cadeia nacional. No
entanto, se nos depararmos com ele hoje, sem conhecer o “texto-fonte”,
a reação imediata é o estranhamento.

Agora leia o primeiro parágrafo de Grande sertão: veredas:

-Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de ho-


mem não, Deus esteja. O senhor ri certas risadas... Olhe:
quando é tiro de verdade, primeiro a cachorrada pega a latir,
instantaneamente – depois, então, se vai ver se deu mortos.
O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja:
que situado sertão é por os campos-gerais a fora a dentro,
eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucaia.
Toleima. Para os de Corinto e do Curvelo, então, o aqui não
é dito sertão? Ah, que tem maior! Lugar sertão se divulga: é
onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez,
quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde um
criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de au-
toridade. O Urucuia vem dos montões oestes. O gerais corre
em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o
que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de
opiniães... O sertão está em toda parte.

A intertextualidade funciona como um enriquecimento da leitura e da pro-


dução de textos, e tem função essencial na construção e no(s) sentido(s)

Licenciatura em Informática
69
A Textualidade

dos textos. No entanto, todo texto está em relação com outros textos, pois
“Todo texto é produto de criação coletiva: a voz do seu produtor se mani-
festa ao lado de um coro de outras vozes que já trataram do mesmo tema
e com as quais se põe em acordo ou desacordo”. (Platão & Fiorin)

Quando falamos, então, em intertextualidade, podemos dizer que,


quanto mais o produtor e o leitor partilham um conhecimento de mun-
do, maior a possibilidade de compreensão do sentido de seus textos.

Koch & Travaglia citam, ainda, como fatores de textualidade, a Focali-


zação, que compreende o enfoque dado a um determinado tema (por
exemplo, uma construção pode ser vista de diferentes perspectivas:
como uma maravilha da arquitetura, uma casa, um lar ou, podemos
acrescentar, um patrimônio histórico cultural, um empecilho a um em-
preendimento etc.): o sentido do texto é modificado, conforme o enfo-
que escolhido; e a Relevância discursiva, que exige que os enunciados
de um texto não apresentem contradição dentro do mundo representa-
do e contenham unidade temática, isto é, falem do mesmo tema.

Atividade 02
Escolha um texto que você tenha escrito para se comunicar com
alguém. Observe, nesse texto, se os fatores de textualidade foram
considerados, mesmo que de maneira intuitiva. Anote as ocorrên-
cias de cada um deles.
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
____________________________________________________

5.2. As Qualidades de um Texto Escrito

Não existem fórmulas mágicas para escrever um bom texto. É pre-


ciso exercício contínuo, muita leitura e reflexão. Mas a atenção a
alguns detalhes pode determinar o sucesso de um texto:

Língua Portuguesa
70
Capítulo 5

5.2.1. Concisão:

Não se deve abusar das palavras para exprimir uma ideia e sim ir direto
ao assunto. O texto conciso não se desvia dos objetivos e tem informa-
ções na medida certa.

5.2.2. Correção:

O nível de linguagem utilizado deve ser adequado para o público-alvo. No


caso de trabalhos acadêmicos, a linguagem deve estar de acordo com a
norma culta, ou seja, atender os princípios estabelecidos pela gramática.

Conhecer as normas que regem o uso da língua é fundamental para a


produção de um texto correto. Evidentemente, a maioria das pessoas
não conhece de cor todas as regras gramaticais e por isso, em caso de
duvidas ao redigir, não hesite em consultar a gramática.

Desvios de linguagem que comumente aparecem em redações são fru-


tos do desconhecimento de algumas dessas normas. Os desvios mais
comuns se dão em relação a:

• Grafia: tome cuidado com a grafia de palavras que não conheça.


Em caso de dúvidas, consulte o dicionário. Se não puder fazê-lo,
substitua a palavra cuja grafia não conheça por outra conhecida.
Lembre-se: a língua portuguesa é muito rica em sinônimos. Não
se esqueça também de verificar a acentuação das palavras.

• Flexão das palavras: cuidado com a formação do plural de al-


gumas palavras, sobretudo as compostas (primeiro–ministro,
abaixo-assinado, luso-brasileiro, etc.).

• Concordância: lembre-se de que o verbo sempre concordará


com o sujeito e os nomes devem estar concordando entre si.
• Regência: fique atento à regência de verbos e nomes, sobretudo
aqueles que exigem a preposição a, a fim de não cometer erro no
emprego do acento que indica a crase.
• Colocação dos pronomes: observe a colocação dos pronomes
oblíquos átonos (me, te, se, nos, vos, lhe, lhes, o, a, os, as). Ape-
sar de, na linguagem coloquial, ser comum iniciar frases com os
pronomes oblíquos átonos, na linguagem formal devemos evitar
esse tipo de construção.

Licenciatura em Informática
71
A Textualidade

5.2.3. Clareza:

A ideia expressa deve ser rapidamente compreendida pelo leitor. Ser cla-
ro é ser coerente, é não contradizer-se, não confundir o leitor. Um texto
eficiente permite fácil decodificação pelo seu público-alvo. São inimigos
da clareza: a desobediência às normas da língua, os períodos longos, o
vocabulário rebuscado, a imprecisão vocabular.

5.2.4. Originalidade:

O bom texto destaca-se de outros por ter uma construção original, esta-
belecendo conexões inéditas (sempre sem prejuízo da clareza).

5.2.5. Adequação:

O repertório utilizado dever ser adequado ao do interlocutor, garantin-


do a aceitabilidade, a informatividade e a coerência.

5.2.6. Unidade:

Um texto eficiente tem coesão e coerência, forma um conjunto no qual


todos os elementos têm função e estão inter-relacionados (harmonia).

5.3. Os Defeitos de um Texto

As ocorrências que prejudicam as qualidades de um texto, sobre-


tudo a clareza e a harmonia, são consideradas defeitos textuais.
São elas:

5.3.1. Ambiguidade:

Ocorre ambiguidade quando a frase apresenta mais de um sentido. Ge-


ralmente, isso acontece por má pontuação ou mau emprego de palavras
ou expressões. É considerado um defeito da prosa, porque atenta contra
a clareza. Veja alguns exemplos de frases ambíguas:

O guarda deteve o suspeito em sua casa.


Pedro saiu com sua irmã.

Língua Portuguesa
72
Capítulo 5

Nesses exemplos, a ambiguidade decorre do fato de o possessivo sua


poder estar se referindo a mais de um elemento (casa do guarda ou do
suspeito? Irmã de Pedro ou do interlocutor?). Portanto, muito cuidado
no emprego desse pronome. Você pode evitar a ambiguidade, substi-
tuindo-o por dele(s) ou dela(s).

5.3.2. Obscuridade :

Significa falta de clareza. Vários motivos podem determinar a obscuri-


dade de um texto: períodos excessivamente longos, linguagem rebusca-
da, má pontuação.

“Encontrar a mesma ideia vertida em expressões antigas


mais claras, expressivas e elegantemente tem-me aconteci-
do inúmeras vezes na minha prática longa, aturada e contí-
nua do escrever depois de considerar necessária e insuprível
uma locução nova por muito tempo”.

Observe:

Incompreensível, não?

5.3.3. Pleonasmo:

O pleonasmo (ou redundância) consiste na repetição desnecessária de


um conceito ou de um termo.

Veja.

A brisa matinal da manhã enchia-o de alegria.


Ele teve uma hemorragia de sangue.

Convém notar, no entanto, que bons autores costumam recorrer ao ple-


onasmo com função estilística, a fim de tornar a mensagem mais ex-
pressiva. Nesse caso, o pleonasmo não é considerado um defeito. Veja o
exemplo a seguir:

“A mim, ensinou-me tudo”. (Fernando Pessoa)


“A ti trocou-te a maquina mercante”. (Gregório de Matos)

Licenciatura em Informática
73
A Textualidade

5.3.4. Cacofonia:

A cacofonia (ou cacófato) consiste na produção de sons desagradáveis


obtidos pela união das silabas finais de uma palavra com as iniciais de
outra. Veja.

Uma mão lava a outra.


Estas ideias, como as concebo, são irrealizáveis.
Alma minha gentil, que te partiste. (Camões)
Nunca gaste dinheiro com bobagens.
Uma herdeira confisca gado em Mato Grosso.

Produção de sons desagradáveis pela união das sílcom as iniciais de outra.

5.3.5. Eco :

Consiste no emprego de uma sequência de palavras terminadas pelo


mesmo som. Observe.

A decisão da eleição em São João da Conceição não cau-


sou comoção na população.

O aluno repetente mente alegremente.

5.3.6. Prolixidade:

Consiste em utilizar mais palavras do que o necessário para exprimir


uma ideia, portanto é o oposto da concisão. Ser prolixo é ficar “enrolan-
do”, “enchendo linguiça”, não ir direto ao assunto.

O uso de cacoetes, expressões que não acrescentam nada ao texto, ser-


vindo tão-somente para prolongar o discurso, também pode torná-lo
prolixo. São expressões do tipo: antes de mais nada, pelo contrário,
por outro lado, por sua vez. Cuidado com elas!

Veja a seguir um exemplo de texto prolixo:

Língua Portuguesa
74
Capítulo 5

Tema: Os jovens têm algo a transmitir aos mais velhos?

“Não saberia responder com exatidão. Há sempre uma eter-


na divergência entre as gerações. Os jovens pensam de um
jeito, às vezes estranho, que chega a escandalizar os mais
velhos... Já os mais velhos, por outro lado, costumam, na
maioria das vezes, achar que os mais jovens, em alguns ca-
sos, não têm nada a transmitir aos mais velhos”...

Observe que, se tirarmos desse texto as palavras desnecessárias, a ideia


contida nele poderia ser expressa numa única frase.

Devido às divergências entre gerações, jovens e velhos têm


dificuldade em se comunicar.

Além dos defeitos que apontamos, procure também evitar as frases fei-
tas, os chavões, pois empobrecem muito o estilo. Veja alguns exemplos
de chavões:

Inflamação galopante
Vitória esmagadora
Caixinha de surpresas
Caloroso abraço
Silencio sepulcral
Nos píncaros da glória

Quanto à prolixidade, devemos ter atenção, também, para a correspon-


dência oficial e comercial, que hoje pede o máximo de objetividade e
clareza, evitando-se o estilo floreado que já foi sinônimo de elegância.
Assim, frases como “venho através desta”, “aproveitando o ensejo”, “te-
mos a informar que...” etc.

Concluindo, veja um texto que circula na internet e que traz, de maneira


divertida, dicas para escrever bem:

Licenciatura em Informática
75
A Textualidade

30 DICAS PARA ESCREVER BEM


Autor desconhecido.
1. Deve evitar ao máx. a utiliz. de abrev., etc.
2. É desnecessário fazer-se empregar de um estilo de escrita dema-
siadamente rebuscado. Tal prática advém de esmero excessivo que
raia o exibicionismo narcisístico.
3. Anule aliterações altamente abusivas.
4. não esqueça as maiúsculas no inicio das frases.
5. Evite lugares-comuns como o diabo foge da cruz.
6. O uso de parênteses (mesmo quando for relevante) é desnecessário.
7. Estrangeirismos estão out; palavras de origem portuguesa estão in.
8. Evite o emprego de gíria, mesmo que pareça nice, valeu?
9. Palavras de baixo calão, porra, podem transformar o seu texto
numa merda.
10. Nunca generalize: generalizar é um erro em todas as situações.
11. Evite repetir a mesma palavra, pois essa palavra vai ficar uma pa-
lavra repetitiva. A repetição da palavra vai fazer com que a palavra
repetida desqualifique o texto onde a palavra se encontra repetida.
12. Não abuse das citações. Como costuma dizer um amigo meu:
“Quem cita os outros não tem ideias próprias”.
13. Frases incompletas podem causar
14. Não seja redundante, não é preciso dizer a mesma coisa de
formas diferentes; isto é, basta mencionar cada argumento uma só
vez, ou, por outras palavras, não repita a mesma ideia várias vezes.
15. Seja mais ou menos específico.
16. Frases com apenas uma palavra? Jamais!
17. A voz passiva deve ser evitada.
18. Utilize a pontuação corretamente o ponto e a vírgula especialmen-
te será que ninguém mais sabe utilizar o ponto de interrogação
19. Quem precisa de perguntas retóricas?
20. Conforme recomenda a A.G.O.P, nunca use siglas desconhecidas.
21. Exagerar é cem milhões de vezes pior do que a moderação.
22. Evite mesóclises. Repita comigo: “mesóclises: evitá-las-ei!”

Língua Portuguesa
76
Capítulo 5

23. Analogias na escrita são tão úteis quanto chifres numa galinha.
24. Não abuse das exclamações! Nunca! O seu texto fica horrível!
25. Evite frases exageradamente longas, pois estas dificultam
a compreensão da ideia nelas contida e, por conterem mais que
uma ideia central, o que nem sempre torna o seu conteúdo acessí-
vel, forçam, desta forma, o pobre leitor a separá-la nos seus diver-
sos componentes de forma a torná-las compreensíveis, o que não
deveria ser, afinal de contas, parte do processo da leitura, hábito
que devemos estimular através do uso de frases mais curtas.
26. Cuidado com a hortografia, para não estrupar a língúa
portuguêza.
27. Seja incisivo e coerente, ou não.
28. Não fique escrevendo no gerúndio. Você vai estar deixando seu
texto pobre e estar causando ambiguidade - e esquisito, vai estar fi-
cando com a sensação de que as coisas ainda estão acontecendo.
29. Outra barbaridade que tu deves evitar é usar muitas expres-
sões que acabem por denunciar a região onde tu moras, carajo!
30. Não permita que seu texto acabe por rimar, porque senão nin-
guém irá aguentar já que é insuportável o mesmo final escutar, o
tempo todo sem parar.

Atividade 02
Leia com atenção o material teórico e acesse o ambiente virtual de
aprendizagem para fazer os seguintes exercícios. O gabarito para
as questões de múltipla escolha será disponibilizado após o prazo
para entrega.
1. Marque a opção que expressa, coerentemente, as ideias do seguinte
texto:

“Esforçando-se pela apropriação e conhecimento do uni-


verso, o homem encontra sempre embaraços e dificul-
dades de toda ordem, sendo a própria fraqueza, em face
da soberania inalterável da natureza, e sua necessidade
de luta, frente à complexidade dos fatos do cotidiano, as
maiores dessas dificuldades.”

(Álvaro Lins – Fragmentado)

Licenciatura em Informática
77
A Textualidade

a) O esforço do homem pela apropriação e conhecimento do uni-


verso resulta sempre de embaraços e dificuldades de toda ordem,
em face da fraqueza humana em alterar a soberania da natureza e
em minimizar a complexidade dos acontecimentos do dia-a-dia.
b) A necessidade de luta diante da complexidade dos fatos do
cotidiano e a fraqueza humana em face da soberania adulterável
da natureza encontram no homem impedimentos e dificuldades
que motivam o seu esforço pela apropriação e conhecimento do
universo.
c) O conhecimento e a apropriação do universo fazem com que o
homem encontre sempre embaraços e dificuldades de toda ordem
nos fatos do cotidiano, sendo as maiores dificuldades aquelas pro-
vocadas pelo esforço e fraqueza humana em face da alteração da
soberania da natureza.
d) A posse e o conhecimento do universo fazem com que o ho-
mem se esforce em lutar contra a complexidade dos fatos e contra
a própria fraqueza de alterar a soberania da natureza, resultando
disto impedimentos e dificuldades de toda ordem encontrados
por ele no cotidiano.
e) A fraqueza humana, diante da imutável supremacia da natu-
reza, e a necessidade de luta, em face da complexidade dos acon-
tecimentos do dia-a-dia, constituem as maiores dificuldades e
obstáculos com que o homem depara, ao esforçar-se pela posse e
conhecimento do universo.
f) Indique a ordem em que os períodos se devem organizar, de
modo que venham a constituir um parágrafo coeso e coerente.

I.
1) Roubadas daquele centro sagrado que exigia a reverência dos
indivíduos para com as normas da vida social, as pessoas perdem
os seus pontos de orientação.
2) E a sociedade se estilhaça sob a crescente pressão das forças
centrífugas do individualismo.
3) Se é possível quebrar as normas, tirar proveito e escapar ileso,
que argumento utilitário pode ser invocado para evitar o crime?
4) Sobrevém a anomia.
5) Que ocorre quando a secularização avança, o utilitarismo se
impõe e o sagrado se dissolve?
(Rubem Alves, O que é Religião, Editora Brasiliense)

Língua Portuguesa
78
Capítulo 5

a) 3-1-2-4-5; d) 5-1-3-4-2;
b) 5-1-4-2-3; e) 1-3-5-2-4.
c) 1-2-4-3-5;

II.
1) Esta dominação é muitas vezes mais forte quanto mais sutis forem
os mecanismos de coação utilizados para atingir o “consenso” social.
2) Se tomarmos como referência a teoria do conflito, a noção de
necessidade social pode ser interpretada de maneira diversa, con-
forme o interesse e a visão dos grupos que disputam o poder.
3) Na medida em que as sociedades se transformam, altera-se tam-
bém a educação, que passa a refletir novas necessidades sociais.
4) No entanto, a classe dominante está em posição privilegiada
para utilizar-se da escola como agência de socialização que atua
no interesse da dominação de classe.
(Arabela Campos Oliven)

a) 2-3-4-1; d) 4-3-I-2;
b) 3-2-4-1; e) 4-3-2-1.
c) 2-1-4-3;

III.
1) O carioca toma partido dos dias de sol e lota as praias.
2) Além disso, há muito tempo não chove.
3) Nesse verão, a temperatura tem estado elevada.
4) Todavia, não deixa de temer a possibilidade de temporais da
proporção dos ocorridos em anos anteriores.

a) 4-1-2-3; d) 2-3-1-4;
b) 3-1-2-4; e) 3-2-1-4.
c) 1-2-3-4;

3. Nas questões abaixo, numere os seguintes períodos de modo a


constituírem um texto coeso e coerente e, depois, indique a sequ-
ência correta.
I.
( ) Outro fator a considerar é que o comércio bilateral entre os dois
países não chega a 1% do total do comércio exterior mexicano.

Licenciatura em Informática
79
A Textualidade

( ) Atualmente as transações entre ambos chegam a cerca de US$


900 milhões.
( ) A situação começou a mudar em 1996, com o reflexo da des-
valorização cambial do peso mexicano.
( ) O comércio bilateral entre Brasil e México não reflete o po-
tencial dos dois países.
( ) Historicamente o Brasil era o país superavitário, nessa relação.
(Baseado em Business Travel, 19)

l) 3,5,2,4,1.
m) 3,1,4,5,2. o) 5,2,4,1,3.
n) 3,4,5,2,1. p) 1,3,4,2,5.

II.
( ) O Produto Interno Bruto, PIB, cresceu apenas 2,9% em 1997
enquanto o mercado de trabalho perdia 335.646 vagas.
( ) Em outro, o lucro das grandes empresas sobe a taxas de até 70%.
( ) Várias empresas deram-se mal; o número de concordatas
requeridas em janeiro de 1998 foi 38,3% maior que em janeiro de
1997 e o de falências decretadas aumentou 38,6%.
( ) Mas o vendaval passou longe das grandes empresas.
( ) Em um deles a economia caminha em marcha lenta, o desempre-
go, a inadimplência e o numero de falências e concordatas crescem.
( ) O Brasil do Real convive com dois países.

(Baseado em Santa Albi, Jornal do Brasil- Economia, 22/3/1998.)

a) 4, 3, 5, 6, 2, 1.
b) 3, 4, 6, 5, 2, 1. d) 5,2,1,4,3, 6.
c) 1, 3, 2, 6, 5, 4. e) 2, 1, 4, 3, 6, 5.

4. Cada um dos períodos foi redigido de cinco formas diferentes.


Selecione a letra que corresponde ao período que tem melhor re-
dação, considerando correção, clareza, concisão e elegância.
I.
a) Apareceu, com o desenvolvimento urbano, nos bairros de alta ou mé-
dia renda, as atuais redes de supermercados, o que é característico.

Língua Portuguesa
80
Capítulo 5

b) As atuais redes grandes de supermercados instalaram-se em


bairros de renda alta, e média, na sua maioria, graças ao desenvol-
vimento urbano que propiciou.
c) O desenvolvimento urbano propiciou o aparecimento das atu-
ais grandes redes de supermercados, instaladas, em sua maioria,
em bairros de renda alta e média.
d) O aparecimento das atuais redes de grandes supermercados
desenvolveu-se devido ao propiciamento urbano dos bairros de
renda média e alta.
e) Os bairros de renda média e alta desenvolveram urbanistica-
mente, daí a instalação preferencial das redes dos grandes super-
mercados atuais.

II.
a) É um ator de trabalho convencional, em que existe sentimenta-
lismo fáceis e se repete os lugares-comuns.
b) Seu trabalho como ator é convencional, cheio de lugares-co-
muns e de apelos à emoção fácil.
c) O trabalho desse ator é cheio de convenções, com lugar-comuns
com que ele pretende apelar dos sentimentos fáceis.
d) Lugar-comuns e apelação ao sentimento fácil, eis os ingredien-
tes que patenteiam no trabalho convencional deste ator.
e) É de notar os traços com convenções mais marcantes no seu tra-
balho de ator: lugares-comuns e emoções fáceis, com que se apela.

III.
a) Há uma razão para as pessoas receiarem das crises da maturi-
dade: é que elas surgem derrepente.
b) O motivo de as pessoas temerem as crises da idade adulta é que
elas advêm inesperadamente.
c) O temor das crises da maturidade nas pessoas são pelo fato de
que elas aparecem de súbito.
d) As pessoas tem medo das crises da idade adulta por que essas
são inesperadas.
e) Quando adultas, as pessoas são sujeitas à crises, por isso
elas a temem.

Licenciatura em Informática
81
A Textualidade

IV.
a. A única medida para melhorar o desempenho linguístico do
aluno é que deveria ser exigido em todos os níveis aulas práticas
de língua portuguesa;
b. Deveria ser exigido, em todos os níveis, aulas práticas de língua
portuguesa. Esta seria a única medida para melhorar o desempe-
nho linguístico dos alunos;
c. Ministrar aulas práticas de língua portuguesa em todos os ní-
veis é a única medida para melhorar o desempenho linguístico
dos alunos;
d. Aulas práticas de língua portuguesa deveriam ser ministradas
como única medida em todos os níveis para melhorar o desempe-
nho linguístico dos alunos;
e. Para melhorar o desempenho linguístico dos alunos em todos
os níveis deveriam ser ministradas aulas práticas de língua portu-
guesa. Esta seria a única medida.

Atividade 03
Tarefa on-line com envio de arquivo único
Leia os dois textos abaixo e reescreva o comentário dirigido de cada
um deles, utilizando os elementos de coesão dos parênteses. Obs. Os
conectivos são apresentados na ordem em que devem ser utilizados.
Texto I O assalto
Pedro Jorge da Silva, 27 anos, rua X, vinha com seu Volks pela es-
trada do Beco dos Maia, quando avistou um vulto caído no chão,
pedindo socorro. Diminuiu a velocidade, parou o carro junto ao
homem e desceu para ajudá-lo.
Mas, ao se aproximar, dois assaltantes vieram por trás, armados de
revólver e mandaram que ele ficasse quieto, sem se mexer. O tal
que pedira ajuda se ergueu rapidamente e se juntou a seus compa-
nheiros, mas antes revistou os bolsos do motorista.
Sob esse clima de tensão, Pedro Jorge sentiu-se aliviado ao ver os
três entrarem em seu carro e partir, deixando-o vivo. Sem perda
de tempo, ele foi comunicar o roubo à polícia e depois avisou a
seus familiares que estava bem e que tinha sido assaltado, mas
felizmente não fora ferido.
Diário de Notícias, 19/01/75.

Língua Portuguesa
82
Capítulo 5

Comentário dirigido I

1- Muito se tem criticado o homem moderno. O homem moder-


no não ajuda seu semelhante. O homem moderno vem, às vezes, a
encontrar seu semelhante atirado na rua (porque, embora). 2- O
fato acima narrado explica, de certo modo, essa indiferença. O
fato acima narrado não justifica totalmente essa indiferença (To-
davia, se bem que). 3- É sabido que as autoridades desencorajam
os motoristas a dar carona. São inúmeros os crimes cometidos
por certos indivíduos. A especial habilidade desses indivíduos é
explorar a boa fé de suas vítimas (pois, cuja). 4- Tais malfeitores
são duplamente criminosos. Eles prejudicam suas vítimas física
e financeiramente. Eles, o que é pior, vão, aos poucos, matando
a boa fé das pessoas honestas. As pessoas honestas, por medo de
represálias, deixam de atender cidadãos realmente necessitados
(Por isso, (:), não só, mas, que).

Texto II A ponta de cigarro


Uma ponta de cigarro foi a causa de três mortes na Vila X, Pedro
Ferreira esqueceu de apagar um cigarro ao voltar de um baile, o
que provocou um incêndio. Toda a casa ardeu e ele e seu irmão
não conseguiram sair. Sua mãe entrou na casa para tentar salvá-
los, ficando também presa no interior do prédio. Os três morre-
ram. Da família, apenas o pai conseguiu sobreviver, mas seu corpo
ficou todo queimado e ele está na UTI do HPS. No andar superior
morava outra família. Todos sobreviveram.
Diário de Notícias, 19/01/75.

Comentário Dirigido II

1- O cigarro traz pequenos e discutíveis benefícios de ordem psi-


cológica ao fumante. O cigarro alivia temporariamente a tensão
do fumante. É certo que os prejuízos causados pelo cigarro são
muitos. Não seria possível listar esses prejuízos em pouco espaço
(Embora, pois, tantos... que). 2- Incêndios e acidentes são fre-
quentemente causados pelo cigarro. Milhares de hectares de terra
são ocupados por plantações de tabaco. Esses hectares de terra
poderiam ser semeados com trigo ou soja. As folhas do tabaco
vão se perder em fumaça, poluir os ambientes e aumentar a inci-
dência dos males pulmonares e cardíacos (Se, por um lado, por
outro lado, que, cujas). 3- É lastimável que pessoas desavisadas,

Licenciatura em Informática
83
A Textualidade

geralmente jovens, se deixem ludibriar pela campanha publicitária


mentirosa em torno do cigarro. Essa campanha publicitária dá um
colorido de poder, saúde e limpeza àquilo que se caracteriza pela
dependência, pela doença e pelo mau cheiro (a qual). 4- Devemos
compreender que os que já fumem continuem fumando. É pre-
ciso lastimar que, diariamente, milhares de jovens, aliciados por
uma propaganda falaciosa comecem, com seu primeiro cigarro,
um hábito. Esses jovens terão crescente dificuldade em se livrar do
domínio desse hábito. Esse hábito será oneroso financeiramente e
fisiologicamente (Embora, de cujo, e que).

Referências:
http://www.risada.com/risada/curiosidades/114/30-dicas-para-
escrever-bem
COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e Textualidade. São Pau-
lo: Martins Fontes, 2004)
KOCH, Ingedore V. Argumentação e linguagem. São Paulo: Cor-
tez, 1984.
_________& TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Texto e coerência. São
Paulo: Cortez, 1989.
LANES, Ely Vieitez. Laboratório de literatura: ensaio. São Paulo:
Editora Estrutura Ltda., 1978.
MOURA, Fernando. Nas linhas e entrelinhas: compreendendo e
construindo textos. Brasília: Vestcon, 2008.
SCARTON, Gilberto. Guia de produção textual: assim é que
se escreve... Porto Alegre: PUCRS, FALE/GWEB/PROGRAD,
[2002]. Disponível em: < http://www.pucrs.br/gpt >.

Língua Portuguesa
84
Capítulo 5

Licenciatura em Informática
85
A Elaboração de um Trabalho Científico

PRODUÇÃO DE TEXTOS

Prezado(a) aluno(a),
Com certeza, você deve ter se perguntado ao longo do curso: “Mas
não teremos aulas de gramática?” Em princípio, a resposta seria:
“Não, porque você já estudou gramática durante onze anos, ago-
ra vamos estudar sua aplicação nos textos.” E essa é realmente a
proposta do nosso curso. No entanto, algumas questões estratégi-
cas, muitas vezes, não são vistas com a devida importância durante
o período escolar, como o uso das conjunções (já trabalhado), dos
pronomes relativos, e o paralelismo necessário às estruturas coor-
denadas. Faremos, neste capítulo, uma breve revisão desses itens,
e passaremos a alguns conceitos e técnicas que serão úteis para a
produção do texto técnico científico.
Os objetivos propostos consistem em:
o) Produzir parágrafos curtos, utilizando o conheci-
mento auferido ao longo do curso;
p) Familiarizar-se com a estrutura de alguns textos téc-
nicos e/ou científicos.
Depois de alcançados esses objetivos, estaremos prontos para produ-
zir esse tipo de texto.

Bom Trabalho!

6.1. O Parágrafo

O PARÁGRAFO Conhecer o parágrafo é extremamente


importante para introduzirmos as ca-
nhecer o parágrafo é extremamente
racterísticas de um textoimportante
discursivo.para
A
roduzirmos as características
estrutura da dissertação (entendida aquiA
de um texto discursivo.
trutura da dissertação
como(entendida aqui comoem
texto discursivo, texto
quediscursivo,
se vai
m que se vai discorrer sobre algum assunto) pode ser entendida
discorrer sobre algum assunto) pode ser
mo uma amplificação da estrutura
entendida como umadoamplificação
parágrafo: da tem
rodução, desenvolvimento e conclusão.
estrutura do parágrafo: tem introdução,
desenvolvimento e conclusão.

Língua Portuguesa
86
Capítulo 6

O parágrafo é a unidade de composição do texto que apresenta uma


ideia básica (ideia-chave) à qual se agregam ideias secundárias rela-
cionadas pelo sentido. Usando uma definição técnica, o parágrafo é
um conjunto de orações (ideias) relacionadas entre si, orientadas por
uma ideia-núcleo (ideia-chave) formando, assim, um raciocínio.

Um texto é composto por:

Introdução: Parágrafos iniciais, em que é feita a apresentação do tema


(recorte do assunto a ser tratado. Por exemplo, assunto: educação; tema:
dificuldades encontradas pela educação brasileira.) e sua delimitação.
Esclarece qual é o enfoque principal a ser tratado no texto.

Desenvolvimento: Parágrafos posteriores, em que o autor expõe os ar-


gumentos que apoiam a sua tese (a sua opinião).

Conclusão: Parágrafos finais, em que o autor finalmente justifica o título e


conclui as suas ideias.

• Estrutura do parágrafo

O parágrafo pode ser considerado um microtexto e, como tal, não pode


dispensar:
1. a delimitação do assunto: o quê?
2. a fixação do objetivo: para quê?

Delimitado o assunto, parte-se para a fixação do objetivo norteador do


texto. Esse estágio facilita a seleção das ideias e sua organização. Assim
é que se alcança a unidade de composição, isto é, uma forma articulada,
integrada e organizada.

Assim como o texto, o parágrafo deve conter:

1. introdução (ideia principal = tópico frasal)


2. desenvolvimento (ideias secundárias, que se somam à ideia-chave)
3. conclusão (retomada da ideia principal, com síntese das novas
informações)

Veja a seguir um exemplo de parágrafo-padrão:

“A tevê, apesar de nos trazer uma imagem concreta, não fornece uma pro-
dução fiel da realidade. Uma reportagem de tevê, com transmissão direta, é

Licenciatura em Informática
87
Produção de Textos

o resultado de vários pontos de vista: 1) do realizador, que controla e sele-


ciona as imagens num monitor; 2) do produtor, que poderá efetuar cortes
arbitrários; 3) do cameraman, que seleciona os ângulos de filmagem; final-
mente de todos aqueles capazes de intervir no processo da transmissão. Por
outro lado, alternando sempre os closes (apenas o rosto de um personagem
no vídeo, por exemplo) com cenas reduzidas (a vista geral de uma multi-
dão), a televisão não dá ao espectador a liberdade de escolher o essencial ou
o acidental, ou seja, aquilo que ele deseja ver em grandes ou pequenos pla-
nos. Dessa forma, o veículo impõe ao receptor a sua maneira especialíssima
de ver o real.” (Muniz Sodré, A comunicação do grotesco)

Atividade 01
Observe com atenção a estrutura do parágrafo acima e, a seguir,
identifique nele os elementos indicados.
• Assunto –
• Delimitação do assunto –
• Objetivo (tese: ideia defendida) –
• Introdução: começa em ....................... e termina
em...........................
• Desenvolvimento: começa em ....................... e termina
em...........................
• Conclusão: começa em ....................... e termina
em...........................

6.1.2. O Tópico frasal

Tópico frasal é a frase ou período que encerra uma ideia bá-


sica do parágrafo. Indica os limites das ideias que podem ser
explanadas no parágrafo.

O que torna a ideia-chave explícita, clara, evidente no parágrafo é


o Tópico Frasal. Tópico significa tema. Frasal é relativo a frase ou a
oração. Podemos traduzir o Tópico Frasal como sendo uma oração
que contém uma ideia que será desenvolvida ao longo do parágrafo.

Língua Portuguesa
88
Capítulo 6

O Tópico Frasal tem as seguintes funções importantes:

1) tornar explícita a ideia-núcleo do parágrafo; e


2) dirigir e guiar quem escreve e quem lê o parágrafo.

QUALIDADES E CARACTERÍSTICAS DO TÓPICO FRASAL:

1. Tópico frasal claro: Explicita a ideia-tópico com clareza, evitando a


ambiguidade, as vagas indicações sobre o assunto do parágrafo.

2. Tópico frasal específico: Limita a ideia-tópico para que seu desen-


volvimento caiba em um parágrafo, seja explicado num parágrafo de
dimensão normal, respeitado o objetivo proposto.

3. Tópico frasal pormenorizado: Dá uma visão de todos os aspectos da


ideia-tópico e maior precisão ao desenvolvimento do parágrafo, man-
tendo a fidelidade ao objetivo proposto.

Atividade 02
I. Observe as características dos tópicos frasais abaixo, e classifi-
que-os, sendo:
A. tópico frasal obscuro, vago, não específico
B. tópico frasal claro
C. tópico frasal específico
D. tópico frasal pormenorizado

1. A leitura desenvolve no leitor o domínio das possibilidades expressi-


vas de sua língua. ( )
2. Ler é importante. ( )
3. Como podemos economizar gasolina? ( )
4. Para o motorista, a melhor maneira de economizar gasolina é não
forçar as marchas de seu carro. ( )
5. Por que devemos economizar gasolina? ( )
6. Devemos economizar gasolina, particularmente em virtude de o pre-
ço dos combustíveis ser reajustado quinzenalmente. ( )
7. Para o motorista, a maneira mais simples de economizar gasolina é
trocar as marchas no momento adequado, evitar o uso de reduzida e
andar, sempre que possível, em terceira, quarta ou quinta. ( )
8. Os jovens de hoje têm um comportamento mais livre do que os de
décadas passadas. ( )

Licenciatura em Informática
89
Produção de Textos

9. É perigoso viver no mundo de hoje. ( )

II. O tópico frasal “Praticar esportes é bom” é obscuro, vago. Torne-o


a) claro:
b) específico:

Se a ideia central do parágrafo é difícil de ser identificada, é obs-


cura; melhor é refazê-la até se chegar à objetividade e à clareza. Ela
deve ser uma frase sintética que trace a direção que o desenvolvi-
mento deve seguir. Deve transformar em palavras organizadas o
objetivo que foi selecionado.

Se o tópico frasal afirma, por exemplo, que “meu amigo José não sabe guardar
um segredo”, devem-se evitar frases que falem das qualidades ou defeitos de
José ou de segredos em geral. Todas as frases do parágrafo devem referir-se à
incapacidade de José de guardar um segredo.

Atividade 03

Suponha que você tenha que escrever sobre o assunto desemprego,


que é bastante amplo, genérico; portanto, é necessário delimitá-lo.
Proponha ideias para as partes abaixo, relativas ao assunto dado.

1. Delimitação do assunto:
2. Fixação do objetivo:
3. Tópico frasal:
4. Desenvolvimento do tópico frasal:
5. Causas de desemprego:
6. Consequências:

Língua Portuguesa
90
Capítulo 6

Entre as qualidades do parágrafo destacam-se:

UNIDADE: Uma ideia e um objetivo únicos a alcançar.


COERÊNCIA: Inter-relação entre as ideias do parágrafo.
CLAREZA: Adequação de palavras ao contexto, facilitando a
compreensão.
CONCISÃO: Sobriedade e força de expressão, tornando o estilo
suave. A concisão, contudo, não deve ser alcançada em detri-
mento da clareza.

Para concluir, vejamos o que Antônio Carlos Viana, em seu Rotei-


ro de redação, indica, em síntese, o que você deve observar para
escrever um parágrafo:
a) O parágrafo é formado por um conjunto de enunciados. Todos
eles devem convergir para a produção de um sentido.
b) A primeira frase de cada parágrafo, que se denomina tópico
frasal, é sempre muito importante. Ela deve ter uma palavra de
peso que possa ser explorada.
c) Fica difícil desenvolver bem um parágrafo se o tópico frasal
for muito vago. Evite abstrações.
d) Todo parágrafo deve ter sempre uma palavra que o norteie. É
a palavra-chave.
e) Cada parágrafo deve explorar uma só ideia. Explorar várias
ideias ao mesmo tempo torna o texto confuso, sem coerência.

• PONTOS ESTRaTÉGICOS PARA A COESÃO TEXTUAL

6.2.1.Paralelismo

Observe as seguintes orações:

“Santos precisa vencer Flamengo e o


Botafogo”

TAM: “A ponte que une preço à


qualidade.”

Licenciatura em Informática
91
Produção de Textos

O paralelismo é um elemento muito importante nas construções, pois


ele garante uma simetria, que associamos ao estético.

Quando olhamos um rosto, por exemplo, quanto mais simétricas forem


suas linhas, mais o achamos bonito. Essa associação ocorre também nos
monumentos arquitetônicos e nos objetos em geral.

Nos textos, o paralelismo é um dos recursos de coesão textual. Sua


função é veicular informações novas através de estruturas que se re-
petem, fazendo o texto progredir de forma precisa. O princípio do
paralelismo é facilitar a leitura do enunciado e proporcionar clareza
à expressão. O paralelismo pode ser sintático e semântico.
O paralelismo sintático ocorre entre estruturas sintáticas coor-
denadas, que devem ser utilizadas em simetria. Já o paralelismo
semântico ocorre correlação entre ideias que também são coor-
denadas e, portanto, devem apresentar-se com a mesma simetria.

Analisando atentamente as orações acima, observamos que há


uma diferença no uso do artigo entre o primeiro e o segundo termo
coordenados.

Na chamada de jornal “Santos precisa vencer Flamengo e o Botafogo”,


os nomes dos dois times de futebol, que se equivalem sintaticamente,
são grafados de forma diferente: um é precedido de artigo e o outro não.
Na língua portuguesa, não há motivo para essa ocorrência, pois ela per-
turba a percepção da correlação direta entre os termos. Assim, a frase
correta seria “Santos precisa vencer o Flamengo e o Botafogo”, ou, ainda,
“Santos precisa vencer Flamengo e Botafogo”.

O mesmo ocorre na frase usada como propaganda pela TAM: “A ponte que
une preço à qualidade.”

Quando usamos à, subentende-se que temos o uso do artigo a + preposição a;


portanto, a palavra qualidade é precedida de artigo, e a palavra preço, de mes-
mo valor sintático, não. Corrigindo essa frase, poderíamos ter: “A ponte que
une o preço à qualidade”, ou “A ponte que une preço a qualidade”. Neste último
caso, o a que permanece é apenas a preposição.

Esses casos demonstram o que chamamos de paralelismo sintático, que tam-


bém pode ocorrer entre orações coordenadas, como:

Não podemos faltar à prova nem tirar nota baixa.

Língua Portuguesa
92
Capítulo 6

Esquematizando essa oração, temos:

O conectivo nem une essas duas ideias.

Outros exemplos:

O projeto não só será aprovado, mas também posto em prática


imediatamente.

Não estou descontente com seu desempenho, mas com sua arrogância.

Não estou descontente com seu desempenho, mas com sua arrogância.

Estávamos questionando tanto seu modo de ver os problemas quanto


sua forma de solucioná-los.

Você deveria estar preocupado com seu futuro, isto é, com sua
sobrevivência.

Observe o seguinte caso de falta de paralelismo entre orações:

A mãe pediu para a menina ir ao supermercado e que, na volta,


passasse na farmácia.

A oração para a menina ir ao supermercado é reduzida de infinitivo; a


oração que, na volta, passasse na farmácia é uma oração desenvolvida.
Tal estrutura apresenta incorreção, pois orações coordenadas entre si
devem apresentar a mesma estrutura gramatical, ou seja, deve haver pa-
ralelismo. Veja como fica a frase, respeitando-se o paralelismo:

A mãe pediu para a menina ir ao supermercado e, na volta, passar na


farmácia.

Segundo as regras da norma culta, não se podem coordenar frases que


não comportem constituintes do mesmo tipo.

O paralelismo dá clareza à frase ao apresentar estruturas idênticas, pois para


ideias similares devem corresponder formas verbais similares. Ainda:

Carlos estava aborrecido por ter perdido a hora do cinema e porque sua
namorada não o esperou.

Licenciatura em Informática
93
Produção de Textos

Esse texto pode ser corrigido das seguintes formas:

Carlos estava aborrecido por ter perdido a hora do cinema e por sua
namorada não tê-lo esperado.

Carlos estava aborrecido porque perdeu a hora do cinema e porque sua


namorada não o esperou.

Paralelismo semântico

Algumas orações, embora claras do pon-


to de vista do paralelismo sintático, tra-
zem problemas quanto à correlação entre
idéias. Assim, um enunciado como “A di-
ferença entre os alunos e as carteiras dis-
poníveis na sala é muito grande” contém
um problema semântico.

Alunos e carteiras, embora tenham o mesmo valor sintático, não são


elementos comparáveis entre si.

A diferença a que se refere a sentença é numérica. Então, o ideal é dizer:


“A diferença entre o número de alunos e o de carteiras é muito grande”.
Agora, sim, a informação ganhou precisão. Faltava na frase o que cha-
mamos paralelismo semântico, ou seja, a simetria no plano das ideias.

Esse é o mesmo problema verificado em construções do tipo: “O time


brasileiro vai enfrentar a França nas quartas-de-final”. Ora, um time não
pode enfrentar um país. Então, entre outras possibilidades, temos: “O
time brasileiro vai enfrentar a seleção da França” ou “O Brasil vai en-
frentar a França”.

Ele estava não só atrasado para o concerto, mas também sua mulher
tinha viajado para a fazenda. (ERRADO)

Ele estava não só atrasado para o concerto, mas também preocupado


com a fila que iria enfrentar. (CORRETO)

Língua Portuguesa
94
Capítulo 6

Atividade 04

Faça com atenção os exercícios abaixo:


1. Sublinhe os paralelismos das seguintes frases:
a) (...) sempre existem voluntários capazes de se mobilizar para
dizer o que pensam e pressionar o governo para defender o que
consideram seu direito. (Veja, 20 1991)

b) Uma experiência da China que teve sucesso no Ceará está em teste no


Alto Solimões e pode evitar que o cólera se alastre e atinja outros locais
do país através dos rios. (O Globo, 2 set. 1991)

c) Pela propaganda, imagina-se não só que tudo foi produto exclusivo


da gestão petista atual, mas também que as unidades estão trabalhando
com capacidade plena. (Folha de S.Paulo, 24 ago. 1991)

d) Muitas denúncias a atingiram sem terem sido dirigidas dire-


tamente a ela, mas às Superintendências subordinadas à sua ad-
ministração. (O Globo, 2 ser. 1991)

e) (...) a primeira preocupação não é a de elucidar os atos irregulares —


até agora não refutados pela LBA —, mas sim a de acenar com a punição
dos que revelam desmandos oficiais. (Folha de S.Paulo, 30 ago. 1991)

f) O Meu encontro com Julio Cortázar não se deveu a um aca-


so de percurso, nem a uma dispersa curiosidade intelectual.
(Haroldo de Campos, Folha de S.Paulo, 30 ago. 1991)

g) A linha dura do partido comunista apostou no imobilismo da socie-


dade soviética e numa reação frouxa do Ocidente para reinstalar um
regime autoritário. (Istoé Senhor, 27 ago. 1991)

2. Reescreva as frases abaixo, estabelecendo os paralelismos:


a) Os ministros negaram estar o governo atacando a Assembleia e
que ele tem feito tudo para prolongar a votação do projeto.
b) O presidente sentia-se acuado pelas constantes denúncias de
corrupção em seu governo e o crescimento na Constituinte da
pressão em favor da fixação de seu mandato em quatro anos.
c) Quando o ditador morreu, seu porta-voz conseguiu transformar-se
no comandante das Forças de Defesa e que era o homem forte do país.
d) Poucas horas antes de um emissário lhe trazer a notícia e que se
inteirasse dos fatos, ele se divertia com os netos.

Licenciatura em Informática
95
Produção de Textos

6.2.2. Uso dos Pronomes Relativos

Observe o seguinte período:

6.2.2. USO DOS PRONOMES


Quem está sob umRELATIVOS
rosto bonito ou um
corpo desejável / enfrenta preconceitos
e constrangimentos em dose equivalente
Observe o seguinte período:
aos galanteios e gentilezas, / - supõe-se –
Quem está sob um rosto
/ são bonito ou
privativos da um corpo desejável /
formosura.
enfrenta preconceitos e constrangimentos em dose
equivalente aos Entre o primeiro
galanteios e o segundo
e gentilezas, segmento
/ - supõe-se –/ não há problema de conexão,
mas entre o segundo e o terceiro, sim. O conectivo que deve fazer a pon-
te entre eles é o pronome relativo que.

Quem está sob um rosto bonito ou um corpo desejável enfrenta


preconceitos e constrangimentos em dose equivalente aos galan-
teios e gentilezas que são privativos da formosura.

Os dois segmentos da frase estão agora bem articulados entre si, permi-
tindo-nos compreender a mensagem de seu redator. A partícula que ele
usa para articular uma frase a outra dá coesão ao seu pensamento.

Como já vimos no capítulo sobre coesão, o emprego preciso dos conec-


tivos auxilia a produção do sentido dos períodos, assim como o empre-
go incorreto gera um sentido incorreto ou vago.

Não trabalharemos, aqui, entretanto, todos os conectivos, mas aqueles cujo


emprego gera maiores duúvidas: os pronomes relativos. O emprego de to-
dos os conectivos deve ser consultado em um bom livro de gramática.

Os pronomes relativos, em língua portuguesa, são: que – o qual


(e suas vaiarações) - quem – cujo (e suas variações) – onde –
quanto (e suas variações). Algumas gramáticas admitem tam-
bém o uso de como e quando.

Ao empregar um pronome relativo, devemos ter os seguintes cuidados:

1. Observar a palavra a que ele se refere para evitar erros de concor-


dância verbal.

Língua Portuguesa
96
Capítulo 6

Ex: Encontramos um bom número de pessoas que estavam reivindican-


do os mesmos direitos dos vinte funcionários vitoriosos.

que = as quais (pessoas)

2. Observar o fragmento de frase de que ele faz parte. Pode ser que haja
um verbo ou substantivo que exija uma preposição. Nesse caso, ela deve
preceder o relativo.

Ex: Ninguém conseguiu até hoje esquecer a cilada de que ele foi vítima.

3. Evitar alguns erros comuns:

3.1. O qual, a qual, os quais, as quais devem ser empregados apenas


após preposição ou locução prepositiva com mais de duas sílabas, ex-
ceto quando o relativo se encontra afastado do seu antecedente e o
uso do que possa dar margem a mais de uma interpretação, causando
ambiguidade:

O pai da aluna, o qual veio nos visitar hoje, gostou da escola.

(O emprego do pronome que, que devemos usar preferencialmente,


deixaria a frase ambígua, pois não permitiria saber quem veio nos visi-
tar hoje, se o pai ou a aluna.)

3.2. O pronome relativo onde equivale a em que e denota lugar espa-


cial, físico; portanto, não deve ser usado com outro sentido.

Correto: Quero que você conheça a escola onde fui alfabetizado.

Você conhece uma cidade brasileira onde o sistema de transporte


é eficiente?

Incorreto: Este é o livro onde eu fiz a pesquisa. Correto: Este é o livro


em que eu fiz a pesquisa.

3.3. O pronome relativo cujo indica posse e equivale a de que, do qual,


de quem. Não deve ser sucedido de artigo (cujo o, cuja a). Substitui o
possessivo seu (e suas variações).

Licenciatura em Informática
97
Produção de Textos

Atividade 04
Faça com atenção os exercícios abaixo:
1. A coesão das frases abaixo está prejudicada por causa da au-
sência dos pronomes relativos. Faça a devida conexão, usando as
preposições quando o verbo assim o exigir.

a) Enxergo, em atitudes desse tipo, uma questão mais profunda,


___ é a falta de consciência profissional. Uma sociedade ____
acontecem casos assim nunca será respeitada.
b) A escola é o lugar ____ podem sair futuros cidadãos conscientes
______ se poderá construir uma nação mais crítica de si mesma.
c) O lixo doméstico ____ a maioria dos países não reaproveita é
um dramático problema. Imaginemos então o lixo atômico ______
não há espaço. Ainda não se chegou a uma tecnologia adequada
para manuseá-lo. Outra questão muito séria é a do lixo industrial
______ poucos sabem lidar. São vinte bilhões de toneladas por
ano ______ temos de nos livrar.
d) O arrocho salarial ______ certos governos tanto insistem leva
o trabalhador ao desespero. Além disso, os juros _______ os co-
merciantes tanto se queixam anulam as vias de crédito. Este per-
verso quadro econômico ________ todos vivenciamos há anos
não pode continuar indefinidamente.
e) O envolvimento de menores de ambos os sexos na prática de cri-
mes é uma verdade _______ não podemos fugir. Os poderes cons-
tituídos deveriam parar e refletir sobre esse fato _______ os jornais
enchem suas páginas diariamente. De nada adiantou o Estatuto da
Criança e do Adolescente ________ muitos delinquentes adultos se
valem para incitar menores à prática de roubos e assassinatos.
f) Falta dinheiro para tudo no Brasil, mas as mordomias conti-
nuam. A verdade éque os impostos ________ o governo mantém
sua máquina emperrada são mal empregados. Há notícias de que
órgãos públicos compram copos de cristal, talheres de prata, por-
celanas finas, luxos não _________ querem abrir mão, mesmo sa-
bendo das dificuldades o povo passa.
g) As pedras portuguesas _______ a prefeitura do Rio calçou algu-
mas ruas do centro vivem se soltando. Isto é resultado do trabalho de
calceteiros incompetentes ________serviços foram contratados sem
nenhum rigor. As ruas se transformaram numa verdadeira armadi-
lha _______ você pode torcer o pé ou deixar o salto de seu sapato.

Língua Portuguesa
98
Capítulo 6

2. Transforme cada um dos pares de orações a seguir em um perí-


odo composto, por meio do pronome relativo cujo, precedido ou
não de preposição.
a) Há projetos de limpar o Tietê. Suas águas estão mortas.
b) Chamei os alunos para discutir problemas econômicos. Seus
pais estão desempregados.
c) Belo Horizonte é uma cidade industrial. Suas fábricas são de
grande porte.
d) Recebi a visita de meu irmão no último domingo. Acreditei em
suas palavras.

___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________
____________________________________________________

Licenciatura em Informática
99

O TEXTO TÉCNICO-CIENTÍFICO:
CONCEITOS E TÉCNICAS

Elaborar
Elaborar um texto um texto técnico-científico
técnico-científico exige, alémexi-
de
conhecimento do tema,
ge, além clareza na linguagem,
de conhecimento precisão
do tema, cla-
nas informações e objetividade na explanação.
reza na linguagem, precisão nas infor-
mações e objetividade na explanação.

Neste capítulo,
Nesteiniciaremos o processo deo elaboração
capítulo, iniciaremos processo
desse tipo de texto, que será muito útil para a vida
de elaboração desse tipo de texto, que
acadêmica, pois ela não prescinde da escrita.
será muito útil para a vida acadêmica, pois ela não prescinde da escrita.
Produziremos textos de extração e crítica de idéias
Produziremos textos de extração e crítica de idéias apresentadas em ou-
tros textos: o resumo e a resenha crítica.

7.1. Resumo

Resumo é uma condensação fiel das ideias ou dos fatos conti-


dos no texto. Resumir um texto significa reduzi-lo ao seu es-
queleto essencial sem perder de vista três elementos:
a) cada uma das partes essenciais do texto;
b) a progressão em que elas se sucedem;
c) a correlação que o texto estabelece em cada uma das partes.

Antônio Joaquim Severino observa que “o resumo do texto é, na rea-


lidade, uma síntese das ideias e não das palavras do texto. Não se trata
de uma ‘miniaturização do texto.” Com isso, ele chama a atenção para
uma prática muito utilizada, que não atende aos requisitos do resumo:
o recorte e colagem de frases do texto.

Há vários tipos de resumo, cada qual indicado para uma finalidade


específica:

a) Resumo indicativo ou descritivo – Neste tipo de resumo encon-


tram‑se apenas referências às partes principais do texto. Utiliza frases
curtas que, geralmente, correspondem a cada elemento fundamental do
texto. Quanto à extensão, não deve ultrapassar de 15 ou 20 linhas. Um

Língua Portuguesa
100
Capítulo 7

resumo indicativo não dispensa a leitura integral do texto, pois descreve


apenas a natureza da obra e seus objetivos.

b) Resumo informativo ou analítico – De maneira geral, reduz‑se o tex-


to a 1/3 ou 1/4 de sua extensão original, abolindo‑se gráficos, citações,
exemplificações abundantes, mantendo‑se, porém, a estrutura e os pon-
tos essenciais.

c) Resumo crítico – Este é um tipo de resumo que, além de apresentar


uma versão sintetizada do texto, permite julgamentos de valor e opi-
niões de quem o elabora. Como nos tipos anteriores, não se deve fazer
citações do original. O resumo crítico difere da resenha, que é um tra-
balho crítico mais amplo.

Sinopse é o resumo de um artigo ou de uma obra, redigido pelo próprio


autor ou por seu editor.

Um resumo bem elaborado deve obedecer aos seguintes itens:

• apresentar, de maneira sucinta, o assunto da obra;


• não apresentar juízos críticos ou comentários pessoais;
• respeitar a ordem das ideias e fatos apresentados;
• empregar linguagem clara e objeta;
• evitar a transcrição de frases do original;
• apontar as conclusões do autor;
• dispensar consulta ao original para a compreensão do assunto.

Quanto ao conteúdo, devem-se destacar:

m) o assunto do texto;
n) o objetivo do texto;
o) a articulação das ideias;
p) as conclusões do autor do texto objeto do resumo.

Na extensão de um resumo recomenda-se:

4. para notas e comunicações breves, os resumos devem ter até cem palavras;
5. para artigos, trabalhos de conclusão de curso, monografias de gradua-
ção e de especialização e mestrado, até duzentos e cinquenta palavras;
6. para dissertação de mestrado, relatórios técnico-científicos e teses de
doutoramento, até quinhentas palavras;
7. para resumos de textos, a extensão fica condicionada à capacidade
de síntese do aluno e/ou solicitação dos professores. As palavras-chave,
quando empregadas no resumo, devem ter destaque especial. Devem-se

Licenciatura em Informática
101
O Texto Técnico-Científico: Conceitos e Técnicas

evitar: a construção de mais de um parágrafo; a utilização de frases ne-


gativas; o uso de símbolos e contrações que não sejam do uso corrente;
a exposição de fórmulas, equações, diagramas que não sejam absoluta-
mente necessárias. Geralmente, esses resumos antecedem textos acadê-
micos (monografias, trabalhos de conclusão de curso, relatórios, artigos
científicos, dissertações de mestrado, teses de doutoramento), redigidos
num só bloco, sem entrada de parágrafo.

Elaboração de esquemas

Elaborar um esquema do texto a ser resumido pode auxilar bastante a


tarefa de resumir. Esquematizar consiste em reelaborar o plano do autor.

O esquema pode ser definido, de forma bem elementar, como um


resumo não redigido.

A maneira de esquematizar um texto é muito pessoal: pode‑se usar sím-


bolos, palavras abreviadas, gráficos, desenhos, chaves, flechas, maiúsculas
e outros recursos que contribuam para a eficiência e compreensão do es-
quema. A técnica de sublinhar facilita muito a tarefa de esquematizar um
texto que não seja longo. Nem todos os textos se prestam para anotações
em forma de esquema; uma obra literária, por exemplo, presta‑se mais ao
resumo e à interpretação, muitas vezes simbólica, que à esquematização.

7.2. Resenha

A resenha é um resumo crítico, que admite julgamentos, avaliações,


comparações e comentários pessoais.

Resenhar significa fazer uma relação das propriedades de um ob-


jeto, enumerar cuidadosamente seus aspectos relevantes, descre-
ver circunstâncias que o envolvem.

O objeto resenhado pode ser um acontecimento qualquer da realidade


(um jogo de futebol, uma comemoração solene, uma feira de livros) ou
textos e obras culturais (um romance, uma peça teatral, um filme).

A resenha, como qualquer modalidade de discurso descritivo, nunca pode


ser completa e exaustiva, já que são infinitas as propriedades e circunstân-
cias que envolvem o objeto descrito. O resenhista deve proceder seletiva-

Língua Portuguesa
102
Capítulo 7

mente, filtrando apenas os aspectos pertinentes do objeto, isto é, apenas


aquilo que é funcional em vista de uma intenção previamente definida.

A resenha pode ser puramente descritiva ou informativa, isto é, sem ne-


nhum julgamento ou apreciação do resenhista, crítica, quando se mani-
festa sobre o valor e o alcance do texto analisado; e crítico-informativa,
quando expõe o conteúdo e tece comentários sobre o texto analisado.

A resenha descritiva consta de:

a) uma parte descritiva em que se dão informações sobre o texto:


f) nome do autor ( ou autores);
g) título completo e exato da obra (ou do artigo);
h) nome da editora e, se for o caso, da coleção de que faz parte a obra:
i) lugar e data da publicação;
j) número de volumes e páginas.

Pode‑se fazer, nessa parte, uma descrição sumária da estrutura da obra


(divisão em capítulos, assunto dos capítulos, índices, etc.). No caso de
uma obra estrangeira, é útil informar também a língua da versão origi-
nal e o nome do tradutor (caso se trate de tradução).

b) informações sintéticas sobre o(s) autor(es) da obra, dispensáveis se o


autor for muito conhecido;

c) uma parte com o resumo do conteúdo da obra:

8. indicação sucinta do assunto global da obra ( assunto tratado) e do ponto


de vista adotado pelo autor (perspectiva teórica, gênero, método, tom, etc.);

9. resumo que apresenta os pontos essenciais do texto e seu plano geral.

Na resenha crítico-informativa, além dos elementos já


mencionados, entram também comentários e julgamentos do
resenhista sobre as ideias do autor, o valor da obra, etc. Trata-se
da avaliação que o resenhista faz do texto que leu e sintetizou.

Sobre isso, ensina Antônio Joaquim Severino:

“Essa avaliação crítica pode assinalar tanto os aspectos po-


sitivos quanto os aspectos negativo do texto. Assim, pode-se
destacar a contribuição que o texto traz para determinados

Licenciatura em Informática
103
O Texto Técnico-Científico: Conceitos e Técnicas

setores da cultura, sua qualidade científica, literária ou filo-


sófica, sua originalidade etc.; negativamente, pode-se expli-
citar as falhas, incoerências e limitações do texto.

Esse comentário é normalmente feito como último momen-


to da resenha, após a exposição do conteúdo. Mas pode ser
distribuído difusamente, junto com os momentos anteriores:
expõe-se e comenta-se simultaneamente as ideias do autor.

As críticas devem ser dirigidas às ideias e posições do autor,


nunca a sua pessoa ou às suas condições pessoais de existên-
cia. Quem é criticado é o pensador/autor e suas ideias, e não
a pessoa humana que as elabora.

É sempre bom contextuar a obra a ser analisada, no âmbito


do pensamento do autor, relacionando-a com seus outros
trabalhos e com as condições gerais da cultura da área, na
época de sua produção.

Na medida em que o resenhista expõe e aprecia as ideias do


autor, ele estabelece um diálogo com os mesmos. Nesse sen-
tido, o resenhista pode até mesmo expor suas próprias ideias,
defendendo seus pontos de vista, coincidentes ou não com
aqueles do autor resenhado.” (SEVERINO, 2007, p 205-6)

Observações:

As resenhas têm papel importante na vida científica de qualquer


estudante e dos especialistas, pois é através delas que se toma co-
nhecimento prévio do conteúdo e valor de um livro que acaba de
ser publicado, um filme que acaba de ser lançado ou um outro
objeto, que acaba de ser lançado, fundando‑se nesta informação
(resenha) a decisão de se ler ou não um livro, ver ou não um filme,
seja para um estudo ou para um trabalho particular.

As resenhas que, além da exposição objetiva do conteúdo do texto, te-


cem comentários críticos interpretativos, discutindo, comparando, ava-
liando, são muito mais úteis do que as meramente informativas.

Língua Portuguesa
104
Capítulo 7

Para se produzir resenhas é necessário: capacidade de síntese; re-


lativa maturidade intelectual; domínio do assunto do objeto abor-
dado; muita sobriedade e objetividade nos comentários críticos,
enfim, as resenhas devem ser elaboradas com base nas diretrizes
da leitura analítica.

A extensão da resenha é variável, de acordo com o local em que ela vai


ser publicada.

Para o nosso trabalho acadêmico, seguiremos as seguintes normas:

A resenha deverá conter no máximo (3) três páginas digitadas mais a fo-
lha de rosto. A primeira página deve conter (14) quatorze linhas (conta-
das de baixo para cima); a segunda deve conter de (28) vinte e oito e no
máximo (32) trinta e duas linhas. A terceira página tem o mínimo de (6)
linhas e não pode ultrapassar de (14) quatorze a (16) dezesseis linhas.

Na resenha deve‑se assumir a linguagem do autor, tornando‑se um co‑au-


tor. Não se admite frases como: de acordo com... segundo Fulano... o au-
tor diz que..

O tamanho do papel é A4 e deve‑se obedecer às seguintes margens:


margem superior: 3cm; margem inferior: 2cm; margem esquerda: 3cm;
margem direita: 2cm (margens definidas pela ABNT).

As páginas são numeradas a partir da página de rosto, sendo o nú-


mero colocado no alto da página, no meio ou de preferência à di-
reita (no canto direito superior).

Os trabalhos são digitados dentro dos limites acima estabelecidos, com


espaço 1,5, tipo Times New Roman ou Arial tamanho 12, exigindo-se
texto justificado.

Licenciatura em Informática
105
O Texto Técnico-Científico: Conceitos e Técnicas

Referências:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u10862.shtml

ABREU, Antonio Suarez. Curso de redação. 12. ed. São Pau-


lo: Ática, 2004.

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. Rio de


Janeiro: Lucerna, 2005.

GARCIA, Othon Maria. Comunicação em prosa moderna. 26.


ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. Você pode visualizar par-
tes desse livro no site: http://books.google.com/books?hl=pt-BR
&lr=&id=j3HuskLZeLAC&oi=fnd&pg=PA6&dq=%22Garcia%
22+%22Comunica%C3%A7%C3%A3o+em+prosa+moderna+
aprenda+a+escrever+...%22+&ots=y35wGLnAhk&sig=OJB5F-
QZrEE1aPDqRyofEip4ix0

VIANNA, Antonio Carlos (coord.). Roteiro de redação: lendo e


argumentando. São Paulo: Scipione, 1998.

http://www.centralmat.com.br/Artigos/Mais/artTecLuisCar-
losSantos.pdf

http://www.pucrs.br/gpt/resenha.php

MEDEIROS, João Bosco. Redação científica: a prática de ficha-


mentos, resumos, resenhas. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

SAVIOLI, Francisco Platão & FIORIN, José Luiz. Para entender o


texto: Leitura e redação. São Paulo: Ática, 1990.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho cientí-


fico. 23. ed. São Paulo: Cortez, 2007.

Língua Portuguesa
106
Capítulo 7

Licenciatura em Informática
107

ABREU, Antonio Suarez. Curso de redação. 12. ed. São Pau-


lo: Ática, 2004.

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. Rio de


Janeiro: Lucerna, 2005.

COSTA VAL, Maria da Graça. Redação e Textualidade. São Pau-


lo: Martins Fontes, 2004)
GARCIA, Othon Maria. Comunicação em prosa moderna. 26.
ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. Você pode visualizar par-
tes desse livro no site: http://books.google.com/books?hl=pt-BR
&lr=&id=j3HuskLZeLAC&oi=fnd&pg=PA6&dq=%22Garcia%
22+%22Comunica%C3%A7%C3%A3o+em+prosa+moderna+
aprenda+a+escrever+...%22+&ots=y35wGLnAhk&sig=OJB5F-
QZrEE1aPDqRyofEip4ix0

INFANTE, Ulisses. Do texto ao texto: curso prático de leitura e


redação. 5. ed. São Paulo: Scipione, 1998, 312 p.
KOCH, Ingedore V. Argumentação e linguagem. São Paulo: Cor-
tez, 1984.
_________& TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Texto e coerência. São
Paulo: Cortez, 1989.
LANES, Ely Vieitez. Laboratório de literatura: ensaio. São Paulo:
Editora Estrutura Ltda., 1978.
MEDEIROS, João Bosco. Redação científica: a prática de ficha-
mentos, resumos, resenhas. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

MOURA, Fernando. Nas linhas e entrelinhas: compreendendo e


construindo textos. Brasília: Vestcon, 2008.
SAVIOLI, Francisco Platão & FIORIN, José Luiz. Para entender o
texto: Leitura e redação. São Paulo: Ática, 1990.

SCARTON, Gilberto. Guia de produção textual: assim é que


se escreve... Porto Alegre: PUCRS, FALE/GWEB/PROGRAD,
[2002]. Disponível em: < http://www.pucrs.br/gpt >.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho cientí-
fico. 23. ed. São Paulo: Cortez, 2007.

Língua Portuguesa
108
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

VIANNA, Antonio Carlos (coord.). Roteiro de redação: lendo e


argumentando. São Paulo: Scipione, 1998.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u10862.shtml

http://www.risada.com/risada/curiosidades/114/30-dicas-para-
escrever-bem
http://www.centralmat.com.br/Artigos/Mais/artTecLuisCar-
losSantos.pdf

http://www.pucrs.br/gpt/resenha.php

Licenciatura em Informática

Você também pode gostar