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MUNDO DO TRABALHO
Euliene da Silva Gonçalves
Marcilei Serafim Germano
Porto Velho - RO
2018
© Ministério da Educação
Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica
Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução total ou parcial desta obra, desde que citada a fonte e
que não seja destinada à venda ou a quaisquer fins comerciais. Venda proibida. Distribuição gratuita.
A responsabilidade pelos direitos autorais de textos e imagens desta obra é da área técnica.
A coleção institucional do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (IFRO) pode ser
acessada, na íntegra, no repositório virtual: http://cursos.ead.ifro.edu.br/
1ª edição – 2018
Editora responsável:
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E
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Ficha Catalográfica
83 p.: il.
ISBN: 978-85-69951-10-0
CDD: 331.1
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Tabela de ícones
Ícones são representações visuais utilizadas para facilitar e organizar a leitura do tex-
to verbal, ampliando as possibilidades de linguagens e sentidos.
Atenção Glossário
Indica os pontos Define ou elucida
de maior relevân- termos, palavras ou
cia no texto. expressões utiliza-
dos no texto.
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Sugere sites, tex- Sugere outras mí-
tos e outros recur- dias que possibili-
sos complemen- tem ao estudante
tares que possam compreender me-
ampliar a com- lhor o conteúdo:
preensão do tema vídeos, filmes, jor-
destacado. nais etc.
Atividade
Indica atividades
que devem ser
feitas para exer-
citar a compre-
ensão.
5
Apresentação dos
UNIDADE 1autores
professores
Caro(a) estudante,
Esperamos que você esteja bastante motivado(a) para esta disciplina. Estu-
dar os fundamentos do mundo do trabalho é buscar a base, o alicerce da própria
vida. O mundo ao qual nos referimos é o mundo humano – o mundo das relações
construído historicamente; este mundo também pode ser chamado de cultura, de
sociedade, de vida humana. O trabalho é a base de nossa sobrevivência, de nossa
vida, por meio do qual nos realizamos. Só por este resgate do nome da disciplina é
possível notar que ela é essencial ao curso de Cooperativismo e, ao mesmo tempo, o
transcende, pois lida com a essência do ser humano.
Fique conosco!
Nós estaremos com você!
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SUMÁRIO
Palavras finais................................................................................. 73
Guia de soluções............................................................................. 75
Referências..................................................................................... 77
Obras consultadas.........................................................................................................80
Bibliografia básica..........................................................................................................81
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Trabalho humano:
UNIDADE 1 elemento de transformação
intencional da natureza
Objetivos:
• Identificar o trabalho humano como elemento de transformação
intencional da natureza;
• Classificar o trabalho como elemento constitutivo da formação humana.
Ensinagem: “Termo adotado para significar uma situação de ensino da qual ne-
cessariamente decorra a aprendizagem, sendo a parceria entre professor e alunos a
condição fundamental para enfrentamento do conhecimento necessário à forma-
ção do aluno [...]” (ANASTASIOU, 2006, p.15).
Caro(a) estudante,
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nômades. A preocupação com a sobrevivência num ambiente natural e hostil era
crucial: caçar, pescar, procurar frutas e raízes, fugir de animais perigosos e abrigar-se
das variações climáticas faziam parte do cotidiano do homem pré-histórico.
Para os gregos clássicos, conforme explica Albornoz ([s.d.], p. 46-7), havia três
tipos de trabalho: práxis, destinado à vida pública; poesis, criação a partir da transfor-
mação do material dado pela natureza; e labor, ligado à sobrevivência. Os dois últimos
negavam o ócio. Este era um meio para cultivar o diálogo na vida dos cidadãos gregos
– que correspondiam a apenas 10% da população masculina nascida na Grécia.
Note, querido(a) estudante, que a práxis era um trabalho mais valorizado que
o labor e a poesis. Outro trabalho, mais nobre ainda que a práxis, era o filosofar, ou
seja, contemplar a Verdade – tão especial que nem era denominado trabalho.
1) Você concorda que o trabalho realizado pela maioria das pessoas realmente é um
momento de sofrimento?
2) O que o trabalho proporciona, além da dor?
3) O que leva uma pessoa a realizar o trabalho como meio de sofrimento ou além
do sofrimento?
Agora que você aprendeu sobre a origem da palavra trabalho e como seu
significado foi mudando ao longo do tempo, vamos tratar da relação existente entre
a capacidade racional e o trabalho, ou seja, como o ser humano transforma o mundo
em que vive por meio do trabalho.
Um dos conceitos de ser humano mais divulgados é o de que ele é um ser ra-
cional. Você já assistiu ao filme Alexandre, o Grande (EUA, Warner, 2004), dirigido por
Oliver Stone? Nele, aparece o professor de Alexandre – o filósofo Aristóteles, pensa-
dor que, em sua época, mais deixou reflexões escritas. Aristóteles trata sobre a alma
de todos os seres em uma destas reflexões, contida no livro Sobre a Alma; especifica-
mente nas páginas 68 a 70 do livro, o filósofo caracteriza a alma, ou seja, a essência
de cada ser existente no mundo.
Você pode se perguntar o que isso tem a ver com trabalho. Simples, jovem
estudante: sendo o trabalho uma ação humana, ele só pode ser fruto de nossa racio-
nalidade e, consequentemente, da liberdade. Nenhum trabalho pode atrapalhar a
nossa capacidade de pensar ou impedir nossa liberdade de decidir. Por isso, pelo tra-
balho, agimos na natureza segundo nossa intencionalidade – isto é, nossa intenção,
escolha, decisão. Se algum trabalho for obstáculo para nossa capacidade racional ou
nossa liberdade, ele deixa de ser um elemento de realização da especificidade do ser
humano e passa a ser um elemento que oprime e impede o ser humano de desen-
volver ainda mais o seu potencial.
Para compreender um pouco mais sobre a liberdade, assista ao vídeo Aula 34 – Filo-
sofia – Existencialismo, do Sistema de Ensino Poliedro, a respeito do existencialismo.
Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=_tXuovkCHcA>
Para entender isso, basta lembrar quando você faz uma redação capricha-
da, uma escultura, uma pintura, lava a louça ou arruma a casa. Durante a ação, ou
seja, a produção, se alguém fica dizendo “faz mais rápido”, “faz em pé”, “faz maior”,
“faz menor”, “aperta mais”, “não faça tanta força” e não o(a) deixa tomar suas deci-
sões, você fica chateado(a); quando termina, parece que não foi você quem fez.
No entanto, quando se sente livre para fazer do seu jeito, termina e recebe críticas
– “está mal feito”, “não presta”, entre outros defeitos –, você, como pessoa humilde
(), as acolhe e melhora com as observações. Mas, lá no fundo, dá uma dorzinha...
você já sabe por quê, certo? Aquilo que você produziu, resultado de suas verda-
deiras intenções, é a manifestação de seu modo de ser no mundo, é fruto de sua
intencionalidade.
Aposto que você acabou de lembrar de suas aulas com o professor de Socio-
logia, certo? Ele não para de dizer que somos seres sociais. O primeiro a defender isto
claramente foi Aristóteles, no livro A Política (2010, p.2, § 9). Lembra deste filósofo? Já
falamos sobre ele anteriormente.
Note bem: observando este jeito de ser, veremos que, para produzir, é preci-
so haver matéria-prima oriunda da natureza e utilizar uma força humana – músculos
e/ou intelecto – sobre ela; a força humana aperfeiçoa-se com o uso de instrumentos.
Estes elementos, grafados em itálico, chamamos de força ou meios de produção
e já foram mencionados lá nos primeiros parágrafos, lembra? Como não é possível
todo mundo fazer a mesma coisa, é preciso dividir as tarefas; a isto, chamamos de
relação de produção. Ao considerarmos estes dois elementos (força e relação) de
nosso jeito de ser, percebemos mais detalhadamente o que dissemos nos dois pará-
grafos anteriores: na história, há vários modos de produção, também chamados de
sistemas de produção, ou seja, conjuntos de produção.
Vamos contar uma historinha. Era uma vez... () há muito tempo, apro-
ximadamente 100.000 anos antes de Cristo, o ser humano era nômade, vivia em
bandos e colhia o que estava disponível de forma imediata na natureza. Por volta
de 10.000 anos antes de Cristo, começou a cultivar a terra. Assim, ele deixou de ser
Mas esta transformação não aconteceu só uma vez. Certamente, você ou-
viu falar de pessoas que saíram do interior, da roça, do campo e foram para a cidade
em busca de trabalho. Se você observar, quando elas mudaram a maneira como
estavam produzindo para sobreviver, mudaram também sua própria maneira de
viver. Aqui, basta recordar das aulas com o(a) professor(a) de Geografia sobre o
êxodo rural – pessoas saindo do campo e indo para a cidade. Não estamos fazendo
juízo de valor, ou seja, dizendo que isso é bom ou ruim, mas apenas constatando
com você que, pelo trabalho, as pessoas transformam a natureza para viverem e
também mudam a própria existência.
Fonte: os autores
Para relembrar
• Hegel mostra uma visão positiva do trabalho como ação que possibilita
ao ser humano se desenvolver.
1. (ENEM 2013) Na produção social que os homens realizam, eles entram em deter-
minadas relações indispensáveis e independentes de sua vontade; tais relações de
produção correspondem a um estágio definido de desenvolvimento das suas forças
materiais de produção. A totalidade dessas relações constitui a estrutura econômica
da sociedade – fundamento real, sobre o qual se erguem as superestruturas política
e jurídica, e ao qual correspondem determinadas formas de consciência social.
MARX, K. Prefácio à Crítica da Economia Política. In: MARX, K.; ENGELS, F. Textos 3.
São Paulo: Edições Sociais, 1977 (adaptado).
2. (Prefeitura Municipal de São José - SC – FEPESE - 2012) Assinale o que for correto
sobre o “trabalho”:
Texto de apoio:
Antes de tudo, o trabalho é um processo entre o homem e a Natureza, um pro-
cesso em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu me-
tabolismo com a Natureza. Ele mesmo se defronta com a matéria natural como
uma força natural. Ele põe em movimento as forças naturais pertencentes a sua
corporalidade, braços e pernas, cabeça e mão, a fim de apropriar-se da matéria na-
tural numa forma útil para sua própria vida. Ao atuar, por meio desse movimento,
sobre a Natureza externa a ele e ao modificá-la, ele modifica, ao mesmo tempo,
sua própria natureza. Ele desenvolve as potências nela adormecidas e sujeita o
b) Posicione-se informando se concorda ou não com Marx: ele está certo ou errado?
Em que está certo? Em que está errado?
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c) Justifique seu posicionamento: por que você pensa que ele está certo, ou por que
está errado?
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Objetivos:
• Identificar os vários modos de trabalho presentes na história humana;
• Especificar em cada modo de trabalho a lógica que o mantém.
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Amado(a) estudante, um desafio para você: enquanto lê, destaque, grifando ou
anotando, o nome dos modos de produção que aparecem no texto. Isto irá ajudá-
-lo(a) em uma atividade posterior. Beleza?
Paleolítico: significa pedra antiga. Também conhecido como período da pedra lasca-
da, vai de aproximadamente 2,5 milhões de anos antes de Cristo a 10.000 anos a.C..
Neolítico: significa pedra nova. Também conhecido como período da pedra polida,
vai de aproximadamente 10.000 anos a.C. a 4.000 anos a.C..
Também é necessário aceitar que havia alguém designado para tomar conta
do excedente ou distribuir para as pessoas daquele clã ou vila. Eis a ideia de guardas
e de Estado administrativo.
Aguçando o olhar, notaremos que, se algo sobra, é trocado com os clãs vizi-
nhos. Uma espécie de comércio à base de trocas surge; se algum clã domina um ter-
ritório mais amplo e possui uma sobra maior, as trocas tornam-se desiguais e cria-se
um novo excedente, gerando uma relação de produção desigual entre os clãs. Quem
produz mais tem maior densidade demográfica e maior necessidade de espaço.
Escravo: “O trabalho realizado sob alguma forma de coerção não econômica pre-
dominou durante grande parte da história [...]. Como o escravo é o tipo mais conhe-
cido e mais dramático de trabalhador não livre, acreditou-se geralmente que fosse
também o mais comum; daí o uso metafórico, nas línguas ocidentais, das palavras
‘escravo’, ‘escravidão’, ‘escravizado’ [...]. Mas o fato é que, na história do mundo como
um todo, os escravos existiram em número muito menor do que outras modalidades
de trabalhadores manuais submetidos a uma falta de liberdade menos completa
Você já percebeu que o trabalho não está mais voltado só para a subsistência,
certo? Então, vamos olhar para os demais modos de produção que surgiram, vinculados à
ideia de propriedade e de poder, como na referência de Pierre Clastres da página anterior.
Você está observando – como vimos na unidade 1 – que, pelo trabalho, o ser
humano está transformando a natureza e a si mesmo?
Segundo Cardoso (2006), a escravidão foi usada por todas as civilizações antigas
– mesopotâmica, indiana, chinesa, egípcia, grega – e também pelas civilizações na Amé-
rica pré-colombiana – entre os astecas, incas e maias; aconteceu, também, entre os povos
da África. O ápice da escravidão pode ser identificado na colonização das Américas, em
que negros e indígenas eram tratados como não humanos – animais, objetos. Nem sem-
pre a escravidão estava ligada à vitória ou à derrota numa guerra: as pessoas poderiam
tornar-se escravas de várias formas além disso – por causa de uma dívida financeira, ne-
cessidade de alimentos, por serem criminosas ou consideradas culturalmente inferiores.
Aprofunde esta questão sobre a escravidão em nosso país com um breve vídeo do
Telecurso 2000 intitulado Aula 23 – Trabalho e escravidão na América Portugue-
sa (História – Ensino Médio). Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=LEL1hxqenAA>
Neocosmo social: “neo” vem do grego e significa novo; “cosmo” também vem do
grego e significa universo, ordem. Logo, nova ordem, nova organização; acompa-
nhado da palavra social, designa nova organização da sociedade.
Proletário: na Roma antiga, era o nome dos que faziam parte da última camada
social. Receberam esta denominação devido à única vantagem que traziam para a
sociedade: o fato de terem filhos, sua prole; por isso, proletariado. No texto, o signi-
ficado é de alguém que vende suas habilidades – uma vez que não possui nenhum
outro bem – para quem pode pagar por elas, nesse caso, o burguês.
Greco-romana: nome utilizado para designar o período em que houve a fusão en-
tre as culturas grega e romana. Este período também é chamado de helenismo.
Descobriu quais são as cinco formas de trabalho? Esperamos que sim! Por
favor, para te ajudar a memorizá-las, escreva-as nas linhas que se seguem:
Muito bem! Agora, você notou que o resultado sempre foi o mesmo, de
forma diferente, mas o mesmo (). Vamos explicar no próximo item.
É preciso entender que, por mais que o conceito de trabalho seja diferente
do atual, havia uma relação de poder na sociedade nômade. Basta lembrar dos ani-
mais em bandos: quem manda é o mais forte fisicamente, normalmente um macho.
Na relação primitiva entre homem e mulher, quem é mais forte fisicamente? A mu-
lher? Tudo bem, você pode até dizer que os dois têm a mesma força, mas... e num
momento de escassez de alimentos, qual bando ficaria com os melhores lugares para
se alimentar? Claro que o bando mais forte. Temos que pressupor: mesmo no modo
de produção primitiva, há uma relação de dominação, ainda que seja de uma tribo
Fonte: os autores
Ideologia: segundo Cancian (2007), esta palavra foi utilizada pela primeira vez em
1801 pelo filósofo Destutt de Tracy para indicar estudo científico das ideias. No senso
comum, ideologia como sinônimo de conjunto de ideias é algo recorrente. Nesses
dois sentidos, é possível ver ideologia como equivalente à cultura. Com o filósofo
Karl Marx, ideologia foi entendida como consciência falsa, mentira que encobre a
realidade, uma ideia que impede de ver a realidade tal qual ela é. Em outras pala-
vras, é uma mentira que esconde a verdade e as pessoas passam a agir segundo ela.
É neste sentido, dado por Marx, que ideologia está sendo empregada no texto.
Leia o artigo escrito por Gabriele Gonçalves, Processos de Produção, disponível em:
<http://monografias.brasilescola.uol.com.br/sociologia/processos-producao.htm>
Para relembrar
1. (ENEM 2014)
No texto, é apresentada uma lógica que constitui uma característica central do se-
guinte sistema socioeconômico:
a) socialismo.
b) feudalismo.
c) capitalismo.
d) anarquismo.
e) comunitarismo.
Texto de apoio:
[...] na produção social da própria existência, os homens entram em relações
determinadas, necessárias, independentes de sua vontade; essas relações de
produção correspondem a um grau determinado de desenvolvimento de suas
forças produtivas materiais. A totalidade dessas relações de produção constitui
a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se eleva uma supe-
restrutura jurídica e política e à qual correspondem formas sociais determinadas
de consciência. O modo de produção da vida material condiciona o processo de
vida social, política e intelectual. Não é a consciência dos homens que determina
o seu ser; ao contrário, é o seu ser social que determina sua consciência. Em uma
certa etapa de seu desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade
entram em contradição com as relações de produção existentes, ou, o que não
é mais que sua expressão jurídica, com as relações de propriedade no seio das
quais elas se haviam desenvolvido até então. De formas evolutivas das forças
produtivas que eram, essas relações convertem-se em entraves. Abre-se, então,
uma época de revolução social. A transformação que se produziu na base econô-
mica transforma mais ou menos lenta ou rapidamente toda a colossal superes-
trutura. Quando se consideram tais transformações, convém distinguir sempre a
transformação material das condições econômicas de produção - que podem ser
verificadas fielmente com ajuda das ciências físicas e naturais - e as formas jurí-
dicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas, em resumo, as formas ideoló-
gicas sob as quais os homens adquirem consciência desse conflito e o levam até
o fim. Do mesmo modo que não se julga o indivíduo pela ideia que de si mesmo
faz, tampouco se pode julgar uma tal época de transformações pela consciência
que ela tem de si mesma. É preciso, ao contrário, explicar essa consciência pelas
contradições da vida material, pelo conflito que existe entre as forças produti-
vas sociais e as relações de produção. Uma sociedade jamais desaparece antes
que estejam desenvolvidas todas as forças produtivas que possa conter, e as re-
lações de produção novas e superiores não tomam jamais seu lugar antes que
as condições materiais de existência dessas relações tenham sido incubadas no
Muito bem, você finalizou mais uma unidade! Encerramos mais uma etapa
da disciplina! Acreditamos que você conseguiu identificar os vários modos de tra-
balho presentes na nossa história e especificar a lógica que mantém cada um deles.
Maravilha! Juntos, estudaremos, na próxima unidade, o trabalho atualmente. Numa
maratona, muitos começam, mas somente os fortes chegam ao fim. Continue perse-
verante nesta maratona de estudos e não se esqueça de realizar a leitura dos textos
e assistir aos vídeos que indicamos.
Objetivos:
• Identificar características do mundo do trabalho na sociedade atual;
• O trabalho dentro do contexto atual do capitalismo.
Agora que você já sabe o que vamos estudar e quais os objetivos desta nova uni-
dade, sugerimos começar seus estudos por dois vídeos muito bons. A Secretaria da Edu-
cação do Governo do Estado do Paraná disponibilizou o episódio 6 da série Ecce Homo,
intitulado Trabalho, dividido em duas partes. Assista aos dois; você vai gostar muito do
material, que o ajudará a revisar o que vimos até aqui e compreender melhor o conte-
údo da unidade 3. Os vídeos tratam do trabalho como estruturador das relações entre
as pessoas e como símbolo, no mundo contemporâneo, de independência e liberdade.
Você já deve ter ouvido falar de empresas que fazem meditação, exercícios, jogos
e várias outras atividades prazerosas com seus funcionários. Isso é a manifesta-
ção da valorização do ser humano ou um meio de exploração do humano para
aumentar os rendimentos? Justifique.
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Anote sua resposta: __________________________________________________
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Fordista: processo de produção criado por Henry Ford, baseia-se no fato de orga-
nizar a produção de maneira a não haver desperdício de tempo do trabalhador na
execução das atividades O trabalho é dividido em várias funções; porém, cada tra-
balhador realiza sempre a mesma função. Assim, cada trabalhador executa sua fun-
ção em uma linha de montagem, com atividades ou peças padronizadas.
Mas qual sua opinião sobre isto? Registre seu posicionamento nas li-
nhas que se seguem e, depois, partilhe com os(as) colegas. Atenção: não fique
fechado(a) em sua opinião, ouça os(as) colegas e melhore sua argumentação; se
for o caso, mude de opinião. Lembre-se: você está em processo de formação. Não
é necessário ficar defendendo uma posição até a morte: é preciso sempre buscar
a verdade, isto sim!
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Para você identificar melhor o que está acontecendo, vamos esclarecer que
a terceira revolução industrial está ligada a uma nova maneira de entender a reali-
dade e isto norteia a maneira de trabalhar. Vamos lá!?
Pensamento holístico: não somos capazes, ainda, de especificar qual o seu funda-
dor. O pensamento holístico defende que, para entender a realidade, é preciso voltar
a atenção à totalidade, e não às partes. O modelo não é mais o mecânico, mas o or-
ganismo dinâmico, vivo, compreendido enquanto inter-relacionado; tudo é interde-
pendente. Este pensamento é também conhecido como global, complexo e sistêmico.
Fonte: os autores.
Note que temos uma sociedade agrícola seguida de uma industrial e, de-
pois, de uma sociedade da informação. Segundo João Paulo II, em sua encíclica
Centésimus Annus (1991, p. 26), “Se antes a terra, e depois o capital, eram os fato-
res decisivos da produção, hoje o fator decisivo é cada vez mais, o homem em si,
ou seja, seu conhecimento”. Mas qual a diferença entre o trabalho da sociedade
industrial e o da sociedade da informação? Já acenamos com alguns elementos.
Observe a figura 05 para melhor entender.
Fonte: os autores.
Apostamos que você gostou desta nova maneira de encarar a realidade, afi-
nal, nela, você é o protagonista. Como dissemos, a educação é um dos principais
meios para aprender a gerir o conhecimento; você está no caminho certo, fazendo o
ensino médio e, ainda, um curso técnico. Este é o caminho.
Agora, temos uma notícia triste para você: não existe emprego para todo
mundo nesta realidade. Veja o gráfico retirado da página do IndexMundi que
contém estatísticas detalhadas do país, gráficos e mapas compilados a partir de
múltiplas fontes:
Mesmo que o trabalhador se aperfeiçoe, não basta, para ele, ter a posse da
força de trabalho: é preciso a efetivação do emprego formal, estigmatizado por um
contrato de trabalho que não garante, muitas vezes, condições de sobrevivência
diante dos salários baixos. Segundo Ianni (1994), como consequência desta realida-
de, há o crescimento do desemprego, do contrato temporário, da informalidade e
dos estagiários, os quais recebem pouco e não fazem um estágio real. Isso demonstra
que o Estado não está atendendo à dimensão de realização social e humana intrín-
seca ao trabalho, mas reduzindo-o a mera mercadoria, como um estoque a ser gasto.
Sabemos que dizer isso, desta forma, pode gerar algum mal-estar pessoal. Mas é
isso. Este é um dos dois detalhes que mencionamos. Antes de irmos para o segundo de-
talhe, vamos relembrar os principais pontos desta unidade e fazer alguns exercícios. Ok?
Para relembrar
Atividades de aprendizagem
Vamos a alguns exercícios para treinar seu posicionamento crítico frente à realidade.
1. (ENEM 2015) Dominar a luz implica tanto um avanço tecnológico quanto uma
certa liberação dos ritmos cíclicos da natureza, com a passagem das estações e as
alternâncias de dia e noite. Com a iluminação noturna, a escuridão vai cedendo lugar
à claridade, e a percepção temporal começa a se pautar pela marcação do relógio. Se
a luz invade a noite, perde sentido a separação tradicional entre trabalho e descanso
— todas as partes do dia podem ser aproveitadas produtivamente.
SILVA FILHO, A. L. M. Fortaleza: imagens da cidade. Fortaleza: Museu do Ceará; Se-
cult-CE, 2001 (adaptado).
TEXTO II
O trabalhador fica mais pobre à medida que produz mais riqueza e sua produção
cresce em força e extensão. O trabalhador torna-se uma mercadoria ainda mais ba-
rata à medida que cria mais bens. Esse fato simplesmente subentende que o objeto
produzido pelo trabalho, o seu produto, agora se lhe opõe como um ser estranho,
como uma força independente do produtor.
MARX, K. Manuscritos econômicos-filosóficos (Primeiro ma-
nuscrito). São Paulo: Boitempo Editorial, 2004 (adaptado).
Com base nos textos, a relação entre trabalho e modo de produção capitalista é:
a) baseada na desvalorização do trabalho especializado e no aumento da demanda
social por novos postos de emprego.
b) fundada no crescimento proporcional entre o número de trabalhadores e o au-
mento da produção de bens e serviços.
c) estruturada na distribuição equânime de renda e no declínio do capitalismo in-
dustrial e tecnocrata.
d) instaurada a partir do fortalecimento da luta de classes e da criação da eco-
6. (ENEM 2010) Um banco inglês decidiu cobrar de seus clientes cinco libras toda
vez que recorressem aos funcionários de suas agências. E o motivo disso é que, na
verdade, não querem clientes em suas agências; o que querem é reduzir o número
de agências, fazendo com que os clientes usem as máquinas automáticas em todo o
tipo de transações.
Em suma, eles querem se livrar de seus funcionários.
HOBSBAWM, E. O novo século. São Paulo: Companhia das Letras,
2000 (adaptado).
7. (ENEM 2014) O jovem espanhol Daniel se sente perdido. Seu diploma de desenhista
industrial e seu alto conhecimento de inglês devem ajudá-lo a tomar um rumo. Mas a
taxa de desemprego, que supera 52% entre os que têm menos de 25 anos, o desnor-
teia. Ele está convencido de que seu futuro profissional não está na Espanha, como o
de, pelo menos, 120 mil conterrâneos que emigraram nos últimos dois anos. O irmão
dele, que é engenheiro-agrônomo, conseguiu emprego no Chile. Atualmente, Daniel
participa de uma “oficina de procura de emprego” em países como Brasil, Alemanha e
China. A oficina é oferecida por uma universidade espanhola.
GUILAYN, P. Na Espanha, universidade ensina a emigrar. O Globo,
17 fev. 2013 (adaptado)
“Respeito pela dignidade humana, tal como a entende Toyota, significa eliminar da for-
ça de trabalho as pessoas ineptas e parasitas, que não deveriam estar ali; e despertar
em todos a consciência de que podem aperfeiçoar o processo de trabalho por seu pró-
prio esforço e desenvolver o sentimento de participação. Descobrir e eliminar sequên-
cias desnecessárias de trabalho e movimentos supérfluos por parte dos trabalhadores
é algo também relativo ao empenho da racionalização” (IANNI, 1994, p. 127).
“(...) todos os assalariados de uma empresa, não importa qual seja o seu nível hierárqui-
co, não sabem nunca se serão mantidos ou não no emprego, porque não é a riqueza
econômica da empresa que vai impedir que exista redução de efetivo. Vou dar o exem-
plo novamente da Peugeot e da Citroën, que conheço bem, na França. É uma empresa
que está funcionando muito bem. Ela passa seu tempo a despedir as pessoas de manei-
ra regular. Isso é perversão, mas a perversão está ligada à psicologização. O que quero
dizer com isso? Poderão permanecer na empresa apenas aqueles que são considerados
de excelente performance. Vocês sabem muito bem o que isso quer dizer, performance
e excelência. Isso remete às pessoas ditas vencedoras. São aqueles que matam de ma-
neira tranquila, sem dó, ‘fritando’ o semelhante, um outro profissional. Mata-se de verda-
de e a pessoa lesada não tem ideia, nem tem a impressão de que querem matá-la. Isso é
psicologização, na medida em que, se alguém não consegue conservar o seu trabalho,
fala-se tranquilamente: ‘mas é sua culpa, você não soube se adaptar, você não soube
fazer esforços necessários, você não teve uma alma de vencedor, você não é um herói’.
Isso quer dizer que é preciso ser um herói num cavalo branco para ganhar as coisas ou
as guerras. Então, psicologização quer dizer: ‘você é culpado e não a organização da em-
presa ou da sociedade. A culpa é só sua’. Isso culpabiliza as pessoas de modo quase total,
pessoas que, além disso, ficam submetidas a um estresse profissional extremamente
forte. Então as empresas exigem daqueles que permanecem um devotamento, lealda-
Objetivos:
• Identificar um tipo de educação que ajuda a sair da situação de desemprego;
• Demonstrar a importância do exercício da cidadania.
Muito bem, você está ciente do que vamos estudar e quais os objetivos desta
nova unidade. Sugerimos começar seus estudos com dois vídeos que o(a) ajudarão a
ampliar seus conhecimentos: o primeiro, intitulado Juventude, trabalho e educação no
Brasil, foi produzido pelo programa Salto para o Futuro e facilitará o entendimento da
relação entre educação e trabalho; o segundo, Palestra: Civilização e Barbárie, é uma pa-
lestra do filósofo educador Leandro Karnal, no Serviço Social do Comércio (Sesc), que vai
te ajudar a entender a questão da construção da cidadania. Bom estudo.
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instantânea. Pensamos que, para qualquer solução que você encontre, a educação é
indispensável. Mas não é qualquer tipo de educação. Como assim? Explicaremos por
meio da etimologia da palavra educação. Vamos lá?
Segundo Luza (2009), a palavra educação tem duas origens latinas: 1) educare,
que significa instruir, guiar e alimentar; 2) e educere, que significa conduzir para fora.
Atualmente, para que a educação ajude o estudante, deve tratá-lo como sujei-
to ativo, não como objeto passivo. O mundo do trabalho não quer apenas pessoas que
obedeçam, como coisas ou animais, mas que sejam capazes de ser ativas e transforma-
doras da realidade em que estão.
<http://scienceblogs.com.br/vqeb/2011/04/aluno_alumni_alumnus/>
Note que você pode ser um aluno, mas não ser um estudante – ou seja, ir
à escola de forma passiva, pois já interiorizou a atitude de só esperar, só receber, é
tratado como criança de colo e age como tal. Mas você pode ser estudante sem ser
aluno: são aquelas pessoas que se empenham em aprender mesmo sem ir à escola.
Agora, pense, registre suas ideias e partilhe com os(as) colegas se consi-
derar oportuno:
Caro(a) estudante, note que a educação que o(a) liberta desta situação injus-
ta de desemprego deve prepará-lo(a) para ser ativo(a), participativo(a) e exercitar a
cidadania. Vamos aprofundar um pouco mais este exercício.
Normalmente, esta fábula é contada de várias formas para dizer que cada
um deve fazer sua parte. No entanto, pense conosco: se o fogo é um problema que
está atingindo a todos, então, é um problema social e deve ser atacado por todos;
quem quiser fazer isso sozinho(a) não conseguirá. Além de fazer a própria parte, é
preciso convencer o outro a fazer a parte dele; caso contrário, é suicídio – problema
social é resolvido socialmente, não individualmente.
Pensamos que uma das alternativas se resume a apenas uma palavra: coope-
rativismo, que engloba todas as características citadas anteriormente. Por isso, o(a)
parabenizamos por fazer este curso. Não desista, continue estudando firme.
Atividades de aprendizagem
Vamos a alguns exercícios para treinar seu posicionamento crítico frente à realidade.
3. (UERJ, adaptado)
7. (CNDL) Argumente sobre o que falta para a sociedade brasileira exercer de manei-
ra efetiva a sua cidadania.
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Platão dizia que uma vida que não é refletida não é vida. Então, parabéns
para você por viver, por refletir conosco sobre o trabalho, este aspecto tão es-
sencial da vida. Continue sua busca por conhecimentos e transforme o mundo
a seu redor. Paz e bem.
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Guia de soluções
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5. Sinta-se à vontade para se posicionar e expressar seu ponto de vista. Se possível,
partilhe com alguém sua ideia e ouça a opinião de outras pessoas. Se for o caso,
reformule seu posicionamento. Bom exercício.
ALBORNOZ, Suzana. O que é trabalho. São Paulo: Brasiliense, [s.d.]. (Primeiros Passos,
171). Disponível em: <http://www.4shared.com/office/hcNxWNMZ/o_que__trabalho.
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Obras consultadas
Bibliografia básica
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