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Uma Noite Mágica

Era uma noite fria. Um vento gelado espalhava os flocos de neve e os últimos
transeuntes apressavam o passo. Um fogo esperava por eles na lareira das suas casas onde a
mesa estava posta, as velas acesas.
Tudo pronto para festejar o Natal.
Mas um homem caminhava sozinho, ao acaso,
pelas ruas. Curvado, atravessou a cidade sem parar em
lado algum. Ninguém esperava por ele: Riton não tinha
família nem casa.

Não fazendo caso das pessoas que olhavam para


ele, o homem seguia o seu caminho debaixo da neve e do
frio. Assobiava como que para se aquecer, e os flocos
que caíam misturavam-se-lhe na barba.
Porém, aquele velho não caminhava só nessa noite de gelo…
Um cãozinho seguia-o passo a passo. De onde viria ele?
Parecia ter feito uma longa viagem. E sobre o pelo coberto de
neve brilhava, na coleira, uma estrela.
Quando Riton deu por ele, o rosto envelhecido iluminou-
se.
— Estás perdido? Pois bem, anda comigo, não fiques
sozinho!
O cãozinho olhou para ele e pôs-se a latir.

O homem sentou-se debaixo de um pinheiro, tirou do saco o último naco de pão e


partiu-o ao meio.
— Este é para ti — disse.— Hoje é dia de festa!
Como era Natal, o homem contou ainda uma história de tempos antigos, a sua
preferida quando era criança… E, depois, pôs-se a cantarolar.
O vento continuava a soprar, cada vez mais forte, cada vez mais frio.
— Vem — murmurou Riton puxando a gola do casaco. — Vamos abrigar-nos neste
velho estábulo.

Ali ficaram por muito tempo, aconchegados na palha.


Mas, de repente, uma voz ecoou:
— Não tenhas receio, ouve-me… Eu não sou um cão. Sou um mágico!
— Tu? Um mágico? — admirou-se o velhote.
— Sim. Esta tarde tomei a aparência de cão para dar um maravilhoso presente a quem
me acolhesse. Mas em toda a parte as portas estavam fechadas e as pessoas andavam
demasiado apressadas nesta noite de festa. Só tu é que foste bom para comigo. Para te
agradecer, vou realizar o teu maior desejo. Diz-me o que queres, e eu dar-to-ei.

— Já não desejo grande coisa e também não preciso de nada — suspirou Riton. — Mas
gostava de… gostava de ter um cão.

Lá fora, o vento calou-se.


Um sino ao longe bateu as doze badaladas.
Um cão por companhia, era esse o seu único desejo?
“Deve ser muito bom ter este homem como amigo”, pensou o mágico.
Então, enquanto soavam as badaladas da meia-noite, abandonou para sempre todos os
seus poderes. E, ao amanhecer, o velho voltou a pôr-se a caminho.
E o cão seguia atrás dele.

Géraldine Elschner et alii


Nuit Magique
Paris, Minedition, 2011
(Tradução e adaptação)

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