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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC

Letras – Habilitação em Língua Portuguesa


Disciplina: Sintaxe I
Professor: Daniela Arns Silveira
Acadêmico: Diego R. Ferraz

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à pratica educativa. São


Paulo: Paz e Terra, 1996. 165p.

Sociedade autônoma

O que é necessário para se ter uma sociedade autônoma? Esta não é a pergunta
que desencadeia o livro. Porém, em “Pedagogia da autonomia”, consegue-se observar que
suas teorias, de certa maneira, visam a uma educação libertadora que consequentemente gera
uma sociedade autônoma.

Paulo Freire foi um educador e, dentre outras, uma das personalidades mais
notáveis da pedagogia mundial. Escreveu vários livros voltados à área da educação, todos
com grande relevância àqueles que se interessam por estudos sobre práticas de ensino e
aprendizagem. Um desses é o “Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa”, livro em que se abordam as práticas que os educadores devem adotar para mudar
o ensino de algo ditatorial (que ele denomina bancário) para um ensino libertador (que vise à
autonomia).

O livro tem como sua temática central a educação progressista libertadora, que
visa à construção de um sujeito autônomo e crítico. Entretanto, divide-se em três capítulos
que têm enfoque em assuntos específicos, que são necessários para se alcançar à autonomia,
por meio de uma prática educativa coerente.

Em seu primeiro capítulo, “Não há docência sem discência”, Freire coloca em


pauta seu primeiro princípio para uma educação libertadora, que é oportunizar um lugar de
destaque ao aluno. Este não pode ser visto como um simples depósito de saberes, mas um ser
que possui especificidades e uma importante função no processo educacional, pois, se não
houvesse alunos, para que professores? Explana-se, também, sobre práticas que o professor
pode utilizar para retirar o aluno do lugar de oprimido — em que se encontra até mesmo na
escola — e colocá-lo em seu local devido. Para isso é necessário um arcabouço de
conhecimentos e práticas que se pode resumir em três: respeito à cultura do aluno e aos seus
conhecimentos prévios, e o conhecimento de que o aluno possui uma curiosidade ingênua, e o
educador deve propiciar o desenvolvimento desta em uma curiosidade crítica, para que se
possa chegar à curiosidade epistemológica.

Posteriormente, no segundo capítulo, Paulo Freire retorna a algo já citado no


primeiro, e aqui aprofundado, diz-se que “ensinar não é transferir conhecimento”. E como
característico neste livro, ele repete ideias já abordadas no capítulo anterior como: a
necessidade de curiosidade, de criticidade, de epistemologia, de ética, de respeito, de ruptura
com toda e qualquer forma de preconceito e de corporeidade das palavras. E trazendo alguns
novos conceitos como: reconhecimento de ser condicionado, — porém que pode mudar de
vida, não necessitando viver a mesma vida até seu fim — e o tópico que permeia todo o
capítulo — dir-se-ia o cerne deste — que é a consciência do inacabamento humano. Freire
constrói seu segundo capítulo utilizando, principalmente, este último conceito, de que somos
seres inacabados.

Em seu último capítulo, “Ensinar é uma especificidade humana”, retoma-se tudo


que fora dito, porém, agregando à questão do humano nesses conceitos. Paulo Freire se
justifica e demonstra que em nenhum momento pensou em dicotomizar o processo educativo,
sabe-se, por exemplo, que não há como se separar o ensino da aprendizagem, ambos se
completam, não havendo ensino, caso não haja aprendizado. Discursa-se sobre o ensinar
como algo que somente os seres humanos podem fazer e, mais que isso, por meio do ensino
pode-se intervir no mundo em que se vive. As práticas abordadas por Freire assumem, neste
capítulo, um tom mais humano e mais sensível, acrescenta-se-lhes “o querer bem”. O livro
tem um ótimo final que resume muitas das questões abordadas neste. O conceito presente em
seu último subtítulo, “o querer bem aos educandos”, traz a ideia de que ao querê-los bem,
podemos proporcionar-lhes a melhor educação realizável. E essa, talvez, é a chave para se
alcançar a educação libertadora e chegar a uma sociedade autônoma.

É um livro difícil de resumir, por apresentar conceitos de forma clara e concisa.


Possuindo uma linguagem formal e ao mesmo tempo de fácil entendimento. Alguns erros de
editoração que esta edição resenhada traz, acrescido de algumas características da escrita de
Freire podem trazer desconforto à leitura, no entanto, nada que a comprometa. Como já dito
as ideias são transmitidas de maneira concisa, tornando o livro pequeno em quantidade de
páginas e grandioso em conteúdo. Essencial a todos que, de alguma maneira, estão ligados à
educação. O livro constrói seu discurso de maneira peculiar, fazendo retomada de conceitos já
ditos, e carregado de muitas repetições, que quando se chega ao último capítulo fica claro que
isso não é despropositado ou consequência de uma má escrita, contudo um método que faz
com que internalizemos os conceitos explanados, a ponto de terminar a leitura concordando,
quase que, integralmente com Freire, independente da posição social ou ideologias às quais se
crê.

Apesar de não ser um livro tão recente, e a sociedade ter mudado em alguns
aspectos, “Pedagogia da autonomia” continua sendo muito atual, e de imprescindível leitura
àqueles que anseiam por uma sociedade mais justa, igualitária, crítica, liberta e,
principalmente, autônoma.

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