Você está na página 1de 4

RESENHA

Autora: Karina Avelar da Silva, Graduanda em Serviço Social na Universidade


Federal Fluminense – UFF / Escola de Serviço Social – Niterói, RJ.

O PAPEL DA RSE NA INSTITUCIONALIZAÇÃO DA(O)


TRABALHADORA(O) NA RACIONALIDADE BURGUESA PARA GERAÇÃO
DE MAIS VALOR

MARTINS, Caio. Funcionalidade da Responsabilidade Social Empresarial ao


processo de reestruturação produtiva. In: V Encontro de Estudos organizados da
ANPAD – Belo Horizonte, 2008.

A obra que aqui comento é produto de uma pesquisa bibliográfica que visa
apresentar a Responsabilidade Social Empresarial (RSE) como uma estratégia do capital
a partir da reestruturação produtiva como parte da geração de mais valor e acumulação
de capital. Mediante esta colocação Martins irá refletir sobre a relação entre a
Reestruturação Produtiva e as práticas da RSE com base em três dimensões: a Reforma
Estatal, o toyotismo e a ofensiva ao trabalho.

Para dar suporte teórico utilizaremos como fonte secundária de análise as


reflexões de Harvey (1992) acerca das transformações político-econômicas do capital.
Como base o capítulo 9 de sua obra “Condição pós-Modera”, intitulado “Do Fordismo à
Acumulação Flexível”. Neste podemos colocar reflexões, que nortearam a análise da obra
de Martins sobre a RSE, em relação a reorganização da produção do capital que impactam
no trabalho, nos hábitos de consumo, na geografia, na geopolítica e nas práticas do
Estado.

Martins abordará em sua obra que o uso da RSE representa uma ferramenta de
competição e ganhos em rentabilidade por parte das empresas, estabelecendo uma relação
de colaboração entre capital e trabalho, tomada como homogênea. A essa relação irá
demonstrar, no tópico 2.1, como irá a RSE se adequar perfeitamente ao objetivo do
“toyotismo”. Harvey (1992) traz a reflexão os desdobramentos da flexibilização e
reestruturação do Estado, com novos padrões de gestão da força de trabalho, ao que
podemos elencar três elementos, o Círculo de Controle de Qualidade (CCQ), a Gestão
Participativa e a Qualidade Total. Sob este período histórico de transformações do capital,
irá colocar Martins, que em comum as três ferramentas está a “imprescindível
participação intelectual dos trabalhadores no processo produtivo” (2008, p.2), com isso,
toma-se a subjetividade da(o) trabalhadora(o) que sucumbi ao planejamento estratégico
das empresas com uma participação condicionada pelos processos de reprodução do
capital para geração de lucro.

Como podemos evidenciar há um atrofiamento das identificações de classe no


espaço produtivo e nas relações sociais, ao que muito se associam as condições de
trabalho e vínculos precarizados, as terceirizações e polivalência exigida pelos setores de
contratação, que dá organicidade a um desemprego estrutural e “subproletariado”,
fomentando a individualização e competitividade entre as(os) trabalhadoras(es).

Essa relação ao que aponta o autor, promove uma cooptação das(os)


trabalhadoras(es) que envolvem-se subjetivamente com as “causas” empresariais,
tomadas no cotidiano da produção como princípios da empresa. Utilizando-se como
instrumento e estratégia o Marketing Social.

As ações socialmente responsáveis das empresas tomam a subjetividade do


trabalhador, ao que coloca Martins (2008, p.3)

“A mistificação da sociedade civil sob o entendimento de uma


homogeneidade inexistente, ignorando as contradições de classe,
dentre outras, ou ingenuamente acreditando na possibilidade de
transcende-la através de um esforço conjunto orientado pela ética e
solidariedade, é o fundamento de seu entusiasmo. Consiste, pois em
uma visão desarticulada da totalidade social que pressupõe estar na
subjetividade individual a saída para a resolução dos problemas
sociais”

Essa relação corrobora, nesta via, para um apassivamento da classe trabalhadora


no que tange a reivindicações sindicais, greves, mobilizações. Perdendo o sentido, no
cotidiano do trabalho e da reprodução social, o embate entre trabalhadoras(es) e seus
contratantes, as “empresas-cidadãs”, visto que os interesses coorporativos lhes aparentam
uma imagem “possibilista” para a resolução dos problemas sociais.

Assim, vemos a tentativa de apagar as reais determinações sociais, econômicas e


políticas do indivíduo, através do desenvolvimento de lideranças, participação voluntária
das(os) trabalhadoras(es) em projetos sociais da empresa e o desenvolvimento da
autoestima. Com isso, há uma maior produção de mais valia e o autor retoma Harvey e
Montaño para fomentar como o processo de tomada da subjetividade individual,
ideologização de uma inexistência de classes e de despolitização dos movimentos sociais
em que as lutas indenitárias se sobrepõem a luta de classes e a substituição dos
movimentos sociais pelas ONG’s, conecta-se com o modelo de acumulação flexível com
grandes contribuições da RSE.

“A RSE tem, portanto, um importante papel a desempenhar no contexto


da “acumulação flexível”, tendendo a ser condicionada por questões
mercadológicas, e abrindo caminho par ao avanço ideológico do
capital e contribuindo, portanto, para a socialização dos trabalhadores
com seu movimento (do capital).”

MARTINS, 2008, p. 4

Por conseguinte, o autor coloca que a RSE apresentar-se-á como uma prática de
gestão das grandes empresas e constitutivos do Modo de Produção Capitalista, pois tem
Valor de Uso, ao satisfazer uma necessidade da empresa, Valor de Troca, passa a inserir-
se na lógica de mercado, resulta no dispêndio de Força de Trabalho com estímulo ao
trabalho voluntário, é uma fonte de lucro e consigo fetiche e reificação, humaniza a
mercadoria (marketing social) e coisifica as relações humanas.

No item 2.2, e 2.3 o autor trará como a RSE será uma estratégia do capital para
superação da crise. Essa relação vai se dando à medida que o Estado deixa de intervir na
Questão Social e assumem, de forma fragmentada, os projetos das Empresas Socialmente
Responsáveis, uma mercantilização de políticas e programas sociais, tornando-se uma
lucrativa mercadoria.

A esse movimento está associada a contrarreforma do Estado, a disseminação de


que o Estado não dá conta de gerir o que é público, fortalecimento das políticas
neoliberais e intervenções focalizadas e precarizada nas políticas, equipamentos e gestão.

A RSE, como forma de extrair mais valia, representa um dos instrumentos de


ofensiva do capital contra o trabalho. Com a contrarreforma do Estado as mudanças na
reprodução da classe trabalhadora, através do desmonte dos direitos e fomento a trabalho
voluntário, por exemplo, garantem a organicidade e fortalecimento da RSE.
Como considerações ao abordado no artigo o autor irá nos colocar uma reflexão,
a de que a RSE tem em suas práticas uma institucionalização e racionalização dos
instrumentos que fomentam a gestão do capital, o que rompe com a “tradicional
filantropia empresarial” e que a RSE tem clara funcionalidade ao projeto de
reestruturação produtiva do capital.

Cabe a reflexão para o fenômeno abordado que o impacto sobre a vida da classe
trabalhadora é significativo e demonstra como as formas de gerar mais lucro leva a custo
uma superexploração da(o) trabalhadora(or) a custo da subsunção de sua subjetividade
para valorização constante do capital, do apassivamento da luta de classes e transferência
das responsabilidades do Estado para a sociedade civil, tida como homogênea. Com isso
a reificação fetichização da (re)produção da vida e institucionalização da(o)
trabalhadora(or) na racionalidade burguesa.

REFERÊNCIAS

MARTINS, Caio. Funcionalidade da Responsabilidade Social Empresarial ao


processo de reestruturação produtiva. In: V Encontro de Estudos organizados da
ANPAD – Belo Horizonte, 2008.

HARVEY, David. A condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da


mudança cultural. São Paulo: Loyola, 1992.

Você também pode gostar