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CINEMA E TEATRO

Roteiro: modo de fazer


Gordeeff

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Todo mundo já deve ter ouvido frases do tipo
página
“aquele filme é muito bom, ganhou o Oscar de
melhor roteiro!” ou “que história chata... roteiro
pobre!...” Mas, afinal, qual é a importância de um
roteiro na construção de uma obra cinematográfica
ou de mídia digital? O que o faz ser bom ou ruim?
Para que serve?

Roteiro é um termo técnico muito utilizado no ramo


do cinema e televisão para o texto de algum filme,
programa, novela ou propaganda. Como o próprio
significado da palavra informa, é um “roteiro”, uma
rota de tudo que vai acontecer no filme, no programa, na novela ou no anúncio televisivo
– e não é apenas o texto falado. Como toda situação em que se precisa fazer algo,
primeiro é necessário organizar a ordem das tarefas; o roteiro é exatamente esse plano de
ação. E, como termo técnico, há pequenas “regras técnicas” para a confecção de um
roteiro, regras que precisam ser seguidas para que ele possa cumprir a sua função
objetiva: servir de “roteiro” para todos os participantes de uma produção – do ator ao
montador do filme. Deve conter informações essenciais como: onde ocorre a ação, qual é
o tipo de ambiente, quais personagens participam da ação, como eles se comportam – a
rubrica –, e quem fala o que pra quem – os diálogos. Mas isso é 10% do trabalho.

Fazer um roteiro requer criatividade, memória e trabalho, muito trabalho de escrever. O


domínio da língua – no caso, o português – auxilia muito o trabalho do roteirista e é
fundamental. Esse domínio não acontece sem uma relação estreita com o hábito da
leitura, dos diversos tipos de texto – desde anúncios classificados até grandes clássicos
da literatura. Não é algo que seja adquirido como complexo vitamínico, que se toma para
equilíbrio dos elementos sanguíneos, mas algo que se aprende com o tempo, meio sem
perceber – como o crescimento de uma planta.

Ter uma boa ideia é importante, mas não basta. Uma ideia pode dar origem a uma
história, mas há várias maneiras e formas de contar essa história; portanto, há vários
roteiros, caminhos possíveis de como ela pode ser contada. E é necessário saber
transformar a idéia em história. Não basta saber construir a história. É necessário torná-la
interessante, agradável, estética e emocionalmente atrativa. Mas, para isso, não há
“roteiro” ou receita de bolo, já que cada ideia pode dar origem a vários roteiros, que
serão construídos de diversas formas, dependendo da intenção de quem escreve e de sua
bagagem de vida – experiências vividas ou aprendidas. São as vivências pessoais o
material usado inconscientemente pela criatividade na construção das histórias.

Como conhecimento não ocupa espaço – não importando de que tipo seja –, essas
informações vão sendo acumuladas e arquivadas em nossa mente e, quando precisamos,
são instantaneamente acionadas pelo cérebro na elaboração de um personagem, fazendo
conexões com o padeiro da esquina, algum vizinho de infância e o gato da Alice no País
das Maravilhas.

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É lógico que insights acontecem e, às vezes, boas ideias caem do céu, mas isso não é
frequente. E há o agravante de que elas podem ser facilmente desperdiçadas se não
sabemos como transformá-las em histórias interessantes, isto é, se não temos o
conhecimento de como desenvolvê-las e colocá-las em palavras que façam algum sentido,
não só pra quem escreve mas principalmente para os outros – o objetivo do roteiro é
guiar uma produção que é feita para ser vista pelos outros.
A narrativa clássica é dividida em três atos: a apresentação de uma situação, a
problemática e o desfecho com a solução da questão. O ponto crucial para a existência de
um roteiro, então, é que ele deve ter um eixo central, uma trama central, um conflito,
enfim, algo que detone o interesse pela história. Isso é muito mais importante do que ter
uma “história original”, até porque isso não existe (com mais de 100 anos de cinema, com
tantos países, culturas, televisão, internet... todas as histórias já foram contadas). Mas,
assim como acontece na literatura, há sempre uma maneira, uma forma diferente de
contar um fato ou de apresentar um sentimento. Quantos filmes não falam de amor, não é
verdade? Mas Brilho eterno de uma mente sem lembrança (2003, direção de Michel
Gondry e roteiro de Charlie Kaufman) trata desse clichê hollywoodiano de uma forma tão
diferente, usando cenas que são metáforas visuais dos estados emocionais dos
personagens, apresentando a história de forma não linear, não cronológica, que torna o
filme e sua história únicos – não é uma narrativa clássica. Mas essa questão de
originalidade de roteiro é bem forte na área artística.

Quando o roteiro é criado para a apresentação de um projeto, de uma explicação, isso não
é tão valorizado, e a objetividade é o mais importante. É necessário organizar as ideias e
apresentá-las para que sejam entendidas por alguém que nunca as viu. É muito comum
ver apresentações confusas, que começam pelo que deveria ser o final e que, quando
terminam, fica-se sem entender exatamente sobre o que era. Isso acontece porque essas
apresentações são resultado de roteiros que partiram da premissa de que seu público já
possui algum nível de conhecimento a respeito do assunto que ele aborda – o que pode
passar despercebido pelo roteirista. Pra quem assiste, é como entrar no meio da sessão de
cinema: não se consegue entender o filme!

Mas há outras dificuldades que são gerais na construção de qualquer tipo de roteiro. Ele
deve conter todas as informações importantes da história, para que todos os participantes
da produção tenham conhecimento delas – seja lá que tipo de roteiro for, já que
normalmente o profissional que escreve não é o mesmo que as traduz em imagens. Não
há como saber o que o roteirista imagina se ele não informar isso no roteiro.

Outra dificuldade é que todo roteiro é um novo trabalho. Fazer um roteiro é contar uma
história, é como fazer uma redação. A dificuldade de iniciar um roteiro é a mesma que se
tem quando criança ao se deparar com a folha de papel para escrever uma redação.

E será sempre uma nova dificuldade já que será um novo roteiro. O que se ganha a cada
trabalho é a experiência de escrever, e nada mais.

O roteiro, como o livro, trabalha com as palavras: seu material de construção são as
palavras. Mas, diferentemente do livro, quando se termina de escrever um roteiro, o
trabalho não está pronto, já que o objetivo do roteiro é ser outro objeto, audiovisual; é
necessário transformar as palavras em imagens. O roteiro deve ser construído visando
essa abertura e, se possível, indicar como isso pode ser feito. Essa é exatamente a
dificuldade da adaptação de um livro de sucesso para as telas de cinema. O livro já é algo
fechado, com a linguagem própria do meio – e que funciona. Partir desse texto e
representá-lo em imagens, tentando produzir o mesmo impacto que o da obra literária, é
na realidade um trabalho mais árduo do que um roteiro iniciado sem referencial anterior.
São duas linguagens diferentes: as palavras e as imagens. A sensibilização do público é
obtida por vias diferentes, por canais diferentes. Quando é necessário o transporte do
conteúdo de um meio para o outro, na realidade é preciso fazer uma “adaptação” do
conteúdo literário para o meio audiovisual, respeitando as suas características, e
usando-as de forma a valorizar o imaginário que as palavras do livro despertam no leitor.
A eficácia do filme, enquanto obra audiovisual, é independente e diferente do livro; e

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somente através da sua própria linguagem é que será bem-sucedida.

Aliás, trabalhar com roteiro é um caminho muito interessante para estimular a


criatividade, a percepção da necessidade de organização das ideias e o prazer de escrever.
Partir de um filme para obter um roteiro ou partir da leitura de um roteiro pronto para
depois assistir ao filme induz ao desenvolvimento da sensibilidade, do senso de
observação e do entendimento de como podem ser construídas as mensagens,
favorecendo o surgimento de outras ideias.

Escrever um roteiro pode parecer ser algo fácil (ou difícil) de fazer. Há quem considere
um tipo aborrecido de trabalho. Mas o fato é que um “roteiro” é algo único.

E, como disse Alfred Hitchcock: “Se o filme for bom, o som pode sumir que o público
ainda teria uma idéia perfeitamente clara do que está acontecendo". A imensa produção
de filmes mudos e de curtas de animação (sem diálogo) de alta qualidade confirmam a
observação do diretor.

Leia também A Onda.

Alguns filmes que valem a pena serem vistos:

O encouraçado Potemkin, de Sergei Eisenstein, de 1925.


O vampiro de Düsseldorf, de Fritz Lang, de 1931*.
Tempos modernos, de Charles Chaplin, de 1936*.
Festim diabólico, de Alfred Hitchcock, de 1948.
Cabra marcado para morrer, de Eduardo Coutinho, produzido de 1964-1984.
Ran, de Akira Kurosawa, de 1985.
Ilha das Flores, de Jorge Furtado, Ana Luiza Azevedo e Giba Assis Brasil, de 1989
(curta-metragem)*.
Lanternas vermelhas, de Zhang Yimou, de 1991.
Seven, os sete crimes capitais, de David Fincher, de 1995.
Nove rainhas, de Fabián Bielinsky, 2000.
Amores brutos, de Alejandro González Iñárritu, de 2000.
Os incríveis, de Brad Bird, de 2004*.
T.R.A.N.S.I.T., de Piet Kroon, de 1997 (curta-metragem).
Ring of Fire, de Andreas Hykade, de 2000 (curta-metragem).

Estes dois últimos estão reunidos no DVD Melhores do Anima Mundi (vol. 2).

Você pode encontrar esses filmes em boas locadoras. Os filmes indicados com asterisco
(*) são especialmente interessantes para trabalho em sala de aula, pois abrem caminho
para diversas discussões.

Sites interessantes sobre audiovisual e educação:

http://www.mnemocine.com.br/audiovisual.asp?id_secao=5&id_sub=1
http://www.educador.brasilescola.com/gestao-educacional/linguagem.htm
http://www.escolanocinema.com.br/categorias.asp?cod_serie=30&cod_materia=42
http://www.telabr.com.br/em-sala-de-aula
http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=454
http://vivenciapedagogica.com.br/filmes_na_escola

Sites interessantes sobre roteiros:

http://www.roteirodecinema.com.br
http://www.webwritersbrasil.com.br

Assista a Ilha das Flores na internet:

http://www.portacurtas.com.br/Filme.asp?Cod=647

Publicado em 02/02/2010

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