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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

O CINEMA NA PRÁTICA PEDAGÓGICA:


PROJETO CINE MODELO REALIZADO NO COLÉGIO MODELO LUIZ EDUARDO
MAGALHÃES

JUAZEIRO – BA
2008
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ANTONIO JORGE CERQUEIRA SACRAMENTO

O CINEMA NA PRÁTICA PEDAGÓGICA:


PROJETO CINE MODELO REALIZADO NO COLÉGIO MODELO LUIZ EDUARDO
MAGALHÃES

Relatório de Pesquisa apresentado como pré-


requisito de conclusão do curso de Pedagogia,
Núcleo de Educação e Comunicação da
Universidade do Estado da Bahia, tendo como
orientadora a Profª. Dra. Giovanna De Marco.

JUAZEIRO
2008
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SUMÁRIO

1. Apresentação............................................................................................................ ...1
2.Campo Problemático................................................................................................ ...2
3. Processo de pesquisa................................................................................................ ...5
4. O cinema na prática pedagógica.............................................................................. ...7
4.1.O cinema na escola e seus efeitos ...................................................................... ...12
5. Considerações finais................................................................................................ ...15
6. Referências Bibliográficas....................................................................................... ...17
7. Anexos
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RESUMO

Nos últimos anos, a educação diante da evolução tecnológica vem enfrentando


diversos dilemas em torno das possibilidades de práticas metodológicas ao inserir as “novas”
tecnologias presentes na contemporânea era virtual no ensino.
Porém, é preciso avaliar o modo como são utilizadas as mídias que circulam no
ambiente escolar como: a televisão, o rádio, o jornal, a fotografia, em particular, o cinema
enquanto veículos para os conteúdos didáticos.
Com este olhar voltado para a “invasão” tecnológica nas práticas pedagógicas, é que
se propõe pesquisar o cinema na escola, procurando investigar se está sendo utilizado e como
isso acontece e se estão sendo desenvolvidos métodos didáticos e multidisciplinares no uso de
obras cinematográficas.
Esta pesquisa foi desenvolvida no município de Juazeiro, localizado na região Norte
da Bahia, sendo o campo empírico de pesquisa o Projeto Cine Modelo realizado no Colégio
Modelo Luis Eduardo Magalhães – CMLEM.
Pesquisamos a relação do cinema com a prática pedagógica, partindo do olhar dos três
segmentos: discentes, docentes e coordenação por meio de entrevistas. Alcançando o
entendimento que devemos superar a falta de preparo para lidar com a linguagem audiovisual,
buscando uma qualificação para operar as novas mídias tecnológicas.

Palavras-chave: cinema, educação, novas tecnologias, prática pedagógica


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1. Apresentação

A escola está sendo pensada, assim,


como espaço meditativo
cada vez mais cruzado pelas novas linguagens
e pelas transformações científicas, tecnológicas, culturais
e de comportamentos que marcam
o mundo contemporâneo.
Adilson Citelli

Ao observar a escola enquanto espaço favorável a uma compreensão crítica das formas
culturais e dos processos de comunicação. Percebendo a múltipla capacidade de vinculação
cultural, informacional e educacional por meio das imagens é que surgiu o desejo por estudar
o cinema na prática pedagógica. Buscou-se compreender qual a articulação existente entre as
práticas pedagógicas e o cinema, com o registro de imagens e som configurando-se como
mídia em comunicação e cultura, que atualmente circula o ambiente escolar.
O cinema na prática pedagógica: Projeto Cine Modelo realizado no Colégio Modelo
Luiz Eduardo Magalhães – CMLEM- é um relatório de pesquisa que aborda os dilemas
enfrentados pelos docentes para articular educação e novas tecnologias, mais especificamente
o cinema, tendo em vista que este faz parte dos novos parâmetros para educação do século
XXI.
Encontrar-se-á neste relatório a descrição do campo de pesquisa e do projeto Cine
Modelo: Cinema para ler e reler o mundo, trazendo o relato sistemático dos percalços
encontrados no processo de investigação.
Pesquisamos a relação do cinema com a prática pedagógica, partindo do olhar dos três
segmentos: discentes, docentes e coordenação, envolvidos no processo de ensino-
aprendizagem com obras cinematográficas, que buscou uma interdisciplinaridade, reforçada
pela presença de convidados, que discutiam os temas relacionados aos filmes exibidos. Em
sua parte final serão apresentados os efeitos de um projeto que trabalha com cinema na escola
e algumas considerações sobre como nós educadores do século XXI, poderemos desenvolver
atividades envolvendo os recursos digitais e audiovisuais que vem transformando a educação.
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2. Campo Problemático

No século XXI há uma grande densidade de conhecimento em todas as áreas,


envolvendo principalmente a educação escolar. Daqui há uns dez ou quinze anos os alunos
formados estarão migrando para o espaço profissional. Problematiza-se, então, que tipo de
conhecimento eles necessitarão para acompanhar o processo de mudança da sociedade. Com
isso, a educação enfrenta dilemas consideráveis frente à nova articulação existente entre
educação, tecnologia e comunicação. O educador de sua parte, infelizmente, ainda encontra
dificuldades em desenvolver o trabalho pedagógico que busca integrar o audiovisual, a
hipermídia e a narrativa do cinema e da TV.
As novas tecnologias da informação e comunicação (TIC), como os computadores, a
Internet, entre outras mídias digitais, são ferramentas de predominância audiovisual.
Atualmente, a escola, enquanto ambiente educacional de ensino, vem se apropriando,
facilitando e disponibilizando condições favoráveis para o desenvolvimento do trabalho
pedagógico com o cinema na sala de aula. Entretanto, vale lembrar que o cinema não tem
nada de novo e o que se configura realmente enquanto novidade é a condição da educação
estar atualmente fazendo uso sistemático destes recursos audiovisuais dentro do trabalho
pedagógico. Nesse sentido, Duarte (2002, p.87) afirma que o crescimento vertiginoso das
tecnologias da informação nas últimas duas décadas acentuou o interesse pelos meios de
comunicação e trouxe a televisão, o vídeocassete e os computadores para dentro da prática
pedagógica.
Nos últimos anos, observa-se, que a educação diante da evolução tecnológica, vem
enfrentando diversos dilemas em torno das possibilidades de práticas metodológicas ao
inserir as “novas” tecnologias presentes na contemporânea era virtual no ensino. Dilemas
que a didática, como teoria e prática do processo de ensino-aprendizagem, precisa responder
com estudos e pesquisas enfocando o uso da tecnologia na prática pedagógica. Ao trazer
para dentro do ambiente escolar essas novas tecnologias, que pretendem motivar o processo
de ensino-aprendizagem, elas estarão efetivamente propiciando oportunidades de
criatividade e inovação, que se acreditam potencializadas a partir do uso criterioso dos
recursos digitais?
Parte-se da simples condição de que as tecnologias influenciam na melhoria da
qualidade do processo de ensino-aprendizagem, em particular aquelas que expressam seu
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conteúdo por meio da imagem. Porém, é preciso avaliar o modo como são utilizadas as mídias
que circulam no ambiente escolar como: a televisão, o rádio, o jornal, a fotografia, em
particular, o cinema enquanto veículos para os conteúdos didáticos.
Com este olhar voltado para a “invasão” tecnológica nas práticas pedagógicas, é que
esta pesquisa se propõe estudar o cinema na escola, procurando investigar se está sendo
utilizado e como isso acontece e se estão sendo desenvolvidos métodos didáticos e
interdisciplinares no uso de obras cinematográficas. Buscar-se-à compreender que relações
estão sendo estabelecidas entre a didática e as produções cinematográficas dentro do ambiente
escolar. Como a mídia cinema pode ser trabalhada nos múltiplos campos do conhecimento
dentro da escola, visando compreender a relação de múltiplas obras, que circulam em um
espaço informativo e educacional, enquanto vetor de possibilidades didáticas e
multidisciplinares.
Tendo por objetivo discutir cinema enquanto componente curricular, como conteúdo
conectado nos quatro cantos da sala de aula e mergulhando para além dela, busca-se encontrar
novas possibilidades de ver, perceber e fazer a leitura do mundo fora do ambiente escolar.
Vivemos atualmente numa sociedade que diariamente é bombardeada por meios de
comunicação, que se armam com imagens visando atingir o espectador. Essas imagens
desenham e expressam valores, que conseqüentemente implicam em conceitos ideológicos,
sociológicos ou econômicos. Portanto, conhecer essas imagens implica em compreender as
múltiplas possibilidades de reflexão e visão crítica de tudo aquilo que vemos e ouvimos. É
preciso pesquisar as novas práticas, que vêm sendo implementadas nas escolas, para entender
como a educação do olhar vem se processando no sentido de conseguir-se interpretar
criticamente as mensagens produzidas pelo cinema, de aprender-se a linguagem audiovisual.
Pierre Bourdieu compartilha esse pensamento ao afirmar que:

(...) a experiência das pessoas com o cinema contribui para desenvolver o que se pode
chamar de “competência para ver”, isto é, uma certa disposição valorizada
socialmente, para analisar, compreender e apreciar qualquer história contada em
linguagem cinematográfica. Entretanto, o autor assinala que essa “competência” não é
adquirida apenas vendo filmes; a atmosfera cultural em que as pessoas estão imersas –
que inclui, além da experiência escolar, o grau de afinidade que elas mantêm com as
artes e a mídia – é o que lhes permite desenvolver determinadas maneiras de lidar com
os produtos culturais, incluindo o cinema. (apud Duarte, 2002, p.13)

Cabe, então, à escola como espaço educacional público ou privado, que tem por
primordial função ministrar ensino coletivo conectado a competências metodológicas, propor
uma capacitação em “educação cinematográfica”. Poderá propiciar, assim, à comunidade
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escolar novas formas de leitura de mundo, de sociabilidade, de valores morais e espirituais;


abordagens essas promovidas pelo cinema.

3. Processo de Pesquisa

Esta pesquisa foi desenvolvida no município de Juazeiro, localizado na região Norte


da Bahia, que tem cerca de 230.538 habitantes e uma área territorial de 6.390 km2 , segundo
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estando esta população
concentrada territorialmente na zona urbana.
O campo de pesquisa, em um primeiro momento, seria a escola Edvaldo Boaventura,
localizada no bairro do Cajueiro. A escolha inicial por este campo de pesquisa, surgiu do
entendimento de que este centro educacional trabalhava com a formação de professores, que
atuariam nas áreas de educação básica das redes de ensino público ou particular na região de
Juazeiro. Portanto, esperava-se que essa escola apresentasse em sua grade curricular ou até
mesmo dentro de seu projeto político pedagógico uma proposta de educação, que incluísse as
mídias ou até mesmo um projeto envolvendo a manipulação de recursos audiovisuais como
TV, cinema, Internet, entre outros. Porém, este campo foi descartado, porque se constatou
após visita, que esta escola não desenvolvia nenhum projeto educacional, próprio ao
desenvolvimento da pesquisa. Posteriormente, em uma conversa com a orientadora desta
pesquisa, tomou-se conhecimento que no Colégio Modelo Luis Eduardo Magalhães –
CMLEM -, localizado no bairro Alto da Maravilha, Juazeiro/Bahia, era desenvolvido o
projeto chamado Cine Modelo, que poderia constituir-se como campo empírico de pesquisa.
Partindo dessa informação entrou-se em contato com a coordenadora Pedagógica do
CMLEM, através de uma visita informal ao colégio. Nesse dia estava sendo apresentado um
projeto, que em linhas gerais tinha uma proposta de trabalho com música clássica e popular, o
que indicava que a escola tinha uma proposta pedagógica diferenciada das demais instituições
educacionais da região. Então, aguardei o término da apresentação do projeto para a
comunidade escolar e entrei em contato com a coordenadora. Nos encaminhamos a um
ambiente mais reservado para conversarmos sobre o desenvolvimento do projeto de cinema
executado pela escola nos anos de 2005 e 2006, conforme informou. Houve, então, a
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confirmação da escola trabalhar com a linguagem fílmica, definindo-se, desse modo, como
campo desta pesquisa.
Este projeto de pesquisa foi desenvolvido durante a segunda quinzena do mês de
março até a terceira semana do mês de junho, atendendo aos prazos definidos pela
coordenação de Trabalho de Conclusão de Curso.
Ao longo do percurso para elaboração desta pesquisa, surgiram algumas dificuldades,
como por exemplo, diversos contatos com um dos idealizadores do projeto, professor Paulo
Henrique, e não realização de entrevista com ele, devido aos desencontros durante o processo
de estudo para composição deste relatório. Uma outra dificuldade encontrada para fazer esse
levantamento esteve presente no contato com os estudantes, pois todos haviam concluído os
estudos, tendo em vista que o projeto Cine Modelo foi realizado com os alunos dos terceiros
anos do ensino médio.
É preciso ainda assinalar um último percalço enfrentado para fazer este trabalho, que
se refere à própria organização do curso de pedagogia, ou seja, um prazo de tempo curto para
finalização da pesquisa e, paralelamente, cursar as disciplinas e estágio durante o semestre
letivo.
Utilizou-se como método de pesquisa o estudo de caso do projeto Cine Modelo:
Cinema para ler e reler o mundo que foi criado, planejado, executado e avaliado no
CMLEM, Juazeiro – Bahia. Para levantar o material empírico utilizou-se um roteiro de
entrevista de caráter exploratório, triangulando informações com perguntas voltadas para os
três segmentos: docentes, discentes e coordenação pedagógica.
Boa parte do material utilizado para análise do projeto foi obtido junto à
coordenadora: CD-ROM (contendo imagens dos encontros semestrais no auditório e a relação
dos filmes projetados no Cine Modelo); o texto do projeto desenvolvido na escola; uma
revista A escola vai ao Cinema, produzida pelo SESC 2006. Elementos estes que deram
suporte para elaboração do projeto Cinema para ler e reler o mundo.
Uma revisão bibliográfica deu suporte para desenvolver-se a problemática proposta e a
análise do material obtido no decorrer da pesquisa.
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4. O Cinema na prática pedagógica

Sabemos que a relação entre a recepção e a mensagem audiovisual, depende


diretamente de valores individuais, da cultura, da própria história de vida, das experiências
adquiridas e das leituras dos alunos/espectadores diante das produções filmicas. Ressalta-se a
importância de se apresentar múltiplas imagens na prática pedagógica, proporcionando aos
alunos um ambiente distinto da sala de aula. Entendendo que essa dinâmica pode influenciar
diretamente no gosto e hábito do jovem freqüentar o cinema, Duarte (2002, p. 14) afirma que:

(...) ir ao cinema, gostar de determinadas cinematografias, desenvolve


os recursos necessários para apreciar os mais diferentes tipos de filmes
etc., longe de ser apenas uma escolha de caráter exclusivamente
pessoal, constitui uma prática social importante que atua na formação
geral das pessoas e contribui para distingui-las socialmente. Em
sociedades audiovisuais como a nossa, o domínio dessa linguagem é
requisito fundamental para se transitar bem pelos mais diferentes
campos sociais.

Pensando na possibilidade de efetivação da articulação entre o cinema e a educação foi


criado o projeto Cine Modelo: Cinema para ler e reler o mundo. Este projeto traz em sua
composição elementos significativos para o processo educativo e para reforçar a importância
do cinema apresenta, em sua epígrafe, a seguinte afirmação de Fresquet (2005, p.56): não
estamos apenas apreendendo informações, e sim agitando sentimentos, ativando a
curiosidade e, quem sabe, até mobilizando novas buscas e significação para a própria vida.
Em sua justificativa afirma o surgimento da necessidade de se ler e reler o mundo a partir das
diversas linguagens possibilitadas pelo cinema, ampliando o acesso à cultura e favorecendo
reflexões acerca de questões filosóficas, históricas e sociais. Nesse mesmo sentido Duarte
(2002, p. 17) enfatiza que ver filmes, é uma prática social tão importante, do ponto de vista
da formação cultural e educacional das pessoas, quanto a leitura das obras literárias,
filosóficas, sociológicas e tantas mais.
O citado projeto apresenta três tópicos referentes às competências e habilidades a
serem desenvolvidas na sua execução, a saber: capacidade de analisar os recursos expressivos
das diversas linguagens, relacionando textos/contextos; confrontar opiniões e pontos de vista
sobre as diferentes manifestações da linguagem e articular as redes de diferenças e
semelhanças entre as linguagens e seus códigos sociais, contextuais e lingüísticos. Em linhas
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gerais ele objetiva despertar o interesse pela arte cinematográfica, ressaltando sua importância
como veículo de comunicação e expressão da sensibilidade humana.
No que diz respeito aos objetivos específicos, o projeto propõe discutir os filmes
exibidos, ampliando o conhecimento das relações humanas, históricas e sociais e promover
reflexões a partir do cinema e de suas diversas possibilidades educativas. O procedimento
metodológico adotado foi uma exibição mensal de filmes e um debate promovido por
professores da instituição e convidados.
O projeto tem uma proposta interdisciplinar de trabalho, estabelecida, inicialmente,
para envolver todas as disciplinas da instituição, como relata a coordenadora pedagógica do
colégio, Ivete Macedo, ao dizer:
A proposta do projeto (...) seria com todos os professores, então a gente
escalou um cronograma. A partir de mês tal, a seção de cinema seria na
segunda-feira, no outro mês seria na quarta-feira. Justamente para não ficar
comprometendo as mesmas disciplinas, durante os mesmos dias e também
essa era uma forma de estar envolvendo todos os professores.

Em entrevista com a professora de história, Márcia Galvão, que também foi uma das
docentes envolvidas diretamente com a execução do projeto Cine Modelo, ela conta como
essa proposta foi idealizada:

Na realidade o projeto foi pensado pelo professor Paulo Henrique. A


idéia era de um projeto interdisciplinar, usando a linguagem filmica.
Com a intenção de trazer não só uma nova forma de leitura da
linguagem filmica. (...) E a partir dessa idéia, diante dessa nova posse
de linguagem, a gente tem feito um trabalho interdisciplinar, onde a
gente pudesse escolher filmes que estivessem, de uma forma ou de
outra, relacionados ao conteúdo de sala de aula. Entendendo a questão
da ligação com a sala de aula de uma forma mais objetiva.

Com relação à proposta de interdisciplinaridade alguns problemas de ordem


organizacional foram detectados, como relatado pela professora de história:

A questão da interdisciplinaridade em alguns momentos, ela se perdeu, porque a


escola é muito grande e com muitos professores e nem todos os professores tem essa
preparação. Acho que uma das grandes dificuldades, que a gente tem para executar e
para planejar, é o conhecimento da importância da linguagem filmica, hoje como
instrumento de trabalho pedagógico. Deve ser feito um trabalho grande até para
sensibilizar e para fazer uma leitura além da imagem em movimento, da proposta de
cinema enquanto técnica pedagógica. È ai que a gente encontra essa dificuldade.
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Esses problemas enfrentados, ao introduzir o cinema no processo educacional, não são


comuns apenas ao projeto Cine Modelo, como afirma Duarte (2002, p. 87)

(...) o cinema ainda não é visto pelos meios educacionais como fonte de
conhecimento. Sabemos que a arte é conhecimento, mas temos dificuldade em
reconhecer o cinema como arte (com uma produção de qualidade variável, como todas
as demais formas de arte), pois estamos impregnados da idéia de que cinema é
diversão e entretenimento, principalmente se comparado a artes “mais nobres”.
Imersos em numa cultura que vê a produção audiovisual como espetáculo de diversão,
a maioria de nós, professores, faz uso dos filmes apenas como recurso didático de
segunda ordem, ou seja, para “ilustrar”, de forma lúdica e atraente, o saber que
acreditamos estar contido em fontes mais confiáveis.

Pensando em contextualizar toda essa proposta pedagógica de trabalho dentro do


ambiente escolar, foi definida estrategicamente uma lista de filmes para serem exibidos,
sempre com apoio de um palestrante, que debatia junto com os professores e alunos os temas
transversais dos filmes exibidos.
Os filmes trabalhados buscaram contemplar os temas transversais pertinentes às várias
disciplinas do colégio conforme a professora de história Márcia comenta: “os filmes eram
escolhidos, os professores sugeriam, era aberta uma lista. Todos os professores opinaram.
Mas a gente percebeu que a área de história acabou, assim, dominando mais, até por conta da
própria demanda que existe hoje”.
Durante a execução do projeto foram trabalhados os seguintes filmes:
O Jardineiro Fiel (Fernando Meirelles); Hotel Rwanda (Terry George); A Ilha (Michael Bay);
O senhor das Armas (Andrew Niccol); Abril Despedaçado(Walter Salles); A língua das
Mariposas (José Luis Cuerda); Mar Adentro (Alejandro Amenábar); Lavoura Arcaica (Luiz
Fernando Carvalho); Desmundo (Alain Fresnot); A Queda(Oliver Hirschbiegel); O clube do
Imperador (Michael Hoffman); O Pianista (Roman Polanski); O bicho de sete cabeças (Laís
Bodanzky); Diário de motocicleta (Walter Salles); Menina de ouro (Clint Eastwood); Olga
(Jayme Monjardim); Narradores de Javé (Eliane Caffé); Tróia (Wolfgang Petersen).
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A cada seção de projeção do filmes eram convidados palestrantes e especialistas


para o debate com os alunos no auditório da escola como afirma a professora Márcia
Galvão:

Bom, ai então a gente partiu para a questão da praticidade, convidávamos os


palestrantes que estivessem relacionados ao tema discutido. Nós trabalhamos com
aquele filme o Senhor das Armas. Trouxemos uma pessoa que era da Policia
Rodoviária para falar sobre a questão do uso das armas, qual é o papel da policia na
questão do desarmamento e também sobre o direito de se usar uma arma. Quando a
gente trabalhou com o filme Bicho de Sete Cabeças, trabalhamos com depoimentos
de viciados, sempre com uma leitura mais ampla a respeito e mais profunda. Nós
trabalhamos também com o filme Diário de Motocicleta, que foi muito
interessante, eles gostaram bastante. Neste filme quem fez a exposição foi eu, para
falar sobre a questão da própria história de vida de Ernesto Che Guevara e os
objetivos da questão revolucionária (...) Assim, foram vários filmes exibidos e a
gente sempre buscando trazer palestrantes para falar sobre o tema proposto pelo
filme.

Dentre os parâmetros de avaliação do projeto estava previsto esse debate com a


participação de convidados, professores e alunos após a exibição dos filmes , como também
uma ficha de acompanhamento apresentada como um roteiro de análise. Essa ficha
continha cinco questões básicas para a compreensão da proposta do filme, a saber:1.Quem
é o diretor? Quais as suas intenções? Há uma idéia ou valores sendo transmitidos pelo
filme?; 2.O que as imagens, os diálogos, o som e o filme como um todo quer nos
mostrar?;3.Como uma imagem reforça ou modifica o sentido de um diálogo?; 4.Que
julgamento você faz do filme? Que elementos justificariam os seus argumentos (imagens,
atores, enredo, ritmo...); 5.É possível associar o conteúdo do filme a outras obras (vistas,
lidas), apontando semelhanças? Comente.
Com relação a essa ficha avaliativa a professora de história trouxe a seguinte
observação: “inicialmente a gente preparou instrumentos para que eles vivessem em sala de
aula, e redigissem o que entenderam em vinte minutos. Depois a gente percebeu que era até
desnecessário isso, e que no momento do próprio debate a gente conseguia ter esse retorno
dos meninos”.
Em sua parte final o texto do projeto Cine Modelo: Cinema para ler e reler o
mundo apresenta quatro tópicos objetivando responder como este pode trazer resultados
significativos para a aprendizagem, com alguns questionamentos: que contribuições o
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projeto traz na formação do aluno?; que possibilidades de ler e reler o mundo se abrem a
partir do projeto?; como o projeto contribui na formação do leitor? e de que forma a leitura
está presente no projeto?
Após dois anos de realização o projeto foi suspenso em decorrência das dificuldades
encontradas no processo de execução. De acordo com a coordenadora pedagógica:

Uma das maiores dificuldades é o envolvimento do projeto na escola, porque o


projeto acaba ficando como obrigatório. E por conta disso eu acho que o projeto
não está acontecendo, porque o professor que encabeçava o projeto está saindo da
escola. (...) Algumas pessoas, às vezes, até tentam de alguma forma resgatar, mas ai
parece que nesse resgate até acaba matando um pouquinho do que já existe (...) Ai
a gente fica um pouco meio sem coragem de começar de novo. Mas foi mesmo por
conta do envolvimento dos professores, porque no tempo do Cine Modelo parecia
que era folga dos professores. Então, quem ficava na escola era o professor que
estava encabeçando o projeto e eu. E ai no turno oposto a colega [coordenadora]
(...) e um ou dois professores também ficavam. Aí parecia um projeto feito isolado,
um projeto de fulano e de beltrano. Assim... Agora era muito bom, porque a gente
sentia assim... que o aluno não deixava de vir para escola, porque era dia de
cinema.(...) A maior dificuldade era que os filmes quem locava era a gente, quem
pagava era a gente, a escola ela não oferecia esse recurso. (...) Aí a gente tinha que
correr atrás de convidados, tinha que entrar em contato.Uma coisa que a gente fazia
assim meio que sozinhos, faltou um pouco do apoio da escola. Agora, depois que o
projeto ganhou [um prêmio], aí todo mundo queria estar junto. Até hoje o povo fala
vamos reativar o projeto Cine Modelo”.

4.1 Cinema na escola e os seus efeitos

Toda essa proposta de trabalho envolvendo a linguagem filmica executada dentro da


escola trouxe, de algum modo, possibilidades de envolvimento entre os alunos/espectadores
e o cinema como um outro modo de expressão daquilo que ocorre no mundo, constituindo
um certo vínculo entre os filmes no ambiente escolar e as questões que, de uma certa forma,
transcendiam o filme e se efetivavam a partir do olhar individual daquele que o assistia.
Duas ex-alunas do colégio Modelo em entrevista falam sobre os filmes que
gostaram de assistir: Olga, Diário de Motocicleta, O Pianista, A Queda e Menina de Ouro -
sendo este último filme da preferência de uma das alunas, que afirmou ter deixado
lembranças significativas. Expressou-se do seguinte modo sobre o filme:
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Ah! O contexto e principalmente do filme Menina de Ouro, porque ela era uma
menina assim, que estava lutando pelos seus ideais e quando no final teve um
problema de saúde e ficou muito complicado pra ela conseguir alcançar seus
objetivos. Mais ai ela sempre estava lutando. Esse filme destaca a eutanásia. Ai a
família dela teve que, lá no hospital quando ela esteve doente, mandar os médicos
desligar os aparelhos e foi um abalo assim, mais foi ótimo esse filme.

Esta afirmação nos ajuda a compreender como se desenvolvem as relações dos


indivíduos com as imagens provenientes da linguagem filmica, pois como afirma Duarte
(2002, p.19):
Parece ser desse modo que determinadas experiências culturais, associadas a uma
certa maneira de ver filmes, acabam interagindo na produção de saberes,
identidades, crenças e visões de mundo de um grande contingente de atores sociais.
Esse é o maior interesse que o cinema tem para o campo educacional – sua
natureza eminentemente pedagógica.

As alunas apresentam nas entrevistas os efeitos do projeto no trabalho pedagógico


em um caráter avaliativo: “Excelente, pois ao término de cada filme os professores
socializavam, cada aluno opinava e construía novos conceitos juntamente com os
professores, relacionando os acontecimentos dos filmes com fatos contidos nos conteúdos
da sala de aula.” Um outro olhar é apresentado pela outra aluna, que atualmente é
estudante do curso de Pedagogia da UNEB:

Os efeitos foram 70 % positivo para eles, por ter elaborado esse projeto, que era
muito interessante e contribuía para o conhecimento dos alunos. E 30 % negativo,
porque a gente não estava tão integrada. Não disseram: ah! Vamos convocar os
alunos para elaborar isso, até para elaborar o nome do projeto do programa. Sei lá
enfim!

Ao perguntar para as estudantes qual a importância do trabalho com cinema no


ensino do 3º ano do ensino médio, uma delas comentou que: “Contribui para maior
compreensão dos assuntos estudados na sala, pois a percepção e o conteúdo torna-se mais
visível. Expandindo, assim, a criticidade e maior domínio em questões cobradas no
vestibular.” Enquanto a outra afirmou que:

É ótimo, porque ajuda a gente bastante. Até facilita mais, porque você pega um
livro para ler (...) Exemplo, quando eles colocavam filmes literários, ali a gente
captava mais rápido a mensagem e o contexto do filme, do que você ler um livro.
Por exemplo, o Cortiço, que é um livro imenso, e ai você tem que ler ele todinho.
Não ... passou o filme pronto, ele captou o layout. E que a pessoa até compreende
melhor vendo as imagens.
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Com relação aos filmes trabalhados no projeto e a sua contribuição para a formação
social das alunas entrevistadas, elas afirmaram que:
“Ah! Contribuiu no ponto que no contexto do filme, a gente poderia abordar nas
redações que os professores solicitavam ou até mesmo nas redações de vestibular e
concursos, que a gente viesse a fazer.”
“Sim. Logo após, analisávamos os problemas encontrados em cada filme,
comparávamos com a situação que vivemos, investigando e discutindo meios para
solucioná-los. Isso foi essencial.”
Apreciar filmes propicia ao espectador elementos de reflexão perante o processo de
cognição, possibilitando estabelecer relações com a realidade de cada sujeito e as suas
intencionalidades. Revelando, desse modo, as possibilidades educomunicativas, ou seja, os
diálogos existentes entre a educação e a comunicação que envolvem a linguagem
cinematográfica. Duarte (2002, p. 89) ao fazer referência ao gostar de um filme, afirma que:

(...) gostar significa saber apreciar os filmes no contexto em que eles foram
produzidos. Significa dispor de instrumentos para avaliar, criticar e identificar
aquilo que pode ser tomado como elemento de reflexão sobre o cinema, sobre a
própria vida e a sociedade em que se vive. Para isso, é preciso ter acesso a
diferentes tipos de filmes, de diferentes cinematografias, em um ambiente em que
essa prática seja compartilhada e valorizada.

Diante dos relatos dos entrevistados, observo um dos primeiros problemas


encontrados na execução, tendo em vista que apesar do projeto ter objetivado desenvolver
um trabalho com filmes de forma interdisciplinar, não conseguiu atingi-lo. Um trabalho
coletivo, pressupõe um envolvimento de todos os professores dos terceiros anos, e suas
respectivas disciplinas, implicando naturalmente em uma nova postura diante do
conhecimento, com o desenvolvimento de um processo dinâmico e dialógico, que visasse a
integração de disciplinas no mesmo projeto. Coisa que deixou de acontecer, uma vez que
alguns professores não conseguiram reconhecer a importância de trabalhar com filmes na
escola, pelo fato deles não reconhecerem a linguagem fílmica enquanto instrumento
pedagógico e fonte de conhecimento.
Partindo-se das questões voltadas para efetivação do momento interdisciplinar,
observou-se que, no início do desenvolvimento do projeto, houve uma certa desarticulação
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entre os professores que elaboraram a proposta de trabalho e o segmento estudantil. Pois,


em uma conversa informal com um dos ex-alunos do colégio, que na época era integrante
do grêmio da escola, surgiu a informação que em nenhum momento o grêmio foi
convocado para fazer parte do processo de planejamento e execução do projeto de cinema.
O que resultou em um certo distanciamento por parte dos alunos nos primeiros momentos
de execução do Cine Modelo, sendo que a atividade de divulgação da proposta poderia ser
articulada pelos estudantes.
Vale ressaltar que diante do desdobramento do trabalho de alguns professores junto
aos alunos, nesse caso refiro-me ao trabalho voltado para a sala de aula, o momento de
socialização e debate contínuo sobre os filmes exibidos, estimulou nos estudantes um certo
interesse em conhecer mais o mundo da arte cinematográfica e a possibilidade dele tratar a
realidade de outro modo. Promoveu, assim, no interior de cada indivíduo a capacidade de
analisar os conflitos trazidos na composição dos filmes exibidos.

5. Considerações finais

Esta pesquisa traz o desenvolvimento do projeto Cine Modelo: Cinema para ler e
reler o mundo, realizado no Colégio Modelo Luis Eduardo Magalhães – CMLEM -, através
do texto que o define e dos depoimentos de alguns de seus participantes. Em linhas gerais o
projeto buscou propiciar à comunidade escolar novas formas de significação para formação
cultural e educacional. Ao utilizar como ferramenta a linguagem fílmica, que além de
auxiliar no processo de ensino-aprendizagem, visou despertar o interesse dos alunos pela
arte cinematográfica. Adotou como processo metodológico a exibição mensal de filmes,
articulando a projeção, promovendo debates a partir do cinema e suas múltiplas
possibilidades educativas, entre convidados palestrantes, alunos e professores da
instituição.
Desenvolver propostas pedagógicas de trabalho envolvendo a linguagem filmica
requer algumas condições, no que diz respeito aos equipamentos e estrutura física para
projeção das obras cinematográficas, o que implica em um custo relativamente considerável
para implantação de um ambiente favorável para exibição. Porém, a falta de espaço para
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desenvolver atividades deste tipo não é o caso do CMLEM, enquanto o é para a maior parte
das escolas de Juazeiro.
A falta de reconhecimento e envolvimento de alguns professores com a proposta de
trabalho interdisciplinar, interromperam o processo dinâmico e dialógico do projeto Cine
Modelo sendo estas as razões que provocaram a sua suspensão.
Como nós educadores do século XXI, poderemos desenvolver atividades
envolvendo os recursos digitais e audiovisuais que vêm transformando a educação?
Devemos superar a falta de preparo para lidar com a linguagem audiovisual,
buscando uma qualificação para operar as novas mídias tecnológicas, partido de um sentido
mais amplo que vise o entendimento das transformações tecnológicas e o crescente papel
dos meios de comunicação.
Esta qualificação requerida nessa nova era de ensino, que é chamada de “geração
digital”, visa propiciar aos educadores novas possibilidades de domínio tecnológico e
conhecimento da relação existente entre a cultura escolar, as linguagens audiovisuais e a
tecnologia digital.
Este trabalho traz uma articulação pretendida entre a tecnologia digital e cultura
existente na escola, propiciar um contato dos alunos com produtos da cultura
cinematográfica, midiatizada pelas novas tecnologias, cada vez mais presentes na sociedade
contemporânea, permitindo acesso a um número crescente de pessoas.
Contudo desenvolver esta pesquisa, suscitou um verdadeiro interesse em mergulhar
profundamente no conhecimento sobre a complexidade da linguagem filmica, visando
futuramente pesquisar alternativas de trabalho articuladas às práticas didáticas e
pedagógicas orientadas para os diálogos com a nova era educomunicativa. Espera-se assim
uma formação do educador que desenvolva nele uma capacidade crítica e habilidades para
trabalhar com as demandas colocadas pela sociedade em construção.
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6. Referências Bibliográficas:

CATELLI, Rosana Elisa. Cinema e Educação em Jonh Grierson. Disponível em:


http://www.mnemocine.com.br/aruanda/cineducemgrierson.htm Acessado em:04/05/2008.

COUTINHO, Maria Laura. PGM 5 – Escola no cinema: A construção estético-cultural de um


espaço. Disponível em: http://www.tvebrasil.com.br/ Acessado em: 04/05/2008.

______. Diálogos Cinema-Escola. Disponível em:


http://www.tvebrasil.com.br/boletins2002/dce/dce0.htm Acessado em: 04/05/2008.

DUARTE, Rosália. Cinema e Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. 126 p.

FRESQUET, Adriana. Cinema para ler e reler o mundo, Artigo publicado pela Revista
Pátio Ano IX - Nº 33 - Ler e Reler o Mundo - Fevereiro à Abril de 2005 - FÓRUM DE
ARTES.

MONTEIRO, Marialva. PGM 4 – Cinema na Escola: a vocação educativa dos filmes. Disponível
em: http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2002/dce/dcetxt5.htm Acessado em: 04/05/2008.

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