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XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção


Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

LEAN WAREHOUSE - A APLICAÇÃO DE


TÉCNICAS LEAN NOS PROCESSOS DE
MOVIMENTAÇÃO E ARMAZENAGEM
Daniel Rodrigues dos Santos (CIMATEC)
daniel.santos@fieb.org.br
Ana Paula Maia Tanajura (CIMATEC)
anapaula_tanajura@hotmail.com
Carlos Cesar Ribeiro Santos (CIMATEC)
carlosrs77@hotmail.com

Este trabalho tem como objetivo propor um método estruturado para a


implantação da filosofia Lean nos processos de movimentação e
armazenagem no Laboratório de Movimentação e Armazenagem
recém-inaugurado em uma Instituição de Ensino Superior do Estado
da Bahia. O método utilizado contempla uma etapa de diagnóstico
preliminar, com três dimensões a saber: análise do ambiente quanto
aos aspectos de tecnologia, ferramentas e conceitos aplicáveis e ainda,
o aspecto comportamental de colaboradores. A partir deste
diagnóstico, foi proposto a melhor sequência de etapas para a
implantação do Lean Warehouse. As etapas propostas, através da
metodologia, denotam sua importância à medida que servem como
fundamento tecnológico para orientar as diversas empresas em como
otimizar o desempenho das suas operações e reduzir significativamente
desperdícios na área de movimentação e armazenagem de materiais.

Palavras-chave: Lean, movimentação e armazenagem


XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

1. Introdução

A busca por melhores formas de otimização do desempenho produtivo tem sido a tônica das
organizações industriais nesta década. Com a competição cada vez mais crescente, as
empresas precisam buscar alternativas que o mantenham no topo da cadeia produtiva. Nesse
sentido, questões operacionais internas tornaram-se ainda mais importantes, como a
movimentação e armazenagem, compreendida através de importantes etapas a saber:
recebimento (descarga), identificação e classificação, conferência (qualitativa e quantitativa),
endereçamento para o estoque, estocagem, remoção do estoque (separação de pedidos),
acumulação de itens, embalagem, expedição e registro das operações.

Neste contexto, este artigo se propõe, a partir de um estudo de caso de um Laboratório de


Movimentação e Armazenagem (MAM) de uma Instituição de Ensino Superior do Estado da
Bahia (IES-BA), localizada em Salvador, propor a adoção de técnicas Lean nos processos de
movimentação e armazenagem deste armazém objetivando a otimização de seu
funcionamento.

Nesse sentido, para auxiliar no alcance dos resultados no laboratório de MAM da IES-BA
(ver figura 1), determinou-se inicialmente a utilização da ferramenta 5s que tem por finalidade
a criação de um ambiente organizacional favorável ao desempenho do trabalho, que vai desde
a separação do que é útil e do que é inútil, limpeza, padronização e principalmente a
autodisciplina tudo isso voltado à melhoria contínua.

Outra ferramenta que trará um suporte para a obtenção dos resultados é o mapeamento do
fluxo de valor que, por usar figuras geométricas, facilita a identificação e a padronização,
como por exemplo, um triângulo que indica estocagem. Ainda, este trabalho utilizará outras
ferramentas para um melhor resultado como o formulário A3, o ciclo do PDCA e o trabalho
padronizado.

Seguindo a construção metodológica dessa pesquisa, determina-se como objetivo geral desse
trabalho desenvolver um método estruturado para a implantação da filosofia Lean nos
processos de movimentação e armazenagem para o laboratório de MAM em uma IES-BA. Os

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objetivos específicos deste artigo são: (a) Criação do método estruturado sob a ótica da
filosofia Lean; (b) fundamentar teoricamente a importância da filosofia Lean para as
organizações industriai; (c) detalhar as técnicas que compõe a filosofia Lean.

A metodologia deste trabalho foi a pesquisa exploratória e descritiva. A pesquisa exploratória


além de orientar a criação de hipóteses, estabelece critérios, métodos e técnicas que
fundamentam a criação de uma pesquisa, oportunizando descobertas de novos processos e/ou
produtos. Gil (2008) relata que este tipo metodologia tem como objetivo proporcionar maior
familiaridade com o problema para torná-lo mais explícito. A pesquisa descritiva tem por
finalidade elencar as características, por exemplo, de uma experiência, o que neste trabalho
significa a implantação da filosofia Lean no Laboratório de Movimentação e Armazenagem
da IES-BA.

Figura 1: Laboratório de Movimentação e Armazenagem na IES-BA

Fonte: próprio autor

Quanto à problemática, a metodologia utilizada foi qualitativa (RICHARDSON, 2010) afirma


que neste método a coleta de dados é oriunda do ambiente natural, sendo o pesquisador o
avaliador dos fatos de forma indutiva; quanto aos procedimentos técnicos: pesquisa
bibliográfica e pesquisa-ação.

A pesquisa bibliográfica é o referencial teórico deste trabalho, nesta foram revisados os mais
recentes trabalhos relacionados ao tema proposto. A pesquisa-ação tem como principal

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característica o empirismo, assim sendo se associa a uma ação e/ou resolução de um


problema, tendo o pesquisador o envolvimento necessário na tomada de decisão
(THIOLLENT, 1997).

A seguir, apresenta-se a estrutura desse artigo: posteriormente a introdução, o capítulo dois


traz o referencial teórico, que foca na revisão dos conceitos Lean, logística, cadeia de
surpimentos e a tecnologia da informação, e movimentação e armazenagem. O terceiro
capítulo descreve a metodologia utilizada e a criação do método estruturado para a
implantação da filosofia Lean nos processos de movimentação e armazenagem no laboratório
de MAM da IES-BA e, por fim, o quarto capítulo apresenta as conclusões.

2. Referencial teórico

No referencial teórico foram priorizados os temas lean manufacturing e suas ferramentas,


logística, cadeia de suprimentos e tecnologias aplicadas a área de movimentação e
armazenagem. Ambos serão tratados em cada um dos subitens abaixo.

2.1 Abordagem Lean

A produção enxuta (PE), ou Lean production, termo utilizado a partir de 1990 através do livro
“A Máquina que Mudou o Mundo” (BARREIRO, 2010), é uma abordagem multi-dimensional
que engloba uma ampla variedade de práticas de gestão, como sistema de qualidade, o just-in-
time, manufatura celular, gerenciamento de fornecedor, entre outros, em um sistema integrado
(BARTOLI, SILVA, 2008).

Assim, faz-se necessário definir “Lean” que segundo Moreira (2014) é um novo processo de
produção que cobre a empresa toda, englobando todos os aspectos das operações industriais,
incluindo as redes de consumidores e fornecedores. É importante salientar que, o êxito do
Lean depende muito do comprometimento dos envolvidos em todos os processos da empresa.

Os benefícios da abordagem Lean se fazem presentes em outras áreas, como a hospitalar


(CIMA ET AL, 2011), onde há um aumento da disponibilidade dos centros cirúrgicos, e em
escritórios (OLIVEIRA, 2007) onde através da identificação dos desperdícios e aplicação de

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ferramentas como o 5S, Mapeamento do Fluxo de Valor, Fluxo Contínuo, Takt-Time,


Trabalho Padronizado, Sistemas Puxados e Heijunka (nivelamento) os serviços podem ser
melhorados (ARAÚJO, 2009).

2.2 Ferramentas do Lean

A implantação do Lean precisa do suporte do kaizen o qual é em suma uma filosofia que visa
o processo de melhoria continua. No melhoramento contínuo Slack et al (2002, p. 604) relata
que não é a taxa de melhoramento que é importante, é o momentum de melhoramento.

A técnica A3 é originária da Toyota, que por sua vez é a utilização de uma folha de papel
(A3) contendo gráficos e figuras, descrevendo problemas, análises, ações corretivas e planos
de ação, tudo isso como forma de estimular a capacidade da força de trabalho para que eles
proponham melhorias nos processos que estão inseridos. (LIKER e MEIER, 2007).

CASARIN (2012) afirma que o STP se caracterizou como “Lean” porque utilizava menos
recursos que a Ford em sua produção em massa. Tal afirmativa se deve inclusive ao que Ohno
(1997) escreveu em seu livro “O sistema Toyota de produção: além da produção em larga
escala”, que a fabricação de automóveis para ser enxuta precisava utilizar menos esforço
humano, reduzir estoques, reduzir tempo de fabricação e/ou montagem e, principalmente,
reduzir todo e qualquer desperdício. Womack e Jones 2004 apud Casarin (2012, p.36),
afirmam que a filosofia Lean está fundamentada em cinco princípios: Valor; Fluxo de Valor;
Fluxo Contínuo; Produção Puxada.

2.3 Logística

A logística é entendida hoje como um fator de vantagem competitiva, pois através das
estratégias estabelecidas, por exemplo, no processo de distribuição, as empresas têm uma
grande redução nos custos com transportes.

De acordo com Moura (2005, p. 56), a logística é a lógica gerencial para guiar o
planejamento, a alocação e o controle dos recursos financeiros e humanos gastos para
posicionar estrategicamente os recursos físicos, entre eles, o inventário.

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Contudo, podemos afirmar que a logística é em suma a gestão dos fluxos: de informação,
financeiro, de materiais (matéria-prima, produto semiacabado e acabado) e pessoas, utilizando
tecnologia e modais de forma eficiente a custo justo.

2.4 Cadeia de suprimentos

Para Bowersox (et al., 2006, p. 44) a cadeia de suprimento é a habilidade superior de projetar
e administrar sistemas para controlar a movimentação e a localização geográfica de matérias-
primas, trabalhos em processos e inventários de produtos acabados ao menor custo total.

A partir deste conceito é importante destacar que a cadeia de suprimento é composta


basicamente por: processamento da informação (relacionado ao marketing); clientes (fonte de
informações para o marketing); fornecedores (fonte de suprimentos, matéria-prima e
insumos); produção (indústria / fábrica que recebe as informações e programações da
produção baseado nas informações dos consumidores); distribuição (responsável entre outras
coisas da distribuição física dos produtos acabados).

2.5 Tecnologia

Diversas tecnologias apoiam a implantação do Lean, como por exemplo, o EDI (Intercâmbio
de dados eletronicamente), o WMS (Sistema de gerenciamento do armazém), Miniload
(equipamento de movimentação e armazenagem automático), entre outras.

De acordo com o FERREIRA e RIBEIRO (2003) o EDI divide-se em dois conjuntos: o EDI
tradicional, que compõe as mensagens padronizadas e utiliza os serviços da Rede de Valor
Agregado, que provêm o meio para o transporte, ou seja, é a troca de informações entre
parceiros comerciais. O segundo conjunto é a Web EDI, que integra as empresas menores ao
sistema de EDI, em que o formulário com os dados da mensagem é acessível através da
Internet.

O WMS (Sistema de gerenciamento do armazém) traz diversos benefícios para uma empresa,
como diminuição da necessidade de mão-de-obra, maior acuracidade dos estoques, melhor

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utilização do espaço físico do armazém, base de dados para implantar indicadores de estoque,
entre outros. Com a implantação do WMS, é possível também a empresa estabelecer regras no
armazém/almoxarifado, tais como: PEPS (Primeiro que entra, primeiro que sai) ou primeiro a
expirar será o primeiro a sair, realizar o cross-docking (a carga chega é conferida é expedida
não permanecendo no espaço) que dar maior fluidez ao estoque, redução considerável de
obsolescência de produtos, implantação da curva ABC (método que classifica o estoque por
ordem de “importância” no giro, faturamento, etc.).

O miniload tem total automação no manuseio de materiais. É constituído por estantes de


armazenagem, equipamentos de armazenagem e separação, sistemas de entrada/saída e
sistemas de controle. Este equipamento tecnológico, pode ser usado em parceria com o WMS,
onde os pedidos podem ser realizados diretamente pelo WMS e assim que verificado a
disponibilidade do item, o miniload faz o apanhe dos produtos e entregam no “berço de saída”
de forma automática, trazendo maior rapidez e confiabilidade as operações de movimentação
e armazenagem.

Figura 03: Miniload do Laboratório de Movimentação e Armazenagem na IES-BA

Fonte: próprio autor

2.6 Movimentação e armazenagem

De acordo com Rodrigues (2003, p. 59) a definição de armazenagem é:

Gerenciar eficazmente o espaço tridimensional de um local adequado e


seguro, colocado à disposição para a guarda de mercadorias, que serão

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movimentadas rápidas e facilmente, com técnicas compatíveis às suas


respectivas características, de forma a preservar a sua integridade física e
entregando-a a quem de direito no momento aprazado.

Racionalizar a localização dos materiais no que se refere ao processo de armazenagem é de


suma importância para a redução dos custos operacionais nos almoxarifados. Além disso, a
movimentação de materiais depende das características dos mesmos e dos equipamentos
disponíveis.

3. Método Proposto

Para um melhor embasamento sobre o tema, faz-se necessário a análise de três perspectivas
fundamentais para a implantação do Lean: a tecnologia disponível, as ferramentas e conceitos
que podem ser devidamente aplicados e o aspecto comportamental. De acordo com a figura 4
abaixo.

Figura 4: Três perspectivas para o êxito do Lean.

Tecnologia Disponível
De que forma a tecnologia influencia os
processos de movimentação e
armazenagem

Comportamental Ferramentas e conceitos


A importância das pessoas para que o Trabalhos acadêmicos que versam sobre o
processo de implantação do lean tenha o tema proposto.
êxito desejado.

Fonte: próprio autor

No tocante a perspectiva tecnologia, sua evolução é rápida e constante, principalmente no que


se refere ao comércio eletrônico, que influencia diretamente em diversos processos de uma
organização. Atualmente, em qualquer parte do mundo o consumidor pode pesquisar,
comparar e comprar produtos de acordo com suas necessidades. Além disso, existem diversas
ferramentas de tecnologia que facilitam a tomada de decisão para os gestores como, por

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exemplo, o Picking Automático que tem como principal função separar pedidos
automaticamente trazendo assim maior eficiência e rapidez aos processos tanto de
movimentação, armazenagem quanto de expedição, reverberando na relação e integração
entre o mercado, o fornecedor e varejista / atacadista / indústria. E as ferramentas já citadas
(EDI, WMS) e o exemplo de equipamento automatizado (miniload) entre outras.

A análise da perspectiva comportamental é de extrema importância, pois a base da


implantação do Lean está nas pessoas, ou seja, sem o engajamento, compreensão e
treinamento, o êxito do método estará comprometido. Na busca, cada vez mais, por parcelas
mercadológicas rentáveis, as empresas visualizam o treinamento como uma forma de obter
maior eficiência produtiva. A partir de 1950 Toyoda (criador da Toyota) instituiu o
treinamento como forma de conquistar a qualidade total em sua fábrica e evitar o desperdício.

Um aspecto bastante peculiar ao treinamento é o desenvolvimento de competências, que é


diretamente ligada ao desempenho de maneira mais eficiente da função, ou seja, o
conhecimento, as habilidades e as atitudes (CHA) que são inerentes à execução de tarefas que
exijam desempenho superior do indivíduo. ARAÚJO e GARCIA (2010); MILKOVICH e
BOUDREAU (2000).

Assim sendo, quando a equação (treinamento + colaborador + tempo) é resolvida com êxito,
os ganhos são para a empresa (satisfação interna) e também para os clientes (satisfação
externa). Nesse sentido, os gestores devem entender que o treinamento é peça instrumental
importante para o alcance do desenvolvimento organizacional, visto que promove a
integração entre os objetivos organizacionais (por exemplo, a implantação do Lean nos
processos) com os objetivos de cada função e cada produto/serviço que a empresa
disponibiliza.

Entretanto, é necessário que exista uma conexão entre as três perspectivas (vide figura 5) para
que efetivamente o método tenha os resultados esperados. Tais resultados perpassam por
maior agilidade nos processos de recebimento, conferência, armazenagem, separação dos
pedidos, entre outros.

O método proposto originou-se do referencial teórico, além da vivência do autor com as


atividades do almoxarifado e principalmente do ciclo PDCA (MADSEN et al. (2009). Outros

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autores como CASARIN (2012), MAURO (2009), TUBINO e ANDRADE, 2003,


desenvolveram objetivos e modelos análogos a este trabalho. O método está estruturado em
quatro etapas e em concordância com a melhoria contínua. A primeira etapa é a introdução,
seguida do diagnóstico, depois o planejamento e implementada pela ação. A figura abaixo
retrata as etapas do método:

Figura 5: Disseminação do Lean

Introdução Fonte: próprio autor


Ação
Planejamento

Diagnóstico

A etapa de introdução compreende reuniões, apresentações sobre o método proposto e o


treinamento dos envolvidos no local de aplicação da metodologia (almoxarifado do IES-BA),
sendo de vital importância para o êxito do mesmo, que os envolvidos estejam capacitados na
filosofia Lean, a qual tem em seu âmago a valorização das pessoas. Este treinamento tem
como principal finalidade capacitar as pessoas a identificar e erradicar problemas e perdas nas
atividades de armazenagem.

A avaliação do almoxarifado e o diagnóstico da situação atual estão na segunda etapa deste


método. Nesta são analisados os indicadores dos estoques, como, por exemplo, o lead time do
pedido x entrega e o mapeamento do fluxo de valor (MFV) do almoxarifado. Garcia (2004) e
Casarin (2012), afirmam que o MFV é uma ferramenta de grande valia para o
desenvolvimento de projetos relacionados à melhoria contínua, contando com o entendimento
dos colaboradores em relação à identificação dos desperdícios. É a partir dos resultados da
segunda etapa que se inicia a etapa seguinte que é o planejamento.

No planejamento são definidos os planos e metas para a próxima etapa (CASARIN, 2012)
assim como as ações que serão tomadas. A partir do mapeamento do estado atual e do
levantamento dos desperdícios no almoxarifado, o estado futuro é desenhado, deixando

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definidas as particularidades, buscando-se a redução de tempo no desenvolver das operações


de movimentação e armazenagem, bem como, separação e entrega dos pedidos aos
solicitantes do campus (IES-BA).

O planejamento é de extrema importância, pois é neste que são definidos o cronograma com
as ações que serão tomadas, representado no Quadro 1. Este por sua vez foi elaborado como
piloto, pois o processo é de melhoria contínua e requer outros treinamentos e
consequentemente com operação assistida com o intuito de assegurar que o método será
executado da forma que foi proposto.

Quadro 1: Cronograma para aplicação do método


FASE ATIVIDADES SEMANAS
Reunião para apresentação da metodologia X
INTRODUÇÃO
Treinamento dos envolvidos X
Levantamento prévio de informações
X
relevantes
Mapeamento de fluxo de valor (materiais e
DIAGNÓSTICO informações) no almoxarifado do Campus X X
IES-BA

Mensuração dos indicadores do almoxarifado


X X
e análise da gestão visual

Apresentação do MFV atual e a priorização


X
das oportunidades encontradas
PLANEJAMENTO
MFV futuro e o planejamento para
X
implantação das oportunidades encontradas
Implantação das oportunidades encontradas,
através do KAIZEN (realizado com relatório X X X X X X
A3)
AÇÃO
Apresentações dos eventos KAIZEN X X
Avaliação dos resultados alcançados com a
X
implantação do método
Fonte: Próprio autor

Após a realização do mapeamento do estado atual e todos os desperdícios identificados, é


necessário desenhar o estado futuro com as propostas de melhoria, procurando obter a
redução dos leads times nos processos de movimentação, armazenagem, separação e entrega
dos pedidos, além da obtenção de fluxos contínuos e puxados. Assim sendo, as quantidades de
caixas do mapa futuro são reduzidas a partir das melhorias sugeridas e/ou implantadas. As
ações são tomadas a partir da utilização dos eventos KAIZENS, fornecendo resultados
concretos com a participação dos envolvidos nos processos do almoxarifado do Campus da
IES-BA, representado no Quadro 2.De acordo com KASARIN (2012, p. 88) para a escolha da
pessoa responsável por cada kaizen serão considerados diversos fatores:

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 Perfil de liderança ou necessidade de desenvolvimento desse tipo de perfil;


 Cargo na empresa: Incentivar colaboradores que não possuam cargos importantes para
que também sejam líderes nos eventos kaizen;
 Envolvimento e interesse no problema abordado;
 Disponibilidade de tempo;
 Voluntarismo.
Quadro 2: Realização dos eventos KAIZENS
A3 - realização dos eventos KAIZEN

Nome da Equipe PARTICIPANTES

Setor
IMAGEM DOS PARTICIPANTES
Data início

Responsável

Plano de ação - medidas e testes


Contexto
O que? Quem? Quando? Status

Condições Atuais

Análise: Causa X Efeito Resultados - antes e depois

Acompanhamento do plano de ação futuro


Estado futuro
O que? Quem? Quando? Status
Fonte: próprio autor

A ação se refere a aplicação das ferramentas da PE no almoxarifado do Campus IES-BA. A


execução acontece em concordância com os eventos KAIZENS, ou seja, é a busca pela
melhoria contínua. A adoção do Kaizen tem como finalidade a disseminação da filosofia Lean
sendo sua sustentação garantida quando conduzido de maneira estruturada (CHAVES FILHO,
2010), além disso, CASARIN (2012) afirma que este auxilia na compreensão e motivação dos
envolvidos, resultando em uma rápida disseminação de práticas no ambiente de trabalho.

A aplicação do Kaizen é direcionada pelo relatório A3, que por sua vez segue os princípios do
ciclo PDCA, representado no Quadro 3. Neste sentido, KASARIN (2012) afirma que o
relatório permite o controle, o acompanhamento, o aprendizado e a comunicação entre os
participantes, podendo este ficar exposto no almoxarifado (local onde o método será
aplicado).

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Quadro 3: formulário A3
FORMULÁRIO A3
IMAGEM DA EQUIPE
TÍTULO: DATA: RESPONSÁVEL:

CONTEXTO PLANO DE AÇÃO


O quê? Quem Quando Status

CONDIÇÕES ATUAIS
FAZER
PLANEJAR

METAS E OBJETIVOS
RESULTADOS

ANÁLISE
VERIFICAR

ESTADO FUTURO PLANO DE ACOMPANHAMENTO

AGIR

Fonte: próprio autor

A proposta deste método será aplicada com a pesquisa-ação, onde o pesquisador interfere nas
decisões e nas ações realizadas KAZARIN (2012). Será realizado no Laboratório de
Movimentação e Armazenagem de uma IES-BA, aonde o trabalho proposto poderá ser
aplicado, testado e então difundido através de trabalhos de Theoprax (projeto final de curso,
que une a teoria e a prática), capacitando os alunos da área de Logística, e/ou projetos de
consultoria específicos alavancando novos cases de sucesso na área de Gestão da Produção e
Logística da IES-BA.

4. Conclusão

O presente artigo tratou da elaboração de um método estruturado para implantação do Lean


nos processos de movimentação e armazenagem no laboratório de MAM de uma IES no
Estado da Bahia. Tendo em vista o método elaborado, entendeu-se que as pessoas têm papel
fundamental para o êxito do mesmo, visto que, todo processo de melhoria requer o
engajamento de todos os envolvidos. Assim sendo, este estudo é relevante pois retrata de
forma prática um método que pode ser aplicado em outras empresas que necessitem implantar

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a melhoria contínua em seus processos de movimentação e armazenagem. Neste contexto,


outros trabalhos acadêmicos podem ser elaborados, versando sobre a tecnologia & as pessoas;
a movimentação e armazenagem com o uso da automação, dentre outros.

Referências

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