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1.

Conceituação:

CREAS – Centro de Referencia Especializado de Assistência Social – Trabalho social


especializado no SUAS - Sistema Único de Assistência Social - Recebe famílias e
indivíduos em situação de risco pessoal e social, por violação de direitos: violência
intrafamiliar, abuso e exploração sexual, situação de rua, cumprimento de medidas
socioeducativas em meio aberto, trabalho infantil, contingencia de idoso e pessoas com
deficiência em situação de dependência com afastamento do convívio familiar e
comunitário, discriminação em decorrência de orientação sexual e/ou raça/etnia, etc.

2. Metodologia:

O Sistema Conselhos de Psicologia, por meio do CREPOP - Centro de Referência


Técnica em Psicologia e Políticas Públicas - ao longo dos últimos anos implementou
uma série de pesquisas na área da Assistência Social, sobre a prática profissional do
psicólogo a analise dos dados demonstrou: falta de profissionais, ausência de
supervisão, falta de formação continua, além de dificuldade de articular uma rede de
referencia na região para ampliar as possibilidades de atendimento das famílias de
forma integral, para transformar e fortalecer os vínculos e convívio familiar e
comunitário no enfrentamento do risco social.

Para o CFP o mecanismo de Consulta Pública se mostra útil para colher contribuições,
tanto de setores especializados quanto da sociedade em geral e, sobretudo, dos
psicólogos, sobre as politicas e os documentos que irão orientar as diversas praticas da
Psicologia nas Politicas Publicas. Por meio da consulta publica o processo de
elaboração do documento torna-se democrático e transparente para a categoria e toda a
sociedade.

3. Fundamento:

Os Documentos de Referência Técnica são recursos que o Conselho Federal de


Psicologia – CFP oferece aos psicólogos que atuam no âmbito das politicas publicas,
como recurso para qualificação e orientação de sua pratica profissional.

Espera-se que esse processo de elaboração de referencia técnica possa gerar reflexões de
praticas profissionais, que possibilite visualizar o trabalho que vem sedo desenvolvido
por muitos psicólogos e também possa ser compartilhado, criticado e aprimorado, para
uma maior qualificação da pratica psicológica no âmbito das Politicas Públicas.

4. Organização do documento:

Eixo I: Dimensão Ético-Politica para a Prática dos Psicólogos no CREAS

Visa apresentar e refletir sobre as questões éticas que permeiam a atuação do psicólogo
em seu trabalho no CREAS.

Até 1988 as concepções de assistência social caracterizam o que se convencionou


chamar de “assistencialismo”, “o uso distorcido e perverso da assistência – ou a
desasistência”. Seu objetivo não era atender as necessidades ou muito menos os direitos
da população, mas perpetuar posições sociais.

O cenário mudou com:

1988 – Promulgação da Constituição Federal, quando esta tornou-se politica publica


não contributiva.;

1993 – Implementação da Politica de Assistência Social (LOAS). Politica de Garantia


de Direitos no País.

2004 – Sistema Único de Assistência Social – SUAS – organização dos programas


serviços, programas, projetos e benefícios, tendo como base o território e a centralidade
da família, para sua concepção e ampliação.

4.1. Como o público chega ao CREAS?

Encaminhado por juízes, promotores ou conselheiros tutelares, a partir de denuncias,


eventos de violência intrafamiliar, ato infracional ou por busca ativa.

4.2. A Psicologia e o paradigma da cidadania

Na Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do Sistema Único de Assistência


Social – NOB/RH/SUAS, a noção de cidadania é apresentada como um principio ético
do trabalhador do SUAS, definida como “defesa intransigente dos direitos
socioassistenciais”. Cidadania = “direito a ter direitos”.

Referendado no Código de Ética a Psicologia deve promover a defesa de direitos de


crianças e adolescentes; no repudio a toda forma de discriminação; na crítica às
instituições totais, à judicalização da vida, à medicalização da sociedade e à
criminalização da pobreza e a várias outras situações de violação de direitos.

4.3. Desafios e Potenciais no trabalho do CREAS

Principio ético do sigilo – precariedade dos locais onde ficam guardados os prontuários
de atendimento e a organização das salas de atendimento, que muitas vezes não isolam
o som e permitem a quem esta de fora ouvir o que se fala do lado dentro.

A psicoterapia como atividade no CREAS – psicólogos creem que essa é a sua


função, por outro, porque não conseguem vagas ou encaminhamentos para a politica de
saúde e, percebendo a importância deste trabalho, se propõem eles mesmos a realiza-lo.
A atividade deve ser desenvolvida por meio da politica de saúde ou clinicas-escolas
ligadas a universidades, clinicas sociais, etc.

Atividades combinadas são importantes para provocar reflexões e novos


potenciamentos sociais, que podem produzir esse efeito terapêutico, tais como a
realização de grupos psicossociais, a inclusão em novas sociabilidades, o retorno à
escola, o apoio financeiro ou material, o acolhimento, etc.
O atendimento psicossocial realizado no CREAS também tem efeito terapêutico na
medida que busca a compreensão do sofrimento de sujeitos e suas famílias nas situações
de violação de direitos, e visa a promoção de mudança, autonomia, superação.
Entretanto, na politica de assistência social, o vinculo estabelecido entre o profissional e
o publico do CREAS deve ser construído a partir do reconhecimento de uma historia de
vida, imersa em um contexto social, sem uma perspectiva individualizante.

Desvio de função - atividades realizadas pelos psicólogos nos CREAS, que são
determinadas por gestores ou juízes tais como a obrigação de realização de laudos
psicológicos para o judiciário, averiguação e denuncias, trabalho concomitante em
outras politicas, e outras praticas fora dos critérios regulamentados, parecem
caracterizar uma situação de abuso de autoridade ou posicionamento assistencialistas ou
clientelistas.

Eixo 2: Psicologia e a Politica de Assistência Social

A inserção da Psicologia nas Politicas Publicas acontece de forma a tencionar alguns


paradigmas vigentes reforçadores da concepção de que “as politicas publicas, por seu
caráter abrangente, se fazem antagônicas à subjetividade e a singularidade”. A
Psicologia tem o desafio de contribuir para os processos subjetivos de emancipação e
autonomia dos sujeitos em situação de violação de direitos.

Para compreender esse sujeito que chega ao CREAS, o profissional de Psicologia


precisa ter elementos para apreender tanto as relações complexas presentes no contexto
de vulnerabilidade social associado à violação de direitos, quanto à maneira como esse
sujeito percebe e vivencia esse contexto. O sofrimento humano é ético e politico e não
tem origem somente no individuo, mas também nas relações construídas socialmente.
Esta relacionado com aspecto histórico, político, social e econômico de exclusão social
presentes no Brasil.

Eixo 3: A Atuação do Psicólogo no CREAS

A intervenção da Psicologia deve contribuir para a ressignificação, pelos sujeitos, de


suas historias, ampliando sua compreensão de mundo, de sociedade e de suas relações,
possibilitando o enfrentamento de situações cotidianas.

- As principais atividades relacionadas ao atendimento direto, atividades fins, da


população no CREAS são:

Acolhida: contato inicial com a pessoa e/ou família que será atendida e inserida no
acompanhamento. Momento de estabilidade atendida e inserida no acompanhamento.
Momento de estabelecimento de vínculos, exige do profissional escuta sensível das
demandas.

Acompanhamento Psicossocial: conhecer o indivíduo e/ou família identificando


demandas explicitas e implícitas, levando em conta seu contexto social, cultural, a rede
que acessa e/ou conta, as dificuldades vivenciadas, expectativas etc. Espaço onde será
possível estabelecer vínculo favorecendo uma relação e discussão e reflexão sobre as
dificuldades encontradas no cotidiano, promovendo o fortalecimento de potenciais e
autonomias. No decorrer do acompanhamento de dará a elaboração do Plano de
Acompanhamento Individual e/ou Familiar, com a definição das estratégias de
intervenção a serem utilizadas, propiciando, a partir de ações, as seguranças de acolhida,
de convívio ou vivencia familiar, comunitária e social, de desenvolvimento de
autonomia individual, familiar e social.

Entrevista: procedimento de coleta de dados e orientação, mas também de continuidade


da acolhida para aquele que chega e busca inserção no serviço. Integra o
Acompanhamento Psicossocial. Apresentação das singularidades da família e seus
membros, assim como da dinâmica das relações em seu interior. Levantar informações
para construção do prontuário no serviço e/ou registro do caderno informatizado.
Motivação para a busca dos serviços em casos de encaminhamento e também sobre o
motivo gerador do referenciamento no CREAS. Processo continuo.

Visita Domiciliar: constitui uma das estratégias de aprofundamento do


Acompanhamento Psicossocial. Forma de atenção com o objetivo de favorecer maior
compreensão a respeito da família, de sua dinâmica, valores, potencialidades e
demandas, orientações, encaminhamentos, assim como de estabelecimento de vínculos
fortalecedores do processo de acompanhamento. Deve-se pautar no respeito à
privacidade da família. Aproximar-se da sua realidade.

Intervenções Grupais: propicia a construção de situações vivenciadas, fortalecimento e


identificação de potenciais, fortalecimento de autonomia e vínculos. Podem ser de
reflexão, de convivência, temáticos, focais e pontuais ou períodos prolongados,
potencializando o direito à convivência familiar e comunitária.

Articulação em Rede: viabiliza o acesso do destinatário aos direitos e inserção em


diferentes serviços e programas, incluindo outras politicas, não apenas os serviços
socioassistencias. Favorece a visão integrada, articulada, intersetorial e a construção de
respostas conjuntas no enfrentamento das situações de violência, assim como viabiliza o
acesso a direitos socioassistencias, integrando as politicas sociais, buscando romper
com a fragmentação no acompanhamento e atenção ás famílias.

Registro de Informações: acompanhamento da família e/ou indivíduo no serviço, onde


será necessário avaliar quais informações são importantes e pertinentes para
compreensão do caso em ela, revelando acompanhamento, resultados, intercorrências e
considerações técnicas, além de contribuir para organização e sistematização do
trabalho.

Prontuários: Especificidades de cada acaso. Procedimentos, estratégias e dados


referentes a cada família/individuo. Evolução e progresso de cada caso, bem como
demanda e desafios identificados, discussão de caso e planejamentos. Plano de
acompanhamento Individual e/ou Familiar.
Relatório Técnico: informações sobre ações desenvolvidas no atendimento aos
indivíduos e/ou famílias acompanhadas no atendimento aso indivíduos e/ou famílias
acompanhadas pela equipe do CREAS. Processo do atendimento e acompanhamento da
família ao longo do tempo, trazendo informações relevantes para a compreensão do
caso em tela. Relações relevantes para a compreensão do caso em tela. Referencia o
Plano de Acompanhamento individual e/ou Familiar, considerando os
condicionamentos históricos e socais e seus efeitos na construção dos sujeitos.

Reunião de Equipe: debater e problematizar o trabalho articulado e integrado, avaliar e


definir caminhos possíveis para seu desenvolvimento. Momento em que o trabalho
desenvolvido deve ser debatido e avaliado, possibilitando rever o planejamento e metas
estabelecidas. Avaliar o trabalho do serviço, da equipe (interno/externa) e demandas
para atingir objetivos propostos no serviço. Deve contemplar o debate de questões
operacionais e conceituais, conjunturas e dilemas, contradições vivenciadas viabilizando
a articulação e integração da equipe.

Reunião para estudo de caso: espaço para estudo e analise dos casos em
acompanhamento no serviço. O objetivo é ampliar a compreensão de indivíduos e
famílias em suas relações, particularidades e especificidades, na busca de estratégias e
metodologias de intervenção para alcance dos resultados identificados e apontados no
Plano de Acompanhamento Individual e/ou Familiar, avaliando resultados alcançados e
demandas, assim como necessidade de adequação.

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