O MODO ECÓLOGICO DE SE PENSAR A ECONOMIA – A ECONOMIA
ECOLÓGICA
Em qualquer livro convencional que trate da teoria econômica clássica,
encontra-se o que os economistas chamam de Diagrama de Fluxo Circular, que representa de forma simplificada as interações entre os atores da economia. O diagrama essencialmente exemplifica o fluxo de bens entre as famílias e empresas. A natureza para a teoria econômica clássica, mesmo em modelos mais elaborados, é tratada como uma externalidade (MANKIW, 2004). Ou seja, os efeitos colaterais ao ambiente proveniente da produção dos bens comumente não são internalizados em seu valor. A externalização dos custos ambientais, em grande medida, incide sobre as camadas menos favorecidas da sociedade. Um exemplo comum é a degradação de ambientes de uso comum em grandes metrópoles, o que cria a necessidade de deslocamentos obtenção de lazer. Durante muito tempo existiu a perspectiva sobre a economia e a ecologias serem áreas completamente distintas, porém, ao longo das últimas décadas novas ideias surgiram. Desenvolveu-se, então, o que se chama de economia ecológica, que é definida como “ciência e gestão da sustentabilidade” (CONSTANZA, 1991).
A continuação da forma clássica de pensar a economia leva ao
degradamento do ambiente e, portanto, diminuição de seus serviços e possibilidades às futuras gerações. E economia ecológica (EE) busca articular as formas as quais o comportamento econômico altera o ambiente (Cavalcanti, 2010) e, assim, internalizar os constrangimentos ecológicos dentro da lógica econômica. A EE reformula a ideia econômica clássica, entendendo a economia como um sistema aberto dentro de um conjunto maior, o ecossistema. Entendendo a economia como um subsistema pertencente de um sistema maior e não como um sistema isolado implica em uma alteração dos seus pensamentos sobre a alocação de recursos.
A partir da forma ecológica de se pensar a economia foi cunhado o termo
desenvolvimento sustentável, que significa “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer as possibilidades das futuras gerações atenderem suas próprias necessidades” (CMMAD, 1986). A primeira instância pode-se visualizar um paradigma na tentativa de tentar conciliar a sustentabilidade à lógica econômica e no termo “desenvolvimento sustentável”. O capitalismo é um sistema em que se baseia na crença do crescimento ininterrupto e da acumulação de renda e segundo Clóvis Cavalcanti (apud MONTIBELLER, 2012) grande parte da acumulação de renda dos países industrializados se deu através da degradação do ambiente. Ainda, segundo Celso Furtado (apud MONTIBELLER, 2012) a acumulação de renda caracteriza um sistema econômico excludente que contribui para o agravamento das disparidades sociais e degradação ambiental. Assim, a partir de tal lógico, poderia se argumentar que existe um tradeoff entre economia e meio ambiente, e que mais economia significa menos ambiente e tais disciplinas são incompatíveis. Contudo, para a lógica da EE, crescimento e desenvolvimento apresentam significados distintos. Enquanto crescer significa “aumentar de tamanho”, desenvolver significa “expandir as potencialidades de algo, passar para um estado melhor” (DALY, 2009).
A EE em síntese baseia-se em encontrar a escala ótima do macrosistema
econômico, separando o “crescimento natural”, quando os benefícios do aumento da economia superam os custos marginais ambientais do processo, e o crescimento “antieconômico”, onde os benefícios do aumento da economia são inferiores aos custos ambientais marginais do processo (CAVALCANTI, 2010). Um exemplo prático de crescimento antieconômico é por exemplo a construção de uma usina hidrelétrica em um local onde exista uma espécie ameaçada e o empreendimento vai causar sua extinção. O exemplo de crescimento natural seria se o empreendimento de fato causasse a extinção de determinada população no local da barragem, porém, a espécie em questão não está em risco.
Segundo o filósofo Alfred North Whitehead (apud CAVALCANTI, 2010)
“as formas mais elevadas de vida estão ativamente empenhadas em modificar seu ambiente. No caso da espécie humana esse ataque efetivo ao meio ambiente é o fato mais notável de sua existência”. Assim, o tradeoff entre desenvolvimento e ataque ao meio ambiente é uma característica inerente a vida humana. Dentro desse contexto a economia ecológica busca mediar uma melhor compreensão da natureza e criar uma consciência coletiva sobre desenvolvimento sustentável, não só para salvaguardar as possibilidades das futuras gerações atenderem suas necessidades, como pela simples questão ética da valorização do ambiente por sua própria existência.
Referências
[1] CALVACANTI, C. Concepções da Economia Ecológica: suas relações com a
economia dominante e a economia ambiental. Estud. Av. v.24, n 68. 2010.
[2] MONTIBELLER. G. Economia Ecológica e Sustentabilidade Socioambiental.
Revista Brasileira de Ciências Ambientais. n. 23, 2012.