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Da petição inicial

CARLOS B1ASOTI1

I - CONCE.ITO. ELE- mos traduzir. Infringe a regra da m . . FORMA DE TRATA-


.MENTOS FORMAI.S. Chama- propriedade do estilo forense ·\l ·:1\.fENTO 00 JUIZ. Ao dirigir..
vam-Jhe os antigos Ubelo; dão-lhe advogado q,ue, v.g.. ~ e.mp!e.g~· ·sei(.;ljUÍZ; o subscritordapetíção
>

hoje o nome de petição inicial Na intimação por citaçã.o;· inte.rroga~· ··empregará a fórmula de trata..
linguagem forense, é o ~'ato pelo tório por inquirição ·de ..testemu;.. inento Vossa ·Excelêllcia (que se
qual o autor propõe, por escrito e nha, despejo do loéatário: em vez · .abrevia V..Exa.). Como os pro-
.articuladamente, a espécie da de despejo do imóvel queele oco- nomes d~ tratamento substituem
questão que se hã de tratar em. pa etc. a terceira pesS(}a gramatical.J nes-
juízo~' (1). Do libelo é ou~o requisito ta é que dtve flexionado o
Assento de todo processo e, formal a preeid.o., cuja verbo(6)/EKemplo!VossaExce-
pois, sua parte mais diflcil (2), inobservância., no anterior regi'.'" Jên($i füif(irnJÓ;fareis) justiça,
ser a petição inicial elabora~ me processual civil (art.158, ·nº.:: ··.absolvendo :o rétt..:Também da
da com precisão e clareza, qua- 1II), fulminava-o de inépci~.. :r~t:· fótmuí~:'nteritíisimo (que .tem·
lidades que a ciência da lingua- sanção ainda consta do: .~ilio · ·. tn~~ · inérito) ·:pode-se usar em ·
gem tem por principais em quem positivo (5). Em seu ôbs~~o~·.. refe.tência. ao Juiz (7).
escreve. A clareza do escréver não se deve usar senão das:tet111J,s·· •·Abreviadamente: MM.
pressupõe a do pensar. Donde se- .necessários à enunciação·:;<h\s· Á petiçlQ, lembra o ms:1:gr1.e
guir-se que só aquele que se idéias, arredados sempre ·os. su* PONTESDEMIRANDA,'"háde
abalizou ·na arte. dq raciocínio périluos. ··ser escrita respeitosamente!i aten-
(Lógíca) saberá clardillente redu- Il - PARAGRAFAÇÃO.A ta,apretrogativada.dignidadeju-:-
a .escrito o seu ·pensamento. fim de assegurar a clareza diciária e das instituições"' (8),
Consiste a dar.eza em ex- expositiva da petição, é recomen... Repugna,.assim, à gravit.tade
pressar o pensamento sem obscu- dável que o advogado a articule, rente· ·às ooisâs da .Ju~tiça o em-
ridade. Para consegui.la cumpre isto é, dê-lhe a forma de artigO·QU. .prego de ;pala:vras· :ou frases que
dar de mão a todo modo de ~~ecer item.. Embora apropriadaànafa~ ·d!note.m··. Jalta· de .. Â~,,,nrn.
o discurso que tome o sentido reza da petição inicial, a . aepara... ·g~sprimot:4elinguagem·Qµ,oque
ambíguo e embaraçoso'l'·(3), não. ção .por: períodos gramiÍtiêais: fQm: mâJf:,dt{ Jséntfr: :e> deplorar')
se penetrando à prima vista o:pen- convénfigualmente aos teqúê~:·: .:fuêôr:rant·tnÍ·:a···nóià·tl~·.doosto·e
samento do escritor. Este atributo. ·mentos:em: geral, às aleg~ç.~'.cf,: :.~f.1Ôvício~ Daqui â::mzão porqtíe o .
fundamental do estilo. comparou- às r,3Zões.. Estaassazprecôni~if jigisfador processual civi.l lhes
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º QUINTILIANOnãomenos que 'técnicaderedigiro discursi{ta,m.2 .'\a~u o curs<i, ~n verbis'.': "É


Sol: o ponto está em que a bém se conhece·:: .·:.:. p.rir ... :dêf~oàsparttse.aeusàdvoga.dos
clareza seja tal:, qu~)mp.ressíone paragrafaçio. É a pedra angu~áif: . . ~mp.régar
eipr.essões injuriosas
ainda ao mais· ftacó.:entendún.ert~ de todo o arrazoado; porq.;ie~·-·; >n~i
escritos ~presentàdos no pro-
to, "bem como :á 1~.z ·do Sol se vez dispostas em parágtàf'Qfnu: . ·.êesso: ·''
(9} ·
mete pelos olhos~~, (4). A clareza merados, ficam as idéiâs.11íai~in,i. ' ·.: · .··s~stQ.não.cons,titua
. ou perspicuidade dâ iocuçã<f de- teligíveis, sobretudú,:seiobsitv~~: ·dtÚqj{qja ()n .difamaç:ão a ofensa
>

pende sobretudo dá ptopriedade da a ardem lógica d(.}. r~clôê~,ô :'. ~ogada: em· juízo~ ria diSêussão
do termo, que é a fi~l atléquação dedutivo (introdução~ :dês~vól~ . ~.éa,~~, ~lo advogado; confor..
>

vimento e conclusão).· ·· .. ~~::dispõe:·o .art•. 142, I, do

D/GESTO ECONÔMICO- MAtOIJLJNH0/93


. . .
. . .. . . ·... ·:.. : :. .

Código Penal,será sempre viola- •el'llIJl-OS ~~ CàÚsávam no bo e acaso i1l'excedível louvor de


çã:ogra:vedocódígodeurbanida.:.. :· é~~entô::'dà$iyias:.públic~: . os um::~púito·_:d~:.-escol, que foi
00 1

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mentir à cónfi:àrtÇli g.o éli~rit~:~~;:_
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.._s.flF.t.•.:ê_:~_t_r_i_•.•-e.ºa~.t.m.'._}O;··-~-~,···ru
~ BREVIDADE. Outra qualidade

;;~Jb:~R!f lt&a!1~!~:. :::r~~:2:~~


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n:iêntó'. qtíé êvid~nde/ en1. tudo, : :_ temo, .os muares que empregara bem escrever, consiste em dizer
resptito -e co.iísideràção. (Não é em seus serviços. extemos,t. E a muito em pouco. Da rara estima
para esquece.rque natural espíríto coartada·de EURICO veio·, sobre que dela fazem os autores de no-
de solidariedade associa aqueles irônica, demolidora: "Quanto ao . meada, para logo se mostra nisto
que pertencem àínclita profissão; aproveitamento dos muares! que de havê-la um e.agenp9 feliz
pe}oque,hãodetratar-secordial- puxavam os bondes per.emptos, lidado "alma do espírito" (15).
mente). A pessoa do advogado é pode a agravada afirmar, com ên- A conseqüência da concisão
mister que fique abroquelada dos fase e convicção,, que a n.enhtun. é a brevidade. O texto conciso
tiros que, no debate da causa, conservou em seu serviço e que,. por força que será breve~ Com
venha a desfechar-lhe a dialética tendo-se desfeito deles, nãó curou dizer muito em poucas palavras,
veemente do antagonista.. A de verificar a& carreiras que se- o àdvogado, ou fale ou escreva,
questão agita.dá entre .as partes. guirarn.. .t'(ll). Exemplo· ·é tam- necessariamente·não·.i:rá além da
perante.ojuíz·nã.0:·houvérajamais :bém de·impiedo.sa.µ-on.ia ada.que.. marca. Ao demais,. atenderá,.avi-
de extra.passarás-raias.do :litíg_io e. le. representante do Ministério sado, ao venerando preceito
atingir seus patronos~ É. àpenas ·· Público par.a com o g:rande b.o:raciano: "'Esto brevis et
um simulacro de guerra, não é criminal~ jtaliano HENRIQUE placebis" (16).
uma guerra a em que ·se empe: .FERRI, numjulgame11to célebre: Ficará ao prudente arbítrio do
nham no teatro forens.e. Os advo- ''Quando o doente recorre ,a um advoga.do, segundo lho reclamar
gados, importa que levem a mira médico d.e fama é porque sente a a importância ou a natureza do
em fazer triunfar as próprias ra- saúde muito abala.dai'' {12). assunto,dilataroucontrairas
zões contraas do·adversârio, não V ... PALAVRA, IMAGEM ~ de sua petição.
em vencê-lo. DA ALMA. Sendo verdade ine- Os longos arrazoados jurldi-
0 trato afável,justamenteen- lutável que toda obra revela seu cos, por muito comuns que te-··
. carecido entre os.advogados, não . autor, não permita. o advogado . nh.am sido outrora, não se podem
haveráinibi~los,porém.;·detooor;.. ··que seus arrazoados forenses re- hoje contudo sofrer. É qué a an..
àquela que ·passa pela ·mais. . flitam .um caráter _ignóbil e um gústia do tempo retirou aos espf-
temívelarmàdecómbate-nocam- cotaçãoempedernido.Paratanto, ritos o ócio·indispensável às ex-
po das idéias·: ·a. tr:omâ~ Deatt,, fi- olhe que swis idéias sejam eleva- . tensas leíturas. Alé.m disso -
gura de retóricâ\iiss~)4dij. qu~ni ·. ·.daS.,'..ô :estilo circunspecto e a lo- há supor atrevimento onde a
a. definiu como·.~'fonna.el~t.c,,. . :·c~9ãQ-.·~11~bre e· escorreita; não verdade discreteia .., escrever
de ser mau", (10). .descaia ém licença; tampouco guém muito e prolixamente é
Até os mais acabados mode~ ··âfrónre .~ pudor da gramática. aventurar-se a não· ser lido nem
de caráter e· fidalguia servi... .·Expm):jàdo escrito as e-xpressões por aqueles qué, antes de julgar
ram-se del0: quaudo se lhes ajei- contumetiosas, advertindo que 'i.a os réus,.~everiam ouvi-los de sua
.tou ensejo. Assim com . injúria é sempre um n1au argu- justiça.
EURICO SODRÉ. Advogado mento" (13). · A razão disto no-la deu o
polidoecultocómoosquemaiso Em .tudo o que escrever, clássico MANUEL BERNAR-
foram.inão secorreudemolharna · diligencie por alcançar padrão DES: '~emoria1s longos e com-
tipta da ironia:~ pena, em certa profissional tão lisonjeiro e emi- postos até a Deus desagradam'~
demandacujoprintocontrove.rso nente, que lhe quadre este sober.. (17).

69
NOTAS

DE RAMALHO, Postt1as de Prá-


tfoa, 1872. pág. 86;.
QUEM
{3) ERNESTO CARNElRO R.lBEilw.·serocs
Gmmaticais, 1:955; pág. 797;
PROCURA
(5) "Considera~~ inepta a petição inicial qu.an-
do da narnição dos fatos não decorrer
NEGÓCIOS,
togicam:c.11te a conctusão" (a.rt 295~ parâg.
úrnco. rf U, do CM. :Proc. Civil);

(6)Cf. NAPOLEÃO MEN:DES DfiALMEIDA,


Gramática Metódica da Língua Portugue-
ACHA
sa, 29a. ed., pág. t 74;

(7) Vem aqui a tal.bode fü.i..-ea.Ução deELJASAR


ROSA: "''Em meritmlmo (forma de tra#
tament.o reservada aosjmzes) o grau su-
_Quem precisa atingir
perlativo comu11.icaã fotruadenw11ent-o
um ~ teor de respeitabilidade, de
diretamente o empresário
reverencia e, mesmo, de solenidade que
deve cercar a pessoa do ruagistrado, cm . sabe que o Di-ári.o do
obsóqu.io de suas funções. Evite-se o
meretíssinie de certas pctiçõ(!S. E, muito
mais, evitem-se o m.~retrlnimo e o
Comércio é o veiculo certo.
merltrí$simo dos Jcigos•• (Os Cem Erros
nws Comuns nas Petições. la. ed., pág.
Porque mantém há 66 anos
54);
a tradição- de jornal
1961..
pág.409; especializado nas areas
(9) Códigt'I de Processo Civil, art. i 5;
econômico-financeiras e
ap11d FOLCO
1.VJ.11..a,u,~\...t.. D1.c:1onar10
ed., pág. U4.1.gualmentefazaopropq$ito
Humorístico, 2" jurídico-legais. Porque é
aquilo do discreto FRANCISCO MANU-
EL DE Mh"LO~ "O mais tmivel artifício ·diri_gido a mais de 32.000
qtle inventou a malícia é ofender 00t:n
louvoresu (Aflólogos Dialogais, 1920,pág, empresários associados à
82);

( l l) Cf. Revi !.ta da Aca.dt.,"mía Paulista: de Direi~ AÇSP. Quem ,procura


to, 1973,nº2,pág, 18;
negócios . acha.
(U) HENRIQUE FERR.I. Di~de.Ddesa,.

(B)
5ªed.,pág., ! O; tr.ad. Feraandode Miranda;
~1.i:..1...c,.l'\. ROSA. Novo Dicionário de

Processo Civil, 1986, pág. 46; D.. T.Knri ·DO· rn,~n


~- .

· · . ,et11~m::,,~, srur,
(14} IDEM,A Voz da Tog-.i, 1983;
15) WJLUAM SHAKESPEARE, Hamlet, ato R~a.Boa Vista, 51 e 57
ll. cena U; lni.d. Carlos ~ Nunes; .Fone.:. 239-5744r. 269/305
( ! 6) Arte Poética, v. )35. Em vulgar: Sê breve
eagr.ad,u~;
(17) Nova Floresta, 1726, t. J'V, pág. 420

CARLOS BIASOTTI ~ É advogado


criminalista e ex~presíden:te da
ACR.IMESP

10 D/GESTO ECONÔMICO- MAIOIJIJNH0/93

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