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Mestranda do PPG em Direito da UFSM.
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Mestranda do PPG em Direito da UFSM, Bolsista Capes.
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Professor Adjunto da Faculdade Nacional de Direito/UFRJ, Professor Colaborador do PPG
em Direito da UFSM.
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1 O termo grafismos urbanos, inicialmente utilizado por Pennachin (2003), busca denominar
a prática híbrida da grafitagem e da pixação, denotando uma inter-relação entre as duas
atividades. Utiliza-se o termo devido à dificuldade de se entender ambas as práticas com
determinação específica.
2 Por uma opção estética e política, a grafia do termo, no texto, será aquela usada pelos
pixadores, com “x” ao invés de “ch”, marcando um ato de subversão linguística.
3 No relato de Miotto, jornalista de um veículo da mídia alternativa de Santa Maria, na
“Operação Cidade Limpa”, “a Polícia Civil mobilizou o contingente de 108 agentes, 12
delegados e 36 viaturas para realizar mandados de busca e apreensão contra 36 supostos
pixadores, que na divulgação prévia da ação na mídia local já figuravam como supostos
envolvidos também em roubos e furtos [...]. Nas moradias, foram apreendidos diversos
materiais que seriam indícios de prática criminosa: sprays, tintas, cadernos de desenhos
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com traços ‘suspeitos’, computadores pessoais e até portas de roupeiros figuraram lado a
lado com um revólver de calibre 32 carregado e garrafas de bebida alcoólica, aparentemente
efetivando a suposta ligação entre a violência e os pixadores. Sprays, cadernos e diversos
materiais com tags (nome dado às assinaturas feitas por grafiteiros e pixadores) ou traços
‘suspeitos’ ocuparam na mídia local o mesmo espaço que se costuma dar aos quilos de
drogas, lotes de produtos contrabandeados ou arsenais bélicos apreendidos em operações
policiais convencionais” (Miotto, 2012:[s.p.]).
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4 Apesar de a escolha dos entrevistados ter ocorrido devido à atividade artística ou à profissão
exercida junto aos Poderes Públicos (Executivo, Legislativo ou Judiciário), as suas opiniões
pessoais não refletem um posicionamento institucional.
5 Grafiteiro, pintor, artista gráfico e artista de rua. Diversas são as definições para os agentes
das intervenções urbanas; entretanto, algumas delas são criminalizadas e outras não. A
questão da consensualidade e a divergente noção de “valorização” do espaço são as que
mais pesam em relação ao julgamento dessas práticas.
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(Grafismos Urbanos em imóvel particular e imóvel público, em Santa Maria. Fonte: Arqui-
vo pessoal Márcia Samuel Kessler)
Tem várias coisas simbólicas que estão atrás do fundo do debate. Não é só
a questão do risco do menino, do jovem, do adolescente, rebelde. Não, não,
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ço. Deixar uma mensagem por meio da pixação pode significar a oportunidade
de concretizar um diálogo que não foi possibilitado no ambiente da urbe.
(Grafismos Urbanos em Santa Maria. Em um muro público, a mensagem “Faça a sua par-
te”. Em um prédio particular, a mensagem: “2,60 é roubo”, referindo-se ao preço das pas-
sagens urbanas na cidade. Fonte: Arquivo pessoal Márcia Samuel Kessler)
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Não tem nada de forma artística. Isso nada mais é do que um estragar [...]
quando é privado ainda perde a pessoa que tem o bem. Quando é público,
perde toda a comunidade. (Entrevistado 2)
(Estêncil de 242 “corpos” em frente à “Boate Kiss”, Santa Maria. Fonte: noticias.uol.com.br)
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você pagou por aquilo, porque você tem autorização para estar lá. Então, essa
balela de cidade limpa, de poluição visual, é mentira” (Miotto, 2012:[s.p.]).
Segundo Miotto, é fundamental lembrar que o espaço negado aos pi-
xadores é aquele ocupado pelos anúncios publicitários: “O fato de anúncios
publicitários serem pagos e, por isso, terem o respaldo da lei não anula o
espaço visual que ocupam, nem os fazem mais agradáveis ao olhar imediato:
podemos naturalizá-los, do mesmo modo que podemos naturalizar a convi-
vência com a miséria, a pobreza e a violência; apesar de banais, contudo, elas
continuam existindo” (Miotto, 2012:[s.p.]).
(Placas Publicitárias em Santa Maria. Fonte: Arquivo pessoal Márcia Samuel Kessler)
(Diferentes padrões estéticos das paradas de ônibus, no Centro de Santa Maria. Fonte:
Arquivo pessoal Márcia Samuel Kessler)
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chação, esse desenho. Então, eu acho que essa característica está tão arrai-
gada no nosso dia a dia que no meu ponto de vista isso não pode mais ser
considerado. Não tem embasamento nenhum, sob qualquer aspecto que se
analise para se considerar como uma forma de poluição. (Entrevistado 1)
referêncIas
BARATTA, Alessandro. Crimonologia crítica e crítica do direito penal: introdução à sociologia
do Direito Penal. Rio de Janeiro: Revan, 2011.
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