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Em uma manhã nublada de terça-feira, como todas as outras, Tiago abre seus olhos e
espera um pouco, tentando se lembrar de algo.Ele sabia que.aquele dia não seria como todos
os outros,não para Tiago e sua mulher:o belo casal, unido há três anos, receberia a dádiva de
serem pais.O garoto nasceria com 38 semanas de vida,muito saudável segundo os
médicos.Ele se levanta da cama radiante, acorda sua esposa e juntos, os dois se vestem para
irem até a maternidade.Chegando lá, uma manhã fria de inverno, em torno de 9 graus de
temperatura, ficou complicado para a esposa de Tiago, que ficaria vestida em apenas uma
daquelas roupas de hospital,que deixam à vista as pernas e os braços,onde entra um vento
gelado .Com os médicos e as enfermeiras prontos, a esposa de Tiago foi chamada para o
parto.Na mesma hora, ela meio aflita se volta para o marido e olha em seus olhos, dizendo
com um tom de insegurança:
-Tiago, você está pronto?
-Pronto para quê?o que você quer dizer exatamente?-respondeu Tiago, não
entendendo a pergunta.
-Pronto para o que virá depois, daqui para frente...-disse sua esposa já com lágrimas
nos olhos.
-Ah sim, nós seremos pais, isso é muito bom não é verdade?
-Sim, amor.Mas prometa uma coisa, uma única coisa para mim...
Os médicos e as enfermeiras já estavam ficando irritados, quando Tiago perguntou o
que sua esposa queria.E ela respondendo com uma lágrima descendo até a boca:
-Prometa que cuidará do Pedrinho, prometa que cuidará do nosso filho!-ela já falava
passando a mão na barriga.
-É claro que cuidarei.Eu estou pronto desde o dia em que te conheci, desde o momento
em que casei com você, desde o momento em que planejamos ter um filho, desde o momento
em que você confirmou sua gravidez, desde hoje de manhã.Mas espere um pouco...,você
também não vai cuidar dele?Sua pergunta é tão estranha...
Ela olhava os médicos que observavam o relógio e já batiam pé indicando nervos,
quando beijou seu marido e, limpando duas lágrimas ao mesmo tempo respondeu com a voz
abafada pelo choro:
-Sim, sim, eu sempre estarei observando aonde ele vai e como vai.Não se preocupe
amor.Se nos casamos ontem, eu digo para você até amanhã querido.Até logo!-ela abraçou
seu esposo e correu para a direção dos médicos que já não agüentavam mais.
-Ei querida, espere o que você quis dizer com até amanhã?-questionou Tiago com um
tom confuso.Sua mulher se vira e olha para trás e exclama com um sorriso no rosto e com os
olhos inchados de uma vermelhidão altamente perceptível:
-Você entenderá...-Ela entrou na sala, fechou a porta e Tiago sentou-se em um banco
gelado tentando refletir sobre as palavras ditas pela esposa.
Após uma metade de hora, mais ou menos, uma enfermeira traz a criancinha que,
tampa os pequenos olhos com os frágeis “bracinhos”, escondendo-os da luz emitida por uma
lâmpada no teto do hospital.Enrolado em uma trouxa azul, é entregue ao pai que sorri
alegremente e exclama: ”Meu filho nasceu, meu filho nasceu!”.Embora não quisesse estragar
a felicidade do novo pai, a enfermeira fala com um tom meio baixo:
-A sua esposa...
-Ah sim, minha esposa, -Tiago corta a fala da enfermeira-onde ela está?
-Ela está lá dentro, mas...
-Ok, muito obrigado –a enfermeira é cortada outra vez por Tiago que vai ao encontro de
sua esposa.Ele entra na sala eufórico já começando a falar:
-Olhe querida ele não é lindo?- Tiago mal termina de falar e para estático olhando para
uma cama azul com um lençol que ia de uma ponta a outra, realçando porém a silhueta de um
corpo parado.
-Nãããão-grita Tiago de maneira que o prédio inteiro havia escutado...sua esposa
estava morta.
-O que você fez?-questiona ele voltado para o médico enfurecido já se preparando para
dar um soco com a mão direita ,a qual estava sem segurar o bebê.Ele é segurado pela mão
do médico, esse que calmamente responde:
-Eu não fiz nada, eu...-o médico se interrompe ao perceber a linguagem corporal de
Tiago, que se volta para a porta raivoso e caminha em um passo extremamente veloz, que ao
mesmo tempo não deixava o bebê cair de seus braços.O homem entra em seu carro já no
estacionamento, não sendo seguido por ninguém.Enquanto isso, o médico-cirurgião comenta
com os outros:
-É, parece que ele não sabia.
Tiago chega em casa e tira seu filho do carro já com uma mamadeira na boca
chupando-a com muita vontade.Ele entra em casa e coloca seu filho no sofá enquanto vê um
papel que era provável ter sido deixado por sua esposa.Ele vai ao encontro do papel e o
observa atentamente.Era o diagnóstico do médico de sua esposa, com uma observação que
dizia que ela tinha 93% de risco de ter uma parada cardíaca na hora do parto e vir a falecer.E
já era tarde para Tiago saber daquilo.Ele se senta ao lado do deu filho, aperta sua mãozinha
pequena, com delicadeza é claro, e começa a chorar fortemente, se contorcendo de dores
pela sua esposa.Foi assim por vários dias, Tiago se lembrava da esposa e desabava a
chorar.Aliás, foi assim por muitos anos.Alguns dias após o fato ocorrido, Tiago vai ao hospital
buscar o corpo da esposa que estava muito bem guardado e procura o médico dela:
-Doutor...
-Oh, é você caro amigo, bom te ver aqui.Deve estar muito triste não é mesmo?
-Sim doutor, há vários dias não durmo.
-Imagino.
Tiago fica alguns segundo olhando para o chão até que pergunta com tom de voz
trêmulo pelo início do choro:
-Ela sabia não é verdade?
-Sim, amigo, ela sabia que provavelmente morreria.
-Por que ela não me contou?
-Filho, ela queria salvar o filho de vocês!Ela se ofereceu para morrer pelo filho.Foi uma
linda atitude.
-É verdade, mas estou muito triste.O senhor sabe... era minha esposa, minha
companheira.Tenho que ir, mas obrigado por guardar o corpo doutor, obrigado mesmo!
-Não foi nada Tiago.Cuide bem do seu filho está bem?Qualquer coisa é só me chamar.
-Sim doutor, vou cuidar, até mais.
-Até.
Tiago sai do hospital e vai até uma funerária acertar o funeral de sua esposa.Após tudo
certo, ele vai até a casa de sua mãe buscar o filho com quem havia deixado.Dali a cinco dias
ocorreu o funeral de sua esposa.Tiago educava seu filho com a maior dedicação, não queria
perdê-lo.Sempre ensinava-o conforme a lei das pessoas e os hábitos humanos.