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(a)
(c)
(b)
Figura 1 – Possíveis movimentos de uma fundação (a) recalque absoluto (S), (b) recalque diferencial (Δ) e (c)
distorções angulares (tg θ, tg β) (ABNT, 2010).
Uma análise baseada na mecânica dos solos clássica, não leva em conta a parcela de
resistência aos recalques oferecida pela inércia da superestrutura, bem como as interações
entre a super e a infra-estrutura. Estas interações começaram a ser estudadas no Brasil, na
década de 50 e posteriormente por vários autores, dentre eles, Chamecki (1956), Barata (1986)
e Gusmão (1990) (ver Gusmão Filho, 1998 e Oliveira et al., 2002) de forma a ser conhecida
como Interação Solo-Estrutura (ISE). Segundo Gusmão Filho (1998), este mecanismo
controla o desempenho dos edifícios e consiste na interação entre as três partes da edificação:
a superestrutura, a infra-estrutura (ou fundação) e o maciço de solo ou rocha. O autor comenta
ainda que este efeito normalmente seja desprezado nos projetos de engenharia, apesar de sua
relevância.
Com base nas informações citadas anteriormente é possível estudar a forma como os
recalques se processam em uma estrutura. Os corpos deformáveis quando submetidos a
esforços externos, tendem a se reorganizar. À curva definida pelos deslocamentos verticais em
relação à posição de origem, representados no plano em que ocorrem dá-se o nome de
Deformada. Esta, para o caso das fundações, depende como foi visto, da rigidez da peça de
fundação, da rigidez da superestrutura, e dos parâmetros de deformabilidade do solo.
Ao se imaginar que os recalques estimados em fase de projeto, ou os medidos durante
ou posteriormente à implantação da obra, compõem uma amostra representativa do
desempenho da edificação, pode-se imaginar uma distribuição de freqüência dos recalques. De
forma que segundo Gusmão (1990) esta distribuição se aproxima da distribuição normal. Esta
pode ser inteiramente descrita por seu desvio padrão e média. O autor ainda comenta que
existe uma tendência da dispersão da curva de freqüência dos recalques absolutos diminuir ao
se considerar os efeitos da interação solo-estrutura. A Figura 2 ilustra este comentário.
Os métodos utilizados para o presente trabalho têm por finalidade avaliar a mudança na
resposta que o solo oferece a partir de incrementos de rigidez da placa de fundação, uma vez
que para isto fez-se variar a espessura do radier. Para tanto foi adotado um perfil de subsolo
hipotético, bem como uma geometria da placa e um cenário de carregamento contendo as
solicitações externas. O método de cálculo se baseia na solução da Teoria da Elasticidade
calculada ponto a ponto da fundação, por meio do Método dos Elementos Finitos.
Foram calculados os recalques de uma placa quadrada de lado 10m, assente sobre uma
camada de areia pura de 10m, para as espessuras de 0,15m, 0,25m, 0,40m e 0,50m.
Segundo Velloso & Lopes (2004), para análise de radier são possíveis dois modelos
aplicáveis ao método dos elementos finitos (MEF). Um modelo considera o radier sendo
representado por elementos de placa, e o solo por molas (Hipótese de Winkler). E outro onde
o solo é representado pela associação de vários elementos sólidos.
Ainda segundo os autores, o Método é normalmente utilizado através de programas
comerciais. Podendo ser para análises bi e tridimensionais de estruturas. Da mesma forma o
presente trabalho, utilizou o programa ELPLA (Elastic Plate) desenvolvido na Alemanha pelo
professor Manfred Kany e co-autores. Este software, por meio de princípios baseados nos
Métodos descritos, obtém pressões de contato sobre a placa, esforços solicitantes, coeficiente
de reação vertical do subsolo e principalmente os valores de recalques, ver Figura 3.
Foi considerado um perfil hipotético com duas camadas, inicialmente uma areia pura com
módulo de deformabilidade ou de Young igual a 10.000 kN/m², peso específico igual a 18
kN/m³ e coeficiente de Poisson igual a 0,3; e por fim uma camada indeslocável, conforme
Figura 4. Foi considerado nível de água igual ao nível do terreno.
Adotou-se uma placa quadrada de lado igual a 10 m, com uma carga distribuída de 40
kN/m², representando 04 (quatro) pavimentos de elevação (10 kN/m² para cada pavimento).
Para as análises do desempenho do radier foi levado em consideração o peso próprio da
fundação. A placa foi discretizada em elementos quadrados de 1m de lado. Totalizando 121
nós (Figura 5).
Com base na metodologia descrita no item anterior, obtiveram-se os resultados das análises
que são apresentados de forma sintética por meio da Tabela 1, a qual apresenta os recalques
médios, máximos e mínimos, bem como o desvio padrão e o coeficiente de variação
encontrados.
Da análise dos resultados pode-se observar que, com o aumento da espessura do radier, o
recalque médio tende a aumentar. Fato que também é observado para os recalques máximo e
mínimo. Por outro lado, com o incremento da espessura o desvio padrão da amostra de
recalques estimados, tende a diminuir.
Tabela 1 – Resultado de recalques (médio, máximo e mínimo), desvio padrão e coeficiente de variação obtidos.
2.2
3,50 y = 0,1851x-1,4851
R2 = 0,9852
3,00
2
Coeficiente de Variação [%]
Recalque (cm)
2,50
2,00
1.8
1,50
1.6 1,00
0,50
0.1 0.2 0.3 0.4 0.5
Espessura da placa (m) 0,00
Recalque Médio 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6
Recalque Máximo
Espessura (m)
Recalque Mínimo
(a) (b)
Figura 6 – Influência da rigidez da placa de fundação sobre os recalques e coeficiente de variação.
Uma das utilidades do software de elementos finitos consiste na possibilidade de estudar-se
uma seção transversal da peça de fundação. Desde pressões de contatos e momentos internos,
até a deformada do radier em uma dada seção. A partir dessa ferramenta foram coletadas as
deformadas da placa para a seção central do radier (y = 5m). Os referidos diagramas de
recalques são apresentados por meio da Figura 7.
Figura 7 – Recalque versus coordenada do radier, para as espessuras (a) 0,15m, (b) 0,25m, (c) 0,40m, (d) 0,50m.
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REFERÊNCIAS
ABNT, Projeto e Execução de Fundações. NBR 6122, Rio de Janeiro, Brasil, 2010.
Gusmão Filho, J.A. Fundações: do Conhecimento Geológico à Prática da Engenharia. Ed. da
UFPE, Recife, 1998.
Gusmão, A. D. Estudo da Interação Solo-Estrutura e sua Influência em Recalques de
Edificações, Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil, COPPE/UFRJ, Rio de
Janeiro, Brasil, 1990.
Gusmão, A. D. Prática de Fundações no Recife. Geotecnia no Nordeste. Gusmão, A. D.,
Gusmão Filho, J. A., Oliveira, J. T. R., Maia, G. B. (Orgs). Editora da UFPE, Recife,
2005.
Oliveira, J. T. R.; Gusmão, A. D.; Araújo, A. G. Comportamento Tensão-Deformação das
Fundações Superficiais de Três Edifícios Monitorados – XII Congresso Brasileiro de
Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica, Vol.3:1701-1711 – São Paulo, 2002.
Velloso, D. A., Lopes, F.R., Fundações – Critérios de Projeto, Investigação do Subsolo,
Fundações Superficiais, Ed. Oficina de Textos, São Paulo, Brasil, 2004.