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INFLUENCE OF THE STIFFNESS OF THE SLAB FOUNDATION ON

DEFORMED OF THE SETTLEMENTS

Pedro Eugenio Silva de Oliveiraa, Joaquim Teodoro Romão de Oliveirab


a
GUSMÃO ENGENHEIROS ASSOCIADOS LTDA – Av. Min. Marcos Freire, 1651 – Olinda – PE.
F.: 081 – 8697-5429 – pedro@gusmao.eng.br
b
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO – Av. Min. Marcos Freire, 1651 – Olinda – PE.
F.: 081 – 9172-6402 – jtrdo@uol.com.br

Keywords: Soil Structure Interation, Mat Foudations, Geotecnics.

Resumo. Com a reinauguração de programas federais de habitação, onde as principais


construções são edifícios de poucos pavimentos, se faz necessária a revisão da técnica da boa
engenharia para viabilizar tais obras de pequeno porte. Uma vez que sua rentabilidade
econômica se dá apoiada sobre dois pilares: capacidade de replicação e conseqüente
produtividade. Principalmente para solos de baixa capacidade de carga ou de grande
deformabilidade (como, por exemplo, argilas orgânicas) é imprescindível a análise por parte
do engenheiro projetista do caráter e perfil da fundação proposta como solução do problema.
Então a transferência de carga da obra para o subsolo pode ser realizada por meio de um radier
(uma placa de fundação que absorveria todos, ou grande parte, dos esforços da obra). No
presente artigo, utilizou-se um software baseado no Método dos Elementos Finitos para variar
a rigidez (espessura) da placa com o intuito de analisar a propagação de recalques na mesma.
Foram realizadas avaliações de como esse incremento de rigidez influencia nos recalques
máximo, médio e mínimo, desvio-padrão e curva normal obtida a partir dos recalques nodais.
Conclui-se que com o aumento da espessura do radier, a concavidade da deformada de
recalque diminui.
1 INTRODUÇÃO E REVISÃO DA LITERATURA

Com o aquecimento da economia e conseqüente efervescência construtiva a demanda por


novas áreas possíveis de serem construídas cresce continuamente. Este fato acarreta a escassez
de terrenos com subsolo de maior capacidade de carga. Por outro lado a adoção
governamental de programas populares de habitação incentiva a indústria da construção civil a
engenhar sistemas estruturais de alta produtividade e menor custo visando otimizar os
processos envolvidos para a execução de tais empreendimentos. Surge neste contexto a
necessidade de viabilizar um sistema de fundação capaz de se enquadrar aos dois problemas, a
probabilidade de projetar sobre solos com menor capacidade de suporte e a urgência dos
prazos proporcionando assim a produtividade desejada para que tal tipo construtivo se
viabilize.
Com o intuito de atender a estas premissas, é possível prever um sistema de transferência
das cargas e esforços oriundos da estrutura do edifício (super estrutura) ao subsolo (infra
estrutura) por meio de uma placa de concreto armado, semelhante a uma laje, chamada de
radier. Este, por ter maior dimensão que as sapatas isoladas, transfere menor carga para o
subsolo da obra. Por outro lado, tem grande capacidade de replicação e facilidade de
execução. De forma que estas características o tornam uma solução possível para o contexto
das pequenas construções (programas governamentais).
Durante o desenvolvimento de um projeto de fundação em radier o projetista deve estar
atento para, dentre outros fatores, os movimentos verticais (chamados, na Mecânica dos Solos
e Engenharia Geotécnica, de Recalques), decorrentes da deformação do maciço de solo, e as
rotações do sistema (analogamente chamadas de Distorções).
Segundo Burland & Wroth (1974), citado por Gusmão (1990), pode-se definir recalque
absoluto como sendo o deslocamento vertical descendente de um ponto discreto da fundação.
Já o recalque diferencial é definido pelos autores como a diferença entre os recalques
absolutos de dois diferentes pontos. A norma brasileira de fundações ABNT, 2010 apresenta
uma Figura esquemática que mostra os movimentos possíveis de uma fundação (Figura 1).

(a)

(c)
(b)

Figura 1 – Possíveis movimentos de uma fundação (a) recalque absoluto (S), (b) recalque diferencial (Δ) e (c)
distorções angulares (tg θ, tg β) (ABNT, 2010).
Uma análise baseada na mecânica dos solos clássica, não leva em conta a parcela de
resistência aos recalques oferecida pela inércia da superestrutura, bem como as interações
entre a super e a infra-estrutura. Estas interações começaram a ser estudadas no Brasil, na
década de 50 e posteriormente por vários autores, dentre eles, Chamecki (1956), Barata (1986)
e Gusmão (1990) (ver Gusmão Filho, 1998 e Oliveira et al., 2002) de forma a ser conhecida
como Interação Solo-Estrutura (ISE). Segundo Gusmão Filho (1998), este mecanismo
controla o desempenho dos edifícios e consiste na interação entre as três partes da edificação:
a superestrutura, a infra-estrutura (ou fundação) e o maciço de solo ou rocha. O autor comenta
ainda que este efeito normalmente seja desprezado nos projetos de engenharia, apesar de sua
relevância.
Com base nas informações citadas anteriormente é possível estudar a forma como os
recalques se processam em uma estrutura. Os corpos deformáveis quando submetidos a
esforços externos, tendem a se reorganizar. À curva definida pelos deslocamentos verticais em
relação à posição de origem, representados no plano em que ocorrem dá-se o nome de
Deformada. Esta, para o caso das fundações, depende como foi visto, da rigidez da peça de
fundação, da rigidez da superestrutura, e dos parâmetros de deformabilidade do solo.
Ao se imaginar que os recalques estimados em fase de projeto, ou os medidos durante
ou posteriormente à implantação da obra, compõem uma amostra representativa do
desempenho da edificação, pode-se imaginar uma distribuição de freqüência dos recalques. De
forma que segundo Gusmão (1990) esta distribuição se aproxima da distribuição normal. Esta
pode ser inteiramente descrita por seu desvio padrão e média. O autor ainda comenta que
existe uma tendência da dispersão da curva de freqüência dos recalques absolutos diminuir ao
se considerar os efeitos da interação solo-estrutura. A Figura 2 ilustra este comentário.

Figura 2 – Distribuição de frequência de recalque, Gusmão (1990).

O presente trabalho tem como objetivo analisar a influência do aumento da rigidez da


fundação sobre a deformada da mesma. E conseqüentemente sobre a distribuição de
freqüência dos recalques.
2 METODOLOGIA

Os métodos utilizados para o presente trabalho têm por finalidade avaliar a mudança na
resposta que o solo oferece a partir de incrementos de rigidez da placa de fundação, uma vez
que para isto fez-se variar a espessura do radier. Para tanto foi adotado um perfil de subsolo
hipotético, bem como uma geometria da placa e um cenário de carregamento contendo as
solicitações externas. O método de cálculo se baseia na solução da Teoria da Elasticidade
calculada ponto a ponto da fundação, por meio do Método dos Elementos Finitos.
Foram calculados os recalques de uma placa quadrada de lado 10m, assente sobre uma
camada de areia pura de 10m, para as espessuras de 0,15m, 0,25m, 0,40m e 0,50m.

2.1 Método dos Elementos Finitos

Segundo Velloso & Lopes (2004), para análise de radier são possíveis dois modelos
aplicáveis ao método dos elementos finitos (MEF). Um modelo considera o radier sendo
representado por elementos de placa, e o solo por molas (Hipótese de Winkler). E outro onde
o solo é representado pela associação de vários elementos sólidos.
Ainda segundo os autores, o Método é normalmente utilizado através de programas
comerciais. Podendo ser para análises bi e tridimensionais de estruturas. Da mesma forma o
presente trabalho, utilizou o programa ELPLA (Elastic Plate) desenvolvido na Alemanha pelo
professor Manfred Kany e co-autores. Este software, por meio de princípios baseados nos
Métodos descritos, obtém pressões de contato sobre a placa, esforços solicitantes, coeficiente
de reação vertical do subsolo e principalmente os valores de recalques, ver Figura 3.

Figura 3 - Exemplos de ilustrações de saída do software (curvas de isorecalque e deformada do radier –


Espessura da placa e = 0,15 m).
2.2 Perfil de Solo Considerado

Foi considerado um perfil hipotético com duas camadas, inicialmente uma areia pura com
módulo de deformabilidade ou de Young igual a 10.000 kN/m², peso específico igual a 18
kN/m³ e coeficiente de Poisson igual a 0,3; e por fim uma camada indeslocável, conforme
Figura 4. Foi considerado nível de água igual ao nível do terreno.

Figura 4 – Perfil de solo considerado.

2.3 Carregamento e geometria adotados

Adotou-se uma placa quadrada de lado igual a 10 m, com uma carga distribuída de 40
kN/m², representando 04 (quatro) pavimentos de elevação (10 kN/m² para cada pavimento).
Para as análises do desempenho do radier foi levado em consideração o peso próprio da
fundação. A placa foi discretizada em elementos quadrados de 1m de lado. Totalizando 121
nós (Figura 5).

Figura 5 – Dimensões e carregamento da placa.


3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Com base na metodologia descrita no item anterior, obtiveram-se os resultados das análises
que são apresentados de forma sintética por meio da Tabela 1, a qual apresenta os recalques
médios, máximos e mínimos, bem como o desvio padrão e o coeficiente de variação
encontrados.
Da análise dos resultados pode-se observar que, com o aumento da espessura do radier, o
recalque médio tende a aumentar. Fato que também é observado para os recalques máximo e
mínimo. Por outro lado, com o incremento da espessura o desvio padrão da amostra de
recalques estimados, tende a diminuir.

Tabela 1 – Resultado de recalques (médio, máximo e mínimo), desvio padrão e coeficiente de variação obtidos.

RECALQUE RECALQUE RECALQUE DESVIO COEFICIENTE


ESPESSURA
MÁXIMO MÉDIO MÍNIMO PADRÃO DE VARIAÇÃO
(m)
(mm) (mm) (mm) (mm) [%]

0,15 1,79 1,74 1,60 0,50 2,87


0,25 1,88 1,84 1,77 0,30 1,63
0,40 2,02 1,99 1,96 0,15 0,75
0,50 2,11 2,10 2,08 0,10 0,48

Outro fato interessante observado da análise consiste na diminuição do coeficiente de


variação com o aumento da rigidez da placa de fundação. Esta redução de valor indica que o
desvio padrão apresenta decrescimento mais elevado do que o crescimento do recalque médio.
A Figura 6 ilustra o crescimento linear dos recalques, em contraposição ao decrescimento
exponencial do coeficiente de variação. Ainda vale salientar que os recalques máximo e
mínimos tendem a convergir para o recalque médio com o aumento da rigidez da peça de
fundação.

2.2
3,50 y = 0,1851x-1,4851
R2 = 0,9852
3,00
2
Coeficiente de Variação [%]
Recalque (cm)

2,50

2,00
1.8
1,50

1.6 1,00

0,50
0.1 0.2 0.3 0.4 0.5
Espessura da placa (m) 0,00
Recalque Médio 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6
Recalque Máximo
Espessura (m)
Recalque Mínimo
(a) (b)
Figura 6 – Influência da rigidez da placa de fundação sobre os recalques e coeficiente de variação.
Uma das utilidades do software de elementos finitos consiste na possibilidade de estudar-se
uma seção transversal da peça de fundação. Desde pressões de contatos e momentos internos,
até a deformada do radier em uma dada seção. A partir dessa ferramenta foram coletadas as
deformadas da placa para a seção central do radier (y = 5m). Os referidos diagramas de
recalques são apresentados por meio da Figura 7.

Figura 7 – Recalque versus coordenada do radier, para as espessuras (a) 0,15m, (b) 0,25m, (c) 0,40m, (d) 0,50m.

Da observação da Figura 7, verifica-se que, para todas as geometrias da placa


consideradas, a forma da deformada apresenta concavidade para cima. De forma que, com o
aumento da espessura do radier, esta concavidade tende a diminuir. Para as espessuras de
0,15m e 0,25m o recalque máximo não se processa no meio da fundação. Fato explicado pelo
comportamento da placa, para estas duas situações, se assemelhar ao de uma peça flexível.
Devido à espessura mais elevada para as outras duas situações, os recalques do radier se
processam de forma a aproximar o desempenho do mesmo ao de uma peça rígida onde todos
os recalques são iguais.

3.1 Flexibilidade x Rigidez

Um comportamento rígido perfeito indicaria o mesmo deslocamento vertical de todos os


nós da placa. Isto é, o desvio padrão da amostra da variável recalque seria nulo. Ainda neste
raciocínio, o recalque de um nó contido em uma peça flexível, refletiria integralmente a ação
nodal a que está submetido. De forma que cada nó apresentaria deslocamento vertical
diferente dos demais.
A partir dos resultados de desvio padrão e recalque médio, admitindo-se que a distribuição
dos recalques se dá por meio da distribuição de probabilidade normal, é possível traçar-se as
curvas normais para cada distribuição referente às 4 (quatro) situações estudadas, conforme
Figura 8.
Nota-se que com o aumento da rigidez da peça de fundação a curva normal tende a ser
mais fechada, apresentando menores amplitudes decorrentes de limites superiores e inferiores
mais próximo da média.
40
Probabilidade Normal (%)

30

20

10

1.6 1.8 2 2.2


Recalque (cm)
e = 0,15m
e = 0,25m
e = 0,40m
e = 0,50m

Figura 8 – Curvas normais referentes às 4 situações estudadas.


4 CONCLUSÕES

Pode-se concluir que:

 Com o aumento da espessura do radier o recalque médio aumenta. Fato que


também é observado para os recalques máximo e mínimo.
 Por outro lado, com o incremento da espessura o desvio padrão da amostra de
recalques estimados, tende a diminuir.
 Com o aumento da espessura do radier, a concavidade da deformada de recalque
diminui.
 Ocorre o crescimento linear dos recalques, em contraposição ao decrescimento
exponencial do coeficiente de variação, com o aumento da espessura da placa.
Ainda vale salientar que os recalques máximo e mínimo tendem a convergir para o
recalque médio com o aumento da rigidez da peça de fundação.
 A curva de distribuição de probabilidade normal dos recalques torna-se mais
fechada pela diminuição do coeficiente de variação, corroborando conclusões já
apresentadas na literatura.

REFERÊNCIAS

ABNT, Projeto e Execução de Fundações. NBR 6122, Rio de Janeiro, Brasil, 2010.
Gusmão Filho, J.A. Fundações: do Conhecimento Geológico à Prática da Engenharia. Ed. da
UFPE, Recife, 1998.
Gusmão, A. D. Estudo da Interação Solo-Estrutura e sua Influência em Recalques de
Edificações, Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil, COPPE/UFRJ, Rio de
Janeiro, Brasil, 1990.
Gusmão, A. D. Prática de Fundações no Recife. Geotecnia no Nordeste. Gusmão, A. D.,
Gusmão Filho, J. A., Oliveira, J. T. R., Maia, G. B. (Orgs). Editora da UFPE, Recife,
2005.
Oliveira, J. T. R.; Gusmão, A. D.; Araújo, A. G. Comportamento Tensão-Deformação das
Fundações Superficiais de Três Edifícios Monitorados – XII Congresso Brasileiro de
Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica, Vol.3:1701-1711 – São Paulo, 2002.
Velloso, D. A., Lopes, F.R., Fundações – Critérios de Projeto, Investigação do Subsolo,
Fundações Superficiais, Ed. Oficina de Textos, São Paulo, Brasil, 2004.

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