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Curso da Fazenda Pública em Juízo

Prof. Ubirajara Casado


Advogado da União, Procurador Seccional da União e fundador da EBEJI
@uscasado

Prerrogativas Processuais da Fazenda: necessidade, prevalência do interesse público,


prazos.

NECESSIDADE E PREVALÊNCIA DO INTERESSE PÚBLICO

a. O que são prerrogativas processuais?

São tratamentos especiais conferidos a uma das partes do processo visando o


adimplemento de valor jurídico maior capaz de afastar a isonomia processual.

b. Isonomia processual.

i. regra geral:
CPC. Art. 125. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código,
competindo-lhe:
I - assegurar às partes igualdade de tratamento;

ii. exceções mais comuns:

ÔNUS DA IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA

Art. 302. Cabe também ao réu manifestar-se precisamente


sobre os fatos narrados na petição inicial. Presumem-se
verdadeiros os fatos não impugnados, salvo:
I - se não for admissível, a seu respeito, a confissão;
II - se a petição inicial não estiver acompanhada do instrumento
público que a lei considerar da substância do ato;
III - se estiverem em contradição com a defesa, considerada
em seu conjunto.
Parágrafo único. Esta regra, quanto ao ônus da impugnação
especificada dos fatos, não se aplica ao advogado dativo,
ao curador especial e ao órgão do Ministério Público.

INTERESSE DE INCAPAZ

Art. 82. Compete ao Ministério Público intervir:


I - nas causas em que há interesses de incapazes;

Art. 83. Intervindo como fiscal da lei, o Ministério Público:


(...)
II - poderá juntar documentos e certidões, produzir prova em
audiência e requerer medidas ou diligências necessárias ao
descobrimento da verdade.

c. Fazenda Pública

i. prerrogativas (posição diferenciada) x privilégios (vantagens desprovidas de


fundamentos)
ii. situação processual diferenciada
iii. constitucionalidade das regras de prerrogativas

d. Interesse Público

i. princípio da supremacia do interesse público como alicerce de todo direito público.


ii. relevância do interesse público para a Fazenda Pública.
iii. interesse público não é somatório dos interesses particulares.
iv. Maris Sylvia Zanella di Pietro diz que “o interesse público inspira o legislador e vincula
a autoridade administrativa em toda a sua atuação.”
v. Fazenda Pública como preservadora do interesse público.

e. Necessidade de Prerrogativas Processuais

i. posição diferenciada no processo.


ii. o erário, pertencente à toda coletividade, como objeto de proteção da Fazenda Pública
na sua atuação processual.
iii. burocracia inerente à atividade administrativa com dificuldade de ter acesso aos fatos,
elementos e dados que envolvem a pretensão autoral.
iv. volume de trabalho superior ao causídico particular.
v. impossibilidade de declinar a defesa de uma causa, contrariamente aos particulares.

PRAZOS PROCESSUAIS

a. Conceito
Lapso temporal destinado à pratica de determinado ato processual, sob pena de
preclusão temporal.

b. Prazos próprios e impróprios


i. próprios: uma vez desobedecidos provocam preclusão.
ii. impróprios: uma vez desobedecidos não provocam preclusão.

c. Prazos legais, judiciais e convencionais


i. legais: fixados por lei
ii. judiciais: na ausência de lei, fixados pelo juiz, cuja insurreição gera o recurso de
agravo.
iii. convencionais: fixados de comum acordo, pelas partes, a exemplo da suspensão
processuais.

d. Art. 188 do CPC.

CPC Art. 188. Computar-se-á em quádruplo o prazo para contestar e em dobro para
recorrer quando a parte (cuidado!) for a Fazenda Pública ou o Ministério Público.

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i. interpretação restrita do art. 188 do CPC (contestar e recorrer).

ii. Aplicação:
a. aplica-se a qualquer procedimento: ordinário, sumário, especial, cautelar, execução
(cuidado: embargos à execução)

b. aplica-se apenas aos atos legais e não aos judiciais


c. aplica-se quando a Fazenda Pública é parte, interveniente, terceiro ou assistente.

iii. Não aplicação:


a. quando há regra específica fixando prazo próprio, como ocorre no prazo de 20 dias
para contestar ação popular.

b. não se aplica, ainda, aos Juizados Especiais Cíveis Federais.

c. Petições por meio eletrônico ou por fac-símile (entrega dos originais)


PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. PETIÇÃO VIA
FAC-SÍMILE. PRAZO DO ARTIGO 2º DA LEI 9.800/99.
QUARTA-FEIRA DE CINZAS. AUTARQUIA ESTADUAL.
1. É intempestivo o recurso interposto via fac-símile quando
não protocolada a peça original no prazo de cinco dias contido
no artigo 2º da Lei 9.800/99.
2. Se o prazo recursal termina na quarta-feira de cinzas, de
nada importa que o expediente forense seja apenas vespertino,
desde que não encerre antes da hora normal, nos termos do
art. 184, § 1º, inciso II, do CPC. Precedentes.
3. O prazo em dobro para recorrer, previsto no art. 188 do
CPC, não se aplica à norma específica contida no art. 2° da
Lei 9.800/99, pois não constitui novo prazo recursal, mas
apenas prorrogação do termo ad quem para a juntada dos
originais.
4. Agravo regimental improvido.
(AgRg nos EDcl no Ag 833.369/SP, Rel. Ministro CASTRO
MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 24/04/2007, DJ
07/05/2007 p. 304)

d. Depósito de rol de testemunhas.


e. indicação de assistente técnico e formulação de quesitos.

f. O prazo de 3 (três) dias para apresentação da cópia do agravo e do comprovante de


sua interposição.

g. Prazo para embargos do devedor – ação incidente, não é contestação, não há prazo
em quádruplo nem tão pouco em dobro. Prazo original de 10 dias, majorado para 30 dias pela
Media Provisória nº 2.180-35/2001.

h. Controle abstrato de constitucionalidade.


STF - AG.REG.NA AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE ADI 2130 SC (STF)
Ementa: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
AJUIZADA POR GOVERNADOR DE ESTADO - DECISÃO

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QUE NÃO A ADMITE, POR INCABÍVEL - RECURSO DE
AGRAVO INTERPOSTO PELO PRÓPRIO ESTADO-MEMBRO
- ILEGITIMIDADE RECURSAL DESSA PESSOA POLÍTICA -
INAPLICABILIDADE, AO PROCESSO DE CONTROLE
NORMATIVO ABSTRATO, DO ART. 188 DO CPC - RECURSO
DE AGRAVO NÃO CONHECIDO. O ESTADO-MEMBRO NÃO
POSSUI LEGITIMIDADE PARA RECORRER EM SEDE DE
CONTROLE NORMATIVO ABSTRATO. - O Estado-membro
não dispõe de legitimidade para interpor recurso em sede
de controle normativo abstrato, ainda que a ação direta de
inconstitucionalidade tenha sido ajuizada pelo respectivo
Governador, a quem assiste a prerrogativa legal de
recorrer contra as decisões proferidas pelo Relator da
causa (Lei nº 9.868 /99, art. 4º , parágrafo único ) ou,
excepcionalmente, contra aquelas emanadas do próprio
Plenário do Supremo Tribunal Federal (Lei nº 9.868 /99, art.
26 ). NÃO HÁ PRAZO RECURSAL EM DOBRO NO
PROCESSO DE CONTROLE CONCENTRADO DE
CONSTITUCIONALIDADE. - Não se aplica, ao processo
objetivo de controle abstrato de constitucionalidade, a norma
inscrita no art. 188 do CPC , cuja incidência restringe-se,
unicamente, ao domínio dos processos subjetivos, que se
caracterizam pelo fato de admitirem, em seu âmbito, a
discussão de situações concretas e individuais. Precedente.
Inexiste, desse modo, em sede de controle normativo abstrato,
a possibilidade de o prazo recursal ser computado em dobro,
ainda que a parte recorrente disponha dessa prerrogativa
especial nos processos de índole subjetiva.

i. Estado Estrangeiro
O prazo em quádruplo para contestar e em dobro para recorrer, previsto no artigo 188 do
CPC, não se aplica ao Estado estrangeiro.
(Ag 297.723/SP, Min. Antônio De Pádua Ribeiro, Terceira Turma, julgado em
08/06/2000).

j. Prazos de suspensão de liminar, de segurança ou de tutela antecipada.


DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL
Agravo Interno em face de decisão do Presidente do Tribunal na suspensão de liminar,
de segurança ou de tutela antecipada.
STF: não aplica o 188.
STJ: aplica o 188.

e. Prazo em Quádruplo (aplica-se a todas formas de defesa)


i. aplica-se ao procedimento ordinário.

ii. aplica-se a reconvenção, uma vez que está deve ser apresentada simultaneamente à
contestação (CPC. Art 299).

iii. aplica-se às exceções de impedimento, suspensão e incompetência.

iv. Não se aplica ao procedimento sumário. Sendo o procedimento sumário, há regra


específica determinando que os prazos serão contados em dobro (art. 277 do CPC). Assim,

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quando se tratar de procedimento sumário, se a Fazenda Pública for a ré, o juiz, ao receber a
petição inicial, designará a audiência de conciliação a ser realizada no prazo de 60 dias, citando-
se a Fazenda com a antecedência mínima de 20 dias.

v. Aplica-se na ação rescisória. Na ação rescisória, o relator fixa um prazo entre 15 a


30 dias para que o réu apresente resposta (art. 491 do CPC). Se a Fazenda Pública for ré na ação
rescisória, o prazo fixado pelo Relator deverá observar o art. 188 do CPC, de modo que será
fixado entre 60 e 120 dias (STJ REsp 363.780/RS).

vi. Aplica-se na ação cautelar. Resposta em 5 dias. Fazenda Pública em 20 dias.

vi. Não é possível a cumulação do art. 188 com 191 do CPC.

O art. 191 do CPC prevê que:

Art. 191. Quando os litisconsortes tiverem diferentes


procuradores, ser-lhes-ão contados em dobro os prazos para
contestar, para recorrer e, de modo geral, para falar nos autos.

Nesse caso, o prazo da Fazenda Pública para contestar será


em quádruplo (60 dias) e o do particular será em dobro (30
dias). Vale dizer, o benefício do art. 188 não é somado ao do
art. 191. Assim, o benefício de prazo previsto no art. 188 não é
duplicado pelo fato de a Fazenda Pública estar no polo passivo
em litisconsórcio.

(...) quando a Fazenda Pública e/ou Ministério Público forem


litisconsortes, terão prazo em quádruplo para contestar e em
dobro para recorrer (art. 188 do CPC), fazendo jus ao benefício
do artigo 191 do CPC tão somente para os demais atos
processuais, não contemplados pelo artigo 188 do CPC, ou
seja, para, de modo geral, falar nos autos.
5. Entender de modo diverso seria conferir aos referidos entes
públicos (Fazenda Pública e Ministério Público) uma benesse
ainda maior, o que colocaria os particulares em extrema
desvantagem processual (...)
(AgRg no AREsp 8.510/ES, Rel. Min. Benedito Gonçalves,
Primeira Turma, julgado em 27/09/2011, DJe 30/09/2011)

f. Prazo em Dobro
i. aplica-se ao procedimento do Mandado de Segurança.

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