Você está na página 1de 7

3 - CONSCIÊNCIA IMATERIAL

A realidade última, ou irredutível, é o "Espírito‟ no sentido de Consciência Pura (Chit, Samvit), a partir

dos quais e por seu Poder (Shakti), Mente e Matéria procedem. O Espírito é um. Não há graus ou

diferenças no Espírito. O Espírito que está em um homem e o único Espírito que está em todas as

coisas e que, como objeto de adoração, é o Senhor (īshvara), ou Deus. Mente e Matéria são muitas e

de muitos graus e qualidades. Ātmā, ou Espírito, como tal, é o Todo (Pūrna) sem divisão (Akhanda).

Mente e Matéria são partes daquele Todo. Elas são o não-todo (Apūrna) e são a divisão (Khanda). O

Espírito é infinito (Aparichchhinna) e com forma (Rūpa). Ātmā é inalterável e inativo. Seu Poder (Shakti)

é ativo e muda na forma da Mente e da Matéria. A Consciência Pura é Chit, ou Samvit. A Matéria, como

tal, é o inconsciente. E a Mente também é inconsciente, de acordo com o Vedānta. Pois tudo o que não

é auto-consciente é o objeto inconsciente. Isto não significa que é inconsciente em si mesmo. Ao

contrário, tudo é, essencialmente, consciência, mas que é inconsciente porque é o objeto do auto-

consciente. A mente limita a Consciência assim como permite ao homem ter experiência finita. Não há

Mente sem consciência, como plano de fundo, embora a suprema Consciência seja sem Mente

(Amanah). Onde não há mente (Amanah), não há limitação. A consciência permanece em um aspecto

de mudanças inalteráveis em seu outro aspecto como Poder ativo manifestando-se como Mente e

Corpo. O homem, então, é Consciência Pura (Chit) veiculado por seu Poder como Mente e Corpo.

3.1 Shiva e Mahádeví

Na Teologia, esta Consciência Pura é Shiva, e Seu Poder (Shakti) que, conforme Ela está em Sua não-

forma, em Si mesma, é um com Ele. Ela é a grande Devī, a Mãe do Universo, que como a Força de

Vida reside no corpo do homem em seu centro inferior, na base da espinha, assim como Shiva está

realizado no mais elevado centro cerebral, o cérebro, o Sahasrāra Padma. A conclusão do Yoga, é a

União Dela e Dele no corpo do Sādhaka. Isto é Laya, ou dissolução, o reverso do Srishti, ou involução

do Espírito na Mente e na Matéria.

Alguns adoram, predominantemente, o lado masculino, ou direito, do conjunto macho-fêmea da figura

(Ardhanārīshvara). Alguns, os Shāktas, adoram, predominantemente, o lado esquerdo, chamando-A

Mãe, pois Ela é a Grande Mãe, a Mahādevī que concebe, suporta e nutre o universo fendido de Seu

útero (Yoni). Isto também é porque Ela é o aspecto ativo da Consciência, imaginando (Srishtikalpanā)

que o mundo seja, de acordo com as impressões (Saṁskāra) derivado do gozo e do sofrimento dos

mundos-matriz. É, naturalmente assegurado, a adoração Dela como Mãe. O primeiro mantra no qual

todos os homens são iniciados é a palavra Mā (Mãe). É sua primeira palavra e, geralmente, a última.

O pai é um mero ajudante (Sahakāri-mātra) da Mãe. O mundo inteiro dos cinco elementos também

saltam da Consciência Ativa, ou Shakti, e é Sua manifestação (Pūrna-vikāsha). Portanto, os homens


adoram a Mãe, que não tem nenhum outro concorrente, saudando a beleza Dela como a Tripurasundarī

rosea, a fonte do universo, e a grandeza imponente como Kālī, que o leva de volta para Si mesma.

Aqui, estamos ocupados com o Yoga, que é a realização da união dos aspectos da Mãe e do Senhor

naquele estado de consciência que é o Absoluto.

3.2 Sat-Chit-Ananda
Os Vedas dizem: “Tudo isto (ou seja, o mundo manifesto) é (o único) Brahman (Sarvam Khalvidam
Brahma)". Como os muitos podem ser um é variavelmente explicado por diferentes escolas. A
interpretação dada aqui é aquela contida nos Tantras Shākta, ou Āgamas.
Em primeiro lugar, o que é uma Realidade que surge como muitas? O que é a natureza de Brahman
como em sim mesmo é (Svarūpa)? A resposta é Sat-Chit-Ānanda – ou seja, Ser-Consciência-Bem-
aventurança. Consciência, ou sentimento, tal como (Chit ou Samvit), é idêntico com o Ser, como tal.
Embora na experiência comum os dois estejam, essencialmente unidos, eles ainda assim divergem,
ou parecem divergir um do outro. Os homens, por sua constituição, arraigadamente, acreditam em uma
existência objetiva além e independente de si mesmo. E é, tal objetividade que, embora, sendo Espírito
corporificado (Jīvātmā), sua consciência está velada ou contraída por Māya. Mas no último alicerce da
experiência, que é o Supremo Espírito (Paramātmā), a divergência se vai, pois nela se encontram, em
massa indiferenciada, o experenciador, a experiência e o experenciado.

3.2.1 Manifestações de Chit


Quando, contudo, falamos de Chit como Sentimento da Consciência, devemos lembrar que o que
sabemos e observamos, como tal, é só uma alteração limitada de manifestação de Chit, que é, em si
mesmo, o princípio infinito e imutável, que é o plano de fundo de toda experiência. O Ser Consciência
é Bem-aventurança absoluta (Ānanda), que é definida como “repousamdo no eu” (Svarūpa-vishrānti).
É Bem-aventurança porque, sendo o Todo infinito (Pūrna), ele pode ser ausência de nada. Esta
consciência bem-aventurada é a natureza última e irredutível, ou Svarūpa, como a própria forma da
única Realidade que é ambos, o Todo como o Real irredutível e a Parte como o Real redutível. Svarūpa
é a natureza de todas as coisas, como é em si mesmo, como distinguido do que pode parecer ser. A
Suprema Consciência é o Supremo Shiva-Shati (Parashiva-Parashakti), que nunca muda, mas
permanece eternamente o mesmo em todas as mudanças efetuadas em seu aspecto criativo como
Shiva-Shakti. Toda manifestação está associada com o aparente inconsciente. A mente é,
evidentemente, não uma pura, mas uma consciência limitada. O que limita deve ser alguma coisa em
si mesmo inconsciente ou, se consciente, capaz de produzir aparência da consciência. No mundo
fenomenal não existe nada absolutamente consciente nem absolutamente inconsciente. Consciência e
inconsciência estão sempre entremeadas. Algumas coisas, contudo, parecem ser mais conscientes, e
algumas mais inconscientes do que as outras. Isto é devido ao fato de que Chit, que nunca está ausente
em qualquer coisa, ainda manifesta em si mesmo em várias formas e graus. O grau desta manifestação
é determinada pela natureza e desenvolvimento da mente e do corpo no qual ela é consagrada. O
Espírito permanece o mesmo; a mente e o corpo mudam. A manifestação da consciência é mais ou
menos limitada conforme ascende do mineral ao homem. No mundo mineral, Chit se manifesta como
a forma inferior da senciência, evidenciada pelo reflexo responsável ao estímulo, e aquela consciência
física que no Ocidente é chamada de memória atômica. A senciência das plantas é mais desenvolvida,
embora seja, como Chakrapāni diz no Bhānumatī, uma consciência adormecida. Isto é ainda mais
manifesto naqueles microorganismo que são estágios intermediários entre os mundos vegetal e animal,
e que têm uma vida física própria. No mundo animal, a consciência se torna mais centralizada e mais
complexa, alcançando seu desenvolvimento pleno no homem, que possui todas as funções físicas, tais
como cognição, percepção, sentimento e vontade. Por trás de todas estas formas particulares mutáveis
de senciência, ou consciência, está a única sem-forma, inalterável Chit, como é em si mesmo
(Svarūpa), ou seja, como distinguida das formas particulares de sua manifestação.

3.3 Máyá-Shakti
Conforme Chit, em todos os estágios da vida, permanece a mesma, ela não é, em si
mesma, verdadeiramente desenvolvida. O aparente desenvolvimento é devido ao fato de
que Ela não é mais e não é menos velada, ou contraída pela Mente e pela Matéria. É este
velamento, pelo poder da Consciência (Shakti) que cria o mundo. O que é, então, que vela
a consciência e, assim, produz a experiência do mundo? A resposta é o Poder, ou Shakti
como Māyā. Māyā-Shakti é aquela que, aparentemente, faz o Todo (Pūrna) no não-todo
(Apūrna), o infinito no finito, o amorfo na forma e assim por diante. É um poder que, assim,
reduz, vela e anula. Anula o quê? A Consciência perfeita. É Shakti, em si mesma, a mesma
como ou diferente de Shiva ou Chit? Deve ser a mesma, pois, caso contrário, tudo não
poderia ser único Brahman. Mas se é a mesma, deve ser Chidrūpīnī, ser também Chit ou
Consciência. Portanto, é Sachchidānandamayī
E ainda há, pelo menos na aparência, alguma distinção. Shakti, o qual vem da raiz Shak,
“ter poder”, “ser capaz”, significa poder. Conforme Ela é um com Shiva, como o detentor
do Poder (Shaktimān), Ela, como tal Poder, é o poder de Shiva, ou Consciência. Não
hádiferença entre Shiva como o possuidor de poder (Shaktimān) e o Poder como Ela é em
Si mesma. O poder da Consciência é Consciência em seu aspecto ativo. Enquanto que,
por conseguinte, ambos, Shiva e Shakti são Consciência, o primeiro é o aspecto estático
mutável da Consciência, e Shakti é o aspecto ativo cinético da mesma Consciência. O poder
particular no qual o mundo dualístico é trazido como sendo Māyā-Shakti, o qual é, ambos,
uma dissimulação (Āvarana) e projeção (Vikshepa) de Shakti . A Consciência vela de si
para si, e projeta do reservatório de suas experiências anteriores (Saṁ skārā) a noção de
um mundo que sofre e goza. O universo é assim a imaginação criativa (Srishtikalpanā,
como é chamado) do Supremo pensador do Mundo (Īshvara). Māyā é aquele poder pelo
qual as coisas são “medidas” – ou seja, formadas e feitas conhecidas (Mīyate anayā iti
māyā). É o sentido de diferença (Bhedabuddhi), ou aquele que faz o homem perceber o
mundo e todas as coisas e as pessoas aí como diferentes de si mesmo, quando, em
essência, ele e eles são um Eu. É aquele que estabelece uma dicotomia em que, de outra
forma, seria uma experiência unitária, e é a causa do dualismo inerente em toda a
experiência fenomenal. Shakti, como ação, vela a consciência pela nulidade em vários
graus de Si mesma como Consciência.
Antes da manifestação do universo, o infinito Ser Bem-Aventurança Consciência sozinho
era – ou seja, Shiva-Shakti como Chit e Chidrūpinī, respectivamente. Esta é a Experiência-
completa (Pūrna), no qual como o Upanishad diz, “O Eu conhece e ama o Eu”. É este Amor
que é a Bem-aventurança, ou “repousando no eu”, pois, como está dito em outra parte,
“O Supremo amor é bem-aventurança” (Niratishayapremāspadatvam ānandatvam). Este
é Parashiva, que no esquema dos 36 Tattvās, é conhecido como Parasamvit.

3.4 Parasamvit e Shiva-Shakti Tattva


Este monismo postula um aspecto dual da única Consciência – um aspecto transcendental
imutável (Parasamvit), e outro o aspecto criativo mutável, que é chamado de Shiva-Shakti
Tattva. No Parasamvit, o “Eu” (Aham) e o “Este” (Idam), ou universo dos objetos, são
indistintamente misturados na experiência unitária suprema. No Shiva-Shakti Tattva,
Shakti, que é o aspecto negativo do primeiro, Ela funciona sendo a negação
(Nishedhavyapāra-rūpā Shaktih), nega a Si mesma como o objeto da experiência,
deixando Shiva consciência com um simples “Eu”, “não olhando para outro”
(Ananonmukhah ahampratyayah). Este é um estado de simples iluminação subjetiva
(Prakāsha-mātra) pelo qual Shakti, que é chamada de Vimarsha, novamente apresenta a
Si mesma, mas agora com uma distinção de “Eu” e “Este”, como ainda mantida junta como
parte de um eu.
Neste ponto, o primeiro estágio incipiente do dualismo, há a primeira transformação de
consciência, conhecida como Sadāshiva, ou Sadākhya Tattva, que é seguido pela segunda,
ou Īshvara Tattva, e, em seguida, pelo terceiro, ou Shuddavidya Tattva. Na primeira ênfase
é colocado sobre o “Este”, na segunda sobre o “Eu”, e na terceira sobre ambos, igualmente.
Então, Māyā separa a unidade da consciência assim que o objeto é percebido como outro
além do eu e, em seguida, como dividido em numerosos objetos do universo. No Mantra
secundário do Tantra Shāstra, lidando com o Mantra e sua origem, estes dois Tattvas
emanando de Shakti estão do lado do som conhecido como Nāda e Bīndu.

3.4.1 Nádá e Bīndu


Parashiva e Parāshakti são imóveis (Nihspanda) e sem som (Nihshabda). Nāda é o primeiro
movimento produzido na ideação da consciência cósmica, conduzindo ao Som-Brahman
(Shabda-brahman), de onde todas as ideias, a linguagem no qual elas são expressadas
(Shabda) e o os objetos (Artha), os quais elas denotam, são derivadas. Bīndu, literalmente,
significa um ponto, e o ponto (Anusvāra) que indica, em Sânscrito, a respiração nasal. Ele
é colocado no Chandra Bīndu, respiração nasal, acima de Nāda. Em seu sentido técnico, o
Mantra indica que o estado de Consciência ativa, ou Shakti, no qual o “Eu”, ou aspecto
luminoso da Consciência identifica-se com o total “Este”. O “Este” é subjetivo, desse modo
se tornando um ponto (Bīndu) de consciência com ele.
Quando a Consciência apreende um objeto como diferente de Si mesma, Ele vê aquele
objeto como estendido no espaço. Mas, quando aquele objeto é completamente subjetivo,
ele é experimentado como um ponto não-estendido. Esta é a experiência do universo do
Senhor-experimentador como Bīndu.
Onde é que o Universo vai na dissolução? Ele é atraído para dentro daquela Shakti que o
projetou. Ele sucumbe, por assim dizer, em um ponto matemático sem qualquer magnitude
qualquer que seja. Isto é o ShivaBīndu, que novamente é atraído para o Shiva-Shakti-
Tattva que o produziu. É concebido que, em torno de ShivaBīndu, existe enrolada a Shakti,
assim como no centro da terra do corpo humano, chamado de Mūlādhāra Chakra, uma
serpente apega-se em torno do auto-produzido Falo (Svayambhulinga). Esta Shakti
enrolada pode ser concebida como uma linha matemática, também sem grandeza, o qual,
estando em todos os lugares em contato com o ponto em torno do qual está enrolada, é
comprimida junto com ele, e forma, portanto, também um e o mesmo ponto. Existe uma
unidade indivisível de aspecto dual, o qual é figurada também nos Tantras como um grão
de grama (Chanaka), o qual tem duas sementes tão estreitamente unidas que parece uma
dentro de um invólucro.

3.5 Kundalinī-Shakti e Mahākundalī

Para reverter a primeira comparação, a Shakti enrolada em torno de Shiva, fazendo um


ponto (Bīndu) com ele, é Kundalinī-Shakti. Esta palavra vem da palavra Kundala, ou “uma
espiral”, “uma bracelete”. Ela é falada como enrolada porque Ela é como uma serpente
(Bhujangī), o qual, quando repousando e dormindo, dorme enrolada; e por causa da
natureza de Seu poder é espiralada, manifestando-Se como tal nos mundos – as esferas,
ou “ovos de Brahmā”, e em sua circular, ou órbitas giratórias, e em outras formas. Assim,
os Tantras falam do desenvolvimento da linha reta, (Rijurekhā) do ponto, o qual, quando
ele se estende como um ponto, ele volta (Vakrarekhā aṁ kushākārā) pela força do impulso
espiralado de Māyā no qual ele trabalha assim como para formar uma figura de duas
dimensões, que novamente volta sobre si mesmo, ascendendo como uma linha reta no
plano da terceira dimensão, formando, assim, a figura triangular, ou piramidal, chamada
Shrigātaka. Em outras palavras, esta Kundalī Shakti é aquela que, quando se move para
Se manifestar, aparece no universo. Dizer que ela está “enrolada” é dizer que ele está em
repouso – ou seja, na forma de uma energia potencialmente estática. Esta Shakti enrolada
em torno do Supremo Shiva é chamada Mahākundalī (“O grande poder enrolado”), distinta do mesmo
poder que existe nos corpos individuais, que é chamada de Kundaliní. E é com, e através do último
poder, que este Yoga é realizado. Quando é Kundalinī realizado, a Shakti individual (Kundalī) é unida
com a grande Shakti cósmica (Mahākundalī), e Ela com Shiva, com quem é, essencialmente, um.
Kundalinī é um aspecto do eterno Brahman (Brahmarūpā Sanātani), e é, ambos, sem atributos e com
atributos (Nirgunā e Sagunā). Em Seu aspecto Nirgunā, Ela é Consciência Pura (Chaitanyarūpinī) e
Bem-aventurança própria (Ānanda-rūpinī) e na criação (Brahmānandaprakāshinī). No Seu aspecto
Sagunā, Ela é por cujo poder todas as criaturas são expostas (Sarvabhūtaprakāshinī). Kundalīnī Shakti
nos corpos individuais é poder em repouso, ou o centro estático, em torno do qual tudo na existência,
como poder em movimento, gira. No universo há sempre dentro e por trás de cada forma de atividade
um plano de fundo estático. A Consciência única é polarizada em aspecto estático (Shiva) e aspecto
cinético (Shakti) para o propósito da “criação”.

As Escrituras Indianas dizem, nas palavras de Herbert Spencer em seu “Primeiros Princípios”, que o
universo é um desdobramento (Srishti) do homogêneo (Mūlaprakriti) ao heterogêneo (Vikriti), e volta
ao homogêneo novamente (Pralaya, ou Dissolução). Há, assim, alternados estados de evolução e
dissolução, manifestação tendo lugar depois de um período de repouso. Assim também o Professor
Huxley, em seu “Evolução e Éticas”, fala da manifestação da energia cósmica (Māyā-Shakti),
alternando entre fase de potencialidade (Pralaya) e fases de explanação (Shrishti). “Pode ser”, ele diz,
“como Kant sugere, cada magma cósmico está predestinado a evoluir para um novo mundo foi o não
menos predestinado fim de um antecessor desaparecido”. Este, o Shāstra Indiano afirma em sua
doutrina que não existe tal coisa como uma primeira criação absoluta, o presente universo sendo senão
um de uma série de mundos que são passado e virão ainda a ser.

3.6 A Criação
No momento da Dissolução (Pralaya), existe a Consciência como Mahākundalī, embora indistinguível
da sua massa geral, a potencialidade, ou semente do universo a ser. Māyā, como o mundo, existe
potencialmente como Mahākundalī, que é em Si mesma uma com a Consciência, ou Shiva. Esta Māyā
contém, e é, de fato, constituída por Samskāra ou Vāsanā – ou seja, as impressões mentais e as
tendências produzidas pelo Karma realizado nos mundos previamente existentes. Estes constituem a
massa da ignorância em potencial (Avidyā) pelo qual a Consciência vela a si mesma. Eles foram
produzidos pelo desejo do gozo mundano, e em si mesmo produz tal desejo. Os mundos existem
porque eles, em sua totalidade, desejam existir. Cada indivíduo existe porque sua vontade deseja a
vida mundana. Esta semente é, portanto, a vontade coletiva ou cósmica para a vida se manifestar – ou
seja, a vida da forma e do gozo. No fim do período do repouso, o qual é a Dissolução, esta semente
amadurece em Consciência. A Consciência tem, assim, um duplo aspecto; sua liberação (Mukti), ou
aspecto sem forma, no qual ela é uma simples Bem-aventurança da Consciência; e um universo, ou

aspecto da forma, no qual ela se torna o mundo do gozo (Bhukti). Um dos princípios básicos do Shākta
Tantra é assegurar, por sua Sādhanā, ambos, a Liberação (Mukti) e o Gozo (Bhukti). Isto é possível
pela identificação do eu quando em gozo com a alma do mundo. Quando esta semente amadurece,
diz-se que Shiva estendeu Sua Shakti. Como esta Shakti é em Si mesma, é Ele em seu aspecto de
Shiva-Shakti que sai (Prasarati) e dota a Si mesmo com todas as formas da vida mundana. Na
Consciência pura, perfeita, sem forma, brota o desejo de se manifestar no mundo da forma – o desejo
para o gozo de e quanto à forma. Isto ocorre como uma pressão limitada na última superfície imóvel da
Consciência pura, o qual é Nishkala Shiva, mas sem afetar o último. Há, assim, mudança na
imutabilidadde e imutabilidade na mudança. Shiva em Seu aspecto transcendente não muda, mas
Shiva (Shakala) em Seu aspecto imanente, como Shakti, é mutável. Como vontade criativa surge Shakti
emoções como Nāda , e assume a forma de Bīndu, o qual é Īshvara Tattva, de onde derivam todos os
mundos. É por sua criação que Kundalī desenrola. Quando o Karma amadurece, a Devī, nas palavras
de Nigama, “torna-se desejosa de criação, e cobre a Si mesma com Sua própria Māyā”. Novamente, a
“Devī, rejubilante na alegria louca de Sua união com o Supremo Akula, torna-se Vikārinī” – ou seja, os
Vikāras, ou Tattvas da Mente e da Matéria, os quais constituem o universo visível.
Os Shāstras têm tratado com os estágios da criação em grande detalhes, tanto do ponto de vista
subjetivo quanto do objetivo como mundanças consciência limitada, ou como movimento (Spanda),
forma e “som” (Shabda). Ambos, Shaivas e Shāktas, igualmente aceitam as 36 categorias, ou Tattvas,
as Kalās, as Shaktis Unmanī e o restante nos Tattvas, o Shadadhvā, os conceitos do Mantra, de Nāda,
Bīndu; Kāmakalā e assim por diante. Autores da Escola Shaiva do Norte, do qual um líder Shātra é o
Mālinīvijaya Tantra, tem descrito com grande profundidade esses Tattvas. Conclusões gerais somente
estão, contudo, aqui sumarizadas.

3.6.1 - Os 36 Tattvas
Os 36 Tattvas estão divididos nos Tantras em três grupos chamados Ātma, Vidyā e Shiva Tattvas. O
primeiro grupo inclui todos os Tattvas, do mais inferior Prithivī (“terra”) à Prakriti, que são conhecidos
como categorias impuras (Ashuddha Tattva); o segundo grupo inclui Māyā, os Kanchukas e o Purusha,
chamado de catergorias puras-impuras (Shuddha-ashuddha Tattva); e o terceiro grupo inclui os cinco
Tattvas mais elevados, chamados de puros Tattvas (Shuddha Tattva), de Shiva Tattva a Shuddeha-
vidyā. Como já citado, o supremo estado imutável (Parāsamvit) é a experiência unitária no qual o “Eu”
e o “Este” aderem em unidade.

Você também pode gostar