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A realidade última, ou irredutível, é o "Espírito‟ no sentido de Consciência Pura (Chit, Samvit), a partir
dos quais e por seu Poder (Shakti), Mente e Matéria procedem. O Espírito é um. Não há graus ou
diferenças no Espírito. O Espírito que está em um homem e o único Espírito que está em todas as
coisas e que, como objeto de adoração, é o Senhor (īshvara), ou Deus. Mente e Matéria são muitas e
de muitos graus e qualidades. Ātmā, ou Espírito, como tal, é o Todo (Pūrna) sem divisão (Akhanda).
Mente e Matéria são partes daquele Todo. Elas são o não-todo (Apūrna) e são a divisão (Khanda). O
Espírito é infinito (Aparichchhinna) e com forma (Rūpa). Ātmā é inalterável e inativo. Seu Poder (Shakti)
é ativo e muda na forma da Mente e da Matéria. A Consciência Pura é Chit, ou Samvit. A Matéria, como
tal, é o inconsciente. E a Mente também é inconsciente, de acordo com o Vedānta. Pois tudo o que não
contrário, tudo é, essencialmente, consciência, mas que é inconsciente porque é o objeto do auto-
consciente. A mente limita a Consciência assim como permite ao homem ter experiência finita. Não há
Mente sem consciência, como plano de fundo, embora a suprema Consciência seja sem Mente
(Amanah). Onde não há mente (Amanah), não há limitação. A consciência permanece em um aspecto
de mudanças inalteráveis em seu outro aspecto como Poder ativo manifestando-se como Mente e
Corpo. O homem, então, é Consciência Pura (Chit) veiculado por seu Poder como Mente e Corpo.
Na Teologia, esta Consciência Pura é Shiva, e Seu Poder (Shakti) que, conforme Ela está em Sua não-
forma, em Si mesma, é um com Ele. Ela é a grande Devī, a Mãe do Universo, que como a Força de
Vida reside no corpo do homem em seu centro inferior, na base da espinha, assim como Shiva está
realizado no mais elevado centro cerebral, o cérebro, o Sahasrāra Padma. A conclusão do Yoga, é a
União Dela e Dele no corpo do Sādhaka. Isto é Laya, ou dissolução, o reverso do Srishti, ou involução
Mãe, pois Ela é a Grande Mãe, a Mahādevī que concebe, suporta e nutre o universo fendido de Seu
útero (Yoni). Isto também é porque Ela é o aspecto ativo da Consciência, imaginando (Srishtikalpanā)
que o mundo seja, de acordo com as impressões (Saṁskāra) derivado do gozo e do sofrimento dos
mundos-matriz. É, naturalmente assegurado, a adoração Dela como Mãe. O primeiro mantra no qual
todos os homens são iniciados é a palavra Mā (Mãe). É sua primeira palavra e, geralmente, a última.
O pai é um mero ajudante (Sahakāri-mātra) da Mãe. O mundo inteiro dos cinco elementos também
rosea, a fonte do universo, e a grandeza imponente como Kālī, que o leva de volta para Si mesma.
Aqui, estamos ocupados com o Yoga, que é a realização da união dos aspectos da Mãe e do Senhor
3.2 Sat-Chit-Ananda
Os Vedas dizem: “Tudo isto (ou seja, o mundo manifesto) é (o único) Brahman (Sarvam Khalvidam
Brahma)". Como os muitos podem ser um é variavelmente explicado por diferentes escolas. A
interpretação dada aqui é aquela contida nos Tantras Shākta, ou Āgamas.
Em primeiro lugar, o que é uma Realidade que surge como muitas? O que é a natureza de Brahman
como em sim mesmo é (Svarūpa)? A resposta é Sat-Chit-Ānanda – ou seja, Ser-Consciência-Bem-
aventurança. Consciência, ou sentimento, tal como (Chit ou Samvit), é idêntico com o Ser, como tal.
Embora na experiência comum os dois estejam, essencialmente unidos, eles ainda assim divergem,
ou parecem divergir um do outro. Os homens, por sua constituição, arraigadamente, acreditam em uma
existência objetiva além e independente de si mesmo. E é, tal objetividade que, embora, sendo Espírito
corporificado (Jīvātmā), sua consciência está velada ou contraída por Māya. Mas no último alicerce da
experiência, que é o Supremo Espírito (Paramātmā), a divergência se vai, pois nela se encontram, em
massa indiferenciada, o experenciador, a experiência e o experenciado.
3.3 Máyá-Shakti
Conforme Chit, em todos os estágios da vida, permanece a mesma, ela não é, em si
mesma, verdadeiramente desenvolvida. O aparente desenvolvimento é devido ao fato de
que Ela não é mais e não é menos velada, ou contraída pela Mente e pela Matéria. É este
velamento, pelo poder da Consciência (Shakti) que cria o mundo. O que é, então, que vela
a consciência e, assim, produz a experiência do mundo? A resposta é o Poder, ou Shakti
como Māyā. Māyā-Shakti é aquela que, aparentemente, faz o Todo (Pūrna) no não-todo
(Apūrna), o infinito no finito, o amorfo na forma e assim por diante. É um poder que, assim,
reduz, vela e anula. Anula o quê? A Consciência perfeita. É Shakti, em si mesma, a mesma
como ou diferente de Shiva ou Chit? Deve ser a mesma, pois, caso contrário, tudo não
poderia ser único Brahman. Mas se é a mesma, deve ser Chidrūpīnī, ser também Chit ou
Consciência. Portanto, é Sachchidānandamayī
E ainda há, pelo menos na aparência, alguma distinção. Shakti, o qual vem da raiz Shak,
“ter poder”, “ser capaz”, significa poder. Conforme Ela é um com Shiva, como o detentor
do Poder (Shaktimān), Ela, como tal Poder, é o poder de Shiva, ou Consciência. Não
hádiferença entre Shiva como o possuidor de poder (Shaktimān) e o Poder como Ela é em
Si mesma. O poder da Consciência é Consciência em seu aspecto ativo. Enquanto que,
por conseguinte, ambos, Shiva e Shakti são Consciência, o primeiro é o aspecto estático
mutável da Consciência, e Shakti é o aspecto ativo cinético da mesma Consciência. O poder
particular no qual o mundo dualístico é trazido como sendo Māyā-Shakti, o qual é, ambos,
uma dissimulação (Āvarana) e projeção (Vikshepa) de Shakti . A Consciência vela de si
para si, e projeta do reservatório de suas experiências anteriores (Saṁ skārā) a noção de
um mundo que sofre e goza. O universo é assim a imaginação criativa (Srishtikalpanā,
como é chamado) do Supremo pensador do Mundo (Īshvara). Māyā é aquele poder pelo
qual as coisas são “medidas” – ou seja, formadas e feitas conhecidas (Mīyate anayā iti
māyā). É o sentido de diferença (Bhedabuddhi), ou aquele que faz o homem perceber o
mundo e todas as coisas e as pessoas aí como diferentes de si mesmo, quando, em
essência, ele e eles são um Eu. É aquele que estabelece uma dicotomia em que, de outra
forma, seria uma experiência unitária, e é a causa do dualismo inerente em toda a
experiência fenomenal. Shakti, como ação, vela a consciência pela nulidade em vários
graus de Si mesma como Consciência.
Antes da manifestação do universo, o infinito Ser Bem-Aventurança Consciência sozinho
era – ou seja, Shiva-Shakti como Chit e Chidrūpinī, respectivamente. Esta é a Experiência-
completa (Pūrna), no qual como o Upanishad diz, “O Eu conhece e ama o Eu”. É este Amor
que é a Bem-aventurança, ou “repousando no eu”, pois, como está dito em outra parte,
“O Supremo amor é bem-aventurança” (Niratishayapremāspadatvam ānandatvam). Este
é Parashiva, que no esquema dos 36 Tattvās, é conhecido como Parasamvit.
As Escrituras Indianas dizem, nas palavras de Herbert Spencer em seu “Primeiros Princípios”, que o
universo é um desdobramento (Srishti) do homogêneo (Mūlaprakriti) ao heterogêneo (Vikriti), e volta
ao homogêneo novamente (Pralaya, ou Dissolução). Há, assim, alternados estados de evolução e
dissolução, manifestação tendo lugar depois de um período de repouso. Assim também o Professor
Huxley, em seu “Evolução e Éticas”, fala da manifestação da energia cósmica (Māyā-Shakti),
alternando entre fase de potencialidade (Pralaya) e fases de explanação (Shrishti). “Pode ser”, ele diz,
“como Kant sugere, cada magma cósmico está predestinado a evoluir para um novo mundo foi o não
menos predestinado fim de um antecessor desaparecido”. Este, o Shāstra Indiano afirma em sua
doutrina que não existe tal coisa como uma primeira criação absoluta, o presente universo sendo senão
um de uma série de mundos que são passado e virão ainda a ser.
3.6 A Criação
No momento da Dissolução (Pralaya), existe a Consciência como Mahākundalī, embora indistinguível
da sua massa geral, a potencialidade, ou semente do universo a ser. Māyā, como o mundo, existe
potencialmente como Mahākundalī, que é em Si mesma uma com a Consciência, ou Shiva. Esta Māyā
contém, e é, de fato, constituída por Samskāra ou Vāsanā – ou seja, as impressões mentais e as
tendências produzidas pelo Karma realizado nos mundos previamente existentes. Estes constituem a
massa da ignorância em potencial (Avidyā) pelo qual a Consciência vela a si mesma. Eles foram
produzidos pelo desejo do gozo mundano, e em si mesmo produz tal desejo. Os mundos existem
porque eles, em sua totalidade, desejam existir. Cada indivíduo existe porque sua vontade deseja a
vida mundana. Esta semente é, portanto, a vontade coletiva ou cósmica para a vida se manifestar – ou
seja, a vida da forma e do gozo. No fim do período do repouso, o qual é a Dissolução, esta semente
amadurece em Consciência. A Consciência tem, assim, um duplo aspecto; sua liberação (Mukti), ou
aspecto sem forma, no qual ela é uma simples Bem-aventurança da Consciência; e um universo, ou
aspecto da forma, no qual ela se torna o mundo do gozo (Bhukti). Um dos princípios básicos do Shākta
Tantra é assegurar, por sua Sādhanā, ambos, a Liberação (Mukti) e o Gozo (Bhukti). Isto é possível
pela identificação do eu quando em gozo com a alma do mundo. Quando esta semente amadurece,
diz-se que Shiva estendeu Sua Shakti. Como esta Shakti é em Si mesma, é Ele em seu aspecto de
Shiva-Shakti que sai (Prasarati) e dota a Si mesmo com todas as formas da vida mundana. Na
Consciência pura, perfeita, sem forma, brota o desejo de se manifestar no mundo da forma – o desejo
para o gozo de e quanto à forma. Isto ocorre como uma pressão limitada na última superfície imóvel da
Consciência pura, o qual é Nishkala Shiva, mas sem afetar o último. Há, assim, mudança na
imutabilidadde e imutabilidade na mudança. Shiva em Seu aspecto transcendente não muda, mas
Shiva (Shakala) em Seu aspecto imanente, como Shakti, é mutável. Como vontade criativa surge Shakti
emoções como Nāda , e assume a forma de Bīndu, o qual é Īshvara Tattva, de onde derivam todos os
mundos. É por sua criação que Kundalī desenrola. Quando o Karma amadurece, a Devī, nas palavras
de Nigama, “torna-se desejosa de criação, e cobre a Si mesma com Sua própria Māyā”. Novamente, a
“Devī, rejubilante na alegria louca de Sua união com o Supremo Akula, torna-se Vikārinī” – ou seja, os
Vikāras, ou Tattvas da Mente e da Matéria, os quais constituem o universo visível.
Os Shāstras têm tratado com os estágios da criação em grande detalhes, tanto do ponto de vista
subjetivo quanto do objetivo como mundanças consciência limitada, ou como movimento (Spanda),
forma e “som” (Shabda). Ambos, Shaivas e Shāktas, igualmente aceitam as 36 categorias, ou Tattvas,
as Kalās, as Shaktis Unmanī e o restante nos Tattvas, o Shadadhvā, os conceitos do Mantra, de Nāda,
Bīndu; Kāmakalā e assim por diante. Autores da Escola Shaiva do Norte, do qual um líder Shātra é o
Mālinīvijaya Tantra, tem descrito com grande profundidade esses Tattvas. Conclusões gerais somente
estão, contudo, aqui sumarizadas.
3.6.1 - Os 36 Tattvas
Os 36 Tattvas estão divididos nos Tantras em três grupos chamados Ātma, Vidyā e Shiva Tattvas. O
primeiro grupo inclui todos os Tattvas, do mais inferior Prithivī (“terra”) à Prakriti, que são conhecidos
como categorias impuras (Ashuddha Tattva); o segundo grupo inclui Māyā, os Kanchukas e o Purusha,
chamado de catergorias puras-impuras (Shuddha-ashuddha Tattva); e o terceiro grupo inclui os cinco
Tattvas mais elevados, chamados de puros Tattvas (Shuddha Tattva), de Shiva Tattva a Shuddeha-
vidyā. Como já citado, o supremo estado imutável (Parāsamvit) é a experiência unitária no qual o “Eu”
e o “Este” aderem em unidade.