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Marcelo Piancastelli*
Períodos de crise financeira são pródigos em gerar lições para quem tem sob sua
responsabilidade decisões de política econômica. O arrefecimento da crise financeira atual
expõe as difíceis decisões que os políticos têm pela frente. Primeiro, em relação à política
monetária. Os Bancos Centrais têm a seu encargo evitar uma possível deflação e, ao
mesmo tempo, estar atentos a eventuais surtos inflacionários decorrentes das medidas de
estímulo à economia. Além disso, devem manter o equilíbrio de suas contas.
O mesmo não acontece com a política fiscal. O "status quo" do conhecimento técnico, a
experiência acumulada pelos especialistas, bem como a avaliação dos resultados, ao
contrário do que ocorre com a política monetária, têm menos efeito nas decisões finais de
política fiscal. É comum predominar a vontade política pura e simples, mesmo que,
sabidamente, tenham efeitos negativos previsíveis.
http://www.ipea.gov.br/003/00301009.jsp?ttCD_CHAVE=12794&btImprimir=SIM 08/04/2010
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Projetos de lei envolvendo medidas que melhoram a política fiscal em geral só são
aprovados no calor de uma crise financeira instalada que ameace o setor público. Por outro
lado, centenas de projetos de lei afrouxando critérios ou concedendo benefícios fiscais são
apresentados, sem que seus resultados tangíveis para a população sejam efetivamente
comprovados.
Avanços têm sido observados. Suécia e Chile já implantaram regras fiscais limitando
déficits e introduzindo maior transparência no processo de elaboração do orçamento. A Lei
de Responsabilidade Fiscal brasileira é frequentemente mencionada como um bom exemplo
de inovação pela literatura internacional. É uma lei rigorosa que estabeleceu 66 parâmetros
fiscais, na forma de limites percentuais. Infelizmente, inúmeras iniciativas legislativas
atuais são no sentido de desmontá-los!
A política fiscal, no entanto, tem objetivos múltiplos, muitas taxas e alíquotas; lida com
todos os setores da economia, dispõe de inúmeros mecanismos para se gastar o dinheiro
público. Os resultados são mais difíceis de serem avaliados e, além do mais, encontram-se
envoltos por uma aguerrida aura político-partidária. Exatamente pela sua natureza mais
complexa que a política monetária, é indispensável melhor fundamentação técnica.
Credibilidade pública se obtém ao permitir que o cidadão saiba o que pode esperar do seu
governo em termos de serviços de qualidade. Para isso, é necessário que a política fiscal
tenha mecanismos de formulação e análise com autonomia técnica e independência. A
decisão sempre será dos políticos; a eles cabem as decisões de tributar e gastar. Ideal
seria que fosse sempre dentro dos limites condizentes com a política fiscal compromissada
com a melhor qualidade de vida da população.
Mas é bom lembrar que o objetivo primordial do político é ser reeleito. Nenhum bom
político abre mão desse desejo. Tal objetivo, entretanto, deveria estar subordinado a uma
política fiscal sustentável, com orçamentos equilibrados, metas de redução do nível de
endividamento e melhores serviços ofertados a população.
Ideal seria se tal critério tivesse maior peso nas decisões dos eleitores ao votar. Enfim, em
política econômica, às vezes, é realista reivindicar o impossível para obter algo mais
sensato e na direção correta, sobretudo em termos da política fiscal.
http://www.ipea.gov.br/003/00301009.jsp?ttCD_CHAVE=12794&btImprimir=SIM 08/04/2010