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Decantação ou Sedimentação - Teoria

Após sair do floculador, espera-se que praticamente toda a matéria em


suspensão existente na água bruta esteja aglutinada entre si, constituindo
os flocos.

Flocos devem ter adquirido tamanho e peso suficientes para que possam
ser separados da água em tratamento por DECANTAÇÃO.

Decantar significa separar, por gravidade, impurezas sólidas que


contenham em (um líquido); limpar, livrar, purificar. (Aurélio, 2000)

Flocos separam-se da água porque sedimentam e, a água isenta desses


flocos, é denominada água decantada.
Decantação ou Sedimentação - Teoria

As partículas podem sedimentar como discretas ou floculentas

Decantadores ocorre a sedimentação de partículas floculentas

PARTÍCULAS DISCRETAS

Partícula discreta é aquela que, durante a sedimentação, não altera seu tamanho,
forma ou peso.
Decantação ou Sedimentação - Teoria
Fe Sedimentação da partícula discreta
De acordo com a Segunda Lei de Newton a aceleração
Fa
da partícula é o resultado das forças agindo sobre ela.
Ou seja:
Fg dv
m = Fg − Fe − Fa
dt
Onde:
Fg, é a força devido a gravidade
ρs – densidade do sólido (partícula)
Fg = ρs Vp g Vp - volume da partícula
g – aceleração da gravidade.

Fe, força devido ao empuxo


Fe = ρl Vp g ρl – densidade do líquido

Fa, força devido ao atrito


CD – Coeficiente de arrasto
v2
Fa = C D A p ρ l Ap - Área da partícula
2 v – Velocidade da partícula
Decantação ou Sedimentação - Teoria

dv C D Ap ρ l v 2
Substituindo: m = g ( ρ s − ρ e )V p −
dt 2
Após um período transiente a velocidade da partícula fica constante (dv/dt = 0). Esta
velocidade é conhecida como velocidade terminal de sedimentação (v = vs).

2 g (ρ s − ρ l ) V ρ Vp 2
Assim, vs = × tomando, = dp
CD ρe Ap Ap 3

Tem-se:

4g ρ s − ρl
CD é função do Re, para partículas esféricas
vs = × × dp CD = 24/Re para Re < 1
3CD ρl
CD = 0,4 para 103 < Re < 105
CD = 18,5/(Re)0,6 para 1 < Re < 1000
Decantação ou Sedimentação - Teoria

Substituindo o valor de CD, tem-se:

Se Re < 1

vs =
g
(ρ s − ρ l ) d p 2
Lei de Stokes
18µ
Se 1 < Re <103

[
v s = 2,32 (ρ s − ρ l ) × d p × ρ l
1, 6 −0, 4
×µ ]
− 0 , 6 0 , 714

Se Re > 103

ρ s − ρl
v s = 1,82 dp g Lei de Newton
ρl
Decantação ou Sedimentação - Teoria

A equação de Stokes e as demais apresentadas anteriormente, apesar de


serem consistentes teoricamente, e úteis nas avaliações qualitativas e da
intensidade com que cada grandeza influencia o fenômeno, não fornecem
parâmetros utilizados em tratamento de água, devido às interferências
hidráulicas decorrentes do escoamento dos FLOCOS formados

Para superar esta dificuldade, modelos matemáticos e procedimentos


experimentais têm sido desenvolvidos e aperfeiçoados, com o objetivo de
descrever o comportamento dos decantadores e avaliar as condições de
sedimentação dos FLOCOS
Decantadores Clássicos – Seção Retangular
Constituem o tipo mais numeroso entre os decantadores
Água floculada é distribuída em toda a seção transversal e percorre a extensão do decantador com
velocidade muito baixa até atingir a zona de saída

Zona de entrada: destinada a Zona de saída: coleta


distribuir uniformemente o uniforme da água decantada
afluente na seção transversal
do tanque

Zona de sedimentação: as
características hidráulicas do
escoamento permitem a
deposição das partículas Calhas coletoras ou
tubulações perfuradas

Zona de lodo: destinada a


armazenar temporariamente
as partículas removidas

Decantador Clássico de seção retangular: Esquema Típico


Decantador Ideal – Avaliação Eficiência

Premissas (Hazen, 1904):

-Decantador é um tanque ideal – sedimentação ocorre sem quaisquer

interferências externas ao fenômeno;

-Escoamento contínuo, não turbulento;

-Partículas discretas – apresentam a mesma velocidade de sedimentação;

-Não há re-suspensão de partículas depositadas no fundo do tanque


Decantador Ideal – Avaliação Eficiência
Trajetórias de partículas discretas que entram na zona de sedimentação
Ve NA
VSc
Partícula localizada na superfície da lâmina
líquida e início da zona de sedimentação

Ve Zona de decantação H
H L
Vs *
tsc = e td =
hs Vsc Ve
L ( H x B) H
L td = x =
Ve ( H x B ) Q / A

B S - Seção de escoamento – H x B
A - Área Superficial /Zona de Decantação
Q – Vazão – Ve x S
BxL

planta No decantador ideal:


Q
Sem turbulência; td = tsc Vsc =
Sem correntes secundárias; A
Não há ação de ventos.
Decantador Ideal – Avaliação Eficiência

Taxa de escoamento superficial – teoricamente


Q
Vsc = significa que a água decanta a mesma velocidade
com que a partícula crítica sedimenta
A

Suspensão uniforme de partículas discretas , todas serão removidas

independente da posição em que se encontrem ao entrarem na zona

de sedimentação
Decantador Ideal – Avaliação Eficiência

Quando a suspensão não é uniforme – PARTÍCULAS COM DIFERENTES


VELOCIDADES DE SEDIMENTAÇÂO

Zona de decantação
Ve NA  zona de sedimentação apropriada
VSc para remoção da partícula (1) com
Vsc
2
Ve H  A partícula (2) com Vs<Vsc não
Vs * 1 será removida se ocupar a mesma
hs
2 posição de (1) – atingirá o final da
ZS na altura (hs-H).
L Só será removida se entrar na ZS
na altura hs

A teoria de Hazen (1904) foi importante ao mostrar que a eficiência de remoção


de partículas discretas é função da área superficial do tanque e independe de
sua profundidade e do tempo de detenção – possibilidade da subdivisão
horizontal do tanque, com aumento da eficiência de remoção, porém, resultando
em dificuldades de limpeza
Decantador Não Ideal

Camp (1946) – proposição de metodologia racional para análise das


características de sedimentabilidade das partículas FLOCULENTAS

 Quais as diferenças básicas entre partículas discretas e floculentas?

Qual a influência das características hidráulicas do escoamento no

desempenho dos decantadores?

Quais as vantagens resultantes do fato de a eficiência de remoção das

partículas ser dependente, principalmente, da área superficial?


Decantador Não Ideal

 Partículas floculentas podem se aglomerar durante a sedimentação,

resultando em velocidades de sedimentação maiores;

No decantador não ideal não se pode afirmar que a eficiência de remoção

seja independente da profundidade e do tempo médio de detenção;

Para suspensões de partículas floculentas em decantadores com

escoamento contínuo, a área superficial e a taxa de escoamento superficial

são parâmetros mais importantes que a profundidade e o tempo médio de

detenção.
Decantador Não Ideal

Sedimentação de partículas floculentas

Choque entre as partículas resulta na sua aglutinação – DECANTAÇÂO


PERICINÉTICA

Envolvimento de diversas variáveis e de complexas relações entre as


partículas

Características da sedimentação floculenta só podem ser determinadas


através de ensaios de sedimentação – coluna de sedimentação.
Decantador Não Ideal

Sedimentação de partículas floculentas

ENSAIOS DE SEDIMENTAÇÃO – COLUNA DE SEDIMENTAÇÂO

Coluna:

-Qualquer diâmetro;

-Altura deverá ser igual à altura do fundo do decantador;

-Pontos de amostragem ao longo da sua altura.

Metodologia – Metcalf & Eddy, 2003


Decantador Não Ideal

Sedimentação de partículas floculentas

ENSAIOS DE SEDIMENTAÇÃO – COLUNA DE SEDIMENTAÇÂO

Distribuição uniforme de tamanho de partículas ao longo da altura da coluna

Manutenção da temperatura – evitar correntes convectivas

Amostras são retiradas ao longo do tempo nos pontos de amostragem e são determinadas
as concentrações de sólidos suspensos – REMOÇÃO PERCENTUAL
Decantador Não Ideal

Sedimentação de partículas floculentas

ENSAIOS DE SEDIMENTAÇÃO – COLUNA DE SEDIMENTAÇÂO

REMOÇÃO PERCENTUAL

∆h1 R1 + R2 ∆h2 R2 + R3 ∆h3 R3 + R4 ∆h4 R4 + R5


+ + +
h5 2 h5 2 h5 2 h5 2
Decantador Não Ideal

Na prática – difícil a realização de ensaios em laboratório

NB-592, item 5.10.4.1 –velocidades de sedimentação para o cálculo das taxas de


aplicação

Estações até 1.000m3/dia: 25m3/m2.dia

Estações de 1.000 até 10.000m3/dia: com bom nível operacional – 35m3/m2.dia, caso

contrário 25m3/m2.dia

Estações com capacidade superior a 10.000m3/dia: 40m3/m2.dia


TIPOS DE DECANTADORES

De forma geral dois tipos de decantadores são utilizados no


Brasil:

i. Decantadores clássicos

ii. Decantadores tubulares.


Tipos de Decantadores

Decantadores Clássicos

1) Seção retangular em planta

2) Seção circular em planta

Decantadores de Fluxo Laminar

1) Fluxo ascendente

2) Fluxo horizontal – nova tendência de projeto


Decantadores Escoamento Horizontal (Turbulentos)
Elementos de Projeto (Zonas do decantador)
L Vertedor

Canal de água
decantada
Floculador B

L Calha de
Coleta
NA

H
Floculador

Descarga
de fundo
Decantadores Escoamento Horizontal (Turbulentos)

1) Seção retangular em planta

Apesar da pequena velocidade com a qual a água escoa no


interior desses decantadores, devido ao grande raio hidráulico da
seção transversal, o número de Reynolds também é grande,
tornando turbulento o regime de escoamento.
Decantadores de Escoamento Horizontal (Turbulentos)
Planta

L Vertedor

Canal de água
decantada
Floculador B
S E

L Calha de
Coleta
NA

H
Floculador

Descarga
de fundo

Corte

Retangular (longitudinal)
Circular (radial)
Decantadores Escoamento Horizontal (Turbulentos)

1) Seção circular em planta

São pouco utilizados no Brasil – construção de paredes em


comum nas diferentes unidades.

´ Critérios de projeto são semelhantes ao de seção retangular


Decantadores Escoamento Horizontal
Decantadores Escoamento Horizontal
Decantadores de Escoamento Ascendente (Laminares)
Partícula que sedimenta
com velocidade Vs

Bandeja intermediária que


não influencie nas
velocidades, seu
comprimento pode ser
reduzido pela metade

Duas bandejas, seu


comprimento seria reduzido
a um terço

É possível obter eficiências Essas unidades são construídas com múltiplas bandejas,
comparáveis às dos decantadores sendo reduzido o espaçamento entre elas, introduzindo-se um
convencionais em unidades de menor grande perímetro molhado na seção de escoamento –
volume desde que elas sejam dotadas REDUÇÃO DO NÚMERO DE REYNOLDS (regime laminar)
de fundos múltiplos
Decantadores de Escoamento Ascendente (Laminares)
Decantadores - Dimensionamento
Parâmetros de Projeto (item 5.10 da NBR 12216):
Q – Vazão
Taxa de aplicação superficial
Q
Segundo a Norma, a taxa de aplicação superficial (TA) é: TA = = f Vs
A
Onde:
Q – Vazão, m3/s Se não for possível a
A – Área superficial útil da zona de decantação, m2
realização de experimentos:
f – fator de área (1 para decantadores convencionais)
Vs – velocidade de sedimentação, m/s
Q < 1.000 m3/d
Vs = K Vs exp TA = 25 m3/m2.d
Vs exp – Velocidade de sedimentação experimental
K é definido no item 5.10.4 da NBR 12216, e depende da 1.000 m3/d <Q< 10.000 m3/d
capacidade da ETA e do nível de operação desta. TA = 35 m3/m2.d (BNO)
TA = 25 m3/m2.d
- Q até 1.000 m3/dia, K = 0,5
- Q entre 1.000 m3/dia e 10.000 m3/dia, com bom nível
operacional, K = 0,7; caso contrário, K = 0,5 Q > 10.000 m3/dia
- Q maior que 10.000 m3/dia, K = 0,8 TA = 25 m3/m2.d
Decantadores - Dimensionamento
Passos básicos de dimensionamento:
1. A partir de Q e Vs obtém-se a área em
planta do decantador, A = L x B.

Q Q
= Vs = K .Vs exp A=
A Vs H
B
2. Define-se, a partir das recomendações da
Norma, das características da área de L
implantação da ETA e custos, o número de
decantadores (ND) a ser dimensionado.
As dimensões L, B e H devem seguir as
Quanto maior o número de decantadores,
seguintes recomendações:
maior a flexibilidade e maiores os custos de
implantação. Lit. Nacional Lit. Americana
A
Ad = 2≤
L
≤5
L
ND ≥4
B B
3. Adota-se um valor de L/B e calculam-se as L L
dimensões L e B, ou, alternativamente, adota- 2≤ ≤ 25 ≥ 15
H H
se um valor de B, calcula-se L e,
posteriormente, checa-se a relação L/B
Decantadores - Dimensionamento
Passos básicos de dimensionamento (cont):
4. Adota-se um valor de H, calcula-se a velocidade do escoamento e verifica-se se
o valor atende a NBR 12216. Calcula-se, também, o tempo de detenção e verifica-
se se atende as recomendações da literatura.

3 ≤ H ≤ 5m H dec ≅ H filtro
5. Verifica-se o ‘Re’ e ‘Fr’
Re < 18000 Fr >10-5

6. Dimensiona-se então os dipositivos de entrada, as calhas de coleta e o poço de


lodo (arranjo físico, altura extra, tubulação de drenagem) seguindo as
recomendações da NBR 12216 e da literatura.
Decantadores – Dispositivos de entrada
Norma NBR 12216 (item 5.10.7)
Vazão uniformemente distribuída em toda área da seção transversal
Distância entre orifícios igual ou inferior a 0,5 m
Distância, d, entre entrada e cortina de distribuição [ d = 1,5 H (a/A)], com (a/A) ≤ 0,5
Gradiente de velocidade (G) nos orifícios ≤20 s-1

d
Orifício
Área = a

d
Decantadores – Cortina de Distribuição
Decantadores – Cortina de Distribuição

D πU3
G=
S 8 Cd v X

Onde:
G – Gradiente de velocidade, s-1
D – Diâmetro do orifício, m
S – Espaçamento entre eixos dos
orifícios, m
U - Velocidade média da água através
dos orifícios, m/s
v – Viscosidade cinemática, m2/s
X – Distância percorrida pelos jatos, m
Decantadores – Calhas de Coleta
Norma NBR 12216 (item 5.10.8)
- Vazão uniformemente distribuída em descarga livre, em
vertedores com borda ajustável;
- A vazão de coleta (q), por metro de vertedor deve ser igual ou
inferior a q = 0,018Vs, quando Vs tenha sido determinado
experimentalmente, caso contrário, q = 1,8 L/metro

Defletor
Defletor
Vertedor

Canal de água
decantada
Canal de água
decantada
Decantadores – Fundo e Poço de Lodo
Norma NBR 12216 (item 5.10.9)
Remoção manual de lodo:
- Profundidade adicional (h) suficiente para
acumular lodo resultante de 60 dias de operação
-Descarga de fundo dimensionada para
esvaziamento em 6 horas, posicionada na zona de
maior acumulação de lodo
- Fundo com declividade mínima de 5% no sentido
do pondo de descarga

Ponto de descarga de fundo

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