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IEEE LATIN AMERICA TRANSACTIONS, VOL. 14, NO.

12, DECEMBER 2016 4733

Economic Regulation of Brownfield Projects:


The Brazilian Hydro Power Plants Case
D. M. C. Faria and D. S. Ramos
Abstract— Considering three different moments of grande volume de capital no ano “zero” e espera uma
concessions renewal of hydro power plants in Brazil (1995, 2012 rentabilidade adequada ao risco de operação do negócio ao
and 2015), this paper analyses the methodology used in each one, longo de todo o contrato) e o operador (que não aporta capital
identifying the pros and cons, putting together the results and significante, e recebe apenas pelo trabalho de operar um ativo
proposing actions for the new tranche of concessions renewals, in
2026. 1
que não lhe pertence, e sobre o qual não possui
responsabilidades diretas). As formas de regulação
Keywords— Concessions, Public-Private-Partnerships, hydro demonstradas na
power plants, electricity rates. (regulação contratual, regulação discricionária e contratação
direta) são definidas na TABELA .
I. INTRODUÇÃO

A S CONCESSÕES de serviços públicos, no Brasil, são


(em geral) do modelo Build-Operate-Transfer (BOT),
onde o concessionário deve empreender em um negócio
greenfield (ou seja, não operacional), constituindo um novo
ativo, operando-o durante um período pré-definido e, ao final
do contrato, repassando ao Poder Concedente este ativo. As
vantagens deste modelo são: (a) Atrai-se capital “novo” para
investir em um negócio que, caso contrário, não seria feito
pelo Poder Concedente (ou por falta de recursos financeiros,
ou por falta de conhecimento técnico específico), não sendo
necessário dispender recursos públicos naquele projeto; (b)
Dá-se ao empreendedor a oportunidade de recuperar o
investimento realizado por ele ao longo de um determinado
período, onde, em geral, assume os riscos operacionais Figura 1. Alternativas de licitação após o término do contrato.
daquele negócio (que são gerenciados de uma forma mais
eficiente do que se o fossem pelo poder concedente, reduzindo TABELA I
DIFERENÇA ENTRE AS FORMAS DE TARIFAÇÃO DE SERVIÇOS
os custos finais); e (c) Após o período de contrato, o Poder PRIVATIZADOS
Concedente fica com o ativo que não existia anteriormente,
podendo relicitá-lo a um novo concessionário ou operá-lo por Regulação Regulação Contratação
Discricionária Contratual Direta
conta própria (“prestação direta”). Não há previsibili-
Não há regulação
dade quanto ao É possível
econômica, apenas
Quanto ao último ponto, pode-se demonstrar as opções de mercado e quanto estimar com certa
regulação técnica
ao valor a ser precisão o valor a
relicitação pela investido. A ser investido, os
(critérios mínimos
de qualidade,
, a seguir. O esquema foi criado já com base nas licitação é custos operacio-
regras setoriais,
geralmente feita nais necessários e
nomenclaturas utilizadas especificamente no segmento de com base no maior o mercado a ser
etc). Cada
Característica empresa pode
geração de energia, sendo RAG a “Receita Anual de Geração” principal
valor pelos ativos já atendido. A
entrar ou sair
em operação, ou do licitação é geral-
(determinada como o “nível tarifário” da usina, necessário menor retorno mente feita com
livremente do
para equilibrar os custos operacionais - O&M - e remunerar o mercado, sujeita
admitido sobre o base no maior va-
apenas às regras
concessionário), ACR o “Ambiente de Contratação Regulada” investimento, ou por lor de outorga ou
concorrenciais (no
critérios de capaci- no menor valor
(onde a energia elétrica gerada é vendida às distribuidoras de dade técnica defini- do serviço
Brasil reguladas
pelo CADE e pela
energia em contratos de longo prazo) e MWh é a quantidade dos pelo prestado.
CVM).
concedente.
de energia elétrica gerada anualmente pela usina. Regulada pelo
Definição da Regulada pela Não regulada -
contrato de
Tarifa Agência preço de mercado
Ressalta-se que, quando o período de concessão termina, a concessão
Em bases periódicas A tarifa ofertada
característica fundamental de “construção” é alterada, a tarifa é revista no momento da
passando de um projeto greenfield (pré-operacional) para pelo agente licitação é válida
A lei da oferta e
regulador, de forma por todo o
brownfield (operacional). Este conceito é fundamental para a garantir o período de
demanda dita o
Forma de preço de mercado,
entendermos como o concessionário seria remunerado, já que cálculo da
equilíbrio concessão e, por
que pode ou não
econômico- isso, não cabe
existem dois tipos de concessionários: o investidor (que aporta tarifa
financeiro e o revisá-la em
ser suficiente para
pagar os custos
retorno sobre o bases periódicas,
das empresas.
investimento. Os posto que foi com
1
D. M. C. Faria, Universidade de São Paulo, diogo_faria@hks17.harvard.edu. métodos mais ela que definiu-se
D. S. Ramos, Universidade de São Paulo, dorelram@usp.br. comuns são o Price- o vencedor da
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Regulação Regulação Contratação modelo (pelo preço e desverticalizado), necessárias às usinas


Discricionária Contratual Direta
Cap e o Cost-Plus. disputa. que estavam em operação naquele momento.

Neste contexto, em 1998 houve a definição dos “contratos


iniciais”, dividindo a energia oriunda das usinas renovadas
pelas distribuidoras (ambiente de contratação regulado). Os
valores foram definidos pelas resoluções ANEEL 244 e 269
No momento das O mercado se de 1998, tendo todos os geradores aceitado renovar suas
A disputa da
revisões tarifárias
licitação é o
encarrega de criar concessões por 20 anos, seguindo as regras (e os valores)
deve haver uma uma disputa que,
série de sinalizações
mecanismo de
naturalmente,
apresentados. Na época, foi definido que os contratos iniciais
captura da teriam 100% da geração até 2003, sendo liberados 25% ao ano
Como que estimulem o elimina os menos
eficiência, posto
absorve a operador a ser
que diferentes
eficientes - que até 2006, quando 100% da geração seria de livre
"eficiência" eficiente, não necessária-
do operador recompensando
operadores
mente são aqueles comercialização das usinas [1] [2].
ofertam seus
quem o for e
melhores preços
com maiores Assim, a tarifa regulada perdurou apenas durante um período
penalizando quem preços, já que há o
não o for (simula a
possíveis para
julgamento de transição, até que a livre concorrência pudesse se impor no
aquele serviço.
competição). qualidade-valor. segmento de geração (indo ao encontro do modelo de
O operador não O operador, em “contratação direta” da TABELA , isto é, sem interferência da
Como não é um
assume riscos de geral, assume
construção ou todos os riscos de
mercado regulado, ANEEL na formatação dos preços dos concessionários).
não há a garantia
Assunção de
mercado, construção,
de demanda, Mesmo assim foi possível verificar, nas respectivas
ressalvados aqueles operação e
Riscos pelo
considerados como merca-do, que
tampouco da Resoluções, a preocupação da ANEEL durante o período de
Operador cobertura de seus
"não eficien-tes", devem ser
custos ou o vigência dos “contratos inciais” com a manutenção do
por erros de ad- medidos antes da
ministração ou inap- licitação para
retorno sobre seus equilíbrio econômico-financeiro das concessionárias, sem
investimentos.
tidão operacional. balizar seu preço. esquecer a necessidade de zelar-se pela modicidade tarifária.
Exemplos de Geração (energia Este modelo “transitório” serviu para acomodar as usinas que
setores no Distribuição de nova) e transmis- Telecomunicação
Brasil que energia elétrica; são de energia móvel; aviação já estavam em operação e que, por conta da criação de um
adotam a água encanada. elétrica; rodovias civil. novo modelo regulatório, precisavam ser regularizadas de
metodologia pedagiadas.
Fonte: FARIA [6], complementado com “Contratação Direta”.
alguma forma.

Assim, este trabalho busca recuperar como, no Brasil, as ii. Resultados alcançados
concessões de geração hidrelétrica em final de contrato foram Todas as geradoras da época aceitaram os termos ofertados, o
tratadas, identificando os erros e acertos dos processos que que foi extremamente positivo para a manutenção da prestação
ocorreram nas renovações de 1995 (com o estabelecimento do serviço público de energia elétrica e a transição necessária
dos “contratos iniciais”), 2012 (Medida Provisória 579/2012) ao novo modelo. Atribui-se este resultado não só a um valor
e 2015 (leilão 12/2015), buscando compilar os resultados aderente às necessidades financeiras das concessionárias,
como proposta para os contratos de concessão de usinas como também à possibilidade de definição de seu próprio
hidrelétricas que vencerão a partir de 2026. preço conforme a descontratação de 25% ao ano avançasse,
situação esta que permitia a recuperação, até o final do
II. OS CONTRATOS INICIAIS contrato, de eventuais parcelas não cobertas pela tarifa
regulada no início do contrato renovado.
i. O que foram
Em 1995, o então presidente Fernando Henrique Cardoso iii. Análise crítica do método empregado
tentava convencer investidores internacionais de que o Brasil É preciso considerar que, no momento quando foram definidas
valia a pena – mesmo depois da moratória da dívida externa as regras dos contratos iniciais, a ANEEL existia há pouco
oito anos antes, 1987 (governo Sarney), sendo que somente mais de 1 ano (pois a Agência, apesar de ter sido criada em
entre 1990 e 1992 a dívida foi regularizada. Ainda, o país 1996, foi estruturada de fato em 1997). Ainda, o setor estava
havia vivido recentemente o impeachment de Fernando Collor sendo completamente remodelado, em um cenário econômico
(1992) e o Plano Real havia sido recém-implementado (julho bastante complexo. Uma decisão acertada, portanto, foi a de
de 1994). Até então, a inflação mensal (nos 12 meses não prolongar de forma excessiva o vencimento dos contratos,
anteriores à implantação do Real) tinha oscilado entre 20% e dando aos concessionários um período de apenas 20 anos.
40% (ou seja, a “estabilidade monetária”, que reduziu a Ainda, abrir às empresas a possibilidade de vender livremente
inflação a patamares da ordem de 1,5% ao mês, era muito sua energia foi positiva, já que evitou processos de
recente). Assim, o cenário era adverso e, especificamente no modelagem de preços e intervenção do Estado no retorno dos
segmento de geração de energia (recém “desverticalizado”, já investimentos realizados.
que antes uma única concessionária era responsável por gerar,
transmitir e distribuir energia elétrica) havia a necessidade de Como negativo, observa-se a necessidade dos investimentos
definir: (a) As regras para as novas concessões, de forma a “ainda não amortizados ou depreciados” serem indenizados ao
atrair o investimento privado para o setor e ampliar a oferta de final do contrato, sem definir os critérios para tal [3]. Isso
geração elétrica nacional; e (b) As regras transitórias do ocorreu pois a lei 8.987 tinha o desafio de, em fevereiro de
modelo anterior (pelo custo e verticalizado) para o novo 1995, trazer credibilidade ao processo de privatizações e
concessões, dando uma maior segurança ao investidor. Um
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dos itens incluídos nesta lei foi, justamente, a questão da alteração nestes instrumentos só poderia ser feita com a
indenização dos investimentos ainda não amortizados, em anuência de ambas as partes.
caso de término do contrato. O objetivo era deixar claro que,
se por acaso o investimento realizado não conseguisse ser Mesmo assim, prevendo que todos os concessionários
amortizado dentro do período de contrato (ou se o término aceitariam os termos da renovação de seus contratos (que
deste fosse antecipado por qualquer motivo), seria garantida a exigiam forte redução nos preços em troca de renová-los por
devolução da parcela remanescente, fazendo com que não mais 30 anos, considerando que os investimentos já estariam
houvesse risco de não receber, no mínimo, o principal. “inteiramente amortizados”), o Ministério de Minas e Energia
(MME) cancelou, em 2012, o leilão A-1 (de contratação de
No entanto, os contratos que já se encontravam em vigor energia existente, que não chegou a ter data definida pela
(incluindo os ativos de geração da Eletrobras, Copel, Cesp, EPE) para as distribuidoras de energia. Na conta do
Cemig e outros) foram renovados valendo-se da mesma Ministério, havia 11,8 GWmed que seriam disponibilizados no
condicionante de indenização ao final do contrato na mercado por conta do fim dos contratos (22,58 GW de
eventualidade de investimentos não amortizados. A falta potência instalada) [10]. Como havia apenas 8,6 GWmed de
destes critérios foi um dos motivos que levaram aos problemas contratos no ACR que estavam vencendo em 31/12/2012, os
demonstrados no capítulo a seguir (renovação dos contratos geradores cotistas seriam suficientes para atender à demanda
após os 20 anos da renovação anterior). das distribuidoras, o que eliminaria a necessidade do leilão.

III. A LEI 12.783/2013 ii. Resultados alcançados


Do total previsto, apenas 7,8 GWmed foram renovados nas
i. O que foi condições estipuladas pelo governo. Para piorar, a real
A Medida Provisória 579, de 11 de setembro de 2012 necessidade de contratação das distribuidoras era superior aos
(MP579), posteriormente convertida na lei 12.783/2013, teve contratos que venciam no final do ano – pela lógica de
por objetivo reduzir a tarifa de energia elétrica brasileira, ampliação orgânica do mercado. Dos 9,8 GWmed que eram
devido a, entre outros fatores, pressão do setor produtivo, em realmente necessários, portanto, 2 GWmed ficaram
busca de maior competitividade internacional face ao aumento descontratados, no que se chamou de “exposição involuntária”
contínuo de custos e à valorização do Real frente ao Dolar, das distribuidoras, já que foi o Governo quem optou por
que na data de publicação da MP estava cotado a R$2,02. cancelar o leilão A-1, e não as empresas que erraram no
dimensionamento de seus mercados. Como o MME já havia se
Para atingir este objetivo, o governo estava disposto a injetar comprometido publicamente com a redução média de 20,2%
recursos diretamente no setor elétrico, na forma de subsídios na tarifa, a União decidiu arcar com o montante necessário
não-tarifários, além de reduzir encargos representativos na (via injeção de recursos a fundo perdido na CDE) para garantir
tarifa. Assim, o encargo chamado Reserva Global de Reversão a promessa. Pôde-se constatar, entre janeiro e março de 2013,
(RGR) seria extinto, bem como a Conta de Consumo de que a redução repentina no custo da energia, somada a um
Combustíveis Fósseis (CCC). Já Conta de Desenvolvimento verão mais intenso, causou um crescimento de 6,6% na
Energético (CDE) seria reduzida a 25% do que representava demanda residencial nos primeiros três meses após a redução
até então, de forma a ser compensada pelos subsídios que tarifária [5], agravando ainda mais o problema.
chegariam a cerca de R$3 bilhões por ano. Esta redução de
encargos associada aos subsídios representaria 7% de redução iii. Análise crítica do método empregado
média ao consumidor final [9]. Apenas o Grupo Eletrobras, a DME-Energética e a EMAE
aceitaram as regras definidas pelo governo. O Grupo
Porém, para reduzir efetivamente a tarifa de energia aos Eletrobras aceitou as regras por pressão do governo federal – o
patamares desejados, o governo precisava de um fator que foi, inclusive, informado pela empresa à ANEEL anos
adicional, mais agressivo. Para isso, contava com a depois, tendo sido multada pela CVM por esta prática [7]. Por
antecipação do vencimento dos contratos de concessão de sua vez, a EMAE renovou a concessão de Henry Borden,
geração e transmissão de energia que haviam sido renovados usina que cumpre uma função de utilidade pública no
entre 1995 e 1997. Como visto no capítulo anterior, estes município de São Paulo que vai além da simples
contratos foram aditados em 20 anos, e a ideia seria aproveitá- comercialização de energia elétrica – não sendo, inclusive,
los para reduzir a tarifa em mais 13,2% antecipando o final interessante comercialmente a nenhum outro operador.
destes contratos já para dezembro de 2012 (um mecanismo Finalmente, a DME aceitou renovar a concessão da PCH
que não havia sido discutido com o mercado antes de ser Antas I (8,6 MW) por ser uma usina que era vinculada à sua
proposto). No total, a redução prometida pelo governo federal distribuidora de energia (com mercado inferior a 500 GWh /
foi de 20,2%. A ideia seria repassar esta redução do preço da ano, e por isso com a possibilidade de gerar parte da energia
energia elétrica no início de 2013. No entanto, ao contrário das comercializada), já que a forma de reconhecimento de custos e
outras duas medidas (redução de encargos e injeção de de ativos é diferente, por fazer parte da tarifa da distribuidora.
subsídios não-tarifários provenientes do Tesouro Nacional), o É possível elencar como os principais fatores que fizeram com
segundo – e mais representativo – estágio do plano dependia que Copel, Cesp e Cemig optassem pela não-renovação dos
da concordância das concessionárias em antecipar o final de contratos:
seus contratos. Isso porque, em 2013, ainda faltariam de 2 a 4
anos para que estes contratos vencessem – e qualquer
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(a) A perda de faturamento entre janeiro de 2013 e o final 1974-84, em 7 anos a rentabilidade das empresas ficou abaixo
ordinário do contrato de concessão do piso de 10% [4], o que evidencia que não houve
No momento em que foram ofertadas as novas regras, o Preço amortização do principal. Esta situação ocorria pois, mesmo o
de Liquidação das Diferenças (PLD) estava extremamente modelo sendo “pelo custo”, a depreciação jamais foi
favorável às empresas que estavam descontratadas, como era o inteiramente recuperada por conta do controle de preços que
caso. Por exemplo, considere-se a usina de Jupiá (Cesp), que havia, e que fazia a correção monetária “oficial” ser sempre
possui 886 MWmed de garantia física: Em janeiro de 2013, o inferior à inflação real do mesmo período. O problema
PLD estava em R$413,95 (para o subsistema SE/CO) e, constatado foi trazido de longa data: conforme GREINER [8],
mesmo considerando uma eventual redução do preço do de 1977-86 houve uma diferença acumulada de 166,6% entre
mercado de curto prazo, para um patamar de R$300,00 em o IGP e o índice oficial OTN.
média, pode-se estimar que a usina geraria:
(c) Insuficiência do valor ofertado para os próximos 30 anos
886 x 365 x 24 = 7.761.360 MWh / ano na O&M das usinas
7.761.360 MWh x R$300,00 / MWh = R$2.328.408.000,00 A ANEEL, na Nota Técnica 385/2012-SRE/SRG, calculou a
equação que deveria explicar a evolução do custo operacional
Considerando que a oferta do Governo Federal para a Cesp das usinas a serem renovadas. Em uma análise inicial, as
operar Jupiá foi de cerca de R$57,2 milhões / ano (sendo R$52 concessionárias verificaram que os custos não estavam bem
milhões para cobrir O&M e R$5,2 milhões como dimensionados. Com o objetivo de quantificar a diferença,
remuneração), o valor ofertado pelo governo foi 97,7% menor buscou-se no presente trabalho aprofundar este ponto. Buscou-
do que o faturamento previsto da empresa para apenas 1 ano. se dados de 84 usinas hidrelétricas, sendo 44 da CEMIG, 17
Supondo que o OPEX fosse realmente de 52 milhões, isso da Copel, 2 da DME, 5 da EMAE, 10 de Furnas, 4 da
significa que 1 ano de lucro no ACL representa o equivalente Eletronorte, mais Baesa e Enercan. Todas as usinas
ao lucro de 437 anos pela regra proposta pelo governo. forneceram seus dados contábeis de 2011, sendo que algumas
Logicamente, o investidor que fez esta conta não renovou sua também encaminharam informações de 2012 e 2013
concessão, vendendo sua energia descontratada no ACL até o (totalizando 152 séries históricas), sendo todos atualizados até
final da concessão original. dezembro de 2014. Esta amostra compara-se com a que a
ANEEL utilizou para cálculo dos custos operacionais das
(b) A insuficiência do valor ofertado como indenização dos usinas, da seguinte forma:
investimentos não amortizados
O método apresentado pelo governo compreendia apenas os TABELA II
CONSOLIDAÇÃO DA REPRESENTATIVIDADE DA AMOSTRA, POR
ativos do projeto básico para as geradoras, isto é, eventuais TIPO DE USINA
melhorias realizadas ao longo de 20 anos seriam desprezadas
para fins de indenização, o que não estava aderente ao previsto
UHE PCH CGH TOTAL
na lei 8.987/1995. Cabe frisar que, especificamente, este ponto
foi revertido pelo decreto 7.850/2012, mas, mesmo assim, Qde Pot. Qde Pot. Qde Pot. Qde Pot.
permaneceram duas questões centrais não respondidas: (i) não (1) TOTAL
201 87.309 472 4.775 487 303 1.160 92.386
havia (e não há, até o momento) uma metodologia de Brasil (BR)
(2) Amostra
avaliação de projetos de melhoria para usinas hidrelétricas, ANEEL
109 65.367 60 446 0 0 169 65.813

dada a especificidade destes investimentos (o que gerava (3) Dados


42 30.843 38 204 4 3 84 31.050
deste trabalho
grande incerteza quanto ao valor a ser indenizado); e (ii) Os % (3) / (2) 39% 47% 63% 46% N/A N/A 50% 47%
conceitos de “amortização” e “depreciação” foram % (2) / (1)
% (3) / (1)
54%
21%
75%
35%
13%
8%
9%
4%
0%
1%
0%
1%
15%
7%
71%
34%
confundidos pela ANEEL. Enquanto “depreciação” é um
conceito contábil, a “amortização” é um conceito econômico, Assim, o presente trabalho coletou dados referentes a
relacionado à extinção de uma dívida. Não importa, portanto, aproximadamente 33,6% da potência hídrica instalada
quanto foi a depreciação contábil do equipamento; o que nacional. Mesmo sendo esta amostra menor do que a que a
importa, na verdade, é quanto foi reintegrado, ou seja, quanto ANEEL utilizou na Nota Técnica 385/2012, é esperado que a
a concessionária recebeu na tarifa por aquele ativo. É amostra deste trabalho reflita melhor os custos operacionais
importante lembrar que o setor já viveu uma época que definia das usinas atingidas pela MP579. Isso porque estas usinas são
sua tarifa pelo custo do serviço, onde sobre os custos totais projetos antigos – e a amostra deve refletir esta realidade. Por
reais da usina se acrescia uma margem que variava de 10% a exemplo, mais de 72% das usinas atingidas pela MP579 (em
12% para calcular seu preço final por MWh. Como a potência instalada) foram construídas até 1980. No entanto, na
depreciação era parte dos custos de geração, conclui-se que a amostra da ANEEL utilizada para calcular os custos eficientes
parcela depreciada era, de fato, reintegrada pela tarifa. No das geradoras, apenas 43% iniciou suas operações até 1980.
entanto, houve um período de congelamento das tarifas que Isso significa que a ANEEL deu mais peso para as usinas mais
não permitiu a total cobertura dos custos de geração, muito modernas, que possuem custos menores.
menos da remuneração adequada dos investimentos e da
reintegração dos ativos, principalmente por conta da alta TABELA III
inflação que incidia sobre os custos, sem ser repassada pela COMPARATIVO DAS AMOSTRAS E DO TOTAL DE USINAS
geradora ao preço da energia. Estudo realizado pela CNI AFETADAS PELA MP579
(Confederação Nacional das Indústrias) verificou que, de
MAC CORD DE FARIA AND SOARES RAMOS : ECONOMIC REGULATION OF BROWNFIELD 4737

Entrada em Atingidas Amostra Dados disponíveis Furnas, Luiz Carlos B. Carvalho, Mascarenhas de Moraes, Curua Uma e Coaracy
operação pela MP579 ANEEL neste trabalho Nunes.
1901-1910 0,01% 0,04% 0,04%
1911-1920 0,10% 0,04% 0,06%
1921-1930 4,31% 1,49% 3,11%
(d) Imprevisibilidade dos processos de Revisão Tarifária
1931-1940 0,10% 0,05% 0,00% O segmento de geração, desde o término dos contratos
1941-1950 0,23% 0,17% 0,23% iniciais, estava desenhado para operar na modalidade de
1951-1960 1,43% 2,77% 2,43% contratação direta, isto é, sem interferência do regulador em
1961-1970 15,10% 9,79% 10,11%
1971-1980 51,54% 29,40% 26,07%
sua tarifa (preços de mercado). Cada investidor tinha
1981-1990 10,22% 18,22% 31,31% autonomia para definir seu preço, concorrendo com outros
1991-2000 15,81% 26,57% 17,60% players em leilões de energia existente (no ACR), ou
2001-2011 1,10% 11,46% 9,05%
simplesmente comercializando sua energia no ambiente de
contratação livre (ACL), isto é, vendendo a preços de mercado
Para evitar o mesmo erro cometido pela ANEEL, segregou-se diretamente aos consumidores finais. No entanto, o modelo
as usinas da amostra em dois grupos distintos, buscando proposto pela MP579 alterava esta premissa, obrigando
calcular a equação que melhor explicasse a evolução dos aquelas concessionárias que renovassem naquele momento a
custos operacionais das usinas com base em sua Potência passarem, a cada 5 anos, por revisões tarifárias discricionárias.
Instalada. O resultado da regressão para as usinas com mais de Esta imprevisibilidade das regras não agradou ao mercado,
30 anos é demonstrado na Fig. 2. que prefere tarifas pré-definidas por todo o período de
contrato, dando autonomia financeira e administrativa.

IV. O LEILÃO 12/2015

i. O que foi
No dia 18 de agosto de 2015 foi publicada a Medida
Provisória 688/2015, cujo objetivo inicial era mitigar o
problema gerado pelo Mecanismo de Realocação de Energia
Figura 2. Usinas em operação há mais de 30 anos.
(MRE) nos 24 meses anteriores. No entanto, junto com este
objetivo, foi incluído nesta MP688 alterações ao modelo
Para verificação da aderência dos resultados deste trabalho, regulatório da MP579. Com esta medida, o governo federal
buscou-se comparar na TABELA a seguir, as informações, novamente ignorou o fato de que o mercado demanda um
para as 26 Usinas Hidro Elétricas (UHE) que forneceram prazo para estudar, absorver e precificar qualquer nova
dados para este trabalho e que operam há mais de 30 anos: (a) medida legal ou regulatória que afete seu negócio. Como visto
Os resultados da equação resultante da regressão demonstrada até agora neste trabalho, a MP579 foi inesperada e controversa
pela Figura 2 (valores de dez/14); (b) O resultado da – e somente alguns anos depois – exatamente quando da
aplicação da fórmula originalmente desenhada pela ANEEL na publicação da MP688 – as geradoras afetadas começavam a
NT 385/2012; e (c) Os custos operacionais reais destas usinas. entender as regras de relicitação e revisão das receitas das
usinas chamadas de “velhas”. O governo silenciou por três
Observa-se que a fórmula originalmente proposta pela anos, que poderia ter usado para colher contribuições dos
ANEEL retirava mais de R$483 milhões dos custos reais agentes em processos regulares de audiência pública. Isso não
destas usinas (49% do valor global “real”), concluindo-se que, foi feito, e o que se viu naquele momento foi uma proposta
de fato, a fórmula originalmente proposta não era aderente à que mudou, novamente, as regras do jogo: a MP688 foi
realidade. Por outro lado, observa-se perfeitamente este publicada no dia 18 de agosto e a ANEEL abriu a audiência
equilíbrio na fórmula proposta por este trabalho, onde há uma pública 054 já no dia seguinte, com o edital de licitação de 29
diferença entre o “regulatório” e o “real” de apenas R$51 usinas que não haviam renovado em 2012, estando o pregão
milhões (ou 5,15% dos custos “reais”), demonstrando que a inicialmente marcado para o dia 30 de outubro. Eram apenas
proposta da ANEEL prejudicou sobremaneira as empresas que 30 dias para que o mercado entendesse as novas regras,
optaram pela renovação nestas regras. realizasse projeções complexas – que envolviam o custo da
TABELA IV
energia no horizonte de 30 anos – e enviasse suas
COMPARATIVO ENTRE OS RESULTADOS DESTE TRABALHO X contribuições à agência; e apenas 42 dias depois, seria o
ANEEL certame (nestes 12 dias a ANEEL precisava ler as
contribuições, julgar o que cabia e o que não cabia, alterar as
Origem dos dados R$ / ano %
regras no que fosse necessário, divulgá-las e o mercado
OPEX calculado pela equação da Fig. 2 1.043.781.349
precisaria, novamente, interpretar as alterações feitas). O
OPEX calculado pela formula ANEEL 509.349.407
OPEX Real (contábil) das usinas 992.642.318
prazo era tão curto que havia o risco de relicitar as usinas
Dif. Equação Fig. 2 (-) ANEEL 534.431.942 205% antes da medida provisória ser transformada em lei (o que, de
Dif. Equação Fig. 2 (-) Real 51.139.031 105% fato, acabou causando o adiamento do leilão para o dia 25 de
Dif. ANEEL - Real -483.292.911 51% novembro, sem que isso tivesse resolvido o problema já que a
Usinas consideradas: Camargos, Emborcação, Itutinga, Jaguara, Salto Grande, São lei 13.203 só foi publicada em 8 de dezembro).
Simão, Três Marias, Volta grande, Gov. Bento Munhoz, Guaricana, Gov. Parigot
de Souza, UHE Pedro Affonso Junqueira (Antas I), Henry Borden, Porto Góes,
Rasgão, Edgard Souza, Isabel, Marimbondo, Itumbiara, Funil, Porto Colômbia, A proposta original era: (a) Alteração do modelo adotado até
aquele momento no governo PT, isto é, do menor custo do
4738 IEEE LATIN AMERICA TRANSACTIONS, VOL. 14, NO. 12, DECEMBER 2016

MWh, para o modelo de pagamento de uma outorga pelo depreciação média de uma usina é de 2,4% ao ano.
ganhador (não era exatamente o modelo utilizado na década Considerando que a ANEEL está ofertando algo entre 2% e
de 1990, pela maior outorga, mas era uma mudança 3% ao ano, haveria cobertura suficiente – restando saber se
importante na forma de licitar os ativos). Isso renderia R$17 este valor será transformado em ativo (modernizando a usina e
bilhões aos cofres públicos; e (b) Possibilidade do operador prolongando sua vida útil) ou lucro (canibalizando o ativo).
vencedor comercializar livremente 30% da energia da usina
arrematada, que antes era integralmente destinada ao mercado V. PROPOSTAS PARA 2026
cativo (onde estão os consumidores residenciais).
i. Abrangência
O primeiro ponto foi criado apenas por uma questão de A lei 9.074/1995, que “estabelece normas para outorga e
necessidade, posto que o então ministro da fazenda, Joaquim prorrogações das concessões e permissões de serviços
Levy, precisava de alguma forma reduzir o déficit público do públicos e dá outras providências”, tinha – quando de sua
ano de 2015. A grande vantagem é que os R$17 bilhões não publicação – o prazo máximo de 35 anos para a concessão. No
seriam financiados pelo BNDES, devendo obrigatoriamente entanto, muitos contratos firmados a partir de 1995 tiveram a
ser “dinheiro novo” dos investidores. Já o segundo ponto foi definição de um prazo de 30 anos. Esta condição pode ser
flexibilizado justamente pelas reclamações constantes que observada, por exemplo, no contrato 01/1996, firmado com a
todas as concessionárias faziam junto ao governo e à ANEEL: Light para diversas usinas, com vencimento em junho de
o valor ofertado no mercado regulado não era suficiente para 2026, assim como no contrato 92/1999, firmado com a AES
cobrir os custos reais de operação das usinas. Como a ANEEL Tietê, com vencimento em dezembro de 2029. Outros
não tinha tempo de compreender onde, exatamente, estava o contratos, como o 05/1997 (UHE Lajeado), 06/1997 (UHE
erro, preferiu flexibilizar a comercialização da energia gerada, Queimado) e 09/1997 (UHE Machadinho) utilizaram o prazo
dando ao mercado livre 30% da produção como forma de máximo de 35 anos. Isso significa que, a partir de 2026,
equacionar as receitas e despesas dos operadores. Ainda, criou dezenas de contratos com prazos distintos começarão a vencer
uma metodologia chamada de GAG-Melhoria, que definiu um de forma sequencial. Para evitar a repetição da MP579, é
valor fixo para investimentos (em detrimento da metodologia preciso que sejam discutidas desde já as regras de renovação
anteriormente ofertada na MP579, de Base de Remuneração, (ou relicitação) do que será feito na ocasião – até para que os
que começava a concessão com valor “zero” e deveria ser concessionários atuais decidam quanto ao seu plano de
recomposta ao longo de todo o contrato, em um modelo que investimentos, estratégias comerciais, etc. Propõe-se que o
inviabilizava o fluxo de caixa nos primeiros anos). Apesar modelo aplicado seja similar ao do leilão 12/2015, porém com
deste ser o modelo utilizado pelas distribuidoras de energia, a alguns ajustes importantes – como demonstrado a seguir.
diferença está no fato das distribuidoras terem sido vendidas
com sua base de remuneração integral, sendo que as geradoras ii. Detalhamento da proposta
teriam todos os seus ativos indenizados antes da venda. Com base na análise do histórico ocorrido no processo de
renovação das concessões em 1995, 2012 e 2015, buscou-se
ii. Resultados alcançados na Tabela V a seguir consolidar sugestões a serem aplicadas
Todos os lotes foram arrematados. A única concorrência do em 2026, quando os próximos contratos de geração hídrica
certame foi o da usina de Rochedo (4 MW), com um deságio começam a vencer.
de 13,58% - pouco representativa no montante total. Este
resultado pode não ter sido o melhor para o consumidor (que TABELA V
CONTRIBUIÇÕES AO PROCESSO DE RELICITAÇÃO DAS USINAS EM
terá uma energia mais cara, pela ausência de deságio), mas foi 2026
positivo para o governo federal (que levantou os R$17 bilhões
propostos como outorga fixa). Ação
Calcula-se pela fórmula proposta neste
trabalho (que explica os custos operacionais
iii. Análise crítica do método empregado Custos Definição do das usinas com mais de 30 anos com grande
A baixa concorrência do certame pode ser explicada pelo Operacionais valor precisão). Soma-se este valor aos demais
(OPEX) "eficiente" listados a seguir, e licita-se pelo menor valor
pouco tempo que os interessados tiveram para visitar as usinas anual global (que será fixo até o fim do
e levantar o montante necessário para pagamento da outorga. contrato).
Caso o prazo tivesse sido maior, provavelmente novos players A indenização ao operador atual (ou seja,
aquele que vai ceder seu contrato ao novo
poderiam participar. O principal fato que comprova esta teoria operador que entrará em 2026) deve ser
Indenização
é que a Cesp, dona das concessões de Jupiá e Ilha Solteira (as dos ativos não-
calculada ex-ante, de forma que o operador
atual já conheça o valor que irá receber no
duas maiores do leilão), não conseguiu levantar o valor depreciados
final do contrato. O valor da indenização deve
necessário para entrar na competição, tendo perdido suas ser pago pelo novo concessionário, junto com
a outorga.
usinas para a chinesa Três Gargantas. Não deve haver indenização ao final do
Investimentos
contrato. Isso porque o novo concessionário
(CAPEX)
Especificamente sobre a metodologia empregada, a principal Indenização
deverá saber, já no momento da licitação,
quais investimentos precisarão ser feitos ao
crítica se faz pela definição de um valor fixo (GAG-Melhoria) dos ativos não-
longo de todo o contrato, cabendo ao
depreciados no
sem um estudo prévio de quais melhorias precisariam ser final do novo
concessionário calcular a tarifa que possa
amortizar totalmente estes investimentos
feitas, e isso fará com que o “bom senso” do concessionário contrato
dentro do período contratual. Assim,
dite se, no 30º ano após a assinatura do contrato, aquela usina desvincula-se as taxas de depreciação
contábeis da amortização do investimento.
estará em boas ou más condições. Ressalta-se que a Forma de O plano de investimentos deverá estar claro no
MAC CORD DE FARIA AND SOARES RAMOS : ECONOMIC REGULATION OF BROWNFIELD 4739

Ação forma a dar ao concessionário atual a correta sinalização de


reconhecimento Edital (incluindo todos os custos necessáriso à
dos novos renovação da licença de operação da usina). planejamento técnico, operacional e comercial nos últimos 10
investimentos Ressalta-se que eventuais falhas comprovadas anos de concessão, e debater de forma ampla, junto a todos os
no Plano de Investimentos (por exemplo: um
problema estrutural na barragem que não foi
agentes interessados, as métricas deste processo – de forma a
levantado pelo Edital) deve ser considerado de mitigar qualquer efeito negativo que as regras possam trazer
forma adicional na tarifa. Para isso, a ao setor elétrico brasileiro.
concessionária que ganhar o novo contrato
poderá sugerir à ANEEL alterações ao plano
definido no Edital, podendo a Agência acatar REFERÊNCIAS
ou não estas sugestões.
Os investimentos previstos no Edital e a [1] ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica. Resolução 244:
outorga a ser cobrada devem ser devidamente
Estabelece os critérios de cálculo dos montantes de energia e demanda de
remunerados por uma taxa de retorno adequa-
da ao segmento e à realidade econômica brasi- potência, a serem considerados nos contratos iniciais. Brasília: 1998.
Forma de [2] ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica. Resolução 269:
leira da época. O valor da amortização e da
remuneração Estabelece as tarifas dos contratos iniciais. Brasília: 1998.
remuneração devem ser somados à parcela do
pela operação
OPEX, compondo o valor anual global pelo [3] BRASIL. Lei 8.987: Dispõe sobre o regime de concessão e permissão da
qual deverá ser licitada a usina. A partir da li- prestação de serviços públicos previsto no art. 175 da Constituição Federal, e
citação, mantém-se estes valores fixos (apenas dá outras providências. Brasília: 1995.
corrigidos pela inflação) até o fim do contrato.
[4] CNI - Confederação Nacional da Indústria. A Crise do Setor Elétrico:
Risco de Destino da Manter a proposta do leilão 12/2015 (70% diagnóstico e medidas corretivas. Brasilia: 1986.
Mercado energia gerada ACR, 30% ACL) [5] EPE - Empresa de Pesquisa Energética. Resenha mensal do Mercado de
O investidor deve ter a garantia de comercia- energia elétrica. Rio de Janeiro: 2013.
lizar a GF da usina. Todo o risco do MRE
deveria ser ônus e bônus da CDE, que usaria a [6] FARIA, Diogo M. C. de. O desafio da regulação econômica: as empresas
Risco Ônus e Bônus estaduais devem ser reguladas da mesma forma que as novas concessões
energia de reserva para manejar o sistema.
Hidrológico do MRE privadas de saneamento? IX Congresso Brasileiro de Regulação, 2015.
Isso quer dizer que, mesmo podendo destinar
30% da GF para o ACL, o concessionário não [7] G1. Caso de renovação de concessões da Eletrobras gera multa à União,
teria que administrar risco hidrológico. 2015. URL: http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/05/caso-de-
Sugere-se que a outorga seja a diferença entre renovacao-de-concessoes-da-eletrobras-gera-multa-uniao.html.
a metade do Valor Novo de Reposição (VNR) [8] GREINER, Peter. Bases para um modelo auto-regulador para o Setor
da usina, calculado ex-ante ao Edital, e o valor
a ser indenizado ao operador atual,
Elétrico Brasileiro. Tese (doutorado) - Fundação Getúlio Vargas, Escola de
compartilhando com o consumidor os ganhos Administração de Empresas de São Paulo. São Paulo, 1994.
Outorga de ser um negócio antigo, porém dando um [9] MME - Ministério de Minas e Energia. Apresentação pública: Redução do
volume de investimento suficiente para Custo de Energia Elétrica. Brasilia, 2012.
sustentar o negócio (diferente do modelo da [10] TCU - Tribunal de Contas da União. Relatório 011.223/2014-6:
MP579, que reconhecia apenas o O&M, não Auditoria operacional. Impacto da medida provisória nº 579/2012 –
dando o volume financeiro necessário a um convertida na lei nº 12.783/2013 – na conta de desenvolvimento energético -
negócio de grande porte).
CDE e no sistema elétrico brasileiro. Brasilia, 2014.
Sugere-se utilizar o prazo de 20 anos (mesmo
prazo de 1995), posto que o valor a ser
Prazo
amortizado será metade do valor de uma usina Diogo Mac Cord de Faria, é engenheiro de produção
nova. Além de desnecessário, aumentar este mecânico, mestre em desenv. de tecnologia pelo
prazo seria inadequado, posto que o plano de LACTEC/UFPR, doutor em sistemas de potência pela USP e
investimentos poderia ficar distorcido.
mestrando em administração pública pela Universidade de
Destino da
energia Proporcional ao restante da
Harvard (Kennedy School), onde desenvolve pesquisa
adicional usina (70% ACR, 30% ACL). relacionada a estratégia de investimentos em infraestrutura
gerada (bolsista pela Fundação Lemann). Foi líder de projetos da
O operador pagará pelo Ernst & Young na área de energia e consultor da UNESCO para assuntos de
Quanto ao aumento da
capacidade instalada
aumento de capacidade que já saneamento básico. É co-fundador e sócio de regulação econômica da
Quem paga deverá estar previsto no consultoria LMDM, coordenador do MBA do Setor Elétrico da FGV e
pelo Edital, e terá que recuperar professor de estratégia regulatória e revisão tarifária em diferentes cursos in-
investimento todo o investimento realizado
company organizados pela FGV, UnB e ABDIB. Se envolveu em projetos que
dentro do prazo contratual de
concessão somam mais de R$40 bilhões nas áreas de energia elétrica, saneamento
básico, distribuição de gás e transportes urbanos (como consultor das
principais agências reguladoras do país e dos principais players privados
Assim, observa-se diferenças fundamentais entre o método nacionais). Liderou o projeto de P&D da APINE/ABRAGE que pesquisou o
proposto e aqueles utilizados nos eventos anteriores de 1995, modelo regulatório de usinas hidrelétricas brownfield no Brasil. Em Harvard é
2012 e 2015. Chair do Infrastructure & PPP Committee, um grupo de estudos que envolve
pesquisadores da Kennedy School, Business School e MIT. É conselheiro do
Instituto de Obras Públicas (IOP) no projeto “Infraestrutura para Crescer”.
VI. CONCLUSÃO
Dorel Soares Ramos, é Sócio Administrador da MRTS,
Passados 20 anos das primeiras renovações de contratos do possui graduação, mestrado e doutorado em Engenharia
Elétrica pela Universidade de São Paulo. Foi Diretor de
setor elétrico, e considerando os três momentos distintos onde Regulação da Holding EDP Energias do Brasil até 2009,
estas renovações ocorreram, é possível analisar os erros e tendo sido ainda Diretor de Comercialização de Energia e de
acertos de cada evento. Como regra, identifica-se que todos os Estratégia Regulatória das Distribuidoras Bandeirante
erros de 1995, 2012 e 2015 foram gerados pela pressa em criar Energia, Escelsa (ES) e Enersul (MS). Atuou na indústria de energia elétrica
como Eng. Consultor da THEMAG Engenharia Ltda e Hidroservice
metodologias “emergenciais”, tendo sido protelada a Engenharia de Projetos Ltda, tendo participado dos primeiros estudos das
discussão a respeito dos detalhes envolvendo valores de interligações Norte-Sul e Norte-Nordeste do Brasil. Trabalhou ainda por 18
indenização, cálculo do preço-teto e plano de investimentos. anos na CESP – Companhia Energética de São Paulo, onde foi
Superintendente de Planejamento do Sistema, liderando as áreas de Projeção
de Mercado / Planejamento de Geração / Planejamento de Transmissão e
Desta forma, resta incontestável a importância de se discutir, Desenvolvimento de Novos Negócios. Fez trabalhos de Consultoria em
antecipadamente, o detalhe das regras de final de contrato, de Planejamento de Sistemas Elétricos e em Modelagem Institucional em vários
4740 IEEE LATIN AMERICA TRANSACTIONS, VOL. 14, NO. 12, DECEMBER 2016

países, tais como México; El Salvador; Venezuela; Colômbia; Chile;


Argentina; Bolívia, Costa Rica e Suriname. Foi Consultor do Ministério de
Minas e Energia, tendo participado do Projeto RE-SEB (Re-estruturação do
Setor Elétrico Brasileiro); Projeto RE-SEB - COM (Complementação do
trabalho anterior). Realizou trabalhos de Consultoria para os principais
Grupos estrangeiros, tais como Enron; AES; Total; PowerGen; Duke Energy;
British Gas; Endesa; Union Fenosa; Amoco Nova Gas; Hydro Quebec;
Intergen; EDF;Florida Power (EUA) e National Power (UK) através da
consultora americana Hagler Bailly. É também Professor Doutor do
Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas da Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo.

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