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XVI a XVIII)
Na civilização medieval não havia intenção educativa explícita, o ser humano integrava-se no
grupo onde estava inserido socialmente e absorvia a sua cultura através da interação e partilha
quotidiana.
Com o inicio de uma consciência de que a sociedade se deve ocupar das crianças (educáveis e
moldáveis) e instituir processos educativos intencionais , a criança passa a ser centro de
preocupação passa-se a relacionar a infância com a pedagogia.
A produção do modelo escolar surge no sec. XVI com a consciência de que “o homem é
moldável através de uma acção racional e organizada” cit. por Nóvoa (1994). A escola passará a
ser responsável pelo trabalho de reprodução das normas e transmissão cultural.
A perspectiva pedagógica Jesuíta implicava ver a Escola não só como um local de Ensino, mas
também como um local de Vida, sociabilidade e responsabilidade, articulando os conceitos
Instrução e Educação. A Escola e a formação dos estudantes não eram apenas um conjunto de
aulas, mas também várias actividades do dia-a-dia que implicavam sempre uma visão do todo.
Resumindo, o início desta cultura escolar produziu neste período a definição de um conjunto de
saberes e comportamentos a ensinar e um conjunto de práticas que permitem fazê-lo, sendo elas:
-Organização de classes em função das idades dos alunos e de programas escolares por níveis;
-Sistema de autoridade dos mestres em relação aos alunos com a criação de um corpo
profissional específico constituído por laicos para o “ensino elementar” e por religiosos ao nível
do ensino secundário;
Na Europa a meados do sec. XVIII já existiam um conjunto de escolas regidas por estas práticas
e no final deste século já existiam em Portugal uma rede de escolas públicas.
O Pombalismo foi um período de 27 anos que começou em 1750 com a morte de D. JoãoV ao
qual se seguiu D. José I que elege para o poder o ministro Sebastião José de Carvalho e Melo –
o Marquês de Pombal. Este período termina em 1777 com a morte de D. José que faz cair do
poder o Marquês de Pombal.
As Novas realidades políticas sociais e económicas que acompanharam o Pombalismo irão criar
uma rutura neste plano educativo tutelado pela igreja que passará a ser tutelado pelo estado,
havendo uma mudança de autoridade. Ninguém podia ensinar nem publicamente nem em
privado fora das classes instituídas para esse efeito sem aprovação e licença do Diretor de
Estudos (equivalente ao nosso ministro da educação) que era responsável pela nomeação dos
professores que eram sujeitos a um exame feito por dois professores régios de Gramática. Os
sistemas estatais vão agora aprofundar o modelo escolar desenvolvido pela igreja, criando um
sistema educativo único com renovação de currículos e programas.
Segundo Nóvoa (1994) Portugal foi o primeiro país católico a proceder à laicização do ensino e
esta transição não foi pacífica. Uma sentença de Junta da Inconfidência de 12 de Janeiro de
1759 expulsou os jesuítas de Portugal privando-os completamente de exercerem o ensino em
Portugal interrompendo subitamente toda a obra jesuíta relacionada com o ensino. Ao ser
decretada a expulsão dos Jesuítas de todos os territórios portugueses, ultramar incluído (e com a
posterior extinção da própria Companhia em 1773, por ordens do Papa Clemente IX), terminou
o primeiro período da Companhia de Jesus em Portugal. Primeiro período na medida em que
estes voltariam mais tarde a (re)surgir no nosso país em 1829, quando o Papa Pio VII restaura
novamente a Ordem e é permitido o regresso dos Jesuítas, ainda que em número pouco
significativo. Este ciclo de extinções/expulsões e posteriores regressos e início de atividade, foi
uma constante até ao Séc. XX e deflecte de forma muito clara a existência daquilo que se
poderia chamar uma problemática Jesuíta.
O desenvolvimento dos sistemas estatais de ensino começou com esta emergência do poder do
estado sobe a igreja, depois o estado passou a usar os seus poderes e recursos para ir
controlando progressivamente esta educação formal . No desenvolvimento do movimento
iluminista que se segue ao pombalismo, também a educação deixa de ser tutelada pela igreja,
mas sendo um regime liberal era mais tolerante que o regime absolutista de Marquês de Pombal.
As reformas pombalinas do séc. XVIII criaram uma rede oficial de ensino. Os professores do
ensino secundário eram todos religiosos e após a expulsão dos jesuítas em 1795 o secundário
ficou sem professores e para colmatar esta situação surgiu a primeira manifestação da reforma
no ensino que se regeu por três grandes princípios: o ensino ser da exclusiva competência e
responsabilidade do estado; a uniformização do ensino com a prática desta reforma em todo o
país; um diretor de estudos, nomeado por Marquês de Pombal, terá a responsabilidade de
coordenar o ensino.
Em 1772 Marquês de Pombal implantou uma lei que anunciava a coleta de um imposto
“subsídio literário” para financiar as despesas de educação (Gomes, 1982). Para além dos
professores deixarem de estar sob tutela religiosa, com esta lei os poderes locais também
deixam de ser responsáveis pelas despesas de educação. Esta alteração da autoridade dos
poderes locais gerou controvérsia uma vez que estes desejavam continuar a ter o direito de
supervisionar a ação docente e os docentes defendiam que eram tutelados pelos poderes centrais
do estado e não pelos poderes locais (Nóvoa, 1994).
O sistema de instrução pública que foi estabelecido pelo Marquês de Pombal e fazia parte do
projeto político que marcou o Pombalismo e como tal próprio “ato pedagógico” evidencia uma
política. Este sistema de ensino que surgiu com as referidas reformas de 1759 e de 1772
proclama a criação do ensino primário oficial, no entanto não permitia o acesso de todos ao
ensino uma vez que quem trabalhava no campo e em fábricas não podia ter acesso ao ensino,
bastava a formação dos párocos através do catecismo. Os outros que não exerciam essas funções
apenas poderiam aprender a ler e contar com os ditos mestres de ler, escrever e contar, só um
número muito reduzido é que podia continuar os estudos.
Comentário final
A escola tal como a conhecemos atualmente, a sua organização espacial e temporal (a divisão
concisa do espaço e do tempo escolar), o conceito de classe, o princípio da progressão, a
valorização do grupo e do indivíduo, o mérito premiado (e também a competição entre
estudantes), o novo papel do professor na sala de aula ou a sua formação, são também efeitos
visíveis e um legado do sistema de Ensino Jesuíta. O ensino coletivo (o referido ensino
simultâneo) iniciado com o modelo escolar dos colégios jesuítas onde o professor vai olhar para
o grupo de alunos como um todo começou a ser criticado nos anos setenta quando se
começaram a desenvolver formas de individualização do ensino coletivo contemplando as
necessidades diferentes dos alunos.
Foi o Marquês de Pombal quem pela primeira vez planeou uma rede de escolas primárias
públicas. Antes a instrução era da responsabilidade da família, da igreja e pontualmente do
estado que pagava a mestres de ler e de escrever. Embora o Marquês proclame criar condições
para que o benefício da instrução se alargasse ao maior número de pessoas, a realidade
ideológica e económica do século XVIII não o permitia sendo isso contemplado na reforma de
1772 como foi referido nos parágrafos anteriores. Por estas razões nesta época o “ensino para
todos” era uma utopia. Os intelectuais do sec. XVIII não viam com bons olhos a instrução
generalizada para todos. No final sec XVIII em Portugal sistema estatal de ensino teve objetivos
e conteúdos muito longe dos objetivos proclamados pela fase seguinte do estado liberal (1820-
1834). O Pombalismo é influenciado pelas “luzes” mas em vez de liberdade havia censura e o
Marquês de Pombal não era moderado pois não havia ainda constituição e o poder concentrava-
se todo no rei que tinha poder absoluto. Este absolutismo precisava de um povo pouco instruído
que não o questionasse. No liberalismo monárquico (quando a sociedade passa a ser regida por
uma constituição) qualquer cidadão tinha o direito de abrir uma escola e agora (ainda
teoricamente) a educação pretende chegar a todos.. Por seu lado o discurso pedagógico liberal
também apresentou objectivos contraditórios. Por um lado o projecto integrador e unificador do
estado liberal manifesta uma vontade de integração e de regulação social (o analfabeto, a mulher
e os menores de rendimento não estariam em condições de ser cidadão eleitor), por outro lado
manifesta uma vontade de libertação, de emancipação do género humano. O liberalismo com o
seu discurso anti-eclerical também pretendeu retirar o poder económico à igreja, mas no entanto
não há combate ao catolicismo a carta constitucional estabelece a religião católica como a
religião oficial do Reino de Portugal, funcionando o catolicismo como um elemento agregador
social.
A direção e a regulação do sistema de ensino continuou ao longo do século XIX e até aos dias
de hoje a ser feita pelo estado. Só no século XX na década de setenta as escolas primárias
viriam a acolher a totalidade das crianças do grupo etário dos 6 aos 10 anos.
Referências Bibliográficas
Vários. (1994). Pedagogia Inaciana – Uma Abordagem prática. Braga: Grupo de Reflexão e
análise da Companhia de Jesus.