Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Metodologia e
Prática do Ensino de
Educação Infantil
Apresentação
É com satisfação que a Unisa Digital oferece a você, aluno(a), esta apostila de Metodologia e Práti-
ca do Ensino de Educação Infantil, parte integrante de um conjunto de materiais de pesquisa voltado ao
aprendizado dinâmico e autônomo que a educação a distância exige. O principal objetivo desta apostila
é propiciar aos(às) alunos(as) uma apresentação do conteúdo básico da disciplina.
A Unisa Digital oferece outras formas de solidificar seu aprendizado, por meio de recursos multidis-
ciplinares, como chats, fóruns, aulas web, material de apoio e e-mail.
Para enriquecer o seu aprendizado, você ainda pode contar com a Biblioteca Virtual: www.unisa.br,
a Biblioteca Central da Unisa, juntamente às bibliotecas setoriais, que fornecem acervo digital e impresso,
bem como acesso a redes de informação e documentação.
Nesse contexto, os recursos disponíveis e necessários para apoiá-lo(a) no seu estudo são o suple-
mento que a Unisa Digital oferece, tornando seu aprendizado eficiente e prazeroso, concorrendo para
uma formação completa, na qual o conteúdo aprendido influencia sua vida profissional e pessoal.
A Unisa Digital é assim para você: Universidade a qualquer hora e em qualquer lugar!
Unisa Digital
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..................................................................................................................................................... 5
1 BREVE HISTÓRICO....................................................................................................................................... 7
1.1 Educação Infantil: da Antiguidade ao Século XXI.....................................................................................................7
1.2 Educação Infantil no Brasil.............................................................................................................................................. 10
1.3 Resumo do Capítulo.......................................................................................................................................................... 12
1.4 Atividades Propostas......................................................................................................................................................... 12
2 METODOLOGIA...........................................................................................................................................13
2.1 Alguns Precursores da Educação Infantil – Concepções e Métodos.............................................................. 14
2.2 Resumo do Capítulo.......................................................................................................................................................... 21
2.3 Atividades Propostas......................................................................................................................................................... 21
3 O PAPEL DO PROFESSOR.....................................................................................................................23
3.1 Resumo do Capítulo.......................................................................................................................................................... 24
3.2 Atividade Proposta............................................................................................................................................................. 24
6 ASPECTOS ORGANIZACIONAIS......................................................................................................47
6.1 A Organização do Tempo................................................................................................................................................ 47
6.2 A Organização do Espaço................................................................................................................................................ 49
6.3 Resumo do Capítulo ......................................................................................................................................................... 49
6.4 Atividade Proposta ........................................................................................................................................................... 49
7 EDUCAR E CUIDAR...................................................................................................................................51
7.1 Resumo do Capítulo.......................................................................................................................................................... 54
7.2 Atividade Proposta............................................................................................................................................................. 54
8 CULTURA DA INFÂNCIA................................................................................................................... 55
8.1 Resumo do Capítulo.....................................................................................................................................................56
8.2 Atividade Proposta ......................................................................................................................................................56
9 BRINCAR..................................................................................................................................................... 57
9.1 O Faz de Conta................................................................................................................................................................58
9.2 Resumo do Capítulo.....................................................................................................................................................61
9.3 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................61
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................. 63
RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS...................................... 65
REFERÊNCIAS.............................................................................................................................................. 67
INTRODUÇÃO
Você já pensou qual é o sentimento que você traz da sua infância? Você lembra-se dela? Qual sen-
timento de infância existe entre nós? Ele foi sempre o mesmo? É o mesmo em todas as Unidades que
trabalham com a infância? Varia conforme a região do país? Muda conforme o educador? A compreensão
de pais e professores coincide? O que pode e o que não pode ser feito com as crianças? Quem deve de-
finir? Com base em quê? O que as crianças fazem nas Unidades de Educação Infantil? Como deve ser or-
ganizado o ambiente de modo a favorecer o melhor desenvolvimento das crianças nas diferentes áreas?
Qual a formação profissional necessária? Quais as propostas curriculares? Qual a melhor metodologia?
Essas são algumas perguntas que norteiam as pesquisas e estudos acerca da Educação Infantil. Nes-
ta disciplina, certamente não responderemos muitas delas, mas propiciaremos importantes reflexões,
que nos permitirão esclarecer algumas questões.
Saiba mais
De acordo com a concepção de infância/crian-
ça que tivermos, fundamentaremos nossas práticas Fernando Pessoa também fez poemas so-
pedagógicas e, consequentemente, a metodologia a bre a infância:
ser implementada, ora defendendo uma criança mais “Por que esqueci quem fui quando criança?
Por que deslembra quem então era eu?
ativa, ora mais obediente, entre outras possibilidades. Por que não há nenhuma semelhança
As práticas educativas devem ser contempla- Entre quem sou e fui?”
5
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Roseli Helena de Souza Salgado e Rosilda Silvio Souza
Salientamos que esta etapa seja planejada com identidade própria; convém não cair no engano de
deixar-se levar pelas exigências que as etapas obrigatórias de ensino possam manifestar.
É muito importante sabermos o que queremos ensinar e o porquê. A partir disso já encontraremos
maneiras diversas de chegar lá. A reflexão sobre o que queremos que as crianças aprendam no de-
correr da etapa é um elemento fundamental para que haja coerência.
As propostas curriculares constituem-se em documentos orientadores para a prática educativa. Sua
leitura, análise e discussão, nas equipes de professores, contribui para esclarecer os referentes con-
tidos e tomar as decisões mais coerentes e compartilhadas. (BASSEDAS; HUGUET; SOLÉ, 1999, p. 88).
Indicamos que, numa prática educativa de qualidade, além das linguagens e da metodologia, os
aspectos organizacionais também requerem cuidado especial, bem como os instrumentos metodológi-
cos do professor.
Por considerarmos a relevância para o trabalho na educação infantil da organização do espaço e
tempo, do cuidar e educar, da cultura da infância e da brincadeira, incluímos esses temas nesta apostila.
Devido aos diversos assuntos que comporão esta apostila, a dividimos em duas partes:
6
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
1 BREVE HISTÓRICO
Sócrates disse temer muito mais aqueles acusadores que foram convencidos quan-
do eram crianças, de que ele era um sábio que se preocupava com as coisas celestes
e subterrâneas e que fazia mais forte o argumento mais débil, do que aqueles que
só foram convencidos daquelas acusações em idade adulta.
Apologia de Sócrates
7
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Roseli Helena de Souza Salgado e Rosilda Silvio Souza
No Período Medieval, segundo Ariès, não uma mulher que não trabalhasse fora, no qual se
havia uma consciência de infância. Até aproxima- reuniam crianças de várias idades.
damente os séculos XVII e XVIII, as crianças eram Com a Revolução Industrial, muitas mulheres
vistas como adultos em miniatura, conviviam com foram trabalhar nas fábricas, aumentando a neces-
os adultos, sem tratamento específico para a infân- sidade de locais onde pudessem deixar as crianças.
cia, nem mesmo existiam instituições próprias para As creches surgiram na França, por volta de
a infância. As crianças eram vestidas como adultos 1840. Elas cuidavam de crianças recém-nascidas.
e participavam das mesmas práticas sociais que os As denominações das Unidades de Atendimento à
adultos. Até o século XVII, a vida, bem como a so- Infância variavam conforme a região, entre elas,
brevivência das crianças, não tinha relevância. encontramos as Salas ou Casas de Asilo. Durante a
A pesquisa historiográfica de Ariès apresen- primeira metade do século XIX, em países como a
ta alguns pontos polêmicos e superados, contudo Holanda e a Itália, também surgiram instituições si-
duas dimensões ainda não o foram: milares ao que são as creches, o jardim de infância
de Froebel e a sala de asilo, depois escola maternal,
a) a idéia de que a percepção, periodiza- que foram as instituições mais difundidas.
ção e organização da vida humana é uma
A mais bem-sucedida das instituições foi o
variante cultural e que a forma como uma
sociedade organiza ‘as etapas da vida’ deve jardim de infância, visto por alguns como a única
ser sempre objeto de pesquisa histórica; proposta detentora de uma concepção pedagó-
b) na modernidade européia, senão a in- gica. “Froebel pretendia não apenas reformular a
venção, pelo menos uma fortíssima inten- educação pré-escolar, mas, por meio dela, a estru-
sificação de sentimentos, práticas e idéias
tura familiar e os cuidados à infância, envolvendo a
em torno da infância ocorreu como em
nenhum outro período anterior da história relação entre as esferas pública e privada.” (KUHL-
humana. (KOHAN, 2003, p. 67). MANN, 2001, p. 10).
Pelo exposto até aqui, percebe-se que a so-
A partir do século XVII, considerável mudan- ciedade europeia, após o século XVII, passou por
ça ocorreu no tratamento dado à infância. As fa- diversas transformações, tornando-se mais urbana
mílias foram se organizando ao redor das crianças, e alterando o modelo de família existente. Além
que foram se organizando ao redor daquelas. O disso, a ocorrência de um período de conflitos afe-
Estado, preocupado com a formação delas, favore- tou sobremaneira as crianças, desencadeando a
ceu a criação de instituições educativas, entre elas, criação de instituições filantrópicas responsáveis
a escola. pela sua educação. As primeiras, devido ao vínculo
As instituições de educação para crianças de religioso, preocupavam-se com a formação moral e
0 a 6 anos de idade passaram a despontar na Euro- religiosa das crianças.
pa ao final do século XVIII, criadas para atender às Autores como Comênio, Rousseau, Pestaloz-
crianças pobres e às mães trabalhadoras, apresen- zi, Decroly, Froebel e Montessori contribuíram para
tando-se com fortes características educacionais. a uma nova visão de criança, considerando-a dife-
Nelas, a criança deveria: perder os maus hábitos, rente dos adultos, com necessidades e caracterís-
adquirir hábitos de obediência, sinceridade, bon- ticas próprias: interessadas em explorar objetos e
dade e ordem; conhecer as letras minúsculas; so- participar de brincadeiras.
letrar; pronunciar bem as palavras e sílabas difíceis; No final do século XIX e início do século XX,
conhecer a denominação correta das coisas; e ad- leis foram criadas e propagaram-se instituições so-
quirir as primeiras noções de moral e religião. Em ciais nas áreas da saúde pública, do direito da fa-
determinadas regiões, esses locais eram chamados mília, das relações de trabalho e da educação. As
refúgios, com o objetivo principal de guardar os instituições jurídicas, sanitárias e de educação po-
filhos das mulheres que precisavam ficar fora de pular substituíram a tradição hospitalar e carcerária
casa. O refúgio era uma sala ou um local na casa de existente no período anterior.
8
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Metodologia e Prática do Ensino de Educação Infantil
No início do século XX, os estudos sobre a Na segunda metade do século XX, após a Se-
criança foram aprofundados ainda mais. O movi- gunda Guerra Mundial, o mundo ficou imbuído de
mento conhecido como Escola Nova ou Escolano- forte sentimento de justiça social, propiciando, em
vismo trouxe significativas contribuições no sen- 1959, a promulgação da Declaração dos Direitos da
tido de orientar as práticas pedagógicas voltadas Criança.
para a infância. Atualmente, final do século XX e início do
Na psicologia, tivemos a contribuição de au- XXI, a Educação Infantil já se constitui como uma
tores como: necessidade social, cujo investimento é indiscutí-
vel, porém as discussões giram em torno de como
Vygotsky, psicólogo russo, que reco- organizá-la, visando à garantia de uma melhor
nheceu a importância da introdução da qualidade de atendimento.
criança na cultura por parceiros mais Na Europa, cada país tem seus critérios de
experientes, desenvolvendo a memória, atendimento às crianças pequenas, cujo limite vai
atenção, pensamento, linguagem etc. até a idade para a escolaridade obrigatória, nor-
por meio dessa interação; malmente por volta dos 6 anos, variando muito de
Wallon, neuropsiquiatra francês, segun- um país para outro o número de crianças atendi-
do o qual o desenvolvimento intelectual das, especialmente entre as mais novas.
envolve muito mais do que um simples Com relação à creche, há países integrando-a
cérebro; foi o primeiro a levar não só o ao sistema de ensino (poucos ainda) e outros ainda
corpo da criança, mas também suas emo- em vias de discussão, inclusive com relação ao fi-
ções, para dentro da sala de aula. Baseou nanciamento, em que há divergências: em alguns,
suas ideias em quatro elementos básicos procede da área social e, em outros, de empresas,
que se comunicam o tempo todo: a afe- do Ministério do Trabalho e até mesmo dos pais.
tividade, o movimento, a inteligência e a Há ainda duas visões acerca da Educação
formação do eu como pessoa; Infantil, ora voltando-se para uma educação com-
Piaget, biólogo suíço, estudioso da evo- pensatória para as crianças carentes, ora defen-
lução do pensamento até a adolescência, dendo o direito dessa modalidade de ensino para
procurou entender os mecanismos men- todas as crianças. Acrescente-se a visão da Educa-
tais que o indivíduo utiliza para captar o ção Infantil como preparatória para o Ensino Fun-
mundo. Como epistemólogo, investi- damental ainda muito presente. Quaisquer desses
gou o processo de construção do conhe- objetivos atribuídos à Educação Infantil definem o
cimento. modo como será conduzido o ensino nela.
Como apontado anteriormente, as concep-
Dicionário ções de infância e de Educação Infantil orientarão
o trabalho do professor. Você já pensou nisso?
Epistemologia: reflexão geral em torno da
natureza, etapas e limites do conhecimento
humano, especialmente nas relações que se
estabelecem entre o sujeito indagativo e o ob-
jeto inerte, as duas polaridades tradicionais do
processo cognitivo; teoria do conhecimento
(Dicionário Houaiss).
9
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Roseli Helena de Souza Salgado e Rosilda Silvio Souza
10
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Metodologia e Prática do Ensino de Educação Infantil
11
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Roseli Helena de Souza Salgado e Rosilda Silvio Souza
O histórico da educação infantil indica que a infância foi compreendida de diferentes maneiras ao
longo da história, ora desprezada, ora supervalorizada. Até hoje, é polêmica a maneira como a criança é
tratada: superprotegida por alguns e explorada por outros. Felizmente, as leis atuais resguardam os direi-
tos da criança à proteção e à educação e o respeito ao seu tempo de existência, compreendido como um
tempo curto e muito importante, que deve ser vivido em sua plenitude.
1. Segundo Ariès, no Período Medieval, não havia uma consciência de infância. As crianças eram
vistas como adultos em miniatura. Como elas eram tratadas?
12
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
2 METODOLOGIA
13
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Roseli Helena de Souza Salgado e Rosilda Silvio Souza
Saviani (1984) nos lembra dos desvios do Por outro lado, não se trata de desprezarmos
tecnicismo, no qual a técnica, o método é mais im- a metodologia, mas sim de atentarmos que ela não
portante do que os próprios agentes do processo tem um fim em si mesma. Contudo, ela deve ser
pedagógico. Ele nos alerta ainda para uma preten- cuidadosamente escolhida, porque uma metodo-
sa neutralidade da técnica, dos métodos e dos es- logia adequada, bem fundamentada e em conso-
pecialistas. É sempre bom lembrar que não existe nância com os objetivos do ensino é fundamental
neutralidade. Toda técnica, todo método está a para o processo pedagógico.
serviço de determinado fim, de certa ideologia, de Portanto, falar de metodologia em educação
alguma concepção. em geral ou de alguma etapa em especial, como na
Educação Infantil, também requer que reflitamos
Saiba mais acerca das concepções que a subjazem, tais como:
de educação, de infância etc.
Demerval Saviani: considerado filó- Ao longo de sua história, as metodologias e
sofo da educação. Fundador de uma os conteúdos da Educação Infantil se vinculam ao
pedagogia dialética, que denominou
pensamento, às concepções de seus precursores.
Pedagogia Histórico-Crítica.
Vejamos algumas.
Por que retomar os precursores? Seus méto- teriores que combatem, sem perceber que
dos ou suas propostas metodológicas já não estão as primeiras são, no entanto, afins e saem
das segundas, pois são suas descendentes.
ultrapassados? Será que não?
O presente se opõe ao passado, embora
Esses pensadores têm ainda alguma coisa a derive dele e o perpetue. Assim é que de-
nos dizer, na medida em que há tanta novidade saparecem elementos do passado que po-
atualmente? O pensamento pedagógico não teve deriam ter-se tornado elementos normais
do presente e do futuro. Os homens do Re-
grande evolução, então por que nos ocuparmos
nascimento estavam convencidos de que
com pensadores “antigos”? nada deveria ficar da Escolástica; e, na ver-
Vejamos o que escreve Durkheim, citado em dade, sob essa violenta força, não sobrou
Doll e Rosa (2004, p. 26), acerca da evolução do muita coisa. Deveremos perguntar-nos se
dessa atitude revolucionária não resultou
pensamento pedagógico: alguma grave lacuna no ideal pedagógico
que nos foi transmitido pelos homens do
[...] Quantas idéias atropeladas no caminho Renascimento. Assim, a História nos per-
que deveriam ter vivido! As concepções mitirá não só afirmar nossos princípios,
novas, pedagógicas, morais e políticas, mas também descobrir, às vezes, aqueles
cheias do ardor, da vitalidade da juventu- de nossos predecessores dos quais deve-
de, são propositadamente agressivas para mos tomar consciência, pois somos seus
com as que aspiram a substituir. Tratam- herdeiros.
-nas como inimigas irredutíveis, pois elas
sentem fortemente o antagonismo que as
divide, e esforçam-se para reduzi-las, des-
truí-las o mais completamente possível.
Os campeões das idéias novas, levados
pela luta, acreditam com facilidade que
nada há para ser conservado das idéias an-
14
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Metodologia e Prática do Ensino de Educação Infantil
Curiosidade Comênio
15
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Roseli Helena de Souza Salgado e Rosilda Silvio Souza
16
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Metodologia e Prática do Ensino de Educação Infantil
Rousseau também cria, ao estabelecer ação é o fundamento do seu método. Ação signi-
o esboço de uma pedagogia, a figura de fica para ele: observação, investigação, coleta de
Emílio, modelo que o ajuda a procurar
material e experimentação.” (DROUET, 1990, p. 12).
aquilo que o homem é antes de ser ho-
mem. Tudo se passa nesse romance como Pestalozzi também desenvolveu métodos
se homem natural fosse o ideal que se para a formação de professores e preocupou-se
submete à regra da educação. com o estudo da educação como ciência.
Para não correr o risco de ser contamina-
do pelos preconceitos, Emílio é educado
por seu preceptor à margem do contato Froebel
pernicioso da sociedade, seguindo a or-
dem da própria natureza, não a natureza
selvagem, mas a verdadeira natureza que Nunca esqueça que o objetivo
responde à vocação humana. A esponta- da escola não é tanto ensinar e
comunicar uma variedade e mul-
neidade é valorizada e não há castigos,
tiplicidade de coisas, mas sim dar
pois a experiência é a melhor conselheira. destaque à sempre viva unidade
A educação começa pelo desenvolvimen- que está em todas as coisas.
to das sensações, dos sentimentos, até
que Emílio chega por si próprio às noções A brincadeira da criança é a fase
de bem e mal, à concepção religiosa, já mais alta do desenvolvimento
que tratar de religião antes do desenvolvi- da criança – do desenvolvimento
mento suficiente da razão é correr o risco humano [...].
da idolatria. O objetivo da educação é a
reconstrução de um homem social par- As brincadeiras da criança são as
folhas germinais de toda a vida
ticipante de uma sociedade racional que
futura, pois o homem todo é de-
respeite a natureza. (ARANHA; MARTINS, senvolvido e mostrado nelas, em
1998, p. 259). suas disposições mais carinhosas,
em suas tendências mais interiores.
Froebel
As ideias de Rousseau influenciaram muitos
outros pensadores, inclusive os que se debruçaram
Friedrich Froebel (1782-1852) nasceu na Ale-
sobre as questões da educação.
manha e exerceu enorme influência na Educação
Infantil de muitos países.
Pestalozzi
Ele foi influenciado por Pestalozzi e traba-
lhou com ele nas escolas de Burgdorf e Yverdum.
Froebel criou os jardins de infância (Kinder-
garten).
Segundo Drouet (1990, p. 13),
17
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Roseli Helena de Souza Salgado e Rosilda Silvio Souza
18
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Metodologia e Prática do Ensino de Educação Infantil
19
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Roseli Helena de Souza Salgado e Rosilda Silvio Souza
Freinet foi um dos grandes educadores do chegar às outras aquisições. Para ele, in-
século XX. Ele era professor primário, ao contrário fluenciado pela filosofia marxista, a escola
pretendida e pensada é a escola do traba-
dos anteriores, que eram filósofos, religiosos ou
lho, perfeitamente integrada no processo
médicos. geral da vida: a criança torna-se sujeito e
A força das suas concepções e propostas está o professor aquele que orienta, estimula e
também no fato de terem sido vivenciadas por ele facilita a aprendizagem. O trabalho permi-
te aos homens se estruturar e educar ao
com seus alunos, no interior da França. mesmo tempo em que transforma a natu-
Freinet desencadeou o Movimento da Esco- reza.
la Moderna, que visava à renovação do ensino e A atividade, pressuposto fundamental da
que se espalhou por vários países. Até hoje, o Mo- Pedagogia do Trabalho, é vista como algo
natural, resultante de uma ação intelec-
vimento Freinet é forte, possuindo encontros em tual ou física.
que se reúnem representantes de várias partes do
mundo.
Na Pedagogia de Freinet, para efetivar os
Ele foi um exemplo de luta pela transforma-
seus princípios e propostas, é mister que o educa-
ção da escola, que considerava desligada da vida,
dor organize o ambiente e realize um planejamen-
distante da família, teórica e dogmática. Propõe a
to das atividades compartilhado com as crianças,
“edificação de uma escola prazerosa, onde a crian-
ça queira estar, permanecer, onde o coração, a de maneira que elas possam se engajar nas ativi-
afetividade e as emoções predominem, onde haja dades pedagógicas.
alegria e prazer para descobrir e aprender.” (ELIAS, Outro elemento importante na proposta frei-
1999, p. 13). netiana é a realização de atividades diversificadas,
Para Drouet (1990, p. 19), atualmente conhecidas como cantinhos.
Embora os cantinhos contenham atividades
com a experiência das aulas-passeios, ele diversificadas, a sua simples realização não signifi-
conseguiu modificar sua ação educativa. ca o desenvolvimento da Pedagogia Freinet, con-
Nestas aulas eram visitadas fábricas, ma-
nufaturas, mercearias e depois se comen- forme julgam algumas pessoas.
tavam essas visitas em classe. Quando o A Pedagogia Freinet é considerada, por mui-
passeio era nos bosques ou no campo, as tos pesquisadores e profissionais da educação,
crianças recolhiam material que depois
era pesquisado em classe. Dos relatos des- uma das mais profícuas.
ses passeios surgiu a idéia do texto livre
infantil, o que fazia com que as crianças
pensassem e expressassem suas idéias e
Dicionário
construíssem, ao mesmo tempo, através
da vivência, a sua personalidade. Criou Profícuo: que dá proveito; de que resulta o que
também um recurso a que chamou de se esperava; frutífero, lucrativo, útil, proficiente
‘correspondência interescolar motiva- (Dicionário Houaiss).
da’, no qual se trocavam experiências de
várias escolas situadas em regiões dife-
rentes. Existiam relatos sobre colheita de
flores e frutos, festas locais, fabricação de De acordo com Elias (1999, p. 92),
perfume, pesca, caça etc.
20
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Metodologia e Prática do Ensino de Educação Infantil
Pensar numa metodologia de ensino para a Educação Infantil, além de importante, requer um es-
tudo acerca do desenvolvimento infantil, suas necessidades e formas de aprendizagem. Só assim é pos-
sível alcançar uma prática eficiente coerente com esse tempo de existência do ser humano. Por isso, não
é por intuição, nem com base no senso comum que se atua na educação infantil, mas com rigor, estudo
e muita investigação. Isso justifica a volta aos precursores e suas contribuições para a compreensão do
desenvolvimento infantil e suas necessidades. São teorias que se complementam, fundamentando o
entendimento acerca de como a criança aprende e quais as metodologias mais adequadas para otimizar
o trabalho pedagógico na Educação Infantil.
3. Por que a Roda de Conversa é uma importante prática educativa para a Educação Infantil?
21
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
3 O PAPEL DO PROFESSOR
identidade e autonomia;
movimento;
artes visuais;
música;
O RCNEI deve ser entendido como uma
linguagem oral e escrita; proposta aberta, flexível e não obrigató-
natureza e sociedade; ria, que visa à estruturação de propostas
matemática. educacionais adequadas à especificida-
de de cada região do país.
24
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
O TRABALHO COM AS LINGUAGENS
4 NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Atenção
Mesmo antes de a criança ter o domínio da linguagem verbal, o adulto deve con-
versar muito e ler sempre para ela.
25
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Roseli Helena de Souza Salgado e Rosilda Silvio Souza
28
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Metodologia e Prática do Ensino de Educação Infantil
Pronúncia
Expressão oral
29
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Roseli Helena de Souza Salgado e Rosilda Silvio Souza
30
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Metodologia e Prática do Ensino de Educação Infantil
Mostrar por que se lê, quais são os textos a manter os livros ao acesso das crianças;
que é pertinente recorrer para responder
ler contos clássicos, pois apresentam
a certa necessidade ou interesse, e quais
são mais úteis em relação a outros objeti- uma estrutura narrativa que se repete,
vos, mostrar qual é a modalidade de leitura envolvendo as crianças e instigando-as
mais adequada quando se persegue uma a recontar;
finalidade determinada, ou como pode
contribuir para a compreensão de um tex-
apresentar versões diferentes da mesma
to o que já se sabe acerca de seu autor, ou história;
do tema tratado [...] Ao ler para as crian- dispor de diferentes portadores de tex-
ças, o professor ‘ensina’ como se faz para tos: jornais, gibis, revistas etc.;
ler. A leitura do professor é de particular
importância [...] quando as crianças ainda ler diferentes tipos de informação: bilhe-
não lêem eficazmente por si mesmas. Du- tes, listas, cartazes ou outros;
rante esse período, o professor cria muitas
ler histórias de acumulação que favore-
e variadas situações nas quais lê diferen-
tes tipos de texto. Quando se trata de uma çam o reconto por parte das crianças etc.
história, por exemplo, cria um clima propí-
cio para desfrutar dele: propõe às crianças
Escrita
que se sentem a seu redor para que todos
possam ver as imagens e o texto se assim
o desejam; lê tentando criar emoção, intri-
ga, suspense ou diversão (conforme o tipo Apenas para efeito de estudo, separamos a
de história escolhida); evita as interrup- leitura e a escrita em tópicos diferentes, contudo
ções que poderiam cortar o fio da história estão inter-relacionadas, pois a leitura é uma valio-
e, portanto, não faz perguntas para verifi-
car se as crianças entendem, nem explica
sa oportunidade de inserção da criança na cultura
palavras supostamente difíceis; incentiva escrita.
as crianças a seguir o fio do relato (sem O papel do professor é propiciar oportuni-
se deter no significado particular de cer- dades de compartilhar a escrita com as crianças,
tos termos) e a apreciar a beleza daquelas
passagens cuja forma foi especialmente escrevendo na presença delas; trazendo-as para
cuidada pelo autor. Quando termina a his- participarem nos atos de escrita; promovendo si-
tória, em vez de interrogar os alunos para tuações de escrita coletiva de textos pelas crianças,
saber o que compreenderam, prefere co- socializando esses textos com leitores reais; identi-
mentar suas próprias impressões – como
ficando a criança pelo seu nome escrito em crachás
faria qualquer leitor – e é a partir de seus
comentários que se desencadeia uma e demais atividades; e instigando-a a reconhecê-la
animada conversa com as crianças sobre em diferentes ocasiões.
a mensagem que se pode inferir a partir Outras práticas interessantes com a escrita:
do texto, sobre o que mais impressionou
cada um, sobre os personagens com que
se identificam ou os que lhes são estra- leitura e escrita de carta legitimada como
nhos, sobre o que elas teriam feito se hou- produto da cultura escrita, sem artificia-
vessem tido que enfrentar uma situação
similar ao conflito apresentado na história lismos;
[...]. (LERNER, 2002, p. 95-96). produção de jornal;
produção de livro de receitas relevantes
Assim como na roda de conversa, a regulari- para a criança;
dade deve ser cuidada; a constância de momentos escrita de regras de jogo;
para leitura deve ser garantida do mesmo modo, a escrita de letras de músicas, versos, par-
fim de que a criança desenvolva comportamentos lendas, charadas etc.
leitores e perceba o valor social da escrita. Para tan-
to, indicamos algumas práticas:
31
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Roseli Helena de Souza Salgado e Rosilda Silvio Souza
4.2 Movimento
32
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Metodologia e Prática do Ensino de Educação Infantil
do, aprendendo gestos simbólicos ligados ao faz em representar personagens, passa ra-
de conta, como, por exemplo, embalar. pidamente de um a outro, e cria mesmo
sua própria história. Vários podem ser os
O uso do espelho é um recurso bastante indi- estímulos: histórias de livros trabalhados
cado no trabalho com as crianças, pois elas “apren- em sala de aula, da biblioteca ou trazidos
dem a reconhecer as características físicas que in- pelas crianças; lendas, contos populares,
tegram a sua pessoa, o que é fundamental para a letras de músicas conhecidas. Os estímu-
los não precisam necessariamente estar
construção de sua identidade.” (BRASIL, 1998a, p.
vinculados a histórias literais. Músicas
23). instrumentais com diferentes ritmos; fi-
Pensando que o movimento implica ações gurinos diversos – de preferência aqueles
ligadas às brincadeiras, danças, práticas esportivas, pouco comuns atualmente, como luvas,
chapéus, galochas, gravatas, véus, objetos
destacaremos algumas práticas. inusitados – evitando os que representem
perigo no manuseio como vidros e peças
cortante; reproduções de pinturas de dife-
Dança rentes artista e épocas; e tantas outras coi-
sas que a imaginação permitir podem ser
usadas para criar e alimentar as histórias
Introduzir e incentivar a dança desde a mais a serem contadas e representadas pelas
crianças por meio do movimento corpo-
tenra idade não só rompe com preconceitos de gê-
ral. (STRAZZACAPPA, 2001, p. 55).
nero – dança como coisa de menina – como pos-
sibilita a introdução de diferentes ritmos: danças
folclóricas, regionais, clássicas ou outras. Teatro
A criança não é preconceituosa, o que pro-
picia a apreciação de diferentes modalidades de
Embora pouco trabalhado na Educação In-
dança. Nas Unidades de Educação Infantil, a dança
fantil, o teatro é uma linguagem artística rica em
deve ser para todos.
movimento e criação.
O que se indica como dança a ser ensinada
Os jogos teatrais são procedimentos lúdicos
à criança está ligado à possibilidade de permitir à
com regras explícitas, por meio dos quais as crian-
criança explorar seus próprios movimentos; não há
ças se expressam, inventam dentro do próprio es-
por que se preocupar com a padronização e per-
paço educacional com materiais diversos, inclusive
feição dos movimentos, como se dá, por exemplo,
aqueles inventados pela sua imaginação e criati-
no balé clássico. Aqui a preocupação não é com o
vidade. Quando a criança joga, assimila o real, es-
resultado, mas com a ação em si.
timula a inteligência e se comunica com e para o
É evidente que as atividades corporais estão outro.
condicionadas por fatores socioculturais; portanto,
O faz de conta tem uma grande importância
as práticas de dança estão impregnadas pela cul-
para o jogo teatral, pois propicia o desenvolvimen-
tura.
to da imaginação reprodutiva e criadora e pode
transformar-se no teatro.
A dança no espaço escolar deve propiciar
às crianças um primeiro contato com a A teatralidade implica a comunicação cênica
linguagem artística, além de permitir que com o próprio corpo, sem desprezar a comunica-
se expressem com o corpo... Para crianças ção verbal.
com idade inferior a sete anos, a dança
deve ser incentivada por meio de ativida- Na Educação Infantil, é necessário romper a
des lúdicas que promovam a exploração prática teatral voltada para grandes eventos, como
do movimento e do ritmo. Devem ser pro- festas de fim de ano ou Dia das Mães. Ela precisa
postas situações como jogos historiados,
em que a criança é incentivada a ‘repre-
estar presente no cotidiano das crianças de forma
sentar’ com o corpo a história que está agradável, estimulante e expressiva.
sendo contada e, assim, explorar diferen- Para que os jogos teatrais fiquem mais cria-
tes formas com o corpo. A criança nessa
faixa etária tem um prazer muito grande tivos e diversificados, é importante repertoriar
33
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Roseli Helena de Souza Salgado e Rosilda Silvio Souza
34
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Metodologia e Prática do Ensino de Educação Infantil
criação. Contudo, isso deve acontecer com regula- Visitas a museus e exposições são uma rica
ridade e continuidade, a fim de que as crianças se oportunidade de contato da criança com as pro-
apropriem dos diferentes materiais, aprendendo a duções artísticas.
manuseá-los e fazendo diferentes experimentos.
4.4 Música
35
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Roseli Helena de Souza Salgado e Rosilda Silvio Souza
gra, as crianças reproduzem o que ouvem e veem desenvolvimento da nossa sensibilidade. Contudo,
no rádio e televisão. Considera-se uma importante raríssimas vezes ela é apresentada e apreciada nas
função das instituições educacionais, desde a Edu- unidades educacionais. Nós educadores conhece-
cação Infantil, o trabalho de favorecer alternativas mos e apreciamos esse gênero musical?
ao que a criança recebe pela mídia.
Sabe-se da importância da música erudita
para a nossa formação e, entre outras coisas, para o
36
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Metodologia e Prática do Ensino de Educação Infantil
Com relação às Ciências Naturais, o RCNEI O brincar de faz-de-conta, por sua vez,
(BRASIL, 1998a, p. 166) aponta que, possibilita que as crianças podem recons-
truir elementos do mundo que as cerca
como novos significados, tecer novas rela-
No trabalho com os conteúdos referentes ções, desvincular-se dos significados ime-
às Ciências Naturais, por sua vez, algumas diatamente perceptíveis e materiais para
instituições limitam-se à transmissão de atribuir-lhes novas significações, impri-
certas noções relacionadas aos seres vivos mir-lhes suas idéias e os conhecimentos
e ao corpo humano. Desconsiderando o que têm sobre si mesma, sobre as outras
conhecimento e as idéias que as crianças pessoas, sobre o mundo adulto, sobre lu-
já possuem, valorizam a utilização de ter- gares distantes e/ou conhecidos. (BRASIL,
minologia técnica, o que pode constituir 1998a, p. 171).
uma formalização de conteúdos não sig-
nificativa para as crianças. Um exemplo
disso são as definições ensinadas de for- Sabemos que as elas gostam de pintar, dese-
ma descontextualizadas sobre os diversos nhar etc., contudo deve-se evitar que as atividades
animais: ‘são mamíferos’ ou ‘são anfíbios’ sejam esvaziadas de sentido para as crianças e/ou
etc., e as atividades de classificar animais e
plantas segundo categorias definidas pela
que representem uma simplificação ou um “desco-
Zoologia e pela Biologia. Desconsidera-se lamento” da realidade.
assim a possibilidade de as crianças expo- Segundo o RCNEI (BRASIL, 1998a, p. 172-173),
rem suas formulações para posteriormen-
te compará-las com aquelas que a ciência
é preciso estruturar o trabalho de forma a
propõe.
escolher os assuntos mais relevantes para
Algumas práticas também se baseiam em
as crianças e o seu grupo social. As crianças
atividades voltadas para uma formação
devem, desde pequenas, ser instigadas a
moralizante, como no caso do reforço a
observar fenômenos, relatar acontecimen-
certas atitudes relacionadas à saúde e à
tos, formular hipóteses, prever resultados
higiene. Muitas vezes nessas situações
para experimentos, conhecer diferentes
predominam valores, estereótipos e con-
contextos históricos e sociais, tentar lo-
ceitos de certo/errado, feio/bonito, limpo/
calizá-los no espaço e no tempo. Podem
sujo, mau/bom etc., que são definidos e
também trocar idéias e informações, deba-
transmitidos de modo preconceituoso.
tê-las, confrontá-las, distingui-las e repre-
Outras práticas de Ciências realizam ex-
sentá-las, aprendendo, aos poucos, como
periências pontuais de observação de pe-
se produz um conhecimento novo ou por-
quenos animais ou plantas, cujos passos
que as idéias mudam ou permanecem.
já estão estabelecidos, sendo conduzidos
Contudo, o professor precisa ter claro que
pelo professor. Nestas atividades, a ênfa-
esses domínios e conhecimentos não se
se recai apenas sobre as características
consolidam nesta etapa educacional. São
imediatamente perceptíveis. Em muitas
construídos, gradativamente, na medida
situações, os problemas investigados não
em que as crianças desenvolvem atitudes
ficam explícitos para as crianças e suas
de curiosidade, de crítica, de refutação e
idéias sobre os resultados do experimen-
de formulação de explicações para a plura-
to, bem como suas explicações para os fe-
lidade e diversidade de fenômenos e acon-
nômenos, não são valorizados.
tecimentos do mundo social e natural.
37
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Roseli Helena de Souza Salgado e Rosilda Silvio Souza
4.6 Matemática
Na área da Matemática, assim como em ou- criança estabelece com os objetos. Essas
tras, a criança ao entrar na escola traz alguns co- relações são expressas de uma maneira di-
ferente e podem chegar a uma linguagem
nhecimentos matemáticos. Isso porque
matemática.
38
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Metodologia e Prática do Ensino de Educação Infantil
39
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Roseli Helena de Souza Salgado e Rosilda Silvio Souza
1. Tratar dos aspectos organizacionais é tratar de condições que devemos levar em conta para
conseguir desempenhar uma tarefa educativa. Quais seriam as condições que deveriam ser
garantidas?
3. Elabore uma atividade educativa para crianças de três anos; descreva o ambiente e o tempo
para a realização dessa atividade. Aproveite as experiências vividas no estágio que você reali-
za ou realizou.
40
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
INSTRUMENTOS METODOLÓGICOS
5 DO PROFESSOR
Todo profissional, para melhor desenvolver o za. Ele não pode ser o mediador de algo de que não
seu trabalho, possui ferramentas ou instrumentos se apropriou ou que desconheça.
de trabalho. Por outro lado, o professor tem como obje-
Sabemos que, se a ferramenta não for boa ou tivo possibilitar para os alunos o acesso ao conhe-
se estiver com defeito, comprometerá, quando não cimento universal. Portanto, o conhecimento tam-
impedirá, a realização do trabalho. Assim, o cuida- bém é o fim de toda ação pedagógica.
do na escolha e na conservação das ferramentas é
imprescindível para a qualidade da atividade reali- Saiba mais
zada.
Quando pensamos em instrumentos ou fer- Todo conhecimento comporta o risco
ramentas, lembramo-nos da enxada do lavrador, do erro e da ilusão. A educação do futuro
do computador para o digitador, do estetoscópio deve enfrentar o problema de dupla face
do erro e da ilusão. O maior erro seria su-
e do aparelho de medir a pressão do médico, do
bestimar o problema do erro; a maior ilu-
veículo para o motorista etc. são seria subestimar o problema da ilusão
E o professor possui instrumento ou instru- (MORIN, 2000).
mentos de trabalho? Quais serão?
O professor trabalha com o quê?
Qual é a natureza do trabalho docente? Na nossa formação inicial ou profissional,
O professor trabalha buscando a “formação” também aprendemos métodos e técnicas de ensi-
de outros seres humanos como ele. E do que ele se no.
utiliza nessa tão nobre função?
Estamos utilizando a palavra ‘método’ no seu
Poderíamos responder: livros, cadernos, giz, sentido etimológico, ou seja, como caminho. Méto-
apagador, computador etc. Esses são recursos de do de ensino é um caminho para se atingir deter-
ensino. Recursos de ensino “são componentes do
minado objetivo educacional. Em Educação, pode-
ambiente da aprendizagem que dão origem à esti-
mos citar: método Montessori, Freinet etc.
mulação para o aluno.” (GAGNÉ apud PILETTI, 1986,
p. 151). A técnica é a operacionalização do método.
Considera-se que os recursos de ensino são Por exemplo, a correspondência interescolar, o jor-
muito importantes para o desenvolvimento do tra- nal, as aulas-passeio são alguns exemplos de técni-
balho pedagógico, mas não são imprescindíveis. cas de ensino do método de Freinet.
O professor trabalha com o conhecimento Aqui não trataremos de técnicas de ensino,
visando à formação e informação dos alunos. E ele devido às características desta apostila. Optamos
também é o alvo da atividade docente. por tratar, aqui, de alguns instrumentos de traba-
O conhecimento é fundamental para a profí- lho do professor, que entendemos ser de extrema
cua realização do trabalho do professor. Por isso, o relevância para o desenvolvimento de uma prática
consideramos o seu instrumento primordial, pois, pedagógica mais eficaz.
sem a apropriação do conhecimento por parte do Esses instrumentos metodológicos também
professor, a sua atividade profissional não se reali-
41
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Roseli Helena de Souza Salgado e Rosilda Silvio Souza
contribuem para a elaboração de um plano de reflita acerca das concepções subjacentes a eles e
ação do professor, que é muito importante para al- das definições tomadas.
cançar os objetivos propostos. Faremos apontamentos dos seguintes instru-
Para a elaboração do seu plano, é necessário mentos metodológicos: observação, registro, pla-
que o docente tenha nitidez dos seus objetivos e nejamento e avaliação.
5.1 Observação
Observar, apenas observar, pois a criança realidade segundo seus próprios pontos
mesma te ensinará. de vista, segundo sua história.
Froebel Só podemos olhar o outro e sua história
se temos conosco mesmo uma abertura
A observação é um dos mais importantes ins- de aprendiz que se observa (se estuda) em
sua própria história.
trumentos metodológicos do professor. Contudo, Neste sentido a ação de olhar é um ato de
temos dificuldade em fazê-la adequadamente. estudar a si próprio, a realidade, o grupo à
O nosso olhar, na maioria das vezes, está vi- luz da teoria que nos inspira. Pois sempre
‘só vejo o que sei’ (Jean Piaget). Na ação
ciado, nos detemos para observar apenas o que
de se perguntar sobre o que vemos é que
queremos ver. Segundo Madalena Freire Weffort rompemos com as insuficiências deste sa-
(1996, p. 10), isso ocorre porque ber; e assim, podemos voltar à teoria para
ampliar nosso pensamento e nosso olhar.
Este aprendizado de olhar estudioso,
não fomos educados para olhar pensando
curioso, questionador, pesquisador, envol-
o mundo, a realidade, nós mesmos. Nosso
ve ações exercitadas do pensar: o classi-
olhar cristalizado nos estereótipos produ-
ficar, o selecionar, o ordenar, o comparar,
ziu em nós paralisia, fatalismo, cegueira.
o resumir, para assim poder interpretar os
Para romper esse modelo autoritário, a
significados lidos. (WEFFORT, 1996, p. 10-
observação é a ferramenta básica neste
11).
aprendizado da construção do olhar sen-
sível e pensante.
A observação, além de estar desprovida de
É comum o nosso olhar estar carregado de preconceitos, precisa ter um foco. Dificilmente se
preconceitos, de visões preconcebidas, de jul- consegue observar tudo ao mesmo tempo, por
gamentos. Nesse caso, não nos possibilita uma isso é necessário eleger um foco, escolher um as-
apreensão da realidade que pretendíamos ter com pecto a ser observado.
a observação. “Por que é necessário focalizar o olhar? Olhar
“Reaprender a olhar – romper com visões ce- sem pauta se dispersa. Olhar pesquisador tem pla-
gas, esvaziadas de significados –, onde a busca de nejamento prévio da hipótese que se vai perseguir
interpretar, dar significados ao que vemos, lemos [...].” (WEFFORT, 1996, p. 12).
da realidade é o principal desafio.” (WEFFORT, 1996, A observação é um olhar atento, estudioso,
p. 6).
investigador. Através dela, podemos entender me-
O nosso olhar, a nossa observação pode e lhor as situações.
deve ser educada no sentido de transformar-se de
Concordamos com Madalena Freire Weffort
fato num instrumento a serviço do trabalho peda-
(1996, p. 11) que “o ato de observar envolve todos
gógico do professor.
os outros instrumentos: a reflexão, a avaliação e o
planejamento, pois todos se intercruzam no pro-
Para tanto, também necessitamos estar
concentrados com o ritmo de outro e a
cesso dialético de pensar a realidade.”
42
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Metodologia e Prática do Ensino de Educação Infantil
5.2 Registro
43
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Roseli Helena de Souza Salgado e Rosilda Silvio Souza
Acerca do registro escrito, considera-se que Por que muitas pessoas têm dificuldade de
ele fazer registros escritos?
Segundo Madalena Freire Weffort (1996, p.
obriga o exercício de ações – operações 44), “escrever, registrar, refletir não é fácil... dá mui-
mentais, intelectuais de classificação, or-
denação, análise, obriga a objetivar e sin- to medo, provoca dores e até pesadelos. A escrita
tetizar, trabalhar a construção da estrutura compromete. Obriga o distanciamento do produ-
do texto, a construção do pensamento. tor com o seu produto. Rompe a anestesia do coti-
Somente nesse exercício disciplinado, co- diano alienante.”
tidiano, solitário (mas povoado de outros
O registro também contribuirá para o alcance
interlocutores) do escrever, pode-se evitar,
lutar contra a vagabundagem do pensa- de outro instrumento metodológico, que é o pla-
mento. (WEFFORT, 1996, p. 43). nejamento.
5.3 Planejamento
Intencionamos discutir planejamento como Sendo que, até nas atividades mais simples, é
um instrumento metodológico dos profissionais, importante que as planejemos para que elas pos-
portanto a serviço do professor. Não faremos refe- sam se realizar. O planejamento torna-se impres-
rências às técnicas de planejamento, mas sim fare- cindível para as atividades mais complexas, entre
mos apontamentos acerca da sua importância. elas, a educacional.
Considera-se que o planejamento seja um
Nesse sentido, considera-se que
processo de tomada de decisões. Nesse aspecto,
ele assume um papel muito importante no tra-
o ato de planejar é uma preocupação que balho pedagógico, pois cabe ao professor definir,
envolve toda a possível ação ou qualquer escolher, eleger, decidir acerca dos objetivos que
empreendimento da pessoa. Sonhar com
pretende alcançar, do caminho a percorrer e dos
algo de forma objetiva e clara é uma situa-
ção que requer um ato de planejar.
meios que utilizará.
O planejar foi uma realidade que acompa- Esse processo reflexivo-decisório não é tarefa
nhou a trajetória histórica da humanidade. das mais fáceis, porque ela exige estudo, definição
O homem sempre sonhou, pensou e ima- de concepções, de princípios e nitidez de seus pro-
ginou algo na sua vida. O homem primiti- pósitos educacionais.
vo, no seu modo e habilidade de pensar,
imaginou como poderia agir para vencer O planejamento organiza, sistematiza,
os obstáculos que se interpunham na sua disciplina a liberdade a nível individual
vida diária. Pensava estratégias de como e coletivo. Ele dá os paradigmas para o
poderia caçar, catar frutas, e como deveria exercício da prática pedagógica. Através
atacar os seus inimigos. dele podemos agilizar respostas diante do
A história do homem é um reflexo do seu inusitado para trabalhar a improvisação.
pensar sobre o presente, passado e futu- Neste sentido, o planejamento alicerça a
ro. O homem pensa sobre o que fez; o que ação criadora.
deixou de fazer; sobre o que está fazendo O ato de planejar exige do educador
e o que pretende fazer. O homem no uso uma ação organizada. O improvisar é
importante na ação pedagógica desde que
de sua razão sempre pensa e imagina o
o educador tenha consciência, controle do
seu ‘que fazer’, isto é, as suas ações, e até
que está improvisando. Para isso ele terá
mesmo, as suas ações cotidianas e mais que ter organizado seu planejamento.
rudimentares. O ato de pensar não deixa Ter uma ação planejada significa que o
de ser um ato de planejar. (MENOGOLLA; educador tem claros seus objetivos. O
SANT’ANNA, 1992, p. 15).0 que espera alcançar com atividade ou
com determinado encaminhamento.
(WEFFORT, 1997, p. 56-57).
44
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Metodologia e Prática do Ensino de Educação Infantil
É importante planejar?
5.4 Avaliação
2. Que outros instrumentos metodológicos o professor deve utilizar para apoiar seu trabalho
com os alunos?
46
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
6 ASPECTOS ORGANIZACIONAIS
A boa prática docente implica o zelo por di- próximas possíveis das práticas culturais, ou seja,
versos aspectos. Anteriormente, apresentamos os agirmos nas atividades sociais como comer, utilizar
instrumentos metodológicos. Neste tópico, trata- banheiro, dormir ou outras de maneira semelhante
remos das questões ligadas à organização de tem- àquela que fazemos nos espaços como casa, res-
po e espaço, que, necessariamente, deverá ser con- taurantes ou outros locais públicos, afinal a escola
siderada no planejamento. não está fora da sociedade, menos ainda a criança,
Optar por organizar as salas em “cantinhos”¹; que, embora pequena, aprende e faz cultura.
misturar grupos de idades diferentes; em determi- Tratar dos aspectos organizacionais é tratar
nadas ocasiões, fazer o lanche em outros espaços de condições que devemos levar em conta para
que não apenas o refeitório; contar histórias fora conseguir desempenhar uma tarefa educativa.
das salas de leitura ou bibliotecas e muitas outras Basicamente, precisamos pensar na organi-
coisas são aspectos que precisam ser cuidados e zação de espaço e tempo.
planejados, com o propósito de tornarmos as prá-
ticas efetuadas nas Unidades Educacionais o mais
¹ Os cantinhos consistem em oferecer, num mesmo espaço físico, diferentes possibilidades de atividades, como, por exemplo,
um cantinho para leitura, outro para faz de conta, outro para brinquedos etc.
47
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Roseli Helena de Souza Salgado e Rosilda Silvio Souza
Nessa idade é necessário uma certa re- Na organização do tempo, precisamos consi-
gularidade na organização do tempo e derar a diversidade de atividades e também as pos-
da jornada porque as crianças começam
a orientar-se com relação a determina- sibilidades de realização delas, que podem ser em
das situações que se repetem a cada dia: grandes grupos, pequenos ou individualmente.
antes do almoço, lavar as mãos; antes de Além disso, precisamos pensar que as atividades
sair ao pátio, recolher os brinquedos e os
precisam ser realizadas em espaços diferenciados,
joguinhos, ordenar espaço da sala; depois
de voltar do pátio, preparar-se para a re- ora em locais fechados, ora ao ar livre e até mesmo
feição, etc. As atividades sucedem-se nor- para além dos muros.
malmente na mesma ordem e isso faz com
que as crianças sintam-se seguras confian-
É preciso considerar também o local onde se
tes. (BASSEDAS; HUGUET; SOLÉ, 1999, p.realizam tais atividades. As crianças pequenas gos-
100). tam e necessitam sair periodicamente ao ar livre ou
trocar de cenário. É conveniente, portanto, introdu-
Defendemos que se propicie às crianças pe- zir momentos de mudanças em relação ao espaço.
quenas uma rotina que dê estabilidade e previsi- Para tanto, o tempo precisa estar planejado, pois as
bilidade para elas, sem, contudo, ser inflexível ou Unidades são espaços compartilhados por um co-
empecilho à criação. É necessário que sejam capa- letivo de muitas crianças e não podemos expô-las
zes de antecipar e prever o que virá depois, pos- a longos períodos de espera entre uma atividade e
sibilitando que se sintam cada vez mais tranquilas outra, pois o grupo acaba se descontrolando, com-
na escola. É uma rica oportunidade para o adulto prometendo a concentração, bem como as ativida-
apresentar explicações integrando as crianças aos des subsequentes.
elementos dinâmicos e interessantes da cultura.
A organização do tempo demanda um pla- Também caberá valorizar o grau de ativi-
nejamento cuidadoso para ser desenvolvido num dade física ou intelectual e o esforço que
determinado período, considerando que requer uma determinada proposta para ir
intercalando atividades mais movimenta-
as necessidades urgentes e eventuais das das com outras mais tranqüilas e relaxadas
crianças podem mudar o que havia sido (momentos de descanso e de quietude/
previsto. O cansaço, o sono e as vontades momentos de movimento e de expansão
aparecem de súbito e é preciso que o edu- física; momentos de atenção e de con-
cador seja receptivo e observador para de- centração/momentos tranqüilos e sem
tectá-los. Podem também ocorrer outros exigências). (BASSEDAS; HUGUET; SOLÉ,
fatores que obriguem o educador a variar 1999, p. 101).
o que havia previsto (‘Estava previsto me-
rendar no pátio, mas começou a chover e a
merenda precisou ser feita na sala’).
Todos esses fatos e situações fazem-nos
modificar a previsão e, em meio ao trans-
curso das situações, obrigam-nos a impro-
visar novas atividades e situações.
Quando trabalhamos com crianças desta
idade, temos que ser flexíveis e receptivos
para modificar os planos previstos em fun-
ção dessas observações do contexto e do
estado emocional e físico das crianças.
Os meninos e as meninas dessa idade
cansam-se rapidamente, quando realizam
determinadas atividades que requerem
atenção ou concentração. Por isso, con-
vém prever e dar alternativas às propostas
que programamos em relação a diferen-
tes aspectos. (BASSEDAS; HUGUET; SOLÉ,
1999, p. 101).
48
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Metodologia e Prática do Ensino de Educação Infantil
Se nos fosse perguntado se o espaço con- Diante do exposto, devemos considerar que
diciona o tipo de intervenção educativa e o espaço, assim como o tempo, precisa ser cuidado
a relação que se estabelece na escola, com
no sentido de propiciar condições diversificadas de
certeza, a maioria de nós responderia que,
ainda que não seja uma condição determi- aprendizagens para as crianças pequenas, sendo
nante, o espaço e a sua organização têm que o espaço deve ser pensado visando a favore-
grande influência no bem-estar dos profis- cer a autonomia e independência da criança para
sionais e, ainda mais, das crianças peque- se locomover, escolher objetos, alcançá-los, mudar
nas. As crianças necessitam de espaços
de atividade, transitar com segurança pelos diver-
abertos e com o mínimo de condições hi-
giênicas e físicas (luz, ventilação, amplitu- sos ambientes.
de, etc.) para sentirem-se à vontade. Se o O cuidado com a organização do espaço e
espaço for muito pequeno, pouco ilumi- tempo nos permite antecipar necessidades, prever
nado e não-acolhedor provavelmente vai
gerar apatia, agressividade, nervosismo e recursos e criar condições que possibilitem ao pro-
uma sensação de incômodo nas crianças. fessor interagir com as crianças, observando, cons-
É decorar e organizar o espaço de manei- truindo e reconstruindo situações.
ra que fique acolhedor; seja amplo e fun-
Trata-se de uma ação de cuidado com a prá-
cional para os deslocamentos. Um espaço
acolhedor, harmonioso e funcional, mes- tica educativa. Tal fato nos remete ao conceito de
mo que não garanta um comportamento cuidar, tão discutido na Educação Infantil, o qual
adequado, é uma condição básica para não está descolado das ações de educar. Temas
consegui-lo. (BASSEDAS; HUGUET; SOLÉ, que passaremos a tratar.
1999, p. 106).
49
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
7 EDUCAR E CUIDAR
51
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Roseli Helena de Souza Salgado e Rosilda Silvio Souza
52
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Metodologia e Prática do Ensino de Educação Infantil
53
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Roseli Helena de Souza Salgado e Rosilda Silvio Souza
do a plena formação das crianças. Assim, manter concebeu, em cada momento histórico, o desen-
o ambiente limpo, confortável, organizado, de- volvimento das crianças – como crescem e como
corado para a criança, com suas marcas, gostos aprendem –, pelas ideias sobre o que elas necessi-
e preferências, bem como uma intencionalidade tam e do que se deveria saber/fazer para propiciar
educativa por parte do adulto, são aspectos fun- esse desenvolvimento. O debate acerca de um cur-
damentais para uma escola que educa e cuida ao rículo oficial para essa etapa da educação básica
mesmo tempo. e de quais seriam os seus conteúdos formativos é
Tudo o que foi dito até aqui se volta para as absolutamente atual e alvo de sérias controvérsias.
preocupações que devemos levar em considera- A construção desse currículo deve estar permeada
ção no atendimento às crianças de 0 a 6 anos. A pelas ações de cuidar e educar de forma integrada,
educação infantil foi marcada pelo modo como considerando também os elementos da cultura da
infância, cujos aspectos aprofundaremos a seguir.
Educar e cuidar são aspectos indissociáveis e de igual valor no trabalho com as crianças. Educa-se
cuidando e cuida-se educando. Em se tratando da infância, a aprendizagem ocorre nos momentos de
cuidado, pois o objetivo, nessa fase do desenvolvimento humano, é paulatinamente ir promovendo o
autocuidado.
54
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
8 CULTURA DA INFÂNCIA
Atenção Multimídia
A criança inicialmente copia a cultura do
adulto, mas depois se apropria trazendo Um dos maio-
sua imaginação, cultura e dando novos res pensadores
sentidos ao que aprendeu. do século e
grande filósofo,
Morin atraves-
sou os proble-
Apontamos, anteriormente, esclarecimentos
mas da guerra
acerca dos termos ‘cuidar’ e ‘educar’, necessários e e a resistência
presentes nas Unidades de Educação Infantil. Tra- francesa, fato-
taremos, neste tópico, de esclarecer o termo ‘cultu- res que contri-
ra da infância’, muito difundido na atualidade nos buíram para que suas ideias estives-
espaços voltados para as práticas de educação in- sem à frente de seu tempo. A leitura
desse livro é imprescindível para os
fantil.
educadores.
Afinal, o que é cultura da infância? Mais um
modismo? Sempre existiu? Por que se fala tanto
dela na atualidade? Qual a importância de com-
preendermos esse termo?
Donde podemos concluir que há uma cultu-
Esperamos que, após a explanação a seguir, ra infantil cujo suporte social consiste nos grupos
essas questões possam ser esclarecidas. infantis, em que as crianças adquirem, em intera-
Antes, porém, vamos compreender o que ção, os diversos elementos do folclore infantil.
seja cultura: Mas de onde vêm esses elementos da cultura
infantil?
conjunto complexo dos códigos e padrões Em grande parte, esses elementos provêm
que regulam a ação humana individual
da cultura do adulto. São traços diversos do univer-
e coletiva, tal como se desenvolvem em
uma sociedade ou grupo específico, e que so adulto que, abandonados total ou parcialmente,
se manifestam em praticamente todos os transferem-se para o círculo infantil, por um pro-
aspectos da vida: modos de sobrevivência, cesso de aceitação, incorporando-se à cultura do
normas de comportamento, crenças, insti- novo grupo. Os elementos da cultura do adulto são
tuições, valores espirituais, criações mate-
riais etc. (Dicionário Aurélio). incorporados à infantil por meio de um processo
de aceitação e nela são mantidos durante algum
tempo (indefinido).
Vejamos alguns exemplos: boa parte dos ele-
mentos constitutivos da cultura infantil são restos
de romances velhos, hoje transformados em jogos
cênicos ou danças coreográficas como A canoa vi-
55
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Roseli Helena de Souza Salgado e Rosilda Silvio Souza
rou, Ciranda etc. Todas essas composições são anti- cidos pela vida interativa dos adultos. O papel da
gas. Os romances velhos datam do século XVI, mas criança consiste em recebê-los e executá-los; as
há composições anteriores e outras mais recentes, modificações que ocorrem são lentas e inconscien-
do século XVIII. tes. Exemplos dessas criações são as confecções de
Todas essas composições restringiam-se aos alguns brinquedos e brincadeiras, como Papai e
círculos dos adultos e só posteriormente passaram Mamãe, Médico, Polícia, quase todos fundamenta-
para os grupos infantis. Transferiram-se por aceita- dos sobre motivos da vida social.
ção, como citamos, aos grupos infantis e foram se Percebemos outros elementos da cultura da
repetindo nas brincadeiras de rua, passando das infância nos desenhos, na linguagem oral, na músi-
crianças mais velhas às mais jovens, preservando- ca, na linguagem escrita e outros.
-se até hoje, séculos ou dezenas de anos passados, A criança inicialmente copia a cultura do
conforme a temática, região e cultura locais. O mais adulto, mas depois se apropria, trazendo sua ima-
curioso é que a maioria dessas cantigas, contos e ginação, cultura e dando novos sentidos ao que
brincadeira já desapareceu entre os adultos, mas aprendeu. É uma aprendizagem ativa, no sentido
permanece entre as crianças. de que a criança não se submete às imagens/infor-
Fato é que muitas dessas composições se mações que recebe, mas aprende a manipulá-las,
apresentam totalmente modificadas ou adapta- transformá-las e, até mesmo, negá-las.
das, tornando-se quase irreconhecíveis; contudo, A infância é um momento de apropriação de
mantiveram a função social, congregando valores imagens e representações diversas que transitam
e tradições e sendo transmitidas de forma lúdica.por diferentes canais. As suas fontes são muitas. O
Sendo assim, são as crianças que asseguram a con-brinquedo é, com suas especificidades, uma dessas
tinuidade das tradições, através dos elementos dafontes. A manipulação dos brinquedos transforma
sua cultura. ou anula as significações anteriores. Para melhor
Há ainda outros elementos na cultura do compreensão, passaremos a expor acerca da brin-
grupo infantil: nem tudo é proveniente da cultu- cadeira/brinquedo e suas implicações na prática
ra do adulto. As crianças também elaboram parte educativa com a criança.
dos elementos de seu patrimônio cultural, embo-
ra muitas vezes estruturados sobre moldes forne-
A criança produz cultura com base nos elementos que traz do mundo adulto. A partir deles, pro-
move suas brincadeiras dos mais diferentes gêneros e, nesse processo, vai se integrando à sociedade na
qual está inserida. Mas não se pode esquecer que a cultura da criança tem suas especificidades e marcas
desse tempo de vida.
56
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
9 BRINCAR
57
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Roseli Helena de Souza Salgado e Rosilda Silvio Souza
Contudo, mesmo sem a intenção de apren- pal papel deveria ser observar as crianças brinca-
der, quem brinca aprende, até porque se aprende rem, fazendo desse momento uma oportunidade
a brincar. para replanejar seu trabalho, propondo atividades
criativas e desafiadoras às crianças; percebendo
Como construção social, a brincadeira é que o melhor jogo é aquele que oferece espaço
atravessada pela aprendizagem, uma vez para a ação da criança, na qual esta é estimulada
que os brinquedos e o ato de brincar, a um
mental, social e psicologicamente, bem como em
só tempo, contam a história da humanida-
de e dela participam diretamente, sendo seu aspecto motor. O professor deve também estar
algo aprendido, e não uma disposição ina- disponível para conversar sobre o brincar com as
ta para o ser humano. Essa aprendizagem crianças, antes, durante e depois da brincadeira.
é mais freqüente com os pares do que de-
pende de um ensino diretamente transge-
racional. (CARVALHO, 2003, p. 21). Se a criança não está doente, com fome ou
irritada, brincar é sua forma de ser e estar
no mundo.É nas brincadeiras que ela en-
Por que é tão difícil aos educadores da infân- contra sentido para sua vida, e nelas que
cia inserir a brincadeira na escola sem escolarizá-la as coisas se tornam, são construídas de
muitos modos e repetidas tantas vezes
ou abandoná-la?
quantas a criança quiser... Jogos e brinca-
Um rápido olhar numa sala de aula, em uma deiras humanizam as crianças e possibi-
Unidade de Educação Infantil, nos possibilita per- litam-lhes, ao seu modo e ao seu tempo,
ceber o papel do brincar: o arranjo espacial indica compreender e realizar, com sentido, sua
natureza humana, bem como o fato de
se a atividade lúdica está ou não favorecida, se pro-
pertencerem a uma família e a uma socie-
picia atividades de faz de conta e outras ligadas ao dade em determinado tempo histórico e
tema. O excesso de oferta de brinquedos também cultural. (MACEDO, 2003, p. 10).
não é a melhor opção, especialmente se estiverem
dispostos apenas para serem vistos ou, ainda, se É fundamental que as unidades de Educação
estiverem envolvidos em tantas regras que impe- Infantil divulguem as diversidades de brincadeiras
çam a criança de brincar ou criar, levando mesmo das diversas regiões, trazendo, assim, elementos da
às brigas. linguagem, da música, danças e outros. Historica-
O fato é que, embora os educadores digam mente, é também um resgate temporal do signifi-
que favorecem as brincadeiras das crianças, pode- cado que a brincadeira tem nas várias culturas.
mos concluir que a brincadeira não aparece na pro- Percebemos que há um movimento de maior
porção que deveria ou poderia ocorrer. valorização dos brinquedos do que das brincadei-
Devido às características de imprevisibili- ras, privilegiando mais as tecnologias do que as
dade e falta de controle do jogo, o professor não criações artesanais, o que desencadeia uma ação
sabe como se portar enquanto a criança brinca: ora mais solitária da criança, quando deveríamos pro-
refugia-se em outras tarefas, ora interfere na brin- piciar atividades e brincadeiras mais coletivas e
cadeira como se fosse criança, quando seu princi- cooperativas.
Não abordaremos separadamente cada tipo presente em qualquer criança do mundo. Graças a
de jogo ou brincadeira, mas o faz de conta requer ele a criança pode
um estudo mais cuidadoso, dada a sua significativa
presença na primeira infância. O faz de conta está
58
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Metodologia e Prática do Ensino de Educação Infantil
imitar, imaginar, criar, jogar simbolicamen- objetos que convidam a criança à intera-
te e, assim, pouco a pouco, vai reconsti- ção, como quando tenta alcançar e balan-
tuindo em esquemas verbais ou simbóli- çar um móbile que está à sua frente. Ou-
cos tudo aquilo que desenvolveu em seu tras vezes, executa uma ação com a ajuda
primeiro ou segundo ano de vida. Com do adulto, que lhe dá apoio para andar, su-
isso, pode ampliar seu mundo estenden- bir, descer etc. Podemos, informalmente,
do ou aprofundando seus conhecimentos chamar esse conjunto de ações de ‘jogos
para além de seu próprio corpo; pode en- do bebê’. (SÃO PAULO, 2002a, p. 14).
curtar tempo, alargar espaços, substituir
objetos, criar acontecimentos. Além disso,
pode entrar no universo de sua cultura ou A imitação também tem presença marcan-
sociedade aprendendo costumes, regras te nas construções dos jogos e brincadeiras pelas
e limites. No faz-de-conta, aquilo que a crianças. Há quem considere a imitação ruim para
criança cria está atribuído aos objetos ou o processo criativo, mas o fato é que todos nós, em
acontecimentos de sua história ou fabula- diversos momentos da vida, imitamos alguém. Na
ção. Ao mesmo tempo, são objetos e acon- verdade, é uma forma que encontramos de nos
tecimentos que só se tornaram como tais
apropriarmos, à nossa maneira – o que acaba sen-
pelas criações dela.
O faz-de-conta permite desenvolvimen-
do uma forma original –, do mundo. É evidente que
to da evocação e da simbolização. É pelo a imitação ocorre de formas diferentes nas diversas
símbolo, pelo faz-de-conta como uma de faixas etárias: os bebês imitam sons, gestos, atitu-
suas expressões, que podemos reunir ou des dos adultos, como, por exemplo, colocar uma
imaginar as coisas no irrealizável de sua boneca para dormir; as crianças maiores já imitam
plenitude. (MACEDO, 2003, p. 13). falas, expressões de bravas, felizes, imitam perso-
nagens das histórias e outros. Importante é perce-
Considerando que toda criança brinca de faz ber que a relação com os objetos e com as pessoas
de conta, devemos aproveitar essas ocasiões para vai mudando conforme a criança vai crescendo,
observá-la, pois este não depende apenas do de- por isso, enquanto educadores, precisamos ficar
senvolvimento dela. É um momento no qual ela atentos para que possamos ainda mais enriquecer
traz elementos da cultura, como a linguagem, cos- as oportunidades de brincadeiras de faz de conta,
tumes, práticas sociais do universo adulto; por isso, imitação e outras pelas crianças.
a presença de parceiros mais experientes é valiosa, No faz de conta, os brinquedos que antes ser-
pois pode melhorar muito a qualidade desse tipo viam para exercitar o aspecto motor, visual, auditi-
de brincadeira. vo ou outros pela criança, nas crianças com mais de
Se observarmos as crianças nas diferentes fai- 2 anos, passam a ganhar outros significados; assim,
xas etárias, podemos perceber que o faz de conta um copinho que só servia para fazer barulho, ago-
está muito presente no momento em que elas têm ra pode ser utilizado para dar “suquinho” à filhinha
algum domínio da linguagem oral. Para os bebês, (que pode ser uma boneca ou outra pessoa).
as brincadeiras estão mais voltadas para a explo- Aliás, você já percebeu como qualquer obje-
ração do corpo e de objetos, experimentando di- to pode virar um brinquedo na mão de uma crian-
ferentes texturas, formas, cores, sons etc., de forma ça? Um cabo de vassoura pode ser um cavalo, uma
livre inicialmente. Com o tempo, começam a imitar corda pode ser uma cobra, uma tampa pode ser
os adultos ou crianças maiores. Na verdade, estes um copinho, uma embalagem vazia pode ser um
são os jogos dos bebês, marcados pela presença carrinho ou tantas outras coisas que a imaginação
do movimento e da expressividade. possa buscar. De fato, as crianças se apropriam dos
objetos, transformando-os em brinquedos e, com
O controle do próprio corpo, o domínio de isso, ampliam as brincadeiras, elaborando-as cada
gestos, do equilíbrio e a expressão de seus vez mais. Assim, criam papéis, cenários para brincar
sentimentos e afetos parecem ser grandes de médico, mamãe e filhinha, escolinha e muitas
motivadores de seus fazeres. Às vezes, a outras fantasias.
criança executa ações sozinha, seja com o
próprio corpo, quando tenta controlar os
gestos de sua mão, por exemplo, seja com
59
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Roseli Helena de Souza Salgado e Rosilda Silvio Souza
60
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Metodologia e Prática do Ensino de Educação Infantil
As brincadeiras são muito importantes para o desenvolvimento infantil. A criança aprende a brincar
dentro de sua cultura, trazendo elementos dela e modificando-os. As brincadeiras precisam ser planeja-
das e diversificadas para que o repertório possa ser ampliado, enriquecendo assim as aprendizagens e
socialização das crianças. É importante perceber que a brincadeira não deve ser um pretexto para outras
aprendizagens, mas uma aprendizagem em si mesma, ou seja, aprender a brincar brincando.
As aprendizagens decorrentes das brincadeiras são consequências, mas o mais importante é pri-
vilegiar a brincadeira como uma linguagem própria, na qual a criança faz experimentos, diverte-se, rela-
ciona-se, raciocina etc.
Ao professor compete organizar o tempo e os materiais para favorecer a diversidade de brinca-
deiras. Para tanto, ele deve apoiar-se em seus instrumentos metodológicos: observação, planejamento,
registro e avaliação.
1. Descreva uma brincadeira infantil que você conheça. Indique o que as crianças podem apren-
der com ela.
2. O que o professor pode fazer para tornar as brincadeiras de faz de conta mais diversificadas?
61
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Prezado(a) aluno(a), nesta disciplina buscamos apontar aspectos que consideramos relevantes para
uma prática de educação infantil que valorize a infância como uma importante etapa no desenvolvimen-
to do ser humano, de modo a não reduzir esse período de vida, que é fugaz. Nesse sentido, realizamos
um panorama histórico da educação infantil e apresentamos concepções visando a contribuir para uma
reflexão crítica delas, bem como de propostas metodológicas. Assim, destacamos alguns precursores da
educação infantil e suas concepções e propostas.
Acerca do currículo, apresentamos possibilidades de práticas pedagógicas e de uma atuação com
as diferentes linguagens na educação infantil.
Ressaltamos a importância dos instrumentos metodológicos do professor, no intuito de contri-
buir para o desenvolvimento de uma prática mais consistente, ancorada numa observação criteriosa, de
modo a desenvolver uma ação reflexiva e cuidadosa com as questões da infância. Além da observação,
indicamos também o registro, o planejamento e a avaliação como valiosos instrumentos para a aplicação
dessa prática.
Destacamos a importância de romper o olhar dicotômico entre cuidar e educar, levando-se em
conta que se educa cuidando e se cuida educando.
Um rápido olhar pelas Unidades de Educação Infantil nos permite estimar a concepção de infância
que subsidia as práticas presentes: a organização do tempo e espaço, os aspectos ligados à cultura da
infância, o papel que desempenha o brincar nesse lugar, a começar pelo seu arranjo espacial – favorável
ou não ao desenvolvimento da atividade lúdica. Enfim, são elementos que nos possibilitam verificar a
qualidades dessas práticas, considerando que elas devem estar impregnadas das práticas culturais, rom-
pendo a artificialidade de ações que só ocorrem na escola.
A maneira como são realizadas as refeições, o modo como as crianças são acolhidas na entrada, as
possibilidades que têm de emitir opiniões, fazer escolhas, de se cuidarem, devem estar conectados com
a vida social, que ocorre também fora da escola.
63
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
RESPOSTAS COMENTADAS DAS
ATIVIDADES PROPOSTAS
Capítulo 1
1. Entendendo-se as crianças como adultos em miniatura, elas conviviam com adultos, sem um
tratamento específico. Elas eram vestidas como adultos e participavam das mesmas práticas
sociais.
Capítulo 2
1. Para Froebel, o foco da Educação Infantil é o trabalho com o jogo e a brincadeira. Isso porque
ele acreditava que brincar é uma forma da criança se desenvolver, se expressar e expressar
como vê o mundo.
2. Os pilares da escola proposta por Freinet são: a livre atividade da criança, a cooperação e o
trabalho.
3. A Roda de Conversa é uma importante prática educativa para a Educação Infantil, porque ela
oportuniza situações de aprendizagem de conversa, de expressão da criança, além de possibi-
litar ao professor a ampliação do seu conhecimento a respeito das crianças.
Capítulo 3
2. Alguns empecilhos para uma boa utilização da observação são: a falta de um foco, pois não
se pode observar tudo ao mesmo tempo; o preconceito, julgamentos, visões estereotipadas,
porque limitam a nossa possibilidade de ver a realidade.
Capítulo 4
2. É importante a organização de uma rotina estável para que as crianças sejam capazes de ante-
cipar e prever o que vai acontecer, o que lhe causará mais tranquilidade, porém essa rotina não
deverá ser inflexível.
65
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Roseli Helena de Souza Salgado e Rosilda Silvio Souza
3. Escolha uma das linguagens presentes no currículo da Educação Infantil e elabore a atividade,
respeitando a idade das crianças e a oportunidade de criação e exploração por parte das crian-
ças. Para tanto, exponha como estarão disponibilizados os espaços, materiais e a organização
do tempo.
Capítulo 5
1. Deve ser contínua, de preferência diária; para isso, precisamos dispor de materiais, como diário
de campo, portfólios, observação das conversas e atividades dos alunos, fotografias, filmagens
e registros das próprias crianças, inclusive, suas avaliações e autoavaliações. Na verdade, há um
acervo documentário que pode ser utilizado para verificar e acompanhar as aprendizagens das
crianças.
Capítulo 6
1. Essas dimensões são determinantes no trabalho com a criança, pois, se devidamente organi-
zadas, favorecem o trabalho com as crianças de acordo com a metodologia escolhida, espe-
cialmente se defendemos uma criança autônoma, independente e segura. Releia o tópico que
trata deste tema para melhor compreender o assunto.
Capítulo 7
1. Na verdade, na Educação Infantil, cuidar e educar são ações indissociáveis; não há uma hie-
rarquia entre elas; deve-se educar cuidando e cuidar educando. Ações como alimentação e
higiene implicam cuidado e aprendizagem, pois o principal objetivo é propiciar à criança a
capacidade de autocuidado, o que só pode ocorrer por meio da educação. Leia mais acerca do
assunto e aprofunde-o.
Capítulo 8
1. Embora a criança busque o repertório de suas brincadeiras no mundo do adulto, ela tem uma
cultura que é própria e uma maneira bastante peculiar de compreender e falar acerca do mun-
do, por isso a denominação cultura da infância, a qual deve ser ouvida e respeitada. Procure
observar como a criança pensa, do que gosta e como gosta de brincar, suas preferências, suas
hipóteses acerca de qualquer assunto. Enfim, faça uma investigação.
Capítulo 9
1. Retome sua experiência como criança, como estagiária ou em situações de convívio com crian-
ças e tente apontar tudo o que a criança aprende com essa brincadeira, indicando o real valor
para a aprendizagem infantil.
2. Organizar espaços e materiais que favoreçam diferentes interações. Tornar o ambiente rico em
roupas, brinquedos, objetos, livros, histórias e outros elementos que possam desencadear boas
ideias para o faz de conta infantil. Organização com panos, tendas, lençóis, castelos e outros
pode nutrir grandes ideias. Enfim, usar muita criatividade e planejamento, isso com muita re-
gularidade e diversidade.
66
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
REFERÊNCIAS
ARCE, A. Friedrich Froebel – O pedagogo dos jardins de infância. Petrópolis: Vozes, 2002.
ARIÈS, P. História social da criança e da família. 2. ed. Tradução de Dora Flaksman. Rio de Janeiro: LTC
Editora, 1981.
BASSEDAS, E.; HUGUET, T; SOLÉ, I. Aprender e ensinar na educação infantil. Porto Alegre: Artmed,
1999.
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
Diário Oficial da União, Brasília, 1996.
______. Ministério da Educação. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília, DF,
1998a. v. 3.
______. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília, DF, 1998b. v. 1.
______. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília, DF, 1998c. v. 2.
______. Parâmetros nacionais de qualidade para a educação infantil. Brasília, DF, 2006.
CARVALHO, A. M. C et al. (Orgs.). Brincadeira e cultura: viajando pelo Brasil que brinca. São Paulo: Casa
do Psicólogo, 2003.
DOLL, J.; ROSA, R. T. D. (Orgs.). Metodologia de ensino em foco. Porto Alegre: UFRGS, 2004.
ELIAS, M. D. C. Célestin Freinet – Uma pedagogia de atividade e cooperação. Petrópolis: Vozes, 1999.
HOUAISS Dicionário da Língua Portuguesa. 18. ed. Instituto Houaiss, Rio de Janeiro: Editora Objetiva,
2001.
67
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
Roseli Helena de Souza Salgado e Rosilda Silvio Souza
KOHAN, W. Infância: entre educação e filosofia. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2003.
KUHLMANN JR., M. Infância e educação infantil: uma abordagem histórica. Porto Alegre: Mediação,
2000.
LERNER, D. Ler e escrever na escola – O real o possível e o necessário. Porto Alegre: Artmed, 2002.
MACEDO, L. Faz-de-conta na escola. Revista Pátio Educação Infantil, Porto Alegre, ano 1, n. 3, p. 21-23,
2003.
MENOGOLLA, M.; SANT’ANNA, I. M. Por que planejar? Como planejar? Petrópolis: Vozes, 1992.
SÃO PAULO. Secretaria Municipal de Educação. ADI Magistério – Organização do trabalho pedagógico.
Módulo 2. São Paulo, 2002a.
______. ADI Magistério – Organização do trabalho pedagógico. Módulo 1. São Paulo, 2002b.
______. ADI Magistério – Organização do trabalho pedagógico. Módulo 4. São Paulo, 2002c.
______. ADI Magistério – Organização do trabalho pedagógico. Módulo 3. São Paulo, 2002d.
STRAZZACAPPA, M. Dançando na chuva... e no chão de cimento. In: FERREIRA, S. (Org.). O ensino das
artes. Construindo caminhos. Campinas: Papirus, 2001. p. 39-78.
WAJSKOP, G. O brincar na educação infantil. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 92, p. 62-69, fev. 1995.
WALLON, H. (1941). A evolução psicológica da criança. Tradução de Ana Maria Bessa. Lisboa: Edições
70, 1981.
WEFFORT, M. F. et al. Observação, registro, reflexão. São Paulo: Espaço Pedagógico, 1996.
______. Avaliação e planejamento – A prática educativa em questão. São Paulo: Espaço Pedagógico,
1997.
68
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br