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Variação nictemeral da água em um viveiro de matrizes reprodutoras de

tambaqui (Colossoma macropomum, Cuvier 1818) no Pará – Brasil


ANDRADE, Jackson Oliveira¹; BRAZ, Reinaldo da Silva1; BRITO, Tiago Pereira Brito²
1
Discentes do curso Tecnologia em Aquicultura do Instituto Federal do Pará, Campus Castanhal
jacksonandrade136@gmail.com

Docente do Instituto Federal do Pará, Campus Castanhal


Núcleo de Pesquisa Aplicado a Pesca e Aquicultura / NUPA-Norte 3
Grupo de Estudos Pesqueiros e Aquícolas / GEPAq
britotp@yahoo.com.br

Área de Concentração: Aquicultura

Introdução
O controle de qualidade da água é fundamental para desempenho adequado de
qualquer atividade voltada à produção de organismos aquáticos. O conhecimento dos
diferentes fatores que atuam nos ecossistemas aquáticos pode influenciar decisivamente no
desenvolvimento do cultivo.
Em um viveiro escavado, há uma constante interação entre os elementos vivos como o
plâncton, bentos, bactérias e os organismos cultivados, denominados fatores bióticos, e os
elementos não vivos, compostos nitrogenados, fósforo, carbonatos, bicarbonatos etc,
denominados fatores abióticos.
Para se obter uma boa produção e garantir o desempenho zootécnico dos organismos
de cultivo é necessário realizar periodicamente o monitoramento dos padrões de qualidade de
água, realizando correções nos parâmetros quando não estiverem de acordo com os padrões
adotadas para aquicultura. Diante disso, esse trabalho tem como objetivo realizar uma
avaliação nictemeral da água na estação de Piscicultura de Terra Alta, Secretária de Pesca e
Aquicultura do Estado do Pará.

Metodologia
O presente trabalho foi realizado em um viveiro de matrizes reprodutoras de tambaqui
(Colossoma macropomum, Cuvier 1818) com 1.000 m² de lâmina d’água e com densidade de
estocagem de 1 peixe/25 m², localizado na Estação de Piscicultura de Água Doce da
Secretaria de Estado de Pesca e Aquicultua (SEPAq) do Estado do Pará, localizada no
município de Terra Alta no nordeste do estado.
A coleta e análise das amostras de água do viveiro foram realizadas durante um
período de 24 horas com o objetivo de verificar a ocorrência de variação nictemeral dos
parâmetros limnológicos. Foram delimitados pontos de coletas tanto na entrada quanto na
saída de água do viveiro. As amostras de água de superfície foram coletadas com garrafa de
Van Dorn, sendo também realizadas coletas a um metro de profundidade de coluna d’água
com um amostrador de fundo com capacidade para 300 mL.
As coletas se iniciaram às 12:00 horas dia 10 de junho de 2013 e encerrando no
mesmo horário do dia seguinte, totalizando 24 horas de coleta de dados. Os parâmetros
analisados foram pH, medido com auxílio de um pHmetro digital (SX723), oxigênio
dissolvido (OD) e temperatura medidos com auxílio de um oxímetro(ICEL OD-4000). A
turbidez foi registrada por um turbidímento portátil (HI 98703) e, a velocidade do vento foi
medida por um anemômetro digital (THAL-300).
Resultados e Discussão
As variações das temperaturas das águas de superfície na entrada e na saída de água do
viveiro se mostraram muito próximas, indicando não haver diferenciação entre os pontos
coletados (Figuras 1 e 2), sendo 28,80 ± 1,22°C a média da temperatura superficial. O mesmo
pode ser observado para os pontos de entrada e saída da água de fundo (Figuras 1 e 2), sendo
a média da temperatura de fundo de 28,65 ± 1,00°C. A aproximação das variações das
temperaturas de fundo às variações das temperaturas registradas em superfície demonstra que
não ocorreu uma diferenciação térmica ao longo do dia entre essas massas d’água, portanto,
não houve a formação de uma estratificação térmica durante esse experimento (Figura 3).
Fato este também registrado por Andrade et al. (2013), ao analisar a variação nictemeral da
qualidade de água em um sistema de piscicultura no Pará.

A não estratificação térmica que poderia ocorrer durante o dia pode estar relacionada à
baixa profundidade do viveiro e a incidência dos ventos pela manhã (velocidade média: 0,93
m/s), conforme também verificado por Andrade et al (2013). De acordo com Esteves (2011)
os ventos atuando sobre a superfície d’água numa certa direção provocam gradual
deslocamento das camadas superiores da coluna d’água que acompanham a mesma direção do
vento. A massa superficial em deslocamento será substituída pela massa da camada inferior,
que se deslocará até a superfície, numa tendência a circulação.
De forma geral, a variação de temperatura demonstrou valores mais elevados durante
o dia devido o aquecimento da água por ocasião da incidência de radiação solar e, menores
durante a noite, quanto as massas de água perdem calor para atmosfera. A média global da
temperatura da água do viveiro foi de 28,72 ± 1,09°C se mantendo dentro da faixa
considerada adequada à piscicultura que é de 26 a 32°C. Toledo (2001) encontrou resultado
semelhante em viveiros escavados em uma estação de piscicultura no estado do Mato Grosso,
onde a média de temperatura foi 28,4°C, também mantendo-se na faixa ideal.
As oscilações das concentrações de oxigênio dissolvido (OD) das massas d’águas de
superfície nos pontos de coleta na entrada e na saída de água do viveiro se mostraram muito
próximas, indicando não haver diferenciação entre elas (Figuras 4 e 5), sendo 6,04 ± 0,70
mg/l a concentração média de OD superficial. O mesmo pode ser observado para os pontos de
entrada e saída da água de fundo (Figuras 4 e 5), sendo a média de OD de fundo de 6,20 ±
0,67 mg/l.
A aproximação das oscilações do OD de fundo às oscilações do OD registradas em
superfície demonstra que não ocorreu uma diferenciação química do oxigênio ao longo do dia
entre as massas d’água superficial e de fundo, portanto, não houve a formação de uma
estratificação química quanto a esse parâmetro nesse experimento (Figura 6). Essa fato
também foi registrado por Andrade et al (2013).
De forma geral, a variação do OD demonstrou valores mais elevados durante o dia
devido a influência da radiação solar sobre o processo de fotossíntese e liberação de O2 na
água pelos produtores primários, o mesmo não ocorre durante a noite onde há apenas o
consumo do OD pelos organismos não sendo reposto até a incidência dos primeiros raios
solares pela manhã para reiniciar o processo de produção primária. Para Esteves (2011) a
variação diruna do OD está diretamente relacionado com os processos de fotossíntese e
respiração, e estes estão ligados ao fotoperíodo.
Os maiores valores de OD foram obtidos próximo às 14:00 horas, período que
coincide com a máxima produção fotossintética devido a incidência da luz solar com maior
intensidade. Os valores mais baixos de OD foram registrados durante a madrugada, próximo
às 06:00 horas, quando o consumo de O2 não foi compensado pelo processo fotossintético,
uma vez que não havia incidência da luz solar para realização desse processo, no entanto, o
seu consumo permaneceu pelo processo de respiração dos organismos, contribuindo
significativamente para a redução da sua concentração. De um modo geral o OD no viveiro se
manteve numa média geral de 6,12 ± 0,68 mg/l.
Para Kubitza (2003) a concentração de OD na água pode aumentar por meio de muitas
fontes, principalmente pelo processo de fotossíntese realizado pelos produtores primários
aquáticos e turbulência na coluna d’água, tendo como principal fonte de perda de OD o
processo de respiração dos organismos aquáticos, decomposição da matéria orgânica e
difusão para a atmosfera. De todos os fatores químicos indicadores de qualidade de água, o
oxigênio é o mais importante, ele é essencial à vida dos organismos aquáticos. Segundo Boyd
(1990) valores de OD acima de 4 mg/l. Ferraz (2009) encontrou valores bem superiores em
um viveiro de criação de tilápia no Espirito Santo, onde a média foi de 7,05 mg/l. Portanto, os
valores de OD registrados nesse estudo se mostraram dentro do padrão para o
desenvolvimento de atividade aquícola.
As variações do pH das águas de superfície na entrada e na saída de água do viveiro se
mostraram muito próximas, indicando não haver diferenciação entre os pontos coletados
(Figuras 7 e 8), sendo 7,56 ± 0,60 a média do pH em superfície. O mesmo pode ser observado
para os pontos de entrada e saída da água de fundo (Figuras 7 e 8), sendo a média do pH de
fundo de 7,53 ± 0,52.
A aproximação das oscilações do pH de fundo às variações do pH registradas em
superfície demonstra que não ocorreu uma diferenciação química ao longo do dia entre essas
massas d’água, portanto, não houve também a formação de uma estratificação química para
esse parâmetro durante esse experimento (Figura 9).
De forma geral, as médias do pH tanto de superfície quanto de fundo se mostraram
maiores durante o dia devido a influência da radiação solar sobre o processo de fotossíntese e
consequentemente maior consumo de CO2. O consumo desse gás diminui a concentração de
ácido carbônico na água o que a torna ligeiramente menos ácida durante o dia. Durante a noite
não há fotossíntese, mas a decomposição e respiração dos organismos favorecem um aumento
da concentração de CO2 e um ligeiro aumento na concentração de ácido carbônico na água,
tornando consequentemente mais ácida. Esse padrão também foi observado por Ferraz (2009)
e Andrade et al (2013) ao deduzir que os valores de pH podem variar durante o dia, em função
da fotossíntese e da respiração, diminuindo com o aumento da concentração de CO2.

O aumento do pH ocorreu conforme o aumento da incidência de radiação solar, tendo


seus valores mais básicos próximo as 12:00 horas devido ao maior consumo de CO2 pelo
processo fotossintético, portanto, menor concentração de ácido carbônico na água.
Normalmente durante a noite não há consumo, mas sim a liberação de CO2 pelo processo de
respiração, contribuindo para formação de ácido carbônico e redução dos valores de pH.
Martins (2007) verificou variação similar do pH em tanques de cultivo de tilápia,
relacionando a oscilação com a liberação de oxigênio dissolvido durante o dia e a diminuição
do gás carbônico, observando-se o inverso ao entardecer. De um modo geral o pH no viveiro
se manteve numa média de 7,55 ± 0,56 considerado adequado a piscicultura, pois segundo
Kubitza (2003) apenas valores abaixo de 6,0 e acima de 9,5 diminuiriam o rendimento do
cultivo.
Para o parâmetro turbidez verificou que a média em superfície foi de 35,30 ± 4,74
UNT e, para média de fundo foi de 39,13 ± 5,83 UNT, sendo também valores aceitáveis para
a aquicultura, estando próximo aos valores encontrados por Azevedo e Takiyama (2012) ao
avaliar os parâmetros físicos e químicos da água em tanques de piscicultura no município de
Macapá-AP.

Conclusão
A coluna d’água do viveiro não demonstrou, durante a realização do experimento, uma
estratificação térmica ou química, portanto, a coluna d’água, de forma geral, esteve
homogênea. Todos os parâmetros analisados como temperatura, oxigênio dissolvido, pH e
turbidez se mantiveram satisfatório para a atividade aquícola.

Palavras-chave: Aquicultura; piscicultura, limnologia, qualidade de água.

Referências Bibliográficas
ANDRADE, J.; BRAZ, R. S.;MOREIRA, L.A.C.; COSTA, J.S.; OLIVEIRA, D.V.; COSTA, L.C.O.; BRITO, T.P. 2013.
Avaliação dos parâmetros de qualidade de água em um sistema de piscicultura. In: III Semana de Integração de
Ciência, Arte e Tecnologia do IFPA Campus Castanhal - III SICAT. 2013. 5p.
AZEVEDO, R. C. J.; TAKIYAMA, L. R. 2012. Caracterização físico-química da água em tanques de piscicultura,
município de Macapá-AP. Revista Pesquisa e Iniciação Científica, 2 Sessão – Recursos Pesquieros, 11 – 14.
BOYD, C. E. Water quality in ponds for aquaculture. Alabama: Birmingham Publishing,1990.
ESTEVES, F. A. Fundamentos de Limnologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Interciência, 2011.
FERRAZ, D. R; AMARAL. A. A. Variação nictemeral dos parâmetros físico-químicos da água de um viveiro de
cultivo de tilápia. Espírito Santo, 2009.
KUBITZA, F. Qualidade da água no cultivo de peixes e camarões. São Paulo, 2003.
MARTINS, Y. K. Qualidade da água em viveiro de tilápias (Oreochromisniloticus): caracterização diurna de
variáveis físicas, químicas e biológicas. Dissertação (mestrado) – Instituto de Pesca, Agência Paulista de Tecnologia dos
Agronegócios, Secretaria de Agricultura e Abastecimento. - São Paulo, 2007.
TOLEDO, José Júlio de. Parâmetros físico-químicos da água em viveiros da estação de piscicultura de Alta Floresta,
Mato Grosso. Revista de biologia e ciências da terra, vol. 1, 2001.

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