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ISBN 978-85-7292-193-0.
Área Temática: Formação de Professores
Agência Financiadora: Não contou com financiamento
Resumo
Esta pesquisa trata-se de um estudo de caso, de caráter exploratório, feito com atores
escolares, tendo em vista discutir a formação inicial dos professores frente aos desafios
relativos ao trato competente da informação. Para efeito de análise, busca-se identificar as
ações conjuntas desenvolvidas pelos atores educacionais investigados, em prol de uma
formação que privilegie o estudo individual e a aprendizagem independente de um estudante-
leitor com criticidade para lidar com a gama de informações a seu dispor. Este estudo valeu-se
de contribuições como as de Brunner (2004), Hatschbach (2002), Dudziak (2002), Lima
(2004), Reali e Mizukami (2004), Silva (2003, 2005a, 2005b), Abreu & Campello (2003 e
2005) e Kuhlthau (1996), dentre outros, que possibilitaram o resgate histórico-conceitual da
information literacy e incursões teóricas sobre a formação de professores. O estudo realizou-
se no município de Palmas-TO e o universo investigado consistiu de: 03 (três) unidades de
ensino de educação básica, sendo duas públicas (municipal e estadual) e a outra privada. Os
instrumentos utilizados foram: uma entrevista semi-estruturada, um questionário e
observações in loco. Número de entrevistados: 12 (doze) professores (de ensino fundamental
e médio); 03 (três) bibliotecários e 03 pedagogos (habilitados em supervisão escolar).
Constatou-se que inexiste um trabalho concebido em conjunto, de modo integrado e
participativo, pelos educadores da escola e que em decorrência disto implicações sérias e
preocupantes foram identificadas com respeito à apropriação dos conteúdos escolares pelos
estudantes. Verificou-se igualmente que os profissionais em questão creditam à formação
inicial o insucesso no encaminhamento de atividades de ensino relacionadas à promoção da
leitura, à pesquisa e ao aprendizado como todo.
Introdução
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VIII EDUCERE e III CIAVE, Curitiba, out. de 2008 – ISBN 978-85-7292-193-0.
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Objetivos
Resenha da Literatura
Para tal, é preciso que a formação docente não se restrinja ao domínio dos conteúdos
das disciplinas e das técnicas ou procedimentos para transmiti-los, fazendo-se necessário que
este professor aprenda a lidar com um conhecimento em constante devir (LIMA, 2004). Não
se pode também prescindir que esta formação dispense o “caráter mais relacional, mais
dialógico, mais cultural-contextual e comunitário, em cujo âmbito adquire importância a
relação que se estabelece entre todas as pessoas que trabalham dentro e fora da instituição”
(IMBERNÓN, 2000, p. 8).
Outro ponto que muito interessa a este estudo trata-se da atuação de professores para
além da sala de aula. É comum, por exemplo, ver professores atuando em diversos setores
(secretaria, cantina, biblioteca, dentre outros) e não apenas em classe como alguns
desavisados podem supor. Logo, merece a atenção deste trabalho, a figura do “professor-
bibliotecário” (aquele que desviado de sua função “original” foi parar na biblioteca). Este
profissional não pode permanecer à margem do trabalho pedagógico planejado e
desenvolvido na escola, como se sua atividade nada ou pouco tivesse a ver com o processo
educativo como todo.
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informação com precisão e com criatividade [...] o aluno que tem capacidade de
aprender com independência possui competência informacional e busca informações
relacionadas com os seus interesses pessoais com competência [...] aprecia literatura
e outras formas criativas de expressão da informação [...] se esforça para obter
excelência na busca de informação e de geração de conhecimento [...] reconhece a
importância da informação para a sociedade democrática [...] pratica o
comportamento ético em relação à informação [...] participa efetivamente de grupos,
a fim de buscar e gerar informação (CAMPELLO, 2003, p. 32, grifo nosso).
Metodologia
Logo após esta fase, observações sistemáticas foram feitas visando acompanhar: a
desenvoltura dos estudantes apontados, pelo grupo de educadores entrevistados, como
relativamente competentes do ponto de vista informacional; e os procedimentos de ensino do
corpo docente, as intervenções do bibliotecário e do pedagogo.
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Resultados e conclusões
Isto ficou evidenciado em declarações como esta: “Das 10 turmas que leciono percebo que
apenas 3 alunos têm o hábito de pesquisar assuntos e aprofundarem em conteúdos que os
interessam.”
Isto, muito provavelmente, decorre, dentre os obstáculos ao aprendizado apontados
por todos os participantes da pesquisa, das dificuldades dos estudantes inerentes à leitura, à
compreensão, à interpretação e ao trato da informação. No entanto, é preciso pontuar que, sem
a menor intenção, obviamente, de apontar “bodes expiatórios” para a situação posta, a
'profissão' docente alardeia, mesmo aos olhos de um observador comum, indícios evidentes de
precarização, resultantes, muitas vezes, da perda de importância social, de poder aquisitivo,
de condições de vida e, sobretudo, de respeito próprio e contentamento no exercício do
magistério (LÜDKE e BOING, 2004, p.1159).
Outras descrições, do questionário empregado, que merecem destaque dizem respeito
ao que foi indagado acerca da detecção de algum comportamento antiético praticado pelos
alunos em relação às atividades escolares. Eis algumas respostas dadas pelos docentes do
ensino fundamental (2ª fase) e médio: “[...] Sim, algumas atitudes como colar nas avaliações
são freqüentes demais [...] A cópia de trabalhos e tarefas de outros colegas [...]”.
Vê-se que tais comportamentos revelam, dentre ouros aspectos, que este aluno que
“copia trabalhos e tarefas de outros colegas” e “cola nas avaliações”, engana e trapaceia para
levar vantagem em seus estudos. Este comentário pode soar puritano para alguns, mas trata-se
da constatação de que este estudante não possui uma das “facetas” da competência
informacional, pois não “pratica o comportamento ético em relação à informação”
(CAMPELLO, 2003, p. 32).
Outro questionamento feito relaciona-se as pesquisas escolares que os educandos
realizam quando solicitados. A prática constante da “cópia literal” e irrefletida do que está
posto nos livros, enciclopédias, revistas, home pages, sites e etc., foi observada no cotidiano
das aulas e confirmada a sua freqüência pelos docentes, pedagogos, bibliotecários e pelos
próprios estudantes. Porém, não se constatou em nenhuma das unidades escolares
investigadas qualquer esforço conjunto, específico e planejado para modificar ou suprimir a
referida prática.
O efetivo trabalho em grupo é outro traço que identifica o “indivíduo-estudante” como
competente informacionalmente. Neste quesito tanto estudantes, quanto corpo docente,
pedagogos e bibliotecários ficaram muito aquém do apropriado.
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A começar pelo alunado, foi possível constatar via observações in loco e depoimentos
colhidos pelo professores que: possuem “dificuldades de divisão das tarefas, um ou dois
assumem o trabalho e o resto só faz algumas coisas complementares”; “muitos apresentam
dificuldades de relacionamento”; “[...] falta integração, são rebeldes uns com os outros [...]”,
quando estão reunidos “não conseguem expressar objetividade sobre os assuntos”. A este
respeito, o que se espera do educador (seja ele professor, pedagogo ou bibliotecário) é que
seja capaz, conforme Tessaro e Guzzo (2004), de organizar e gerir o espaço escolar de modo
democrático, organizando experiências pedagógicas escolares e não escolares, visando assim
uma educação como expressão do desejo coletivo de uma sociedade que se aspira.
Só assim será possível reverter o quadro acima. Contudo, não foi encontrado no
universo investigado nenhum trabalho ou projeto concebido, planejado e realizado,
conjuntamente, pelos docentes, pedagogo e bibliotecário. Ao invés disso, identificou-se: uma
desarticulação entre os setores da escola e a biblioteca; a falta de integração entre o que o
bibliotecário planeja e realiza com o que o professor faz em sala de aula; a não participação
do bibliotecário nas reuniões pedagógicas e nas decisões tomadas em relação ao currículo e as
atividades escolares; e a resistência dos professores ao apoio ora do pedagogo, ora do
bibliotecário.
Somado a tudo isto, estão os registros dos professores que creditaram à formação
inicial o insucesso deles no fomento à leitura e à pesquisa (tão necessária ao aprendizado)
entre os estudantes das unidades escolares investigadas; e também apontaram o conjunto de
habilidades integrantes à information literacy como “algo” premente e pertinente à educação.
O que se espera, portanto, concluídas as considerações, que este trabalho investigativo possa
nortear outros estudos e que sejam ampliadas as discussões feitas até aqui.
REFERÊNCIAS
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bibliotecários e educadores. Educação Temática Digital, Campinas, v. 6, n. 2, p. 27-42, jun.
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LIMA, Emília Freitas de. O curso de pedagogia e a nova LDB: vicissitudes e perspectivas. In:
Aprendizagem profissional da docência. Saberes, contextos e práticas. São Carlos:
EdUFSCar, 2002.
NUTTI, Juliana Zantut; REALI, Aline Maria de Medeiros Rodrigues. Superação do fracasso
escolar, políticas públicas e classes de aceleração. In: Aprendizagem profissional da
docência. Saberes, contextos e práticas. São Carlos: EdUFSCar, 2002.
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REALI, Aline Maria de Medeiros Rodrigues; MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Práticas
profissionais, formação inicial e diversidade: análise de uma proposta de ensino e
aprendizagem. In: Aprendizagem profissional da docência. Saberes, contextos e práticas.
São Carlos: EdUFSCar, 2002.
SILVA, Ezequiel Theodoro da (Org.). A leitura nos oceanos da internet. São Paulo: Cortez,
2003.
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