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3)Características do mito
O mito tal como é vivido nas sociedades arcaicas tem as seguintes características:
É a história dos atos dos seres sobrenaturais.
Esta história é considerada VERDADEIRA (porque se refere a realidades) e SAGRADA (porque é obra de seres
sobrenaturais).
Relata uma CRIAÇÃO: conta como algo veio à existência ou como um comportamento, uma instituição, uma maneira de
trabalhar teve origem. Permite conhecer a origem das coisas e, portanto, dominá-la e manipulá-la voluntariamente. Este
conhecimento não é exterior abastrato acerca das coisas, mas interior e concreto. O homem mítico "vive" o mito, sentindo
que o poder sagrado, não é uma experiência cotidiana, é uma experiência de Religar (re-ligação com a divindade) é uma
experiência religiosa.
5) O mito hoje
Em nossos dias, os mitos são diferentes? O pensamento crítico e reflexivo, que teve início com os primeiros filósofos, na
Grécia do século VI a. C, e o desenvolvimento do pensamento científico a partir do século XIV, com o Renascimento,
ocuparam todo o lugar do conhecimento e condenaram à morte o modo mítico de nos situarmos no mundo humano.
Negar o mito é negar uma das formas fundamentais da existência humana. O mito é a primeira forma de dar significado ao
mundo: fundada no desejo de segurança, a imaginação cria histórias que nos tranquilizam, que são exemplares e nos guiam
no dia-a-dia. Continuamos a fazer isso pela vida afora, independente de nosso desenvolvimento intelectual. Essa função de
criar fábulas subsiste na arte popular e permeia a nossa vida diária.
Hoje em dia, os MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA trabalham em cima dos desejos e anseios que existem na nossa
natureza inconsciente e primitiva. Os super-heróis dos desenhos animados e dos quadrinhos, bem como os personagens de
filmes como Superman, Homem Aranha, Ben 10 e outros, passam a encarnar o Bem e a Justiça e assumem a nossa
proteção imaginária, exatamente porque o mundo moderno, com sequestros, violência e instabilidade no emprego,
especialmente nos grandes centros urbanos, revela-se cada vez mais um lugar extremamente inseguro.
No campo POLÍTICO, certas figuras são transformadas em HERÓIS, pregando um modelo de comportamento que promete
combater, além da inflação, a corrupção, os privilégios e demais mordomias. Prometem, ainda, levar o país ao
desenvolvimento, colocando-o no Primeiro Mundo. Prometem riqueza para todos. Têm de ganhar a eleição, não é? Também
ARTISTAS e ESPORTISTAS podem ser transformados em modelos exemplares: são fortes, saudáveis, bem-alimentados,
têm sucesso na profissão — SUCESSO que é traduzido em reconhecimento social e poder econômico —, são excelentes
pais, filhos e maridos, vivem cercados de pessoas bonitas, interessantes e ricas. Como não mitificá-los?
Até a NOVELA, ao trabalhar a luta entre o Bem e o Mal, está lidando com valores míticos, pré-reflexivos, que se encontram
dentro de todos nós. Aliás, nas novelas, o casamento também é transformado em mito: é o grande anseio dos jovens
enamorados, é a solução de todos os problemas, o apaziguamento de todas as paixões e conflitos. Por isso quase todas
terminam com um verdadeiro festival de casamentos. Só que os astros transformados em mito são heróis sem poder real:
têm somente poder simbólico no imaginário da população. E as festas de formatura, de Ano Novo, os trotes dos calouros, o
baile de quinze anos, não são em tudo semelhantes aos rituais de passagem? Da morte de um estado e passagem para
outro?
Assim, vemos que mito e razão se complementam nas nossas vidas. Só que o mito de hoje, se ainda tem força para inflamar
paixões, como no caso dos astros, dos políticos ou mesmo de causas políticas ou religiosas, não se apresenta mais com o
caráter existencial que tinha o mito primitivo. Ou seja, os mitos modernos não abrangem mais a totalidade do real. Podemos
escolher um mito da sexualidade (Madonna, talvez?), outro da maternidade, outro do profissionalismo, sem que tenham de
ser coerentes entre si. Sem que causem uma revolução em toda nossa vida. Assim como houve uma especialização do
trabalho, parece que houve uma especialização dos mitos. De qualquer forma, como mito e razão habitam o mesmo mundo,
o pensamento reflexivo pode rejeitar alguns mitos, principalmente os que veiculam valores destrutivos ou que levam à
desumanização da sociedade. Cabe a cada um de nós escolher quais serão nossos modelos de vida.
2.Encontrando uma rivalidade ou uma aliança entre os deuses que faz surgir alguma coisa no mundo. Nesse caso, o mito
narra ou uma guerra entre forças divinas ou uma aliança entre elas para provocar alguma coisa no mundo dos homens.
O poeta Homero, na Ilíada, epopeia que narra a guerra de Tróia, explica por que, em certas batalhas, os troianos eram
vitoriosos e, em outras, a vitória cabia aos gregos. Os deuses estavam divididos, alguns a favor de um lado e outros a favor
do outro. A cada vez, o rei dos deuses, Zeus, ficava com um dos partidos, aliava-se com um grupo e fazia um dos lados - ou
os troianos ou os gregos - vencer a batalha.
A causa da guerra, aliás, foi uma rivalidade entre as deusas. Elas apareceram em sonho para o príncipe troiano Páris,
oferecendo a ele seus dons e ele escolheu a deusa do amor, Afrodite. As outras deusas, enciumadas, o fizeram raptar a
grega Helena, mulher do general grego Menelau, e isso deu início à guerra entre os humanos.
O mito, narra a origem do mundo e de tudo que existe nele, e a terceira principal maneira de narração mítica é:
3.Encontrando as recompensas ou os castigos que os deuses dão a quem lhes obedece ou a quem lhes desobedece,
respectivamente.
Como o mito narra, por exemplo, o uso do fogo pelos homens? Para os homens, o fogo é essencial, pois com ele se
diferenciam dos animais, porque tanto passam a cozinhar os alimentos, a iluminar caminhos na noite, a se aquecer no
inverno quanto podem fabricar instrumentos de metal para o trabalho e para a guerra.
Um titã, Prometeu, mais amigo dos homens do que dos deuses, roubou uma centelha de fogo e a trouxe de presente para os
homens. Prometeu foi castigado (amarrado num rochedo para que as aves de rapina, eternamente, devorassem seu fígado)
e os homens também. Qual foi o castigo dos homens?
Os deuses fizeram uma mulher encantadora, Pandora, a quem foi entregue uma caixa que conteria coisas maravilhosas, mas
que nunca deveria ser aberta. Pandora foi enviada aos humanos e, cheia de curiosidade e querendo dar a eles as
maravilhas, abriu a caixa. Dela saíram todas as desgraças, doenças, pestes, guerras e, sobretudo, a morte. Explica-se,
assim, a origem dos males do mundo.
Vemos, portanto, que o mito narra a origem das coisas por meio de lutas, alianças e relações sexuais entre forças
sobrenaturais que governam o mundo e o destino dos homens. Como os mitos sobre a origem do mundo são genealogias,
diz-se que são cosmogonias e theogonias. A theogonia é, portanto, a narrativa da origem dos deuses, a partir de seus pais e
antepassados.