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BN TOLER

BN TOLER
BN TOLER

DISPONIBILIZAÇÃO: EVA
TRADUÇÃO: EQUIPE SWEET CLUB BOOK’S
REVISÃO: INGRID
LEITURA FINAL: L. SOUZA E EVA
FORMATAÇÃO: NIQUEVENEN
BN TOLER

No fundo do poço.
Liam está lá.
Depois de um acidente que o deixa ferido e incapaz de trabalhar, não
demora muito para que ele acabe nas ruas com os seus sonhos em espera.
É isso.
Essa é a vida dele.
Até o dia em que conhece Max Porter – um homem que parece ter tudo.
Eles não se falam, apenas fazem contato visual, no qual Max desdenha Liam,
momentos antes de ocorrer a mudança na vida de ambos na preciosa rua de Nova
Iorque.
Quando Max atravessa a rua sem olhar para os lados, Liam poderia não ter
dado a mínima. Porém, ele arrisca a vida para salvá-lo, apenas para ser deixado
para morrer sem um segundo pensamento.
Liam acorda dias depois e já não é o mesmo...pelo menos ele não está no
seu corpo.
E sim no corpo de Max.
E com o corpo de Liam em um suporte vital, há apenas uma conclusão lógica:
Max está preso no corpo em coma de Liam.
De alguma forma, as mãos torcidas do destino dão a Liam uma segunda
chance para ter tudo. Mas, com todas as vantagens da vida de Max, também vêm
os seus problemas.
Encontrar o equilíbrio em sua nova identidade, mostra-se um desafio mais
uma vez quando Liam cai de amor por Waverly, a linda ex de Max.
Liam poderá viver sua vida como outro homem ou puxará o plugue para
deixar o destino decidir?
Ele perderá suas chances de amor verdadeiro?
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DEDICATÓRIA

A meu irmão, Brett.


Obrigada por sempre ser o melhor irmão mais velho do mundo.
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PROLÓGO

A primeira luz do amanhecer infiltra-se pelo quarto em direção à sua


cama. Ele acaba de fechar os olhos e, se fosse sua escolha, nunca mais os
abriria. Mas ainda há tempo.

Deitado ao seu lado, olho para o teto, e contemplo sobre o que fazer. Este
homem desperdiçou chance após chance, empurrando qualquer oportunidade
de felicidade e amor que cruzasse seu caminho. As pessoas o achavam cruel, e
ele era, pois passou boa parte de sua vida em uma dor intensa, agindo como
um animal enjaulado que atacava, querendo que os outros sofressem também.
Tornou-se uma imitação falante e ambulante da sua dor. Era feio em todas as
maneiras que podia ser, exceto fisicamente.

Eu o conheço mesmo antes dele ser essa alma retorcida, ainda quando
criança com um coração de ouro, que chorava enquanto segurava a mão da
sua mãe morta. O menino que foi esquecido pelo pai, ainda que tivesse sido
criado para ser perfeito. Em sua vida, o que mais amou, o deixou ou esqueceu-
se dele. É um ser humano raro para mim, e não posso desistir, embora saiba
que devo. Há apenas alguns por quem me sinto amarrado e por quem luto; os
outros têm o que merecem. Não é sua vida que desejo salvar, mas sim sua
alma. Só que, desta vez, estou limitado no que posso fazer. Escolhas foram
feitas, e a dele foi morrer. Outra pessoa escolheu dar a vida para salvá-lo.
Ambos merecem minha atenção; um meu favor e o outro, minha ira.

Sei que ele estava com medo. Acredito que nem sabia o porquê; apenas viu
o medo. É por isso que deixou para morrer o homem que o salvou. Todos temos
nossas razões —nossas desculpas. Porém, isso não faz com que tudo esteja
bem. Se não fosse por mim e minha incapacidade de desistir, sua vida teria
sido muito diferente.
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Só porque o entendo, não significa que justifique suas ações e, como uma
mãe que ama seu filho com todo o seu ser e ainda deve fazer o que é difícil, vou
ensiná-lo a ser melhor, punindo-o.

Rolando em sua direção, olho para o seu rosto. Com seu nariz e
mandíbula esculpidos, como se tivessem sido criados pelas próprias mãos de
Deus, é um homem com juventude, beleza e riqueza, porém, miserável.

“Oh, meu querido,” digo sussurrando. “O que vou fazer com você?”

Para uma raça tão avançada, ainda assim, após éons1, me choca como os
seres humanos agem tremendamente limitados quando se trata de expandir
suas mentes, a fim de acreditar no que está além de sua compreensão. Se não
podem ver algo, tocá-lo ou dissecá-lo como um sapo em um laboratório de
Ciências do Ensino Médio, o rotulam com títulos considerados absurdos, como
religião, superstição, milagre ou até mesmo trabalho do diabo. E, aqueles que
se atrevem a deixar suas mentes alcançarem os dedos contra o absurdo, são
rotulados como cultistas, fanáticos ou até mesmo loucos. Há magia neste
mundo que está além de qualquer explicação, e que existe porque uma escala
estabiliza o universo e é o desconhecido que mantém o equilíbrio. A raça
humana precisa de milagres; necessita do impensável para acontecer, porque,
sem ele, a esperança não existe.

E é aí que eu entro.

Porque sou os olhos que observam cada movimento, a boca invisível que
sussurra em seu ouvido, lhe incitando a fazer o que é certo. E sou o melhor
marcador de pontos.

Tenho muitos nomes, mas a maioria me conhece como karma — a cadela.


O que vai, volta. Você colhe o que planta. Você receberá o que merece. As
expressões que descrevem o que entrego são infinitas. E poderia continuar por
dias.

Não há má sorte. Coisas ruins acontecem por causa das escolhas, que são
como balas de borracha, quando saltam e ricocheteiam de pessoa para pessoa,
conectando todos. Um termo mais simples seria causa e efeito. Uma escolha

1 “Éon” é um termo usado em Geologia que define a maior sub-divisão de tempo na escala de
tempo geológico. Sua equivalência em anos é muito discutida, sendo, portanto, uma medida
meramente científica, raramente usada para especificar um período exato de tempo.
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coloca em movimento uma série de eventos que colhem outras escolhas. Sou
um árbitro, um monitor de pessoas e suas ações. Assisto, espero e, de vez em
quando, interfiro. Posso te dar alegria ou dor arrasadora. Encontro prazer
imenso em ambos os lados da moeda — trazer os ímpios para os seus joelhos
ou dar-lhes esperança é igualmente gratificante para mim.

Mas, em casos como este, não encontro alegria.

Sentando-me, beijo meus dedos e os passo levemente pelos seus lábios.

“Vou deixá-lo pensar sobre sua escolha um pouco mais,” falo em um


sussurro. “Talvez, ao ver alguém ter o que é seu, você verá isso de forma
diferente.” Com os olhos fechados, ele não terá paz na escuridão. Assistirá,
impotente, enquanto outro homem — aquele que o salvou — assume sua vida.
E, no final, porque o amo tanto e quero desesperadamente que acorde como
um homem mudado, o deixarei escolher. Sua vida estará ligada a outro
homem, bem como seu destino. Ele escolherá se vivem ou morrem.

Em pé, vou ao banheiro e verifico-me no espelho depois que mudo de


forma. Endireito meu crachá, volto para o quarto e olho para ele uma última
vez:

“Escolha bem, Maxwell.”

Com um estalar dos meus dedos, está feito.


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CAPITULO UM

O 24 de agosto

Quando abro os olhos, percebo que tem alguma coisa errada. Não
reconheço o quarto, mas não é apenas isso. É mais. Como um sentimento
terrível que se enrosca em minha alma; algo sussurra no meu interior: prepare-
se. Há muito mais do que palavras sussurradas e sentimentos terríveis. A
última coisa que lembro é da dor — imensa, debilitante, mas foi-se por agora. E
jamais quero experimentá-la novamente. Porém, há outra coisa, algo a mais.
Não é até que me sento e esfrego o rosto com as mãos, sentindo o
arranhão de uma barba de alguns dias, que começo a notar algo
definitivamente errado. Onde está minha barba cheia? Eu não havia raspado
em anos.
Lentamente, enquanto percorro os olhos pelo meu corpo, percebo novas
realizações: mãos lisas, limpas, coxas musculosas e abdomên tanquinho. Este
não é o meu corpo.
Lanço as cobertas de lado e voo para fora da cama. Meus pés se
encontram com pisos de madeira fria enquanto olho para o quarto luxuoso em
que estou. As paredes são de um cinza escuro e as janelas grandes,
abrangendo toda a extensão do chão ao teto. Tudo parece moderno e de elite;
como nada que eu tivesse escolhido ou gostasse.
“Onde diabos estou?” Murmuro, estranhando o som e segurando minha
garganta com uma mão. Até minha voz está diferente. Meu coração bate em
meus ouvidos quando o pânico me domina. Estou drogado? Isso é apenas um
sonho?
Corro para a primeira porta que vejo, abro-a e encontro um closet cheio de
ternos e sapatos de couro brilhantes. Definitivamente não são minhas roupas,
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pois não consigo me lembrar da última vez em que coloquei um terno. Balanço
a cabeça em descrença quando abro a porta ao lado.
O banheiro.
Com dificuldade para enxergar na escuridão, deslizo a mão para cima e
para baixo na parede, até que finalmente encontro um sensor sofisticado de
alta tecnologia e o banheiro se ilumina. O espelho gigante acima da pia dupla
de granito revela um homem bonito e musculoso, de olhos selvagens e vestido
com boxer de seda vermelha. Ele ainda possui um abdomên tanquinho que a
maioria dos homens mataria para ter. Seu cabelo está desgrenhado, ombros
aprumados e boca aberta. Parece tão assustado quanto eu. Levanto as mãos
para esfregar o rosto novamente, para acordar desse sonho e.... assim faz o
homem no espelho.
“Mas que porr—?” Passo os próximos cinco minutos fazendo movimentos;
saltos, expressões faciais estranhas, gestos de mão — o homem no espelho
imita tudo o que faço. Bato-me várias vezes, mais e mais. Ele continua
imitando todos os meus movimentos, seu rosto ficando tão vermelho quanto o
meu pelas bofetadas.
“Acorde!” Dou um grito, só para escutar a voz que me deixa ainda mais em
pânico. “Este não sou eu,” digo ao homem no espelho. “Não sou você.”
Fico congelado, com os pés plantados no frio azulejo do chão do banheiro,
dividido entre confusão e pânico. O que devo fazer? Estou no corpo de outro
homem. Quem você chama quando uma merda assim acontece? Se ligar para a
polícia, vão me amarrar em uma camisa de força e me mandar para um
hospital psiquiátrico. Isso definitivamente não é uma opção. Tiro do gancho
perto do chuveiro o robe navy terry2 , o coloco e deixo o banheiro rapidamente.
Quando entro no que parece ser a sala de estar, eu congelo. Este lugar é real?
Um dos maiores televisores de tela plana que já vi pendura-se acima de uma
lareira a gás de mármore, o sofá e namoradeira são de couro preto, e as mesas
de café e de canto, de vidro. Tudo parece novo e incrivelmente limpo. A sala
principal é grande, com um enorme espaço aberto. A cozinha é separada por
uma parede, mas a sala de jantar é aberta. Porém, o que realmente se destaca
é a vista. As janelas que vão do chão ao teto oferecem uma vista fantástica da
cidade. Quem é esse cara e como se deu bem assim?
Procuro no apartamento por fotos, contas, qualquer coisa que possa me
dizer a quem este corpo pertence. Na cozinha, descubro uma gaveta de

2 Marca de robe.
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inutilidades, embora essa fosse muito menos bagunçada do que qualquer outra
que já tenha visto. Na casa onde cresci, tínhamos quatro gavetas de coisas
inúteis cheias e o conteúdo variava de ferramentas para retentores a
quinhentos vales expirados para comer no Kentucky Fried Chicken. As únicas
coisas nesta são um jogo de chaves, um isqueiro, um pacote de goma de
mascar e uma foto.
Uma foto dele.
O homem cujo corpo havia roubado de alguma forma.
Minha mão treme enquanto seguro a foto com um sentimento de medo
que me consome. Nela, o homem está ao lado de uma bela mulher, enquanto
seu braço descansa sobre os ombros da moça. Enquanto olha para a câmera
com seu sorriso perfeito, a mulher o observa com um sorriso suave e amoroso
no rosto. Posso dizer que ela o ama. Franzo o cenho e tento afastar a inveja que
sinto. Não lembro da última vez que uma mulher me olhou dessa forma.
“Merda,” respiro, olhando para minha mão esquerda e suspirando com
alívio — sem anel. Ele não parece ter uma esposa. Mas não posso descartar
uma namorada. No mínimo, deve haver uma mulher em sua vida, a julgar por
esta foto.
Assusto-me, quando um som alto soa. É um telefone celular — o seu.
Como um homem louco, tropeço pelo apartamento até que o encontro no
carregador ao lado do sofá.
O nome Waverly ilumina-se na tela.
Olho para o celular como se fosse uma cobra enrolada, pronta para me
atacar. Devo responder? Para de tocar, e solto a respiração que segurava, mas
então volta a tocar de novo: Waverly chamando novamente. Deve ser
importante. E se não responder e ela vier aqui? Não posso arriscar, afinal meu
cérebro está derretendo pelo fato de habitar o corpo de outro homem, sem ter
ideia de quem é. Fecho os olhos e respiro fundo. Deus me ajude, vou
responder.
“Olá,” estremeço. Minha voz é muito profunda, e soa como James Earl
Jones3. Não tive a chance de falar muito desde que acordei neste corpo. A voz
desse cara levará um tempo para me acostumar.
“Uau,” a mulher ri. “Não posso acreditar que realmente atendeu. Eles
estão pedindo neve hoje?”

3 Ator e dublador norte-americano.


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Mal contenho o bufo que quero deixar sair. Quem quer que ela seja, é uma
espertinha. É verão; e definitivamente não estão pedindo neve. Abro a boca
para dizer algo, mas o quê? Não tenho ideia de quem é ou o que quer, ou ainda
quem sou. É por isso que você não deveria ter atendido o telefone, idiota.
Qualquer coisa que eu diga pode indicar a alguém que o conhece bem que algo
está errado; e preciso ter cuidado. Não quero ser arrastado para uma ala
psiquiátrica.
“Ainda está de pé nossa reunião no The Mill às seis da noite?” Continua
ela. Conheço o The Mill. É um sofisticado restaurante central no qual nunca me
dei ao luxo de comer, mesmo em tempos melhores. E ainda, se tivesse
dinheiro, não teria desejado. Um cara como eu não frequenta um lugar como
aquele. Sou mais do tipo que fica em um bar, sentado em um banco próximo à
parede. Bares velhos e em más condições são meu forte, pois sou muito áspero
para um lugar como The Mill. Mas, vendo como não sou exatamente eu agora,
ou pelo menos não fisicamente, suponho que isso não importa mais.
“Uh...” eu nem tenho dinheiro. Como posso encontrá-la para o jantar?
Mas, novamente, como dizer não? Ela sabe quem sou, pelo menos a quem este
corpo pertence, de qualquer maneira. Provavelmente me ajudará a descobrir o
máximo sobre ele. E posso fingir uma dor de garganta, dessa forma tenho uma
razão para não falar muito. Talvez ela se ofereça para pagar. Ou então este
homem tenha uma carteira em algum lugar. Em meu pânico, pensando em
como pagar pela refeição, esqueço de respondê-la.
“Por favor, não cancele de novo, Max,” acrescenta ela. Seu tom é irritado e
derrotado. “Só preciso de dez minutos do seu tempo e então você nunca ouvirá
a meu respeito novamente.”
Uau. Ela não parece a maior fã desse cara. Pelo menos deu-me seu
nome... Max. Conhecer seu primeiro nome não ajuda muito, mas já é um
começo. Apenas um pequeno passo em frente, mas ainda um passo.
“Tudo bem,” tusso e deixo minha voz um pouco rouca. Tenho de fazer uma
dor de garganta crível se vou fingir estar doente no jantar. “Às seis. Temos
reservas?”
Há uma longa pausa antes da sua resposta:
“Sim. E estão sob o nome Torres. Vejo você às seis.” A chamada termina,
e a tela clareia revelando a data.
24 de agosto.
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“Merda,” perco o ar quando olho para a tela pequena. Passaram-se cinco


dias...
É quando recordo de tudo. Os gritos, as sirenes — a dor está de volta,
torcendo meu estômago. Caio no chão e deito de lado, segurando minha
barriga. Fisicamente, não estou ferido, não no corpo deste homem, de qualquer
maneira. Mas a lembrança me deixa sem chão, e mostra que tudo é tão real,
tão intenso, que parece acontecer neste momento.
Estou morto.
Mas não.
Ainda estou vivo.
Mas não exatamente como eu.
E sim como Max.
O homem cuja vida salvei.
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CAPITULO DOIS

O 19 de agosto

Estou sem-teto por noventa e três dias.


Nunca tive muito dinheiro. Viver de cheque de pagamento era meu modo
de vida. Odiava, é claro, mas nunca houve saída. Nova Iorque é caríssima e um
salário de mecânico não é o ideal, mas sempre tive o suficiente e amava meu
trabalho, que valia mais do que qualquer quantia de dinheiro no mundo, e não
estava preocupado, ou então teria pensado. Porque, aprendi da maneira difícil
que a paixão não é igual a estabilidade. Cair de um lance de escadas e quebrar
o braço esquerdo e a mão direita me ensinou isso. Duas cirurgias com meses
de reabilitação e fisioterapia custaram minhas economias e o trabalho. Um
mecânico precisa de seus braços e mãos.
Candidatei-me para outras funções, que variavam dos restaurantes fast-
food a caixas de supermercado. Mas, novamente, exigiam o pleno uso das mãos
e braços, o que não tinha. Meu azar aumentou com as contas acumulando-se
rapidamente e, antes que eu soubesse que meu senhorio estava deixando
avisos de despejo na minha porta, um dia quando cheguei em casa deparei-me
com todos os meus pertences amontoados na frente do meu prédio.
Deixei quase tudo em caixas usadas de mantimentos, na frente do prédio
degradado. Poderia tê-las guardado na casa da minha irmã, mas estava muito
envergonhado para perguntar. Além disso, Helen insistiria para que ficasse
com ela e me recusei a fazer isso. Meu orgulho parecia mais valioso do que
qualquer coisa na época. Eu era um idiota. Fui de um pequeno apartamento
cheio de móveis, roupas e pertences pessoais para nada, exceto as roupas que
usava e uma mochila que poderia carregar.
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Com grande dor, vendi meu bem mais precioso — minha moto Harley
Bobber. Meu melhor amigo, Lenny, comprou-a, prometendo mantê-la até que
eu pudesse comprá-la de volta. Ele me fez um favor enorme comprando-a, pois
não precisava de outra moto, mas sabia o que a Bobber significava para mim.
Tive essa moto por mais de uma década. Não valia muito monetariamente, mas
havia um grande valor sentimental. O dinheiro que Lenny me pagou da venda
me manteve abrigado em um motel barato por um tempo, mas, eventualmente,
esse dinheiro acabou.
Daquele ponto em diante... fui parar nas ruas.
Eu continuava pensando que as coisas não poderiam piorar, que
melhorariam se mantivesse paciência e esperança, mas a vida continuou a
provar que estava errado, quando me deixou nas ruas e me manteve lá. Pode
sempre piorar. Quando a minha mão começou a curar após as cirurgias, e
havia recuperado o uso, mas não o suficiente para o trabalho de mecânica
(levaria tempo para a cura completa), ninguém me contratava para os
trabalhos que me candidatava, porque com mais de uma década em mecânica,
sabiam que não era suscetível de ser um funcionário de longo prazo e acabaria
voltando à função anterior.
Como disse, minha irmã teria deixado eu morar com ela, mas parecia que
quanto mais tempo eu ficava longe da Helen (otimista de que as coisas
melhorariam para mim), mais impossível parecia pedir ajuda. Não suportaria
que visse o quão longe eu tinha caído.
No fundo do poço.
A maioria das pessoas pensa que já esteve ali. Mas eu não estava apenas
no fundo do poço — fiz de lá a minha casa.
“Onde você dormiu ontem à noite?” Pergunta a minha amiga Pearl, uma
senhora de meia-idade que está na rua há três anos.
“Bancada no parque,” digo resmungando, enquanto me sento junto a ela,
ao lado do pequeno restaurante, e deixo minhas costas baterem contra a
parede de tijolos do prédio.
Todas as quartas-feiras nos encontramos no Quick Stop Diner porque
uma das garçonetes, Mary, sempre nos compra um sanduíche para dividir.
Mary é gentil, quando a maioria das pessoas apenas franzem os lábios quando
passam.
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Pearl foi uma das primeiras pessoas sem-teto que conheci. Parei alguns
punks que a estavam intimidando e desde então, ela me trata como um santo.
Via uma porção de vagabundos enquanto eles seguravam seus copos para
mim, implorando por dinheiro, então lhes dava qualquer sobra que pudesse ter
no bolso e me sentia bem com isso, mas nunca conheci um pessoalmente. Que
piada. Se não fosse por Pearl, eu morreria de fome. Todos os dias, ela luta por
comida e sobrevivência, mas escolhe compartilhar comigo. Mary tem lhe
comprado um sanduíche todas as quartas-feiras por um ano. É sua única
refeição garantida a cada semana, e agora Pearl me dá a metade. É engraçado
como, às vezes, as pessoas com o mínimo dão o máximo.
“Você viu Murry?” Pergunta Pearl, erguendo as sobrancelhas com
esperança. Ela é tão doce quanto possível, mas não está totalmente sã. Murry,
pelo que percebi, é um gato invisível que só Pearl vê. Às vezes, ela se senta por
horas com a mão movendo como se estivesse lhe acariciando, mesmo quando
não há nada ali. O elusivo Murry aparentemente fugiu recentemente e Pearl
procura em toda parte.
“Não vi,” digo a ela, fazendo o meu melhor para acompanhar, “mas tenho
certeza de que ele aparecerá em breve.”
A minha situação é lamentável e a má sorte tem me deixado em shitville4.
Tão ruim e sem esperança como me sinto, espero que talvez faça meu caminho
de volta à normalidade algum dia, com um trabalho e um telhado sobre minha
cabeça. Mas Pearl está doente. Os doentes mentais e pobres são realmente
rebaixados. Ninguém quer pagar para cuidar deles e todo mundo os trata pior
do que apenas o vagabundo estereotipado.
“Maldito gato,” Pearl balança a cabeça. “Dou alimento, amo, protejo e é
isso que recebo? Apenas me deixa?” Acaricio sua perna. “Tenho certeza de que
voltará.” Tenho ouvido Pearl falar, dia após dia, sobre seu desaparecido gato
invisível e como costumava viver em uma casa agradável em Jersey. Sempre a
mesma história, uma e outra vez, mas sempre que fala sobre Murry, noto que a
alivia. Então, diariamente, a escuto. Sinto uma profunda obrigação para com
esta mulher, não só porque me alimenta. Minha avó, no final da sua vida,
sofria de Alzheimer. Foi um momento realmente desolador quando assisti uma
das pessoas mais fortes que conheci diminuir diante dos meus olhos. Pearl, de
um modo distante, me lembra dos meus avós, mas ao contrário deles, Pearl
está sozinha. Então, assumi o dever de verificá-la todos os dias e quando me

4 Vila de merda.
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conta a mesma história repetidamente, eu escuto. Antes do Alzheimer ficar


intenso, minha avó uma vez me disse:
“Deus nos deu uma boca que fecha e ouvidos que permanecem abertos
por uma razão.” Às vezes as pessoas não precisam de conselhos ou palavras
amáveis, só de alguém para ouvir. Quando Pearl pendura a cabeça, claramente
preocupada e triste, decido que ouvir não está ajudando muito hoje e mudo de
assunto. “Onde você ficou ontem à noite?”
“Aquele abrigo a poucos quarteirões da Main novamente,” ela me informa.
“Normalmente não gosto daquele lugar, porque não deixam ter animais de
estimação, mas com Murry faltando, não foi um problema.”
Eu fiquei em um abrigo uma noite, e jurei, mesmo que estivesse fazendo
um frio ártico, que não faria isso novamente. O lugar estava cheio até a borda e
duas pessoas tentaram pegar minha mochila enquanto estava dormindo. Mas
para alguém como Pearl, estava grato por lugares como esse.
“Você precisa de um banho, Liam,” diz, enquanto arranha o nariz. “Você
cheira a algo podre.” Uma coisa sobre Pearl é que ela é livre de filtro e
brutalmente honesta. Se você cheira a merda, ela lhe fala. Se é um idiota,
também lhe diz isso.
Depois de levantar o braço e tomar um sopro da minha axila, estremeço
antes de deixar escapar um suspiro derrotado. Ela está certa. Estou fedendo.
Quando foi a última vez que tomei um banho? Três dias atrás? E mesmo
assim, não em um chuveiro, e sim em um restaurante de fast food, onde
utilizei o sabão de mão no banheiro para lavar sob meus braços e minha região
inferior. Melhor do que nada, supus.
Antes que possa responder, Pearl se levanta e aponta:
“Lá está ela.”
Mary, a garçonete amável, apressa-se em nossa direção em seus tênis
brancos e entrega-me a bolsa de papel.
“Querida, você parece mais magra. Está trabalhando tanto para ficar
apenas pele e ossos?” Pergunta Pearl, enquanto observa a Mary mais uma vez.
Mary sorri timidamente, suas bochechas cobertas com a menor sombra de
rosa. Aparentemente, ela é tímida. Seu cabelo loiro está amarrado em um
elegante rabo de cavalo e seus lábios luminosos como se acabasse de aplicar
brilho.
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“Não mais do que o normal.” Nunca realmente havia olhado para Mary,
não mais do que para encontrar seus olhos brevemente e dizer obrigado. Na
maioria dos dias, tento não olhar nos olhos das pessoas esperando que, se fizer
assim, talvez não me notem. Quero que a vergonha se iguale à invisibilidade.
“Você viu Murry, Mary?” Pergunta Pearl com um tom de esperança. “Ele é
meu gato, todo preto e tem grandes olhos amarelos.”
Mary olha para mim e temos um momento de compreensão mútua, pois
ela também sabe que Pearl não está bem, e depois sacode a cabeça. “Sinto
muito, Pearl,” ela se desculpa. “Não o vi. Mas vou perguntar por aí e manterei
os olhos abertos.”
“Deus te abençoe, querida,” murmura Pearl. “Só espero que ele esteja
bem, pois nunca esteve nas ruas sozinho.”
“Vai ser muito quente hoje, então coloquei duas garrafas de água para
vocês.” Segurando a mão para bloquear o sol de seus olhos, Mary acrescenta:
“Tentem ficar na sombra, se puderem.”
Eu sorrio, sentado na calçada ao lado de Pearl e fico envergonhado,
quando percebo como inútil e patético devo ter parecido para ela. “Obrigado,
Mary. Juro que te pagarei um dia,” prometo em todas as quartas-feiras desde a
primeira vez que Pearl me trouxe, e esta é uma promessa que pretendo manter.
Algum dia, de alguma forma, pagarei a essa mulher.
E todas as quartas-feiras ela olha para mim, sua boca curvada um pouco
como se estivesse sorrindo e franzindo a testa ao mesmo tempo e diz: “Você não
me deve nada. Nos vemos semana que vem.”
“Obrigada, Mary,” Pearl agradece, com o sanduíche próximo à sua boca
quando Mary se afasta. Pearl já abriu a bolsa e teve sua metade.
Assistimos Mary correr e virar à esquina. Ela trabalha o dia inteiro e
mesmo assim, arruma tempo e usa o próprio dinheiro para nos trazer um
sanduíche. Meu estômago resmunga enquanto olho dentro do saco, desejando
que não estivesse tão desesperado para comer este sanduíche. É difícil
descrever a sensação de ser imensamente grato e tremendamente
envergonhado ao mesmo tempo — é realmente humilhante.
Quando dou uma mordida grande no meu sanduíche, olho para Pearl, que
acaba o dela neste momento.
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Quando nos conhecemos, fazia dois dias que eu não comia. Estava muito
orgulhoso para pedir comida, e naquela época, preferia ter fome. Mas Pearl não
estava bem com isso.
O estrondo de um motor chama nossa atenção.
Com o semáforo no sinal vermelho, um homem para, sentado em uma
motocicleta. A Road King que ele dirige é fodona, com uma roda com raio de 66
centímetro 5 . Posso dizer que o homem colocou alguma dedicação nesta
máquina, uma vez que o tanque de combustível está esticado, e tem um
trabalho de pintura personalizado, bem como, foram adicionados guidão barra
de arrasto, capas laterais e sacos de sela. Meu peito aperta enquanto observo, e
sinto uma pontada de ciúme com o pensamento de que nunca terei uma
motocicleta novamente, nem mesmo para montar.
“Com certeza é uma moto bonita,” Pearl nota e solta uma risada rouca.
Franzo o cenho, me perguntando se ela tem um resfriado. É verão, então
provavelmente não são alergias, mas não tenho a chance de questioná-la,
porque ela acrescenta: “Você olha para as motocicletas como a maioria dos
homens olha para as mulheres,” bufo uma risada com suas palavras, pois
Pearl está certa.
“Já trabalhei nessas,” falo, antes da minha última mordida no sanduíche.
Quando termino de mastigar, acrescento: “Elas são fodonas, não me importaria
de ter uma.”
“E você terá. Algum dia, Liam, conseguirá tudo que você sempre quis. Um
cara como você não fica nessas ruas por muito tempo.”
Aprecio suas palavras de encorajamento, mas com a Road King afastando-
se, temo que toda a minha esperança se foi com ela. Nunca me considerei um
homem que precisasse de muita coisa e jamais sonhei com grande riqueza,
embora almejasse dinheiro suficiente para me sustentar, bem como, que
encontrasse uma mulher para me acostumar e começar uma família.
Um cara como eu, Pearl falou. Mas o que eu sou? Não sou nada.
“Quero acreditar nisso,” digo murmurando.
“Você verá, Liam,” murmura ela, “você verá.”

5 Tomei a liberdade de transformar 26 polegadas (do original) em centímetros, que dá


aproximadamente 66 cm.
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Depois de tirar as migalhas do sanduíche das minhas roupas, coloco a


mão no bolso e encontro a nota amassada de vinte dólares que estive
guardando. Pego a mão de Pearl, e a pressiono na sua palma.
“Não é muito, mas alguém deixou isso, enquanto dormia na noite
passada.”
Pearl me olha, aparentemente procurando meu rosto. “Este é todo o
dinheiro que você tem, Liam,” ela diz suavemente.
“Eu tenho mais,” minto, “não se preocupe comigo.”
Seu olhar estreito diz que é besteira. Isso é uma besteira e ela não é boba.
“Não ficarei com isso,” Pearl insiste e se move para devolvê-lo, mas eu
salto e pego minha mochila antes que me alcance.
“Não. É seu,” eu insisto.
Balançando a cabeça, ela me lança um olhar como quem diz: “Obrigada,
mas você não tinha que fazer isso.”
Então seu olhar vai para algo atrás de mim, e brilham como de
familiaridade, mas rapidamente se transforma em outra coisa. “Olhe para isso,”
Pearl aponta, seus olhos se alargam em apreciação. Sigo sua linha de visão e
encontro um homem alto, vestido em um terno sob medida, de pé na esquina
do café, falando no telefone celular e com a mão livre no bolso da calça. Não é
como se não tivéssemos visto uma centena deles todos os dias, mas este
homem se destaca. Porque é bonito para um cara aparentemente rico, e parece
que não tem preocupação alguma, pela forma como ri de algo que a pessoa na
outra extremidade da linha diz.
Observando-o, não posso deixar de me comparar. Nunca fui do tipo que
usa terno e, na maioria dos dias, minhas mãos e unhas estavam manchadas,
sujas de graxa. Meu corpo é coberto de tatuagens e, pelo que posso dizer, esse
cara não tem tinta. Ele é um cara grande, mas fisicamente eu sou maior. Pelo
menos, costumava ser, antes que minha vida fosse para essa situação ruim. As
ruas roubaram mais do que minha esperança, e levaram meus quilos de carne.
Em dias melhores, fui amplo e musculoso, assim como ele. Não o desperdício
de pele e ossos em que me encontro agora.
“Aposto que ele tem tudo,” Pearl fala.
BN TOLER

Concordo, no momento em que o homem se vira e nos pega observando-o.


Não consigo ver seus olhos por trás dos óculos de sol aviador, mas a forma
como nos olha com ar desdenhoso, e os lábios curvados, diz tudo.
Causamos nojo a ele.
“Idiota,” murmuro, enquanto ele começa a ir embora.
“Idiota total,” Pearl ri. A forma como as pessoas nos olham com desgosto,
não incomodam Pearl. Ela acostumou-se, depois de anos na rua. Já eu, tenho
mais dificuldade para ignorá-las, pois se querem passar por mim, como um
vagabundo sem valor, e fingir que não me notam, tudo bem. Mas, me olhar
como se eu fosse merda debaixo do sapato... isso é difícil de engolir.
Sacudindo a cabeça, suspiro e digo:
“O que eu daria para ter tudo.” Com um pequeno aceno, me despeço, e
vou para a esquina da rua onde o cara que ‘tem tudo’ espera para atravessar
enquanto coloca seu telefone de volta no bolso. Ele deve ter sentido eu me
aproximar, porque vira a cabeça e zomba novamente. Aparentemente, estar
perto de uma pessoa sem-teto é demais, porque o idiota, na pressa de se
afastar tanto quanto possível, nem sequer olha para os lados antes de
atravessar a rua. E tudo acontece rápido; o ônibus vindo em sua direção, a
buzina soando. Não penso, apenas reajo e pulo atrás dele, empurrando-o para
fora do caminho.
Depois disso, tudo o que lembro é do barulho dos freios, da sensação do
meu corpo batendo no chão, gritos, sirenes e uma dor implacável e insana.
Estou morrendo, penso, com o som da lenta batida cardíaca em meus
ouvidos. O pensamento não é tão aterrorizante, dadas as circunstâncias
atuais. Pois sou um vagabundo desabrigado com nada, exceto minha irmã e
sobrinho, David. Não tenho falado com eles em meses, uma vez que a vergonha
que sinto sobre a minha situação me impede de contatá-los. Mas enquanto
estou deitado no concreto quente, lutando para ficar acordado e com o sol de
verão brilhando em mim, as imagens dos dois passam incessantemente por
minha mente. Helen terá que identificar meu corpo. Odeio esse pensamento. E
também sei que ela estará igualmente irritada por ter escondido minha
situação, bem como, devastada com a minha morte.
No curto espaço de tempo antes de fechar os olhos, percebo que durante
meses tenho odiado minha vida e as circunstâncias. Estar desabrigado e com
fome é um inferno, mas, eu acreditava, mesmo no desespero em que me
encontrava, que as coisas iriam melhorar — um dia. Agora, tenho medo de
BN TOLER

nunca saber. Não quero morrer, mas minhas pálpebras estão mais pesadas e
respirar está cada vez mais difícil, temo que seja tarde demais. Quero orar,
implorar a Deus, mas como pedir a Ele para me poupar, quando tenho tantos
outros pedidos para serem concedidos?
Pouco antes do meu último suspiro de vida, assisto o idiota que ‘tem tudo’
se levantar e limpar o terno, olhando-me enquanto sangro na rua. Penso que
virá em meu auxílio; que correrá para o meu lado, como qualquer ser humano
decente em seu lugar. Inferno, mesmo que ele tirasse aquele telefone do bolso e
chamasse a polícia, já ajudaria. Mas não. Quando nossos olhares se
encontram, não vejo remorso em seu olhar intenso, e sim medo. Olhando para
baixo, ele vê minha mochila a poucos metros de distância, que deve ter voado
para longe do meu ombro durante o impacto. O homem olha por um momento
antes de agarrá-la. Então gira e corre para longe. Acabo de salvar a sua vida, e
isso é tudo que ganho? Minha mochila roubada e um rápido olhar antes dele
fugir de lá?
Aparentemente, aquele idiota é Max.
Agora, estou no corpo de Max.
E sou o idiota.
BN TOLER

CAPITULO TRÊS

Ando pelo apartamento de Max por horas, sem saber o que fazer, pois
morri e assumi seu corpo de alguma forma. Enquanto procuro através das
suas coisas, minha mente está cheia de pensamentos sombrios. Pergunto-me
como minha irmã recebeu a notícia. Será está bem? Eles fizeram meu funeral?
O pensamento é surreal. Em algum lugar lá fora meu corpo possivelmente já
está apodrecendo em um caixão, mas aqui estou no corpo perfeitamente
saudável de Max. O que me enfurece, quando lembro da sua fuga, deixando-me
como se eu não fosse nada.
Balanço a cabeça, e digo a mim mesmo para permanecer calmo. Ficar com
raiva não vai ajudar em nada. De uma forma ou de outra, tenho que encontrar
esta mulher, Waverly, mesmo que ela não pareça animada em ver Max.
Continuo a procurar através das gavetas, lendo as correspondências
(principalmente contas de serviço público), inspecionando chaves, buscando
pistas sobre de onde elas podem ser. Há um laptop em sua mesa protegido por
senha, então não posso acessá-lo, mas encontrei sua carteira ali ao lado. Um
armário de arquivo no escritório tem algumas informações sobre sua vida. Max
é insanamente rico, o que é bastante óbvio a julgar pelo apartamento
gigantesco em Nova Iorque e roupas extravagantes. Examinando alguns
históricos bancários, descubro que ele tem milhões. Mesmo analisando toda a
papelada, não encontro qualquer coisa que me diga onde ele trabalha ou se
mesmo tem um emprego. Talvez esse homem seja apenas rico.
“Deve ser legal,” murmuro para mim mesmo.
Além da riqueza, não descubro muito mais, mas agora sei que estou no
corpo de Maximus Greyson Porter III, e que ele tem fetiche por pornô asiático, a
julgar pelas informações em seus extratos bancários.
BN TOLER

Um bloco de notas está na mesa próxima à cama, ao lado de uma garrafa


vazia de uísque e um copo alto com apenas um gole restando. Pego o bloco de
notas para verificá-lo, mas todas as páginas estão em branco. Quando abro a
gaveta do criado-mudo, encontro um frasco vazio de analgésicos. Gostaria de
saber se ele tomou estes para algum tipo de dor ou lesão, ou talvez recreação.
A data de preenchimento é de pouco mais de uma semana, antes de salvar sua
vida, e a garrafa já se encontra vazia.
“Por favor, não me diga que você é um viciado,” murmuro para mim
mesmo. Isso é tudo o que preciso agora. O pensamento me faz parar e inalar
uma forte respiração.
“Mantenha-se calmo, Liam,” digo a mim mesmo. “Perder a cabeça não
ajudará.” A cada momento que passa, sinto mais e mais pânico. Estou no
corpo desse homem, sem ideia de quem ele realmente é. Não sei se tem família
ou problemas médicos. Será um viciado em drogas? Mas a maior pergunta, a
que realmente está me comendo vivo, é por que no inferno isso está
acontecendo?
Coloco a garrafa de lado, abro a gaveta ainda mais, encontrando
preservativos, uma máscara de dormir de seda preta e algumas notas dobradas
em um clipe.
“Seis mil dólares?” Fico boquiaberto após uma contagem rápida. Quem
diabos mantém esse dinheiro em uma gaveta? Olhando as notas, me pergunto
se devo pegá-las. É roubo, mesmo eu sendo Max, pelo menos no sentido físico?
Quero dizer, não é como se estivesse roubando seu corpo. Na verdade, sou a
única razão pela qual ele ainda existe e não está em um necrotério ou em outro
lugar. Decido pegar um pouco do dinheiro. Não vou gastar muito, mas penso
que Max me deve algumas bebidas, no mínimo. E, pelo menos, poderei pagar o
jantar com Waverly, caso precise.
Quando dá quatro horas, decido me preparar para o jantar com Waverly.
O The Mill é de classe alta, mas estando no corpo de Max ou não, os ternos
apenas não são minha coisa, a menos que fosse para um casamento ou
funeral. Felizmente, depois de procurar um pouco através de ternos e jeans
deslumbrantes (são caras realmente que vestem esta merda?), encontro um par
semi-normal de jeans e camisa preta que se encaixam bem. Examino-me no
espelho e aceno com a cabeça. Me vestir mais como eu, faz desta situação
inacreditável, um pouco mais tolerável.
BN TOLER

Esfrego o pouco de barba em meu rosto e momentaneamente me pergunto


se devo me barbear, mas decido que não. Tenho o bastante para me preocupar,
uma barba de poucos dias é a menor das minhas preocupações. Suponho que
Max vai entender, onde quer que ele esteja.
Quando saio do elevador para entrar no saguão, piso timidamente no chão
de mármore polido, e olho ao redor. Este lugar é incrível. Estou vestindo uma
merda de marca muito cara de camisa e calça jeans, porque Max não parece o
tipo de homem que compra roupas em lugares onde eu faria. Mesmo em suas
roupas casuais sofisticadas, me sinto como White-tras6, conforme ando através
do lobby. As pessoas, os vizinhos de Max, presumo, me olham como se eu fosse
uma mosca no leite, como se não pertencesse a este lugar. Momentaneamente
repenso sobre a decisão de me vestir. É por isso que estão olhando? Porque
nunca viram Max em roupas normais? Ou estou imaginando isso, porque sinto
que o fato de habitar o corpo de Max é visível a todos? Me sinto como na
metáfora do polegar dolorido 7 . Sacudo a cabeça e sorrio para mim mesmo,
imaginando os olhares críticos que me lançariam se me vissem há menos de
uma semana, no meu próprio corpo, sujo e vestido com roupas de rua sujas.
“Como está hoje, Sr. Porter?” Um homem de cabelos grisalhos curtos tira o
chapéu e curva-se ligeiramente, como se eu fosse da realeza. Ele é de verdade?
Já vi porteiros antes, principalmente quando passei por belos edifícios onde
eles abriam portas de carros para os moradores, mas nunca tinha falado com
um. Todos se curvavam?
“Hum... estou bem,” faço uma pausa e olho para o nome brilhante no seu
crachá de metal, em seu uniforme, “Braxton.” Então volto meu olhar para ele.
“Seu nome é realmente Braxton?” Braxton, o porteiro? Parece algo tirado de
um filme. Ele ri nervosamente, seus olhos preenchidos em confusão. “Nome
dado no nascimento, senhor.” Quase bato na minha testa quando percebo o
que perguntei. Max saberia, certo? Ou talvez os ricos não se importam com o
nome do porteiro. Porra, isso é frustrante. Devo ter soado como se estivesse
insultando-o, e rapidamente adiciono. “Bom nome,” encolho-me internamente.
Pareço um idiota. Que cara dá uma merda sobre isso? Fique calmo, Liam, me
lembro. Tenho que aprender a ser mais observador. Caso contrário, parecerá
que Max está ficando louco.

6 É um termo depreciativo originário dos Estados Unidos, para pessoas brancas de baixa
camada social, como operário, camponês, lavrador, entre outros.

7Quando o polegar está machucado, fica inchado e acaba se destacando, ficando diferente dos
demais dedos.
BN TOLER

“Você está bem, senhor?” Ele pergunta em um tom abafado. “Você parece
diferente.”
Minha cabeça recua um pouco para trás. “Diferente?” Merda. Então não é
coisa da minha cabeça. Realmente estou me destacando como um polegar
dolorido. Imagino que pareça como um humanoide de argila, estranho,
enquanto ando por aí com o corpo de Max.
Acariciando meu braço, ele sorri e diz:
“Você ficará bem, senhor. Talvez, só precise de um pouco de ar fresco.”
“Sim, acho que vou dar uma volta, Braxton,” falo, um pouco atrapalhado.
“Obrigado.”
Braxton me olha por um momento, tentando não sorrir, antes que acene
uma vez e responda:
“Muito bem, senhor. Tenha uma tarde agradável.” Ele corre para trás da
mesa e atende um telefone tocando. Enquanto saio para a tarde quente de
Nova Iorque, me pergunto se é assim que Max age com todos que se
aproximam, será que podem dizer que sou uma fraude?
"Espero que não," murmuro para mim mesmo.
BN TOLER

CAPITULO QUATRO

Assim que seus olhos encontram os meus, posso dizer que tem algo
errado. Seja pelo seu sorriso nervoso ou o fato de enxugar as mãos nos jeans
como se as palmas estivessem suadas, se essas coisas não fossem suficientes
para me avisar, a maneira como está vestido certamente faz. Camisa preta
alinhada e jeans perfeitos, mas não seu terno habitual ou designer da moda? A
roupa casual combina muito bem com o pouco de barba em seu rosto, algo que
também está diferente. Ele parece... bem. Quer dizer, Max é um homem bonito,
sem dúvidas, mas uma vez que você o conhece, seus atributos físicos são
rapidamente manchados pelo caráter egoísta. Infelizmente, eu era jovem e tola
quando o conheci e me apaixonei. Acreditava que poderia mudá-lo. O que
aconteceu foi que desperdicei parte da minha vida com um homem que nunca
amaria mais ninguém além de si mesmo.
Respiro fundo e me preparo. “Tudo o que você precisa é da assinatura de
Max,” murmuro silenciosamente para ninguém. Quando me aproximo da mesa,
ele se levanta rapidamente e derruba sua cadeira. Balançando um braço para
trás, a pega antes que caia e a endireita, dando-me um sorriso embaraçado.
Olho para ele sem entender.
“Max,” digo, dando-lhe um curto aceno de cabeça.
“Waverly.” Quando Max diz meu nome, parece estranho, como se estivesse
mais questionando do que afirmando isso. Nos olhamos por um momento
antes que ele arregale os olhos e suspire alto um tanto estranho. “Você está...”
há uma pausa e um aceno com a mão para cima e para baixo em meu corpo
antes que feche os olhos e resmungue, “Legal?” Mais uma vez, isso parece
uma pergunta. E outra vez, o observo sem entender. Legal? Estou bem. Fala
BN TOLER

sério, não posso dizer se está sendo gentil ou... nervoso? Mas por que isso?
Uma vez que me ignorou e deixou claro que não queria nada comigo em anos,
então por que se preocupar em ser bom agora?
Estreitando os olhos e apertando os lábios, me impeço de dizer alguma
merda. Ser sarcástica é um ponto forte em mim; uma espada de dois gumes,
pois é útil em momentos de discórdia com os outros, mas também me faz dizer
coisas das quais lamentaria mais tarde. Aprendi a controlar essa característica
com o tempo, sabendo que para isso há momento e lugar. Além disso, recuso-
me a descer para o nível de Max, que é o tipo de homem que pode facilmente te
pegar em um argumento inútil. Ele sabe como pressionar os botões das
pessoas. Passei muito tempo escolhendo a roupa certa e fazendo minha
maquiagem e cabelo para encontrá-lo hoje à noite, resultando no clássico estou
incrível, mas não parece que trabalhei muito duro para parecer assim. Tentar
ficar bem antes de vê-lo foi um ponto baixo para mim, porque ele não merece,
mas na última vez em que nos encontramos, eu parecia um acidente de trem,
então, senti a necessidade de apagar essa imagem da sua cabeça, tanto quanto
possível. Pergunto-me se pôde ver o meu esforço. Você está legal? Ele
provavelmente pensa que foi engraçado, elogiando-me. Idiota.
“Permita-me,” movendo-se em torno de mim, ele puxa a minha cadeira e
espera para me sentar.
É um gesto gentil e cavalheiresco. Max está brincando comigo. Fique
calma, Waverly, digo a mim mesma. Basta obter sua assinatura e nunca terá de
vê-lo novamente. Mal contenho o rolar de olhos que tanto quero fazer, sento-me
e espero até que se sente novamente.
“Merlot,” digo ao garçom, quando se aproxima.
“Quer mais uísque, senhor?” Pergunta a Max.
“Sim,” Max geme praticamente, quase como se estivesse desesperado por
um. “Continue trazendo.”
Cerro os dentes, mas mantenho a calma. Estou sendo tão estressante
para ele? Não o incomodei em quase dois anos, exceto para organizar esta
reunião. Quando o garçom se afasta, dou a Max um olhar de lado:
“Desde quando você bebe uísque?” Olá, sarcasmo, meu velho amigo.
Quase mordo a língua para me impedir de perguntar, mas as palavras saem da
minha boca antes que tenha a chance de detê-las. Não quero lhe fazer
questionamentos pessoais. Não preciso saber nada sobre ele. Agora que
perguntei, parece que me importo, o que está longe de ser verdade.
BN TOLER

Seu olhar desloca-se para baixo como se não soubesse como responder,
sua mão segura o copo no alto. Limpando a garganta, encolhe os ombros
ligeiramente e sibila, “Estou experimentando,” antes de tomar o último gole,
“minha garganta está um pouco dolorida. Uísque ajuda.” É tão ridículo que
quero rir. Sua voz estava completamente normal momentos antes, mas agora
ele está rouco e com dor de garganta?
Recuso-me a comentar mais sobre isso. Já pedi mais do que deveria. Se
ele sente a necessidade de fingir uma dor de garganta, por que me importo?
Puxo minha bolsa grande em meu colo e tiro a pasta que contém os papéis que
preciso que assine.
“Não vou tirar mais do que o necessário do seu precioso tempo, Max. Uma
vez que você assinar esses papéis, nunca mais ouvirá de mim ou de nós
novamente.”
Seus olhos azuis se erguem e encontram os meus. “Nós?” Pergunta.
Quero chegar do outro lado da mesa e golpeá-lo no rosto com a pasta, às
vezes o meu sarcasmo parece físico.
“Pimberly e eu,” esclareço.
Seu olhar nunca deixa o meu e minha raiva diminui por um momento,
enquanto seus traços faciais se contorcem para algo como um choque.
“Pimberly?” Perguntou.
Agora sei que está brincando comigo. Por que ele sempre age como um
idiota?
“Sim, Max,” respondo, minhas palavras cortadas. “Nossa filha. Pimberly.
Lembra? A garotinha que você não quis?”
BN TOLER

CAPITULO CINCO

Ah, Merda. Max tem uma filha.


Olho para ela aturdido, com minha boca aberta, enquanto tento digerir o
que acaba de atirar sobre mim. Max é pai. Como se essa situação não pudesse
ficar pior, agora isso. Daria qualquer coisa para trocar de lugar com ele, então.
Esse cara tem uma filha e estou em seu corpo. Isso é tão confuso que nem sei
como processar essa informação.
“Só preciso da sua assinatura,” continua Waverly, depois de fechar os
olhos como se estivesse frustrada e usando cada pedaço da sua força para
manter a compostura, “apenas assine-os e estaremos terminados.”
Enquanto desliza a papelada em minha direção, o garçom coloca nossas
bebidas na mesa. Silenciosamente, sem saber o que fazer ou dizer, olho a pasta
e a abro. À primeira vista, meus olhos se concentram em uma linha, entre a
enorme quantidade de verborragia.
Cessação Voluntária dos Direitos Parentais
Meu coração congela no peito quando leio. Ela quer que Max assine os
direitos de sua filha? Ela está falando sério? Que tipo de idiota pateta apenas
desiste do seu filho?
“Devo trazer o menu?” O garçom pergunta.
“Não vamos comer,” informa Waverly. “Na verdade, queremos a conta, por
favor.” Quando olho para cima, ela está entregando-lhe seu cartão de crédito.
Cara, essa mulher não perde tempo. Este é um grande movimento; um wham-
BN TOLER

bam-obrigado-senhor8. Max, onde quer que o bastardo esteja, não teve chance
e também não tive. Desde o momento em que ela entrou, sinto como se
estivesse sem ar. Assim que a vi, reconheci imediatamente como a mulher da
foto que encontrei na gaveta de inutilidades no apartamento de Max; aquela em
que Waverly sorri para ele enquanto Max sorri para a câmera. Parece uma
mulher inteligente, bonita, curvilínea e pequena. Seu cabelo loiro está
amarrado em um rabo de cavalo e, embora esteja em um elegante vestido de
negócios, sua composição tem algo diferente. Sua maquiagem não é pesada ou
ruim, apenas deu-lhe um olhar de garota pin-up 9 , quente como o inferno.
Deixe-me apenas esclarecer, não é fácil encontrar uma mulher atraente
enquanto se está no corpo de outro homem; o efeito é semelhante ao que teria
experimentado no meu, porém, não é natural porque estou no de Max.
Pergunto-me momentaneamente se essa atração é exclusivamente minha ou se
vem dele. Talvez, de alguma forma eu esteja mais atraído porque estou em seu
corpo. Pelo menos, Max deve ter sido atraído em algum momento.
“Posso pagar,” a interrompo, e procuro no bolso o dinheiro que peguei da
gaveta de Max, mas paro, pois não quero terminar a noite ainda. Para começar,
necessito de mais tempo para descobrir isso. Porém, preciso de muito mais
uísque. “A conta vai esperar,” informo ao garçom, arrancando o cartão da sua
mão e deslizando-o de volta para ela. “Temos muito para discutir.” Ele se afasta
enquanto Waverly olha para mim. A julgar pela rapidez com que seus olhos
castanhos se tornam assassinos, posso dizer que não gosta da minha decisão,
mas necessito de tempo. Talvez, Max não queira isso, certo? E se assino e ele
perde todas as chances de ver sua filha, e é tudo culpa minha? Enquanto
contemplo a enorme decisão que devo tomar, não percebo o quão furiosa
Waverly está.
“Seu saco de merda mentiroso!” Ela grita. Uau. Waverly tem uma pequena
boca perversa. Fico boquiaberto com suas palavras. Minha reação não a
perturba porque ela continua. “Você disse que assinaria. Esses papéis são o
que você queria.”
Meu estômago cai.
Max disse que assinaria?
Merda.

8 O ato de ter sexo sem sequer se preocupar em tentar obter a mulher para o orgasmo.
Geralmente dura cerca de cinco segundos. No caso, alusão ao fato de que ela pagou a conta,
sem nada em troca.
9 Entre a sensualidade e a inocência.
BN TOLER

Estou arruinando isso.


Ou melhor, Max arruinou, e eu sofro as consequências.
Max ia desistir da filha? Como um homem de verdade pode fazer isso?
Talvez Max fosse realmente um idiota incompetente. Quer dizer, ele me deixou
morrrer depois que salvei sua vida. Isso praticamente grita idiota
incompetente. Depois de ver isso com meus próprios olhos, é realmente tão
estranho pensar que ele assinaria a cessação dos direitos sobre sua filha?
“Só...” O que diabos posso dizer? Talvez Max os tivesse assinado se ele
estivesse aqui. E uma grande parte de mim diz para fazer o meu melhor e
cumprir os seus desejos, já que este é seu corpo e tudo mais, mas a outra
parte... aquela que sabe que estou no corpo de Max, diz que eu ainda sou eu. E
essa parte não tem certeza se cumpre os seus desejos. Não posso ser o homem
que desiste dos direitos de uma criança; que deixa uma menina passar pela
vida perguntando-se por que seu pai não a quis e a abandonou. Não importa
que ela não seja minha. Não sou um idiota incompetente.
“Quero algum tempo para ler os papéis. Posso ter alguns dias?” Consigo
dizer, depois de um tempo.
Pegando o copo de vinho, ela engole todo o conteúdo de uma vez.
Inclinando-se para a frente, aperta a bolsa no peito. “Você nunca a quis,” ela
diz. “E deixou isso muito claro. Entrarei em contato.” Com isso, Waverly
levanta, passa o braço pela alça da bolsa e sai.
Sento-me novamente, com a mão no copo de uísque enquanto a observo
chamar um táxi, pela janela da frente. Com o braço esquerdo no ar, olha o
trânsito e quase salta quando um homem baixo bate no seu ombro. Suas
roupas estão sujas e cheias de buracos, e sobre seus longos cabelos
gordurosos, usa um gorro puxado para baixo. Ele diz algo que a faz sorrir,
tentando esconder sua frustração, enquanto abre a bolsa e tira algumas notas
de dólares, entregando-as ao homem, que curva a cabeça em agradecimento,
Waverly acena, antes que ele corra para longe.
Quando um táxi para, ela entra e então se afasta. Não acho que me mexi
por uns cinco minutos depois disso, pois continuo a olhar para fora da janela,
perguntando-me o que diabos eu fiz para merecer isso.
BN TOLER

CAPITULO SEIS

“Aquele filho da puta!” Meu irmão Matt berra de onde se encontra, sentado
à mesa da cozinha.
“Matty,” sibilo, repreendendo-o. “Olha a língua.”
“Oh, Jesus, Pim está dormindo há horas,” diz, antes de tomar um longo
gole de cerveja. Ele não está feliz com a notícia e não posso culpá-lo. Seu cenho
está franzido e sua boca torcida para um lado, com a famosa expressão de
‘Estou chateado’. Nosso maior medo todo esse tempo era que Max acordasse
um dia e mudasse de ideia sobre estar na vida de Pim e quisesse ser um pai.
Mas pior do que isso era: o que seria de Pim se algo me acontecesse? Max teria
os primeiros direitos sobre ela e isso aterroriza a Matt e a mim.
Tiro meus sapatos, um de cada vez enquanto me sento em frente ao meu
irmão e os jogo na pilha de calçados ao lado da porta dos fundos. Eles batem
contra a parede antes de aterrissarem nos pares de Nike gigantes e botas de
trabalho de Matt, e nos sapatos de tamanho infantil, com tema da Disney, de
Pim.
“De qualquer maneira, por que diabos você usou esses sapatos para se
encontrar com aquele babaca?”
Eu reviro os olhos. Não porque sua pergunta me incomode ou que ele
esteja sendo ridículo, mas porque eu sou ridícula. Por que usei saltos para me
encontrar com Max?
“Foi estúpido,” admito. “Acho que eu só queria ficar bem, sabe? Fazê-lo
sofrer...se isso fosse possível.”
BN TOLER

Um lado da sua boca se curva para cima, mas ele luta contra o sorriso.
Quando Matt está zangado, quer parecer dessa forma.
“Você parece a assistente social mais bem-sucedida de Nova Iorque,” ele
brinca. Matt nunca foi fã da minha escolha de carreira, mas sempre me apoiou.
Meu irmão é o melhor; só quer que eu seja feliz. E no fundo ele sabe que o meu
desejo de ajudar os outros vem da nossa infância, de um tempo em que a
nossa mãe nos abandonou, nos deixando com o nosso pai que, da forma como
tentou, nunca conseguiu arcar com todas as despesas. Houve momentos em
que não tínhamos calor ou sapatos que se encaixassem. Quero ajudar boas
pessoas que não querem apenas um folheto, mas que precisam de uma mão
para ajudá-las a se erguer. Sou o Ronald Reagan dos dias atuais.
Sorrio, mesmo que Matt esteja me provocando. Devia estar louca quando
pensei que serviço social era uma grande carreira, porém, mais um ano de
faculdade e estarei com meu diploma. Posso nunca ser bem-sucedida
financeiramente, mas serei realizada como ser humano e isso significa muito
para mim.
Provavelmente preocupado que tivesse ferido meus sentimentos quando
não lhe respondi, Matt rapidamente acrescenta:
“Você foi a melhor coisa que aconteceu com aquele idiota.”
Bufo e dou um sorriso. Meu irmão achava isso de cada namorado que tive.
Crescendo, nosso pai tinha dois empregos que o mantinham longe de casa por
muito tempo. Logo, com dois pais ausentes, Matt assumiu a responsabilidade
de cuidar de mim e me proteger. E é claro, ele pensou que qualquer um com
quem me envolvesse era um ‘idiota.’ Acontece que, quando se trata de Max é
verdade.
“Não queria apenas parecer sexy,” esclareço. “Queria parecer que estava
indo bem; que minha vida é boa.”
“E funcionou?” Ele pergunta.
Curvo minha boca ao pensar sobre isso. “Não sei,” respondo
honestamente. “Ele definitivamente não é o Max que me lembro. Parece...
diferente. Mas não tenho certeza se isso foi um reflexo por me ver ou se estava
brincando comigo.”
“Não parece tão diferente para mim,” Matt diz. “Ele não assinou os papéis,
embora tenha dito que assinaria. Parece a mesma merda de sempre.”
BN TOLER

Não posso discutir sobre isso. Max nunca foi um cara que faz as coisas do
jeito fácil. Se ele não se sente no controle completo de uma situação, cava os
calcanhares no chão e torna tudo o mais difícil possível. Às vezes, faz isso
simplesmente ignorando-me; se recusando a conversar ou cooperar. Pego a
cerveja de Matt, tomo um gole longo antes de deslizar de volta para ele e dizer:
“Vou dar-lhe alguns dias antes de chamá-lo novamente.”
Matt nega com a cabeça. “Max teve tempo suficiente. Você precisa
empurrar mais.”
Também pensei nisso. Havia me preocupado, imaginando que
incomodando e empurrando Max, só iria fazê-lo resistir mais, pois ele gosta de
torturar-me. Levá-lo ao tribunal sempre foi uma opção, mas Max é rico. Não
tenho dúvida de que, se optasse por esse caminho, ele montaria uma equipe
fantástica de advogados e me aniquilaria. Preciso pensar a esse respeito, mas
nesse momento, estou muito cansada. Caminhar pela cidade de Nova Iorque
em saltos, além de mais de uma hora no metrô e Max se recusando a assinar
os papéis tinha drenado minha energia.
“Você está animado com sua viagem?” Pergunto, desesperada por mudar
de assunto. Matt e sua namorada Alice partem em um passeio de duas
semanas pela Europa. Economizaram para a viagem por anos.
Matt balança a cabeça algumas vezes. “Pronto para algum tempo fora do
trabalho, isso é certo.” Faço uma careta, pois ele trabalha tão duro e tem uma
namorada séria, mas ainda encontra tempo e energia para me ajudar com
Pimberly.
“Vocês podem levar Pim e eu em suas malas, para que possamos ir
também?” Eu brinco.
“Queria que vocês viessem, pois ficarei preocupado o tempo todo com as
duas.”
“Nós vamos ficar bem, Matt,” asseguro a ele. “Você merece as melhores
férias. Não se preocupe com nada aqui em casa.”
Ele grunhe — sua maneira de concordar em discordar. Sei que não
importa o que eu diga, não há forma de que Max não se preocupe conosco.
“Tenho aula cedo amanhã,” bocejo enquanto alongo meus braços acima da
cabeça. Estou exausta. “Vou para a cama. O almoço de Pim para levar para a
Sra. Patty está na geladeira e não se esqueça que ela tem uma atividade de
exposição amanhã.”
BN TOLER

“Pim nem sequer tem dois anos,” Matt ri. “O que diabos ela vai levar para
mostrar e contar?”
“Sua girafa, é claro.” Pim dorme com ela todas as noites e a leva para todo
lado. “A Sra. Patty só quer que as crianças se divirtam. Mostrar e contar é
divertido.”
“Sim, sim,” murmura Matt. “A Sra. Patty é uma ótima moça, Waverly, mas
acho que ela tem muitas crianças sob o seu cuidado.”
“É assim que funciona a creche em casa, Matt. Além disso, Pim a ama e a
Sra. Patty fica de olho nessas crianças como um falcão.” E minha maior defesa
para a Sra. Patty é o preço; o valor das creches comuns é astronômico. E,
desde que minha renda é de empréstimos estudantis, tenho que economizar
cada centavo.
“De qualquer forma,” acrescento antes que Matt possa argumentar, “estou
acabada. Boa noite. Eu te amo.” Aceno enquanto saio da cozinha.
“Boa noite,” responde Matt, “e tente não se preocupar, Waverly.” Meus
olhos ficam úmidos, mas ele não vê porque já me encontro no corredor, fora da
cozinha. Odeio que Max ainda possa me machucar. Vê-lo naquela noite,
implorando-lhe para assinar os direitos sobre a nossa filha, foi um grande
desgaste emocional. Embora lute como o inferno para pará-la, ela vem de
qualquer maneira: a memória. A primeira, de uma série dolorosa. O começo de
um dos piores momentos da minha vida.
Tudo parecia perfeito.
O apartamento inteiro estava banhado pelo brilho suave da luz de uma
vela, uma garrafa de champanhe sobre o balcão, ao lado das duas taças de
cristal Waterford10, que o chefe de Max nos dera, devido às notícias do nosso
casamento, e o aroma decadente do cordeiro que eu preparava flutuava no ar. O
cenário era perfeito. Minha barriga resmungou de fome enquanto checava o
relógio pela milésima vez. Estava faminta e Max tinha uma hora de atraso. Seu
novo emprego exigia que ficasse até mais tarde, enquanto trabalhava duro para
impressionar seu chefe e colegas.
Então entendi o seu atraso e iria esperar.
Esta era uma ocasião especial.

10 Marca de elegantes taças.


BN TOLER

Quando ele finalmente chegou, o cumprimentei na porta usando meu


vestido vermelho que deixava meus ombros à mostra. Era um dos favoritos dele.
“Max,” sorri quando ele tirou seu paletó, seu olhar dando voltas ao redor do
apartamento.
“O que é tudo isso?” Ele perguntou enquanto eu pegava seu paletó e o
pendurava.
“Isto,” me senti exultante quando peguei sua mão e o levei para frente. “ É
para nós.”
Desviando seus olhos para mim, Max os deixou passear pelo meu corpo, um
lado de sua boca se elevando. “E para quem é esse vestido sexy?” Ele sabia
exatamente para quem eu estava vestindo, mas gostava de me ouvir dizer isso.
Com uma piscadela lúdica, mordi meu lábio inferior. “O vestido seria para
nós, mas o que está embaixo é definitivamente para você.”
Agarrando-me, ele me puxou e me beijou com força, muito além do que eu
gostava, mas tomava isso como paixão; que seu desejo por mim o tornava
agressivo. E pensar nisso desse jeito tornou romântico.... pelo menos, na minha
mente, sua urgência era sexy. Max cheirava a charutos e tinha o mais leve sabor
de brandy em sua língua. Ele não tinha vindo direto do trabalho, aparentemente.
A ideia me incomodou, mas me recusei a deixar isso estragar a nossa noite, que
era uma celebração e não deixaria qualquer coisa atrapalhar. Deixando isso de
lado, encontrei seu beijo e abraço com igual fervor.
“Tenho que pegar o cordeiro,” murmurei contra seus lábios enquanto as
pontas dos seus dedos deslizavam pelos meus lados, fazendo-me contorcer. Eu
tinha cócegas e odiava que me fizessem, mas isso só o fazia amar mais me
provocar.
Quando Max me soltou, corri para o forno e abri-o.
“Vou pegar uma taça de champanhe,” ele se ofereceu.
“Só um pouco para mim, por favor,” gritei para ele depois que ouvi a rolha
saindo com um ‘pop’.
Depois de alguns minutos, eu tinha os nossos pratos preparados e os
coloquei sobre a mesa. Max puxou minha cadeira enquanto me sentava, algo que
raramente fazia, antes de tomar seu assento.
“Isso parece excelente,” ele notou enquanto esfregava as mãos.
BN TOLER

Sorri brilhantemente, um calor se espalhando sobre mim com seu elogio.


“Antes de comer, tenho um presente para você,” anunciei, com meu tom
denotando nervosismo.
“Você não me fez outro cachecol, não é?” Ele começou. “Aprecio o
pensamento, Waverly, mas lenços de malha apenas não são o meu estilo.”
Meu rosto estava aquecido de vergonha. Max era um homem rico e riqueza
era algo que nunca tive. Dar presentes a ele era um pesadelo. Quando eu os
ganhava, eram sempre extravagantes e caros. Como não podia me dar ao luxo
de fazer o mesmo, tentava os mais sinceros, que mostrassem o tempo e o esforço
empregados. Levei duas semanas para tricotar aquele maldito lenço e estava tão
orgulhosa. Claro, no momento em que Max abriu, pude dizer que odiou. A
tentativa fraca que ele fez para parecer gostar, dificilmente poderia ser
classificada como uma tentativa.
“Não,” eu disse, enquanto baixava meu olhar para o meu prato, deixando
para lá o quanto isso me feriu. “Acho que realmente você vai gostar deste
presente,” entregando-lhe a pequena caixa quadrada que embrulhei de forma
bela, sorri.
Lentamente, Max desamarrou a fita e desembrulhou a caixa, dando-me um
sorriso de lobo quando abriu a tampa. No momento em que olhou para dentro,
seu sorriso caiu e seus traços ficaram inexpressivos.
Ele ficou surpreso. Sorrindo, eu disse:
“Surpresa, papai.”
Nada.
Max não disse nada.
Não sorriu.
Não piscou.
Não se mexeu.
Ok, isso não saiu como planejado, pensei comigo mesma. Limpando a
garganta, resolvi esclarecer algumas coisas.
“Essa é a primeira foto da ultra-som. Tenho cerca de dez semanas. O bebê
deve chegar em fevereiro.”
BN TOLER

Atirando a caixa sobre a mesa, agarrou sua taça e tomou todo o conteúdo
de uma vez. De pé, pegou a garrafa de champanhe e serviu-se novamente antes
de tomá-la também.
Cada grama de excitação e felicidade que sentia momentos antes evaporou-
se.
Max não estava feliz.
Ele estava chateado.
“Pensei que você ficaria feliz,” consegui dizer depois de um tempo.
Ele riu arrogantemente e disse:
“Por quê? Porque a mulher que conheço há cinco segundos e com quem me
casei na frente de um imitador de Elvis está grávida? Você está falando sério?”
Fiquei boquiaberta e senti como se meu coração tivesse caído no chão ao
lado dos meus sapatos. Nosso romance tinha sido rápido, um turbilhão
realmente, mas parecia um conto de fadas. Pensei que Max tinha sentido o
mesmo. Não tinha?
“Não entendo! Sei que é cedo, mas.... estamos casados. Concebemos na
nossa lua de mel. É meio romântico, se você pensar nisso.”
Novamente, Max riu, o som cheio de desdém. Ele pensou que eu era
ridícula.
Mal conseguia formar palavras e, quaisquer que eu conseguisse pronunciar,
Max não ouvia. Então fiquei quieta, esperando. Ele obviamente precisava de
alguns minutos para processar a notícia.
“Vou agendar uma consulta em uma clínica amanhã,” ele finalmente falou,
seu olhar fixo em algum ponto próximo a mim. “Vou pagar por tudo. Ainda é
cedo, então não deve ser um problema.”
Alguém pode te nocautear apenas com o uso de palavras? Eu sou a prova
de que sim, é possível. Se não tivesse sentada, teria desmoronado em direção ao
chão. Fiquei sem palavras. Estava em choque.
“Tenho que sair daqui,” Max murmurou. Na porta, ele agarrou sua jaqueta.
“Vou enviar-lhe um texto com as informações da consulta na parte da manhã.”
Quando a porta se fechou, eu fiquei congelada no lugar, minha mente não
permitindo mover-me.
Ele não queria nosso bebê.
BN TOLER

O que diabos eu ia fazer?


Tentei tão arduamente resolver as coisas naquele momento. Destruí meu
orgulho e minha dignidade. Tentei tão duro, mas nunca o balancei. Nem um
pouco. Max rejeitou a mim e nossa filha sem olhar para trás. E, agora que
finalmente passei por tudo e aceitei que ele não faz parte de nossas vidas, Max
se recusa a assinar os papéis. Não faz sentido. A falta de controle que tenho
sobre ele me enfurece e, como não posso extravasar a raiva e a dor que sinto de
outra forma, elas saem na forma de lágrimas. Cada. Droga. De. Vez.
Enquanto subo as escadas para o meu quarto, olho para algumas fotos
penduradas na parede de Matt e eu quando crianças. No mundo dos irmãos, o
meu ganhou o primeiro prêmio, principalmente quando as coisas deram errado
na minha relação com Max; Matt me ajuda e cuida de Pim desde o momento
em que ela nasceu. Um dia ele será um excelente pai e, para todos os efeitos, é
um para Pim. Meu irmão é a única figura de pai que ela já conheceu, pois
compartilha todo o trabalho, desde as noites sem dormir, as mudanças de
fralda, as mamadeiras e tudo mais. Não consigo imaginar Max trocando uma
fralda. Ele provavelmente precisaria de uma roupa à prova de perigo antes
mesmo de pensar em fazê-lo.
Espreitando no quarto de Pimberly no topo da escada, posso vê-la através
das grades da porta da entrada. Sua pequena boca forma um beicinho e ela
ronca fracamente. Pim é a coisa mais linda que já vi. Quebra meu coração o
fato dela ter um pai que não a quer; que escolheu perder essa pessoinha
incrível porque é egoísta, que pensa que criar um bebê é demais para ele,
sendo algo que vai contra seu estilo. Sorrio um pouco, a ferida se
desvanecendo ligeiramente, quando imagino o rosto de Max se Pim cuspisse em
cima de uma de suas camisas ou se derramasse suco em seu sofá
extravagante. Tenho certeza de que todas as mulheres que traz para casa
adorariam as impressões digitais e manchas nos móveis e janelas.
É quando surge a ideia, uma epifania, e um largo sorriso se espalha pelo
meu rosto quando um plano começa a formular-se na minha mente.
“Não se preocupe, garotinha,” sussurro. “Ele vai assinar esses papéis, de
uma forma ou de outra.”
Fechando a porta, vou para o meu quarto com o queixo erguido. Matt está
certo. Tenho que empurrar Max. E sei como fazê-lo.
BN TOLER

CAPITULO SETE

Depois que Waverly foi embora, pedi mais duas bebidas, bem como
batatas fritas e bife. Lendo através da papelada, ainda estou perdido sobre o
que fazer. Documentos legais não são o meu forte, mas sou inteligente o
suficiente para saber sobre o que estava lendo. Se Max assinar esses
documentos, perde qualquer direito ou reivindicação sobre a filha. Pergunto-me
no que Max realmente havia pensado quando disse que iria assiná-los. Eu
apenas não posso fazê-lo... desistir da minha filha? Não seria capaz de dormir
à noite sabendo que ela está fora, pelo mundo, em algum lugar acreditando
que não a queria. Posso assinar ou não os papéis. Ou, não fazer nada. Estou
inclinado para esta segunda escolha. Pelo menos por agora.
Na volta para o apartamento de Max, pego o longo caminho, na esperança
de encontrar Pearl. Desde o dia em que nos conhecemos, sempre fiz questão de
encontrá-la e verificar como estava. Sei a maioria dos seus lugares habituais,
mas às vezes ela se muda, ou encontra um abrigo para passar a noite.
Encontrei-a fora da Broadway, encostada na parede de uma loja, ao lado de um
papelão com algo escrito e segurando sua caneca. Enquanto as pessoas
passam, ela grita: "Deus te abençoe" a cada uma delas. Ninguém coloca nada
em sua caneca; inferno, nem sequer olham para ela.
Tanto quanto Pearl realmente precisa de dinheiro, a placa de papelão ao
seu lado não descreve isso.
Perdido:
Gato preto de olhos amarelos.
E sob a escrita está desenhado um gato preto que mais parece criado por
alguém no jardim de infância. De longe, a observo por um momento. Quero
BN TOLER

tanto falar com ela como costumávamos fazer, mas não posso. Não sou mais
Liam... pelo menos não fisicamente. Um sentimento de impotência me
consome, e me faz querer bater em alguma coisa. Como fazer isso? Como
desistir de todas as pessoas que eu amava e cuidava? Apenas esquecer delas?
Como ser Max Porter?
Caminhando até Pearl, puxo as notas dobradas do meu bolso, mas
quando começo a contá-las, com a intenção de colocar algumas em seu copo,
ela grita:
“Assassino!”
Tropeço para trás quando ela levanta do chão lentamente, e continua a
gritar:
“Você o deixou para morrer, animal!”
“Eu...”
“Ele salvou a sua vida!” Ela continua, e cutuca meu peito com o dedo,
forte o suficiente para me fazer balançar. Seus olhos estão arregalados de raiva
e seu corpo treme. Pearl fala sobre mim. Ou melhor, sobre Max e como ele me
deixou morrrer. Tudo o que quero fazer é dar dinheiro à minha amiga, mas
esqueci uma coisa enorme: ela me viu morrer. E não apenas isso, assistiu
quando salvei a vida de Max e quando ele se levantou e me deixou morrer na
rua sem um segundo pensamento. Pearl continua a gritar e empurrar, as
lágrimas escorrendo pelo seu rosto sujo. As pessoas que passam por nós, nos
encaram, mas ninguém se importa o suficiente para parar e escutar.
“Pearl,” digo alto, agarrando seu pulso, impedindo-a de me empurrar.
“Você não entende.”
“Liam está no suporte vital, seu idiota!” Ela berra, batendo a mão livre
contra o meu peito. “Os médicos dizem que ele provavelmente não vai
conseguir!” Então, dominada pela emoção, desaba contra mim. Eu a seguro e
a guio até a parede, onde Pearl desliza para baixo até que está sentada na
calçada, antes de cobrir o rosto com as mãos. Observo-a por um momento,
meus olhos arregalados, meu coração batendo forte.
Não estou morto.
Quer dizer, eu existo dentro do corpo de Max, mas o meu ainda vive,
muito mal, de acordo com Pearl. Como isso aconteceu? Com esse pensamento,
meus joelhos dobram. Deslizo pela parede e sento-me ao lado de Pearl
enquanto ela geme, seu rosto ainda coberto. Se estou no corpo de Max, isso
BN TOLER

significa que ele está preso no meu? Será que Max está dentro do meu corpo,
em coma?
Gostaria de explicar a Pearl o que tinha acontecido e dizer que ainda que
ela esteja olhando para Max (o homem que me deixou para morrer), que sou
eu, Liam. Mas como explicar? A resposta é simples: eu não posso. Não sem
parecer louco e, dado que Pearl odeia o Max, é impossível. Nenhuma pessoa em
sã consciência acreditaria em mim. Concluindo que minha presença, ou
melhor, a visão de Max a incomoda, decido que é melhor ir embora. Antes de
me levantar, empurro as notas dobradas em sua caneca e fico de pé.
“Não quero nem uma maldita moeda de dez centavos de você,” ela sibila, e
puxa o dinheiro da sua xícara e joga-o para mim. Algumas das notas voam se
afastando, mas com alguns movimentos rápidos, pego a maioria delas.
Com o dinheiro em minha mão, me inclino para ela e imploro:
“Por favor, pegue. Você pode conseguir um quarto de hotel esta noite.”
“Afaste-se de mim,” rosna ela, virando seu corpo de lado. “Você matou
Murry.”
Minha cabeça cai. Pearl está misturando-me com Murry, o infame gato
preto desaparecido, agora. Preciso conseguir ajuda para ela, e logo.
Deixo escapar um longo suspiro derrotado. Empurrando o dinheiro para o
meu bolso, saio correndo, sentindo vergonha por algum motivo. Sei que Pearl
está furiosa com Max, não comigo, mas quando alguém que você cuida e
respeita te trata com tanto desprezo, não dá pra evitar me sentir como merda.
Duas das três primeiras pessoas que vi como Max o odeiam. Waverly
definitivamente não é sua maior fã. E agora Pearl. Duvido que Braxton seja um
grande fã. Será assim com todos? Tirando o iPhone do Max que trouxe comigo,
pesquiso nos hospitais mais próximos. Por sorte, desde que estou em seu
corpo, sua impressão digital me permite acessar o telefone. Ligo para três
hospitais e finalmente encontro para onde levaram o meu corpo. Pego um táxi,
e já não me importo em tentar ser conservador com o dinheiro que tirei da
gaveta de Max, pois ele é um idiota. Seu corpo é perfeito e saudável, enquanto
o meu provavelmente está mutilado, mal pendurado na vida.
Eles me levaram, ou meu corpo, para um dos hospitais de classe mais
baixa. Faz sentido, sendo um sem-teto. Tive sorte de obter assistência médica,
pois não tinha seguro. Após falar com a recepção sobre como chegar ao quarto
onde meu corpo está, atravesso as alas lentamente. Quero ver o que aconteceu
comigo; como poderia me ver morrer do corpo de Max? E o que acontece se eu
BN TOLER

morro? Não há nenhuma maneira de que me manterão em suporte vital por


muito tempo, pois minha irmã não será capaz de pagar. Como é irônico que eu
esteja preso no corpo do homem cuja vida salvei e que me deixou para morrer?
Quando finalmente chego ao quarto, espio através da pequena janela
retangular na porta e paro de respirar quando sinto o sangue sumir do meu
rosto.
Mesmo ciente que me ver assim, em tal estado seria difícil, não estou
preparado para isso. Tubos entram e saem por toda parte, e meu corpo está em
um ventilador. Abro silenciosamente a porta, entro, e olho para o meu corpo
imóvel, meu coração batendo no peito com descrença.
“Droga,” murmuro sob minha respiração. “Você parece uma merda.”
Meu corpo parece uma carcaça vazia coberta de tatuagens. O rosto está
ferido e inchado, círculos escuros sob os olhos, a pele doentia e pálida. Ser
atingido por um ônibus certamente não me fez qualquer favor, mas é mais do
que isso. Aqui está um homem desabrigado que tinha fome, e que foi atingido
pelo ônibus da vida, arrastando-o com ele como um boneco de pano, depois
que o atropelou. Com esse pensamento, a vergonha se aloja em minha
garganta enquanto a concha flácida e sem vida diante de mim me mostra um
visual real de quão baixo havia caído.
Olhando para mim, quero saber se ao tocar em meu braço, de algum
modo, nos trocaria novamente. Lentamente, estendo a mão para tocá-lo. Se
voltássemos, estaria em coma, preso e sem vida. É isso que eu quero?
“Se isso acontecer, é o que deve ser,” digo a mim mesmo.
Com uma respiração profunda, aperto os olhos, me preparando, antes de
segurar firmemente meu pulso e apertar.
Nada acontece.
Soltando meu aperto, esfrego o rosto quando solto um gemido. Isso
realmente está acontecendo. Estou de pé no corpo de outro homem, olhando
para o meu em seu leito de morte.
Andando em volta da cama, sento-me na cadeira ao lado e me inclino para
chegar mais perto.
“Max?” Digo sussurrando. “Você está aí, Max?”
BN TOLER

Não sei o que poderia acontecer. Claro que ele não iria apenas sentar e me
responder, mas quem sabe o monitor cardíaco mudaria, ou um dedo da mão
ou do pé se moveria em resposta.
Mas, novamente, nada acontece.
Descansando a cabeça na grade da cama, solto um rosnado. “Não sei por
que isso está acontecendo, Max. Não encontro nenhum sentido, e não há
ninguém com quem eu possa falar,” levantando a cabeça, acrescento: “Você me
deixou morto naquela rua, cara. A propósito, você é um verdadeiro imbecil.”
“Uh, desculpe-me.” Alguém fala. Rapidamente mudo meu olhar para a
porta e encontro Helen, parecendo louca como o inferno. Seus cabelos ruivos
estão amarrados em um nó desordenado em cima da cabeça, os olhos têm
círculos escuros sob eles, um sinal de que ela não tem dormido em dias. “Há
uma razão pela qual você está aqui chamando meu irmão em coma de idiota?”
Apenas a visão dela me domina, mais do que teria pensado. Não a via há
tanto tempo e meu dia tinha sido uma merda. Tudo que quero fazer é abraçar
alguém que amo. Sem pensar, salto e corro em sua direção, agarrando-a num
grande abraço de urso. Helen luta contra mim imediatamente, mas a aperto
com mais força. Segurá-la é como tentar banhar um gato. Finalmente, ela
grunhe e me empurra para longe:
“Que diabos há de errado com você?”
Tropeçando para trás, dou-lhe uma boa olhada, e minha mandíbula cai.
Ela tem o começo de uma pequena barriga redonda mostrando.
“Você está grávida, Hel?” Ofego em descrença.
Seu rosto se contorce quando ela olha para mim como se eu estivesse
louco.
“Quem diabos é você?”
“Quem é o pai, Hel?” Continuo, pois minha irmã não tem um namorado
sério há anos. Eu fico três meses sem vê-la, e ela está grávida?
“Estou chamando o segurança,” ela se move em direção à cama e pega o
telefone do paciente.
“Não, Hel, espere,” imploro, enquanto agarro seu braço e tento detê-la.
Quando ela se esquiva e bate o telefone contra a minha cabeça, eu caio para
trás e aterrisso em minha bunda. “Caralho!” Assobio, segurando minha cabeça
machucada. “Isso dói, Hel!”
BN TOLER

“Você me toca de novo, e vou esmagar seu maldito crânio com esta coisa.”
Ela avisa enquanto tecla nos botões no telefone. Helen sempre foi pequena,
mas sua força é poderosa, sendo uma das razões que lhe chamava de Hel-short
para Hell Cat11.
“Você vai me ouvir por favor?” Imploro. “Eu juro que não sou um louco.”
“Quem é você?” Grita ela.
“Eu ...” paro de falar abruptamente porque quem sou eu? Como explicar
isso? Porra. É impossível, mas tenho que encontrar uma maneira. Preciso que
alguém saiba o que aconteceu.
Afastando-me, para fazê-la se sentir menos ameaçada, encosto-me na
parede.
“Ok, Hel,” começo, “sei que isso vai ser difícil... entenda, mas, por favor,
prometa não enlouquecer e me deixar dizer tudo?”
Estreitando os olhos para mim, ela inclina a cabeça.
“Você é o namorado dele?”
“O quê?! Não!” Balanço a cabeça com firmeza. “Não sou gay, poxa Hel.”
“Não há nada de errado com isso se você for,” retruca ela.
“Eu sei, mas não sou gay, Hel.”
“Por que você continua me chamando assim, hein?” Pergunta, com
frustração evidente em seu tom. “Esse é o apelido que Liam usa para mim. Eu
não te conheço.”
“Hel,” começo de novo. “Sei que isso é difícil de acreditar, mas eu sou
Liam. Estou... preso no corpo desse sujeito,” aponto para o peito de Max.
“Salvei sua vida outro dia, empurrando-o para fora do caminho, e fui atingido
pelo ônibus. Ele me deixou morto e, quando acordei, eu...” Paro e seguro
minhas mãos. Já me sinto derrotado. Não há como inferir que Helen acredite.
“Eu era esse cara.”
Ela olha para mim sem expressão, seu olhar nunca deixando o meu.
Mantendo o corpo imóvel, Helen lança um braço em direção a sua bolsa que
está sobre a mesa ao lado da cama do hospital.
“Muito sutil, Hel,” eu falo bufando. “Você acha que não posso vê-la chegar
a sua bolsa para que possa puxar aquela pequena pistola delicada para fora?”

11 Hel-short -Hel baixinha. Hell Cat – Gato do inferno.


BN TOLER

Seus ombros caem e ela franze o cenho.


“Você mexeu na minha bolsa?”
“Não,” eu rio. “Só sei que você carrega isso desde que a vovó se foi e você
encontrou-a debaixo do colchão. É melhor não ser pega com isso, Hel, ou
responderá um processo.”
“Liam deve ter lhe contado sobre isso,” ela me testa, ignorando o meu
aviso.
“Eu sou Liam, Hel. Pergunte-me qualquer coisa, o que você quiser.”
Abraçando sua bolsa contra o peito, ela olha para mim.
“Quando é meu aniversário?”
“20 de março, primeiro dia da Primavera.”
“Nome de solteira da minha mãe?”
“Windsor.”
“Como eu nomeei o gato que encontrei quando tinha dez anos, mas que
vovó deixou afastado porque ele tinha pulgas?”
“Ela também estava grávida e você deu o nome de Hell Cat Júnior.”
Hel bombardeou-me durante os próximos dez minutos, fazendo diversas
perguntas. E mesmo que eu tivesse todas as respostas corretas, ela ainda me
olhava como se tudo fosse uma pegadinha.
“Amor do Ensino Médio?” Pergunta-me.
Eu reviro os olhos.
“Benny Cartman. Ele era apenas uma ferramenta utilizável para você, mas
era melhor do que Ron Billings, a quem você deu o seu V-card12.”
Sua boca cai aberta, a cabeça chicoteando em direção à cama, onde meu
corpo está.
“Você, bastardo!” Ela ofega para meu corpo imóvel. “Jurou que nunca
diria.”
“Eu não disse,” insisto. Helen ainda não acredita em mim. “Sei disso
porque sou Liam, Hel. Eu sou. Sei que parece loucura, mas é verdade.”

12 Cartão de virgindade.
BN TOLER

Com um suspiro derrotado, ela cai na cadeira ao lado da cama. Posso


dizer, pela maneira como continua balançando a cabeça, que tenta convencer a
si mesma para não acreditar em mim, não importa quantas respostas certas
tenha dado as suas perguntas. Finalmente, virando a cabeça para mim, seu
olhar se encontra com o meu e ela pergunta:
“Se o que você diz é verdade e se Liam está preso neste corpo,” Helen faz
um gesto com a mão em minha direção, no chão. “Quem está em coma?”
Levantando-me do chão, exalo alto.
“O nome dele é Max. E acredito que esteja em meu corpo.”
Como alguém que é levado a acreditar que algo impossível aconteceu,
Helen faz uma centena de perguntas sobre o porquê disso acontecer, mas tudo
o que digo não a convence de que sou Liam, mesmo porque não tenho lhe dado
as respostas.
“Não houve bruxaria ou sequestro de alienígenas,” digo a ela.
“Simplesmente... aconteceu.”
Helen senta-se quietamente por um momento, franzindo a testa cada vez
mais, enquanto o tempo passa. Então, olhando para mim, seus olhos se
enchem de lágrimas.
“O prognóstico não é bom, Liam.” Ela diz meu nome desajeitadamente.
Acho que olhar para mim como Max e me chamar de Liam é estranho para
Helen. “Dizem que você está com morte cerebral.”
Fecho os olhos e tomo algumas respirações profundas. É bom ouvir minha
irmã me chamando de Liam, que alguém saiba quem realmente sou, mas suas
palavras são brutais. Não só devido ao que diz, mas por causa da dor em sua
voz.
“Não tenho nenhum seguro, Hel. Você não pode me manter em suporte
vital para sempre.”
Apertando os lábios, ela tenta parar de chorar, mas não dá certo.
“Seu idiota,” ela finalmente diz enquanto choraminga e enxuga os olhos.
“Fiquei muito preocupada com você, pensando que estava morto; ou o que quer
que tenha acontecido. Então recebo um telefonema e meu pior medo se torna
realidade.”
Meu estômago afunda com suas palavras e a emoção em sua voz.
BN TOLER

“Tive vergonha,” admito com remorso. “Não sabia como encará-la assim,”
gesticulo com a mão em direção ao meu corpo na cama.
“Você sabe que estou sempre aqui para você,” ela olha fixamente para as
máquinas. “Você poderia ter ficado conosco.”
“Sou o irmão mais velho; você não deveria ter que cuidar de mim.”
“Isso é besteira e você sabe disso,” lamenta Helen, enquanto tira um fio
solto da roupa. Engulo o nó na garganta, mas não digo nada. Ela está certa.
Sou um idiota. Depois de alguns momentos, com os olhos fixos no chão, como
se estivesse perdida em pensamentos, pergunta:
“Então, o que acontece se nós puxarmos o plugue do suporte vital?” Viro
minhas costas e esfrego meu rosto. Não é essa a pergunta de um milhão de
dólares?
“Eu não sei.” Voltando-me em sua direção, dou de ombros.
“Se tirarmos você do suporte e....” ela fecha os olhos e engole em seco,
porque tudo o que está prestes a dizer é difícil. “Se seu corpo morre, então...
ele...” Helen acena com a mão para mim. “Morrerá?” Ela mal consegue
terminar.
“Essa é a minha melhor suposição,” digo-lhe. “Ou, talvez...” ela olha para
mim, me dando um momento para terminar. “Talvez trocaremos de corpo
novamente e morrerei com o meu, sinceramente, eu não sei.”
“Isso é loucura,” ela diz, mais para si do que para mim. “Quero acreditar
tanto que você é Liam, mas será que estou tão desesperada por meu irmão
estar vivo que poderia acreditar em qualquer coisa? E se o que diz é verdade,
há uma boa chance de que você morra, mesmo assim.”
“Não pedi por isso. Apenas fiz uma escolha rápida para salvar a vida desse
cara,” defendo-me, embora ela não esteja me atacando. “Não queria a vida dele,
nem ter que passar por isso,” respirando fundo, trabalho duro para controlar
minha frustração. Isso não é culpa da Helen, e o fato de que ainda fala comigo
é um passo enorme, pois ela necessita de algum tempo para processar tudo e
realmente acreditar. “Compreendo seu medo,” digo. “E sei que não entende...
eu também não compreendo. Apenas me dê algum tempo para provar. Você me
conhece, Helen. Melhor do que ninguém. Se não puder convencê-la, não
conseguirei com ninguém.” Ela balança a cabeça algumas vezes com uma
profunda carranca no rosto.
BN TOLER

“Eles não vão me deixar mantê-lo em suporte de vida por muito tempo. E
ainda tem o fato de que não há nenhum seguro, e você não mostrar nenhum
sinal de atividade cerebral.”
Eu rosno, frustrado com o desconhecido e as complicações desta situação.
Se os médicos tiram meu corpo do suporte vital, Max pode morrer com meu
corpo. Ou podemos voltar e talvez eu vá com meu corpo. Há muitas incógnitas.
Preciso de um tempo para pensar sobre isso. Não quero impedir a vida de Max
de forma alguma, nem tomar uma decisão que possa prejudicá-lo. Sim, o cara
realmente é um idiota, mas eu não sou. Ser a pessoa de nível maior e melhor é
uma escolha. Se há uma chance dele morrer em meu corpo, preciso impedir
que isso aconteça. E se há possibilidade do meu corpo ser salvo através de
algum milagre médico, então ele deve isso a mim.
“Ele é um milionário,” digo. “Posso acessar seu dinheiro. Max pode pagar a
conta para nos comprar algum tempo. Quem sabe haja um milagre. Talvez meu
corpo cure milagrosamente e desperte?” Nem eu acredito em minhas palavras
e, a julgar pela profunda carranca em seu rosto, sei que Helen tampouco.
“Vamos dar algumas semanas. E veremos o que acontece.” Ela acena com a
cabeça algumas vezes antes de se levantar e mexer com os cobertores sobre o
meu corpo. “Você não precisa estar aqui todos os dias.” Ela assente
novamente. Acho que naquele exato momento, Helen realmente acredita em
mim, embora uma pequena parte pense que é bom demais para ser verdade; e
que seu irmão, mesmo no corpo de outro homem, esteja vivo. Eu a abraço.
Desajeitadamente no início, uma vez que apenas se inclina contra mim, seus
braços imóveis em seus lados, mas depois de alguns momentos, me abraça e
soluça em meu peito. “Tudo vai ficar bem, Hel,” digo, mas não acredito muito.
E não tenho ideia do que vai acontecer.
Conversamos um pouco mais. Dou-lhe o endereço de Max e ligo para seu
telefone através do de Max para que Helen tenha o número. Quando saímos do
hospital juntos, ela dá um soco no meu braço.
“Não desapareça novamente,” adverte ela.
“Ow,” digo, com dor. Isso machuca. Um pouco. Minha irmã não é
mariquinha. “Eu não vou,” prometo. “A propósito, quem é o pai do bebê?”
Helen bufa, divertida pela forma como faço a pergunta. “O nome dele é Brian.
Ele é um vendedor de seguros e é muito simpático.”
Levanto uma sobrancelha em questão.
BN TOLER

“Ele é bom para você?” Sorrio, e ela balança a cabeça enquanto desliza a
mão sobre sua barriga. “Ele é muito bom para mim. Nem me deixa trabalhar
agora que estou grávida. Quer se casar antes que o bebê nasça.”
“Você quer isso?” Seu olhar triste encontra o meu.
“Assim que meu irmão mais velho puder me acompanhar pelo corredor.”
Trabalho duro para controlar minha expressão, não querendo que Helen veja o
quanto suas palavras me atingem.
Agarrando sua cabeça, a puxo para mim e beijo sua têmpora.
“Tudo ficará bem, Hel.” Pode não ser verdade, mas possivelmente, se
continuar dizendo isso uma e outra vez, eu acredite.
Mais tarde, depois de caminhar ao redor indiferente, entro no saguão do
prédio de Max, e Braxton levanta-se de trás da escrivaninha.
“Boa noite, Braxton,” dou um pequeno aceno. Ele me encara com o mesmo
olhar vazio que me deu antes. Fiz algo diferente do jeito de Max? Será que ele
nem sequer oferecia um simples boa noite para as pessoas?
“Boa noite, Sr. Porter,” Braxton finalmente responde, inclinando seu
chapéu para mim, o mesmo olhar em branco em seu rosto. “Oh, por falar
nisso,” tagarela ele, correndo para mim.
Inclinando-se, me informa em voz baixa:
“Encontrei.”
“Encontrou?” Questiono.
“Sim e mandei para a loja, conforme sua instrução. Chegou lá hoje.
Queria te dizer mais cedo, mas você parecia estar com pressa.” Olhamos um
para o outro por um momento e ocorre-me que espera por mim, talvez uma
gorjeta para o que fez. Os porteiros ganham gorjetas, certo? Não tenho certeza.
Estou fora dos meus padrões aqui.
“O que devo a você, Braxton?” Finalmente pergunto quando alcanço meu
bolso traseiro.
Ele ergue as mãos. “Nem uma coisa, senhor. Fiquei feliz em ajudá-lo a
tornar seu sonho realidade.”
Sonho? Pergunto-me como Max poderia sonhar quando ele parece ter
tudo.
BN TOLER

Não tenho ideia sobre o que Braxton falava e não me preocupo em


questioná-lo, pois enviaria sinais de que Max não é ele mesmo.
“Ok. Bem, obrigado,” sorrio e dou-lhe um duro tapinha nas costas,
fazendo seus olhos arregalarem. “Bom trabalho.”
Suas feições demonstram incerteza, mas ele balança a cabeça uma vez.
“Boa noite, senhor.” Qualquer que seja o que encontrou, imagino que virá
à luz eventualmente. Agora, tenho muitas outras coisas para me preocupar.
Quando chego ao apartamento de Max, entro e fico no meio da sala. As
luzes da cidade brilham através das altas janelas, iluminando o ambiente.
Viver nas ruas é assustador, mas na cobertura e na segurança da casa de Max,
estou mais assustado do que jamais estive na minha vida. Nas ruas, sabia
quem eu era e o meu destino, mas aqui não sei nada. Não sei quem Max
realmente é. Ou o porquê disso acontecer; e ainda nada sobre o que o futuro
me reserva, sendo que o desconhecido é algo assustador.
Tantas noites em bancos de parque ou ruas, desejando estar em qualquer
outro lugar quente e seguro, mas agora voltaria pra lá em um piscar de olhos.
Esta não é minha casa. Este não é meu corpo. Esta não é minha vida. Por que
isso está acontecendo? Estou sendo punido? Com um suspiro pesado, vou
para o quarto e sento na cama, que é suave com lençóis de seda, e eu deveria
saborear esta sensação aconchegante e confortável pela primeira vez em um
tempo tão longo. Mas não consigo. Depois de virar de um lado para outro,
desisto e deito no chão ao lado da cama. Talvez Max more em um apartamento
luxuoso e tenha muito dinheiro, o que a maioria dos homens deseja e se
esforça para ter em sua vida, mas não sou Max. O que significa que, mesmo
que esteja em seu corpo, essas coisas não são minhas.
Ainda sou o Liam.
E não sou ninguém.
BN TOLER

CAPITULO OITO

A campainha toca dez vezes sem parar. Levanto do chão,


momentaneamente desorientado, meu coração acelerado por ser acordado tão
abruptamente. A luz do sol cobre o quarto, fazendo-me estreitar os olhos.
Depois de alguns segundos, fico nervoso e percebo que ainda estou no
apartamento de Max.
E ainda estou em seu corpo.
Nada mudou.
Ding! Ding! Ding!
“Merda,” resmungo, enquanto corro desajeitadamente para a sala de estar,
batendo meu ombro contra o lado da porta do quarto.
“Droga,” murmuro, esfregando meu ombro.
A campainha continua a tocar enquanto tropeço sobre meus próprios pés.
“Espere um minuto!” Grito. Minha voz, ou melhor, a voz de Max, soa
rouca de sono.
Isso não impede a pessoa de tocar mais dez vezes. No momento em que
libero as fechaduras e abro a porta, estou preparado para brigar com a pessoa
do outro lado. Na verdade, minha boca está aberta e pronta quando vejo... elas.
Com olhos arregalados de choque, não consigo verbalizar nada, o que não é
difícil, porque não tenho ideia do que dizer.
“Max,” Waverly sorri, embora não pareça autêntico. Na verdade, parece
francamente maníaco. Seus cabelos estão em um rabo de cavalo como na noite
anterior, mas desta vez ela usa jeans e uma camisa cinza inclinada de um
ombro. Há alguma roupa em que ela não pareça quente? No entanto, seu traje
BN TOLER

não é o que me surpreende. Não, o que me deixa sem palavras é a menina


gorducha em seu quadril, com a cabeça apoiada no seu ombro.
“Então, esta é Pim,” Waverly começa, seu sorriso se alargando, quando
não falo nada. Aparentemente, minha reação trouxe-lhe grande alegria. “Pim,”
continua ela, “este é o seu doador de esperma, Max.” Apertando a minha boca,
pisco algumas vezes quando os efeitos do abrupto despertar começam a esvair-
se. Esta criança é sua filha. E do Max. Merda. Memórias da noite anterior me
atingem no estômago. Esta criança é a filha que Max abandonou. “Então,”
continua Waverly, “ela tomou o café da manhã às sete e seu próximo cochilo
não é até o meio-dia.” Tirando Pim de seu quadril, ela beija sua bochecha
várias vezes e diz: “Seja uma boa menina para Max, querida. Eu te amo.”
Quando ela empurra o bebê para mim, a pego por puro reflexo. Pim
imediatamente começa a lamentar, tentando alcançar Waverly, que vira e se
afasta.
“Você está saindo...” Antes que eu termine a pergunta, ela retorna
puxando um grande carrinho, cheio de equipamento de bebê, uma mala e
brinquedos. Passando por mim, Waverly arrasta o carro até o centro da sala.
Colocando as mãos nos quadris, ela olha ao redor e ri, sacudindo a cabeça.
Não sei o motivo do riso, mas não parece positivo.
“Tenho aulas até 14:00 h. Estarei de volta em torno de 14:30 h.”
Caminhando em minha direção, ela balança os dedos enquanto faz um
rosto bobo para Pimberly que grita e praticamente salta dos meus braços para
voltar para a mãe.
“Eu te amo, eu te amo,” repete para Pimberly, enquanto beija suas
pequenas mãos, e ela, por sua vez, luta duro para retornar para sua mãe e
sinto como se estivesse lutando com um filhote de urso para mantê-la em
meus braços.
Então, olhando para mim, Waverly sorri. “Divirtam-se hoje.”
Ela passa por mim e sai pela porta da frente. Olho para o bebê em meus
braços, de rosto vermelho e soluçando, tentando entender o que está
acontecendo.
“Espere!” Grito, quando saio correndo pela porta para o corredor. Waverly
está esperando o elevador, os braços cruzados casualmente como se não
tivesse uma preocupação no mundo. Quando se vira para me encarar, suas
feições se erguem em surpresa.
BN TOLER

“Você não pode simplesmente deixá-la... comigo,” afirmo. “Ela nem me


conhece.” Isso é verdade; Pimberly não conhece Max e eu não sou ele, então ela
não me conhece.
Com os braços ainda cruzados, ela dá de ombros despreocupadamente.
“Bem, já que você parece ter dúvidas em assinar os direitos sobre a filha
com quem nunca passou tempo, ou contribuiu para a vida dela de alguma
forma, penso que deveriam passar algum tempo juntos. Você não consegue
manter os direitos enquanto finge que Pimberly não existe. Então, aqui está
ela, Max,” conclui Waverly.
Minhas sobrancelhas franzem. Maldito seja, Max. Por que você é um idiota?
Realmente não quero manter Pimberly. Não tenho nada contra crianças; pelo
contrário. Adoro. Se tivesse conhecido a mulher certa, provavelmente teria um
casal, mas Pim não é minha e não tenho certeza se é certo mantê-la, mas não é
como se pudesse explicar a situação para Waverly. Sem mencionar que
entendo seu ponto. Ela está farta da besteira de Max e está jogando duro
agora.
Balanço a cabeça, movo Pimberly para o outro lado e começo a acariciá-la,
tentando acalmá-la.
“Ela tem alguma alergia?” Quando vi meu sobrinho David, há muitos
anos atrás, ele teve uma reação alérgica à manteiga de amendoim. Seu rosto
inchou e apareceu vergões em toda parte. Foi um dos dias mais aterrorizantes
da minha vida.
Waverly não se impressiona com minha pergunta gentil, pois olha para
mim, seus olhos se estreitando com raiva. Seu plano não funcionou. Ela se
convenceu de que Max assinaria os papéis imediatamente para evitar ter que
passar tempo com sua filha. O real Max, pelo que posso dizer, sim, mas eu não
sou Max.... e simplesmente não posso.
“Não.” Levantando o queixo, ela inala profundamente pelo nariz,
desgostosa com a minha reação, quando as portas do elevador se abrem. “Me
ligue se houver uma emergência.”
Pimberly lamenta alto quando as portas do elevador se fecham. Ainda
batendo nas costas dela, começo a cantarolar, enquanto a carrego de volta
para o apartamento. Que diabos você vai fazer, Liam?
BN TOLER

CAPITULO NOVE

Como muitas vezes na vida, meu ataque a Max não foi conforme o
planejado. Estava convencida de que ele assinaria os papéis imeditamente.
Droga. Droga. Droga. Acabo de deixar minha filha com um estranho (pelo
menos para ela, de qualquer maneira), que na verdade é seu pai e não quer
fazer parte da sua vida.
“E o prêmio de mãe do ano vai para... Waverly Torres,” digo a mim mesma,
na melhor imitação da voz de um locutor. As pessoas que estão no mesmo
elevador que eu, dão-me um olhar estranho, pois acabam de testemunhar meu
monólogo como uma louca.
Ugh! Odeio Max. Por quê? Por que ele está fazendo isso? Por que não
assina os malditos papéis? Subindo no mesmo táxi que nos trouxe, instruo o
motorista a levar-me para a escola, e me pergunto se não devo voltar agora e
buscar minha filha. E se algo acontecer com ela? E se Max estiver ocupado
fazendo alguma coisa e Pimberly cair e bater a cabeça?
Merda. Tenho que voltar.
Meu celular toca e rapidamente o pego da minha bolsa, pensando que é
Max desistindo, pedindo-me para salvá-lo da paternidade da nossa criança. Em
vez disso, o nome de Matt ilumina a tela e torço a boca, sem saber se devo
atender. Isso não vai ser agradável. Deixei uma nota no balcão da cozinha
naquela manhã explicando meu plano porque sabia que se falasse cara a cara,
Matt provavelmente sequestraria Pim e fugiria com ela para me parar. Ele é um
tio muito protetor.
“Alô.”
BN TOLER

“Você está no apartamento dele, ainda?” Matt interrompe. “Estou a


caminho para pegar vocês duas. Que diabos você está pensando, Waverly”
“Matt,” paro, sem saber como me defender. Ele está certo. Fiquei
totalmente insana quando inventei este plano e, ao realizá-lo, Max contra-
atacou, e levou Pim sem luta. Lembrei a mim mesma que o conhecia. Que iria
quebrar; ficaria tão sobrecarregado que me imploraria para voltar a qualquer
momento e teria aqueles papéis assinados, esperando por mim quando
chegasse lá. Colocar Pimberly nesta situação é um erro, no fundo sei disso.
Max é o rei quando se trata de ter pais malucos, mas sei que não vai machucá-
la. Ele é um idiota, não um monstro. Pimberly sobreviverá algumas horas ali.
Então, inspiro profundamente e me preparo para a reação de Matt.
“Pim já está lá,” explico calmamente. “Preciso que confie em mim.”
“Você está brincando comigo?” Grita ele. Sua voz tão alta que tenho de
puxar o telefone para longe da minha orelha. “Eu confio em você. Embora,”
Matt bufa, “esta atitude hoje definitivamente me faz questionar sua sanidade,
mas é nele que não confio. Onde ela está? Vou buscá-la agora.”
“Matt,” digo, minha voz firme enquanto seguro meu celular um pouco
mais apertado. “Deixe-a lá, sou a mãe dela e essa é minha decisão.”
O telefone fica em silêncio por um longo momento até que, finalmente,
Matt responde:
“E eu sou o quê, ninguém? Não fui pai dessa menina? Não faço parte das
decisões que a afetam?”
Meu coração cai no meu estômago. Feri seus sentimentos e o ofendi de
uma só vez. Posso adicionar agora a irmã do ano ao meu título de mãe do ano.
“Não é isso que eu quero dizer,” imploro, “claro que você é e faz. Mas tem
que confiar em mim.”
“Seja como for, Waverly. Só espero que não envolva aquela garotinha em
suas besteiras. Você realmente quer ser rejeitada por ele novamente?”
Quando Matt desliga, olho para o meu telefone querendo chamá-lo de
volta, mas o carro para em frente ao prédio e eu já havia saltado. Agora,
preciso ver acontecer. Meu plano vai funcionar. Talvez não tão rapidamente
como pensei, mas funcionará. Estou certa que sim. Max assinará os papéis.
Pagando o motorista, saio.
“É apenas um dia, Waverly. Um dia,” digo a mim mesma.
BN TOLER

CAPITULO DEZ

Ela está chorando há vinte minutos. VINTE LONGOS E DOLOROSOS


MINUTOS. Tenho certeza de que meu cérebro está prestes a derreter. Faço
caretas, brinco com ela de joelhos, puxo praticamente todos os seus
brinquedos, aqueles que Waverly deixou empacotados, mas nada funciona.
Em pânico, pego meu celular e ligo para Helen, que disse que estará aqui
em uma hora. Então, o que diabos faço nesse meio tempo? Em desespero,
acesso a internet no telefone do Max. Talvez um vídeo do YouTube a distraia?
Que diabos as crianças assistem agora?
“Você gosta de motocicletas, Pim?” Pergunto a ela cantarolando. Puxo um
vídeo de duas motos esportivas correndo no asfalto. Assim que os motores
aceleraram, seu choro diminui, enquanto olha para a pequena tela do telefone,
inclinando a cabeça com curiosidade.
“Você gosta de motos?” Sorrio amplamente. “Você é incrível, garota.”
Depois de cinco vídeos de motos, a campainha toca e suspiro aliviado.
Helen veio ao resgate.
Abrindo a porta, digo:
“Obrigad-”
Um borrão de cabelo vermelho é tudo o que vejo enquanto Hel passa por
mim e, sem ao menos um olá, corre para a sala onde Pim está sentada no sofá,
ainda segurando meu telefone. Havia puxado a mesa de café longe do sofá e
colocado travesseiros e cobertores em torno dele. A criança é capaz de se sentar
bem, mas a última coisa que preciso é que ela caia de cara no chão.
“Oh, meu Deus!” Jorra Hel, apertando as mãos na frente dela. Virando a
cabeça, Helen olha para mim. “Ela é maravilhosa.”
BN TOLER

“Esta é Pimberly,” apresento.


Dando alguns passos, Hel se inclina e pega Pim. “Venha ver sua titia
Helen,” murmura.
“Ok, Helen,” intervenho, segurando minha mão como se para detê-la. “Não
se apegue e diga a essa garota que você é sua tia. Porque não é. Esta é a filha
de Max e ele nem sequer a quer.”
Helen franze o cenho enquanto pressiona a cabeça de Pim contra seu
peito, cobrindo sua outra orelha com a mão livre.
“Shh,” murmura Hel. “Não diga isso na frente dela.”
Junto minhas sobrancelhas. Minha irmã está louca. Apenas ontem ela me
golpeou na cabeça com um telefone e mal acreditava que eu era seu irmão no
corpo de outro homem, e agora quer ser tia da menina.
“Ela é um bebê,” digo secamente. “E não sabe o que estou dizendo.”
Helen levanta Pim a fim de olhar melhor para ela. Então, em uma voz de
bebê estridente diz:
“Isso não é verdade, é, Pim? Você é uma garota esperta. A tia Helen pode
afirmar.”
“Hel,” gemo com incredulidade. “Vai com calma com essa história de ser
tia, está bem?”
“Oh, Liam,” ela me silencia com um rolar de olhos dramático. “Só não sou
tecnicamente sua tia.”
“Não apenas tecnicamente, Hel! De modo nenhum. Você literalmente
conheceu Pim há dois minutos.”
“E daí?” Diz ela. “Nenhum bebê se machuca com um pouco de amor extra
na vida.”
Solto um rosnado conforme passo a mão pelo meu cabelo.
“O que acontece se voltarmos, Hel? O que acontecerá se nos ligarmos e
depois desaparecermos e Pim ficar com o verdadeiro Max, o imbecil que não a
quer?”
Helen franze o cenho, mas não diz nada. Ela sabe que tenho um ponto.
Mesmo se não tivesse, posso dizer que Hel não quer discutir o desconhecido —
o e se. Neste momento, tudo o que ela quer é brincar com a linda garotinha e
BN TOLER

esquecer o elefante na sala. Pim ri do meu telefone enquanto Hel o tira de suas
mãos gorduchas.
“Motociclismo?” Helen questiona, arqueando uma sobrancelha.
“Realmente, Liam?”
“Pim gosta da velocidade e do som,” defendo-me. “Estive observando por
vinte minutos, sendo a única coisa que encontrei para fazê-la parar de chorar.”
Hel balança a cabeça com o mais leve sorriso, enquanto se vira e olha o
apartamento.
“Você não estava brincando. Ele é cheio de dinheiro. Olhe para isso,” ela
ofega quando finalmente nota as janelas.
“Sim,” concordo. “A questão é como ele tem dinheiro? Não consigo
descobrir o que faz para viver. Se não aparecer para trabalhar, ele pode ser
despedido.”
“Você pesquisou no Google?”
“Uh. . . Não,” admito, sentindo-me estúpido por não ter feito isso já.
“Apenas vasculhei seu armário de arquivos e escrivaninha, mas essa é uma
boa ideia.”
Atirando-me o celular, Helen ordena:
“Pesquise sobre ele. Vou trocar esta pequena princesa.” Agarrando a bolsa
de fraldas, Helen corre para o quarto com Pim a reboque. Abrindo o navegador
da web, insiro seu nome e encontro alguns links. Pelo que posso dizer, Max
não está empregado. Não há muita coisa sobre ele, exceto um obituário, onde
foi nomeado como um sobrevivente do seu pai, que aparentemente, foi um dos
primeiros homens a investir em gás natural, e havia feito uma fortuna. Isso
explica a riqueza de Max, por herança.
“O que você achou?” Helen pergunta, quando retorna com Pim.
“Max está desempregado no momento. Seu pai faleceu há um ano,
deixando-lhe uma fortuna.”
“Deve ser legal,” Helen diz, bufando. “O que é que nós conseguimos de
herança? Um conjunto de colecionador de óculos Miller Lite e uma sala de estar
com cinco mil queimaduras de cigarro.”
“Não esqueça as despesas funerárias,” acrescento. Não, ninguém jamais
chamaria Hel e a mim de herdeiros. Nosso pai faleceu de câncer quando
BN TOLER

éramos adolescentes; um produto do Agente Laranja do Vietnã13. Nossa mãe


morreu de um coração partido um ano depois. É assim que chamávamos. Na
realidade, mamãe bebeu até a morte. Nossos pais não nos deixaram muito,
mas nossa avó tentou ajudar o máximo possível. De alguma forma, com sua
pequena aposentadoria, ela conseguiu deixar a cada um de nós uma caixa com
mil dólares e alguns itens sentimentais. Era mais do que deveria fazer, pois nos
deu muito antes de falecer.
“Oh, antes que eu esqueça,” Helen interrompe meus pensamentos.
Agarrando a bolsa, tira alguns papéis. “Você precisa preenchê-los para o
hospital desde que...” Ela faz uma pausa e reformula a frase, “Já que Max está
assumindo a responsabilidade pelas contas do hospital.”
“Ótimo,” eu resmungo. “Mais papéis.”
“O que isso significa?” Helen pergunta.
Explico a situação de Waverly querendo que Max assine os direitos
parentais e o empurrando duro para conseguir.
“É por isso que ela trouxe Pim aqui hoje, pois está tentando submeter
Max, e fazê-lo assinar.”
“Pelo que me disse, posso entender por que,” Helen se expressa. “O que vai
fazer?”
Balanço a cabeça, suspirando. “Não sei. Ainda enlouqueço por acordar
como Max e preciso descobrir como administrar o corpo de outro homem.
Agora, tenho sua filha esquecida e sua ex irritada me pressionando.”
Helen põe a mão no meu braço. “Precisamos dar um passo de cada vez.
Não descobriremos tudo em um dia. Primeiro, preencha esses formulários do
hospital para que seu corpo seja mantido no suporte, e então traçaremos um
plano.”
Balançando a cabeça, aprecio a ajuda de Hel de colocar as coisas no lugar.
É fácil se perder no porquê e como em tudo. Há tantas perguntas, mas se
espero encontrar respostas, preciso primeiro garantir que meu corpo viva, para
que possa obtê-las.
Depois de preencher a papelada, o que demorou muito, pois precisei
pesquisar pelos arquivos de Max para obter as informações de conta corrente e
número de segurança social, brincamos com Pim e rimos de seus pequenos

13 Um herbicida e desfolhante empregado na Guerra do Vietnã.


BN TOLER

modos peculiares. Ela é rápida e um pouco desajeitada. Às vezes, fica tão


concentrada em rir que tropeça em seus próprios pés enquanto caminha.
Foram várias as vezes que eu quis algum tipo de capacete de bebê, a fim de
mantê-la segura. Crianças assustam, e muito. Era como se assistíssemos à
esta pequena e adorável garota fazer todo o possível para se machucar, sem
nenhum esforço.
“Uh... O que é isso?” Hel pergunta, acenando com um pequeno objeto
quando volta do banheiro.
Tentando ver melhor, pergunto:
“O quê? Não sei.”
Pressionando seus lábios, ela me olha preocupada.
“O quê, Hel?” Pergunto, enquanto caminho com Pim ao meu lado, ela
segurando meu dedo com a mão minúscula a fim de manter o equilíbrio.
“Acho que são esteroides, Liam.”
Congelo e olho para sua mão.
“Tem certeza?”
Bufando, ela lança o objeto para mim.
“Olhe para si mesmo, Liam. Você acha que Max é assim, naturalmente?”
O corpo de Max é forte e magro, não posso negar. Perguntei-me se ele
comia apenas alface e vivia à base de malhação diariamente. Senti-me mal por
comer batatas fritas na noite anterior, como se estivesse sabotando-o, mas
repensei. Imaginei que o corpo magro de Max lidaria com a comida. Então algo
mais me ocorre, e não tenho certeza se quero discutir com Hel, mas com quem
mais eu falaria?
“Suas bolas são meio pequenas,” deixo escapar, e imediatamente me
encolho quando percebo o que disse na frente de Pimberly. “Desculpe,
querida,” sussurro para ela.
“Bolas,” balbucia Pim, fazendo Helen estourar em risos.
“Legal, Liam,” Hel ri. “Então Max tem pequenas...” Ela hesita, escolhendo
suas palavras cuidadosamente, “pequenas partes masculinas,” conclui Helen.
“Bolas!” Pimberly ri.
O rosto de Helen se ilumina quando sorri, quase à beira de uma
gargalhada, mas para quando lhe dou um olhar severo.
BN TOLER

“Então... são pequenas?”


Rosno, frustrado, porque ela sabe exatamente do que estou falando, mas
gosta de torturar-me. Então, me pergunto se estou realmente irritado ou se é
por causa de uma crise de abstinência, devido a mudança nos hormônios num
corpo que não é o meu.
“Sim, são pequenas, Hel,” digo claramente.
“Desceu lá e deu uma boa inspeção em tudo, não é?” Ela ri, enquanto se
senta no sofá. Reviro os olhos. Não deveria ter contado; sei que Hel vai me
incomodar por causa das pequenas bolas de Max. Não tenho certeza de como
me sinto sobre o fato de ter dado uma boa olhada ao seu pacote. É estranho.
Sempre que mijo, tenho que segurar o pênis de outro homem. Se tenho essa
sensação incômoda e desconfortável por habitar em seu corpo, imagina tocar
em seus genitais, é a cereja no bolo. Tão imaturo quanto parece, fiquei aliviado
ao ver que seu pau é consideravelmente do tamanho do meu, embora aposte
que o meu é um pouco maior. Se, por alguma razão, eu ficar preso no corpo de
Max para sempre, ter um pau pequeno, faria as coisas muito piores. A única
razão pela qual notei que seus testículos são pequenos foi ao tomar banho,
enquanto os lavava. No momento, pensei que era apenas um cara com nozes
pequenas, mas agora faz sentido. Ele não está limpo, e esteroides podem
encolher as bolas pela falta de testosterona. Helen continua a rir, mas decido
não responder à sua pergunta. Obviamente, verifiquei o equipamento. Como se
alguém em minha posição não tivesse. Não há necessidade de me defender.
“Então, além de estar no corpo desse babaca, estou lidando com a
carnificina dele abandonando a filha, a ira de uma mulher que foi desprezada e
agora tenho que suportar os sintomas da abstinência de esteroides?” O rosto
de Helen está vermelho, e ela ri tão forte que não sai nenhum som. “Isso não é
engraçado, Helen.” Insisto, levantando Pim e a colocando em meu quadril.
Helen encobre a boca com uma mão, como se isso me cegasse do fato dela
estar rindo, então ergue a outra, como se pedisse desculpas. Leva alguns
momentos até que ela fale.
“Não tenha medo, irmão mais velho. Parece que ele estava preparado,”
Helen intervém, enxugando as lágrimas dos olhos. “Há suplementos para
aumentar a testosterona.”
“Como sabe tanto sobre essas coisas?”
BN TOLER

Helen dá de ombros. “Assisti a um documentário na ESPN com David.


Com ele no futebol e no beisebol, queria horrorizá-lo para ter certeza de que
nunca os usaria.”
A campainha toca e meu coração salta do peito. Havia planejado que
Helen saísse por volta de 13:30 h, assim ela estaria fora, antes de Waverly
retornar. É apenas meio-dia.
“Merda,” dou um sussurro alto. Não pode ser Waverly. Ela não devia estar
de volta por mais de uma hora. Movendo-me pelo chão como um ninja, vou até
a porta sem fazer um som e espio através do olho mágico, antes de deixar cair
a minha cabeça. É ela. “Merda,” murmuro para mim mesmo.
“Merda,” imita Pim em sua pequena e adorável voz de bebê. Meus olhos
quase saltam para fora da minha cabeça.
“Merda,” falo de novo sem pensar, e percebo que acabei de ensinar esta
menina a dizer uma palavra ruim.
“Liam,” repreende Hel, seus olhos arregalando-se.
“Merda, porra, desculpe,” peço desculpas a Pim. “Merda,” digo novamente,
notando que continuo a repetir a palavra, e adicionando outra ruim só para
piorar. Trabalhar em uma oficina mecânica a maior parte da vida não me
trouxe um vocabulário recatado. Claramente, precisarei trabalhar nisso, ou
serei responsável por crianças de todos os lugares tendo suas bocas lavadas
com sabão.
“Isso realmente está acontecendo?” Pergunta Hel a ninguém em
particular, em descrença, por eu ter falado tantos palavrões em poucos
segundos.
“Não diga essa palavra, pequena. Sua mãe vai cortar minhas bolas por eu
ter lhe ensinado isso.”
“Bolas,” Pimberly balbucia em sua bonita voz de bebê. Bato a mão na testa
em frustração.
“Liam!” Hel repreende novamente, enquanto pega Pim de mim e a coloca
em seu quadril.
A campainha toca novamente, só que desta vez, cerca de sessenta vezes
em um período de três segundos. Waverly é impaciente. Paro, congelado no
lugar, por algum motivo, inseguro do que fazer. Tudo que faço é olhar Hel com
os olhos arregalados de pânico. Waverly está aqui. Que diabos farei?
BN TOLER

“Atenda a porta, idiota,” Hel sussurra alto, jogando a mão no ar, em


ênfase.
“Certo. Boa ideia,” concordo, dando um pulo. Apressandamente ando em
direção a porta e abro-a, fazendo Waverly, que está do outro lado esperando,
pular, aparentemente surpresa.
“Oi,” digo, meio áspero. “Chegou cedo.”
“Uh, oi,” responde desajeitadamente. “A aula foi cancelada, então voltei
cedo,” ficando nas pontas dos pés, ela espia por cima do meu ombro. “Como
foi?”
Ficando de lado, abro mais a porta para deixá-la entrar. Waverly passa
por mim e para, assim que avista Hel segurando Pim. Virando o pescoço, ela
olha para mim, estreitando os olhos em óbvia raiva.
“Quem está segurando minha filha?” Pergunta, sua boca apertada. Seu
tom não deixa dúvidas de que está chateada.
Droga. Não pensei em como apresentar Helen, que deveria ter ido antes
que Waverly voltasse.
“Uh... Esta... É....” Paro, oficialmente perplexo, deixando óbvio que não
tenho ideia do que dizer.
“Sou Helen.” Hel me socorre, estendendo a mão para cumprimentar
Waverly. Minha irmã está tensa, nervosa até. Estamos atordoados por toda
esta bagunça, e não é nada fácil. Waverly pega a mão de Helen, mas só por um
segundo antes de arrancar Pim de seus braços. “Sou amiga de... Li.... Quer
dizer, Max,” se corrige ela.
Passando por Helen, Waverly começa a pegar as coisas de Pim e a jogá-las
no carrinho.
“Você não poderia ficar algumas horas sem ligar para uma de suas
namoradas, Max?”
“Oh... Eca.” Helen fica momentaneamente silenciosa. “Não.
Definitivamente não sou uma namorada.” Ela se encolhe e dá de ombros,
fazendo mímica como se estivesse prestes a vomitar seu café da manhã. Reviro
os olhos e balanço a cabeça.
Waverly continua a guardar os pertences de Pim sem dar atenção à Helen.
Inclinando-me, em silêncio, digo à minha irmã:
BN TOLER

“Esse não foi o seu melhor desempenho, mas a parte em que você ficou
esgasgada e não conseguia falar teve um ótimo efeito.”
Fechando os olhos, ela balança a cabeça uma vez, reconhecendo que
pareceu ridículo.
“Ela já comeu,” digo a Waverly. “Pim tem um bom apetite.”
Silêncio.
Waverly não responde nada.
Volto meus olhos para Helen, e os arregalo em uma pergunta silenciosa. E
agora?
Helen morde o lábio, com um olhar de incerteza em seu rosto, obviamente
desconfortável com o silêncio antes de dizer abruptamente:
“Ela fez cocô cerca de uma hora atrás. Boa quantidade e consistência.”
Olho para Hel e mudo minhas feições em um: Por que diabos está falando
sobre seu cocô? Helen revira os olhos, jogando as mãos para cima em defesa,
seu próprio olhar em mim, dizendo: Pelo menos eu disse alguma coisa, idiota.
“A mãe precisa saber sobre isso,” defende-se Hel. “Se eles não fazem ou se
é muito duro quer dizer que podem estar constipados, ou se é solto ou líquido,
podem estar desidratados. Cocô é importante,” conclui, desajeitadamente.
Levanto a mão e esfrego a testa. Este é um grande acidente de trem.
Waverly provavelmente pensa que Helen é louca.
“Obrigada pela informação,” Waverly fala. “Tem filhos, Helen?”
“Um filho,” Helen responde, sua boca curvando em um sorriso enquanto
pensa em David. “Ele tem treze anos. E,” colocando a mão dela em sua barriga,
com uma pequena protuberância, acrescenta, “tenho um a caminho, também.”
Se um olhar pudesse envenenar, eu ficaria cego, morto ou queimado. Os
olhos escuros de Waverly fixam-se na protuberância de Helen, antes de me
olharem com tanta raiva que tive que dar um passo para trás.
“Muito bem, Max,” diz ela. “Esquecerá esse bebê, também?”
Rapidamente, Waverly agarra o puxador do carrinho e leva-o para a frente,
arrastando-o entre Helen e eu.
“Inacreditável,” Waverly murmura, enquanto se dirige para a porta da
frente com Pim em seu quadril.
BN TOLER

Helen vira para mim com os olhos arregalados, quando aponta um dedo
firme em sua barriga.
“Ela acha que este é seu bebê.”
Não quero zombar de Waverly, mas Helen é minha irmã. Não importa se
estou no corpo de Max ou não, o pensamento é grosseiro.
Hel bate no meu braço, fazendo-me parar com a zoação.
“A bebê do Max, Liam. Vá atrás dela, idiota!” Virando-me em direção a
porta, Hel me empurra para chegar a Waverly no elevador.
“E dizer o quê? Ela me odeia.”
“Ela não odeia você. E sim Max. Você pode consertar isso.”
Eu paro, congelado em meus pés, fazendo Helen grunhir enquanto ela
tenta mover-me, sem sucesso. Girando para encará-la, digo:
“Helen, eu não sou Max. Não posso fazer nada que altere sua vida. E se
nós trocarmos de corpo novamente e eu tiver fodido seus planos?”
“Bem, pelo menos você sabe que este não é o bebê dele, Liam. E pode
consertar isso. Não permita que Waverly saia, pensando que o idiota morto
deixou sua filha, enquanto se preparava para ser pai de outro.”
Apertando os punhos, gemo. Odeio isso. Odeio ser Max. Sua vida é uma
teia de egoísmo que faz todo mundo se sentir como merda. Agora eu tenho que
descobrir uma maneira de acalmar Waverly, enquanto ela tem vontade de
cometer um assassinato.
“Waverly!” Grito, enquanto corro para o corredor. Ela já está no elevador;
as portas acabam de abrir quando a encontro. No momento em que me vê,
empurra o carrinho para dentro e levanta Pim mais para cima em seu quadril,
antes de começar a bater repetidamente no botão para que as portas se
fechem. Mal consigo alcançá-la a tempo e, momentos antes das portas
fecharem, enfio o pé no meio e as paro.
“Sério?” Pergunto, quase sem fôlego pela corrida.
“O quê, Max?” Retruca ela. “Meu táxi está esperando.”
“Aquele bebê não é meu,” gaguejo, apontando o polegar na direção do meu
apartamento. “Definitivamente não é meu,” reafirmo quando o pensamento
mais uma vez me faz tremer.
“Oh?” Bufa Waverly. “Planejando desmentir esse, também?”
BN TOLER

Seus olhos escuros encontram os meus, como se me falassem que Waverly


está em algum lugar entre acreditar ou pensar que sou um mentiroso em
negrito, antes de desviar o olhar.
“Eu juro. O bebê realmente não é meu.” Não me ocorre naquele momento
que não sou eu a jurar, e sim Max; e para Waverly, suas promessas não
significam merda alguma.
Sacudindo a cabeça algumas vezes, ela respira fundo.
“Não me importo,” responde ela, seus olhos fixos nos botões do elevador.
“Agora vá.”
Olho-a por um momento. Deixo-a ir embora? Odeio que Waverly saia
quando ainda está com raiva, mas o que mais posso fazer? Ela está ferida. Não
só porque pensa que o bebê de Helen pode ser de Max, mas no geral. Esta é
uma dor construída ao longo de um tempo; uma mágoa que nunca fora
reconhecida, pelo menos não por Max. Em algum lugar ao longo do caminho,
esse homem a quebrou e de alguma forma Waverly existe com a dor sobre ela,
tão natural como sua pele. A maneira como seguiu em frente com tanta força
deixa-me com temor. A dor não é tradicionalmente bela, mas de algum jeito,
quando se trata de Waverly, é. Essa mulher é como vidro quebrado, onde
alguém pode reagir rapidamente, pegando os pedaços, esperando consertá-los,
só para encontrar-se cortado; não há dúvida de que uma mulher como esta
pode fazer um homem sangrar. Mas vidro quebrado não é sempre uma
bagunça arriscada. Se alguém tiver a paciência de simplesmente sentar e
esperar, verá que às vezes a luz atinge os estilhaços espalhados apenas do jeito
certo, e então aquela bagunça brilha como nunca antes.
“Vou deixá-la aqui amanhã às oito horas,” acrescenta Waverly, pouco
antes das portas do elevador se fecharem. Retorno dos meus pensamentos e,
felizmente, ela não percebe. Droga. O que eu faço?
Arrastando-me de volta ao apartamento, bato a porta atrás de mim e
passo as mãos pelo cabelo enquanto solto um grunhido de frustração.
“Como foi?” Pergunta Helen da cozinha, onde toma um copo de água na
frente da pia.
“Nada bom,” resmungo. Abrindo a geladeira, rosno novamente. “Ele nem
tem comida aqui. Não há nada neste lugar, exceto queijo e a porra de vinho
extravagante.”
BN TOLER

“Não odeie vinho extravagante.” Helen brinca para aliviar minha


frustração, “Concebi dois bebês sob a influência dele.”
Apesar da minha raiva, bufo uma risada.
“Duvido que tenha sido um vinho extravagante quando concebeu David,”
retruco, ainda olhando para a geladeira. “O pai dele provavelmente comprou
algo de cinco dólares ou menos no posto de gasolina.”
“Bem, para pessoas tão jovens como nós, foi extravagante naquele
momento,” ela dá de ombros.
Fechando a porta da geladeira, agarro meu cabelo com os punhos.
“Sinto que estou ficando louco.”
“Você não está,” me assegura Hel. “É apenas fome. Pegue um hambúrguer
em algum lugar e trarei alguns mantimentos de manhã para você.”
“Ela trará Pim novamente amanhã.”
As feições de Helen se iluminam enquanto sorri amplamente.
“Ela vai?”
“Helen,” meu tom de aviso.
“Oh, pare com isso,” acena desdenhosamente com uma mão, “Já pensou
no que acontecerá se você nunca deixar esse corpo, Liam?”
Encaro-a, sem expressão. Apenas deixo minha mente pôr o dedo na
grande piscina que é este pensamento; testando a água, nada mais. Me
aventurar demais nessa direção pode ser perigoso. Não quero me apegar à vida
de Max, quer fosse pelo seu dinheiro e apartamento extravagante, ou por sua
linda ex e filha adorável — nenhuma das quais ele queria. Sem mencionar que
seu pau é menor do que o meu, talvez apenas um pouco, mas não quero me
acostumar com isso. No entanto, a piscina desse pensamento está ficando
maior e não demorará para que pule e nade na água. Há também a realidade
de que se eu, de fato, ficar em seu corpo permanentemente, terei que mudar
tudo, começando com seu comportamento egoísta.
“Você pode ser o pai dela, Liam,” Helen acrescenta, seu tom um pouco
triste, mas esperançoso.
“Não,” declaro com firmeza. “Não vá por esse caminho, Helen.”
Ela coloca seu copo no balcão e caminha em minha direção.
BN TOLER

“Isso é apenas hipotético,” afirma Helen. “Tudo o que estou dizendo é que
sim, esta situação é uma porcaria, por um lado, mas se você ficar preso aqui,”
cutuca meu peito para enfatizar o corpo em que estou habitando. “Há um forro
de prata14.”
“E então?” Dou uma risada. “Apenas assumirei sua identidade
completamente? Fingirei ser o pai daquela menina?”
“Por que não?” Pergunta Hel. “Não é como se aquele idiota a quisesse.”
Pego as chaves de Max do balcão e abro a porta da frente, indicando que é
hora de Helen ir. Sei que o coração da minha irmã está certo, ela está apenas
tentando me mostrar o lado bom de tudo isso, mas ainda não estou pronto.
“Não faça isso,” lhe aviso. “Nenhum de nós pode ficar aqui. Você entende?”
“Liam,” ela respira meu nome como se eu estivesse sendo ridículo.
“Max,” digo a ela. “Por agora é imprescindível que me chame de Max. A
última coisa que preciso é apaixonar-me por uma garotinha que não é minha,
ou fazer com que ela se apegue a Max, só para deixá-la mais tarde. O que isso
faria com sua cabecinha?”
“E se você ficar como Max para sempre, Liam? Apenas manterá todos à
distância? Como será feliz se não conseguir viver?”
“Eu não sei!” Eu grito, e imediatamente ergo a mão em desculpas. “Foram
apenas dois dias, Hel. Só me dá... um minuto, ok?”
Ela franze o cenho, mas balança a cabeça, como em um acordo.
“Vou ver seu corpo, ou Max, eu acho, no hospital. Quer se juntar a mim?”
“Não,” eu gemo. “Acho que vou dar um passeio... limpar a mente. Você não
precisa ir, sabe disso.”
“Sei, mas eu quero.” Aproximando-se de mim, Helen envolve os braços ao
redor de meu pescoço e me abraça firmemente. Então, dando um passo para
trás, dá um tapa no meu rosto.
“Por que diabos você fez isso?” Resmungo de dor, enquanto esfrego minha
bochecha.

14Frase usada para dizer a alguém que há um lado mais brilhante para o problema que estão
enfrentando. A frase vem do fato de que cada nuvem de chuva escura tem uma borda de prata,
ou forro.
BN TOLER

“Porque você realmente está sendo um pé no saco.” Helen repreende


enquanto passa por mim, com a bolsa balançando sobre seu ombro. “Tente
dormir um pouco hoje à noite. Você parece uma merda.”
Eu bufo conforme a observo partir.
“E leia as instruções desses rótulos,” Helen grita por cima do ombro.
“Agora que parou com os esteroides, os níveis de estrogênio estarão acima do
normal. E você agirá como uma cadela por um tempo.”
Nesse momento, a porta do apartamento mais próximo do elevador se abre
e uma mulher mais velha, de cabelos grisalhos curtos, sacode a cabeça, com o
rosto torcido de desgosto. Ela deve ter ouvido a afirmação de Helen sobre eu
chorar como uma cadela.
“Olá,” aceno, envergonhado por ela ter ouvido a conversa. Com um lábio
enrolado, a mulher bufa e bate a porta.
“Obrigado, Hel.” Digo de forma irônica, enquanto ela está de frente para o
elevador, seus ombros sacudindo pelo riso. Virando-se, à medida em que entra
no elevador, Helen cruza os braços e me olha de cima a baixo, sua boca torcida
em desgosto.
“Por favor, vá comprar roupas novas,” murmura ela.
As portas se fecham e rio para mim mesmo. Minha irmã. A mais doce
pequena idiota que você conhece.
Com as chaves de Max na mão, estou pronto para sair quando algo me
chama a atenção. Uma minúscula girafa de pelúcia branca; um dos brinquedos
de Pim. A pego e inspeciono, rindo um pouco, quando lembro de fingir ser a
girafa enquanto cantava para Pim com uma voz pateta. Ela riu até não
aguentar mais. Colocando-a no balcão, balanço a cabeça.
“Não se apegue, Liam,” resmungo para mim mesmo.
BN TOLER

CAPITULO ONZE

Pim e eu chegamos em casa cedo, então depois de uma longa caminhada


ao redor do bairro e algum tempo em um playground nas proximidades, ela
está exausta. Acabo de dar o seu jantar quando Matt chega em casa. Pelo jeito
lento como se move, percebo que ele está cansado. Talvez esteja preocupado
com Pim ficar com Max o dia inteiro ou quem sabe teve apenas um dia
cansativo. Metade da sua camisa está fora da calça, dando a impressão de que
esteve na sujeira o dia inteiro — Trabalhar como empreiteiro geral não é o
trabalho mais limpo.
Matt murmura somente um olá para mim, claramente ainda infeliz
comigo, mas consegue dar uma saudação mais amigável para Pim. Sentando-
se ao lado dela, o observo perifericamente enquanto ele a inspeciona, erguendo
os braços e olhando para o fundo de seus pés. Não sei o que procura. Será que
pensa que Max bateria com varas de bambu nela ou algo assim?
“Ela está bem, Matt,” falo murmurando.
Antes que ele possa responder, a porta dos fundos se abre, e ouvimos um
"Olá," em uma voz animada. Alice, a namorada de longa data de Matt, entra
com um sorriso brilhante no rosto.
“Está tão quente lá fora,” Alice geme, enquanto chuta seus sapatos para a
pilha cada vez maior e pendura sua bolsa na porta. “Tenho todas as malas
embaladas e tudo o que temos a fazer é ir até meu apartamento no caminho
para o aeroporto e pegá-las. Acho que embalei tudo, mais a pia da cozinha...”
Alice brinca, enquanto ventila o topo de seu vestido para amenizar o calor. Seu
cabelo está puxado para trás em uma presilha e seu vestido úmido com suor.
“Amo o verão, mas essa umidade é....” Ela para em seu caminho e suas
BN TOLER

palavras também, quando finalmente nos vê. Olha de Matt para mim, então de
volta para ele, e levanta as sobrancelhas em questão. “É... Tudo certo?”
“Por que você não pergunta a Waverly?” Matt responde friamente, sem
olhar para ela, enquanto beija a mão de Pim.
Fecho os olhos para evitar que rolassem e solto um suspiro derrotado.
“Olá, Alice. Sim, está tudo bem. Matt e eu estamos discutindo um pouco.”
“Não,” Matt intervém. “Waverly apenas ficou louca.”
“Matt,” digo calmamente, lembrando que, embora discordássemos sobre
isso, sua preocupação vem do seu amor por Pim. “Você está exagerando.”
“Ele assinou os papéis?” Novamente, Matt não olha para mim.
Espero um momento, enxaguando o pote em minhas mãos antes de
responder.
“Não.” Eu realmente não perguntei novamente. Estava doente de
preocupação por causa de Pim e abandonei minha segunda aula porque não
pude suportar a ideia de deixá-la com Max por mais tempo, apenas para
aparecer e descobrir que tudo correu bem e ele tinha outra mulher lá com meu
bebê nos braços. Uma mulher grávida, para completar. Acredito que o bebê não
é dele, apenas porque Max nunca negou a paternidade de Pim, ele
simplesmente se recusava a fazer parte da sua vida.
“Então, seu plano não funcionou?” Posso ouvir um eu te disse em sua voz.
Voltando-me para ele, limpo as mãos em um pano de prato.
“Não, mas funcionará.”
Um sulco se forma entre suas sobrancelhas e sua boca torce para um
lado, com o famoso olhar irritado.
“Será?” Pergunta ele, seu tom sério.
“Vou levá-la de volta amanhã,” respondo. A decisão de fazer isso é sólida,
mas na minha voz definitivamente falta a convicção que preciso ter neste
momento. Em pé, Matt levanta Pim da poltrona e beija-lhe o rosto, sem
importar-se com as cenouras manchadas por toda parte. Pim ri quando Matt a
beija, mesmo que estremeça um pouco por causa da barba dele.
“Vou dar banho nela,” diz, secamente. Ele está chateado e usa Pim como
uma razão para sair da sala.
“Matt,” Alice tenta intervir, talvez como uma mediadora entre nós.
BN TOLER

“Agora não, Alice,” adverte. Seu tom não é rude, mais como por favor, me
dê algum espaço. “Agora, é hora do banho.”
“Tem certeza?” Pergunto, um pouco surpresa. “Sei que você teve um dia
longo.”
“Tenho certeza. Alice e eu saíremos amanhã para nossa viagem e não verei
Pim por duas semanas,” murmura enquanto sai da cozinha. Olho para a porta
depois que Matt sai, uma sensação desconfortável se assentando sobre mim.
Odeio chateá-lo, pois ele é a minha rocha. O que mais me perturba, porém, é a
ideia de que Matt pode estar certo. E se isso se volta contra mim?
“Quer me contar?” Alice pergunta, enquanto puxa uma cadeira e senta-se
à mesa. Ela está com Matt por cinco anos e o conhece tão bem quanto eu, e
tornou-se mais como uma irmã para mim do que apenas a namorada do meu
irmão.
“Max não assinou os papéis, então tomei uma atitude,” explico
simplesmente, como se isso fosse suficiente explicação. Tiro a bandeja da
cadeira de Pim e a levo de volta à pia para lavar.
“E o que exatamente você fez?” Alice me pergunta.
“Apareci em seu apartamento e deixei Pim com ele.”
“Waverly!” Ela ofega como se eu fosse louca.
“Por favor, não comece,” lhe imploro. “Entendi. Eu entendo, mas
momentos de desespero exigem medidas desesperadas.”
Indo para a geladeira, ela agarra uma cerveja e volta para seu assento.
“Bem... como foi?”
Isso é difícil de admitir, mas não tenho escolha.
“Não exatamente como planejei, mas isso vai funcionar. Vai,” defendo-me.
“Você está preparada para as consequências se isso não acontecer?”
É uma pergunta justa, embora eu a odeie por fazê-la. A verdade é que não
tenho certeza. Não pensei muito sobre isso de antemão, porque estava tão certa
de que Max desistiria no primeiro momento.
“Sim.”
“E está certa de que colocar Pim nessa situação é o melhor para ela?”
BN TOLER

“Max é um idiota gigantesco, mas ele nunca iria machucá-la,” o defendo,


um pouco aborrecida. Entendo eles pensarem que é ruim para Pim, mas
acreditar que eu possa colocá-la no caminho do dano? Max nunca a
machucaria... não fisicamente, de qualquer maneira. Nisso acredito. Quanto a
ele ser um cara egoísta, Pim é jovem o suficiente para que não lembre nada
disso. Alice levanta as mãos em rendição.
“Escute,” Alice começa, enquanto puxa o prendedor e deixa seu longo
cabelo preto solto. “Você é uma das melhores mães que conheço. Sei que
nunca a colocaria em perigo, mas Waverly,” ela suspira, “não é só com Pim que
me preocupo. Levou-lhe anos para superar o que Max fez e você está indo bem.
Não posso deixar de sentir como se você estivesse colocando-se de volta na
cova do leão e levando Pim junto.” Pondo a bandeja, que acabo de enxaguar, no
balcão para secar, eu bufo.
“Ou faço com que Max assine os papéis, me dando Pimberly, ou ele vai me
atrasar pela vida toda. Preciso sentir algum controle sobre isso. Sei todos os
provérbios, não cutuque o urso ou não acorde um cão dormindo. Entendo. Vocês
estão preocupados de que vou provocá-lo a fazer algo muito pior do que apenas
esgotá-lo para assinar os direitos à minha filha, mas Alice,” inalo
profundamente, “não é justo.”
“Não, não é,” concorda ela, “mas a vida nem sempre é justa, Waverly.”
Quando não respondo, Alice acrescenta: “Por favor, apenas tenha cuidado. Vou
falar com Matt.” De pé, ela aperta meu ombro e completa: “Mas estarei
bebendo a garrafa de Pinot na geladeira, e você me deve outra.”
“Por quê?” Questiono.
“Por que acalmá-lo o suficiente, e fazê-lo voltar à razão envolverá alguma
persuasão oral da minha parte.”
Tremo.
“Oh... Isso é.... sim,” estremeço. “Não precisava saber disso."
“Você me deve,” Alice reitera. “E, apenas saiba, estou sempre aqui para
você.”
“Obrigada, Alice.” Eu a amo. Matt precisa se casar com a garota o mais
rápido possível.
“A seu dispor.” Ela vai até a geladeira, coloca a cerveja engarrafada na
prateleira, e pega a garrafa de Pinot, puxa o abridor de vinho da gaveta e uma
taça do armário, a fim de pôr em prática sua maneira de acalmar meu irmão.
BN TOLER

Uma vez que Alice está fora da cozinha, fecho a torneira antes de secar as
mãos.
Jogando o pano de prato no balcão, decido não pensar mais nisso. A
decisão foi tomada. É apenas uma questão de tempo antes de Max quebrar sob
a pressão de ser pai; só preciso ter paciência. Quando Max assinar os papéis
renunciando seus direitos à Pim, Matt ficará extasiado. Só preciso de mais
algum tempo.
BN TOLER

CAPITULO DOZE

Na manhã seguinte, quando chego ao lobby do prédio de Max, um homem


baixo de cabelos grisalhos me cumprimenta.
“Posso ajudá-la, senhorita?” Pergunta gentilmente.
“Estou bem, obrigada,” lhe informo. Pim olha para ele e acena com sua
mão minúscula. O porteiro sorri e acena de volta.
“Ela não é preciosa?” Ele diz, sorrindo para minha filha. Então, olhando
para mim, pergunta: “Posso perguntar quem você vai visitar hoje?”
“Max Porter.”
Ele olha para mim como se eu fosse louca.
“O Sr. Porter está esperando você?”
“Sim,” o informo, um pouco irritada com a pergunta. Por que esse homem
age como se Max morasse em Trump Tower ou algo assim, e precisa que seus
convidados sejam verificados?
“Muito bem,” ele inclina o chapéu. “Tenha uma boa visita.”
Cheguei ao prédio de Max vinte minutos mais cedo que o previsto e rio
para mim mesma, enquanto Pim e eu entramos no elevador.
“Ele vai ficar tão louco. Nós o acordamos dois dias seguidos, não é?” Falo
para Pim com uma voz tola. Ela ri, mesmo que não tenha ideia do que estou
falando. Quando chegamos à sua porta, decido ir com o toque a campainha
1000 vezes em trinta segundos; como no dia anterior. Isso realmente o deixará
irritado. Quem sabe com isso ele até assine os papéis.
BN TOLER

Só consigo chegar a três toques quando a porta se abre, fazendo-me pular.


Max sorri, erguendo uma sobrancelha. O olhar é brincalhão, quase divertido —
definitivamente não contava com isso.
“Bom dia, senhoras. Estive esperando por vocês,” afastando-se, ele abre
mais a porta e sinaliza com uma mão, convidando-nos para entrar. Max está
vestido casualmente em jeans e camiseta branca. As roupas parecem novas,
não como qualquer outra que ele usaria normalmente. Max parece... bem, não
do jeito que me lembro, quando pensei estar apaixonada. Naquela época, Max
era sedutor e elegante. Agora, ele é mais áspero e genuíno. E tanto quanto me
odeio por perceber, está melhor do que nunca.
Forçando-me a ignorar a sua aparência, reviro os olhos, frustrada por ele
parecer tão feliz quando puxo o carrinho cheio das coisas de Pim.
“Acho que o porteiro excessivamente simpático lhe deu a informação de
que estávamos aqui,” afirmo.
“Como uma questão de fato, ele não passou nenhuma informação.
Levantei-me cedo, como um menino grande, por conta própria.”
Ao entrar na sala de estar, noto que a mesa de café e de centro sumiram.
“Não gosta de crianças tocando todo aquele vidro limpo, hein?” Repreendo-
o, quando deixo Pim de pé no chão.
“Na verdade,” ele começa, quando se inclina e acena para Pim. “Coloquei
as mesas no quarto dos fundos para que Pim não tropeçasse, caísse e batesse
a cabeça. A menina quase me deu um ataque cardíaco ontem.”
Quero rosnar de frustração. Que diabos está acontecendo com ele? Max
fez algo completamente altruísta e ouso dizer... agiu como um pai? Abro a boca
para lhe perguntar exatamente isso, mas sou interrompida por Pim fazendo:
“Vroom, vroom.”
Ergo minhas sobrancelhas enquanto sorrio.
“Você está fazendo sons de carro, bebê?” Sorrio, esquecendo como odeio
Max por um momento.
Quando ela faz os sons novamente, Max ri em voz alta, um som alto e
profundo que faz nó em meu interior. Não tenho certeza se já ouvi ele rir assim
antes.
“Você quer assistir as motocicletas, querida?”
BN TOLER

Meu coração aperta com suas palavras. Max chamou Pim de querida. Isso
significa que está se apegando? Meu estômago se torce enquanto o observo,
horrorizada. Pegando seu celular, toca a tela algumas vezes e entrega o telefone
para Pim apenas quando um motor alto é ouvido. Ela imediatamente se senta
no chão, o estofamento da fralda amortecendo a queda, e olha para a tela. Max
a observa enquanto se levanta, um olhar de adoração no rosto. Quando ergue
os olhos e encontra os meus, seu sorriso largo imediatamente cai e ele balança
a cabeça como se acordando de algum sonho.
“Corridas de moto,” explica com desdém. “Pim gostou de vê-las ontem.”
“Desde quando você assiste corridas de motocicleta?” Pergunto, enquanto
cruzo os braços, em descreça com o que estou ouvindo e vendo.
Ele encolhe os ombros e inala profundamente.
“Apenas um... passatempo por agora, eu acho.”
O encaro, mas Max olha para qualquer coisa, menos para mim. O
ambiente está quieto, exceto pelos sons das motos em seu telefone e Pim
fazendo "Vroom, vroom". Há uma parte minha que quer arrancá-la e sair
correndo de lá, mas então me lembro de algo: Max ama jogos. Ele adora me
irritar e este é, provavelmente, apenas mais um exemplo disso. O homem deve
ter adivinhado meu jogo final: quebrá-lo para fazê-lo assinar os papéis. Pelo
que vejo, ele tem abraçado o desafio e está vencendo, o que me deixa
cambaleante. Talvez meu plano não funcione e Matt esteja certo. Max sempre
foi bom em me fazer duvidar. Não ajuda que, não importa a situação, Max
tenha essa autoconfiança que nunca parece ir embora. Isso, por si só, é
intimidante. Me considero uma mulher confiante, mas não estou nem perto do
seu nível. Como a maioria das pessoas normais, sempre tenho dúvidas e me
questiono sobre o que acontecerá. E Max não se importa com as situações ou
potenciais colisões ao longo do caminho, pois tudo ocorre exatamente do jeito
que ele quer, apenas pelo fato de querer isso. Por um lado, eu sei que não é
fácil lutar contra alguém que tem tanta certeza de si. É intimidante. Por outro
lado, invejo-o, desejando ser assim, às vezes.
Mordo o lábio inferior enquanto olho para Pim, e travo uma luta interna,
pois ela parece... feliz. Minha filha ficou bem no dia anterior com Max. Devo
deixá-la novamente? Então lembro da senhora que estava aqui no dia anterior.
Qual o nome dela? Helen? Voltaria hoje? Odeio a ideia de outra mulher que não
conheço com minha filha, mas quem sabe Pim seja melhor cuidada se ela
estiver aqui. Olho para Max e digo:
BN TOLER

“Bem, Hel-” Minha língua emudece e a frase termina abruptamente


quando encontro o olhar intenso de Max, que não parece irritado... não, é outra
coisa. Mais como...
Não.
Não posso pensar nisso.
Ele me olha com desejo? Me lembro do seu jeito quando está excitado e
esse olhar... não é ele, pois parece mais escuro... misterioso, como algo que não
consigo explicar. Desviando o olhar, me inclino e beijo Pim. Tenho que sair de
lá. Não posso me prender no seu olhar sensual. O fato de achá-lo remotamente
sexy quando sei quem ele é quer dizer que estou perdendo este jogo.
“Tenho que ir,” murmuro. “Pim tomou o café da manhã. Há um caderno
no saco de fraldas para você escrever quando ela come, tira soneca e faz cocô.”
Abaixando a cabeça, Max belisca a ponta do nariz.
“Ok, isso é bom,” resmunga ele. “A que horas você volta?”
“Três. Chame-me se precisar de alguma coisa.” Beijo Pim uma última vez e
converso comigo mesma, Vai ficar tudo bem, Waverly. Pim ficará bem.
Max me segue até a porta e fica encostado nela quando saio do
apartamento. Cruzando os braços, ele sorri.
“Vou cuidar bem dela, Waverly.”
Olhando para ele, respondo:
“Se você se importa Max, então assinará os papéis.”
Não olho para trás enquanto marcho para o elevador, meu sangue
bombeia com força à medida em que aperto o botão de chamada
insistentemente. Minha raiva tem muitas facetas, não apenas a irritação por
Max não assinar os papéis. Não, é muito mais complexo do que isso. Odeio-o e
fico zangada justamente por isso. Quero me sentir indiferente, não importa o
quão mau penso que ele seja. Quando inventei este plano louco para subjugá-
lo, tornando-o um pai à força, não havia percebido que a velha dor retornaria
com força, nem que as más lembranças seriam revividas. Pensei que tinha
passado por tudo isso, mas pelo jeito, não.
Max rejeitá-la e fazer absolutamente tudo para não ter que vê-la era o
esperado. Ele a acolher, aparentemente sem qualquer objeção, não era
esperado. O que está acontecendo? Implorei-lhe, várias vezes, para vê-la, amá-
la, e cada vez o homem rejeitava minhas súplicas. Max pode amar me torturar,
BN TOLER

mas mesmo eu sei que ele não vai tão longe para fazer isso. Então, o que é?
Será que Max quer fazer parte da vida de Pimberly? Mudou de ideia? Ou é
como uma corrida experimental em que ele está testando seus limites? A
percepção de que esta situação pode não funcionar positivamente me preocupa
e pesa sobre mim agora. Max pode acabar querendo Pimberly como parte da
sua vida e, embora, fosse algo que eu queria no passado, evoluí desde então, e
não quero mais isso. O fato é, mesmo que ele tenha se tornado um novo
homem, Max não a merece. Não depois de tudo o que fez.
Quando as portas do elevador se abrem, uma lágrima escorre pelo meu
rosto enquanto revivo uma das memórias mais dolorosas da minha vida.
Max tem trabalhado na empresa Phelps e Winsor por pouco mais de um
ano. Na verdade, um dia depois de receber o telefonema do próprio Sr. Winsor,
oferecendo-lhe a vaga, foi o dia em que ele me levara para Las Vegas e nos
casamos por um imitador de Elvis. Como era um trabalho que ele queria
desesperadamente, me considerou seu amuleto da sorte quando conseguiu, daí o
casamento rápido. A área de recepção onde sentei e esperei tinha brilhantes
pisos de mármore e grandes janelas que revelavam a mais deslumbrante vista
da cidade, mas a atmosfera confortável se foi rapidamente. Não porque carecia
de beleza; pelo contrário. O escritório era lindo, a vista épica, os homens e as
mulheres que se movimentavam por ali eram todos deslumbrantes, com roupas
impecáveis e cabelos sem falhas. Não, me senti fora do lugar porque, em meio a
toda essa beleza estava eu — quatro dias após o parto. Com minha barriga
inchada, o cabelo oleoso e desarrumado, e ainda vestida com roupas da
gravidez, porque nada mais se encaixava. Eu era um espinho entre as rosas.
Sentada, esperei por mais de uma hora enquanto Max estava em uma
reunião. Sua secretária lhe disse que eu estava aqui para vê-lo e educadamente
pediu-me para me sentar, informando-me que ele estaria comigo em breve.
Finalmente, a porta do escritório se abriu e Max conduziu uma loira alta usando
saltos e uma saia lápis para fora, enquanto os dois riam alegremente um para o
outro. Ele sabia da minha presença, mas fez isso, de qualquer maneira. À
medida em que o observava sorrir para a loira enquanto ela ajustava sua
gravata, pensei que meu coração, realmente, não poderia ficar mais ferido, mas
estava errada. Max provaria isso.
Quando a loira saiu, seu olhar se dirigiu para mim e ele fechou os olhos
como se eu o aborrecesse. Com um movimento de sua mão, me indicou para
segui-lo em seu escritório, não se preocupando em esperar-me, embora tenha me
BN TOLER

visto carregando um bebê-conforto. Quando entrei, fechei a porta e fui em direção


à sua escrivaninha.
“Não coloque isso na minha mesa.” Ele ordenou, quando me viu levantar a
cadeirinha para fazer exatamente isso.
Algo ficou preso em minha garganta enquanto deixava Pim no chão. Tinha
pensado que era o meu coração. Agora, sei que era a minha dignidade. Estava
me sufocando com essa ideia. Havia me convencido, apesar de Matt e Alice me
dizendo um milhão de vezes para deixar Max ir, que ele não nos queria, que se
Max a visse, mudaria de ideia. Como poderia não se apaixonar por ela, uma vez
que visse a nossa linda menina?
“O que está fazendo aqui, Waverly?” Ele perguntou rapidamente,
arrastando alguns papéis em torno de sua mesa, mal reconhecendo a minha
presença.
“Ela tem quatro dias hoje,” respondi, indo direto ao ponto. “Se parece
comigo, eu acho.” Ri com nervosismo quando olhei para Pim dormindo. “Mas ela
tem o seu nariz, com certeza.”
“Você está aqui por dinheiro?” Ele perguntou, recostando-se na cadeira com
um olhar de desgosto. “Quanto?”
Meu corpo inteiro parecia chumbo; pesado com tanto dano e insulto. Esta
não era a primeira vez que tentava implorar a Max para que reconsiderasse. Foi,
no entanto, a primeira vez que tive Pim assim. Estava desesperada. Adorava
esse homem, ou assim pensava. Ele me tirou do chão só para me deixar como
lixo nas ruas. Meu coração e mente estavam em lugares diferentes. Sabia que ele
não nos merecia, mas não podia deixá-lo ir por algum motivo.
“Não estou aqui por dinheiro,” consegui dizer. “Queria que você a visse,
Max. Sua filha. Este é seu bebê,” enfatizei.
“Waverly,” disse meu nome severamente. Inclinando-se para frente,
descansou os braços sobre a mesa, fixando seus olhos azuis em mim. “Eu não
queria este, ou qualquer bebê nessa situação. Quando você escolheu tê-la, você
me perdeu.”
Meus olhos se encheram de lágrimas, meu estômago se contraindo.
“Max,” respirei, seu nome pesado. “Eu não poderia me livrar dela. Eu-eu-eu
não poderia fazer isso. Não para o meu bebê, nosso bebê.”
BN TOLER

Em um movimento rápido e frustrado, ele se levantou e ficou de pé atrás de


sua mesa.
“Quanto, Waverly?”
“Não quero seu dinheiro, Max,” chorei. “Apenas olhe para ela. Por favor.
Apenas uma vez.”
Circulando a mesa, Max olhou para Pimberly. Esperei por um sorriso, um
olhar suave que apenas um pai olhando para sua filha pela primeira vez poderia
revelar, mas ele não mostrou nada. Tudo o que vi foi uma expressão estoica.
“Tire-a daqui e não volte para o meu escritório. Informarei a segurança de
que você não deve entrar no prédio.”
Senti meu rosto entorpecendo, conforme o sangue escorria dele. Minha filha
era órfã de pai. Meu marido nos desprezou. Ele não a queria. Ele não me queria.
Eu estava sozinha.
Quando peguei Pimberly novamente, apoiando a alça do bebê-conforto
sobre o meu braço, não poderia falar uma palavra para ele por medo de cair em
uma confusão de soluços. Se estava saindo desse edifício, iria fazer isso com o
pequeno pedaço que restou da minha dignidade. Então não disse nada.
Dizer uma palavra seria o corte do fino fio que segurava meus pedaços
juntos.
Minhas pernas estavam fracas enquanto me movia, minha cabeça estava
embaçada, mas ainda assim.... Movi-me, desejando que meu corpo
ultrapassasse suas habilidades. Assim que alcancei a maçaneta da porta, Max
deu o golpe final.
“Vou assinar meus direitos para você. Mande-me a papelada.”
Naquele momento percebi que estava errada. Meu coração poderia doer
mais.
Quando subo no táxi, olho para o prédio de Max e esfrego os olhos. Mesmo
aquela lembrança, quase dois anos depois, consegue arrancar o ar de mim.
Matt está certo. Deixar Pim com Max está errado. Este será o último dia.
Se ele se recusar a assinar os papéis, chamarei seu pai. A última coisa que
Max deseja é que seu pai descubra que tem um bebê com alguém da minha
baixa classe social. E nem tenho certeza se ele sabe que estávamos casados.
Este será o último dia.
BN TOLER

CAPITULO TREZE

Passaram-se dez minutos desde que Waverly saiu, e como espero Helen a
qualquer momento, quando a campainha toca, não fico surpreso. Porém, ao
abrir a porta, não é minha irmã, e sim um cara.
Um cara grande.
Ele me olha de cima a baixo, rindo para si mesmo, antes de murmurar:
“Já faz um longo tempo, Max.” Mesmo com o boné de Yankees puxado
para baixo cobrindo os olhos, não é difícil dizer que este homem não gosta de
mim. Não tendo ideia de quem é, ou de como responder. Faz muito tempo?
“Isto é ridículo, Matthew,” diz uma mulher ao seu lado. Não posso vê-la,
mas não é difícil ouvir o aborrecimento em seu tom.
“Fique fora disso, Alice,” o homem, Matthew, lhe responde.
“Ela está aqui?” Pergunta ele, seu olhar fixo em mim.
“Quem está aqui?”
Ele bufa e olha para a mulher ao seu lado, como se estivesse dizendo, você
pode acreditar nesse cara?
“Minha sobrinha,” ele fala grunhindo. “Você sabe, a menina que eu tenho
ajudado a criar porque você é um idiota parasita.”
Passando a mão pelo meu rosto, luto com o gemido que quero deixar sair.
Esse cara é o irmão de Waverly, claro que sim. Meus ombros caem, quando
percebo que ainda não encontrei uma pessoa que pense bem de Max. Até
agora, todas pensam que ele é mau e pelo visto, não estão errados.
BN TOLER

“Vamos nos atrasar para o voo, Matt,” afirma a mulher, forçando-o de lado
para que ela possa me ver. Uma mulher alta, com a boca curvada num sorriso
nada agradável, diz: “Olá, Max.”
“Uh... Oi.” Consigo dizer. Mais uma vez, não tenho ideia de quem é.
“Matt gostaria de ver Pim antes de pegarmos nosso voo para a Europa.
Podemos entrar?” Quem quer que ela seja, não perde tempo e vai direto ao
ponto.
Olho para Pim e noto que ela está a meio caminho de mim. Sorrindo, ela
deixa escapar alguns gargarejos excitados enquanto vem de encontro ao seu
tio. Sabendo que está animada para ver Matt, fico de lado e permito que ele
entre.
“Minha menina.” Matt se espreme entre mim e a porta, e vai em direção à
Pim rapidamente. Comparado com o cara durão de momentos antes, agora ele
age como um ursinho de pelúcia. Isso não é difícil de entender, pois Pimberly
transforma os mais viris homens em corações moles, eu sei disso por
experiência própria. Quando ele a pega, continua caminhando para o
apartamento, ficando mais longe da porta. Acho que Matthew não se importa
muito se Max o quer ali, ou não. Alice, lança um rápido olhar para mim,
franzindo a boca, mais como um desculpe, mas realmente não sinto muito.
Matt envolve Pim em um grande abraço enquanto segura sua cabeça em
seu ombro.
“Ela está bem, Matt,” Alice afirma enquanto passa a mão sobre a cabeça
de Pim. “Agora diga adeus. Temos de ir.”
“Eu malditamente odeio isso,” Matt murmura baixinho.
“Linguagem, Matt,” Alice o repreende enquanto bate em seu braço.
Ouvindo a maldição de Matt, sinto algum alívio. Pelo menos se a pequena
começar a balbuciar a palavra com f15, eu não serei o único a levar a culpa.
Fico de pé observando-os, minhas mãos nos bolsos, enquanto falam
suavemente com Pim e uns com os outros, antes de Matt me notar e estreitar o
olhar para mim.
“Quer uma foto ou algo assim, Max?” Resmunga ele.
“Matthew,” Alice geme, depois de soltar um suspiro exasperado.

15 Foda-se.
BN TOLER

Não havia percebido que os encarava. Todos os acontecimentos são


surreais, e embora tudo isso fosse comigo, eu me sinto como um estranho
olhando de longe.
“O quê? Esse maldito passa dois dias com a Pim e me olha como se eu
fosse um idiota que pode machucá-la.”
Soltando um grunido, resolvo não comentar. Estou em modo defensivo,
mas não faz sentido, pois não sou Max. Não sou um babaca como ele e a raiva
de Matt não é direcionada a mim. Mas, ao mesmo tempo... sou Max e, quando
alguém age como idiota com você, deve-se receber retaliação. Fique calmo,
Liam, digo a mim mesmo.
“Aceitam um copo de água ou...” paro, e percebo como sou um imbecil.
Que diabos estou fazendo? Oferecendo bebidas?
“Não, vamos embora,” Alice responde rapidamente. Então, olhando para
Matt, ela puxa a manga da camisa dele. “Vamos, Matt. Waverly não nos quer
aqui.”
Entregando Pim à Alice, ele beija a parte de trás da sua cabeça mais uma
vez.
“Adeus, querida,” Alice abraça Pim firmemente antes de colocá-la no chão.
Matt fixa os olhos em mim, que revelam nada além de raiva.
“Não me esqueci, Max,” rosna ele. “Se fosse comigo, nunca mais deixaria
que você voltasse a olhar para esta garotinha.” Apontando um dedo firme para
mim, Matt continua: “Faça-nos um favor e assine os papéis. Todos sabemos
que você não a quer e que certamente não a merece.”
Quando sai do apartamento, Alice ergue o queixo, indignada, como se
dissesse que concorda com Matt, antes de segui-lo. Deixando meus ombros
caírem, olho a porta aberta. Sinto-me desinflado. Carregar o peso de todo o
ódio que sentem por Max tornou-se demais para carregar. Como ele conseguia
viver assim todos os dias?
“Oh, não!” Diz Pim, com as mãos nas bochechas. Bufo em uma risada
quando a pego e vou até a porta para fechá-la.
“Oh, não está certo, querida,” suspiro.
BN TOLER

“O que estamos fazendo aqui?” Helen pergunta, enquanto deslizávamos


na cabine do restaurante. Depois de deixar Pimberly na cadeira alta que a
anfitriã nos trouxe, sento-me em frente a ela, colocando a sacola de presente ao
meu lado. A verdade é que tenho um plano. E também precisava sair daquele
apartamento, desesperadamente. Os últimos dias foram um redemoinho neste
corpo, lidando com o acidente de trem que é a vida de Max. Logo, eu precisava
de algo bom, e vindo ao restaurante, mato dois pássaros de uma só vez.
“Você tem algum problema com um café da manhã gratuito?” Resmungo
para ela.
“Trouxe mantimentos. Poderíamos ter feito o café da manhã.”
“Helen,” suspiro. “É uma longa história. Pare com isso.”
“Droga, você está mal-humorado,” ela me cutuca. “Só estou mostrando
que você pode tirar um buraco do corpo, mas você não pode tirar o corpo do...”
Hel faz uma pausa e balança a cabeça. Quando levanto uma sobrancelha,
deixando-a saber que ela soa como uma idiota, Helen olha para mim. “Sabe o
que quero dizer, Liam.”
“Você tem um jeito com palavras,” digo secamente.
“O que há na sacola?” Ela pergunta, mudando de assunto.
“Não é nada,” encolho um ombro. “Algo que peguei ontem à noite
enquanto estava fora.”
Ela abre a boca para responder, mas antes que pudesse, nossa garçonete,
Mary, se aproxima.
“Bom dia,” cantarola, com um sorriso brilhante e amigável espalhado no
rosto. Usando seu uniforme de costume e os cabelos puxados para cima, Mary
parece exatamente como da última vez que a vi. “Olhe para esta pequena
beleza,” murmura, enquanto se inclina para o nível de Pimberly, que olha para
ela, antes de seus olhos se fixarem no bloco de papel na mão de Mary e tentar
agarrá-lo.
“Não, não,” eu digo.
Mary se levanta, me dando uma piscadela, acenando com a mão.
“Tudo bem. Vou pegar um pedaço de papel e lápis que guardamos lá
atrás.”
BN TOLER

“Isso é muita gentileza da sua parte.” A mulher é completamente bondosa.


“Vocês sabem o que querem pedir ou precisam de alguns minutos?”
Olho para Helen.
“Acha que ela comeria um cheeseburger?” Pergunto, inclinando a cabeça
em direção a Pim.
Helen olha para mim sem entender por um momento, antes de olhar para
Mary.
“Panquecas para a pequena,” ela começa. “Eu vou tomar café.”
Então, direcionando os olhos para mim, Hel murmura:
“Nove horas da manhã e ele quer dar à menina um cheeseburger.”
Hel tem um ponto. Torço minha boca, ligeiramente envergonhado, e digo a
Mary:
“Sou novato para esta coisa de criança e tudo mais. Gostaria de um
sanduíche de bacon, alface e tomate, por favor, e café.”
“Qualquer outra coisa?” Mary pergunta animada, enquanto anota minha
ordem.
Não posso deixar de sorrir. Ela não pode saber que a admiro, porque não
sabe que a conheço... a conhecia, de qualquer maneira. E sei o suficiente. Esta
mulher alimentou-me quando estive com fome e nunca esperou uma coisa em
troca. Cada pessoa neste restaurante só vê uma mulher bonita em um
uniforme, mas eu vejo um anjo.
“É isso, Mary. Obrigado,” respondo, depois de um tempo. Enquanto se
afasta, a observo, agradecido por pessoas como ela neste mundo.
“Então...” Helen insinua, chamando minha atenção. “Você tem alguma
queda por esta garçonete ou o quê?”
“Não,” balanço a cabeça com firmeza. “Nada como isso.”
Helen sorri de um jeito que diz não acreditar em mim.
“O jeito que você olhava para ela diz outra coisa.”
“Não é assim, Helen. Você está longe do ponto.” Insisto, quando entrego a
Pim alguns Cheerios16 de um saco que Waverly havia embalado.

16 Cereal saudável.
BN TOLER

“Então, por que você olhava para ela desse jeito?” Minha irmã nunca
desiste. Pode ser tão malditamente frustrante.
“Deixe para lá, Helen,” grito em aborrecimento.
“Por quê?”
“Porque...”
“Diga-me,” exige ela.
“Porque ela me alimentou, Helen.” Rosno, mantendo minha voz baixa para
que outros ao redor não ouçam, mas com ênfase suficiente para indicar que
estou com raiva. Não pela pergunta em si, mais pela vergonha, que de alguma
forma se manifesta através da ira. Não tenho vontade de explicar à minha irmã
que tenho Mary na mais alta escala de respeito porque ela alimentou seu inútil
irmão desabrigado quando ele não podia pagar por uma comida para si mesmo.
Os braços de Helen se soltam.
“Te alimentou... você quer dizer quando estava vivendo nas ruas?”
“Sim.” Digo, sentando-me, e apertando o punho sobre a minha perna
debaixo da mesa. Estou tão zangado e odeio isso. Sou um homem orgulhoso, e
sei disso, pois esse sentimento me manteve longe da minha irmã; tinha muita
vergonha para enfrentá-la naquela circunstância. Nunca quis ser irracional
quando se tratava de orgulho e agir como um idiota. Infelizmente, minha raiva
é parcial, por causa do meu orgulho e vergonha. Mas principalmente, devido à
abstinência de esteroides. Ao ponto de, a cada segundo do dia, uma verdade é
reiterada: tendo Max como um idiota. Me sinto furioso em um minuto e alegre
no próximo. Quase chorei naquela manhã quando Pim ficou animada sobre ver
vídeos de moto novamente. Que diabos é isso? Acredito que estou perdendo a
cabeça. Então, um momento de luxúria veio sobre mim enquanto observava
Waverly morder o lábio. Ela é uma mulher linda, mas mesmo naquele
momento não tive uma ereção; me senti atraído, mas fisicamente, lá embaixo,
não houve nem mesmo uma pontada. Aparentemente, Max anda enfrentando
disfunção erétil também. Eu realmente odeio-o.
Com algumas respirações profundas, me acalmo e tento explicar,
enquanto o lábio inferior de Helen treme. Ela quer chorar e está se
controlando. Não tenho certeza se a minha pequena raiva a alterou, ou se foi a
revelação do que Mary significa para mim, talvez ambos. De qualquer maneira,
odeio ver minha irmã ferida.
BN TOLER

“Não há nenhuma queda,” explico calmamente. “Não me sinto atraído por


Mary. Estou apenas... agradecido a ela, ok?”
Hel olha para as mãos, que estão unidas sobre a mesa, e me sinto
horrível.
“Sinto muito que não fui até você,” lhe digo.
“Não se arrependa, Liam,” murmura Hel, assim que Mary deixa nossos
cafés na mesa.
“A comida sairá em breve,” Mary nos informa.
“Obrigada.” Helen diz suavemente, seus olhos lacrimejando enquanto sorri
para Mary. Pobre Mary. Ela não imaginava que alguns clientes, aparentemente
loucos estariam ocupando uma de suas mesas esta manhã. Nós não estávamos
loucos, na verdade... não inteiramente, mas qualquer um que para um
momento para observar, pode pensar diferente. Eu gritava, Helen chorava, fora
a ideia de tentar alimentar um bebê com um cheeseburger às nove da manhã.
O olhar de Mary dispara de Helen para mim em questionamento, antes de
voltar para Hel.
“Você está bem, querida?” Mesmo tão loucos quanto parecíamos, ela fez a
pergunta com sinceridade. E não nos julga.
Helen enxuga os olhos e ri um pouco, envergonhada.
“Oh, estou bem. Acho que os hormônios da gravidez estão me deixando
emocional.” Ela mente. Pelo menos sua mentira parece crível quando esfrega a
barriga.
Mary a parabeniza e, antes de sair da nossa mesa, Helen lhe conta como o
parto de David tinha sido um inferno — 26 horas de trabalho — e ela espera
que esse bebê fosse mais fácil. Quando Mary finalmente escapa da loucura,
tento aliviar o humor.
“Obrigado por nos poupar a descrição do pós-parto e não dizer a ela sobre
como você fez cocô sobre a mesa.”
Helen lança-me um olhar cheio de choque. Inclinando a cabeça, pergunta:
“O quê?!”
Segurando as mãos para cima, sorrio um pouco.
“É só uma piada.”
Ela balança a cabeça.
BN TOLER

“Estou surpresa que você se lembra de tudo e, por sinal, não fiz cocô na
mesa.” Helen solta um suspiro, afastando os olhos de mim. A verdade é que ela
fez. Como eu sei disso? Oh, só porque de alguma forma fiquei preso na sala de
parto quando ela deu à luz a David, porque o pai era um maluco e eu, o único
membro da família vivo para estar lá no momento. David era prematuro e a
coisa toda foi assustadora pra caralho, mas não havia outra escolha. Era
estranho e desconfortável, mas minha irmãzinha precisava de alguém ali que a
amasse e não a deixaria sozinha. Meus olhos estavam fechados por cerca de
90% do parto e fiquei perto da cabeça de Helen o tempo todo, afastando-me do
evento principal, mas lembro do médico dizendo para ela não se preocupar,
pois isso acontecia o tempo todo, enquanto eles tiravam o papel debaixo dela e
se livravam dele. Foi um daqueles momentos sobre os quais você nunca, nunca
mais fala. Além disso, ela ameaçou me matar enquanto dormia se eu falasse.
“Mesmo se eu tivesse feito cocô,” ela sussurra a última palavra. “É parte
do parto. É tudo parte da... beleza.” Helen acena com a mão ao acaso.
Sorrio.
Alto.
Então Pim começa a rir, ou mais como berrar também, e eu gargalho
ainda mais.
Helen se sacode um pouco enquanto tenta parar de rir também.
Segurando uma mão para cima, ela bloqueia a outra da linha de visão de Pim,
enquanto me mostra o dedo do meio.
“Idiota,” murmura ela. Como disse antes, estávamos loucos, mas não
inteiramente.
Depois de comermos, pego Pim e entrego a Helen.
“Você se importa de levá-la para fora, para que eu possa falar com Mary
por um segundo?”
“Venha aqui, querida.” Helen diz, enquanto alcança Pim. Quando a
pequena olha para mim antes de aninhar a cabeça contra o meu peito, não
pude evitar sorrir. Ela gosta de mim. Não quer me deixar. A boca de Helen se
arqueia enquanto esfrega as costas de Pim.
“Parece que você tem uma fã.” Minha garganta aperta. Alguma coisa
naquele momento me faz sentir tão bem. Me sinto... feliz? Ou triste? Meio que
quero... chorar? Que diabos é isso? Eu não choro... nunca. Malditas emoções!
Os esteroides são a epítome do mal. Talvez a minha reação é quase que
BN TOLER

totalmente devida aos esteroides, mas isso não muda que o momento é
incrivelmente doce, mas com esse pensamento vem uma realidade brutal. Pim
gosta de mim, o que significa que talvez ela esteja apegada. Claro, percebo que
não é só ela. Estou me apegando, também. Beijando o topo da sua cabeça, digo
a ela:
“Não demoro, querida. Vá com Helen e então poderemos brincar no
parque.” Pimberly grita um pouco, enquanto Helen a pegava, mas quando lhe
entrego mais Cheerios do saco, ela se acalma à medida em que empurrava
freneticamente sua mão cheia na boca, tentando comer os cereias. Helen e eu
sorrimos.
“É melhor me entregar a caixa, por precaução,” diz Helen. Com Pim em
seu quadril e a caixa em sua mão livre, ela se dirige para fora. Assim que estão
fora da porta, Mary vem e começa a limpar os pratos restantes da nossa mesa.
Quando limpo a garganta para chamar sua atenção, ela coloca os pratos para
baixo e se vira para mim, um sorriso brilhante em seu rosto.
“Esqueceram alguma coisa?”
“Na verdade, quero te entregar algo,” começo. Sei que Mary pode recusar
uma grande soma de dinheiro, então me preparo. Olho em volta do
restaurante, para ver se alguém nos observa. Não quero fazer de Mary um alvo
para algum ladrão porque viram-na aceitar um monte de dinheiro. Quando
sinto que é seguro, continuo, e estendo a mão com as notas dobradas de cem
dólares. Logo, o sorriso de Mary se desvanece em um confuso franzir de
sobrancelhas, quando ela percebe o que é.
“Isso é muito para uma gorjeta,” declara, seu tom segurando uma
sugestão de ceticismo.
“Isto não é apenas uma gorjeta. É para você.”
“O quê?”
Abaixo a mão, quando ela não pega o dinheiro.
“Você é uma boa pessoa, Mary. Sei que toda semana você leva um
sanduíche para uma mulher sem-teto, e que paga por isso do seu próprio
bolso. Quero dar-lhe isto para talvez ajudá-la com o que possa precisar.”
Mary olha para o dinheiro um pouco pensativa, mas posso dizer que não
importa o quanto precise, ela não quer pegar isto.
BN TOLER

“Não é nada, realmente,” insiste. “Gostaria de poder fazer mais.


Especialmente quando ela começou a trazer o cara junto, mas simplesmente
não posso.”
“E é por isso que você merece cada centavo,” digo, pegando sua mão e
colocando o dinheiro nela. “Você deu, mesmo quando não tinha muito.” Os
olhos de Mary começam a lacrimejar.
“Não posso aceitar.”
“Sim, você pode. Por favor, pegue,” lhe imploro.
Ela olha para o dinheiro, e depois em volta, provavelmente checando para
ver se alguém está assistindo como fiz alguns minutos antes, e empurra o
dinheiro no bolso do avental.
“Eu aceito isso,” finalmente concordando. “Mas usarei o dinheiro para
alimentá-los. Vou dizer-lhes para voltar algumas vezes por semana para que
possam ter refeições confirmadas.”
Leva tudo em mim para não abraçá-la. Pessoas assim são poucas e
distantes entre si.
“Não. Isto é para você.” Aponto para ela a fim de enfatizar minhas
palavras. “Isto,” adiciono, enquanto alcanço meu bolso traseiro e puxo o
envelope que preparei antes de deixar o apartamento. “É para alimentar Pearl.
Talvez você possa dar-lhe algum dinheiro para que ela possa ficar em um
quarto de hotel por algumas noites.”
“Você conhece Pearl?” Pergunta-me, franzindo a sobrancelha.
“Não pessoalmente,” digo rapidamente. “Vi você alimentá-la e aquele outro
cara.”
“Liam,” Mary diz simplesmente, com um sorriso triste. Meu estômago se
aninha, pois lembra-se do meu nome. Tantos daqueles dias eu me perguntei se
ela mesmo me via. Levando o envelope, ela nem sequer abre, apenas coloca em
seu avental.
“Ele não tem estado por perto ultimamente, mas é um cara tão legal.
Desejava que pudesse me dar ao luxo de alimentá-los em cada refeição. Você
pode dizer que ele tem um coração de ouro; é apenas um homem que está com
pouca sorte, isso é tudo.”
Percebo que ela não deve saber sobre o acidente; que eu não voltaria por
um tempo... ou nunca, na verdade.
BN TOLER

“Ambos são gratos pelo que você faz, Mary,” asseguro-lhe. Essa mulher
nunca saberá o que essa refeição significava para nós.
“Você também conhece Liam?”
“Apenas vi você alimentá-los, isso é tudo. E só queria dar algo bom para
alguém como você. O dinheiro no envelope é para eles.”
“Como sabe que não vou manter tudo isso?”
“Da mesma forma que você diz que Liam é um bom homem. Às vezes,
apenas sabemos. E sei que você vai fazer o que é bom.”
Não tenho certeza de como Mary está levando essa conversa, mas quando
ela me abraça, e com força, não consigo me parar e retribuo, isso significa mais
para mim do que ela entenderia. Sou grato a esta mulher de uma maneira que
não posso explicar, pois ela vê Max, não Liam. Estando no corpo do Max, há
coisas que não consigo parar, e esta é uma delas. Fisicamente, sou esse
homem saudável e rico, mas é minha alma que existe dentro dele e ela se
lembra dos dias em que vivi nas ruas sombrias e sujas, com fome e sem
esperança. Lembra-se também da bondade de uma estranha; a bondade de
Mary. Torturo-me e me pergunto se doar o dinheiro de Max está certo, mas no
final, decido que não me importo. Max tem muita coisa e Mary não, e ainda
ajudava a Pearl e a mim com uma refeição. Naquele dia, se não estivesse lá, o
corpo do Max seria o único em coma, não o meu. Quando nos separamos um
do outro, Mary enxuga os olhos.
“Obrigada...” ela faz uma pausa, percebendo que não sabe o meu nome.
“Não sou ninguém,” digo a ela. “E eu que agradeço. Você pode me fazer
um favor?”
“Claro,” Mary responde, sem hesitação.
Tomando a sacola de presente que está apoiada na cadeira, entrego a ela.
“Você daria isso para Pearl?” Mary olha para o pacote na minha mão, seu
olhar curioso. “Você pode olhar,” permito-lhe. Pegando o saco, ela olha para
dentro e sorri.
“Um gato preto de pelúcia,” ela ri. “Pearl vai adorar isso.”
“Seu nome é Murry,” lhe informo. “Obrigado, novamente, Mary.”
Pegando os pratos da nossa mesa, ela me dá um aceno brusco.
“Terei certeza de que eles se alimentem. Prometo.”
BN TOLER

Não tenho coragem de dizer que eu, ou melhor, Liam, não estará mais lá.
Em vez disso, concordo com a cabeça. Então saio, encontrando Helen e Pim lá
fora. Pimberly praticamente salta dos braços de Helen para os meus. Nós rimos
novamente apenas para parar quando uma motocicleta faz barulho, roubando
nossa atenção. O rosto de Pim se ilumina num sorriso brilhante, e ela
balbucia:
“Vroom-vroom,” enquanto aponta para a moto.
“Você tem bom gosto, querida,” digo a ela. “Essa é uma Harley.”
“Vroom-vroom.” Ela ri.
Enquanto olho para Pim, meu rosto dói, com um sorriso tão grande.
“Você é bom com ela, Liam,” afirma Helen.
“Li-ham,” balbucia Pim, e Helen imediatamente cobre a boca.
“Ela é como um papagaio, não é?” Digo bufando.
“Sinto muito,” Helen engole em seco. “Eu não estava pensando.”
“Li-ham,” Pim murmura novamente.
Respirando fundo, decido não me preocupar com isso. Talvez se não
fizéssemos um grande negócio, Pim pararia.
BN TOLER

CAPITULO QUATORZE

Quando volto ao apartamento de Max, estou mais calma e decido ser


cordial. Não há necessidade de me irritar ou discutir com ele. Tudo que tenho
de fazer é pegar Pim e partir. Cometi um erro trazendo-a e deixando-a com
Max, e agora é hora de consertá-lo. Não a trarei de volta, Max assinando os
papéis ou não. Talvez, ele tenha direitos sobre ela, mas eu duvido que alguma
vez os exerça, então não tem sentido empurrá-lo.
Toco a campainha uma vez e espero pacientemente até que Max abra a
porta. Quando faz, o sangue escorre do meu rosto.
“Oi,” ele murmura como se estivesse dormindo. Seu cabelo está um pouco
despenteado e com os olhos semicerrados. Não é isso que me apavora, e sim o
jeito como Pim está enrolada em seu braço, com a cabeça descansando em seu
ombro enquanto ela dorme.
“Pim adormeceu em meus braços e fiquei com medo de que, se eu a
tirasse, ela acordaria,” sussurra ele. “Acho que também adormeci.” Com a mão
livre, faz um gesto para que eu entre antes de virar e retornar para a sala.
Movendo-se lentamente para não acordá-la, senta-se no sofá. “Como foi o seu
dia?” Pergunta-me calmamente.
“Uh... foi bom.” Respondo entorpecida. Estou em algum tipo de realidade
alternativa? Isso é tudo em que penso enquanto olho para Max segurando
nossa filha. Esse homem não é o Max Porter que eu conheço. Parece que
alguém, literalmente, mudou um interruptor dentro dele. O Max que me
lembro, nem sequer olharia para a filha recém-nascida e muito menos a
seguraria durante horas, enquanto ela dorme só porque não quer acordá-la.
“Ela foi muito bem hoje. Saímos para o café da manhã...”
BN TOLER

“Você saiu com ela?” O interrompo, minha voz levantando uma oitava.
Levantando as sobrancelhas, aparentemente surpreso com a minha raiva,
ele responde:
“Sim. Fomos ao café da manhã e ao parque.”
Olho para ele e abro a boca para gritar, com raiva por ter saído com Pim,
quando mal a conhece, mas penso melhor. Max nunca mais a verá. Não faz
sentido. Fechando a boca, me viro e começo a arrumar os pertences de Pim.
“Você está com raiva?” Pergunta-me, com uma sobrancelha levantada em
confusão.
“Não importa,” digo, enquanto jogo a bolsa de fraldas de Pim no carrinho.
Eu não tenho a intenção de fazer barulho, mas o som alto a assusta e ela
levanta a cabeça, seus olhos semicerrados enquanto se ajustam à luz.
“Desculpe, garotinha,” me desculpo quando me aproximo e esfrego suas
costas. Olhando para mim, ela pisca algumas vezes antes de aninhar a cabeça
novamente no ombro de Max. Normalmente, Pim voaria dos braços de alguém
para chegar até mim, então quando ela escolhe ficar com Max, é como se meu
coração caísse no chão. Não ajuda quando Max sorri, enquanto ele vira a
cabeça ligeiramente e beija o topo da de Pim.
“Precisamos ir,” murmuro, enquanto ando pelo cômodo, jogando tudo no
carrinho. Não me preocupo em guardar os pertences restantes. Tudo o que
importa naquele momento é sair de lá o mais rápido possível.
“Não precisa se apressar, Waverly,” diz Max em voz baixa. “Ela
provavelmente está com fome.”
Virando a cabeça em sua direção, digo asperamente:
“Oh, dois dias com ela e você acha que a conhece? Ela é minha filha, Max.
Vou fazer o que quiser.”
“Por que diabos você está tão zangada?” Sussurra ele, com raiva.
“Para começar, você a levou para fora.” Falo, ampliando meus olhos com
raiva. Tanto para deixá-lo ir. “E se algo tivesse acontecido?”
“Como o quê, Waverly?”
“Como...” luto por palavras. “Como você ser assaltado.”
Sua mandíbula treme quando ele me encara.
“Oh, e você não seria tão provável de ser assaltada quanto eu?”
BN TOLER

“E se ela se machucasse?” Sigo em frente, percebendo que o meu primeiro


exemplo é muito falso. “Você nem saberia o que fazer ou aonde levá-la.”
Jogando a mão livre para cima, ele ri, incrédulo.
“Vocês estão me matando!”
“Vocês?” Minha cabeça levanta em atenção. Não tenho certeza do que ele
quer dizer, mas parece ofensivo.
“Primeiro, seu irmão vem aqui com sua namorada e diz merda, e agora
você. Posso esperar outros membros da família Torres hoje?”
“Matt esteve aqui?” Pergunto, ampliando os olhos. Maldição, Matt. Deveria
saber que ele faria isso antes de viajar. Agora que se foi, e provavelmente esteja
voando sobre algum oceano agora, não posso gritar com ele por isso.
“Claro que sim.”
Balanço a cabeça, sem saber o que dizer, e vou em frente, seguindo com
meu ponto de vista.
“Você não deveria tê-la tirado daqui, Max.”
“Não sei se você notou,” ele brinca, sua boca curvando de um lado. “Mas
eu não sou um idiota, porra.” Imediatamente, suga no ar através de seus
dentes cerrados, antes de apertar os olhos fechados. Seu tom foi duro e suas
palavras grosseiras. É óbvio que os lamenta. “Desculpe,” murmura ele. Não
tenho certeza se o pedido de desculpas é para Pim ou para mim, ou para
ambas. “Não quis dizer essa palavra na frente dela.”
“Pai do ano, pessoal,” rio, meu tom sarcástico. Meu amigo sarcasmo volta
para o meu lado e está pronto para dar alguns socos.
Sua boca se achata em uma linha apertada antes de levantar e puxar o
celular do bolso. Dentro de alguns segundos, ele tem um vídeo que mostra
outro tipo de motocicletas. O que há entre ele e corridas de moto? Max nunca
as mencionou enquanto estávamos juntos. Colocando Pimberly no chão,
entrega-lhe o telefone e ela o olha com sono.
“Podemos conversar na cozinha?” Max não me dá uma chance de
responder antes de sair. Eu o sigo, pisando duro, com raiva que ele tenha
puxado o cartão de adulto e se recusou a discutir na frente de Pim. Isso é o que
eu deveria ter feito. Como ousa. Na cozinha, ficamos onde ainda podíamos ver
Pim, mas longe o suficiente para que, se mantivéssemos nossas vozes baixas,
ela não nos ouviria discutir. Max levanta, com os pés firmemente plantados
BN TOLER

enquanto cruza os braços. Não posso negar que algo sobre sua postura é
diferente de qualquer coisa que me lembre. Está confiante. Max sempre foi um
homem confiante, mas de uma forma que o fazia parecer superior a todos.
Agora é diferente de alguma forma. Sua expressão é estoica, mas combinada
com sua postura, tem um olhar que diz: Estou cansado dessa merda. O que me
incomoda um pouco, mas não me intimida. Sei que estou certa; não há
nenhuma maneira de que me convença do contrário, não importa quais loucos
jogos de mente ele tente jogar comigo.
“Você trouxe ou não Pimberly aqui e a deixou sob meus cuidados nos dois
dias passados?”
“Sim.” A palavra é dita de forma natural e sem desculpas. Eu fiz, de fato,
isso.
“Se você não acha que sou capaz de cuidar dela, por que diabos a trouxe
aqui?” Max sussurra com raiva, os músculos em sua mandíbula
tiquetaqueando.
Aperto meu punho em meu lado, com a esperança de nivelar o volume da
minha resposta, e grito:
“Para fazer você assinar os papéis.” Inclinando-se para mim, com um
olhar intenso, ele encontra meus olhos. “Não vou assinar esses papéis agora ou
a qualquer momento em breve.”
Soltando um grunhido frustrado, elevo minha voz:
“Por que não?! Você não a quer.” Jogando meu braço, aponto na direção
de Pim. “Eu implorei que você fizesse parte da sua vida e nem sequer olhou
para ela. Você literalmente nos jogou para fora do seu escritório, Max! Por
quê?” Minha última palavra termina em um soluço, as emoções obtendo o
melhor de mim. “Apenas assine-os. Por favor,” lhe imploro. Suas feições
relaxam quando a raiva em seus olhos diminui. É remorso que vejo? Sua boca
volta a ficar achatada, enquanto sacode a cabeça. Então, Max puxa uma toalha
de papel do rolo próximo a ele e me entrega. Meu rosto está em uma confusão
de lágrimas, e imagino que meu rímel esteja estriado por minhas bochechas.
Quando ele se apoia contra o balcão e cruza os braços novamente, não tenho
ideia do que esteja pensando, mas permaneço em silêncio. Quero que Max seja
o próximo a falar.
“Eu estou...” Faz uma pausa, com o queixo erguido, como se estivesse
procurando por suas próximas palavras. “Não sei o que fazer.” Ele finalmente
consegue dizer. “Juro que não estou tentando ser um idiota para você.”
BN TOLER

Quando seu olhar encontra o meu novamente, posso vê-lo; Max realmente está
em conflito. Sobre o quê? Não tenho certeza. “Não posso assinar esses papéis
agora, Waverly.”
Meu corpo estremece, enquanto seguro os soluços que tão
desesperadamente quero deixar sair. Quero atacar, jogar minha raiva nele, mas
sei que não importa. Meu plano não funcionou e agora tenho que sair de lá.
Coloco as mãos nos quadris, inalo profundamente, e o informo:
“Nós vamos sair agora. Não vou trazê-la de volta.”
Arregalando os olhos ligeiramente, Max quase parece desapontado. Então,
passando a mão pelo cabelo, exala com um gemido. Ajoelhando-se na frente de
Pim, ele a pega e fica em pé, sua boca se curva em humor quando ela balbucia
algo incoerente.
“É hora de ir para casa com a mamãe, querida.” Tirando o telefone dela,
ele joga no sofá antes de dar um longo beijo na testa dela, como se
silenciosamente, estivesse dizendo adeus a ela.
“Eu me diverti muito.”
Pim olha para ele e coloca as mãos em suas bochechas. Max rapidamente
sacode a cabeça e finge comê-las, fazendo-a berrar de riso. Fizeram isso mais
algumas vezes, até que eu não aguento mais. Vê-los brincar de alguma forma
me irrita e quebra meu coração de uma só vez.
“Venha para a mamãe,” canto, enquanto estendo as mãos para ela.
Relutantemente, Pim vem até mim e a apoio no quadril antes de me inclinar e
pegar o cabo do carrinho.
“Eu vou.... uh... abrir a porta para você,” balbucia Max, antes de dirigir-se
para a saída. Depois de deslizar o carrinho através da porta, não viro para trás.
Vou direto para o elevador.
Quando aperto o botão de chamada, Max diz:
“Waverly.”
Girando ao redor, encontro seu olhar de onde está, junto à sua porta.
“Por tudo o que vale a pena, você fez um trabalho incrível com Pim. Ela é
uma ótima criança.”
“Eu sei.” Respondo, apenas quando as portas do elevador se abrem.
Puxando o carrinho para dentro, aperto o botão do lobby. Quando as portas se
fecham novamente, Max acena com a mão em despedida.
BN TOLER

Quando o elevador se move para baixo, Pim gorgoleja:


“Li-ham.”
“O que é isso, querida?” Pergunto, sem ter certeza do que ouvi ela dizer.
“Li-ham,” diz novamente.
Ela está dizendo Liam?
BN TOLER

CAPITULO QUINZE

Na manhã seguinte, estou muito atrasada e correndo contra o tempo, pois


tenho aula em uma hora, e ainda nem saímos de casa. Normalmente, Matt me
salvaria, mas ele e Alice partiram no dia anterior para sua excursão pela
Europa, e nem sequer me disse tchau, mas enviou um vídeo, dizendo a Pim o
quanto a ama e sente sua falta. Pimberly, por sua vez, passou a noite irritada,
balbuciando vroom vroom e Li-ham repetidamente, enquanto chorava. Mal
comeu o jantar e evitou minhas tentativas de brincar com ela.
Quando a coloquei na cama, ainda tinha que estudar. Portanto, tive uma
droga de noite, com pouco descanso, e o despertador não me acordou porque
esqueci de programá-lo quando finalmente adormeci, às 02:00h da manhã.
Quando entro pela porta da Sra. Patty, na minha pressa, não percebo o
cobertor de uma das crianças no chão antes de tropeçar nele. Tento recuperar
o equilíbrio, mas não adianta, Pim e eu caímos no chão.
“Meeeeerdaa,” lamento, quando sinto meu tornozelo torcer, a dor
tremenda na minha perna. Pimberly grita, mais pelo susto do que por algum
machucado. Mesmo com a dor imensa, pego Pim e a verifico, certificando-me
de que está bem e inteira.
“Oh, meu Deus, vocês estão bem?” Patty se preocupa quando pega Pim e a
examina também. No momento em que tento ficar de pé, a dor se estende para
todos os lugares, fazendo com que eu caia de volta ao chão.
“Meu tornozelo,” gemo, com os dentes cerrados. “Acho que quebrei.”
BN TOLER

“Semanas?” Meus lábios tremem, enquanto observo o médico com os


olhos cheios de lágrimas.
“Pior caso. Você tem uma torção muito ruim. No mínimo, não será capaz
de colocar qualquer peso sobre seu tornozelo por alguns dias. E não poderá
colocar qualquer pressão sobre ele por um tempo.”
“Um tempo?” Eu gemo.
O médico encolhe os ombros: “Como eu disse, pode ser dias ou semanas.”
“Eu... eu tenho uma filha,” gaguejo. Pela dramaticidade do momento, o
médico deve pensar que sou louca. Quero dizer, pelo menos não quebrou, mas
uma torção ainda me limita. “Como cuidar dela quando não posso nem andar
sem muletas?”
“Você tem família que pode ajudá-la?” Meu coração afunda. Tenho família
que pode me ajudar, mas eles estão a um oceano de distância. Também não
sou a pessoa favorita de Matt naquele momento e, mesmo sabendo que se os
chamasse ele voltaria correndo para cuidar da sobrinha, não tenho certeza de
que posso fazê-lo. Meu orgulho me sufocaria por isso. Além disso, não posso
arruinar esta viagem para eles, pois precisam dela. Oro secretamente para que
Matt peça Alice em casamento, enquanto estiverem lá. Chamá-los seria um
absoluto último recurso.
“Claro,” minto, enquanto a enfermeira me ajuda a mover-me para uma
cadeira de rodas.
Enquanto processavam meus documentos de alta, ligo para qualquer
pessoa que possa me ajudar. Não tenho amigos muito próximos; a faculdade e
a maternidade, que dominam minha vida, me impedem de vê-los regularmente
e os poucos que mantenho contato com maior frequência possível, têm vidas
ocupadas também.
Entregando-me uma prescrição para analgésicos, o médico dá um tapinha
no meu ombro.
“Estes medicamentos devem mantê-la confortável, mas vão deixá-la com
sono, então você definitivamente precisa de ajuda com sua filha. Certifique-se
de ligar e agendar uma consulta de acompanhamento.”
BN TOLER

“Obrigada,” murmuro, enquanto coloco os papéis na minha bolsa. Não


quero ser rude com o médico, mas estou com dor e muito preocupada sobre
como vou gerenciar os cuidados de Pim. Sra. Patty pode vê-la durante o dia,
mas ainda preciso de ajuda para prepará-la de manhã e descobrir uma
maneira de levá-la até lá. Para não mencionar apanhá-la à noite e conseguir
executar a rotina noturna.
Entregam-me as muletas e seguro-as o melhor que posso, enquanto a
enfermeira empurra cautelosamente a cadeira de rodas com cuidado, para não
colidir com minha perna estendida em nada, através dos movimentados salões
do hospital, em direção ao elevador. Quando chegamos ao primeiro andar, ela
pergunta:
“Alguém vem te pegar?”
Lágrimas picam meus olhos enquanto procuro uma resposta. Não há
ninguém para me buscar. As duas únicas pessoas com quem posso contar
estão no outro lado do mundo. Não posso chamá-los e arruinar sua viagem; me
odiaria por isso. A quem mais poderia ligar?
“Você está bem, querida?” Pergunta a enfermeira.
Limpo a garganta e digo:
“Sim. Desculpe. Tem sido um longo dia. Vou pegar um táxi para casa.”
Ela me empurra para dentro do saguão e já estávamos próximas às portas
quando os vejo: Max e Helen. O que diabos eles fazem aqui?
“Você pode parar por um momento, por favor?” Murmuro para a
enfermeira, levantando a mão levemente para ter certeza de que tenho sua
atenção.
Quando a cadeira de rodas para abruptamente, observo Max que está de
pé com os braços cruzados, olhando para Helen enquanto ela fala. Algo tão
diferente dele, que ainda não consigo compreender, e mesmo sua aparência é
diferente... mais viril, se isso tem algum sentido. Enquanto os observo,
ocasionalmente Helen enxuga os olhos com um tecido enrolado. Por que ela
chora? Não é da minha conta, mas me pergunto se tudo vai bem com o bebê.
Mesmo com minhas suspeitas, não posso ajudar quando meu coração aperta
com o pensamento de que algo possa estar errado com seu filho não-nascido.
Isso mantém minha curiosidade e me faz continuar com a cabeça erguida.
Se o bebê não é do Max, por que ele está aqui? A menos que tenha mentido,
que é a resposta mais lógica.
BN TOLER

Assim que esse pensamento passa pela minha mente e meus pelos
começam a arrepiar-se, Helen lança seu olhar em minha direção, quase como
se sentisse que a observava.
“Merda,” murmuro para mim mesma.
Em menos de cinco segundos, ela aponta em minha direção, e faz Max me
olhar também.
“Podemos ir agora,” digo à enfermeira. Ela me empurra suavemente, mas
só fizemos alguns metros, antes de Max e Helen chegarem até nós.
“O que aconteceu?” Max questiona, quando fica na frente da minha
cadeira de rodas, forçando-nos a parar. Vestido novamente em uma simples
camiseta cinza e jeans, ele mais uma vez parece completamente diferente de si
mesmo.
“Torci meu tornozelo,” respondo secamente, empurrando alguns de meus
fios soltos atrás da orelha. “Tive um pequeno acidente esta manhã.”
“Oh, meu Deus!” Helen ofega, preocupação genuína espalhada por seus
traços. “Pimberly está bem?”
Balançando a cabeça, percebo que eles pensam que foi um acidente de
carro.
“Sim,” lhe asseguro. “Ela está bem. Caí na casa da babá. Estava
segurando Pim, mas ela não ficou ferida... apenas assustada.”
Olhando em volta, Max indaga:
“Quem está com ela agora?”
“Ela ainda está com a babá.”
“Quem está pegando você?”
“Ninguém,” admito, irritada. Ter de dizer a Max e Helen que não tenho
ninguém para me ajudar é humilhante. “Então, se você me desculpar, tenho
que tomar um táxi e pegar Pimberly. É bom te ver novamente, Helen,”
murmuro sem sinceridade.
Max não se afasta do caminho. Ele e Helen trocam um olhar como se
estivessem tendo uma conversa com os olhos.
“Você não pode cuidar dela sozinha com seu tornozelo assim,” diz Max.
“Vou descobrir uma forma, Max,” respondo. “Agora, por favor, saia.”
“Deixe-me ajudar,” Max exige, seu tom suave, mas firme.
Nos encaramos por um momento, nenhum de nós dizendo uma palavra. A
agitação das pessoas ao nosso redor não parece dissuadi-lo.
BN TOLER

“Consegui sem sua ajuda por um longo tempo, Max. E não preciso dela
agora,” lhe ataco. Chicoteando as muletas ao redor, tento levantar, mas a
cadeira de rodas tem minha perna presa. Meu rosto se aquece de
constrangimento, enquanto resmungo desajeitadamente, tentando me levantar.
“Waverly,” Helen diz meu nome suavemente enquanto coloca uma mão
gentil no meu ombro, parando-me. “Por favor, deixe-nos ajudá-la. Já fui mãe
solteira antes. Sei o que é estar ferida ou doente e precisar de ajuda. Não há
problema em precisar de ajuda, sabe?”
Meu olhar cai para a minha perna, meu peito doendo com uma lembrança
que passa através da minha mente.
Depois que Max saiu do apartamento na noite em que disse que estava
grávida, passei a noite inteira rezando para que ele se acalmasse e lamentasse
sua reação. Esperava que com algum tempo, ele percebesse que o bebê era um
presente, mas isso não aconteceu. Em vez disso, recebi uma mensagem de
texto na manhã seguinte, como ele havia dito. Max tinha feito isso, tinha
marcado uma consulta para eu ter um aborto.
A palavra devastadora nem sequer chegava perto de como me sentia.
Empacotando minhas coisas em um saco, saí e fui para a casa de Matt.
Menti e disse que Max estava fora da cidade e não gostava de ficar no
apartamento sozinha. Max me enviou uma mensagem naquela tarde, horas
após o horário da consulta.
“Como foi a consulta? Parei no apartamento, mas você não estava em
casa. Onde você está?”
Ele pensou que eu fiz o aborto.
Eu não respondi.
Talvez fossem os hormônios da gravidez. Ou quem sabe, tanto quanto
odeio admitir isso, era uma mulher patética convencida de que poderia mudá-
lo. Não sei, mas em algum lugar em meu cérebro torcido, me convenci de que
Max mudaria de ideia; que ele iria querer o nosso filho. Meu primeiro passo
para ajudá-lo a chegar a essa conclusão foi dar-lhe tempo e espaço. Embora
suas palavras tivessem cortado como uma faca, poderia entender como ter um
bebê tão cedo poderia tê-lo feito entrar em pânico. Tínhamos casado há apenas
alguns meses e nosso namoro foi curto. Tudo aconteceu tão rápido, talvez Max
se sentiu oprimido. Espaço, lhe daria espaço. Ele só precisava de tempo para
envolver sua cabeça em torno da ideia.
Me escondi na casa do meu irmăo por uma semana. Tive que contatar
todos os professores e fingir a gripe do ano, assim poderia faltar às aulas e
fazer meu trabalho em casa. Além do texto que ele havia enviado depois da
consulta marcada, Max não tentou entrar em contato comigo novamente.
BN TOLER

Ferida.
Fúria sem qualquer mudança.
Senti como se estivesse sufocando nisso.
Finalmente, incapaz de suportar mais, fui para o nosso apartamento,
esperando que naquela noite pudéssemos sentar e tentar discutir novamente.
Queria entender seus sentimentos; por que ele não queria nosso filho? Estava
com medo? Será que pensava que seria um mau pai? O que era? Talvez ele só
precisasse de alguma tranquilização. Estava preocupada, mas determinada.
Nós resolveríamos isso. Não nos deixaria fracassar. Com um suspiro pesado,
inseri minha chave na fechadura, preparando-me para a discussão adiante.
Não deu certo.
Ele tinha mudado a fechadura.
O entorpecimento cobriu-me enquanto sentia o sangue escorrer do meu
rosto. Deslizando pela porta, me derreti em uma pilha, enquanto lágrimas
escorriam por minhas bochechas. Puxando meu celular, liguei para ele.
“Waverly,” respondeu ele.
“Oi,” berrei. “Estou tentando entrar no apartamento, mas minha chave
não está funcionando.”
“Isso é porque as fechaduras foram mudadas. Você não vai morar lá
mais.”
“Max,” respirei, meu coração afundando. “ Por que você está fazendo
isso?”
“Você não foi ao encontro.”
“Não, eu não fui,” concordei, enxugando as lágrimas de minhas bochechas
quentes. “Não podia, Max.”
“Então você fez sua escolha. Tem um envelope na recepção para você, com
a localização e a chave para a unidade de armazenamento onde enviei todas as
suas coisas. Meu advogado está trabalhando em uma anulação. Não quero ver
ou ouvir de você novamente.”
Então ele desligou.
Devo ter ficado lá por horas, entorpecida e sem noção. Como isso
aconteceu? Sabia que Max era egoísta até certo ponto. E que ele podia ser
insensível, mas isso... quem era ele? Eu tinha sido cega?
Nos meses seguintes, procurei-o milhares de vezes. Enviei-lhe fotos de
ultrassom, mensagens de texto e e-mails. Ele nunca respondeu. E nunca
levantou um dedo para ajudar.
BN TOLER

E agora ele quer ser um herói; ser pai.


Helen não sabe o quão cruel Max foi para mim, então talvez ela não
entenda minhas reservas.
“Ele nunca se incomodou em ajudar antes,” olho para ela. “Então por que
agora, Helen, hein? Por que devo aceitar sua ajuda agora?” Como ousa me
aconselhar para aceitar a ajuda de Max. Será que ela compreende como Max é
um babaca egoísta, o quão terrível ele foi para Pimberly e para mim? Se Helen é
como eu no passado, ela é estúpida e cega. Pensei que Max era incrível,
também. Aparentemente, ela está sob a mesma ilusão.
“Talvez...” ela olha para Max, então de volta para mim. “Talvez Max seja
uma pessoa diferente agora. "
Bufo, e quase engasgo com o nó na minha garganta. Antes que saiba,
estou sorrindo pela ideia de Max agora mudado, depois de uma vida sendo um
idiota, de repente uma boa pessoa. Que ele é uma pessoa diferente. Esta
mulher é real?
Max levanta as mãos em sinal de rendição, claramente frustrado.
Ajoelhando, ele encontra minha linha de visão.
“Eu não vou sentar aqui e implorar. Se não quiser ficar comigo, deixe-me
pelo menos manter Pimberly até que você esteja bem novamente.”
“Absolutamente, não,” zombo, enquanto me movo bruscamente para
frente. “Não vou deixar minha filha sozinha por dias com você.”
“Você precisa de ajuda,” ele aponta para mim antes de apontar para si
mesmo. “Estou oferecendo. Entendo que no passado, não estive lá para você, e
não posso prometer que sempre estarei, mas estou aqui agora, Waverly.” De pé
novamente, Max passa a mão em seu rosto, tentando acalmar-se.
Deixando para trás uma respiração derrotada, viro a cabeça em outra
direção, lutando contra lágrimas. Helen está certa. É enlouquecedoramente
duro ser mãe solteira. Tive sorte de ter Matt para me ajudar tanto, mas mesmo
assim, houve dias em que lutava.
“Vocês podem ficar em meu apartamento,” oferece Max. “Vocês duas
podem ter meu quarto e vou dormir no sofá.”
Ergo o queixo e meu lábio treme quando uma lágrima rola pelo meu rosto.
Odeio isso. Odeio muito e, ainda assim, ele é minha única opção de ajuda até o
retorno de Matt e Alice.
“Por que está fazendo isso, Max?” Dou um berro.
Olhando para Helen antes de encontrar meus olhos, ele responde:
“Porque é a coisa certa a fazer.”
BN TOLER

Abaixando minha cabeça, suspiro. Eu preciso de ajuda. Não há maneira


de fazer tudo o que Pimberly precisa com meu tornozelo ferido. Deixar o Max
vir em meu socorro é um enorme golpe para meu orgulho e dignidade, mas é
minha única escolha.
“Certo,” balanço a cabeça. Então digo algo que quase me mata:
“Obrigada.”
BN TOLER

CAPITULO DEZESSEIS

“Tenho fraldas, toneladas de roupas, um milhão de brinquedos e seu


berço de viagem,” anuncia Helen, enquanto deixa cair uma sacola perto da
pilha de pertences de Pimberly perto da porta. Max, com as mãos nos quadris,
encara aquele monte de coisas com um olhar desnorteado no rosto, enquanto
coça a nuca.
“Uma pequena menina realmente precisa de tudo isso?”
“Sim,” Helen e eu respondemos em uníssono.
Soltando um suspiro pesado, pega algumas das sacolas para colocar no
carro da Helen.
“Se vocês dizem isso,” murmura, enquanto leva as coisas pela porta.
A boca de Helen curva-se.
“Homens,” ela ri. “Agora, temos tudo que você precisa?”
“Acho que sim,” respondo, ainda pensando. “Oh, meus artigos de higiene e
você pode pegar o Tylenol infantil e o termômetro no armário de remédios, por
favor? Está no banheiro, no andar de cima, terceira porta à esquerda.”
“Certo,” ela cantarola, enquanto sobe as escadas.
“Obrigada,” grito. Não tenho certeza qual o negócio com esta mulher, mas
ela é agradável. Ambos insistem veementemente que não há absolutamente
nenhuma relação romântica entre eles, e que o bebê que ela carrega não é de
Max, e que também não estão relacionados. Então, o que são? Amigos?
Mesmo? Helen simplesmente não parece o tipo de pessoa de quem Max se
aproxima. Ela parece... bem... como eu. De classe média, normal, não uma
esnobe. Não é difícil acreditar que ele esteja interessado nela intimamente, pois
BN TOLER

é uma mulher bonita, mas não consigo vê-lo íntimo dela. Seja como for,
descobrirei isso mais tarde.
Max entra novamente e fica em pé, olhando em volta. Dando um polegar
para a cozinha, ele brinca:
“Devo levar a pia da cozinha? A geladeira?”
Revirando os olhos, respondo com ironia:
“Ha, ha, ha.” Então meu sarcasmo está de volta: “Não que você saiba
disso, Max, mas os bebês precisam de muita coisa.” É uma facada barata, que
me sinto mal por golpeá-lo, especialmente quando Max a deixa rolar pelas suas
costas.
Maldito seja por ser a pessoa maior.
“Precisa de ajuda, Hel?” Grita ele, dando o primeiro passo na escada.
Embora se recuse a reconhecer o meu comentário sarcástico, posso dizer que
Max está desesperado para ficar longe de mim no caso de eu ter mais
artilharia.
“Não, peguei!” Helen grita de volta. “Desço em um minuto.”
Pouco antes de Max descer, um dos quadros na parede chama sua
atenção. Inclinando-se, ele observa, e estreita os olhos, antes de um grande
sorriso capturar seus traços.
“Maldição,” murmura ele. “Pim se parece exatamente com você nesta foto.”
A foto é de Matt e eu; eu com três anos e ele, sete. Matt está sentado em
um sofá castanho horrível comigo ao seu lado, descansando a cabeça em seu
colo.
“Essa é a foto favorita de Matt. Ele sempre brinca comigo sobre como
minha cabeça era tão grande que cobriu a maior parte do seu corpo."
Max ri; um riso profundo, saudável e autêntico.
“Minha cabeça não era tão grande,” defendo-me.
Max ri mais alto, o som de certa forma igualmente emocionante e
aterrorizante para mim de uma só vez. Não consigo lembrar de nenhum
momento em que tenha rido assim. Virando seu pescoço, nossos olhares se
encontram e ele dá um pequeno encolher de ombros.
“É um pouco grande.”
BN TOLER

Minha boca abre em surpresa, quando olho para ele. Max está dizendo
que eu tenho uma cabeça grande? Que idiota.
“Na foto,” rapidamente me explica, quando aponta para o quadro
pendurado. “Agora não. Sua cabeça é dimensionada adequadamente agora.
Seu corpo deve ter crescido envolta dela.”
Fecho a boca, minhas unhas tornam-se de repente interessantes,
enquanto olho para elas, pressionando meus lábios para segurar o riso.
Quando você se ressente com alguém como me sinto por Max, você não ri de
suas piadas, nunca. Chama-se conspirar com o inimigo. Já estou indo viver
com o homem; serei amaldiçoada se risse de suas piadas, também.
“Tanto faz.”
Não olho para cima para ver se Max volta a examinar a foto ou se ainda
continua me olhando, até que ele acrescenta:
“Pim se parece com você, Waverly. Ela é absolutamente linda.”
Quando levanto a cabeça, descubro que Max me observa com seus traços
sérios. É um verdadeiro elogio, um dos mais bonitos que ele já me deu. E não
tenho ideia de como responder.
“Ok,” Helen desce as escadas enquanto cantarola. “A menos que haja
qualquer outra coisa que você possa pensar, acho que estamos prontas para
ir.”
Limpando a garganta, Max tosse um pouco, antes de pegar a sacola de
Helen.
“Vou levar isso para o carro.” Um segundo depois, Max está fora da porta.
Olho-o, sem saber o que havia acontecido.
“Você está bem?” Pergunta Helen.
“Sim,” bufo e sacudo a cabeça para limpar os pensamentos. Quando caio
na borda do sofá, ela corre para me ajudar. “Acho que devemos pegar Pim.”
Enquanto Helen me ajuda a ficar em pé e a arrumar minhas muletas,
encontro seu olhar intenso.
“Sei que esta não é sua primeira escolha e que você não confia em Max, e
tem todas as razões para não fazer isso, mas espero que realmente nos deixe
ajudar... pelo menos até que você esteja melhor ou seu irmão volte.”
BN TOLER

O que Helen está fazendo aqui? Ela parece uma boa moça e eu odeio
pensar que Max a engane de algum modo, como fez comigo anos atrás. Queria
que alguém tivesse me avisado.
“Não sei o quão bem você conhece Max, mas este não é ele,” digo, sem
rodeios. “Max não sai do seu caminho por alguém, nem mesmo por Pimberly
ou por mim.”
“Não posso te prometer que esse novo Max está aqui para ficar, mas posso
dizer que é real... pelo tempo que dure... agora mesmo... é real.”
Não entendo o que ela quer dizer e a dor no meu tornozelo está se
intesificando, então deixo isso para lá. Se o novo Max durar o suficiente para
me ajudar a passar as próximas duas semanas até Matt voltar, então que
assim seja. O que vier depois disso, não poderei me importar menos.
BN TOLER

CAPITULO DEZESSETE

“Eu realmente desejo que você fique hoje à noite,” gemo para Helen
enquanto a sigo para o elevador, indo atrás dela como uma criança segurando
a ponta do avental da sua mãe. O que faço com essas duas aqui por dias,
possivelmente semanas? Tive algumas namoradas sérias ao longo dos anos,
que passavam uma noite aqui e ali, mas nenhuma oficialmente viveu comigo. E
se eu deixar o assento do vaso sanitário erguido e Pim cair nele? E ainda, há
uma questão muito maior. O maior problema é manter minha identidade como
Max na frente de Waverly. Ela já mencionou várias vezes que não sou o mesmo
que costumava ser. Estas foram todas as coisas que passavam em minha
mente enquanto olhava para Waverly no saguão do hospital, oferecendo-lhe
ajuda. Sabia que era uma má ideia, mas que escolha tinha? Ela precisava de
mim.
“Você vai ficar bem,” boceja Helen. “Voltarei amanhã depois de passar no
hospital.”
Dando uma boa olhada na minha irmã, meus ombros caem. Pequenos
círculos escuros cercam seus olhos e sua pele está pálida. Helen está exausta e
eu sou inteiramente culpado por isso. Desde o acidente, ela tem estado ao meu
lado, no hospital com meu corpo ou aqui comigo, ajudando-me, enquanto
tropeço na vida de Max.
“Helen, descanse amanhã, ok? Você precisa de um dia para relaxar. Na
verdade, não quero que venha aqui todos os dias, pois está grávida. Precisa
descansar e dormir um pouco.”
Estendendo seu olhar ardente para o meu, ela responde:
BN TOLER

“Posso só ter dias com você, Liam. Dormirei o resto da minha vida, mas
posso não ter meu irmão mais tarde. Então, estarei aqui amanhã depois de ir
ao hospital.”
Puxando-a em minha direção, a abraço enquanto ela pressiona a cabeça
contra o meu peito. Helen funga um pouco, mas não chora.
“Vai ficar tudo bem, Hel Cat,” prometo-lhe. “Não importa o que aconteça,
vai ficar tudo bem.”
A mudança de Waverly e Pimberly para a casa comigo é preocupante, mas
também uma distração bem-vinda. Helen e eu passamos o dia focados em
ajudar Waverly, evitando as más notícias que tínhamos recebido
anteriormente. Não muito tempo antes de nos encontrarmos com Waverly no
saguão do hospital, os médicos conversaram com Helen para atualizá-la sobre
minha saúde. Fazia mais de uma semana e não havia sinais de atividade
cerebral. Meus sinais não reagem à luz e não respondo a qualquer tipo de
estímulo. Fisicamente, estou morto, puro e simples. Só o milagre da medicina
moderna tem mantido meu corpo vivo. O prognóstico é deprimente, para dizer
o mínimo. Já sabíamos disso, mas foi repetidamente reiterado. Os médicos
acreditam que meu cérebro não vai se recuperar. Eles recomendaram
fortemente que me tirassem da vida.
“Tenho medo, Liam,” Helen diz.
Não sei o que dizer e não quero ficar emocional. O maldito uso dos
esteroides de Max ainda tem me bagunçando, fazendo-me sentir como uma
mulher. É isso que a TPM significa para mulheres? Em um minuto me sinto
bem, então me sinto choroso, e por fim chateado. Me sinto louco. Juro a mim
mesmo que nunca farei outra piada sobre mulheres durante sua época do mês.
Agora, com meu prognóstico inalterado, adicionado à mistura, a tarefa
esmagadora de manter a vida de Max; a ideia de tê-lo preso em meu corpo,
congelado; a carga de trabalho que estou criando para Helen; sem mencionar o
possível dano psicológico que estou fazendo a Pimberly e Waverly, há motivos
mais do que suficientes para tirar o meu corpo do suporte vital e ver o destino
agir.
“Em duas semanas, Helen,” digo a ela, enquanto beijo o topo de sua
cabeça.
Recuando, ela me olha.
“Duas semanas o quê?”
BN TOLER

Engulo em seco, preparando-me para sua reação, pois sei que ela não vai
gostar do que tenho a dizer.
“Depois que Waverly e Pimberly forem para casa, tiraremos o meu corpo
do suporte vital.”
“Li-”
Levanto a mão, parando-a.
“Se não houver evidências de que meu corpo acordará, temos que fazer a
coisa certa. Se Max está preso lá, ele merece ser capaz de mudar de volta para
o seu corpo ou mesmo seguir em frente...” faço um gesto com a mão para o
teto, “para o outro lado.”
“O que você quer dizer com ‘ele merece’?” Murmura ela.
“Ok, talvez o cara seja um idiota, mas ninguém merece isso, Hel. E quanto
a mim? Não posso viver assim. Fingir ser ele quando sou.... eu, você sabe? Se
ficar preso em seu corpo para sempre... isso é uma coisa, mas não posso viver
sabendo que Max está preso lá e a qualquer momento poderíamos mudar de
volta, ou eu poderia morrer, ou qualquer outra coisa.”
As portas do elevador se abrem. Estendo a mão para mantê-las abertas
enquanto Helen olha para o chão. Ela precisa de um momento para absorver o
que estou dizendo e não importa quanto tempo demore, darei isso a ela.
“Ok,” ela concorda, após um breve silêncio. “Mas prometa-me uma coisa,”
Hel esfrega o nariz com a manga da blusa.
“O quê?”
“Viva essas próximas duas semanas, certo? Quero dizer,” ela faz uma
pausa, limpando a emoção de sua garganta, procurando por palavras,
“realmente viva, Liam.” Ela finalmente termina. “Gaste um pouco do dinheiro
desse cara, pois ele tem uma tonelada. Isso não faz de você um idiota ou um
ladrão. Faça algo divertido, louco e ria. Dê muito amor para aquela garotinha.
Talvez você não sinta que ela é sua, mas pode ser o mais próximo que pode
chegar de ser um pai. Pode ser apenas duas semanas, mas elas podem ser
especiais. Só, por favor,” ela chora, enquanto descansa uma mão firme no meu
peito. “Viva.”
Acenando com a cabeça, acrescento:
“Eu vou. Agora, prometa-me não derramar mais lágrimas e não se
esgotar.”
BN TOLER

“Vou tentar,” promete, antes de se aproximar e beijar minha bochecha.


“Me ligue se você ou Waverly precisarem de alguma coisa.”
“Eu vou. Dê a David um abraço por mim,” nós tínhamos discutido trazer
David no circuito, tentando incluí-lo, mas no final, decidimos, por enquanto,
não dizer a ele que estou vivo no corpo de Max — não que ele saiba quem é
Max. Não foi uma decisão fácil, especialmente porque amo meu sobrinho como
um filho, mas concordamos em esperar até sabermos mais.
Espero até que as portas do elevador se fechem antes de voltar para o
apartamento. Fecho a porta silenciosamente, esperando não acordar Pimberly,
rastejo para a sala de estar e me sento no sofá.
Duas semanas.
Meu destino será decidido em quatorze dias miseráveis. Por um lado, sinto
que passará num piscar de olhos, mas por outro... parece uma eternidade. A
parte mais difícil é não saber o que acontecerá. Quer dizer, seria uma coisa se
soubesse com certeza que iria morrer, mas não sei. Não posso fazer grandes
mudanças ou decisões, porque não tenho como saber se Max vai retornar para
seu corpo, com as consequências das decisões que eu fiz em seu lugar. Não
que faria algo ilegal ou prejudicial, mas ainda me sinto obrigado a preservar
seu estilo de vida, tanto quanto posso. Não serei um pai cruel e egoísta, no
entanto. Não me importo se isso o irrita ou não.
Perdido em pensamentos, estou quase cochilando quando ouço um
balbuciar ao longe: é Pimberly, em sua voz de bebê, suave e doce. A porta do
quarto está entreaberta, então espio por dentro. Waverly está de costas, o pé
apoiado sobre uma pilha de travesseiros. Parece nocauteada, não ouvindo
Pimberly. Acho que as pílulas para dor fizeram efeito. É a primeira vez que a
vejo à vontade; relaxada. Até agora, a única versão de Waverly que conheço é
de uma mulher desprezada, curvada e fora de sua forma. Quanto mais
descubro sobre Max e o que ele fez com ela, mais entendo por que Waverly é
assim. É muito triste. E sei que quando é rude comigo — condescendente e
insultante — é com Max, mas isso não torna mais fácil de lidar. Ainda assim,
entendo. Antipática como é, certamente não anula sua beleza. Não posso
evitar. Olho-a por um momento. A alça da regata pende frouxamente sobre o
ombro expondo a menor curva de seu peito. Sua pele parece tão absurdamente
lisa. Pergunto-me o quão suave seria sob a ponta dos dedos... como seria a
sensação de deixar meus lábios passarem ali.
BN TOLER

Pimberly gorgoleja algo, que afasta minha atenção. Esfrego o rosto


algumas vezes para limpar os pensamentos. Que diabos estou fazendo?
Sentado ali, olhando para Waverly como um maldito pervertido na frente da
sua filha. Liam, controle-se, repreendo-me.
Pisando levemente para não incomodar Waverly, puxo a alça da regata
para cima e os cobertores sobre ela, depois desligo a lâmpada no criado-mudo.
Olhando para ela, não sei por que, mas sussurro um “Boa noite.”
Pegando Pimberly, obtenho uma fralda e algumas toalhinhas e a levo para
a sala. Depois de trocar-lhe, nos deitamos no sofá e puxo algumas fotos de
motocicletas.
“Essa,” mostro a ela a foto da moto, “é uma Panhead de 1948, minha moto
dos sonhos.”
“Moto,” gorgoleja, enquanto toca com o dedo gordinho na tela do telefone.
Rindo, a aperto e beijo sua têmpora. Pim é muito bonita. Algo sobre ela faz
meu coração inchar. Por um momento, talvez pela primeira vez desde que me
tornei Max Porter, realmente sinto pena dele. Esta menina, sua garotinha, é
incrível e ele nunca saberia. A pior parte foi a escolha dele por não saber. A
maioria das meninas quer ouvir histórias de princesa e contos de fada, mas
Pim quer olhar Harley e assistir corridas de motocicleta. Ela é rara; única.
“Ele não sabe o que está perdendo com você, garota,” digo a ela. “Se
alguma vez tiver uma filha, quero que ela seja igual a você.”
“Li-ham,” sussurra ela, enquanto deita a cabeça em meu peito e se
aconchega mais perto.
E é isso. Estou feito. Pimberly havia roubado o meu coração oficialmente.
BN TOLER

CAPITULO DEZOITO

Minhas pálpebras parecem chumbo quando acordo. Eu as abro na manhã


seguinte, e permito que a forte iluminação do sol me cegue, destruindo minha
retina, juntamente com a dor no tornozelo, que me deixam grogue, e fazem o
simples ato de sair da cama quase impossível. Maldição, o sol está brilhante.
Zombo dele como se pudesse ver meu desdém. Sol estúpido. Por que diabos
alguém iria querer janelas do chão ao teto? Então rio para mim mesma,
divertida pela minha pergunta.
Esse é o Max do qual estamos falando, Waverly. Sempre haveria um
enorme ponto de interrogação sobre aquele homem. Ele é um enigma, do pior
tipo, também. As mulheres podem desfrutar um pouco de mistério quando se
trata de um homem (a emoção e o perigo do desconhecido), mas Max não é
assim. Ele é o mais distante disso. As perguntas sobre Max são tristes,
realmente. Por que é tão egoísta? Por que é tão mau? Por que abandonou sua
esposa e filha?
Esfregando o rosto, gemo suavemente.
“Não pense nisso, Waverly. Ele não vale as células cerebrais que você
queimaria tentando descobrir.” Com esse pensamento, fico alerta. “Max,” ofego,
lançando um olhar para o berço de viagem de Pim. “Pimberly?” Chamo
calmamente. De onde estou sentada, na cama, tudo que posso ver é o
montículo de seu cobertor. Não quero assustá-la se ainda estiver dormindo.
Grunhindo suavemente, movo o pé ferido para o chão e fico no meu bom.
Usando a cama para adquirir equilíbrio, vou mancando em direção ao berço e
espreito dentro. Pim não está lá. Meu corpo inteiro fica tenso e em pânico. Em
algum lugar, no fundo da minha mente, sei que pode estar com Max, mas a
ideia de que ele, ou qualquer outra pessoa, a tivesse tomado é ridícula, mas
BN TOLER

não posso mentir e dizer que não passou pela minha cabeça. Meu outro
pensamento é: O que aconteceria se Pim tivesse saído do berço e vagasse ao
redor do apartamento, desacompanhada por horas? O apartamento de Max não
é seguro para crianças. Quem sabe o que ele tem nos armários ou gavetas? Me
encolho, pensando nisso. Voltando para o lado da cama onde havia dormido,
pego as muletas e vou em direção à porta, que não está totalmente fechada,
então não acordo Max ou Pim quando abro-a, muito rápido, e praticamente
caio, na minha pressa.
E lá estão eles, dormindo no sofá.
Pim ronca, enquanto mantém seu pequeno punho dentro da camiseta
branca de Max, sua boca ligeiramente entreaberta à medida em que respira
lentamente. Uma das mãos de Max descansa sobre as costas de Pim, quase
protetor, e a outra se encontra atrás de sua cabeça. Engulo em seco enquanto
os observo. Se a vida fosse diferente, esta seria uma foto perfeita. Uma imagem
para enquadrar e mostrar um pai e sua filha compartilhando um momento
doce e amoroso. O que é isso, no entanto... não tenho certeza.
Por uma fração de segundo, sinto uma raiva crescente, uma amargura
direcionada a Max, recusando-me a enxergar a menor beleza nisso, mas luto
contra isso. Tenho sido amarga por anos e estaria mentido se dissesse que não
há dia em que esse sentimento me atinge, mas tenho trabalhado duro para
combatê-lo, pois aprendi que a minha dor, raiva e desdém por Max nunca o fez
mudar, tornando-o um homem melhor; ou amar Pimberly e eu. Não fez a
minha vida melhor. Na verdade, só piorou. Quão pesado o ódio pode ser, com o
poder de afogá-lo. Por meses, depois que Max me abandonou, me sentei no
meu quarto com o laptop, navegando no Pinterest 17 e inundado-me com
citações sobre deixar ir e seguir em frente. Nada disso ajudou, me
atrapalhando mais. Seguir em frente é uma escolha. Podemos permanecer
cimentados no passado, ou avançar em busca de melhores dias.
O ódio é o inimigo do amor, mas os dois estão tão intimamente ligados;
quase de mãos dadas. Você só pode odiar alguém se você o ama. Quando
pensei nisso, percebi que não amava Max. Eu me amei no amor, a maneira que
me sentia confiante em saber que tinha alguém, um parceiro no crime. No
entanto, quando me aprofundei na reflexão, vi que nem sequer tive isso com
Max. Ele nunca foi meu parceiro, meu confidente. Tudo que amei foi uma

17Uma rede social que permite a partilha de fotos e vídeos em diferentes murais, de acordo
com o gosto de cada utilizador. Aliás, o próprio nome pi + interest remete-nos para isso mesmo,
uma parede virtual onde cada pessoa pode pendurar aquilo que mais lhe interessa.
BN TOLER

ilusão, uma ideia. Posso odiá-lo por ser um parasita para minha filha, mas não
por minhas ilusões. Vi o que queria ver e foi minha culpa, não dele.
Quando o telefone de Max toca, quase tenho um treco pelo tanto que me
assusta. Ele ajustou a campainha ao som de uma motocicleta acelerando. Que
diabos está acontecendo com essa obsessão por moto? É estranho. Como um
homem crescido apenas acorda um dia e começa a amar motocicletas?
Levantando a mão livre com cuidado, tentando não perturbar Pim, que não
está nem um pouco perturbada com o som do toque desagradável, Max
procura o telefone freneticamente. Quando encontra, aperta o botão de aceitar
e responde.
“Hel,” ele grunhe. “Que horas são?”
Hel eu sei que é Helen. Ouvi quando ele a chamou assim algumas vezes
no dia anterior.
“Elas ainda estão dormindo.” Ele ri suavemente enquanto inclina a
cabeça para baixo e olha para Pim, sua boca virando em um sorriso. “Pim está
dormindo no meu peito.”
Hel diz algo e Max fecha os olhos, sacudindo a cabeça.
“Não vou tirar uma selfie de nós, Hel,” ele informa em um sussurro.
Depois de alguns segundos, acrescenta: “Não.” Adivinho outra recusa dele
depois que ela empurra. “Você ainda está no hospital?” Max fica quieto por um
momento e então sua boca fica achatada e os músculos em sua mandíbula
apertam-se, quando ele pergunta: “Bem, o que eles disseram?” Enquanto
escuto, finalmente percebo que estou cem por cento espionando. As
medicações têm me deixado lenta, estou ali de pé, como uma mosca na parede,
mas se me movo agora, Max me ouvirá. É errado continuar ali sem fazer minha
presença conhecida, mas noto algo. Nunca descobri por que os dois estavam no
hospital no dia anterior. Estive tão presa em meus próprios problemas e
preocupada sobre como cuidaria de Pimberly, que esqueci completamente de
perguntar o que eles faziam lá. Antes que possa terminar esse pensamento ou
decidir o que fazer, Max diz: “Insuficiência hepática?” Soltando um suspiro
profundo, seu corpo inteiro parece desinflar enquanto escuta o que Helen diz.
“Então estamos trabalhando com menos de uma semana agora?” Minhas
sobrancelhas sulcam enquanto escuto. Do que eles estão falando? Ou de
quem? “Olha,” Max diz bufando. “Vamos falar sobre isso mais tarde.” Quando
ele finalmente desliga, deixa cair o telefone ao seu lado e dobra o pescoço,
BN TOLER

beijando suavemente o topo da cabeça de Pim enquanto ela começa a se mexer.


“Bom dia, querida,” ele fala. “Parece que nós dormimos toda a noite no sofá.”
“Você ainda bebe café?” Finalmente pergunto, fazendo minha presença
conhecida. A cabeça de Max se sacode com o som da minha voz. Claramente, o
assustei.
“Oh, bom dia.” Responde grunhindo, quando se senta, segurando Pim
apertada nele. “Não ouvi você chegar.” Seu cabelo normalmente perfeito, está
desgrenhado um lado para cima, sua camisa enrugada, e com Pim enrolada em
seus braços, ele parece... paternal. Conforme eu sonhei uma vez. Parece...
sexy.
“O som de uma motocicleta me acordou,” minto, enquanto dou um passo
para trás com as muletas. Talvez eu seja mesquinha por me divertir com tom
do toque do celular, mas sinto-me bem em agir dessa forma. Ele encolhe os
ombros, não perdendo o sarcasmo no meu comentário.
“Mudarei o tom do toque.” Então, virando a cabeça para Pim, ele diz em
uma voz brincalhona: “Nós mudaremos, não é, Pim?”
“Leite,” responde Pim.
“Ela é como sua mãe.” Informo a Max, arqueando uma sobrancelha. “Você
não pode falar com ela até que tenha tomado seu leite, assim como não pode
falar comigo até que eu tenha tomado o meu café.”
“É assim?” Ele ri, metade da sua boca curvada em um sorriso.
“Devidamente anotado. Bem, por que você não senta e, depois de trocar a
fralda de Pim, eu faço o café?” Sentando Pim no assoalho, levanta-se,
esticando os braços acima da sua cabeça, alongando-se. O primeiro botão da
sua calça jeans está desfeito, fazendo com que ela se pendure ligeiramente nos
quadris. Ao esticar-se, a camisa sobe, e revela a parte mais baixa do seu
abdômen musculoso com poucos pelos. Seu corpo não mudou muito, ainda
parece incrível, mas a maneira como ele se move e se comporta é diferente, e
tem algo sobre isso que acho absolutamente hipnotizante. Quanto mais tempo
eu passo com Max, mais tranquila me torno.
“Posso fazer o café,” lhe informo. “Se você não se importa de trocá-la.”
“Tem certeza?” Max pergunta, enquanto abaixa os braços e rola os ombros
algumas vezes. “Sei que as coisas serão um pouco difíceis até que se acostume
com as muletas e tudo.”
BN TOLER

“Tenho.” Enquanto me movimento em direção à cozinha, Max levanta Pim


e começa a fazer sons de avião à medida em que a carrega sobre sua cabeça
para o quarto. Não pude deixar de sorrir um pouco com Pim uivando de tanto
rir. Após algumas tentativas e xingamentos, finalmente começo a fazer o café.
As muletas não são o problema, a cafeteira extravagante é. Cinco minutos, e
estou pronta para jogá-la pela cozinha. Enquanto a panela com água esquenta,
volto para a sala de estar e caio no sofá, exausta. Quem diria que fazer café
pode ser tão assustador?
“Você está bem?” Max pergunta, enquanto carrega Pimberly de volta para
a sala. Ele a colocou em uma roupa limpa, mas seu cabelo ainda continua
selvagem de dormir.
“Essa cafeteira é louca,” me queixo, quando ergo as mãos, indicando que
quero que me entregue Pim. “Oi, querida,” ronrono, quando ela estende a mão
para mim.
“Nem sei por que alguém quer algo tão complicado,” resmunga ele. “Não
devia demorar tanto para fazer café.”
“Então, por que comprou?”
“Não sei,” murmura, enquanto se afasta de nós. Pim e eu brincamos por
alguns momentos enquanto Max trabalha na cozinha, e então ele grita:
“Como você gosta do seu café?” Cerro os dentes. Talvez seja estúpido ficar
chateada por ele não lembrar, mas parece muito simples esquecer.
“Preto,” respondo rapidamente.
“O quê? Simplesmente não acredito que você é uma bebedora de café
preto,” grita para mim.
“Eu sempre tomei preto,” murmuro. Depois de um momento, Max aparece
e entrega a Pim uma taça de leite. A deslizo para o chão, com cuidado para não
deixar que ela bata em meu tornozelo, em seguida Max me entrega a caneca
fumegante. Murmuro “obrigada” antes de tomar um gole, enquanto Max
permanece de pé, olhando para nós com uma expressão sombria no rosto. O
silêncio brada entre nós, uma vez que ele não sabe o que dizer, nem eu — é
estranho. Nós fomos casados uma vez, compartilhamos nossos corpos. Tenho
uma filha com esse homem, mas uma simples conversa parece impossível.
Como isso aconteceu? Aqui estávamos, vivendo de uma forma pouco íntima,
como uma família, quando estávamos muito longe disso. Atormento meu
BN TOLER

cérebro, bucando um assunto, algo que possa perguntar e evocar em uma


conversa, nada muito pesado, mas não consigo. Até que...
“Quando estávamos juntos,” começo. Mantenha isso leve, Waverly, me
repreendo. “Não me lembro de você gostar de motocicletas.”
“Oh, sim?” Me responde, coçando a parte de trás do pescoço, antes de
tomar um assento na namoradeira em frente a mim.
“Tem sido sempre um interesse, ou é novo?”
Deus, isso é tão estranho. Não me importo se Max gosta ou não de
motocicletas, mas odeio o silêncio constrangedor. Juro que se estivesse no FBI
ou na CIA e fosse capturada pelo inimigo, tudo o que eles teriam que fazer era
me trancar em uma sala com alguém que não conversasse comigo e eu
contaria todos os segredos apenas para preencher o silêncio.
“Pode-se dizer que é um novo interesse.”
Faço uma pausa, esperando para ele falar mais, mas não. Claro que não.
Mais uma vez, preencho o silêncio.
“Você tem uma?”
Inclinando a cabeça, Max me olha, sua boca curvando-se de um lado
como se tivesse uma ideia.
“No momento, não. Quer vir comigo para comprar uma?”
Bufo, porque sei que Max está brincando. Quando ele continua a olhar
para mim, com as sobrancelhas levantadas em questão, estreito os olhos em
sua direção.
“Você está falando sério?”
“Muito sério.”
“Por que você quer sair e comprar uma motocicleta hoje, de todos os
dias?”
“Por que não hoje?” Pondera ele, enquanto levanta Pim. “Hoje é tão bom
quanto qualquer outro dia.”
Não tenho ideia do que está acontecendo. Só estou tentando conversar e
agora nós vamos comprar uma moto? Estou exausta, tentando acompanhar
tudo.
BN TOLER

“Vou tomar um banho.” Suspiro, decidindo não entreter sua sugestão


ridícula. Fujo do assunto e tento ficar de pé quando Max estende a mão.
“Deixe-me ajudá-la.”
Meu olhar passa da mão para o rosto dele. Quero dar um tapa em sua
mão; dizer que não preciso da sua ajuda. Pode levar mais tempo, mas sei que
consigo me virar sozinha. Qual a utilidade em rejeitar sua ajuda? Como disse,
o ódio é pesado e não machuca ninguém, exceto a pessoa que o dá. Tomando
sua mão, meu corpo fica tenso, curvando-se, enquanto tenho a sensação de
formigamento. Nós dois fazemos uma pausa, olhando para onde nossas mãos
estão unidas. O que é isso? Ele também sente isso? Depois de um momento,
Max gentilmente me levanta, e eu, de alguma forma, consigo não derramar o
café. Uma vez que estou equilibrada, ele leva minha caneca para que eu possa
pegar as muletas. Nenhum de nós reconheceu o momento... como poderíamos?
Percebo que, desde o nosso encontro no The Mill há algumas noites, não
tínhamos nos tocado nem uma vez.
Dando um passo para trás, Max passa a mão pelos cabelos. De repente,
fica fascinado com o chão enquanto olho para ele.
“Você precisa de ajuda para ir ao banheiro?” Ele sabe que não, mas posso
dizer que Max só quer dizer algo para passar o momento.
“Estou bem. Obrigada. Você pode olhá-la enquanto tomo banho?” Aponto
o queixo para Pim.
Olhando para ela, ele sorri.
“Acho que posso lidar com isso.”
BN TOLER

CAPITULO DEZENOVE

Quando Helen chega naquela manhã, todos nós comemos panquecas, e o


diálogo mantém-se cordial, pois ela é de grande ajuda, não só nas pequenas
conversas com Waverly, mas também me auxiliando a aprender coisas sobre
Waverly que Max saberia, ou deveria, ao menos. Graças à minha irmã
extremamente curiosa, descubro que Waverly está na escola a fim de tornar-se
uma assistente social; sua mãe havia abandonado seu pai, deixando-o com
dois filhos, quando Waverly tinha apenas três anos; e seu pai faleceu cinco
anos atrás.
“Parece que você teve um momento difícil,” Helen diz para ela enquanto
pega seu prato.
Waverly inclina a cabeça.
“Matt e eu sempre tivemos um ao outro. Estou agradecida por isso.”
Então, quase animada, pergunta-lhe: “Onde está sua família? Você tem algum
irmão?”
Helen deixa seu olhar cair enquanto limpa a garganta. Dando-me um
olhar rápido, Helen responde:
“Um irmão. Nossos pais também se foram há algum tempo.”
Waverly solta um suspiro pesado.
“Sinto muito. Você e seu irmão são próximos?”
“Nós somos. Ele é um ótimo cara,” Helen responde num tom amoroso, sua
boca curvando-se em um pequeno sorriso. “Um idiota às vezes, mas ainda
assim ótimo.”
Eu rolo meus olhos onde apenas Helen pode ver. Ela se acha hilariante.
BN TOLER

“Onde ele está?” Continua Waverly, sem deixar-se dominar pela


imprecisão de Helen. Aparentemente, minha irmã não é a única curiosa na
sala.
“Na realidade...” Helen murmura, parando momentaneamente enquanto
olha para mim, num breve piscar de pânico em seus olhos, pois não tem ideia
do que dizer.
Arregalando os olhos, a aviso para não dizer uma maldita palavra sobre
mim no hospital.
“Ele está aqui e lá.” Helen termina, pegando minha dica. A resposta é tão
vaga quanto possível, mas de um modo técnico, é verdade, pois estou aqui e
ali.
Quando a boca de Waverly se achata, decido mudar o assunto. Claro que
ela quer mais informações e está frustrada, pois Helen não lhe fornece
respostas. Antes que possa encontrar um bom tema para falarmos, a
campainha toca.
“Eu atendo,” Helen anuncia, praticamente voando para fora de seu
assento, desesperada para escapar do leve interrogatório de Waverly.
“Isso é tão triste sobre seu irmão,” Waverly afirma, seu olhar fixo em mim
enquanto descansa o queixo em sua mão, o cotovelo sobre a mesa. “Ele está
em Nova Iorque?” Com a saída de Helen, parece que Waverly está transferindo
o interrogatório para mim.
Limpando a garganta, levanto e coloco o xarope e os morangos na mesa.
“Ele está em Nova Iorque.” A resposta é vaga, como as respostas de Helen,
e quando a boca de Waverly se achata, posso dizer que ela não está feliz com
isso.
“Mais café?” Pergunto-lhe.
Deslizando sua caneca em minha direção, ela bufa:
“Sim.”
Pegando seu copo, entro na cozinha e paro quando vejo Helen, vindo em
minha direção; as sobrancelhas franzidas, os olhos entrecerrados enquanto
fala:
“Há alguém na porta para você.” Helen declara lentamente, deixando-me
saber para ser cauteloso. Inclino a cabeça em questionamento e ela arregala os
olhos, dizendo-me para não perguntar quem era. “Vou terminar de limpar.”
BN TOLER

Quando passo por ela, sussurra-me: “Vou mantê-la ocupada, mas você
precisa se livrar deles rapidamente.”
Balanço a cabeça e encolho os ombros, minha maneira silenciosa de
perguntar, “Quem?”
“Apenas se apresse,” me ordena em voz baixa.
Mal abro a porta quando um homem baixo, calvo, com olhos escuros e
dentes manchados, cacareja:
“Max-a-million. 18 ” Estendo a mão para ele, que a agarra e tenta algum
aperto de mão estranho de grandes amigos. Não sei como fazer, então acaba
desajeitadamente. Recuando, o homem me avalia e me olha de cima abaixo
com confusão. “Mudando o guarda-roupa, vejo,” ele ri.
Olhando para o elevador, vejo Braxton acenando freneticamente.
“Eu tentei detê-los, senhor, mas eles vieram mesmo assim. Devo chamar o
segurança?”
“Disse-lhe que somos amigos.” O careca grita para Braxton. Então
voltando sua atenção para mim, aparentemente esquecendo tudo sobre
Braxton, acrescenta: “Você parece um bandido assim. Eu gosto.” O homem ri
um pouco mais, incrivelmente humorado por si mesmo. Odeio pessoas que
fazem suposições sobre outras, especialmente as que acabo de conhecer, mas
algo me diz que esse cara provavelmente é assim. O modo como se move
rapidamente, batendo o meu ombro levemente e rindo, me irrita ridiculamente.
Ele está passando dos limites. E por um momento me pergunto se realmente é
quem diz, ou se é assim ao redor de Max. Esse estranho desagradável é o
suficiente para lidar, mas é claro, há mais. Como sempre acontece quando se
trata de Max Porter, sempre tem mais.
Ao lado do homem calvo, há duas mulheres, ambas bonitas, vestindo
saltos e casacos de pele. Mesmo com casacos no meio do verão, posso
acrescentar, não é difícil adivinhar que não há muita roupa por debaixo deles.
“Você não foi ao clube e Wallace disse que você gosta de aprovar todas as
meninas. Ele teve que levar o filho para o acampamento de verão hoje e me
pediu para trazê-las.” Então, inclinando-se para mim, acrescenta: “Não importo
de ser voluntário para isso,” diz em voz baixa, antes de começar a rir
novamente.

18 Trocadilho com o nome dele. Em tradução livre, seria “Max-Um-Milhão”.


BN TOLER

“O clube?” Meu questionamento não é para o homem baixo. Estou falando


comigo mesmo, tentando entender o que está acontecendo aqui.
“Sim, você esqueceu? Wallace disse que não te vê há uma semana. De
qualquer maneira,” ele se move antes de me deixar responder, “Aqui estão elas.
Podemos entrar? A menos que você queira dar ao velho lá,” ele aponta na
direção de Braxton. “Um espetáculo gratuito.”
Do interior do apartamento, Pimberly grita e fecho a porta.
“Não!” Dou um grito. A boca do homem franze e ele ergue uma
sobrancelha.
“Você tem um bebê aí dentro, Max?” Seu tom está chocado, como sua
expressão.
“E se eu tiver?” Falo, cada vez mais irritado com esse cara. Mesmo que
conheça Max, não é da sua conta se tem um bebê no apartamento ou não. Ele
é como uma pulga, saltando em todos os lugares e irritante pra caralho.
Erguendo as mãos em rendição, o homem dá um passo para trás.
“Desculpe por ter ultrapassado, chefe.” Ele olha para cada mulher, antes
de dizer: “O chefe não está para amostragem hoje, meninas,” informa. Meu
estômago revira quando a percepção me atinge. Max, provavelmente, está
envolvido em algum tipo de clube de strip-tease e aparentemente gosta de
aprovar as mulheres de lá. Será que Max faz essas mulheres se apresentarem
para ele? Ou seria muito mais? Que maldito idiota. “O chefe ainda pode dar
uma espiada,” acrescenta o homem. “Abram os casacos para ele dar uma
olhada.”
“Uh... não...” Gaguejo, em pânico. Mas é tarde demais, as mulheres têm os
casacos abertos num piscar de olhos. Só consigo um olhar rápido, seios
gigantes e pele sem pelos, antes de gemer e virar, apertando os olhos fechados.
“Cubram essa porra,” lhes ordeno. Depois de alguns segundos, volto e encontro
as garotas freneticamente amarrando seus casacos. Agarro o idiota pelo
colarinho da camisa e o arrasto em direção ao elevador:
“Não traga essas mulheres ou qualquer outra aqui de novo,” falo. “Você
ouviu que eu tenho um bebê lá dentro. Esta é a porra da minha casa, e você as
manda ficar nuas no meu corredor, onde meus vizinhos podem ver? Que tipo
de saco de merda é você?”
“E-e-eu-desculpe, chefe.” Gagueja, enquanto suas mãos agarram meu
pulso. Empurrando-o para longe, ele aterrissa contra as portas do elevador
BN TOLER

com um baque duro. Ambas as mulheres correm em sua direção, uma


chamando-o de "Vince".
“Tire-as daqui, Vince,” ordeno. “E não volte.”
“Eu mesmo os escoltarei, senhor,” acrescenta Braxton. “É melhor você
voltar para dentro antes que sua amiga veja. Isso não seria bom para nenhum
de nós.” Faço uma careta, inseguro do que ele quis dizer com nós, mas não me
preocupo em perguntar. Não me importo, realmente. Só quero Vince e as
mulheres fora daqui. Elas ajudam Vince a ficar de pé, examinando-o. Ele me
olha, como um homem embaraçado e desprezado, mas não diz nada. Quem
sabe tenha medo de Max, seu dinheiro e estatura, ou talvez seja apenas o fato
de que o empurrei.
De qualquer maneira, ele não quer me desafiar, o que é inteligente. Se me
testasse, provavelmente eu lhe socaria nos dentes. Estou chateado com esta
situação, o cara babaca e Max, mais uma vez provando o quão idiota é, e não
duvido que a retirada dos esteroides esteja piorando tudo. Quero socar algo. O
único e brilhante lado bom deste incidente foi Waverly não os ter visto. Só
posso imaginar o alvoroço que teria acontecido.
Helen me encontra na porta e se encolhe quando me vê.
“Você está bem?”
“Não,” cuspo de volta. “Preciso sair por um tempo.”
“Temos que falar sobre o que os médicos disseram esta manhã,” murmura
ela, enquanto se inclina mais próxima a mim.
“Eu sei,” resmungo, passando a mão pelo cabelo e lutando para manter a
calma. Waverly ficar aqui já é bastante estressante, ainda mais odiando o
homem cujo corpo tenho habitado. Em seguida, essa visita surpresa da
patrulha louca, acrescida da má notícia do hospital, e sinto como se minha
cabeça estivesse prestes a explodir. Aparentemente, minhas enzimas hepáticas
têm disparado, sendo um sinal de falha de órgão e os médicos sentem
fortemente que é hora de puxar o plugue. Helen discutiu com eles e, no final,
todos concordaram em dar uma semana. O que significa que nossas duas
semanas foram diminuídas para menos de uma. O tempo está se esgotando.
Minha morte iminente está à vista. Sinto como se estivesse observando um
trem vindo em alta velocidade, com a intenção de me arrasar, mas só consigo
me mover em câmera lenta enquanto tento fugir.
BN TOLER

“Eu sei,” suspiro alto. “Nós vamos, mas preciso de algum tempo para
esfriar. Você pode esperar um pouco?”
“Sim, eu espero.”
Pegando as chaves, saio sem dizer outra palavra. Waverly provavelmente
ficará chateada. Deus sabe que Max não pode fazer nada agora e
provavelmente precisará de uma boa explicação mais tarde, mas não posso
falar nesse momento, pois tenho medo de que, se ela pressionar ou dar uma de
esperta (ela tem todo o direito, quando se trata de Max), eu explodiria e não
quero fazer isso.
Passo horas andando pela cidade, a procura de Pearl. Preciso ver que ela
está bem. Demora algum tempo, mas a encontro empoleirada em um banco do
parque, o pequeno gato de pelúcia, que pedi a Mary para entregar-lhe, no colo,
e sua mão acariciando-o distraidamente. Suas roupas estão limpas e o cabelo
amarrado. Ela não é Elizabeth Taylor, mas parece bem. Isso me dá algum
alívio.
Uma hora mais tarde, faço meu caminho até a loja em que costumava
trabalhar antes de cair pelas escadas, ferindo-me. Por oito anos trabalhei ali.
Rob, o proprietário, herdou o negócio do pai dois anos antes, e mal mantém o
lugar funcionando. A verdade é que ele não sabe nada de motocicletas. Com a
renda dos negócios diminuindo e minha lesão infeliz, apenas deu-lhe a
desculpa que precisava para reduzir os funcionários, mantendo o lucro sem
parecer um idiota total. Desnecessário dizer que Rob não é minha pessoa
favorita, mas a menor das minhas preocupações no momento.
Quando ouço o zumbido de motores e a música alta de rock tocando a
dois quarteirões de distância, o mal humor e os pensamentos negativos
começam a dissipar-se. Porra, sinto falta deste lugar. Amo mecânica. Há algo a
ser dito sobre entender uma coisa tão complexa e tentar descobrir o que está
errado com uma máquina quando esta não funciona direito.
Quando estou a alguns metros de distância, a vejo.
Minha motocicleta.
Mesmo não sendo mais minha, e sim de Lenny, no meu coração, sempre
será minha. Meu peito aperta quando me aproximo, uma sensação de nostalgia
enquanto me lembro dos anos que tive com ela. Sei que para algumas pessoas
é apenas uma moto; uma armadilha de morte em rodas, como minha avó dizia.
Mas para mim significa liberdade; história, trabalho duro e diversão, tudo em
um. Porra, sinto falta de montar; a sensação do vento e rugido do motor, a
BN TOLER

maneira como a máquina vibrava abaixo de mim, quanto mais rápido eu ia. Até
sinto falta da sensação de uma mulher atrás de mim, com os braços envoltos
na minha cintura, seu peito pressionado em minhas costas. Enquanto me
detenho ao lado da moto, bufo, imaginando Waverly andando comigo,
provavelmente falando na minha orelha o tempo todo sobre como estava indo
muito rápido. Claro, ela iria querer pilotar e teria que pegá-la e colocá-la na
parte de trás da moto primeiro. E pode me chamar de cético, mas duvido que
isso aconteça. Então ocorre-me, estou sonhando acordado sobre Waverly
montada na parte traseira da minha moto. Que diabos está acontecendo?
“Posso ajudá-lo?” Minha cabeça se levanta e encontro Lenny, olhando
para mim, sua testa enrugada em suspeita enquanto ele limpa as mãos
manchadas de graxa com um pano.
“Apenas andando por aqui e vi esta Bobber,” gesticulo para a moto, então
cruzo meus braços. “É sua?”
Lenny sacode a cabeça, dando alguns passos na minha direção, ainda
esfregando as mãos.
“Não, não é.”
Meu estômago cai. Ele vendeu. Droga. Lenny disse que não iria. Mesmo se
fez, não posso culpá-lo. Ele pagou pela moto de forma justa e correta, mas
esperava comprá-la de volta algum dia. Claro... pode não haver algum dia
próximo.
“É do meu amigo. Estou apenas... segurando-a por um tempo.” Balanço a
cabeça, me sentindo um idiota por duvidar. Alívio me inunda, por Lenny ser
um bom rapaz. Nunca deveria ter duvidado dele.
“É uma boa máquina.” Observo, querendo envolvê-lo em uma conversa.
Ele pode não saber que sou Liam, seu melhor amigo, mas sinto sua falta. Não
tenho muitos, e Max certamente não tem nenhum. “Heritage Softail?” Pergunto
sobre o modelo. Qualquer entusiasta de motocicleta real saberia que é um
patrimônio, mas como disse, só quero manter a conversa. Lenny sorri
enquanto empurra o pano no bolso traseiro.
“Meu amigo construiu o motor e cortou o quadro para abaixar a postura.”
Lenny acena com a cabeça, a boca curvada para baixo em uma carranca,
enquanto arranha a barba vermelha. “Ele trabalhou muito tempo.” Enquanto
olho para a moto, quero dar-lhe um tapinha nas costas. Lenny está pensando
em mim e na minha má sorte. Me pergunto se sabe sobre o acidente. Tenho
certeza de que Helen ligou para lhe dizer. Com tudo acontecendo, não
BN TOLER

perguntei se ela o avisou. Movendo meu olhar de volta para a moto, não posso
deixar de sorrir, lembrando do trabalho que empreguei nela. Lenny também
ajudou muito. Passamos muitas noites trabalhando nesta moto depois que a
loja fechava. Às vezes, apenas ficávamos e inventávamos merda para fazer, só
para ter uma razão para sair e beber cerveja. Tínhamos feito esta moto. Os
espelhos se foram e as luzes de sinalização também. É uma motocicleta muito
linda e foda, e reconheço isso. Pode não ter sido a mais cara, mas foi
empregado muito tempo e suor, e isso vale mais para mim.
“Eu gosto,” reconheço. Então, dou um passo em sua direção e lanço
minha mão. “Sou Max, a propósito.”
“Lenny,” diz ele, pegando minha mão em um forte aperto. “Você tem
uma?” Sacudo a cabeça e cruzo os braços novamente: “Não, mas estou
pensando em comprar uma.”
Lenny me olha, depois para a loja e de volta para mim.
“Cara, sei que não te conheço, mas esta moto veio há alguns dias atrás e
as peças que pedi acabaram de chegar, então finalmente estou trabalhando
nisso. Tenho que mostrar a alguém.” Lenny animado sobre uma moto significa
que ela é fodona.
“Oh, sim?” Com um rápido movimento de sua mão, Lenny indica para eu
segui-lo. Quase voo atrás dele, muito animado para conversar com alguém que
conheço e se importa com as motocicletas. Quando entra na baía, comigo logo
atrás, ele anuncia:
“Você já ouviu falar de uma Panhead?” Paro em meu caminho. Ele não
pode estar falando sério.
“Você tem uma Panhead lá?”
Lenny ri.
“1948, homem. Essa coisa me deixa duro só de olhar para ela.”
Sorrio, um riso real, um riso de Liam. Droga, é bom. Quando entramos e
vejo a moto, me sinto como uma criança em uma loja de brinquedos, com os
dedos coçando para tocá-la.
“Ela não é bonita?” Lenny pergunta, seu rosto se ilumina com um sorriso.
“O proprietário está investindo bastante nela. Quer que fique pronta rápido.
Aposto que ele gastou uma fortuna. A velha precisa de algum TLC, mas parece
BN TOLER

boa.” E ele não está brincando. A moto precisa de amor, e é uma joia. Eles não
fazem mais motos assim.
“Parece que ela pode ter alguns problemas elétricos. Você vai substituir o
tubo de escape?”
“Sim. O proprietário a quer completa mais uma vez; limpeza do tanque,
verificação dos freios, uma nova embreagem.” Lenny listou e eu balanço a
cabeça em compreensão.
“Daria minha bola direita por uma moto como esta,” Lenny sorri. “Ela é
extremamente sexy.”
Dirijo-lhe um olhar e coloco uma mão sobre minha virilha.
“Definitivamente estou tendo uma ereção apenas olhando para ela.”
Nós dois rugimos com risos e, antes que perceba, Lenny e eu estávamos
nos divertindo, falando sobre cada moto que poderíamos pensar. Naquela
tarde, passo algumas horas conversando com meu melhor amigo sobre nossa
coisa favorita. Depois de dias navegando pela vida de Max e o desconhecido, de
fingir ser alguém que não sou, pude esquecer todos os meus problemas por um
momento. Esquecer, por um curto período de tempo, que sou Max Porter.
BN TOLER

CAPITULO VINTE

Max parte no início do dia sem uma palavra. Pelo menos nem uma palavra
para Pim ou para mim. Aparentemente, deixa Helen no comando para ajudar-
nos. Soa mais como ele, sair e deixar alguém segurando a bagagem. Helen
insiste que ele tem um assunto urgente para resolver.
Quando lhe pergunto:
“Que assunto urgente?”
Helen responde vagamente:
“Não tenho certeza.”
Então digo a mim mesma que não farei perguntas sobre Max. Não quero
saber sobre sua vida, e depois, mudo de ideia. Só não quero parecer muito
interessada. É um verdadeiro dilema. Tento fazer perguntas à Helen sobre sua
vida, após o seu interrogatório, mas ela mal responde. Talvez Helen seja uma
pessoa que não gosta de compartilhar informações pessoais. Se este é o caso,
tudo bem, mas que seja justo, uma vez que me fez perguntas e respondi, ela
não deveria fazer o mesmo?
Eu gosto da Helen, menos da sua falta de compartilhamento. Ela é uma
pessoa pensativa e uma boneca para Pim. Enquanto Max está fora, Helen
senta-se no chão e brinca com Pim enquanto me deito no sofá com meu pé
para cima, estudando. Avisei aos professores sobre minha lesão e que não
estaria na sala de aula, por pelo menos, essa semana, me certificando de
manter meus estudos.
“Você quer um menino ou uma menina?” Pergunto, esperando que ela me
responda ao menos isso, pois não é uma questão pessoal, é?
BN TOLER

Com um ligeiro encolher de ombros, Helen se ajoelha e ajuda Pim a ficar


de pé.
“Acho que sempre quis ter todos os meninos possíveis, mas tenho que te
dizer... esta pequena coisa fofa me faz pensar que uma menininha seria um
grande divertimento.”
“Se for uma menina, você teria um de cada,” observo, fechando meu livro e
descansando em meu colo.
“Verdade.” Olhando seu relógio, ela morde o lábio. “Falando de crianças,
preciso ligar para o meu filho rapidamente.”
Sentando-me, coloco o livro ao meu lado e ajeito meu rabo de cavalo.
“Pode ir. Acho que posso lidar com ela.”
“Já volto.” Pegando seu telefone, ela entra no escritório e fecha a porta.
Penso que a necessidade de privacidade é estranha, quero dizer, ela está
apenas chamando o filho adolescente, mas não me debruço sobre isso.
A porta da frente se abre e fecha, e segundos depois, Max entra com um
sorriso brilhante no rosto. Meus olhos estreitam-se em suspeita. Por que ele
está tão feliz?
“Senhoras,” ele sorri, antes de curvar-se para beijar Pim na cabeça. Meu
corpo tensiona. Odeio quando é afetuoso com ela. Toda essa situação é louca.
Só espero que Pim não se lembre de nada disso... não se lembre de Max
quando tudo acabar.
“Cuidou da sua questão urgente?” Pergunto secamente.
Ele lança os olhos em minha direção em questionamento, mas logo sorri e
assente. Percebo que Max não sabe do que falo, mas responde:
“Oh, sim. Tudo está bem.”
Não deixarei ele se livrar dessa facilmente:
“E por acaso isso envolve rolar na rua?”
“O quê?” Ele pergunta, com um bufo.
“Sua camisa,” aponto para a mancha negra na manga.
Olhando para baixo, ele verifica as mãos e balança a cabeça.
“Só ajudei alguém com alguns problemas mecânicos que ele tinha,”
responde-me.
BN TOLER

Olho para ele sem entender.


“Problemas mecânicos?”
“Com o pneu,” explica-me.
“Certo,” murmuro, não acreditando nele. Max? Trabalhando em um carro?
Mudando um pneu? Ok, certo. Recostando-me no sofá, cruzo os braços
enquanto ele se levanta.
“Bem, eu fiz,” anuncia Max.
Ergo uma sobrancelha para ele.
“Fez o quê?”
“Comprei uma motocicleta hoje.”
Minha mandíbula cai. Não sei por que estou tão chocada. Ainda estou
absorvendo o fato de que Max aparentemente tem uma nova paixão por
motocicletas. Quando ele mencionou a compra de uma hoje, pensei que era
apenas uma provocação. Nunca acreditei que ele compraria uma.
“Sério?”
“Sim,” ele confirma com um sorriso. “É uma verdadeira beleza. Espere até
você ver.”
Sento-me, enquanto Max se vira para caminhar de volta para a porta da
frente. Ele espera que eu o siga?
“Eu não vou,” o informo com firmeza.
Quando Max gira ao redor, inclina a cabeça, um sorriso malicioso no
rosto.
“Ir para onde?” Pergunta-me.
“Olhar sua motocicleta, Max,” digo.
“Onde você acha que está?”
“O deck do estacionamento. Parabéns pela compra de uma máquina de
morte, mas não tenho nenhum desejo de caminhar para vê-la. Especialmente
com meu tornozelo ruim.”
Cruzando os braços, com o mesmo sorriso estúpido e irritante no rosto,
Max dá de ombros.
“Quem disse que você tem que ir para o estacionamento?”
BN TOLER

Então eu grito:
“Seja como for, Max.” Ele pode ser tão estupidamente irritante. Como
mais veria a moto, se não no deck do estacionamento? A menos que Max a
tenha trazido ao apartamento, mas isso significa que ele utilizou o elevador, o
que é ridículo. A realização me atinge e meus olhos se arregalam. Ele não fez,
não é? “Onde está a moto?”
Seu sorriso cresce e quero sufocá-lo, pois parece tão emocionado.
“Vou pegar.” Então, curvando-se, ergue Pim e a apoia no quadril.
“Aonde está levando-a?” Eu grito.
Soltando um suspiro, ele abaixa o queixo e fixa o olhar em mim.
“Só até a porta da frente,” me informa. Girando em seu calcanhar, ele sai.
“Você não trouxe a moto até aqui, não é?” Grito, mas ele não responde.
“Não a coloque nela!” Agarro as muletas e levanto. Uma vez que estou em pé,
chamo: “Max!” Se ele trouxe a moto até aqui, provavelmente será expulso do
edifício. O que está pensando? E é melhor Max não colocar Pim nela, pois ela é
apenas um bebê e motos são muito perigosas. Não me importo se está
estacionada ou não, não a quero em uma. “Max!” Grito novamente. Consigo
dar três passos quando ouço algo como um esmerilhamento19, quase como um
forte apontador de lápis elétrico.
Quando olho para baixo, Pim desliza, virando na esquina, em uma
pequena moto de três rodas. Seu rosto ilumina em um sorriso enquanto olha
para mim, e sua cabeça tem capacete de motocicleta correspondente. Max está
curvado, andando desajeitadamente, com o polegar no botão de energia que faz
a moto se mover.
“Agora coloque sua mão aqui, querida.” Max instrui, enquanto pega seu
braço e o move sobre o botão de energia. Em seguida ele solta, e Pim aperta o
botão fazendo com que a moto avance, o que a assusta e ela solta.
“Vroom-vroom.” Ela ri, seu sorriso gengival largo, com alguns dentes de
bebê mostrando.
“O que é isso?” Pergunto, conforme olhamos Pim bater no botão.
“Disse-lhe que comprei uma moto hoje,” brinca, então aperta os lábios
para parar de rir, enquanto absorve minha expressão.

19 Polimento com esmeril.


BN TOLER

Ele me enganou. E me fez trabalhar duro para sair do sofá por nada.
Rolando os olhos, murmuro:
“Muito engraçado. Um veículo de três rodas?” Pergunto secamente. “Desde
que você é um motoqueiro fodão agora, estou surpresa que trouxe um triciclo,
em vez de um veículo de duas rodas.” O sarcasmo é mantido em meu tom.
“Triciclos são para crianças e veteranos,” ele afirma. “Ou para alguém
como você.”
“Como você? O que isso significa?” Pergunto, defensivamente.
Max bufa.
“Não é uma ofensa. Só quero dizer que você parece o tipo de pessoa que
fica aterrorizada de andar em uma moto de verdade.”
Inclinando a cabeça, estreito os olhos para ele.
“Você não me conhece, Max.”
Dando-me um sorriso afetado, que grita que ele me conhece, Max
pergunta:
“Você já andou de moto, Waverly?”
A resposta a essa pergunta é não, mas isso não tem absolutamente nada a
ver com qualquer coisa. Só porque não montei em uma motocicleta, não
significa que não poderia ou não iria. Se penso nisso, andar de moto parece
assustador. Desistir do controle é difícil para mim e pensar em colocar minha
vida nas mãos de outra pessoa é aterrorizante, mas serei condenada se
admitir.
As muletas estão irritando minhas axilas, então as ajusto, usando isso
como uma desculpa para olhar para longe do Max.
“Não tenho medo de andar de moto.”
“Não perguntei se você está com medo.” Olhando para cima, o encontro
me observando. Ele perguntou se estou com medo, não é?
“Sim, você perguntou.”
Ele me esclarece:
“Perguntei se você já montou alguma.”
“Existe alguma diferença?” Brinco.
“Sim, existe.”
BN TOLER

“Como assim?”
Coçando um lado da face, ele encolhe os ombros.
“Há, sim. As pessoas podem fazer muitas coisas das quais elas têm medo.
Só porque andar de moto te assusta, não significa que você pode, ou não, fazê-
lo.”
“Jesus, Max,” eu gemo, cada vez mais aborrecida com esta conversa. “Não,
eu não montei em nenhuma moto. Está feliz agora?”
“E montaria uma?” Ele é implacável.
“Não sei. Talvez,” gaguejo.
“Certo,” ele reconhece, enquanto vem em minha direção. “Então, ande
comigo.”
Eu rio, um som altivo.
“Com você?”
Qualquer felicidade em seu rosto desaparece e sua boca achata-se,
quando encontra meu olhar com seriedade.
“Sim, Waverly,” afirma firmemente. “Comigo.”
“Você sabe mesmo montar, Max?” Sorrio. A ideia é simplesmente absurda.
Dando um passo em minha direção, Max encontra-se a centímetros de
distância quando me encara, com um olhar pesado de desafio. Quero
desesperadamente dar um passo atrás, e criar distância entre nós, mas não
faço. Não recuo. É isso que ele quer que eu faça. Além disso, as muletas fazem
movimentos desajeitados para trás.
“Não sou o Max Porter que você se lembra, Waverly. Sou um homem
completamente diferente agora. Então, por favor, pare de pensar que sabe tudo
sobre mim.”
Meu rosto esquenta enquanto nossos olhares permanecem trancados.
Odeio esses sentimentos. Suas palavras me irritam, me fazem amargar, me
envergonham. Não tenho certeza de por que me sinto envergonhada, talvez eu
aja de forma amarga porque odeio ser essa mulher, abandonada desprezada?
Ou talvez esteja envergonhada porque no fundo algo dentro de mim percebe
que, entre toda a dor e raiva, Max e eu estamos flertando. Tipo isso. Não é o
que estamos fazendo? Estou flertando com o inimigo e, embora a brincadeira
esteja manchada com algum desdém, pelo menos da minha parte, eu gosto.
BN TOLER

“O contrário também, Max,” brinco. “Não pense que também me conhece.


Não sou a mesma mulher que você conheceu.”
“Então venha dar uma volta comigo,” ele me desafia.
“Meu tornozelo está machucado, Max.” Argumento, segurando meu pé
para enfatizar.
“Vai melhorar logo. Vamos com calma.”
Balanço a cabeça e pergunto:
“Por que quer tanto que eu monte com você?”
Enfiando as mãos nos bolsos, ele responde:
“Pode ser a última vez que ando com uma mulher.”
Olho para longe e pisco algumas vezes em confusão. Que diabos isso
significa?
“Max,” eu suspiro. “Você é um enigma dentro de outro, sabe disso?”
Seu corpo treme enquanto ele silenciosamente ri, mas quando olha para
uma Pim feliz, o riso de Max cai, seu sorriso desaparecendo para um sutil.
“Sua primeira motocicleta,” ele fala suavemente, seu tom de orgulho e
sentimento.
“Isso é o mais próximo que ela vai chegar de uma moto real,” digo
secamente.
Max não me olha ou reconhece o que digo, pois está muito hipnotizado
com Pim. Nesse momento, nossa filha aperta o botão de energia e segura-o. A
moto zumbe para a frente com ela agarrando-se, como se sua vida dependesse
disso, adorável enquanto grita.
Quando Pim finalmente solta e a motocicleta para, ela nos olha e diz:
“Uau!”
Max e eu explodimos em gargalhadas e, por um momento, esqueço-me de
ficar brava com ele por tudo. Esqueço-me que Max Porter nos abandonara e
recusou-se a fazer parte da vida de Pim. Por um momento, compartilho minha
incrível filha com seu pai, sem raiva e animosidade.
O que faz desse momento muito mais agridoce.
BN TOLER

CAPITULO VINTE UM

Mais tarde naquela noite, quando coloco Pim em seu berço de viagem, ela
adormece em menos de dois minutos. A menina havia montado sua motocicleta
até acabar a bateria, então chorou por duas horas até que foi recarregada e ela
montou novamente. Sem dúvida, a moto é um sucesso. E Pim está apaixonada
por ela.
Waverly... bem... para ela a moto perdeu seu brilho depois que a bateria
acabou e tivemos que lidar com uma criança mal-humorada. Após deixar
Lenny naquele dia, não posso negar que estive tentado em comprar-me uma
moto, chegando a pegar um táxi para a loja Harley mais próxima, mas ao
chegar lá, simplesmente não consegui. Posso ser Max Porter no sentido físico,
mas ainda sou Liam por dentro. Não me sinto bem em gastar seu dinheiro
comigo mesmo. Quero dizer, ele já paga a conta do hospital, embora alguém
possa argumentar que é benéfico para nós dois, pois se puxasse o plugue, ele
poderia morrer. Gastarei o que tenho para viver, mas sem despesas
desnecessárias ou extremas. Ainda não, de qualquer maneira. Com exceção
para Pim. Justifico essa compra como algo fresco para fazê-la feliz. E acredito
também que Max precisava fazer algo de bom para a filha.
Coloco um pequeno cobertor sobre Pim e escovo alguns dos cabelos finos
de seu rosto. Foi um grande dia.
“Boa noite, querida,” digo sussurrando.
Quando o celular de Max vibra no meu bolso, fecho a porta do quarto e o
retiro de lá.
O nome Dr. Banahan ilumina-se na tela.
BN TOLER

Percebo rapidamente que, se um médico liga para Max tarde da noite em


uma sexta-feira é porque deve ser importante, então, decido atender a
chamada. Talvez Max tenha algum problema médico que eu não conheça.
“Olá,” respondo, calmamente. Waverly está na cozinha lavando pratos e
não quero que ela ouça.
“Max,” diz uma voz masculina rouca do outro lado. “Você finalmente
atendeu.”
Coçando a cabeça, inalo profundamente. Não gosto de como isso soa. Foi
exatamente assim que a conversa com Waverly começou no dia em que acordei
como Max e ela definitivamente não é fã de Max.
“Uh, sim,” respondo.
“Bem, vou direto ao ponto, Max,” ele prossegue. “Com a maneira como as
coisas terminaram em sua consulta na semana passada, não tinha certeza se
você voltaria ou não. Então, você estará aqui amanhã?”
Merda. Qual consulta? E se for algo que não quero fazer, como uma
limpeza do cólon? O dia seguinte é um sábado, o que também é estranho.
“Amanhã é sábado,” lhe aponto. Que médico vê pacientes no sábado?
“Sim. É, Max,” me responde, soando um tanto perturbado. “Essas sessões
de sábado foram sua escolha. Você não queria encontrar ninguém na sala de
espera.”
Sério, Max? Você fez este médico trabalhar em um fim de semana, porque
não quer ter a chance de topar com alguém que conheça na sala de espera?
“O que faríamos na consulta de amanhã?” Questiono. Sei que soa como se
Max estivesse desligado, mas que escolha tenho? Parece terapia, mas preciso
ter certeza.
Há um breve silêncio antes que o médico responda:
“Tenho me preocupado com você. Quando nos encontramos da última vez,
você falou a respeito de fazer algumas mudanças na sua vida. Acredito que
devemos voltar a isso.”
Que mudanças?
Passando a mão no rosto, não solto o gemido que tanto quero. Max pode
ser mais complicado?
BN TOLER

Tenho que ir para a consulta por inúmeras razões. A primeira é que, se


tirássemos meu corpo do suporte vital, e de alguma forma eu permaneça
vivendo como Max, preciso saber o que puder sobre ele. Outra razão é que
quero saber o que aconteceu para torná-lo um idiota egoísta.
“Que horas, doutor?” Resmungo.
“Onze, a mesma de sempre,” ele murmura de volta.
Depois de desligar, coloco o telefone de volta no bolso e me pergunto o que
posso descobrir sobre Max no dia seguinte. Esfregando o rosto, decido não
pensar nisso mais naquela noite. Estou exausto de pensar em Max; por que
estou no corpo dele? Será que vamos trocar? Estou prestes a morrer? O
desconhecido está me comendo vivo de dentro para fora. Decido verificar
Waverly, indo em direção à cozinha. Há muito tempo que está ali, mas não há
muitos pratos para lavar. Quando Waverly se ofereceu para lavá-los, disse a ela
que faria, mas é claro que sendo teimosa, insistiu. Não querendo dever nada a
Max.
BN TOLER

CAPITULO VINTE E DOIS

Termino de lavar os pratos, os seco e guardo em um tempo recorde. As


muletas estão encostadas na parede, então faço tudo pulando em um pé. Nada
mal para uma mulher ferida. Preferiria colocar Pim para dormir, mas banhá-la,
trocá-la e vesti-la levaria uma eternidade e precisaria da ajuda de Max. Deixá-
lo com Pim enquanto cuido dos pratos garante espaço, bem como, não
conversarmos um com o outro. Estou fazendo o meu melhor para limitar nossa
interação, mas é difícil, uma vez que vivemos juntos a maior parte do tempo.
Quando Helen está presente, ajuda. Não só fisicamente, mas também
como um amortecedor entre Max e eu. Infelizmente, depois do telefonema com
seu filho, ela teve que sair. Aparentemente, ele teve um dia ruim e Helen queria
fazer-lhe um jantar especial.
Meu celular, que está apoiado no balcão, toca e mesmo de onde eu estou,
posso ver que é Matt.
“Droga,” murmuro para mim mesma quando corro em sua direção.
Pegando-o, olho para a tela, mordendo o lábio inferior enquanto contemplo se
devo respondê-lo. Não quero mentir para Matt. Ele não merece, mas se conto o
que aconteceu, provavelmente chegaria em casa mais cedo, especialmente se
descobrisse que Pimberly e eu estamos morando com Max. Sua cabeça
provavelmente explodiria, se descobrisse aquele pequeno fato divertido.
Colocando o telefone de volta no balcão, decido deixá-lo ir para o correio de voz.
Depois de me servir um copo de vinho, continuo a limpar a cozinha.
Enquanto limpo os balcões, encontro as chaves de Max, que estão dentro do
alcance de Pimberly e me preocupo que, se ela conseguir alcançá-las, as
colocaria na boca ou as perderia. Abrindo a gaveta mais próxima da entrada da
BN TOLER

cozinha, procuro um lugar para escondê-las e encontro uma gaveta de


inutilidades, praticamente vazia e muito arrumada. E bem no centro está.
Uma foto.
Uma foto minha e de Max.
Tocando no meu pescoço, luto para engolir enquanto a emoção se aloja em
minha garganta. Lembro-me do dia em que a foto foi tirada, como se fosse
ontem.
Era uma quinta-feira. Max estava ansioso a semana toda à espera de um
telefonema que lhe dissesse que ele conseguiu o emprego pelo qual pleiteava.
Ficou tenso a semana toda. Nesse dia, liguei no local onde trabalhava como
garçonete e disse que estava doente, e organizei para nós um piquenique.
Quando crianças, os piqueniques consistiam em sanduíches de bolonhesa e
batatas fritas, mas Max não era um cara de sanduíches de bolonhesa. Então,
gastei uma pequena fortuna comprando queijo, carne, uvas e vinho que sabia
que ele gostava, mas o dinheiro não importava. Só queria ajudá-lo a relaxar.
Essa era minha missão.
Quando apareci em seu apartamento naquele dia com uma cesta de vime
desgastada que havia encontrado no sótão, parecendo de tempos atrás,
pendurada sobre meu braço, Max parecia inseguro. Com um forte estímulo,
finalmente se vestiu e saímos.
Naquele dia, rimos e bebemos vinho à sombra de uma grande árvore no
parque.
“Você sabe,” ele disse, enquanto olhava para a área ao nosso redor. “Eu
nunca estive em um piquenique antes.”
“O quê?” Ofeguei. Ele estava falando sério? “Você está brincando, não é?”
Quando seu olhar encontrou o meu novamente, eu sabia... Max não estava
brincando.
“Somos diferentes, você e eu.”
“Como assim?”
“Viemos de mundos diferentes.” Isso eu sabia. “Você não é como as outras
mulheres com quem namorei.”
Algo dentro de mim queria dissecar essa afirmação; mais do que analisá-la
e me sentir insegura sobre isso, mas não fiz. Em vez disso, deixei de lado. Às
BN TOLER

vezes, a única maneira que poderia lidar com minhas inseguranças era cobri-las
com sarcasmo.
Fingindo um suspiro dramático, respondi:
“Eu sei. Nem todas as garotas são tão incríveis quanto eu.”
Ele riu e relaxou, puxando-me para baixo com ele, então eu estava inclinada
sobre seu peito, nossos rostos próximos.
“Você é um círculo.” Ele falou suavemente, enquanto roçava minha
bochecha com os nódulos dos dedos.
Eu sorri em questionamento.
“Um círculo?”
“Você é um círculo e eu sou um quadrado.”
Eu ri um pouco, mais em nervosismo do que humor. Aqui estávamos, tendo
o piquenique mais romântico e senti que ele estava prestes a terminar comigo.
“Do que você está falando, Max?”
Seu olhar caiu.
“Quero dizer, sou um quadrado. Eu deveria querer coisas que se encaixam
em um quadrado. Em vez disso, estou aqui, com você, o círculo, tentando
encaixar.”
Inclinando-me, o beijei castamente. Sabia o que ele estava dizendo. Éramos
diferentes. Nós estávamos namorando por alguns meses e as coisas chegaram a
um ponto, de nos comprometermos — realmente nos comprometermos — ou
seguirmos em frente? Éramos um caso clássico de opostos que se atraem e,
enquanto ter coisas em comum era importante, acho que encontramos um no
outro tranquilidade. Ele estava tão certo de tudo, enquanto eu sentia que estava
sempre debatendo. Ele tinha um diploma, um emprego respeitável e um 401k20.
Eu ainda não consegui o meu grau da faculdade. Depois que me formei no
colégio, tinha levado um ano para pensar sobre o que queria ser quando
crescesse. Quando finalmente me matriculei, pagar as mensalidades tornou-se
um desafio e acabei saindo por um semestre ou dois para me salvar. Me senti
como uma bagunça. Max, por outro lado, estava tão certo. Ele me impressionou.
Não pelo seu dinheiro, mas sua diligência. Por causa de tudo o que tinha
conseguido em uma idade tão jovem. O invejei.

20Um tipo de plano de aposentadoria patrocinado pelo empregador, adotado nos Estados
Unidos e outros países.
BN TOLER

“Você me ama, Max?” Perguntei, me preparando para a possibilidade dele


dizer não.
Lançando seu olhar azul para mim, ele hesitou antes que respondesse:
“Sim.” Apesar de sua hesitação, meu coração sentiu como se tivesse dado
uma série de piruetas dentro do peito.
“Então, se você é um quadrado e eu sou um círculo, e nos amamos, teremos
que nos conformar.”
“Conformar?” Perguntou ele, sua boca se curvando nos lados um pouco.
Expliquei.
“Talvez possamos nos tornar ovais...”
“Ovais?”
“Sim, Max.” O beijei novamente, deixando meus lábios ficarem contra os
dele. “Vamos ser ovais.” Agarrando meu rosto com ambas as mãos, ele me
puxou para baixo e me beijou com força.
“Você é muito boa para mim, Waverly.” Na época, eu não acreditava nisso.
Pensei que era a mulher mais sortuda do mundo por ter a atenção e carinho de
um homem como Max.
“Eu sinto o mesmo sobre você,” disse a ele.
“E se eu não conseguir o emprego?” Questionou. Ele já tinha um bom
emprego, mas odiava. Era um trabalho que havia conseguido com a ajuda do
pai. Max queria conseguir sozinho; realizar as coisas sem a influência paterna. O
respeitei por isso:
“Você vai encontrar outro,” assegurei-lhe.
“Estou com medo de um dia você acordar e perceber o homem que
realmente sou.” Era uma confissão ousada e profunda. Nunca o vi tão vulnerável
assim. Passando o polegar sobre seus lábios, olhei em seus olhos.
“Acho que você é um homem incrível.” Durante a próxima hora nos
beijamos e rimos, flutuando em uma nuvem de esperanças e ilusões. Quando
guardamos as coisas para sair, pouco antes de chegarmos à rua, seu celular
tocou. Era o seu novo chefe ligando para dizer-lhe que tinha conseguido o
emprego. Depois que desligou, eu gritei quando Max me pegou e me girou:
“Acho que você é o meu amuleto da sorte,” disse-me, enquanto me colocava
de volta em meus pés.
BN TOLER

“A sorte não tem nada a ver com isso. Você ganhou este trabalho.”
Depois que me beijou novamente, se afastou, mantendo sua testa
pressionada contra a minha.
“Case comigo, Waverly.”
“O quê?” Consegui dizer, meu coração batendo como um tambor no peito.
“Case comigo. Vamos pegar um avião esta noite e nos casar em Las Vegas.”
Olhando-o, procurei em seu rosto qualquer sinal de que estava brincando,
mas tudo que vi foi sinceridade. Estaria mentindo se dissesse que a voz da
razão não estava gritando como um banshee21 no fundo da minha mente, me
dizendo que era muito cedo. Conhecia nossas diferenças; também sabia que Max
não era perfeito. Tudo o que sabia, bom ou mau, perfeito ou imperfeito, era que
queria alguém para me escolher. Realmente me escolher.
E pensei que era isso que ele estava fazendo.
Eu era uma otária para romances complicados; tinha a ideia de que,
quando duas pessoas se amavam, apesar dos obstáculos em seu caminho, o
amor conquistaria tudo. Meu coração, embora incrivelmente tolo, estava no lugar
certo, quando, com cada batida, me disse para saltar de cabeça para essa
relação com Max.
Então, é claro, eu disse:
“Sim.”
Enquanto caminhávamos pela rua para chamar um táxi, olhei para cima e
encontrei-o ainda sorrindo. Ia me casar com esse homem. Tudo parecia um sonho
lindo e maravilhoso.
“Pare por um segundo,” ordenei, quando me afastei dele. Um adolescente,
talvez com uns dezesseis anos, estava passando por nós.
“Com licença, você se importaria de tirar uma foto nossa?”
O tipo estranho pegou meu telefone e, depois que lhe mostrei o que fazer,
voltei para Max e envolvi meu braço em torno de sua cintura, enquanto sorria
para ele.
Ele mantém essa foto? Por quê? Olhando para ela, a única coisa que
percebo é..... eu pareço tão feliz. Deus, perdi esse sentimento; o sentimento de

21 Raça de cão.
BN TOLER

amor e segurança; a emoção de construir um futuro com alguém que você


ama. A garota nesta foto pensou que era exatamente isso que estava fazendo.
E estava errada.
A foto treme quando a coloco de volta na gaveta com a mão vacilante.
Odeio que a dor e a humilhação ainda tenham tal poder sobre mim. As
memórias são viciosas. Levanto o copo de vinho e tomo um longo gole.
“Você era uma mulher estúpida e fraca, Waverly,” digo a mim mesma.
“Oi.” Max fala, enquanto entra na cozinha, quase me matando de susto.
Quando o vinho espirra sobre a borda do copo na minha mão e na frente da
minha camisa, bufo uma palavra de maldição.
“Desculpe,” ele ri, enquanto me limpo. “Só vim ver se você precisa de
ajuda.”
“Não, eu acabei,” resmungo, depois de limpar minha garganta. Estou
chateada porque derramei o vinho, e a parte mal-intencionada quer culpá-lo
por isso, mesmo sabendo que não foi sua culpa.
“Legal.” Max sacode a cabeça algumas vezes, deslizando as mãos em seus
bolsos, algo que ele faz muitas vezes, parecendo nervoso. “Então, amanhã
tenho algo para fazer por volta das onze. Você ficará bem com Helen vindo aqui
e te ajudando enquanto estiver fora?”
“Onde você...” paro. Quase lhe pergunto aonde vai, mas me lembro que
não é suposto perguntar, porque não devo me importar. “Sim, está bem,”
termino com uma fungada. “Acho que Pim gosta muito dela.”
“Helen também está encantada com ela. Ei.” Ele se aproxima, abaixando a
cabeça para me olhar melhor. “Você está bem?”
“Sim.” Consigo dizer, virando-me, não querendo que ele veja as lágrimas
nos meus olhos. Quando giro no meu pé, perco o equilíbrio e escorrego. Agarro-
me no balcão para me apoiar, mas ainda está molhado, pois limpei não tem
muito tempo. Pouco antes de cair no chão, Max me segura.
“Whoa,” ele grunhe, enquanto tropeça para trás e tenta nos impedir de
cair, mas é tarde demais. Max cai e bate no chão, comigo pousando em cima
dele. Depois de pousarmos, ficamos lá, recobrando nosso fôlego. Meu rosto se
aquece com embaraço. Acabo de cair feio e meu ex, que particularmente não
gosto, me segurou, salvando-me de arrebentar minha bunda e agora me
encontro apoiada entre suas pernas.
BN TOLER

“Você está bem?” Pergunta-me.


“Não,” respondo, enquanto deixo cair a cabeça em minhas mãos,
mortificada.
“Está ferida?” Max coloca uma mão firme em meu ombro antes de deslizar
para baixo do meu braço e apertá-lo. O contato faz minhas costas se
arquearem e minha respiração irregular, a emoção que envia através de mim
fisicamente me deixa apreensiva.
“Não,” chio, enquanto tento acalmar as vibrações em minha barriga. O que
está acontecendo? Por que seu toque faz isso comigo? Quando Max não solta
meu braço, viro a cabeça e olho para trás, por cima do meu ombro para ele.
Seu peito sobe e desce, com os olhos ardentes nos meus. Quero acreditar que a
queda o deixou assim, mas sei melhor. Qualquer choque que eu sinta;
qualquer sensação intensa que tenha me atingido... Max sentiu também.
Nenhum de nós diz uma palavra; só nos entreolhávamos com a mesma
pergunta queimando no prolongado silêncio entre nós.
Que diabos foi isso?
Mesmo no melhor dos nossos dias, nunca foi assim quando Max me
tocava.
Nunca senti isso com ninguém.
Então por que agora?
E o que significa?
Como se despertasse de um sonho, Max olha para longe. Com algumas
manobras desajeitadas e grunhidos suaves, nos tira do chão.
“Sinto muito por isso,” peço desculpas.
“Não se preocupe.”
Olhando para mim, faço uma careta.
“Minha camisa está arruinada,” observo, desesperada para esquecer o que
aconteceu.
“Se você quiser tirá-la,” sua boca curva em um sorriso torto. “Posso lavá-la
para você.”
Ele está...
Está flertando comigo?
BN TOLER

Olho-o com incredulidade, e isso só faz com que seu sorriso cresça mais.
Ele está.
Max está seriamente flertando comigo.
Estou dividida igualmente em partes, de achar isso emocionante e terrível.
O odeio e, se o faço, por que diabos quero rir como uma idiota? Então me
pergunto, ele falou isso para me provocar? Para me deixar incomodada? Depois
do ocorrido da moto antes, sei que Max gosta de me tirar do sério. É só ele
mexendo comigo de novo? E se o seu jogo final for, na verdade, me deixar
agitada e incômoda, tenho notícias para ele. Dois podem jogar junto.
Então, curvo minha boca em um sorriso tímido, provocante, como se
achasse divertida sua oferta, levanto lentamente a bainha da minha camisa,
puxo-a sobre a cabeça e jogo a roupa manchada para ele. Quando o tecido
desliza sobre seu rosto, revela um Max com a mandíbula caída e olhos
arregalados.
Ele definitivamente não imaginou essa reação.
Seu olhar desloca-se para cima e para baixo, entre meu rosto e meu sutiã
de renda. Pelo menos ele está tentando não olhar para o meu peito, mas parece
que Max não pode se ajudar. Talvez pareça superficial, mas faz-me sentir
muito bem. Gosto de torturá-lo um pouco. Meu sarcasmo cutuca-me,
sussurrando para que lhe diga, sente-se bem em olhar para o que não pode ter?
Mas, empurro-o para baixo, pois não é momento e nem lugar. Dando a volta,
agarro as muletas e as posiciono sob meus braços. Apontando para a camisa
ainda grudada ao seu peito, digo:
“Lave-a a frio e pendure-a fora para secar. Obrigada.”
BN TOLER

CAPITULO VINTE E TRÊS

Deixo cair minha cabeça para trás e olho para o teto, com um longo e
lento suspiro. Ela tirou a camisa na minha frente. Sei que sugeri, mas foi uma
piada. Pensei que Waverly cuspiria fogo e talvez esquecêssemos sobre o que
aconteceu quando nos tocamos. Que diabos foi aquilo? Por que a cada vez que
toco nessa mulher sinto como se minhas entranhas estivessem acesas? Ela é
atraente... certo, mais do que isso. Em termos gerais Waverly é extremamente
sexy, mesmo quando me olha, ou para Max, com repugnância. Não sei muito
sobre ela, mas, pelo pouco que sei, é uma mulher linda e incrível, bem como
uma excelente mãe, que trabalha duro para avançar na vida, apesar dos
obstáculos diante dela. Eu admiro isso. Então talvez esteja atraído por ela, mas
isso ainda não explica — por que ao tocá-la, acontece isso comigo?
Então o jeito que ela me olhou... A maneira como nossos olhares fixaram-
se.... Não sei. Foi intenso. E seus seios. Porra. Agora eu tenho a imagem dela em
um sutiã de renda presa em meu cérebro. Lembrando-me do seu olhar escuro
fixo no meu, a maneira como seu lábio inferior prendeu-se entre os dentes,
seus seios, e é aí que acontece. Abaixando a cabeça, meus olhos quase pulam
fora da minha cabeça.
“Nããããããããooooo,” resmungo, enquanto encaro.
A protuberância.
Eu tenho uma ereção.
E uma ereção no corpo de outro homem.
“Nããããããããooooo,” gemo novamente. Isto. Não. Está. Acontecendo.
Mas está.
BN TOLER

Descrever uma ereção na minha situação como "desconfortável" é um


eufemismo monumental. Esta não é apenas uma daquelas ereções que podem
aparecer depois de algum tempo de dificuldade.
Não.
Não para mim.
Porque a vida está me dando o grande dedo do meio.
O pau de Max está completamente duro e palpitante.
Olho para baixo e informo à minha virilha:
“Você não vai ser sacudido por mim esta noite. De jeito nenhum, cara.”
“Com quem você está falando?” Waverly pergunta, me assustando, desta
vez. Me viro, inclinando-me sobre o balcão, com os quadris ligeiramente
torcidos longe dela, fazendo o meu melhor para esconder meu dilema. Waverly,
por sua vez, tem uma toalha enrolada em torno dela e está de alguma forma
conseguindo mantê-la, até mesmo segurando as muletas.
“Somente... C-C-Conversando comigo mesmo,” gaguejo. “Pensei que você
estava indo para a cama?” Pergunto, meu tom atado com nervosismo.
Restringindo seu olhar para mim, suspeita crivada em seus olhos, ela
responde:
“Estou. Só quero te avisar que vou tomar uma pílula para a dor. Você se
importa de cuidar de Pim?”
“Oh, claro,” respondo, ansioso para ela ir embora.
“Você está bem?” Waverly pergunta, sua boca curvando-se de um lado,
enquanto me encara como se eu fosse um idiota. Ela sabe. Pelo menos acredito
que saiba. Sua remoção da camisa deu o exato resultado que ela esperava.
Sei que ela sabe, mas me recuso a reconhecer.
“Sim,” balanço a cabeça. “Somente... cansado. Não se preocupe com Pim.
Cuidarei dela.”
“Bem... Boa noite,” ela murmura com uma risada abafada e sai.
Deixo minha cabeça cair, e ela bate contra o armário. O que diabos vou
fazer? Tenho uma ereção furiosa e nenhuma maneira de aliviá-la. Não há
nenhuma maneira de que eu sacuda essa coisa. De jeito nenhum. Depois de
alguns minutos, entro na sala de estar e deito no sofá, cobrindo meu colo com
BN TOLER

um travesseiro e fazendo o melhor para pensar em qualquer coisa que possa


dissuadir um pau duro. Vai ser uma longa noite.

Na manhã seguinte, bocejo enquanto saio do elevador para a área de


recepção do escritório do Dr. Banahan. Esse cara deve carregar uma carga
pesada, penso comigo mesmo, à medida em que entro no espaço. Pinturas
modernas e extravagantes encontram-se penduradas nas paredes, vasos cheios
de flores frescas decoram as mesas e o mobiliário é de couro liso. Fico no meio
da sala, meu café da 7-Eleven22 na mão, parado, sem saber o que fazer. Não há
recepcionista. Devo apenas gritar?
Quando um homem baixo e robusto se encaminha para a área, com
óculos empoleirados no nariz, imagino que ele deve que ser o médico.
“Max, bom dia,” cumprimenta-me.
“Bom dia, doutor,” respondo, estendendo a mão para apertar a dele.
Sua cabeça levanta-se ligeiramente, como se estivesse surpreso. Depois de
um estranhamento inicial, ele a pega e nós sacudimos.
“Vamos?” Ele aponta em direção à entrada da qual tinha acabado de sair.
“Claro.” Ando a sua frente, sem nehuma surpresa em ver que seu
escritório é tão agradável quanto a área da recepção. Ele ainda tem um
daqueles sofás de terapia clássica que são feitos para o paciente ficar deitado e
curvado. Não quero me sentar ali, mesmo que isso pareça... como uma terapia.
Estou aqui para descobrir um pouco mais sobre Max, não para uma inspeção
de cabeça. Em vez disso, sento na agradável cadeira de couro ao lado do sofá e
afundo. O Dr. Banahan olha para mim por um momento e abre a boca para
falar, mas se detém. Virando-se, pega um arquivo da mesa e então senta-se em
frente a mim, abrindo a pasta.
“Como você está hoje, Max?”
Eu bufo. Se estivesse perguntando a mim, Liam, diria que estou uma
merda. A ereção indesejda manteve-me acordado a noite toda, então Pim
decidiu acordar às cinco da manhã e eu tive apenas três horas de sono, mas

22 Loja de conveniência.
BN TOLER

ele não está perguntando a Liam, e sim a Max. Suponho, desde o meu melhor
conhecimento, que Max está em coma, preso em meu corpo, então ele
responderia provavelmente que está uma merda, também. Como não posso
explicar nada disso ao Dr. Banahan, dou uma resposta mais simples:
“Não muito ruim.”
“Você gostaria de começar de onde paramos na última vez?” Ele pergunta
enquanto fecha sua pasta.
Me inclino para a frente, apoiando os antebraços nos joelhos.
“Na verdade, não. Quero fazer algo um pouco diferente hoje.”
Ele levanta uma sobrancelha peluda em questão.
“Ok...”
“Há quanto tempo venho para a terapia agora?” Ele me olha sem
entender.
“Não muito tempo, Max.” Torcendo a boca, penso por um momento sobre
como dizer o que quero.
“Quero que me diga o que você pensa de mim, com base no que sabe a
meu respeito.”
“O que penso de você?” Ele pergunta.
“Nós conversamos sobre um monte, certo? Minha vida e história?” Estou
me arriscando com essas perguntas, não tenho ideia do que eles podem, ou
não, ter discutido nessas sessões, mas faz sentido para mim. Max
provavelmente compartilhou mais com esse cara do que com qualquer outra
pessoa.
“Nós conversamos,” ele responde simplesmente.
“Então, com base nisso, me diga o que pensa de mim ou porque você acha
que sou do jeito que sou.”
Seu olhar se fixa no meu, sua boca apertada.
“E você quer honestidade completa?”
“Sim.”
“E está pronto para ouvir?”
“Estou,” prometo-lhe.
BN TOLER

Empurrando a pasta na mesa ao lado dele, se acomoda um pouco mais na


cadeira e limpa a garganta. É evidente que esteve preparando-se para isso;
possivelmente para dizer coisas a Max que ele tinha medo de dizer, ou queria
dizer por um tempo muito longo.
“Sendo completamente honesto, Max, a última vez que tentei te oferecer
minha visão, você ficou muito ofendido. Isso foi na nossa última sessão.”
Isso explica a ligação para ver se Max apareceria para a consulta.
Aparentemente, esse médico deu algumas verdades duras a Max, que por sua
vez, não gostou de ouvir sua avaliação. Inclinando-me para trás na cadeira, lhe
prometo:
“Estou pronto para ouvir hoje.”
Com um movimento de cabeça, ele supõe:
“Bom. Isso mostra crescimento.”
“Pode falar tudo, doutor,” digo a ele. “Eu quero tudo.”
Dr. Branahan inala profundamente pelo nariz. Posso dizer que está
apreensivo, mas depois de um momento ele se inclina para a frente em sua
cadeira.
“Como discutimos na última vez, acredito que a medicação vai ajudar com
o seu transtorno bipolar.”
Inclinando-me para trás em minha cadeira, olho para o médico. Max sofre
de depressão. Então, ele não é apenas um idiota, depois de tudo. Pelo menos,
não completamente, pois está doente.
BN TOLER

CAPITULO VINTE E QUATRO

“Terra para Max,” Waverly diz alto, enquanto acena uma mão na frente do
meu rosto. Pisco algumas vezes, tentando limpar minha cabeça. “Vir ao parque
esta tarde foi ideia sua,” diz ela. “Você planeja estar presente?”
Inalo profundamente e assinto.
“Sim. Desculpe.” O Central Park está agitado, mas não lotado. Depois de
chegar em casa do encontro com o Dr. Banahan, precisava limpar minha
mente. O médico tinha muito a dizer sobre Max Porter. Pensei que seria
benéfico; que descobriria informações-chave sobre o homem cujo corpo tenho
habitado, e descobri. Descobri muito. Demais. Dr. Banahan tinha tanto a dizer
sobre Max que concordamos em nos reunir novamente quando duas horas e
meia não foram suficientes.
Chegar em casa e ficar confinado no apartamento parecia insuportável.
Waverly arrumou uma pequena briga sobre minha ideia de fazermos uma
excursão ao parque, mas quando mencionei sorvete e Pimberly gritou de
emoção, Waverly desistiu. Tive que forçar Helen a ir para casa, insistindo que
descansasse um pouco. Sabia que estava exausta, mesmo que ela negasse.
Visitamos a exposição de animais aberta ao público, e finalizamos nossa
excursão com sorvete. Olhando para baixo, para Pim, vejo que ela tem sorvete
de chocolate manchado em todo o rosto gordinho e mãos, e sua camisa
também está suja dele.
“E... Ela está uma bagunça,” rio.
“Essa sua ideia brilhante de levá-la para tomar sorvete quando está mais
quente do que Hades aqui fora,” Waverly brinca. Porra, essa mulher é uma
espertinha.
BN TOLER

“Eu não vi você reclamar quando tomou aquela colher dupla de sorvete de
chocolate e hortelã,” argumento. Quando ela lança um rolar de olhos para
mim, bufo uma risada.
Waverly segura as muletas juntas, usando-as para equilibrar-se, e se
abaixa para pegar lenços do saco de fraldas de Pim. Seu short cinza (que mais
parece short de pijama sexy para mim, do que short que você usa em público)
levanta-se enquanto ela se inclina, mostrando sua bunda incrível. Dois rapazes
que estão andando por perto diminuem as passadas e viram as cabeças,
olhando sem disfarçar.
Algo surge através de mim. Não sei se é raiva ou ciúme. Não tenho tempo
para analisar isso antes de reagir.
“Mexam-se, idiotas,” advirto, meu corpo tensionando. Eles fazem uma
varredura rápida, enquanto rosno para ambos, trocam olhares e fogem.
O que eu fiz? Quer dizer, eles estavam agindo como idiotas e mereciam ser
repreendidos, mas por que me sinto tão protetor? E com raiva? Balanço a
cabeça e inalo profundamente, tentando me acalmar. Com cada dia, a
abstinência dos esteroides está cada vez menos intensa, mas meu humor ainda
é um pouco oscilante. Os esteroides devem ser o motivo de eu reagir com tanta
força. Waverly se endireita, com o rosto vermelho por ter ficado dobrada e
balançando em um pé, e pergunta:
“O quê?” Ela não tem a menor ideia que dois sacos de merda acabaram
de olhar fixamente para sua bunda.
“Nada,” murmuro. “Você apenas...” Gesticulo minha mão para ela.
“Apenas deixe-me fazer isso.” Tiro os lenços da sua mão. “Pelo amor de Deus,
não se incline de novo,” suplico frustrado. Esta situação fica mais e mais
fodida a cada dia. Não estou sabendo como ser Max, sem ficar ligado às
pessoas ou coisas da sua vida, e isso é exatamente o que está acontecendo.
Estou me apegando a Waverly, e ficando com ciúmes dela. Isso não é bom.
“Você só me forçou a sair e vir aqui para que pudesse me ignorar a maior
parte do tempo e agir como um pedaço de papel higiênico sujo no resto?”
Lanço um olhar para ela, lutando contra um sorriso.
“Um pedaço de papel higiênico sujo?”
Waverly revira os olhos, algo que sempre faz quando está irritada, mas
posso dizer que ela está tentando não rir, pela maneira como aperta os lábios
juntos.
BN TOLER

“Sim,” confirma, depois de um tempo. “É como um pedaço de papel


higiênico sujo que fica preso em você.”
Não pude evitar e começo a rir. De onde diabos ela tira essa merda?
“Olhe para isso, Pim,” Waverly diz animadamente. “Ele ri.”
Desta vez, reviro os olhos.
“Eu vou reinar no reino dos papéis higiênicos sujos e presos,” começo,
enquanto enxugo o rosto de Pim, e ela resmunga para mim, “se você usar mais
roupas assim.”
“Desculpe-me?” Waverly pergunta.
De pé, eu a encaro.
“Você está vestindo um short minúsculo e um top-regata. No parque,”
acrescento, enquanto faço sinal de uma mão ao nosso redor para enfatizar.
“Está trinta e cinco graus aqui fora,” ela argumenta, enquanto alisa o
cabelo para trás, que está amarrado em um rabo de cavalo alto.
“Sim, e você usa sete centímentros de tecido sobre seu corpo,” estou
exagerando. Suas roupas são escassas, mas não muito. Porém, se ao exagerar,
conseguir fazer meu ponto, eu farei isso.
“Sou uma mulher adulta, Max,” ela aponta. Então fica sarcástica. Percebo
que Waverly faz isso de vez em quando. “Da última vez que verifiquei, você não
é meu pai ou meu homem. Portanto, não é assunto seu.”
Olho para ela. Ela tem um ponto. Um bom. Mas eu também. Mais ou
menos.
“Certo,” concordo com ela. “Você tem razão, mas vou acrescentar...”
“Claro que sim,” ela interrompe, com um murmúrio.
“Você quer que a adolescente Pimberly saia de casa usando isso?”
Ela abre a boca para responder, mas para. Pensa consigo mesma, levanta
a cabeça e estreita o olhar para mim.
“Não. Acho que não.”
Meus olhos quase saltam da minha cabeça: “O quê?”
“O quê?” Ela ecoa, sem saber o que o meu 'o quê' está querendo dizer.
“Você apenas,” paro e movo a cabeça como um robô computadorizado,
“concorda comigo?” Sua boca curva-se ligeiramente, com um quase sorriso.
BN TOLER

“Cale a boca, Max,” avisa-me.


“Isso é um sim?” Empurro. Não posso negar que adoro fazer isso com ela.
A mulher não quer rir de mim, ou de Max. E não duvido que ela consideraria
morder a língua antes de se deixar fazer. Embora saiba que a incomode achar
algo que Max diz remotamente engraçado, adoro saber que sou eu quem a faz
querer rir, não Max.
“Você está dizendo que eu pareço vagabunda, Max?” Waverly pergunta,
um tanto atrevida, como se estivesse me desafiando a responder sim. Uau. Ela
inverteu tudo rápido.
“Não,” digo.
“Então o quê?” Ela insiste: “O que você está dizendo?”
Em momentos como este, um homem quer dizer algo, qualquer coisa, para
mudar o assunto, e geralmente falhamos miseravelmente. É um fato estatístico
que 99,9% dos homens diria algo ruim aqui e acabariam enfiando o pé na
boca. Sei que estou condenado. Ainda... tenho que tentar.
“Você está bem, Waverly,” digo. “Não vagabunda.”
“Então, por que o súbito interesse na escolha do meu guarda-roupa? Você
quer dizer que meu cabelo também parece uma porcaria?” Solto um suspiro
exagerado e corro a mão pelo meu rosto. E aqui vamos nós... este passeio está
indo direto para a merda.
“Ninguém disse nada sobre seu cabelo,” defendo-me. “Pare de torcer
minhas palavras.”
“Que palavras?” Ela ri arrogantemente. “Tudo que você disse foi sobre eu
usar mais roupas. Perguntei por que você disse isso? Pareço gorda? Ou uma
vagabunda?”
“Não disse nada disso,” resmungo, minha pressão sanguínea aumentando.
“Então por que você disse que preciso usar mais roupas?”
“Porque você parece sexy pra caralho,” rosno, dando um passo em sua
direção, fazendo o possível para manter minha voz baixa. Porra, essa mulher
pode ser frustrante. “Eu disse isso porque odeio que cada homem que passa
por nós esteja olhando para a sua bunda.”
Ela me olha, um brilho rosado espalhando em suas bochechas. Tinha lhe
feito corar, e o rubor parece muito bonito nela. Seu olhar desliza para a minha
boca, onde demora um momento, antes de se deslocar e encontrar meu olhar
BN TOLER

novamente. Espero pela reação, sei o que pode vir, mas não me afasto. Acredito
que ela vai me xingar. A mulher diria que não tenho o direito, que sou um
idiota, mas o chicote verbal nunca vem. Em vez disso, ela limpa a garganta e
olha para Pim.
“Provavelmente devemos levá-la para casa agora.”
“Sim,” concordo, depois de um momento. “Essa é uma boa ideia.”
Enquanto empurro o carrinho de Pim e Waverly manobra as muletas pela
movimentada calçada da cidade de Nova Iorque, me repreendo. Eu falei
demais. Não tenho o direito de falar aquelas coisas... transmitir esses
pensamentos e sentimentos, porque tudo que ela vê e ouve é Max dizendo-os.
Não eu. Estou perdendo o controle da situação, não que realmente tenha
algum controle disso, para começar. Quando voltamos para o apartamento, me
ocupo fazendo guacamole, enquanto Waverly senta em uma cadeira na frente
de Pimberly e tenta alimentá-la com purê de batata-doce. Pimberly grita e
empurra a mão de Waverly para longe cada vez que ela tenta colocar uma
colher perto de sua boca.
“Ela nem vai tentar comê-las,” Waverly geme. Andando até elas, me abaixo
para que esteja em seu nível.
“Alimente-me. Talvez se Pim me ver comê-las, ela vai querer experimentá-
las.”
Waverly agita as batatas antes de pegar um pouco com uma colher e me
alimentar.
“Isso está... bom... Humm...” Tenho que parar quando sinto o sabor. Eu
gosto de batata-doce, mas essa coisa tem gosto de bunda.
“É tão gostoso, não é?” Waverly questiona, me lembrando que deveria
estar ajudando.
“Oh, sim,” engasgo, me obrigando a engolir a porção.
“Você fez isso, mamãe?”
“Sim, eu fiz,” ela me informa, enquanto levanta uma sobrancelha, me
avisando para não insultar seu prato. “E você amou, não é?” Pondera,
enquanto sorri brilhantemente para Pim, acenando com a cabeça.
“O amor é uma palavra forte, mas é definitivamente diferente.” Pimberly
agarra a tigela em sua bandeja e desliza-a mais perto dela. Recolhendo a
massa de laranja com uma mão, Waverly e eu ficamos em silêncio
BN TOLER

antecipadamente. Ela vai tentar. Não importa se Pim usa a colher ou a mão,
desde que coma. Logo, examina a massa laranja presa em sua mão, zomba
dela, então chicoteia a mão na minha direção, jogando a massa, me cobrindo.
Meu olho direito está fechado, um pouco do mingau atingindo-o e consegue
também jogar batata no meu cabelo e na minha camisa. Waverly ruge em um
riso e, então, Pim a segue.
“Isso é engraçado?” Rio, enxugando meu olho.
“Muito engraçado,” Waverly concorda, seu rosto vermelho.
Tomando a tigela de Pim, pego algumas porções na minha mão.
“Isso é engraçado?” Pergunto a Pim em voz alta.
“O que você-” Waverly tenta fugir, mas já é tarde demais. Passo a batata
no lado do seu rosto, fazendo com que Pim fique histérica.
Estávamos todos rindo quando Waverly se apoia em seu pé bom e coloca
ambas as mãos na tigela, antes de manchá-las em meu rosto. Lutamos um
contra o outro enquanto ríamos, e me certifico de não ir muito longe devido seu
tornozelo ferido, mas antes que perceba, estávamos no chão, nossos corpos
sacudindo com riso, a tigela vazia e de cabeça para baixo ao nosso lado.
Enquanto nos deitávamos ao lado um do outro, tentando nos acalmar,
faço um inventário da cozinha. Poderia uma batata doce realmente criar essa
confusão? Droga.
Waverly levanta a cabeça e olha para Pim.
“Ela é uma garota inteligente. Apenas descobriu uma maneira de não ter
que comer sua batata-doce.”
“Fomos manipulados,” finjo descrença.
Saltando de volta em meus pés, pego as mãos de Waverly e a puxo para
cima. Ela segura no balcão para ter equilíbrio, enquanto eu tiro Pim de sua
cadeira alta.
“Todos nós precisamos de um banho.”
“Que desperdício,” ela aponta, enquanto olha para si mesma e depois para
mim. “Pim nem comeu uma porção.”
Olhando para Pim, murmuro:
“Você me deve uma, garota.”
Quando olho para trás, Waverly está me olhando.
BN TOLER

“Faço excelentes batatas trituradas.”


“É por isso que Pim se recusou a comê-las, e elas acabaram em cima de
nós e espalhadas pela cozinha.”
Olhando para mim com uma sobrancelha despreocupada, Waverly avisa:
“Cuidado, Max. Posso precisar que você lave esta camisa também.”
Ela está flertando comigo, ameaçando puxar outro truque como da noite
anterior, quando tirou a camisa na minha frente.
“Isso é uma ameaça?” Questiono-a.
“Talvez.”
Com Pim no meu braço direito, me abaixo e agarro as pernas de Waverly,
dobrando-a sobre meu ombro.
“Coloque-me para baixo, Max!” Grita ela, enquanto a levanto. Waverly
aperta fortemente a parte de trás da minha camisa como se, de alguma forma,
a salvaria se ela caísse. “Você vai nos deixar cair!”
“Não, eu não vou,” resmungo enquanto rio. Ando com elas através da sala
de estar, chegando no banheiro principal, antes de deixar Waverly em pé perto
da pia, para que ela possa usá-la para equilibrar-se. Seu rosto está vermelho e
sua camisa havia subido, até que ela percebe.
“Você perdeu a cabeça?” Sibila Waverly, enquanto puxa a camisa para
baixo. “Você poderia ter deixado Pim cair.”
“Eu teria deixado você cair antes de deixá-la,” insisto. Ainda segurando
Pim, abro a porta do chuveiro e ligo. Balançando a porta mais aberta, faço
sinal para Waverly. “Entre,” digo.
Franzindo o cenho, Waverly diz:
“Não vou ficar nua na sua frente.”
“Quem falou alguma coisa sobre ficar nua?” Sorrio. “Podemos ter esta
camisa lavada enquanto ainda está em você.” Antes que Waverly possa me
perguntar, envolvo um braço em sua cintura e andamos nós três para o
chuveiro, certificando-me de deixar Waverly debaixo da água por mais tempo
possível. A água está fria e ela uiva enquanto luta comigo para soltá-la.
Finalmente, cedo.
“Ok, ok, acalme-se.”
BN TOLER

“Solte-me,” grita ela.


“Ok, mas segure em meu ombro para equilibrar-se.” Sua mão agarra meu
braço enquanto ela coloca todo o peso no seu pé bom. Seu peito sobe e desce
com cada respiração forte que ela dá e seu rabo-de-cavalo é uma bagunça
encharcada pendurada na parte de trás da cabeça. Estendo a mão atrás dela e
ajusto a temperatura, fazendo o aquecedor de água funcionar.
“Você é um idiota,” ela treme e seu lábio inferior também.
“Eu sei,” concordo, “mas você quem começou.”
“É assim mesmo?”
“Você me ameaçou,” explico, enquanto desloco Pim um pouco.
“Ameaçar fazer você lavar minha camisa? Isso justifica tudo isso?”
“Ua-Ua,” balbucia Pim, enquanto levanta a mão para cima no fluxo de
água correndo. Pelo que posso dizer, a criança ama a hora do banho e parece
adorar estar no chuveiro com os adultos.
“Todas as nossas roupas estão encharcadas,” Waverly aponta.
Suspiro, zombando. “O que vamos fazer?”
Ainda usando meu braço para equilibrar-se, Waverly desliza para trás de
mim. Com a camisa grudada em seu corpo e o tecido embebido agarrado a ela,
revela o inchaço de seus seios, deixando muito pouco para a imaginação.
Na parte de trás do chuveiro, há um banco de madeira.
“Posso pelo menos sentar, se você vai me prender no chuveiro com você?”
Ajudando-a, ela se senta e então coloco Pim no chão do chuveiro ao lado
de seus pés. Agarro a banheira cor de rosa do canto, obviamente é de Waverly,
porque apareceu depois que veio ficar comigo, seguro-a sob a água e a seguir
entrego-a a Pim, esperando que fique ocupada por alguns minutos. Quando
retorno para Waverly, ela havia soltado o cabelo e passava os dedos pelos fios
molhados. Engulo em seco enquanto sinto o formigamento, o arrepio, aquele
que sempre sinto quando entramos em contato. Só que, desta vez, nem estou
tocando-a. Coloco as pontas dos dedos sob o seu queixo, inclino sua cabeça
para cima, forçando seu olhar escuro a encontrar o meu. Seus lábios se
separam ligeiramente quando nossos olhares se fixam um no outro e esgotam o
ar de meus pulmões.
BN TOLER

Um arrepio percorre minha espinha e algo, como um sussurro, empurra-


me para fazer alguma coisa. Beije-a, pede. Esqueço-me. Esqueço quem sou e
quem não sou. Esqueço os direitos e os erros. Tudo que sei é que a quero. O
sussurro e esta mulher estão separados, mas enquanto a encaro, eles estão de
mãos dadas, os dois me provocando, me desafiando a ceder aos meus desejos.
Inclinando-me para baixo, procuro seu olhar enquanto seguro seu rosto e
escovo meu polegar em sua bochecha. Gotículas de água pingam do meu
cabelo em seus cílios, mas nunca desviamos o olhar. Quando me inclino
ligeiramente para frente, minha vontade à beira de quebrar, um pequeno
gemido escapa de Waverly, algo entre uma súplica para parar ou continuar.
Eu não aguento mais.
Então a beijo.
Suas mãos se estendem, os dedos enredando-se através do meu cabelo,
enquanto minha língua varre entre seus lábios. Deixo-me cair de joelhos,
agarro seus quadris e puxo-a para mim, aprofundando o beijo. Ela se agarra a
mim, suas mãos tocando em todos os lugares, seus dedos escavando em
minhas costas. Estou longe, minha razão e força me deixaram. Há um milhão
de razões pelas quais não devia tê-la beijado, mas com esta mulher nos meus
braços, sua boca contra a minha, eu não me importo.
Nada pode me parar.
Quase nada.
O beijo termina quase tão abruptamente quanto começou, quando
Pimberly agarra minha camisa e a puxa. Me afasto de Waverly, saltando para
meus pés enquanto sugo ar, com a respiração irregular. Pim balbucia algo
enquanto bate no azulejo, fazendo-o salpicar de água.
Que porra aconteceu?
Quando mudo meu olhar em pânico para Waverly, ela não me olha. O que
só pode significar uma coisa: que lamenta o beijo, ou está chateada. É
demais... muito. Deveria saber que Waverly não quer que um homem,
especialmente Max, a carregue para um chuveiro como aquele, mas me perdi
no momento. Pensei que estávamos nos divertindo, flertando, mas isso é
estúpido. Flertar com Waverly não é uma opção, porque, na realidade, ela não
é uma opção. Não para Max. Certamente não para mim, que vivo como Max.
Ele queimou essa ponte para nós dois e eu realmente o odeio por isso.
Eu a beijei? Na frente de Pim?
BN TOLER

O que estava pensando?


“Eu sinto muito. Não sei no que estava pensando,” removendo minha
camisa, deixo o material molhado cair no chão e rapidamente lavo a batata-
doce do meu cabelo e fora do meu rosto. “Vou pegar algumas toalhas.” Quando
saio, minha calça está pingando, então a tiro, mantendo minha cueca boxer,
antes de ir ao armário pegar algumas toalhas. Envolvo-me com uma e deixo
uma pilha junto à porta do chuveiro. “Voltarei com as muletas.”
BN TOLER

CAPITULO VINTE E CINCO

“Tenho certeza de que ela é a coisa mais linda do mundo,” observa Helen,
enquanto olhávamos Pim usar suas mãos para empurrar espaguete em sua
boca. Havia tirado sua roupa, então ela está só de fralda. É uma coisa boa, pois
Pim está coberta de molho.
“Sim,” concordo, quando sorrio para minha filha. “Espaguete é seu prato
favorito.”
Helen vai até a cozinha e pega a panela do fogão. Ela coloca um pouco
mais de espaguete na bandeja de Pim, antes de levá-la de volta para a cozinha.
Helen retorna com a garrafa de vinho da qual eu já havia tomado uma taça.
“Mamãe precisa reabastecer,” ela anuncia, enquanto enche minha taça
vazia.
“Oh, não,” balanço a cabeça. “Uma taça é suficiente. O vinho me deixa
tonta.”
“Ah, você tem que beber,” Helen insiste. Em seguida, esfrega uma mão
sobre seu ventre pequeno, e faz beicinho com o lábio inferior. “Preciso viver de
forma indireta através de você. Tenho tanta saudade do vinho.”
Rio, enquanto levanto a taça em um brinde.
“Se você insiste,” respondo, antes de tomar um longo gole.
“Realmente, precisei dobrar seu braço atrás das suas costas para te
obrigar a tomá-lo, não é?” Graceja ela, sarcasticamente.
Rio novamente, quase cuspindo meu vinho. Nunca fui de recusar uma
taça de vinho. Na verdade, não. Além disso, sendo completamente honesta,
estou me divertindo. Juro que quanto mais fico com Helen, mais gosto dela.
BN TOLER

Ela é tão querida e tem o melhor senso de humor. É por isso que me
surpreendo tanto que Helen seja amiga de Max.
Max.
Até mesmo pensar em seu nome faz meu estômago virar. A noite anterior
foi tão surreal. Toda aquela tarde e noite em que fomos brincalhões. Tínhamos
flertado. Nossa brincadeira e a maneira como lançávamos gracejos espirituosos
um para o outro havia sido um grande divertimento. Não me lembro de ter sido
assim antes com Max. Quando ele me jogou sobre o ombro como se eu não
pesasse nada e nos levou para o chuveiro, esqueci que não gostava dele. De
todos os seus erros. Por um breve tempo, deixei as paredes caírem, deixei-o se
aproximar e tivemos o melhor momento.
Então ele me beijou.
Devia tê-lo impedido. Sabia o que estava prestes a acontecer quando ele
puxou meu queixo e olhou-me nos olhos. A palavra não estava na ponta da
língua, mas a engoli de volta. Max não perguntou se estava tudo bem. Apenas
fez isso. Queria estar brava; me sentir violada pelo que me fez sem perguntar,
mas não podia. A forma como se moveu, a maneira como não perguntou me
excitou. Era como uma espada de dois gumes. Eu reproduzi esse beijo uma e
outra vez em minha mente durante toda a noite, e no dia seguinte, e toda vez
que fiz isso, minha pele formigava em toda parte e calor devastava meu rosto.
Pensar nisso mexeu com algo tumultuoso dentro de mim, mas a excitação,
emocionante como era, sempre foi seguida por um arrependimento profundo e
sufocante.
Eu deixei Max me beijar.
Pior... O beijei de volta.
Tipo realmente o beijei de volta.
Com língua e tudo.
Tanta língua.
Ugh... O que está errado comigo? Como uma pessoa beijar alguém que
odeia e realmente gosta disso? Eu sou uma contradição ambulante e falante.
Um clichê.
“Um centavo por seus pensamentos?” Helen pergunta. Percebo que estou
olhando inexpressivamente para o nada, correndo os dedos sobre meus lábios.
Olhando para ela, algo me atinge: quem é aquela mulher? É quando decido lhe
BN TOLER

perguntar. Não aguento mais. Tenho que saber como e por que eles são
amigos. Desta vez, porém, não me conformaria com respostas vagas, que não
fossem claras.
“Helen,” começo, enquanto corro o dedo sobre a borda da taça de vinho.
Quando seu olhar vem em minha direção e vê minha expressão, ela
inclina a cabeça como se dissesse "Pergunte."
“Qual é o vínculo entre você e Max?” Vou direto ao ponto; não girando em
torno dele. “Quero dizer, realmente?”
Lambendo os lábios, ela olha para baixo em sua barriga e esfrega
novamente.
“É difícil de explicar, Waverly,” admite ela. “Não é romântico ou íntimo. Ele
não é o pai do meu bebê,” me assegura, com um sorriso que me faz sorrir.
Quando seus olhos se erguem e encontram os meus, não desvio e não falo.
Helen tem um pensamento, algo que quer dizer-me, e estou com medo de que,
se eu falo algo, ela mudará de ideia sobre querer compartilhar comigo ou não.
“Você acredita em destino? Ou mesmo milagres?”
Dou de ombros e bebo meu vinho.
“Claro que sim,” admito. “Acredito que eles acontecem todos os dias.”
Ela acena com a cabeça algumas vezes.
“Eu também,” então acrescenta com mais convicção: “eu sei que eles
acontecem.”
“Está dizendo que Max é um milagre?” Bufo, mas ela não ri. Sua
expressão fica séria.
“Você concorda que ele está diferente?”
Alargo os olhos e solto um longo suspiro. Isso é um eufemismo.
“Ele está muito diferente,” admito.
“Isso não é um milagre?” Ela me pergunta, com uma sobrancelha erguida.
Estreito meu olhar para ela e digo:
“Não sei se chamo isso de milagre, Helen.”
“Mas ele está diferente, sim?”
“Diferente ou experimentando um momento temporário de insanidade?”
Pergunto, secamente.
BN TOLER

“Ou,” ela faz uma pausa, olhando fixamente nos meus olhos, “ele é uma
pessoa completamente diferente.”
“O que está dizendo, Helen?”
Inclinando a cabeça para o lado, ela franze os lábios em pensamento.
“Estou dizendo que-”
“Alguém em casa?” Nós duas viramos nossas cabeças em direção ao som
da voz de Max. Ele acaba de passar pela porta.
“Estamos aqui!” Helen grita enquanto se levanta.
Dentro de momentos, Max aparece, sua expressão aparentemente estoica
e ilegível. Então ele vê o espaguete cobrindo Pim e suas feições ficam
iluminadas quando um sorriso largo se espalha em seu rosto.
“Olhe para isso,” ele sorri. Lá está novamente. Minha pele começa a
formigar. Não é apenas a visão dele ou a lembrança do beijo. É algo mais puro.
Mais doce. É a maneira como olha para Pim como se ela fosse a coisa mais
preciosa do mundo.
“Bolas!” Pim gorgoleja, enquanto levanta as mãos de molho em direção a
Max. Inclino os olhos para Pim perguntando-me de onde isso vem. Bolas. Por
que ela diria isso agora?
Ver Pim tão feliz e radiante em ver Max, emparelhado com o vinho, quebra
brevemente minha parede metafórica e faz meu coração derreter. Quando Pim
acordou na hora impiedosa das cinco da manhã daquele dia, e Max levantou-se
com ela, isso definitivamente lhe valeu alguns pontos. E naquela manhã,
através da abertura da porta do quarto, pude vê-lo segurando-a e dançando, e
cantando silenciosamente para ela Tennessee Whisky, por Chris Stapleton.
Isso foi... Doce. Não posso negar isso.
“Oi, Max!” Grito, incapaz de impedir que o menor sorriso se forme no meu
rosto. Seu corpo congela, seu olhar azul saltando de mim para Helen, e de volta
para mim, seus olhos crivados com confusão.
“Alguém mais sente essa mudança no espaço-tempo?” Meu sorriso cai.
Max está sendo um idiota. Minha saudação amigável é diferente de mim, mas
ele não tem que ser um idiota sobre isso.
“Você sabe-”
“Você quer um prato?” Helen interrompe, seu tom uma oitava mais alta.
Ela está tentando amenizar o clima. Então relevo e bebo o vinho outra vez.
BN TOLER

“Se você fez, sabe que sim,” diz Max. Depois que Helen corre para a
cozinha, Max vai para Pim e se abaixa, beijando sua bochecha, então não é
surpresa quando ela suja de molho toda a sua camisa.
“Sua camisa, Max,” indico. “Ela está fazendo uma bagunça em você.”
Quando ele levanta, acena com a mão desdenhosa.
“É apenas uma camisa.”
“Se você diz,” murmuro.
“Talvez eu tenha que lavar minha própria camisa desta vez,” brinca ele.
Meu rosto se esquenta quando me lembro, mais uma vez, do movimento
audacioso de remover minha camisa na outra noite. Pegando um dos
guardanapos de pano da mesa, ele enxuga o rosto.
“Como está o tornozelo hoje?”
“Melhor,” admito. “Não dói tanto.”
“Bom. Fico feliz em ouvir isso.”
A sala fica em silêncio enquanto Max muda o olhar para Pim, pois não
sabe o que dizer. Nem eu. Depois do nosso beijo no chuveiro, ele mal fala uma
palavra para mim e esta manhã saiu logo depois que Helen chegou, e ficou fora
o dia todo. Aparentemente, ainda estávamos brigando hoje. Se ele quer fingir
que o beijo não aconteceu e me ignorar, o que me importa?
Ok, me importo, mas me recuso admitir.
Helen entra e coloca um prato de macarrão sobre a mesa.
“Vocês dois conversem. Vou dar um banho a esta pequena, se estiver tudo
bem para você, Waverly.” Esta é uma das coisas de que mais gosto dela. Helen
combina comigo.
“Tem certeza de que não se importa, Helen? Ela está uma bagunça,” digo,
olhando para minha filha, incapaz de segurar uma risada. Pim tem dois longos
macarrões em seu cabelo e eles estão pendurados em seu rosto.
“Adoraria fazer isso.” Então, ela tira Pim da cadeira alta e a leva no
comprimento do braço em direção à sala de estar, em seu caminho para o
banheiro. Quando olho para Max, ele empurra comida em sua boca, olhando
para o nada. E está tão perdido em pensamentos que nem sequer nota que
ainda estou sentada ali com ele.
BN TOLER

“Você está bem, Max?” Pergunto, o vinho me impedindo de lembrar que


não devo me importar.
Ele continua a olhar para frente como se não tivesse me ouvido.
“Max?” Grito. Virando a cabeça em minha direção, ele ergue as
sobrancelhas em questionamento, enquanto mastiga.
“O que há com você esta noite? Parece que está a um milhão de
quilômetros de distância.”
Depois de engolir, ele olha ao redor antes do seu olhar fixar-se em minha
taça de vinho. Apontando para ela, pergunta-me:
“Posso beber um gole?”
“É o seu vinho,” brinco, me sentindo extremamente bem-humorada.
Depois de tomar um longo gole, senta-se diante de mim, estremecendo.
“Como você bebe isso?”
Olho-o sem entender. Ele está falando sério?
“Você adora vinho,” lhe indico.
Balançando a cabeça, ele gira mais algumas massas no garfo.
“Não mais,” ele resmunga.
Reviro os olhos dramaticamente antes de beber novamente.
Aparentemente, ele não gosta de nada de quando o conhecia. Suas roupas,
suas bebidas, sua comida. Max nunca comera massas. Carboidratos eram o
inimigo em sua mente.
“O que está em sua bunda esta noite, Max?” Digo.
Seu lábio curva-se de um lado, enquanto ele me olha de soslaio.
“Desculpe,” ele diz. “Tenho muito em mente.”
“Alguma coisa que queira falar?” Estou lhe dando uma abertura para falar
sobre o elefante na sala, o beijo.
Deixando o garfo cair e bater contra o prato, ele puxa a cadeira para mais
perto da minha e se inclina em minha direção.
“Não foi você,” ele declara claramente, seu olhar fixo no meu.
O observo, sem saber como responder.
BN TOLER

“O que quer que tenha acontecido no passado, apenas saiba... não foi
você. Você não fez nada de errado.”
Meu rosto fica entorpecido enquanto absorvo sua proclamação. Isso é....
uma desculpa? É isso que ele está tentando fazer? Espero há tanto tempo por
um pedido de desculpas de Max, e pensei que, se alguma vez conseguisse, de
alguma forma, me curaria, pelo menos um pouco. Uma parte de mim queria
desesperadamente que Max reconhecesse o que fez para mim, para nós, mas
suas desculpas não são tão reconfortantes como pensei que seriam. Então,
novamente, é realmente um pedido de desculpas?
Tirando a língua para fora, lambo meus lábios secos.
“Por que você está dizendo isso para mim?”
Sentado, ele bufa.
“Eu não sei, porra. Precisava ser dito.”
De repente, empurra a cadeira e começa a agarrar os pratos da mesa.
“Vou limpar a cozinha.” Enquanto observo Max mover-se para a cozinha,
quero chamá-lo; fazê-lo voltar e explicar o que disse, ou tentou dizer, mas paro.
Algo me diz que o que ele falou, é tudo o que tinha a dizer. Cabe a mim
interpretar suas palavras e seu significado, e levá-lo como desejar. Também
entendi que mesmo que tenha guardado remorso de Max por anos, talvez não
esteja pronta para o pedido de desculpas. Na verdade, não. Há uma diferença
entre precisar do perdão de alguém para curar e realmente estar pronta para
curar.
Depois que Max me deixou quando descobriu que eu estava grávida, li
todas as malditas citações inspiradoras já escritas sobre cura; sobre deixar ir e
seguir em frente. Quão simples essas palavras de sabedoria são. As pessoas
que dizem que segurar a dor, pois ela só estará machucando você, e que deve
deixá-la ir, são as piores. Alguém realmente pensa, por um segundo, que não é
o que gostaríamos de fazer? Claro que queremos deixá-la ir. Dor é uma coisa
viva e respirante, com dedos frios e longos que alcançam por dentro e rasgam-
nos parte por parte. Luto com isso por tanto tempo, tentando deixá-la ir.
Entendo que, depois de algum tempo, não é tão simples como acordar e dizer
voila 23 .... Está feito, estou deixando ir. É um ponto culminante de muitas
variáveis; como espaço e tempo separados; mantendo-nos ocupados, fazendo
outras coisas que nos trazem alegria. Há também o sentimento de ouvir; ver

23 Aí está em francês.
BN TOLER

sua dor sendo reconhecida pela pessoa que causou isso para você. Isso é algo
que nunca conseguiria obter de Max, sendo uma pílula difícil de engolir. Não,
eu precisava fazer o impossível: perdoar uma pessoa que nem mesmo pediu por
isso. Quer falar sobre algo que toma força?
Então, na mistura de tudo isso — o perdão, o espaço, os passatempos —
tem-se uma escolha. Tudo isso anda de mãos dadas, mas não significa que
você tenha se curado ou que realmente conseguirá. Significa apenas que
decidiu abandonar o peso da dor e guardá-la no sótão metafórico da sua mente
e coração, e seguir em frente. Ainda há dano e, no fundo, eu sei que sempre
haverá, mas também há espaço para mais. Para mais amor, mais felicidade.
Inclinando a taça em minha boca, bebo todo o restante do meu vinho.
Repousando a cabeça nos braços, sobre a mesa, fecho os olhos. O vinho me
ajuda a relaxar esta noite, mas é mais do que isso. Estou em paz e quero
saborear o momento, por mais breve que seja. Max me ofereceu algo naquela
noite.... Talvez não um pedido de desculpas, por assim dizer, mas um
reconhecimento. Honestamente, suas palavras não me confortaram. Não, o que
me encheu de contentamento é que percebi que já não preciso do seu
reconhecimento ou desculpas. E talvez esteja finalmente deixando ir, depois de
tudo.
BN TOLER

CAPITULO VINTE E SEIS

Assim que fecho a máquina de lavar louça, Helen entra na cozinha


segurando uma Pimberly recém-banhada e vestida. Assim que ela me vê,
estende as mãos, praticamente voando para fora dos braços de Helen.
Espremendo o minúsculo corpo de Pim, beijo sua têmpora e fecho os
olhos, inalando-a. Ela cheira a talco de bebê. A consulta com o Dr. Banahan foi
mentalmente exaustiva e sinto-me bem em abraçar algo, ou melhor, alguém,
tão imaculada neste mundo feio. Aprendi mais sobre Max do que queria. Hoje
aprendi que as pessoas más não nascem más.... elas são feitas dessa maneira.
“Você está bem?” Helen pergunta-me.
“Sim,” murmuro calmamente, não querendo perturbar Pim enquanto sinto
seu corpo começar a relaxar. É incrível como o abraço desta menininha que
cheira a talco de bebê pode me fazer sentir muito melhor.
“Como foi a consulta?”
“Longa história...”
“Falando nisso, onde está Waverly?” Helen pergunta, mas, antes que eu
possa responder, ela caminha em direção à sala de jantar e espia dentro.
Voltando-se para mim, Hel sorri.
“Acho que ela desmaiou.”
Minhas sobrancelhas se erguem.
“Mesmo?”
“Mesmo.”
Dando alguns passos em minha direção, me olha com os lábios apertados.
Ela tem algo que quer dizer, mas não sabe como.
BN TOLER

“Diga logo, Hel,” ordeno, enquanto ajusto Pim, que tem a cabeça aninhada
contra meu ombro já à beira de desmaiar.
“Depois que tirei Pim do banho e a vesti, a coloquei no chão enquanto
pendurava a toalha no banheiro. Quando voltei,” fez uma pausa, “Pim havia
encontrado algo na cama de Max.”
Meus olhos se arregalam em horror enquanto minha mente pensa na pior
coisa em que poderia imaginar.
“Por favor, me diga que não era um preservativo.”
A fisionomia de Helen se revira de nojo.
“Eca, não,” ela grunhe. Solto um suspiro aliviado.
“Obrigado, Deus,” murmuro contra a cabeça de Pim.
“Então, o que era?”
“Sua mochila, Liam.”
“Droga,” respiro. Havia esquecido. Lembro-me de ver Max apanhá-la e
fugir com ela, mas com o que vem acontecendo, esse fato perdeu-se no caos.
“Ele manteve,” murmuro mais para mim do que para Helen. “Onde está
agora?” Pergunto, preocupado que Waverly possa encontrá-la.
“Coloquei na parte de trás do armário de Max, atrás dos ternos.”
Solto um suspiro de alívio. Graças a Deus Waverly não a encontrou. Não
tenho ideia de como explicaria isso.
“Pim também encontrou isto,” alcançando em seu bolso traseiro, ela puxa
um pedaço de papel dobrado.
“O que é isso?”
Helen limpa a garganta e inclina-se para mais perto.
“Acho que é uma nota de suicídio, Liam,” sussurra Helen. Depois que
desdobra, a entrega para mim. O papel está enrugado em toda parte, pois foi
amassado quando Pim o encontrou.
BN TOLER

É assim que o bilhete termina. Embora não pareça uma nota clara de
suicídio, pode ser lida dessa forma. E se for uma nota de suicídio, Max deve ter
mudado de ideia sobre se matar, ou sobre deixar uma nota. Daí ela encontrar-
se enrolada sob sua cama. Aprendi com o Dr. Banahan que Max é um homem
doente, mentalmente. No entanto, ele só mostrou ao mundo o que queria que
vissem, não o que realmente é. Então fico mais triste do que chocado ao ler
esta nota. Balanço a cabeça e abro a boca para dizer algo a Helen, mas a fecho.
Max queria se matar.
“Puta merda,” eu respiro.
“O quê?” Helen pergunta, tirando a carta de mim.
“Ele estava se matando,” dou um berro.
“Ou ele estava pretendendo,” Helen dá de ombros.
“Não, Helen,” sussurro em voz alta. “Acho que sei o que aconteceu.”
Helen não pergunta, só me observa com olhos curiosos, esperando que eu
explique.
“Não acordei como Max até cinco dias depois do acidente.”
“Sim,” ela concorda.
“Por que cinco dias? Por que não imediatamente?”
Ela bufa com impaciência.
“Boa pergunta. Questione-se a si mesmo, já que você é Max.”
“Provavelmente nunca teremos uma razão lógica para explicar como isso
aconteceu, mas por que esse período de tempo?” Questiono novamente. “Acho
que sei.”
“Então... Por quê?”
BN TOLER

“Acho que ele tentou se matar, Helen. Acho que é por isso que mudamos.
Acho que sim. Max realmente se matou.”
“Mas ele não terminou a carta. Talvez tenha mudado de ideia,” aponta ela.
Essa teoria faz minha pressão sanguínea aumentar. Finalmente ter
alguma ideia sobre como me tornei Max Porter chega até mim. Com Pim
desmaiada em meus braços, tenho que manter a calma, porque não quero
acordá-la.
“No dia em que acordei como Max, encontrei uma garrafa de scotch 24
vazia, uma embalagem vazia de analgésicos na mesa de cabeceira e um bloco
de notas. Acho que ele teve uma overdose.”
Seu rosto se revira, revelando incerteza.
“Mas...” Helen faz um gesto com a mão para mim. “Obviamente não. Se o
fizesse, o corpo dele teria desaparecido e você não estaria aqui.”
Encolhendo-me, pisco rapidamente enquanto pensamento após
pensamento ricocheteiam através da minha mente. O Dr. Banahan me ofereceu
um pouco de esclarecimento naquele dia. Odeio pensar em qualquer homem
chegando ao ponto de tirar a própria vida, mas sabendo o que sei, não é tão
difícil de acreditar.
“Da mesma forma que trocamos de corpos. Não consigo explicar. Mas....
Faz sentido.”
Helen fica quieta por um momento, com a testa enrugada, enquanto
pensa.
“Você salvou sua vida e ele tentou se matar depois?”
“É o que parece.”
Ela lança um olhar intenso para mim, cheio de raiva.
“Você arriscou sua vida para salvá-lo, e ele tentou suicídio?” A mesma
pergunta é formulada por mim, mas de maneira diferente. Meu rosto cai
enquanto absorvo sua expressão e emoção. Helen está brava.
“Você pode morrer e ele apenas...” Ela para, sufocando as palavras. “Ele
apenas tentou acabar com isso?”
“Hel,” digo seu nome calmamente, enquanto a puxo para um abraço. Em
um braço, seguro uma Pimberly dormindo e, no outro, minha irmã chorando.

24 Uísque escocês.
BN TOLER

“Não faça isso com você mesma,” imploro, em silêncio. “Pelo menos temos
uma ideia sobre por que tudo isso aconteceu.”
Sei que isso não muda nada, realmente. Certamente não faz a situação
mais fácil ou menos confusa, mas me ajuda. Isso me ajuda a saber que talvez
exista um porquê de tudo isso.
Afastando-se de mim, Hel tira uma toalha de papel do rolo e enxuga o
rosto.
“Você sabe, Liam,” ela funga, “sei que nos perguntamos por que, mas
honestamente, não me sinto melhor em saber. Temos três dias, antes que
tenhamos que tirar seu corpo do suporte. E não temos ideia do que vai
acontecer.”
Abro a boca para dizer algo, qualquer coisa, para confortá-la, mas congelo.
O que dizer? Esta situação é uma merda, pura e simples, mas tenho que
tentar.... Por ela... tenho que tentar dar-lhe um ponto de vista mais otimista, se
isso for mesmo possível.
“Sei que se eu acabar morrendo, você pode não ver isso por um lado bom,
mas... Pelo menos conseguimos dizer adeus, Hel.” É difícil ver isso como um
lado bom, mas é. Se você tiver sorte o suficiente para conseguir dizer eu te amo
e compartilhar um adeus com alguém que se preocupa antes de morrer, você é
um maldito bastardo afortunado, sem e, se, ou mas envolvidos.
Sua mandíbula fica frouxa quando seu corpo se convulsiona, enquanto
um soluço a envolve. A dor em seus olhos quase me derruba. Aperto minha
boca junta e quero me dar um soco. Não devia ter dito isso a ela. Mesmo que
seja verdade. Helen não quer a voz da razão, ela quer chorar e ser ouvida.
Como minha avó sempre me lembrou, Deus nos deu uma boca que fecha e
ouvidos que permanecem abertos. Eu só quis oferecer conforto; consolo, mas
tudo o que fiz, foi reiterar que estamos a poucos dias de dizer adeus um ao
outro.
“Sinto muito,” passo meu braço em torno dela e aperto-a para mim. “Por
favor, não chore, Hel,” imploro, minha garganta apertando com emoção. “Sei
que isso é um inferno para você e sinto muito. Mal estou me segurando aqui,
irmãzinha,” confesso. “Por favor, fique forte para mim. Só mais um pouco, Hel.
Por favor.”
Seu corpo treme enquanto Helen pega minha camisa e funga nela algumas
vezes. Então, com um súbito empurrão, sua cabeça surge e ela dá um passo
para trás, longe de mim. Assentindo algumas vezes, inala algumas respirações
BN TOLER

profundas com as mãos nos quadris. Então, decide que o tempo para o choro
terminou.
“Ok,” ela repete várias vezes. “Certo, Liam. OK.”
Minha boca entreabre-se em um sorriso triste quando dou a ela um curto
aceno de cabeça. Helen quer desmoronar, eu posso dizer, mas não fará,
embora tenha todos os motivos para isso: estando grávida, esgotada de correr
entre aqui e o hospital, criando um filho e lidando com o desgaste emocional
que se sente, querendo saber se seu único irmão vai morrer. Sim, Hel merece
um bom descanso, mas a minha irmãzinha é dura como pregos. Ela é um Gato
do Inferno, pequeno, mas feroz. Em nossas vidas juntos, tenho muito orgulho
em ser o irmão que ela sempre pode confiar, especialmente depois que
perdemos nossos pais. Eu era sua pedra, mas maldição se a maré não mudou
isso. Porque sei, sem dúvidas que, se Helen não estivesse lá para mim depois
que me tornei Max Porter, teria sido uma porra de destruição. Ela é minha
espinha dorsal, a minha rocha. Eu sei mais do que tudo, que precisamos
mudar o assunto. Preciso dar-lhe algo para ocupar a mente, para mantê-la
ocupada.
“Você se importaria de pegar Pim para que eu possa verificar Waverly?”
Seu olhar cai sobre Pim, e ela sorri.
“Claro que não me importo,” sussurra. Lentamente e suavemente,
transfiro o corpo flácido de Pim para Helen, que a leva para a cama.
Depois que elas saem da cozinha, dobro a carta amassada e a enfio no
bolso traseiro. Coloco minhas mãos no balcão e deixo cair a cabeça. Minha
pobre irmã. Envolvê-la faz de mim um egoísta. Estou cobrando um pedágio
dela e não tenho ideia do que acontecerá com Hel depois que eu morrer.... Se
morrer. Nesse ponto, não tenho absolutamente nenhuma razão para acreditar
que minha vida não acabará em poucos dias. Então o que Helen fará? Ela
estará grávida e de luto. E quanto a Waverly? Fale sobre uma mulher boa e
chateada. O que acontecerá se Max volta e puxa o mesmo cartão idiota para
ela? O peso da culpa me atinge com força e cerro os olhos.
“Deus,” oro baixinho, minha voz profunda. “Sei que não sou um homem
de oração,” admito, “mas, querido Deus, por favor, ajude-me a ser forte o
suficiente para lidar com essas mulheres sem arruiná-las. Por favor, não deixe
que eu estrague essa doce menina. Por favor, não me deixe ser outra decepção
para Waverly, outra razão para ela ressentir-se dos homens. Por favor, não
BN TOLER

permita que minha irmã fique emocionalmente drenada. Não peço nada para
mim, Senhor. Só para essas mulheres. Por favor. Amém.”
Com uma respiração profunda, firmando-me, faço o meu caminho para a
sala de jantar, parando na porta. Não posso deixar de resmungar uma risada
para mim mesmo. Waverly está nocauteada. Droga, ela é uma mulher bonita,
mesmo com o rosto amassado de um lado, contra os braços. Coço a parte de
trás do meu pescoço e pergunto-me por um momento se não será melhor
apenas deixá-la, mas então me lembro do seu tornozelo e que provavelmente
precisa tê-lo apoiado. Aperto seu braço algumas vezes e a balanço suavemente,
mas ela não se mexe. Tenho que levá-la para a cama. Waverly ficará bem com
isso? Na noite anterior, definitivamente cruzei uma linha e não tenho certeza se
está chateada comigo ou não. Ela parecia bem no jantar, mais do que bem. Ela
realmente parecia... agradável, mas estava tão preocupado com meus
pensamentos que não prestei muita atenção. Se a levo para a cama, ela se
lembrará e, se ao lembrar, detonar a porra da minha cabeça por fazer isso?
Provavelmente a última opção, imagino. A sacudo novamente, esperando que
acorde.
“Waverly,” falo calmamente. “Se você não acordar, vou levá-la para a
cama,” aviso. Ela não se mexe. “Ok. Tentei avisá-la.”
Com um pouco de manobras desajeitadas, a pego. Mesmo com toda essa
agitação, ela não acorda. Seu corpo está mole como um macarrão espaguete
cozido em meus braços. Waverly é leve e macia, e seu cabelo tem uma
fragrância exótica que me atinge.
“Porra, você cheira bem, mulher,” resmungo para ela, mesmo que esteja
desmaiada e não possa me ouvir. Não que queira que Waverly ouça.
Lentamente, manobro através do apartamento, com cuidado para não bater
sua cabeça ou pés contra quaisquer móveis ou armações de porta. Helen vem
saindo do quarto depois de colocar Pim, enquanto estou prestes a entrar. Seus
olhos ainda estão vermelhos e inchados, mas ela parece um pouco mais calma.
“Uau,” ela ri. “Acho que o vinho tinto é seu inimigo. Pim também está
dormindo, então tente ficar quieto.”
“Entendido,” concordo.
Helen beija minha bochecha.
“Estou saindo,” ela me informa. “Voltarei brilhante e cedo para ajudar.”
“Obrigado, Helen,” sussurro. “Eu te amo, irmã,” ela sorri fracamente.
BN TOLER

“Eu também te amo. Boa noite.”


Vejo-a pegar sua bolsa e correr silenciosamente em direção à porta da
frente.
Dou mais alguns passos táticos, antes de chegar à cama e deitar Waverly.
Delicadamente, movo sua perna e apoio seu tornozelo em cima de um monte de
almofadas. Ela solta um pequeno ronco, me fazendo sorrir. E parece tão...
pacífica. Realmente gosto da versão Waverly adormecida. Bufo uma risada
silenciosa enquanto me lembro dela me perguntando o que estava em minha
bunda enquanto jantava. Ela é espertinha com certeza e, tenho que admitir, eu
gosto. Essa mulher não é fácil de aturar, pois diz o que vem na mente e não
liga se ofender alguém.
Seu lábio inferior é cheio e minha imaginação tira o melhor de mim, à
medida em que penso sobre o nosso beijo no chuveiro. Ela aceitou e se
entregou. Waverly queria tanto quanto eu. Só de pensar nisso enquanto a olho,
tenho-me lutando contra o desejo de me curvar e beijá-la novamente, apenas
para sentir seus lábios suaves, mais uma vez. Então, enquanto a observo...
fecho os olhos e balanço a cabeça com firmeza.
“Não se atreva,” lhe aviso. Mas o pau de Max está duro. “Você, filho da
puta,” rosno. Olhando para minha virilha, informo: “Não vai acontecer, cara,
então você pode muito bem acalmar a merda para baixo.”
Claro que ele não ouviu. Na verdade, ficou mais duro. Decidindo que
preciso de um banho frio, movo-me para pegar o edredom e cobrir Waverly
antes de sair, quando algo me faz olhar para ela.
Seus olhos.
Estão totalmente abertos.
E em mim.
Meu coração ricocheteia no meu peito.
No entanto, não abala a ereção.
Eu me ocupo em deixá-la mais confortável, envergonhado e inseguro sobre
o que direi a Waverly se ela perguntar porque estou brigando com meu pau.
Quando olho novamente para cima, seus olhos estão fechados, seu corpo
pacífico.
Eu imaginei isso?
BN TOLER

De jeito nenhum. Seus olhos estavam abertos. Ela olhava direto para mim
enquanto eu repreendia o pau de Max. Está fingindo dormir agora? Esteve
fingindo o tempo todo? Porra. Devo dizer algo?
Rapidamente, empurro o cobertor sobre ela e desligo a lâmpada no criado-
mudo. Você pode pensar que a sensação que experimentei de ataque cardíaco
murcharia a ereção imediatamente, mas não. O pau do Max está preparado
para me torturar.
Saio do quarto e agarro o monitor do bebê. Vou para o banheiro de visitas,
tirando as roupas enquanto ando. Uma vez que chego ao banheiro, coloco a
ducha tão fria quanto possível e entro, forçando-me a ficar sob a água gelada
ártica à medida em que tremo e amaldiçoo qualquer força que me colocou
nesse corpo.
BN TOLER

CAPITULO VINTE E SETE

Solto um longo e lento suspiro. Aquele que estive segurando pelo que
parece uma eternidade. Depois de Max praticamente correr para fora do
quarto, abro os olhos e encaro o teto, tentando não deixar o pânico me
congelar.
Ele sabe que eu fingia dormir.
Merda.
Não tinha a intenção de abrir os olhos, mas quando Max disse “você, filho
da puta” não pude me ajudar. Depois de tudo o que ouvi, deveria estar tendo
um ataque de pânico, mas sei que preciso manter a calma. Claramente, Max
não está bem e não digo sobre o estranho fato dele ter repreendido sua virilha
momentos antes. Isso certamente não ajudou. Estou falando sobre... algo mais.
Sei que deveria ter ido embora. Sei que é errado, mas minha curiosidade
superou-se e talvez... apenas talvez... seja bom uma ajuda extra. A verdade é
que meu tornozelo está bem melhor. Não cem por cento, mas bom o suficiente
para fazer tudo sem muletas. Soube disso naquela manhã, quando acordei.
Mas não disse a Max.... ou Helen.
Apenas continuo fingindo precisar das muletas e deixá-los cuidar de Pim e
de mim. É muito baixo, mas estou determinada a descobrir o que está
acontecendo com Max, e quero saber qual a ligação de ambos. Talvez não seja
o meu negócio, mas quanto mais conheço esse ‘novo’ Max e sua ‘amiga’ Helen,
mais eu preciso saber. Talvez seja a masoquista em mim, essa parte que
precisa sentir-se torturada, mas o que realmente quero saber é..... Por quê?
Por que Max está diferente agora?
BN TOLER

A parte mais patética de mim quer saber por que ele não poderia ter sido
diferente anos atrás? Por que eu não fui suficiente para evocar esse novo e
melhorado Max?
Vergonhosamente, tenho que admitir que parte de mim quer ficar por
causa do beijo, também. Não gosto de me sentir atraída por Max novamente,
mas o fato é que está acontecendo. Não importa o quão duro lute, ou quão alto
construa e reforce a parede ao meu redor, está lá.
Então finjo, mas, no meu esforço para descobrir o que diabos está
acontecendo, descubro mais do que gostaria ou estava em minha cabeça.
Preciso ligar para Matt, para que meu irmão venha ao meu resgate, mais uma
vez.
Quando Helen voltou com Pimberly, depois de prepará-la para dormir, não
estava realmente desmaiada no sofá. Não sei por que fingi estar dormindo, ok,
isso é mentira. Eu sei. Queria ver como ambos agiriam, quando pensassem que
eu não estava ouvindo. Tudo o que ouvi soou como pura loucura. Helen
chamava Max de ‘Liam' e Max se referia a si mesmo na terceira pessoa. E quem
estava em um suporte de vida? Por que ele chamou Helen de irmã quando ela
estava indo embora?
E suicídio? Max teria realmente tentado se matar?
Há tantas perguntas. Nada disso faz sentido. A única conclusão que posso
tirar é que eles são loucos. Talvez eu também esteja. Afinal, estou colocando a
mim e a minha filha nas mãos de duas pessoas insanas.
Empurro a cabeça para cima e olho para o criado-mudo.
“Merda,” sussurro. Deixei meu celular na mesa da sala de jantar. Com
cuidado para não fazer barulho e acordar Pim, desço da cama e vou na ponta
dos pés até a porta. Max não fechou ela em sua pressa, então sou capaz de
espiar. A televisão está ligada, iluminando a sala, mas não há sinal dele. Ouço
por alguns momentos e, em seguida, entendo que ele está no chuveiro.
Virando meu pescoço, olho de volta para Pim em seu berço de viagem. Ela
está dormindo, a girafa apertada contra ela.
“Já volto, querida,” sussurro, como se Pim me ouvisse. Fechando a porta,
saio correndo, saltando como uma gazela em direção à sala de jantar. Todas as
luzes estão apagadas no apartamento, exceto pela a televisão, mas não demora
muito para eu entrar na sala de jantar e encontrar o meu telefone onde havia
deixado.
BN TOLER

Pegando-o, disco o número do Matt. Vai direto para o correio de voz.


“Droga,” murmuro para mim mesma, enquanto aperto o telefone um
pouco mais. A mensagem de correio de voz de Matt é muito longa e toca uma
música de rap antiga no fundo. É tão brega. Arquivo isso, para lembrá-lo e
infernizá-lo mais tarde, quando ele chegasse em casa. Quando o bip soa,
mantenho a voz baixa.
“Matt. É Waverly. Preciso da sua ajuda. É sobre Max. Eu acho que...”
paro, sem saber como dizer o que quero. “Olha, me ligue assim que você
conseguir. Por favor.”
Assim que termino a chamada, a luz da sala de jantar acende. Olho ao
redor e encontro Max, água pingando do seu cabelo e gotas frisadas em sua
pele. Em uma mão segura uma toalha frouxamente ao redor de sua cintura.
Meus olhos arregalam-se enquanto pisco rapidamente, encarando-o. Suas
feições estão frouxas, sua expressão ilegível, enquanto me observa. Isso muda
rapidamente. Parece que ocorre em câmera lenta, à medida em que entende o
que está acontecendo. Seus olhos correm do meu rosto para os meus pés,
ambos firmemente plantados no chão, sem muletas à vista. Balançando a
cabeça, sei o que Max está pensando, como ele coloca dois e dois juntos.
A única coisa que mais me preocupa é: ele ouviu a mensagem que eu
deixei para Matt?
“Parece que seu tornozelo está melhor,” ele nota, enquanto aperta a toalha
ao redor da cintura. Levantando meu pé ligeiramente, inclino a cabeça.
“Está um pouco melhor,” digo, fingindo um ligeiro desconforto. “Acho que
preciso ir com calma, no entanto.”
Max solta uma risada pelo nariz, um sorriso curvando seus lábios. Ele vê
através de mim.
“Sim, isso é provavelmente uma boa ideia,” ele concorda, antes de correr
uma mão através dos cabelos molhados.
“Precisa de ajuda para voltar para a cama?”
“Bem-”
“Aqui, deixe-me ajudá-la,” interrompe, antes que eu possa responder. No
espaço de alguns breves segundos, ele me pega nos braços, fazendo-me gritar
de surpresa.
BN TOLER

“Max,” engasgo, enquanto seguro firmemente seus ombros. “Não preciso


que você me carregue.”
“Oh, desculpe.” Ele finge remorso, enquanto me deixa de pé rapidamente.
Eu caio com força e levo alguns segundos para perceber que não reajo como
uma pessoa que acaba de pousar em um tornozelo machucado.
“Só estou tentando ajudar,” ele continua. Observo-o, sem saber o que
dizer. Ele me desmascarou, mas eu também. Embora, ainda não saiba. Uma
parte de mim quer confrontá-lo sobre o que ouvi, a outra, está com medo. Que
escolha eu tenho?
“Eu te ouvi,” consigo dizer, mesmo que me sinta estrangulada com a
incerteza. Sua expressão permanece estoica.
“Você e Helen... na cozinha mais cedo. Foi uma conversa maluca, Max. E
quem... quem é Liam?”
Quando ele dá um passo em minha direção, dou um para trás. Max para,
um sulco profundo se formando entre suas sobrancelhas quando percebe que
estou com medo dele. Sua boca curva para baixo e seus olhos estão cheios de
dor. Com um aceno de cabeça, reconheço que ele entende e recua. Minha
respiração torna-se ligeiramente rápida enquanto meu sangue bombeia com
força através de minhas veias.
“Você não está bem, Max. E Helen... ela também não, ou está te
encorajando.” Ele bufa uma risada pelo nariz novamente, aparentemente com
humor por minha avaliação. “Não é engraçado, Max,” retruco. “Se você não está
bem aqui,” aponto para minha cabeça, “não pode ficar em torno de Pimberly.”
Desta vez seu rosto se contorce com minhas palavras, seus olhos
estreitam em mim com raiva.
“Você acha que eu a machucaria? Você está falando sério?”
“Como diabos eu deveria saber?” Respondo de volta para ele, meu rosto se
aquecendo em frustração. “Você aparentemente tentou se matar.”
Rolando os olhos, ele solta um longo grunhido frustrado, enquanto puxa
os cabelos.
“Maldito seja, Max.” Ele murmura. Ao respirar, tentando me acalmar,
percebo que, se Max está doente, e se realmente ele está em algum tipo de
colapso mental ou episódio crítico, não importam os meus sentimentos ou
nosso passado, tenho que ajudá-lo. Eu sou uma assistente social, ou estou
BN TOLER

tentando ser uma, de qualquer maneira. Tenho uma obrigação. Se não, quem
mais faria? Helen? Claramente, aquela senhora sabe que Max está montando o
trem da loucura e tem colocando carvão no motor. Ela definitivamente não é de
nenhuma ajuda para ele. Então, sobrou para mim.
“Posso te ajudar, Max,” começo, meu tom suave, esperando que isso o faça
sentir-se menos ameaçado. “Você precisa de ajuda profissional.”
Abaixando a cabeça, ele fecha os olhos e sorri, enquanto coloca as mãos
nos quadris.
“Você não entende, Waverly,” murmura ele. “E eu não...” Max faz uma
pausa, erguendo o queixo e encontrando meu olhar. “Não sei como fazer você
entender.”
Max está falando. Isso é bom. Se ele desabafar, talvez possa descobrir
onde está sua cabeça e com o que estamos lidando. Ele é maníaco, bipolar?
Quanto mais descobrir agora, será melhor quando chegarmos a um
profissional. Só tenho que mantê-lo falando.
“O que eu não entendo, Max?”
“Eu não sou Max,” diz ele com firmeza, “não sou Max Porter.”
Pisco algumas vezes, imóvel e permaneço em silêncio, buscando em meu
cérebro o que poderia estar errado com ele. Será algum tipo de transtorno de
personalidade múltipla? Sacudindo a cabeça, ele ri com frustração.
“Não há sentido nisso,” ele acena com uma mão desdenhosa para mim.
“Você nunca vai acreditar em mim.”
“Por que não acreditaria?” Pergunto, desesperada para mantê-lo falando.
“Porque você odeia Max,” ele retruca.
“Você?” Pergunto-lhe. “Você é Max, Max,” digo. “E... não odeio você.”
“Você está revoltada comigo desde aquela noite no The Mill, e sei que Max
tem sido um pedaço de merda para você, e venho tentando ser compreensivo,
mas maldição, mulher,” ele bufa, “você sabe como desgastar um homem.”
O medo e a incerteza que sinto derretem, enquanto a piedade me domina.
Max está se referindo a si mesmo na terceira pessoa novamente. Percebo que
quem quer que ele pensa que é, não é Max Porter. Então decido jogar junto,
querendo fornecer ao médico, para o qual estou determinada a levá-lo, tanta
informação quanto possível.
BN TOLER

“Ok. Se você não é Max, então quem é você?” Pergunto, minha voz rouca.
Seus ombros caem.
“Meu nome é Liam. Helen é minha irmã.”
O sangue escorre do meu rosto. Porra, isso é pior do que pensava. Helen
também está louca, ou vem enganando um homem mentalmente instável,
jogando junto com suas desilusões, para que ela possa roubar seu dinheiro? Só
então meu celular toca. Não viro a cabeça, apenas movo os olhos para ele. É
Matt me chamando de volta. Pego o telefone, que Max me entrega.
“Você pode responder,” ele diz simplesmente. “Embora, eu gostaria que
você me desse uma chance para explicar, antes de chamar ajuda.”
Quando o celular para de tocar, imediatamente começa novamente. Matt
está chamando de volta. Claro que sim. Deixei-lhe um correio de voz
enigmático, mencionando o nome do homem que ele detesta. Sei que responder
e aliviar suas preocupações é mais sábio, mas estou preocupada que, se faço
isso, Max mudará de ideia sobre se abrir para mim. Este é o momento crucial.
Preciso que Max concorde em obter ajuda, mas, antes que possa encorajar
isso, tenho que fazê-lo confiar em mim, para que veja que realmente quero
ajudá-lo. Tirando meu telefone da sua mão, encerro a ligação. A boca de Max
está em uma linha plana e apertada, os músculos em sua mandíbula
tiquetaqueando, enquanto me observa, esperando por mim para dizer algo.
“Ok, Max,” digo calmamente, enquanto coloco o telefone de volta na mesa.
“Explique,” tomo sua mão na minha e aperto.
Eu sinto.
De novo.
O choque da nossa conexão.
BN TOLER

CAPITULO VINTE E OITO

Consigo ouvir a batida do meu coração enquanto subimos o elevador até o


quarto andar do hospital. Em cada andar, há um som, como um aviso; um
lembrete de que minha situação ruim está prestes a piorar. Olho para
Pimberly, que está enrolada, adormecida no carrinho, com o polegar na boca, e
espero que não desperte. Não estou feliz por ter de arrastá-la tão tarde da
noite, mas tempos de desespero exigem medidas desesperadas. Waverly está
convencida de que Max enlouqueceu e quer ajudá-lo. E preciso fazer tudo ao
meu alcance para convencê-la de que estou dizendo a verdade.
Minhas mãos suam, então as enxugo na calça, enquanto trabalho duro
para manter a calma. Olho para Waverly e descubro que ela está me
encarando. Suas sobrancelhas levantam-se ligeiramente enquanto me observa
com um misto de preocupação e medo de mim.
“Obrigado por fazer isso.” Consigo falar, depois de um tempo. “Gostaria
que pudéssemos ter deixado Pim dormindo em casa.”
Waverly acena com a cabeça algumas vezes e olha em outra direção, seus
olhos treinados à frente.
“Ela tem um sono pesado.”
As portas do elevador se abrem e saímos para o chão de azulejos colorido.
Gentilmente puxo o carrinho atrás de mim. As luzes do hospital são brilhantes,
mas o corredor está calmo e praticamente vazio. Algumas enfermeiras estão
atrás do balcão da estação, mas não se incomodam em olhar para cima
enquanto passávamos. Quando chegamos à porta do quarto onde meu corpo
está, paro e me viro para encará-la.
“Tudo vai parecer louco,” admito. “Sei que você já pensa que Max é louco,
mas me prometa que você vai ouvir.”
BN TOLER

Waverly lança o olhar para o meu. Nada sobre sua expressão ou


desamparo em seus olhos me dá qualquer esperança em convencê-la da minha
história, mas apesar da esmagadora desesperança que sinto, sei que neste
momento tudo que posso fazer é tentar.
“Liam está aqui?” Ela questiona. Mesmo que Waverly não tenha
prometido, sigo em frente.
“Bem, meu corpo está aqui,” explico. Olhando para a estação das
enfermeiras, noto uma delas nos observando, então decido que devemos nos
mover para dentro do quarto antes de falar mais.
Abro a porta e deixo Waverly entrar primeiro, então silenciosamente puxo
o carrinho e fecho a porta. O monitor ao lado da cama emite um sinal sonoro e
o som de bombeamento de ar soa, enquanto leva oxigênio para dentro e fora
dos pulmões do meu corpo. Waverly caminha até a cabeceira da cama e fica de
pé, olhando para o homem diante dela (olhando para mim, meu corpo). Quero
dizer-lhe que a iluminação do quarto é ruim, que as cores monótonas das
paredes e o vestido de hospital me fazem parecer tão.... frágil e fraco, mas isso
é mentira. Essas coisas certamente não ajudam, mas, mesmo antes do
acidente, eu parecia mal. Viver nas ruas lentamente espremeu a vida para fora
de mim, deixando apenas uma concha do homem que fui antes.
A única coisa que posso dizer ao meu favor é que a barba foi aparada e eu
pareço limpo. Minhas mãos e dedos estão limpos, e as unhas curtas, não estão
mais cobertas de sujeira. Meu cabelo foi lavado, estando mais longo do que
gosto. Não está bem, mas sei que esteve pior.
“Este é Liam?” Pergunta Waverly.
“Esse é meu corpo,” respondo. “Acredito que Max está preso nele.”
Dessa vez, suas sobrancelhas franzem-se quando a descrença agarra suas
feições.
“E você está pagando as contas médicas desse homem?”
“Sim,” admito, sentindo-me culpado. “Sei que é o dinheiro de Max, mas
preciso de algum tempo para descobrir por que isso está acontecendo.”
“E este homem,” aponta para meu corpo deitado na cama do hospital, “é o
irmão de Helen?”
“Sim,” respondo.
“Max,” ela respira. “Você não acha isso estranho?”
BN TOLER

Olho-a como se ela fosse louca. Inferno sim, eu acho estranho.


“Você acha que pedi para trocar de corpo com Max?” Digo.
Seus olhos lacrimejam quando ela olha para mim.
“Max... você não está bem. Essa mulher, Helen, claramente aproveitou-se
do seu estado, fazendo-lhe acreditar que vocês são irmãos, para que você
pague as contas médicas dele.”
Levanto uma mão, detendo-a.
“Esse não é o caso,” a informo, inflexivelmente. Entendo, melhor do que
ninguém como tudo isso parece loucura e, se visto pelo caminho errado, pode
parecer que Helen vem manipulando um homem mentalmente doente, mas
Helen é uma santa.
Embora Waverly tenha uma preocupação genuína, não suporto que acuse
tão duramente minha irmã.
“Você disse que me ouviria. E se não acreditar em mim quando terminar,
vou ajudá-la com Pim e suas coisas embaladas e levá-las de volta para casa.”
“Você precisa de ajuda,” reitera ela.
“Não preciso de ajuda, maldição!” Dou um grito, jogando as mãos para
cima. “Eu não estou...” Sacudo a cabeça e solto um longo suspiro frustrado,
lembrando-me de manter a voz baixa, pois não quero perturbar Pimberly. “Eu
não sou louco.” Cerro os dentes.
“Não?” Ela questiona, como se eu fosse ridículo. “Parece completamente
são e racional quando você diz que trocou de corpo com esse homem.”
“Você acha que não sei que parece loucura?”
“Ok, Max. Ou devo chamá-lo de Liam?” Brinca ela. Porra, Waverly gosta de
zoar com a minha cara. Até agora ela está calma; e parece ouvir. Acho que sua
paciência está se esgotando. “Vou ouvi-lo. Conte-me.”
“Eu estava na rua,” começo, minha voz se enchendo de pânico.
“Na rua?” Pergunta ela.
“Eu era sem-teto.” Explico, meu olhar caindo por um momento, enquanto
a vergonha me enche. “Estive lá fora por um tempo. Havia perdido o emprego
alguns meses antes e depois meu apartamento e.... de qualquer maneira,
acabei na rua.” Falo suavemente e lentamente, trabalhando duro para manter
minha voz firme. Digo a ela sobre como caí das escadas, o que me levou a
BN TOLER

perder o emprego, o que me levou a acabar nas ruas. Conto-lhe sobre o meu
amor pelas motocicletas, sobre Helen e nossa infância e, finalmente, conto a
Waverly sobre o único encontro que Max Porter e eu já tivemos. Ao olhar para o
meu corpo, digo: “Max olhou para mim como se fosse um lixo. Em sua defesa,
provavelmente parecia que eu tinha acabado de sair direto de uma caçamba.
Claro, ele... ele parecia ter tudo.”
“Você é um homem muito rico, Max,” concorda ela.
“Eu. Não. Sou. Max.” Afirmo com veemência, minha paciência vacilando.
“E seu dinheiro é merda,” estou ardendo de raiva. “Ele não tem ninguém. Estou
preso no corpo deste homem, odiado por todos, incluindo você.”
“Eu não te odeio,” ela insiste.
“Não,” concordo. “Você odeia Max. Não é muito bom você gostar de mim,
Liam, se eu estiver preso no corpo do homem que você odeia.” Ela revira os
olhos e desvia o olhar, observando o meu corpo na cama do hospital. Talvez
esteja cansada de ouvir minha história. Talvez ela nunca acredite, mas
maldição, eu ia terminar.
“Max estava na esquina a ponto de atravessar a rua,” continuo. “Quando
cheguei atrás dele, com a mesma intenção, ele parecia tão aborrecido por
minha causa, que atravessou a rua sem olhar para o lado. Um ônibus vinha
em sua direção e eu.... eu o empurrei para fora do caminho.”
“E é assim que esse cara,” ela aponta para o meu corpo na cama, “acabou
aqui.”
“Como meu corpo acabou aqui. Sim. Acordei dias depois no apartamento
de Max e em seu corpo. E foi no mesmo dia em que você ligou para falar sobre
o encontro no The Mill.”
“Max,” ela grunhe, com emoção em seu tom. “O que você está dizendo... É
impossível.”
Puxo meu cabelo. Estou além frustrado. Nunca fui um homem de muitas
palavras e raramente sei a coisa certa a dizer, o que só me frustra mais.
Contornando a cama, aproximo-me dela. Waverly se afasta até que não pôde
mais, para próximo ao equipamento médico de pé junto à cama. Com apenas
alguns centímetros entre nós, pego sua mão e coloco em meu peito sobre meu
coração, aquele mesmo arrepio correndo por mim quando nos tocamos.
Quando ela tenta puxar o braço para trás, agarro seu pulso e seguro lá,
recusando-me a deixá-la ir. Olho profundamente em seus olhos e pressiono
BN TOLER

minha outra mão sobre a dela, que está apoiada em meu peito. No espaço entre
nós, sem palavras, imploro que confie em mim. Que relaxe. Para fechar seu
cérebro e procurar a verdade com seu coração. Depois de alguns breves
momentos, ela relaxa, a tensão desaparecendo com isso.
“Olhe para mim, Waverly,” imploro, calmamente. “Por favor.” Com
hesitação, move seu olhar cheio de lágrimas para o meu. “Eu não sou Max.
Você sabe que é verdade. No fundo, você sabe disso. Não é uma doença mental
ou múltiplas personalidades. Desde que nos encontramos no The Mill naquela
noite, você disse isso uma e outra vez, que sou diferente. É verdade. Sou o
oposto de Max.”
Usando a mão livre, ela enxuga o nariz, mas não diz nada.
As máquinas tocam, o ventilador chia, nossas respirações resfolegam, mas
Waverly ainda não diz nada. Percebo naquele momento que não tenho mais
palavras. Não tenho voz. Tudo o que tenho é esse momento para mostrar a ela,
e provar que o que estou dizendo é verdade. Movo minhas mãos para sua
cabeça e agarro gentilmente seu rosto, e de todo coração, sem remorso, a beijo.
Em primeiro lugar, Waverly luta para escapar, pressionando as mãos
contra meu peito em uma débil tentativa de me afastar. Ela grunhe fracamente
em protesto, mas apenas um pouco e brevemente; não como uma mulher que
se sente acuada ou forçada, mais como se desejasse não querer isso. Porque se
ela o quer, e deseja o beijo de um homem louco, o que isso significa?
Isso significa que ela está louca também.
Depois de um momento, ela sucumbe, seu corpo flácido em meus braços,
enquanto segura meus ombros com firmeza. Beijo-a com desespero, como um
homem que sabe que é isso que deve fazer ou quebrar. A beijo como se nunca
mais fosse beijá-la de novo, o que provavelmente será o caso, se Waverly se
recusar a acreditar em mim. Pressionando seu corpo para o meu, a levanto
levemente, um rosnado baixo escapando-me, enquanto suavemente sugo seu
lábio inferior. Com meus braços envoltos em torno dela, segurando-a
firmemente, e pergunto:
“Você acredita em mim?” Seu peito sobe e desce. Algo pesado pende no ar
entre nós, nos cercando. Para mim, é o medo, pois não tenho ideia do que
Waverly dirá e o desconhecido está me matando. Uma lágrima escorre pelo seu
rosto quando ela olha nos meus olhos. Soluça e seu corpo começa a tremer,
enquanto tenta controlar a emoção. Um nó se aloja em minha garganta
enquanto a observo. A guerra que se desenrola no seu interior é evidente.
BN TOLER

Waverly quer acreditar em mim, mas como fazer isso? Levantando os dedos dos
pés, ela agarra meu rosto em suas mãos e me beija novamente. Quando se
afasta, seu olhar deixa o meu.
“Não,” choraminga ela.
BN TOLER

CAPITULO VINTE E NOVE

Max está em silêncio todo o caminho de volta para seu apartamento.


Quando entramos no saguão do edifício, o porteiro, Braxton, que está ao
telefone, acena, tentando chamar sua atenção, mas Max está tão perdido em
seus pensamentos que não nota. Então ele continua em direção aos elevadores,
puxando o carrinho com uma Pim adormecida nele. Não querendo ser rude,
caminho até a mesa.
“Ele está cansado,” explico a Braxton, calmamente.
Ele ergue o queixo.
“Entendo. Só quero dizer-lhe que a moto está pronta. E preciso saber se o
Sr. Porter quer pegá-la ele mesmo ou tê-la entregue.”
“Moto?” Questiono.
“Encontrei-a on-line há quase duas semanas,” inclinando-se, Braxton
sussurra: “Ele gastou uma fortuna para comprar e consertá-la, mas Panheads
são raras.”
“Cabeças de panela?25”
Braxton sorri, desculpando-se, quando percebe que eu não sei do que está
falando.
“A motocicleta que o Sr. Porter comprou.”
Não tenho certeza do que pensar sobre o que Braxton está me contando.
No outro dia, Max disse que não era dono de uma motocicleta, mas estava
pensando em comprar uma. Esse foi o dia em que ele voltou para casa com o
triciclo para Pimberly. De acordo com Braxton, Max comprou isso antes. Uma

25 Tradução livre de “Panheads”. Obviamente, ela não sabe o que é uma motocicleta.
BN TOLER

loucura passa pela minha cabeça quando começo a contar as datas. Quase
duas semanas atrás foi antes do acidente, onde Max afirma que ele, como
Liam, foi atingido, consequentemente salvando a vida de Max.
“Posso perguntar, aqui entre nós, por que ele fez isso?”
Braxton inclina a cabeça.
“Não tenho nenhuma ideia, senhora. Ele mal falava comigo antes.”
Olhando para os elevadores para medir o quão longe Max está, ele se inclina
para mais perto e sussurra: “Não acho que o Sr. Porter tem muitas pessoas das
quais seja próximo. Na verdade, esta última semana é a primeira vez que me
lembro de alguém que veio visitá-lo.”
“Realmente?” Questiono. “E as mulheres que ele namorou?”
“Não me lembro de uma,” admite, “mas isso é entre você e eu.” Ele me diz,
com olhos suplicantes.
Sacudo a cabeça uma vez, deixando-o saber que seu segredo está seguro
comigo, e digo a Braxton:
“Vou deixá-lo saber sobre a moto.”
Aceno quando ele oferece um tímido:
“Boa noite.”
Com um profundo cenho franzido, dirijo-me para o elevador onde Max já
se encontra, segurando a porta, a minha espera, com um olhar perdido e mal-
humorado. Tudo é uma bagunça enorme. Max está se perdendo e eu não tenho
certeza de poder ajudá-lo. Eu quero, muito, mas há um problema. Um enorme.
Um que me assusta admitir porque conduz às perguntas sobre minha própria
sanidade.
A verdade é, uma parte de mim tão distorcida quanto pode parecer,
acredita nele.
E isso é apenas insano.
Isso significa que não posso ajudar Max, porque, na realidade,
provavelmente eu precise de ajuda.
Quando entramos no apartamento, coloco Pim em seu berço de viagem e
fecho a porta. Max está de frente para as altas janelas da sala, com os braços
cruzados enquanto olha para a cidade. O quarto é escuro, mas as luzes do lado
de fora proporcionam um iluminado suave dentro.
BN TOLER

“Pensei que você estaria arrumando suas coisas.” Sua voz rouca quebra o
silêncio.
Isso é o que eu deveria fazer, certo? Quer dizer, Max está louco, certo?
Incapaz de dar-lhe uma desculpa a respeito de por que eu não estou
empacotando minhas coisas naquele segundo, solto um grunhido frustrado
enquanto caio no sofá e cubro meu rosto com as mãos. Como posso considerar
esta história ridícula que ele contou? E o que isso diz sobre mim? Estou tão
desesperada por amor que compraria algo que é impossível?
“Desculpe, Waverly,” diz ele, fazendo-me soltar as mãos. Max está virado
agora, de frente para mim, com seu olhar fixo em minha direção. “Sei que tudo
isto é.... Muito.”
“Você disse que não era dono de uma motocicleta!” Eu digo.
Ele franze a boca como se estivesse confuso.
“E não sou.”
“Max,” respiro profundamente.
Ele deixa cair seus braços, frustrado.
“O quê?” Pergunta-me, defensivamente. “Eu não sou dono de nenhuma
moto. Antes de terminar nas ruas, tinha uma Bobber, mas a vendi para o meu
amigo Lenny.”
“De acordo com Braxton, você é, sim,” respondo rapidamente. “Você a
comprou há quase duas semanas e gastou uma fortuna na compra e na
restauração. Isso não se encaixa na sua linha do tempo,” discuto. “Se você é
Liam e não se tornou Max até cinco dias após o acidente, por que Max teria
comprado uma motocicleta? O Max que conheci, nem uma vez, nunca,
mencionou motocicletas.”
Ele olha para mim sem entender.
“Braxton mencionou que tipo de moto é?”
“Humm...” O que ele disse? É um nome estranho. “Uma panela...26 alguma
coisa.” Então me sinto estúpida, pois estou dizendo o nome da motocicleta
como se ele já não soubesse.
“Uma Panhead?” Sua voz levanta uma oitava em descrença.
“Sim,” aceno com a cabeça. “Foi isso.”

26 Referência a “Panhead”.
BN TOLER

“Ele a mandou para Lenny?” Murmura em silêncio, incrédulo.


“O quê?”
Com as sobrancelhas franzidas, ele balança a cabeça.
“Eu não era Max há duas semanas,” ele anda pelo chão por alguns
momentos, depois para abruptamente, virando-se para olhar para mim. “Ele
comprou isso depois do acidente, antes da troca?”
Fecho os olhos e paro para não deixar escapar um grito. Ele está fazendo
um ato para mim agora? Max comprou a moto e agora não se lembra?
“Não sei, Max,” dou um suspiro. “Você comprou?”
De repente, sua cabeça inclina-se para cima, e ele solta um:
“Ah-há!”
“O quê?”
“Minha mochila. Ele pegou minha mochila.”
“Que mochila?”
“Eu tinha uma mochila. Carregava tudo que possuía, o que não era muito,
mas havia um...” Max faz um gesto com a mão, como se fosse conjurar o que
quisesse dizer: “Acho que você pode chamá-lo de jornal.” Não digo nada.
Simplesmente cruzo os braços e espero por qualquer estupidez que ele fale em
seguida. Max nota isso e revira os olhos.
“Apenas venha comigo.” Ele instrui, enquanto se dirige para o quarto e
silenciosamente abre a porta. Depois que desaparece da minha vista, olho para
frente. O que você está fazendo, Waverly? Eu me pergunto. Se você entrar lá,
estará apenas alimentando isso. De pé, balanço a cabeça. Você tem que sair
amanhã. Ao primeiro horário. Entro no quarto e uma leve luz escapa por
debaixo da porta do armário de Max. Silenciosamente, abro-o para encontrar
Max sentado no chão de pernas cruzadas, uma mochila desajeitada aberta ao
seu lado enquanto procura algo através dela. Meias sujas, o que parecem ser
camisetas enroladas, uma garrafa de água vazia e dois livros estão espalhados
ao redor dele. O som da porta fechando atrás de mim faz com que ele sacuda a
cabeça.
“Isto,” Max diz, enquanto puxa um caderno de composição. Algum tipo da
etiqueta de empresa cobre a capa, onde está escrito Mecânicos Uncaged. As
páginas estão desgastadas nas bordas, a coluna que as une se separando,
mostrando-se em uma extremidade. Esse caderno teve muito uso. Abrindo-o,
BN TOLER

ele folheia algumas páginas. “Esta página,” marcando, ele me entrega o


caderno. Há uma foto de revista de uma motocicleta colada à página com
escrita em torno dela. No topo da página, em negrito, está # 1. “A Panhead é a
minha motocicleta dos sonhos. Max deve ter lido isso aqui.” Olho para ele,
depois para os itens sujos que o cercam, faço uma careta.
“Isso é tudo o que ele tinha em sua mochila?” Não é nada e, o que há, está
sujo. Sua cabeça cai.
“Era tudo o que eu possuía.” Com um bufo, acrescenta: “Muito patético,
eu sei.”
Algo no meu peito dói quando o vejo. Ele parece tão... derrotado.
“Digamos, hipoteticamente, que o que você diz é verdade, e se você é esse
cara, Liam, preso no corpo de Max, por que Max compraria esta moto?”
Levantando a cabeça, seus olhos se enchem de algo entre desespero e raiva, ele
reconhece meu olhar.
“Por que Max pegou minha mochila em primeiro lugar? Por que me
deixou para morrer? Por que...” Ele rosna, frustrado, enquanto se levanta. “Por
que eu salvei sua vida apenas para que ele pudesse acabar com a dele?”
Tirando um pedaço de papel dobrado do bolso traseiro, ele o desdobra e
entrega para mim. “Max tentou se matar, eu acho. Acredito que, quando fez
isso, foi quando trocamos. É a única coisa em que posso pensar.”
Tomando o papel vincado, leio, inclinando os olhos em confusão. Entrego-
lhe de volta e aperto a ponta do meu nariz. Ele está jogando muita informação,
a maioria das quais bastante louca e impossível de acreditar, e estou ficando
com dor de cabeça.
“Eu simplesmente não consigo imaginar você se matando.” Não posso.
Max pode ser tanta coisa, mas suicida? Simplesmente não consigo vê-lo.
“Você não pode imaginar ele se matando,” responde-me. “Não sou Max e a
verdade, Waverly,” ele bufa, “é que você não conhecia Max. Ninguém o
conhecia.”
Olhando para ele, faço uma careta.
“Fui casada com ele. Acho que provavelmente o conheça melhor do que
qualquer um.” Avançando em minha direção, seu rosto está a centímetros do
meu.
BN TOLER

“Você não entendeu? Max te jogou de lado porque você chegou muito
perto. Ele queria você e ter uma família, mas sabia que se você conhecesse o
verdadeiro Max Porter, o deixaria assim mesmo. Pensou que poderia ser o
suficiente, mas quando você engravidou... foi demais. Ele não tinha o suficiente
dentro dele.”
Meus olhos lacrimejam e pisco algumas vezes, tentando segurar as
lágrimas.
“E se você não é Max, como sabe disso?” Soltando sua cabeça, ele solta
um longo suspiro, seus ombros cedendo. Está cansado de explicar; de tentar
convencer-me.
“Eu vi seu terapeuta. Fui lá nos últimos dois dias. Queria saber mais
sobre... Max..... no caso de ficar preso como ele.”
“Isso parece insano, Max.” Argumento, minha voz aumentando com
emoção. Curvando-se, ele puxa a mochila e enfia um braço para dentro,
enquanto cava. Quando encontra o que procura, ele deixa cair a mochila.
“Esse,” segura a foto para mim, “sou eu.” Tomando-a, examino, deixando
meus olhos lentamente rever cada detalhe. A foto é do homem, Liam, que
acabo de ver no hospital, embora pareça um milhão de vezes melhor na foto do
que em seu estado atual. Liam é bonito e robusto. Seu cabelo é comprido e
denso, e tem uma barba curta. Seus dentes estão à mostra e, até mesmo com a
barba, suas covinhas se mostram, enquanto sorri para a câmera de pé ao lado
de uma motocicleta. Seus olhos são castanhos, ricos e escuros, como os meus.
Seus braços decorados com tatuagens vibrantes; algumas das quais reconheço
por ter visto em seu corpo no hospital. Enquanto a estudo e deixo meus olhos
memorizarem cada detalhe, sinto algo como um sentimento de familiaridade.
Quando sinto Max mover-se atrás de mim, tensiono, a proximidade fazendo
minha respiração engatar. Com cuidado, ele coloca as mãos em meus quadris,
pressionando seu peito em minhas costas antes de pastar seus lábios
suavemente em meu ombro nu.
“Esse sou eu, Waverly,” me diz em uma voz baixa, grave. “Olhe para a foto
e me sinta.” Ele sussurra, à medida em que sua mão escorrega sob a bainha da
minha camisa, seu polegar passando por minha pele macia. O contato íntimo
faz minhas costas arquearem, enquanto envia aquele arrepio familiar pela
minha espinha. Sei que devo dizer-lhe para parar, mas em algum lugar entre
meu coração e minha mente, onde a razão sempre parece desaparecer, as
BN TOLER

palavras se perdem e tudo o que pode sair são gemidos e gemidos. Em vez de
lutar contra ele, me inclino e deixo meu corpo se derreter contra o seu.
“Sei que estou te pedindo para acreditar no impossível.” Max continua,
seus lábios escovando a pele do meu pescoço delicadamente como uma pétala
de flor, enquanto ele fala. Me movo para virar e encará-lo, mas suas mãos
agarram minha cintura, batendo-me contra ele, me impedindo.
“Não,” ele diz com firmeza. “Se olhar para mim, você só vai vê-lo. Só verá
Max Porter, o homem que te machucou.”
“Mas-”
“Não,” ele interrompe meu protesto. “Olhe para a foto,” me ordena,
enquanto pega meu cabelo e puxa-o de lado para que ele possa descansar seu
queixo em meu ombro, sua bochecha tocando a minha. “Olhe em seu coração.
Se você olhar lá, realmente olhar, você não verá Max.”
Fechando meus olhos, minha respiração falha enquanto ele sussurra.
“Eu preciso, mais do que qualquer coisa neste mundo, que você me veja,”
diz contra meu pescoço. Fixo meu olhar na foto, olhando nos olhos escuros do
homem que Max alega ser, enquanto ele beija meu pescoço e sussurra palavras
de súplica.
“Por favor. Por favor, me veja.” Implora-me repetidamente, enquanto sua
boca queima meu pescoço com necessidade e desejo. Seus dedos agarram até
que se enfiam em meu cabelo, onde ele suavemente o puxa. Eu nunca fui
tocada desta maneira; adorada desta forma. Minha respiração escapa-me em
pequenas rajadas enquanto ele me puxa para mais perto, nossos corpos
tentando se fundir juntos.
Não há dúvida de que o Max que ele foi esta semana não é o homem que
eu conheço. É como noite e dia, mas há explicações perfeitamente lógicas do
porquê disso acontecer, e uma troca de corpo não é uma delas. Há explicações,
como ele estar brincando comigo, mentindo ou mentalmente doente. Minha voz
da razão defende firmemente que essas são conclusões válidas, mas aquele
coração - meu coração - aquele lugar que me disse para olhar... Ele vê algo
mais.
“Estou tão assustada.” Ofego, enquanto ele gentilmente morde meu
ombro. Eu realmente não quis dizer em voz alta, mas uma vez que digo, ele
para. Estendendo a mão ao redor, ele a desliza suavemente pela minha
BN TOLER

garganta até que está segurando meu queixo. Pressionando seu rosto ao lado
do meu, ele diz: “Eu sei.”
Suas palavras seguintes batem-me bem no peito.
“Estou com medo, também.”
Por um momento, nenhum de nós diz nada. Ele me segura, sua mão
firme, mantendo nossas bochechas apertadas, nossas respirações erráticas.
“Vamos puxar o plugue do suporte vital depois de amanhã. Não tenho ideia do
que acontecerá, então. Posso morrer.” Seu queixo descansa em meu ombro, as
palavras difíceis para dizer. “Sei o que estou perguntando, Waverly, mas você
pode me dar um dia? Depois de amanhã poderá ir embora e nunca pensar em
mim novamente, se é isso que quer. Se posso ter mais um dia neste mundo, sei
que não quero gastá-lo com ninguém além de você.”
Meus olhos ardem de lágrimas enquanto minha garganta se aperta. Suas
palavras são devastadoramente bonitas, o que toda mulher quer ouvir. Isso é
loucura, digo a mim mesma quando inclino a cabeça em direção à dele,
deixando-a descansar. Você não pode permitir ser levada para isso. Mas,
maldição... a forma como me sinto quando me toca. Meu coração sabe. Este
não é Max. Sei, porque desejava que Max me quisesse, precisasse de mim
assim. Levantando minha mão e colocando-a sobre a dele, sugo uma
respiração irregular.
“Ok, Liam,” sussurro. “Ok.”
BN TOLER

CAPITULO TRINTA

Envio uma mensagem para Helen depois que Waverly foi para cama,
perguntando se ela poderia vir mais cedo, porque tenho algo que preciso fazer.
Assim que ela chega, a preencho com os eventos da noite anterior e digo-lhe
para responder a qualquer pergunta que Waverly possa ter.
Em seguida lhe entrego uma sonolenta Pim, que começou a beber seu de
leite e saio. Nova Iorque é sempre animada, as calçadas lotadas de muitas de
pessoas manobrando o caminho um ao outro, mas no início da manhã, há uma
calma que me permite abrandar e admirar a cidade. Enquanto ando, tomo nota
dos edifícios, as luzes e até mesmo as poucas pessoas que estão fora, como eu.
Esta é a minha cidade. Minha casa. Essas calçadas e esses prédios foram meu
abrigo por um tempo em que não tinha nada. Isso não é exatamente verdade.
Talvez não tivesse uma casa ou posses, mas tinha algo de mais valor. Uma
consciência. Sei que, o que quer que aconteça amanhã, se eu vivo ou morro, fiz
o meu melhor. Quando a moral me provocou, testando minha decência como
ser humano, respondi ao salvar a vida de Max. Não importa quantos bens tive
na vida, nunca perdi a minha alma.
Não demora muito para chegar à loja. E não é surpresa encontrar a oficina
já aberta. Lenny sempre acordou cedo. Quando entro, ele me reconhece
imediatamente e aperta minha mão.
“Então, eu ouvi que você tem minha moto pronta,” começo, casualmente.
Inclinando a cabeça, ele aperta os olhos em confusão.
“A Panhead,” rio, enquanto caminho até ele e inspeciono-o.
“Uau,” ele bufa. “Me sinto estúpido,” Lenny ri enquanto coça a nuca. “Não
tinha ideia de que era sua motocicleta.”
BN TOLER

“Desculpe, cara,” digo. Eu me sinto mal. Quando parei na loja há poucos


dias, não tinha ideia que Max havia comprado a minha moto dos sonhos e
enviado para onde costumava trabalhar. Não tenho certeza de por que
naqueles cinco dias entre o tempo que salvei a sua vida e o tempo que
trocamos de corpos, Max a comprou. Há tantas perguntas, que provavelmente
nunca serão respondidas. A única coisa que sei é que este pode ser o último
dia da minha vida e não quero desperdiçá-lo. Vou montar esta motocicleta.
“Eu só queria vir e verificar o lugar sem fazer você se sentir estranho,”
explico-lhe. É uma desculpa esfarrapada, mas não tenho outra.
“Bem, ela está bem,” observa Lenny. “Funciona bem, também.”
Sorrindo, pergunto:
“Você montou ela?”
“Uh...” ele não sabe como responder. Está preocupado que eu fique
chateado se sua resposta for positiva.
“Espero que você tenha,” digo a ele.
Ele sorri, o alívio tomando conta de suas feições.
“Eu montei,” Lenny admite com uma risada. “Desculpe, senhor. Eu
precisei.”
Lenny me segue enquanto tiro a motocicleta da loja. Parando, puxo o
capacete e aperto a correia. Há tantas coisas que quero dizer a ele, mas não
consigo. Não é só porque ele não sabe que sou Liam, mas também porque dizer
adeus é difícil.
“Nós gostamos de trabalhar com ela e espero que você volte no futuro,”
Lenny oferece.
Chegando no meu bolso traseiro, pego um cheque e estendo para ele.
“Oh, eles lidam com os pagamentos na recepção.”
Eu bufo.
“A moto foi paga. Isto é para você.”
Pegando o cheque, levanta as sobrancelhas quando olha para ele.
“Cinquenta mil dólares?”
BN TOLER

“Estou no negócio de encontrar mecânicos talentosos. Não apenas pessoas


talentosas, mas boas. Posso dizer que você é um bom rapaz e é muito talentoso
para trabalhar para outra pessoa. Então, precisa começar seu próprio negócio.”
Dirigindo seu olhar para o meu, ele franze o cenho.
“Eu não entendo.” Não posso dizer a Lenny que sou Liam. Não consigo
explicar que ele havia comprado minha moto, minha mais preciosa posse,
apenas para que eu tivesse dinheiro para manter um telhado sobre minha
cabeça, e a segurou para mim, embora não fosse provável que a compraria de
volta a qualquer momento em breve. E se meu orgulho tolo não estivesse no
caminho, Lenny teria me deixado dormir em seu sofá, se precisasse. Ele é um
verdadeiro amigo. Tenho muita sorte de tê-lo como amigo.
“As boas ações trazem boa sorte. Hoje é seu dia de sorte. Abra sua própria
loja, homem.” Estendo a mão, Lenny a pega e nós sacudimos, seu rosto vazio
de qualquer expressão. Ele não sabe o que dizer, pois está em estado de
choque. Sei que é o dinheiro de Max que estou lhe dando, e talvez isso esteja
errado, mas Lenny, de certa forma, salvou minha vida em algum momento. Eu
precisava de um telhado sobre a minha cabeça e ele me deu um, o que me
levou a salvar a vida de Max. Balançando minha perna sobre a moto, sento.
“Obrigado, Lenny.” As palavras significam mais do que ele possa
imaginar. Lenny pensa que estou agradecendo-lhe pelo trabalho feito na moto;
é muito mais para mim.
“Eu vou te pagar,” ele oferece.
“Não. Você não me deve nada.”
Há um nó na minha garganta quando disparo na moto e percebo que esta
pode ser a última vez que eu o vejo, que este poder ser o meu adeus. Quando
meu corpo saísse do suporte vital, não tenho ideia do que acontecerá. Não olho
para trás, no entanto. Não posso. Vou embora sabendo que dei ao meu amigo
uma chance de fazer mais; ser mais. Não importa o que aconteça, posso
descansar tranquilo, sabendo que ele tem a oportunidade de tornar o nosso
sonho realidade.
BN TOLER

CAPITULO TRINTA E UM

Quando abro os olhos, estou na cama. A cama de Max. Não é onde eu


havia adormecido de madrugada, mas acredito que Max deve ter-me levado
para a cama.
“Liam.” Me lembro. Quando me comprometi a dar-lhe este último dia, ele
me fez prometer que o chamaria de Liam, o que será difícil, considerando que
ele é Max. Pelo menos, fisicamente.
“Ugh... eu sou louca,” gemo em meu travesseiro. Estou realmente fazendo
isso?
Sim. Sim, eu estou.
Concordo com hesitação, mas nas horas que se seguem, estou aceitando
mais. Liam e eu ficamos acordados, conversando a noite toda. Ele me contou
um milhão de histórias sobre sua infância e Helen. Ele ouvia tudo o que eu
falava sobre a escola, Pim e meus sonhos. Foi uma das melhores noites da
minha vida.
Sentando-me, olho para o berço de viagem de Pim e vejo que não está lá.
Sorrio. Liam deve ter pego ela para que eu pudesse dormir. Saindo da cama,
corro para o banheiro para escovar os dentes e cabelos antes de ir para a sala
de estar.
Encontro a sala vazia e faço meu caminho para a cozinha, onde encontro
Helen alimentando Pim com uma panqueca que ela acaba de cortar.
Pim gorgoleja de excitação quando me vê, fazendo Helen se virar.
“Bom dia.” Ela declara calmamente. “Você dormiu bem?”
BN TOLER

Helen parece... embaraçada. Ou talvez se sinta mal. Ou essa é realmente


uma situação estranha. Eu concordei em seguir com tudo isso por mais um
dia, mas não significa que não tenha reservas. Talvez Helen e eu estejamos
loucas por acreditar em Liam. Ou quem sabe eu esteja louca e Helen seja
inteligente ao brincar com um homem mentalmente doente para fazê-lo pagar
as contas do hospital do irmão.
“Sim, dormi bem,” finalmente respondo. “Oi, querida,” digo a Pim, quando
me abaixo e como um pedaço de panqueca da mão dela, fazendo-a rir.
“Há café.” Abrindo um armário, Helen puxa uma caneca e me entrega.
“Obrigada. Onde está Ma...” faço uma pausa. Tenho que chamá-lo de Liam
também? Pisco algumas vezes, envergonhada. “Onde ele está?”
“Saiu há uma hora. Ele disse que voltaria logo.”
Franzo o cenho, perguntando-me onde ele pode ter ido. Helen ocupa-se em
lavar os pratos enquanto eu faço o meu café. O silêncio entre nós é horrível. Há
tanto que quero dizer e perguntar a ela, mas não tenho ideia por onde começar.
Helen solta um suspiro alto quando desliga a torneira.
“Gostaria de falar sobre isso?”
“Sim.” Praticamente gemo, grata por Helen ter levantado a questão e eu
não precisar. Ela ri um pouco. “Tenho certeza que você pode entender meu
ceticismo aqui.”
“Definitivamente.” Ela concorda, enquanto puxa o laço do seu cabelo
vermelho, agitando-o, antes de reuni-lo para amarrar de novo. “Quando ele veio
para mim pela primeira vez como Max e me contou esta história... não sabia o
que pensar. Liam estava deitado numa cama, meio morto há dias, e esse
homem aparece e me diz que é meu irmão.”
“Como você acabou acreditando nele?”
“Não acreditei nele. Pelo menos não imediatamente. Então, não sei. Ele
sabia tudo sobre mim, coisas que só Liam saberia,” explica-me, enquanto
limpa o balcão. “Estava com medo.” Helen admite. “Eu estava louca por
acreditar? Estava devastada. Meu irmão estava morrendo. Estava tão
desesperada por ele viver que compraria essa história louca apenas para tê-lo
de volta, não importa em que forma estava!”
Balanço a cabeça uma vez, em compreensão.
BN TOLER

“Mas não foram só as histórias. Havia outros sinais. Ele se move como
Liam. Até mesmo curva sua boca de um lado e sorri tolamente apenas como
meu irmão. Os maneirismos, o humor...” ela balança a cabeça. “Era tudo
Liam.”
“Você sabe como isso parece, certo?”
“Como?” Helen questiona, com uma sobrancelha elevada, especulativa.
“Quero dizer...” Torço minha boca, enquanto tento decidir como dizer o
que quero. Não há maneira de colocá-lo delicadamente. “Como se você
estivesse usando um homem mentalmente doente para pagar as contas
médicas do seu irmão.”
Sua sobrancelha se ergue levemente enquanto sua cabeça recua para trás.
Eu a ofendi. Lentamente, suas feições se relaxam, enquanto a observo absorver
o que lhe disse.
“Não tinha pensado nisso, mas acho que pode ser assim para alguém que
não acredita nele.” Então, ela fixa seu olhar atento sobre o meu. “E acho que é
por isso que ele tem sorte que nós acreditamos.”
Sua expressão fica estoica enquanto me encara. É um desafio. Ela quer
que eu confirme. Quer que diga qual voz escolho, ambas guerreando, entre Max
é louco versus Liam é Max.
Isso é justo, acho, mas há um problema. É difícil dizer e percebo que não
posso. Não até acreditar de todo coração. Só não estou pronta para falar em
voz alta. Gostaria de ficar e passar este dia com ele, até tirarem o corpo de
Liam do suporte vital. Mas dizer que acredito? Para fazer minha língua curvar
em torno dessas palavras, enquanto derramam fora da minha boca? Não estou
pronta para isso.
Como não posso dizer o que ela quer que eu diga, falo outra coisa, algo
honesto.
“Estou assustada.”
É a coisa mais honesta que posso dizer. Antes que saiba, Helen tem seus
braços envoltos em torno de mim, seu corpo se arrastando suavemente com
soluços silenciosos.
“Se isso te faz sentir melhor,” ela chora, “estou com medo também.”
E, por um momento, deixo que minhas suspeitas sobre Helen escapem
enquanto a abraço. E se ela não é uma manipuladora? E se é como eu;
BN TOLER

incrivelmente duvidosa, mas tremendamente esperançosa. É mesmo impossível


acreditar que somos duas mulheres que querem acreditar em Liam, acreditar
no impossível? Mesmo que duvide dela, inferno, eu duvido de mim mesma, é
bom acreditar que o que quer que esteja acontecendo, estamos juntas nessa.
Quando Helen se afasta, enxuga seu rosto.
“Desculpe por isso.”
“Você é sua irmã,” afirmo, antes de pegar minha caneca no balcão e beber.
“Sei que isso deve ser horrível para você.”
“Ele é meu melhor amigo,” Helen concorda.
Meu peito aperta com suas palavras. Não posso imaginar perder Matt.
Abro a boca para dizer alguma coisa, confortá-la, mas a porta da frente se abre
e Liam anuncia em sua melhor imitação de Ricky Ricardo:
“Querida... Cheguei!”
Helen e eu rimos enquanto ela corre para terminar de limpar seu rosto,
antes que ele chegue na cozinha. No momento em que entra, ela havia feito um
trabalho decente de se arrumar, mas, assim que ele a vê, seu sorriso cai. Helen
sorri brilhantemente, um pouco brilhante demais para esconder as lágrimas de
agora a pouco. Logo, Liam olha para mim, então de volta para ela.
“Oh, Waverly.” Helen se anima quando agarra minhas duas mãos. “Tenho
algo para te mostrar.”
“Helen,” geme Liam.
“A mulher que você ama merece ver suas fotos.”
Minhas sobrancelhas levantam-se com suas palavras. Amor? Ele me ama?
Como me sinto sobre isso? Movo meu olhar para o dele e noto que suas
bochechas estão ligeiramente tingidas de vermelho. Helen o envergonhou. Tão
assustador quanto aquelas palavras foram, não posso deixar de sorrir
enquanto Helen guia-me através da cozinha para a sala de jantar. Puxando
uma cadeira para mim, me empurra para sentar nela antes que se sente ao
meu lado.
“Liam, você pode limpar Pim, por favor?” Helen pergunta.
“Claro,” murmura ele, claramente não animado sobre ela me mostrando
as fotos. “Mas faça isso rápido, Helen; Waverly e eu temos planos.”
Virando meu pescoço, olho por cima do meu ombro e o encontro na porta
olhando para mim. Meu coração se fecha enquanto o calor me lava. Max é um
BN TOLER

homem bonito, mas não é sua aparência que mexe as coisas dentro de mim.
Isso é diferente. Eu o sinto; posso sentir sua vontade em seu olhar. E ali está.
Percebo que estou olhando para Max, mas não é Max olhando para mim. É
Liam. Acredito nele.
BN TOLER

CAPITULO TRINTA E DOIS

Depois de uma hora e meia, tenho que resgatar Waverly. Minha irmã
mostra-lhe cada foto que possui e passa a contar-lhe oito mil histórias sobre
mim, que me faz soar como um cara fantástico. Não sou um homem modesto;
sei que não sou tão bonito, nem tão interessante quanto o que ela diz, então
não há dúvida em minha mente que Waverly provavelmente teve o suficiente e
está pronta para fugir do apartamento e do tédio.
Trinta minutos depois, Waverly sai do quarto, vestida com um top e uma
calça jeans, o cabelo liso e ondulando sobre os ombros. Ela fez sua
maquiagem, seus olhos com uma linha escura, como uma menina pin-up, e
seus lábios perfeitos estão brilhantes. Tomando nota de seu traje, luto com o
grunhido de frustração que quero deixar sair. Como ela parece tão sexy em
algo tão simples como jeans e um top? Cada babaca pelo qual passarmos
provavelmente vai olhar para ela. E será uma longa tarde.
“O que diabos é isso?” Waverly pergunta à medida em que aponta para
minha mão, e me sacode dos meus pensamentos, enquanto olho para ela,
admirado.
Levo um momento para fazer minha língua funcionar novamente.
“Seu capacete,” a informo, enquanto estendo para ela.
Ela olha para ele sem entender.
“Isto é para mim?”
“Hum... tão bem como rosa choque ficaria em Max, não acho que é
realmente para ele,” rosno. Estou muito orgulhoso de mim mesmo, pois
consegui um capacete que combina com o de Pimberly.
Olhando para Helen, Waverly morde o lábio, sua expressão incerta.
BN TOLER

“Ele é um ótimo motociclista.” Helen assegura-a, enquanto segue Pim em


seu triciclo. Pim pegou o jeito e agora dirige sua moto minúscula como uma
profissional. Se a coisa fosse a mais de 8 Km por hora, não tenho dúvida de
que ela tentaria disparar.
“Nosso pai o ensinou,” continua Helen.
Seu lábio ainda está preso entre os dentes antes de inalar e soltar um
suspiro hesitante.
“Promete que vai devagar.”
Seguro minha mão direita para cima como se estivesse jurando como
testemunha, digo:
“Estamos em Nova Iorque,” lhe informo. “Não há muitos caminhos abertos
para acelerar. Mas sim, eu prometo. Agora venha.” Estendendo minha mão,
espero por ela para pegá-la. Waverly reluta, antes de me olhar nos olhos.
Coloca sua mão na minha e dá um sorriso de tirar o fôlego que quase me tira
todo o ar.
“Se divirtam,” Helen ri.
Uma vez que estamos fora, puxo meu capacete e aperto a correia,
enquanto Waverly olha para mim, a incerteza crivada em seus olhos. Com um
sorriso gentil, pego o capacete dela e coloco-o em sua cabeça.
“Provavelmente pareço ridícula,” disse ela, com os lábios enrolados de
desgosto.
Rio, quando ajusto sua alça.
“Você está bem,” asseguro a ela. “Agora, aqui, para o seu prazer de
montar,” me viro de costas, de frente para a moto, levantando as mãos em
apresentação da tremenda máquina diante de nós, “esta é a Panhead.”
“É seguro?”
Lanço-lhe um olhar que pergunta: Você está falando sério?
“Você acha que eu te colocaria nela se não fosse seguro?”
Ela ignora minha pergunta, acenando algumas vezes.
“Parece...” Ela dá um pequeno encolher de ombros, “Bonita?”
Suspiro, enquanto olho para ela como se fosse louca.
“Bonita?”
BN TOLER

“Sim, Liam,” murmura enquanto ajusta o capacete. “É bonita. Linda.


Etérea.”
Balançando a cabeça, saio da calçada e rodo a moto, fingindo decepção
em sua descrição básica.
“Não é apenas bonita,” a repreendo. “Aqui, diante de você, bela mulher,
está um pedaço raro de história.”
“Eu sei,” ela geme, claramente não impressionada.
“Você sabe?” Sorrio, como se ela fosse ridícula. “Mulher, você não sabe
nada.”
Curvando uma sobrancelha, ela sai da calçada e corre os dedos
delicadamente sobre o guidão da moto.
“Esta é uma Panhead 1948.” Ela anuncia, sua voz sensual. “A Harley só
fez esta moto entre 1948 e 1965, modificando-a para Knucklehead, e então
Shovelhead. Embora as três tenham poucas diferenças, seus motores foram
redesenhados e construídos com cada versão; seus nomes de modelo
descrevendo a forma dos próprios motores. Esta Panhead,” continua ela,
enquanto corre um dedo provocante sobre o assento e depois no pára-lamas
traseiro, dando-me um olhar atrevido, “acontece que é a única original, porque
em 1949, a Harley mudou a parte dianteira para uma hydro-glide.”
Quando ela chega até mim, leva seus dois dedos subindo pelo meu
estômago para o meu peito, antes de bater no meu nariz.
“Como eu disse,” Waverly sussurra, “é bonita.”
Olho para ela, atordoado enquanto ela gira e salta de volta na calçada.
Quando me olha de volta, dá um pequeno encolher de ombros.
“Fiz algumas pesquisas.”
“Eu vejo isso,” digo, áspero.
“Por que você está olhando assim para mim?”
“Estou apenas...” pisco algumas vezes. “Estou excitado.” Isso é um
eufemismo. A informação que ela divulgou é básica, provavelmente só olhou
por cima na internet, mas o fato de que ela ainda tomou o tempo para fazê-lo...
e aquela voz sexy como o inferno que usou enquanto falava, teve meu sangue
bombeando forte. Mulher sexy falando sobre uma moto sexy é igual a um Liam
em ponto de bala.
BN TOLER

Ela deve ter notado minha excitação, porque geme em zombada irritação.
“Ok, Liam. Vamos montar essa coisa ou não?”
Jogando minha perna sobre a moto, a estabilizo.
“Estas não são normalmente motos de dois lugares, então coloquei uma
almofada no final, para que você se sentasse.”
“Ótimo,” diz secamente, enquanto sobe atrás de mim. “Parece super
seguro.”
“Se você não quer fazer isso, não precisa, você sabe, não é?” Não há nada
que eu queira mais do que andar com ela, mas sei que está nervosa sobre isso.
Não quero que se sinta forçada.
“Se não quisesse, não faria.” Não duvido. “Além disso,” ela suspira, “hoje é
um dia perfeito para fazer todos os tipos de loucura. Você sabe.” Waverly
pensa em voz alta: “Acreditar que outro homem está habitando o corpo do meu
ex. Andar de moto com o dito habitante,” sorri, enquanto suas palavras me
alarmam.
Sei que pedir a ela para acreditar é insano e Waverly não teve tempo para
processar as informações. Suas palavras fazem me perguntar se ela ainda tem
dúvidas de que estou dizendo a verdade. Ter sua confiança e fé é importante
para mim. Deixando de lado as preocupações, pelo menos por enquanto,
decido dar-lhe o dia. Quero que ela passe um dia comigo, todos os segredos
expostos e dar-lhe uma chance de decidir. Sei que há uma diferença entre ela
querer acreditar e realmente acreditar em mim.
Antes de dar partida na moto, dou a ela algumas instruções sobre o que
fazer com seus pés e como não se inclinar em voltas, e assim por diante.
Chegando atrás de mim, agarro seus braços e envolvo-os ao meu redor,
pressionando-os contra meu peito.
“Apenas segure firme,” a instruo. “Você vai ficar bem.”
“Para onde vamos?” Ela pergunta.
“Ver uma pessoa da qual sou amigo,” respondo. Andando com a moto um
pouco, dou o pontapé inicial e ela ruge para a vida, vibrando abaixo de nós.
Waverly aperta-se em mim e não posso deixar de sorrir. Não tenho certeza que
a vida pode ser melhor do que isso; este momento. É isso. Este é um momento
que nunca vou esquecer, um belo dia para andar de motocicleta com a minha
mulher.
BN TOLER

Ok.
Nem a moto ou a mulher são minhas, tecnicamente, mas por hoje vou
fingir que são. É muito possivelmente o último dia da minha vida e espremerei
cada gota dele. Enquanto aceleramos, meu coração troveja em meu peito
porque, pela primeira vez em muito tempo, que consigo me lembrar, sinto-me
feliz.
BN TOLER

CAPITULO TRINTA E TRÊS

Se antes de subir na Panhead me perguntassem se desfrutaria do passeio,


diria que não. Como eu disse, é uma questão de controle. Colocar minha vida
nas mãos de outra pessoa, especialmente em uma motocicleta de alta
velocidade, não. Demora alguns minutos para meu corpo relaxar, mas Liam
não mentiu: ele é um ótimo motociclista. Não acelera, nem faz qualquer tipo de
voltas malucas. Liam está calmo por mim e, por isso, fico grata. Rodamos por
uma hora, entrando e saindo das ruas congestionadas. Quando concordei em
andar com ele, havia imaginado nós dois voando por um longo caminho, mas
navegando pelo estacionamento que é Nova Iorque, não conseguimos ir muito
rápido. Há um pouco de parar e continuar, mas para a minha primeira vez em
uma moto, acho que é o melhor.
Finalmente, terminamos na 5th Street Pier, que possui uma
impressionante vista para o horizonte de Manhattan. Enquanto caminhamos
pelo cais, as tábuas de madeira rangendo suavemente sob nossos pés, Liam
pega minha mão e junta nossos dedos. O dia está ensolarado, mas há uma
brisa leve que faz um calor tolerável. Parando na grade, me apoio nela;
fechando os olhos, deixo o vento acariciar meu rosto. Este dia parece perfeito,
perfeito demais. É simples, na definição mais literal da palavra, mas é tudo,
menos simples. Às vezes, é no mais simples momento que encontramos a
maior beleza. Um passeio de motocicleta, uma caminhada tranquila de mãos
dadas, é celestial. Liam vem atrás de mim, colocando as mãos na grade em
cada um dos meus lados, e pressiona suavemente seu corpo no meu.
“O que você está pensando?” Ele sussurra.
“Estou pensando que gostaria que todos os dias fossem exatamente como
este,” admito, o pensamento me fazendo franzir o cenho ligeiramente.
BN TOLER

“Me sinto da mesma maneira.” Deixando cair a cabeça, ele descansa sua
testa em meu ombro.
“O que há de errado?” Pergunto, incapaz de virar e ver seu rosto.
Mentalmente me repreendo por perguntar, pois sei exatamente o que está
errado. Deveria ter feito a mesma pergunta que me fez: o que você está
pensando?
“Posso morrer amanhã,” responde sem rodeios. “Ou posso viver, como
Max, para o resto dos meus dias. Nenhuma das duas opções parece ser um
grande resultado.”
Meu corpo parece apertar e soltar de uma só vez com suas palavras,
enquanto a ansiedade me domina. O desconhecido é de longe o pior nesta
situação. Há vários resultados possíveis e todos vêm carregados com uma
enorme lista. Há uma possibilidade; um fugaz raio de esperança de que Liam
acorde em seu próprio corpo. De alguma forma, apesar do fenômeno da
situação, sinto que Liam acordar como ele mesmo é o menos provável. Não
tenho certeza se isso é porque queremos mais e, na vida, raramente
conseguimos aquilo que queremos, ou se é porque as chances estão tão
empilhadas contra ele. Liam está com morte cerebral e entrando em falência de
órgão. Coloco minha mão sobre a dele, que se encontra pousada na grade, e
faço o meu melhor para confortá-lo com as opções limitadas que tenho, dada a
posição em que estamos.
Erguendo a cabeça, ele envolve seus braços ao meu redor.
“Só estou me perguntando qual é o ponto de tudo isso,” ele diz.
“O que quer dizer?”
Movendo-se ao meu lado, ele se inclina na grade e olha para a água,
apertando as mãos na frente dele.
“Quero dizer,” ele suspira, “por que isso aconteceu; essa troca de corpos?
Tenho que acreditar que há uma razão.... uma moral para a história. O que
poderia ser?”
Olho para a água, desejando saber o que dizer, mas não sei. Não tenho
palavras, nem sabedoria para oferecer. Há um milhão de maneiras que posso
tentar pintar esta situação em tons felizes de amarelo e rosa, mas qual é o
ponto? Posso oferecer finais felizes e mencionar o lado bom de tudo durante
todo o dia, mas que bem fará a ele?
BN TOLER

“Dormi aqui há algumas noites.” Murmura ele, seu olhar lançando-se para
baixo, em suas mãos, a vergonha dominando suas feições.
“No cais?”
“Sim,” me responde, virando o pescoço e sinalizando com seu queixo para
um banco a alguns metros de distância. Uma mulher mais velha senta-se no
banco olhando fixamente para fora na água, acariciando o que parece ser um
gato de pelúcia em seu colo. Sua boca se move como se estivesse falando, mas
não posso ouvir o que ela diz de onde estamos. “Bem ali naquele banco,”
continua ele.
Eu aperto os lábios enquanto imagino Liam, seu verdadeiro eu físico,
enrolado em um banco tentando dormir. Quão perdido e solitário ele deve ter
se sentido.
“Não tinha nada,” continua ele. “Não era nada.”
Envolvendo meu braço ao redor dele, coloco a cabeça em seu ombro.
“Isso não é verdade.”
“Foi assim que me senti,” argumenta. “Quando alguém olhava para mim,
se eles se incomodassem em olhar, tudo o que viam era um vagabundo sem
valor, sujo. Mas não Pearl,” ele termina.
“Pearl?” Questiono. Quem é Pearl?
“Aquela é Pearl,” lança um rápido olhar para a mulher acariciando o gato.
“Você a conhece?” Pergunto, confusa.
“Encontrei-a na rua.” Seu olhar volta a cair para suas mãos. “Alguns
punks estavam brincando com ela, tentando pegar sua bolsa. Eu intervi,” ele
coça a nuca, “estava com fome e Pearl ficou tão grata. Então, compartilhou sua
comida comigo naquele dia e toda semana depois.”
Observo a mulher, meu olhar mais profundo.
“Ela ainda vive nas ruas?”
Ele assente.
“Eu trouxe você aqui por uma razão.” Explica-me, enquanto se vira,
inclinando seu quadril contra a grade, mantendo suas costas para Pearl.
“Preciso que você a ajude. Se algo...” faz uma pausa, sua boca apertando,
enquanto trabalha em formar as palavras. “Se eu morrer,” finalmente termina.
“Preciso que você a ajude. Ela tem alguns...” ele faz um gesto com a mão em
BN TOLER

volta da cabeça, “problemas. É a mulher mais doce que você pode conhecer e é
inofensiva. Só não está... totalmente bem mentalmente. Como você é da área de
trabalho social, penso que talvez consiga a ajuda que ela precisa.” Enquanto
observo por cima do seu ombro, suas feições parecem cair. Meu peito se
contrai quando absorvo o quão genuinamente preocupado por esta mulher
Liam está. Aqui está ele, sua vida prestes a terminar em menos de vinte e
quatro horas e passa uma parte de seu último dia tentando se certificar de que
Pearl será cuidada.
“Quer falar com ela?” Pergunto a ele com firmeza, enquanto me encara de
novo.
“Não. Eu tentei e ela reagiu mal, pois viu Max me deixar para morrer. Ela
o odeia...” aponta para o seu rosto. Tomando sua mão na minha, a aperto.
“Vou ter certeza de que ela receba ajuda.” Prometo a ele. Sei que não é tão
simples como apenas pegar Pearl e levá-la para uma enfermaria de psiquiatria;
levará algum tempo, mas farei isso, não importa como, por ele.
“Obrigado.” Puxando minha mão para seu rosto, ele a beija. “Como um
vagabundo sem valor, como eu tive tanta sorte?”
“Liam,” começo. “Talvez você tenha se sentido assim, mas você nunca foi
inútil. Apenas chegou a um ponto complicado. Um lugar muito difícil,”
acrescento. “Todos nós atingimos pontos difíceis.” Sei disso melhor do que
qualquer outra coisa. Posso não ter acabado nas ruas, desabrigada, mas sei o
que é estar no fundo do poço e me perguntar se nunca ia subir. De novo, ele
luta por palavras. É o conto clássico do cara legal que termina em último lugar.
As explicações habituais vêm à mente; Deus não nos dá mais do que nós
podemos lidar, às vezes temos que bater no fundo do poço para trabalhar o
nosso caminho de volta para cima.
Mas, não importa o quanto queira, não consigo falar isso. Comecei a me
apaixonar por esse homem da maneira mais inexplicável; ele está preso no
corpo do meu ex. Isso certamente não facilita. Mas, não diz muito sobre ele,
sobre seu caráter? Nesta semana, vi um homem amável, com paixão real e um
coração grande o suficiente para amar uma garotinha que não era sua. Ouvi
histórias de um irmão que sempre foi mais do que um confidente ao longo da
vida de uma irmã apaixonada por ele. Não é justo. Eu sou uma pessoa terrível
por não inventar algo para lhe dizer, mas a verdade é..... eu preciso de uma
explicação, também. Por que o homem pelo qual me apaixonei tem que estar no
corpo de Max? Estou sendo punida? Ou ele?
BN TOLER

“Liam?”
“Sim?”
“Posso te fazer uma pergunta?”
Ele ri.
“Não.” Brinca ele. “Perguntas não são permitidas.”
Reviro meus olhos.
“O que acontece se você ficar no corpo de Max?” Virando a cabeça, ele
beija o topo da minha cabeça e descansa ali sua boca por um momento, antes
de falar.
“Não sei,” ele responde. “Do lado de fora, provavelmente parecerá algo
como uma vitória, de alguma forma.”
“É assim que você se sente?” Ele fica calado por um momento, como se
estivesse pensando.
“Se fico como Max, serei saudável. Terei um lar e dinheiro.”
“E,” acrescento relutantemente, “você me terá.” Quando ele fica em
silêncio por um momento, imagino se ficou aborrecido com minhas palavras.
“Será difícil ter você, ou qualquer coisa, dessa forma.” Ele finalmente diz.
Minhas sobrancelhas se franzem em confusão, enquanto olho para ele.
Difícil de me ter? Que diabos isso significa?
“Por quê?”
“Talvez seja o meu orgulho... eu não sei. Seu dinheiro não é o meu
dinheiro. Assumindo que me sinto mal com sua identidade e, em algum nível,
sabendo que você me ama, Liam, mas então a outra parte de mim saberá que,
cada vez que te tocasse, toda vez que você me olhasse.... tudo o que você
sentirá e verá é Max.”
“Você sabe que há mais do que isso;” discuto, afastando-me dele, minha
frustração agindo como uma distância entre nós. O que ele está dizendo? Que
se permanecesse no corpo de Max ele não poderá estar comigo? Meu rosto arde
de raiva.
“Então, se você ficar como Max, acabamos? É isso?” Agarrando-me, ele
me vira para encará-lo, os músculos em sua mandíbula tiquetaqueando.
“Pare com isso,” exige.
BN TOLER

“Pare o quê?” Eu gaguejo, enquanto luto para sair da fortaleza de seus


braços, mas é em vão. Ele me segura no lugar com firmeza.
“Pare de tirar conclusões precipitadas. Não é sempre a pior suposição que
você pode ver Waverly. É como você disse, é mais complicado do que isso.”
“Então, se permanecer como Max, você não pode estar comigo porque
verei seu rosto e pensarei nele?” Eu volto ao ponto, ignorando sua última
declaração.
Com uma ligeira sacudida, em uma tentativa de me empurrar para a
razão, ele grita:
“Estou errado, Waverly? Você pode honestamente dizer que não me olhará
como Max Porter todos os dias e não sentirá algum ressentimento?”
Ele está com medo de que, no meu subconsciente, eu segure os pecados
de Max contra ele. Se estiver sendo honesta, amar Liam, mas ver Max levará
algum tempo para me acostumar. Max me feriu de uma forma que será para
sempre uma parte de mim; a dor está gravada em meus ossos. Não há dúvida
de que será um desafio olhar para Liam como Max e só ver Liam, mas, no
mundo das impossibilidades, se dois homens podem mudar de corpo, ouso
dizer que posso amar Liam e aprender a não ter ressentimento quando tudo o
que enxergar for o rosto de Max.
Tomando sua mão, a coloco no meu peito, sobre o meu coração e fecho os
olhos.
“Você me disse para olhar em meu coração,” o lembro. “E disse que se
olhasse lá, iria vê-lo. Você está certo; é o que vejo. Um homem bonito com
olhos castanhos e um sorriso que balançaria as entranhas de qualquer mulher.
Só o pensamento do homem das fotos me faz sorrir.” Um homem bonito com
uma robustez; uma sensação realista.
Minha mente imagina as tatuagens coloridas que cobrem seu corpo,
perguntando-me o que sentirei ao traçar meu dedo sobre cada uma.
“Vejo você, Liam,” murmuro, enquanto aperto sua mão mais forte contra
meu peito. “Bem aqui. Mais que isso.... eu sinto você.”
Não abro meus olhos quando o sinto escovar seus lábios contra os meus
antes de envolver seus braços ao meu redor, me abraçando, me segurando
como se sua vida dependesse disso. Não havia percebido o quanto ele precisava
ouvir que possui o meu coração, não importa o que aconteça. O beijo sela
BN TOLER

aquela promessa de que o amarei, seja como Max ou em seu próprio corpo.
Depois do beijo, Liam pressiona a boca na minha testa e respira fundo.
Tinha sido um momento bonito; profundo e significativo.
Mesmo com as minhas garantias, no entanto, ainda há um pensamento
assustador e inimaginável.
E se eles trocassem de novo quando tirarem o corpo de Liam do suporte
vital?
E se Liam morresse?

Nossa caminhada termina como tinha começado: calma. Há dúvidas e


preocupações, mas entre o desconhecido, também há conforto. Não importa o
resultado.... somos uma equipe. Bem ou mal, levaríamos tudo juntos. É um
tipo de paz agridoce. Liam finalmente consegue ser ele mesmo comigo e
finalmente não me sinto como uma louca, tentando entender por que Max não
estava agindo como idiota.
Por que não pode ser o único obstáculo?
Voltamos para a moto, Liam acariciando o dorso da minha mão com o
polegar. Ele parece perdido e tudo o que quero naquele momento é aliviá-lo,
tirar sua mente de tudo. O estacionamento está praticamente vazio, exceto por
alguns carros estacionados em espaços esporadicamente aqui e ali. Enquanto
ele se ocupa em tirar o capacete, coloco minhas mãos em meus quadris e
sorrio. Ele sorri de volta.
“Esse olhar tem problema escrito por toda parte.”
“Ensine-me.”
Ele ergue as sobrancelhas.
“Ensinar a você o quê?”
“Conduzir a moto.” Ele olha para baixo enquanto os cantos de sua boca
se curvam. Por um momento, penso que ele vai dizer não; com uma dessas
razões sexistas e insultantes, como se as mulheres não pudessem dirigir
motos. Já estava preparando o ataque verbal para contra-argumentar, antes
que ele assentisse com a cabeça uma vez e dissesse:
BN TOLER

“Como você desejar.27”


Inclino minha cabeça e sorrio.
“É uma citação da Princesa Prometida?”
Ele ri, envergonhado.
“Nããããoo.” Me responde, evitando o contato visual comigo.
Rindo, brinco:
“O quê? O motociclista mau está constrangido porque citou a Princesa
Prometida?”
Um lado de sua boca curva-se quando ele vira a cabeça, ainda evitando o
contato visual comigo.
“Tenho uma reputação a defender aqui,” brinca. Sacudindo a cabeça, dou
um suspiro.
O homem acabara de citar uma das linhas mais românticas de um dos
melhores filmes de sempre. Quando ele finalmente volta a olhar para mim de
novo, torce a boca quando me vê sorrindo como uma louca.
“O quê?”
“Onde você esteve minha vida inteira?” Pressionando seus lábios juntos,
ele ergue a mão e acena os dedos algumas vezes indicando que eu fosse até ele.
Quando me aproximo, ele corre o dorso de seus dedos sobre minha
bochecha, enquanto olha profundamente em meus olhos, me fazendo sentir
como a coisa mais preciosa que ele já viu. Então, com sua voz profunda,
responde:
“Esperando por você.”
Meu coração vibra com suas palavras. Com um beijo suave, ele me dá um
sorriso louco.
“Está pronta para isso, mulher?”
Liam me faz vê-lo conduzir a moto algumas vezes e explica como tudo
funciona. Quando termina, desliza para trás e segura a moto firme para mim
enquanto subo na frente dele. Rio como uma idiota quando consigo ligá-la na
primeira tentativa, mas uma vez que Liam me entrega as rédeas, percebo que
dirigir a coisa maldita será muito difícil. Devido ao tipo de câmbio, só permite

27 Em inglês seria “As you wish”. No filme essa frase é muito utilizada.
BN TOLER

que um motorista use uma mão no guidão. Tentar conduzir a moto e mantê-la
equilibrada é muito difícil. Se Liam não estivesse lá para nos equilibrar,
teríamos caído nas inúmeras vezes em que tínhamos parado porque eu não
podia mudar e a moto pesava uma tonelada.
“Filha da puta,” amaldiçoo, depois que a moto para bruscamente. “Eu não
posso dirigir essa maldita coisa.”
Liam ri, descansando suas mãos em meus ombros, massageando
suavemente, para me acalmar.
“Você está pensando demais.”
“Há muito para lembrar. Muitos passos.”
Ele fica quieto por um momento antes de perguntar:
“Você gosta de dançar?” Deixo meus ombros caem em frustração. “Acho
que sim,” admito, severamente. “Já faz muito tempo.”
Deus, nem conseguia me lembrar da última vez que fui dançar. Então um
pensamento bate em mim, me empolgando.
“Você dança?” Pergunto, uma pitada de excitação em meu tom. Ele ignora
minha pergunta.
“Como eu estava dizendo...”
“Você dança!” Dou um grito, o choque evidente em meu tom. “Um homem
que dança e tem bom gosto para filmes? Acho que encontrei ouro aqui.”
“Tenho que parar de falar,” murmura ele. “Estou perdendo toda a minha
credibilidade na rua,” brinca.
“Seu segredo está seguro comigo.” Asseguro, lutando contra o desejo de
rir. Gosto de deixá-lo desconfortável. Ainda mais, amo que ele leva isso tão
bem, porque é capaz de rir de si mesmo. “Ok...” Contorço-me de volta no
assento, fazendo com que ele rosnasse com luxúria, ganhando a reação exata
que eu esperava. “Ensine-me.” Inclinando-se rapidamente, deixa seu corpo
colado no meu, sua boca em meu ouvido enquanto me alcança e puxa minha
mão esquerda, colocando-a sobre o câmbio, então toma minha mão direita e
coloca-a sobre o acelerador.
“Pense nisso como uma dança.” Me instrui, sua voz rouca. “Dança
envolve passos, coordenação e conhecer o seu parceiro. Isso não é muito
diferente.”
BN TOLER

“Diz você.” Aperto. “Isso dificilmente é um parceiro de dança. Esta é uma


armadilha da morte que poderia nos matar.” Ele ri, o som baixo e profundo,
fazendo meu núcleo se apertar.
“Você está sentada sobre mais de quinhentos quilos de máquina aqui.
Pense em quanto tempo e esforço foi dedicado à construção desta moto; a
maneira como alguém precisou conhecer esta moto tão intrincadamente para
juntar tudo e fazê-la se mover.”
“Só porque eles sabiam disso não significa que eu saiba.” Aprecio a
complexidade da moto, mas apreciá-la e dirigi-la são coisas muito diferentes.
“Só quero dizer que há poder aqui. Você pode fazer esses 500 quilos de
metal se mover, basta confiar em si mesma.”
Ele deixa minhas mãos e suavemente corre os dedos pelos meus braços e
meus ombros. “Ela vive e se move enquanto você a deixa, contanto que a
conduza, assim como um bom parceiro de dança. Não pense sobre os
movimentos que precisa fazer... sinta-os. Deixe a moto dizer-lhe quando é hora
de mudar.”
Seus dedos deslizam para baixo, em meus lados, até que eles tomam um
aperto firme em minha cintura, fazendo com que minha respiração engatasse e
minhas costas arqueassem ligeiramente.
“É dar e libertar, Waverly,” continua, sua voz profunda e gravemente.
“Você tem que sentir quando é a hora de dar ou de deixar ir.”
Tirando minha língua para fora, molho meus lábios secos. Como ele faz
com que as mudanças de marcha soassem tão quente? Como diabos vou
conduzir essa máquina com Liam murmurando insinuações sexuais em meu
ouvido? Quero virar-me e fazer sexo com ele sobre a moto.
“Sabe, isso seria uma abertura épica para um filme pornô.” Anuncio,
fazendo-o explodir em risos.
“Eu não tinha pensado nisso.” Seu corpo treme enquanto continua a rir.
“Acho que sua mente não é tão suja quanto a minha,” dou de ombros.
“Acho que não. Qual seria o título do filme?” Pergunta-me.
Torço minha boca em pensamento. Na minha voz mais sexy, viro meu
pescoço para que ele possa ver enquanto digo:
“Trocando marchas da Panhead. Quando boas garotas aprendem a
conduzir.” Ele engasga, de tanto rir.
BN TOLER

Quando consegue formar palavras de novo, ele tosse:


“Isso soa muito sujo quando você diz assim.”
“Qualquer coisa pode soar sujo quando se diz da maneira certa,” brinco.
“Céu,” gemo. “Concreto,” continuo.
“Ok, ok.” Ele implora, antes de limpar sua garganta. “Pare de interromper
a lição com sua mente suja e profanação de palavras perfeitamente não-
pervertidas.”
Balanço minha bunda novamente.
“Você amou como profanei a palavra ‘concreto’. Admita.”
“Se você continuar a balançar sua bunda assim, esta lição vai ter que
terminar, enquanto vou tomar um banho frio.”
“Minhas desculpas,” sorrio.
“Você está pronta para isso?” Ele pergunta, seu riso diminuindo.
“Como nunca vou estar.”
BN TOLER

CAPITULO TRINTA E QUATRO

No momento em que voltamos para o apartamento, o crepúsculo tinha


começado, com o sol iniciando sua descida por trás do horizonte. Foi um dos
melhores dias da minha vida e, considerando que, muito possivelmente, seja o
meu último, isso me dá um certo tipo de contentamento. Não tenho controle
sobre o que acontecerá amanhã, mas tenho uma escolha. Posso escolher estar
agradecido pela oportunidade de um último dia, ou posso me revoltar sobre
isso. Eu escolho ser grato.
Depois da nossa caminhada, passei uma hora tentando ensinar a Waverly
como conduzir uma motocicleta. Foi horrível e hilariante, tudo de uma vez.
Simplesmente, contra as minhas estimativas, ela parou por pelo menos mil
vezes, além de ter vomitado uma variedade de xingamentos que faria até
mesmo o mais viril dos motociclistas corar. Vovó a teria chamado de pistola.
Depois, quando estava chateada, afirmou que era de fome, aparentemente, ela
era hipoglicêmica, auto-diagnosticada, mas eu sabia melhor. Waverly não
gostou de não ter dominado o câmbio da moto. Encontramos um restaurante
na baía, com cerveja gelada e hambúrgueres e, depois de uma boa refeição e
algumas bebidas, ela se acalmou novamente.
Estacionando em um lugar na garagem do estacionamento do
apartamento, acabo de desligar a moto quando o celular de Max toca no meu
bolso. Tirando-o, o nome de Helen se ilumina na tela. Depois que Waverly sai,
sigo e respondo:
“Oi, Hel. Nós acabamos de...”
“Onde você está?” Ela interrompe, sua voz crivada de pânico.
“Acabamos de estacionar. O que há de errado?” A cabeça de Waverly para
com minhas palavras, suas sobrancelhas levantadas em preocupação.
BN TOLER

“Basta vir aqui, agora,” retruca, antes de desligar.


“Merda,” bufo, enquanto me dirijo para a entrada, minha mente correndo.
Não tenho ideia do que está acontecendo, mas sei que minha irmã nunca
falaria assim, a menos que seja algo ruim. Meu estômago se revira enquanto
temo o pior. Pimberly está bem? Será que aquele empregado de Max, da boate,
voltou?
“O que está acontecendo?” Waverly grita, enquanto corre atrás de mim,
tentando manter o ritmo.
“Eu não sei.”
Atravessando o lobby, em minha visão periférica, vejo Braxton nos
observar enquanto passamos por ele, em direção ao elevador. Demasiado
impaciente para esperar, viro para a escada. Quando finalmente chegamos ao
meu andar, a porta do apartamento está aberta e um homem está gritando
dentro.
Voo para dentro, preparado para atacar, se necessário, até que derrapo
em uma parada, depois que percebo quem está gritando.
“Me dê agora,” exige Matt.
“Não te conheço e você não vai levá-la. Não me importo com quem você diz
que é.” Helen diz calmamente, enquanto segura uma Pimberly chorando.
“Matt?” Waverly bufa, o choque evidente em sua voz. Ela ainda está sem
fôlego da nossa subida de vários lances de escadas.
Virando-se, seu corpo parece suavizar um pouco enquanto olha para a
irmã. Em dois passos, Matt alcança e abraça Waverly. Ela pisca algumas vezes,
trabalhando duro para absorver o que está acontecendo, antes que levantasse
as mãos e lhe desse tapinhas em suas costas, algumas vezes.
“O que você está fazendo aqui?”
Afastando-se dela, ele franze o cenho.
“O que estou fazendo aqui? Você liga e me deixa uma mensagem de que
precisa da minha ajuda, então desliga seu telefone. Ligo para a casa, sem
resposta. Mando um e-mail para você, sem resposta. Ligo para a Sra. Patty e
ela me diz que Pim não fica lá há dias e, da última vez que a vira, você estava
com muletas. Estive mortalmente louco de preocupação com você.”
Waverly fecha os olhos e exala alto.
BN TOLER

“Sinto muito, Matt. Não quis preocupar você e agora arruinei sua viagem.”
Matt não reconhece as desculpas de Waverly ou qualquer coisa que ela
diga sobre esse assunto, enquanto continua:
“Então venho aqui e encontro Pim com esta mulher que não me deixa vê-
la. O que diabos está acontecendo, Waverly?”
Waverly cobre o rosto com as mãos quando percebe a grande confusão
que um telefonema criou. Deixando-as cair, levanta uma mão e faz um gesto
para Helen.
“Matt, esta é a minha amiga Helen. Helen, este é meu irmão, Matt.”
Helen e Matt se entreolham, nenhum deles oferecendo um cumprimento
educado ao outro. Aparentemente, tinha sido o suficiente28 antes de chegarmos
lá.
“Posso segurar minha sobrinha agora?” Matt grunhe.
Helen olha para Waverly que acena afirmativamente.
Matt imediatamente puxa Pim em seus braços e a aperta contra ele,
embalando-a para acalmá-la. Os gemidos de Pim começam a calar-se
imediatamente quando Matt beija sua cabeça algumas vezes, sussurrando para
ela.
Finalmente, Pim acalma-se.
A sala está em silêncio; calma.
Até que não está mais.
Matt olha fixamente para mim.
“O que está acontecendo aqui, Waverly?”
Lançando um olhar de desculpas a mim, antes de retornar seu foco de
volta para Matt, ela dá de ombros.
“Nada. Eu... eu estava bêbada quando liguei para você.”
O que mais ela diria a ele? Que pensou que eu estava sofrendo de
transtorno de personalidade múltipla, mas não achava mais isso, porque agora
acredita que troquei de corpo com seu ex? Eu tenho um sentimento de que, de

28Do original stand-off, para nós uma situação em que um argumento ou luta para por um
período de tempo porque ninguém pode ganhar ou obter uma vantagem.
BN TOLER

todas as pessoas no mundo que poderiam acreditar na minha situação, Matt


seria o último.
Ele para de embalar Pim e olha para ela:
“Você estava bêbada, me ligando?” A sala fica em silêncio, enquanto ele
espera pela resposta de Waverly. “Deixei minha noiva na Europa, gastei uma
fortuna em um avião para correr para casa, porque pensei que você estava em
perigo, e está dizendo que me ligou bêbada?”
Quando Matt coloca dessa forma, parece uma merda. Então sua irmã
arregala os olhos:
“Você e Alice ficaram noivos?” Waverly grita, à medida em que corre e
envolve seus braços em torno de Matt e de Pim. “Isso é tão incrível, Matt!”
Dando um passo para trás, ele olha-a como se estivesse louca.
“O que diabos está acontecendo, Waverly?” Então ele lança seus olhos
para mim. “O que você fez desta vez, idiota?”
“Ok, acho que precisamos todos nos sentar e....”
“Não preciso me sentar,” Matt estala com ira, interrompendo-me. “Por que
diabos você está aqui?” Ele se vira para Waverly.
“Matt, por favor, acalme-se.” Waverly pede timidamente, enquanto Pim
começa a lamentar, sentindo a raiva de Matt. Quando ele inclina os olhos para
ela com sua boca achatada, sabe que ele fará qualquer coisa, menos acalmar-
se. Waverly resume o melhor que pôde sobre como machucou o tornozelo e não
tinha ninguém para ajudar. Quando termina, Matt olha-a de cima a baixo,
sacudindo a cabeça em claro desapontamento:
“Bem, o seu tornozelo parece melhor agora.” Observa ele, seu tom mais
baixo e mais calmo. “Por que você ainda está aqui?” Sua cabeça cai. Waverly
não sabe como responder a isso. Quando ela não responde imediatamente,
Matt bufa para si mesmo. Ele pensa que a irmã tinha acabado de correr de
volta para Max, o cara que a tratara como uma merda e, pela visão da
situação, é exatamente o que parece.
“Tenho que ir para casa.” Ele finalmente murmura. “Preciso de um pouco
de sono, mas gostaria de voltar amanhã e pegar Pim.”
“Claro.” Pimberly solta um grito quando vai para os braços da mãe.
“Talvez só depois das dez,” digo, e imediatamente lamento, quando Matt
lança seu olhar letal para mim. Não devia ter dito nada. Não estava pensando,
BN TOLER

realmente, mas sei que no dia seguinte pode, muito provavelmente, ser o meu
último dia e eu quero tempo com Pimberly.
“Desculpe-me?” Suas sobrancelhas estão unidas quando ele cruza os
braços. “Desde quando você decide o horário de Pim?” Abro a boca para
explicar.... Inteiramente inseguro de como fazer isso, quando Waverly intervém.
“Helen, você levaria Pim para o quarto?” Waverly pergunta calmamente
enquanto mantém os olhos fixos em Matt. Helen não hesita, simplesmente
pega Pim em seus braços e desaparece no quarto, fechando a porta atrás dela.
“Então o que é, Max?” Matt continua vindo em minha direção, seus ombros
afastados. “Você mudou de ideia?” Ele pergunta. “De repente decidiu que
realmente quer ser pai?”
“Matt.” Waverly agarra seu braço, tentando chamar a atenção de volta
para ela, mas Matt a sacode e dá outro passo em minha direção. Mantendo as
mãos em meus lados, amplio minha postura um pouco, preparando-me para
levar um soco. Se alguém merece um soco no rosto, Max Porter é o cara certo.
Não posso culpar Matt por sua raiva. Ele acabara de arruinar sua viagem para
voltar para casa e encontrar a irmã com o homem que a abandonou. Quando
Matt está a poucos centímetros de mim, seu olhar intenso, com cada desdém
que sente por Max, ele grita:
“Você sabe o que fez quando a jogou de lado como se ela não fosse nada?”
“Matt.” Waverly implora.
“Waverly não conseguia sair da cama. Teve que deixar a faculdade e ir
morar comigo. Levei dois meses para que ela saísse da casa, pois estava
malditamente deprimida.” Aperto meus lábios enquanto a tristeza me bate
forte. Sei que Max causou muito sofrimento a Waverly, mas ouvir a perspectiva
do irmão é brutal.
“Pare, Matt. Por favor.” Implora, seus olhos rasgando enquanto ela agarra
seu braço novamente. Matt pega a mão dela e a puxa para fora. Nem mesmo se
incomodando em olhá-la.
“Ela estava grávida do seu bebê.” Ele rosna, com os dentes apertados
enquanto me empurra com força no peito. “E você agiu como se ela nem
existisse. Waverly teve que ver um terapeuta duas vezes por semana por mais
de um ano pela forma como você livrou-se dela.”
“Isso é o suficiente, Matt.” Waverly declara em voz alta, em uma respiração
engatada, enquanto seu corpo afundava suavemente. Meu peito aperta quando
BN TOLER

olho para ela, lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Não quero nada mais
naquele momento do que tomá-la em meus braços e segurá-la; deixá-la sentir o
meu amor, a minha compreensão.
“Não, não é suficiente!” Matt grita, enquanto chama a atenção da irmã.
Seu rosto vermelho de raiva, enquanto apontava para mim. “Você se lembra o
que esse idiota lhe fez? E está voltando para ele como uma mulher patética e
desesperada.” As palavras parecem uma bala, acertando-a nos lugares mais
vulneráveis. A dor que Waverly sente é palpável enquanto seu corpo parece
cair, seus ombros encolhidos. A raiva se agita dentro de mim e, antes que
possa me conter, o agarro e o empurro para longe dela.
“Isso é o suficiente, maldição!” Dou um grito. Não é surpresa quando Matt
me soca, minha mandíbula rachando quando seu punho faz contato apenas no
lugar certo. Resmungo, mas me recupero rapidamente, agarrando-o pela
camisa e o empurrando. Perdendo o equilíbrio, ele tropeça para trás e nós dois
caímos no chão.
“Filho da puta.” Ele resmunga, enquanto lutamos. “Matt.” Waverly chora,
à medida em que se move em volta de nós. Minha razão está perdida conforme
lutamos, nossos corpos se torcendo enquanto tentávamos dominar o outro. Sei
que, em algum lugar no fundo da minha mente, onde existe senso comum e
lógica, sua raiva está dirigida a Max, não a mim. Fisicamente, lutar com ele é
errado, mas vê-lo ferir Waverly.... não consegui me segurar, por mais
justificados que sejam os seus sentimentos a respeito da situação. Algum
instinto protetor e primordial assumiu e reagi. Consigo rolar Matt em suas
costas, então estou sentado em cima dele, prendendo-o no chão. Ele tem uma
mão segurando minha garganta enquanto empurra, tentando me jogar fora
dele, mas estou sentado solidamente. Puxando meu punho para trás, tenho a
intenção de atingi-lo, até que sou arrancado de Matt e jogado de volta em
minha bunda. Lutando para voltar aos meus pés, me preparo para atacar
quem quer que fosse, até que sou empurrado para trás, novamente.
“Isso é o suficiente, Sr. Porter.” Braxton grita para mim, antes de mudar
sua atenção para Matt e empurrá-lo de volta, como ele fez comigo. “Chega!” Ele
ruge para Matt. De pé, de lado entre nós, ele ergue as mãos, agindo como um
bloqueio. “Eu preciso chamar a polícia?” Estamos ambos ofegantes, olhando
um para o outro, nenhum de nós se incomodando em falar. Então noto
Waverly, suas mãos pressionadas contra o rosto enquanto ela chora.
Espremendo meus olhos fechados, solto um longo suspiro enquanto a culpa e
o arrependimento me atingem.
BN TOLER

“Merda.” Bufo. Isso não deveria ter acontecido, não importa o quão grande
babaca Matt estava sendo. Braxton vira-se para Matt quando percebe que não
íamos atacar um ao outro novamente e sugere:
“Acho que é hora de você ir, senhor.” Matt corta seu olhar zangado para
Waverly, enquanto seu peito sobe e desce a cada respiração.
“Waverly?” Ele resmunga. Não tenho certeza se Matt quer que ela vá com
ele, ou se ele só quer que ela o defenda.
Erguendo os olhos para os dele, ela franze o cenho:
“Temos planos pela manhã,” ela funga, virando a cabeça, “mas devemos
terminar às dez. Você pode vir buscar Pim então.” Matt olha ao redor da sala,
seu olhar desdenhoso fixando-se em mim uma última vez, antes de ir para
fora. A boca de Braxton está pressionada em uma linha dura, enquanto me
olha fixamente.
“Os vizinhos estavam reclamando,” ele explica. “Por favor, certifique-se de
que isso não aconteça novamente, ou terei que denunciá-lo.” Aceno uma vez,
enquanto segurava minha mandíbula latejante.
“Desculpe,” murmuro em resposta.
Puxando um lenço do bolso, estende-o para Waverly. “Está limpo e você
pode ficar com ele,” diz, com a voz suave.
“Obrigada.” Nós o observamos sair, ancorados no chão por vários minutos,
antes de finalmente chegar à porta e fechá-la.
Quando volto, Waverly está na cozinha, tirando um saco de ervilhas
congeladas. Meu estômago se revira quando ela me encara de novo, me
deixando ver de perto quão magoada está, enquanto gentilmente coloca a bolsa
contra meu rosto. Seus olhos ainda estão vermelhos e inchados de chorar e
Waverly não consegue parar.
“Ele quebrou a mandíbula de um garoto uma vez, quando estava no liceu.”
Ela diz, enquanto me olha. “Você tem sorte.”
“Waverly, eu sinto m-”
“Não.” Ela me corta. “Eu odeio isso... que aconteceu, mas foi minha
culpa. Deveria ter ligado para ele. Sou a única errada.”
“Acabei de fazê-la dormir.” Helen murmura, enquanto entra na cozinha.
“Pobre bebê, chorou para dormir.” Faço uma careta enquanto pego as ervilhas
BN TOLER

congeladas de Waverly e me afasto. O dia começou tão perfeitamente, mas em


questão de minutos se transformou em uma merda.
“Vou dar uma olhada nela.” Waverly nos informa e entendo que ela precisa
de um momento para si mesma. Ela sai da cozinha sem dizer mais nada.
“Você acha que ela está bem?” Helen pergunta, enquanto limpa uma
migalha invisível no balcão. Deixo sair um grunhido e jogo as ervilhas na pia.
“Eu fodi tudo para ela,” murmuro. “Deveria ter assinado os malditos
papéis e ela não estaria nesta bagunça.”
Helen põe a mão no meu ombro.
“Isso não é culpa sua, Liam,” tenta me assegurar. “Isso é....”
“Uma merda,” interrompo.
“Questão de infelizes circunstâncias,” ela termina.
Ficamos ambos quietos por um momento, antes de Helen falar novamente.
“Precisamos estar no hospital ao meio-dia,” ela aclara sua garganta, antes
de enxugar o rosto. Esticando um braço para ela, a abraço contra mim.
“Amanhã, está bem? Não posso dar nosso adeus hoje à noite.” Dizer adeus
a Helen, no provável evento em que Max e eu mudaremos de volta e eu
morrerei, será difícil. Inferno, difícil nem se aproxima de como será. Ela acena
com a cabeça algumas vezes em acordo, seu rosto cheio de dor enquanto luta
com as lágrimas.
“Vou sair.” Ela consegue dizer. “David me encontrará no hospital para
dizer adeus a você.” Helen sufoca.
Franzo o cenho quando penso em meu sobrinho. Quero tanto falar com
ele, mas essa situação é fodida demais para envolvê-lo.
“Apenas continue dizendo a ele o quanto o amo,” digo à minha irmã. “E
diga a ele como sou orgulhoso dele.” Ela assente novamente, com as palavras
presas em sua garganta.
Com um rápido beijo na bochecha, ela corre para a sala de estar e agarra
sua bolsa, antes de sair.
Soltando um alto exalar, tento me restabelecer, abro o congelador e agarro
a garrafa de uísque que Helen trouxe junto com os mantimentos, alguns dias
antes. Pego um copo pequeno, o encho até a metade e viro-o. Então faço isso
novamente. Caminhando para a sala de estar, olho para a porta do quarto, me
BN TOLER

perguntando se devo entrar. Sei que Waverly está chateada e quero consolá-la;
estar lá para ela, mas também quero dar-lhe espaço, se é isso que ela precisa.
Minha mandíbula está latejando (Matt tem um bom gancho de direita), e estou
tenso. Preciso me acalmar. Um chuveiro me ajudará a relaxar e quem sabe
então, Waverly estará pronta para conversar. Mesmo que ela não esteja ou não
fale uma palavra, irei segurá-la.
BN TOLER

CAPITULO TRINTA E CINCO

Depois da saída de Matt, checo Pim, que está profundamente adormecida.


Odeio ter experimentado algo tão assustador e confuso. Jogo um pouco de
água no meu rosto e enxugo. As palavras de Matt foram brutais; um lembrete
de um momento vergonhoso e humilhante em minha vida. Tudo o que ele disse
foi verdade e voltar para Max seria uma loucura, mas não tenho como explicar
a Matt o que realmente está acontecendo. Em vez disso, fiquei lá, congelada, e
deixei que me derrubasse como um pato na lagoa. Então, assisti quando meu
irmão, o pilar em minha vida, entrou em uma briga física com Liam — que
para ele é Max — para, em seguida, sair machucado. A sensação foi tão
horrível que está me sufocando.
Quando me acalmo, olho para mim mesma no espelho do banheiro. As
palavras de Matt foram como um soco no estômago, o golpe acorrentado aos
lembretes de uma época em que estive no meu nível mais baixo. Quando fui
para o fundo do poço, depois de Max romper comigo, estava ciente do meu
estado, como se tivesse caído no reino mais profundo da depressão; quão
patética eu deveria ter parecido, mas nunca tinha ouvido Matt descrever isso.
Suas palavras foram difíceis de ouvir, mas quando olho para o meu
reflexo, percebo que não sou mais a mulher que Matt descrevera. Não sou mais
patética ou ridícula. Havia caído no mais fundo do poço, mas busquei meu
caminho de volta. Depois que Max nos deixou, passei tanto tempo pensando no
que havia de errado comigo — o que em mim me fazia ser tão fácil de
abandonar? Me torturava com ideias de que, talvez, se fosse mais inteligente,
mais rica, tivesse um diploma, ou até mais bonita, Max não nos teria rejeitado.
Todos esses pensamentos foram ridículos, mas quando alguém que você ama
vira o interruptor, e apenas decide, de repente, que está cansado de você; sua
mente pode enlouquecer, tentando várias formas para justificar isso, e a minha
BN TOLER

foi a auto-aversão. Max me transformou em uma mulher fraca, mas não sou
mais assim. Sou forte e uma boa mãe, e não penso em mim como uma pessoa
vaidosa ou superficial, mas, sim, definitivamente boa para uma senhora que
teve um bebê. Estou melhor agora, e sei o meu valor.
Percebo, por mais cruel que esta situação pareça, que tenho a chance de
sentir o amor de um homem que respeito. Esta pode ser minha única
oportunidade de estar com Liam e, não importa o que aconteça amanhã, não
quero perdê-la. Há uma boa chance de Liam morrer, e esse pensamento é
suficiente para me fazer quebrar, se eu deixar. Mas pensar em nunca sentí-lo
dessa forma, essa conexão em níveis mais profundos entre um homem e uma
mulher, é mais debilitante do que o pensamento anterior. Em algum nível, luto
com a decisão; é certo, considerando todas as incógnitas? Fazer isso só me
machucará no final? Também penso se Liam estará aberto a isso. Não duvido
que me queira; eu duvido que ele possa fazer amor comigo no corpo de Max.
Mordo o lábio, enquanto olho para o meu reflexo, me pergunto como fazer
Liam se sentir confortável.
Sei que Liam está preocupado sobre eu enxergar Max sempre que olhasse
para ele, mas tenho uma ideia a esse respeito. Encontrei a venda de olhos na
gaveta do criado-mudo de Max quando estava — não tenho orgulho de admitir
isso — bisbilhotando, dias antes. Também encontrei a grande caixa de
preservativos em seu armário do banheiro, o que fez com que me encolhesse,
mas esta noite eles serão úteis. Não me deixo pensar sobre como é irônico que
eu esteja pegando preservativos do meu ex para usar com o homem habitando
seu corpo, pois é demais para assimilar. Sentindo que tenho um plano, ou pelo
menos a maior parte de um, levanto o queixo e olho para os meus próprios
olhos.
“Você pode fazer isso,” digo a mim mesma.
Depois que tiro minhas roupas, escovo meus cabelos emaranhados, devido
a um dia de montar na parte de trás de uma motocicleta, retoco a maquiagem e
me limpo.
Olhando para o espelho uma última vez, inalo uma respiração profunda.
“Aqui vamos nós,” digo ao meu reflexo.
Agarrando a venda e alguns preservativos, caminho na ponta dos pés por
causa de Pim, antes de espreitar pela porta do quarto. A luz que aparece por
baixo da porta do banheiro de visitas indica que Liam está no chuveiro. Não sei
o que me leva a fazer isso, mas sei que quero Liam tão nu quanto eu quando
BN TOLER

ele me encontrar. O pensamento me faz sentir como se estivéssemos em pé de


igualdade, mesmo que ele seja capaz de ver e eu não. Assim, movendo-me
furtivamente, pulo no banheiro, roubo suas roupas e toalha.
Então.... Nua e vulnerável, espero cegamente para Liam me encontrar.
BN TOLER

CAPITULO TRINTA E SEIS

No banheiro de hóspedes, deixo a água tão quente quanto possa suportar


e fico lá até que minha pele está vermelha e a água começa a ficar fria. Quando
saio, provavelmente depois de meia hora, a tensão começa a esvair-se. Meu
maxilar, embora um pouco inchado, lateja um pouco menos, cortesia do
uísque.
Olhando ao redor do banheiro, torço minha boca. Onde está a toalha que
trouxe? E minhas roupas, onde diabos estão as minhas roupas?
Todo molhado, penso no que fazer. Posso usar o tapete de banho, mas
nem sequer me envolveria completamente, pois é tão pequeno. Não tenho nada
para colocar. Crescendo, minha avó odiava quando deixávamos a água pingar
no chão depois de um banho. É um hábito que levo comigo, mas não tenho
escolha. Não tenho toalha. Gotejando pelo chão, abro a porta do banheiro e
coloco minha cabeça para fora.
Todas as luzes estão apagadas.
“Droga,” murmuro para mim mesmo. Waverly deve ter ido para a cama
enquanto eu tomava o banho mais longo do mundo. Talvez consiga me
esgueirar para o quarto sem acordá-la ou a Pim, e roubar algumas roupas do
armário.
Mantendo os passos suaves, movo-me através do corredor escuro para a
sala de estar, onde as luzes da cidade lançam uma iluminação fraca através do
ambiente. Estou prestes a pegar um travesseiro do sofá para me cobrir quando
ouço:
“Liam?”
BN TOLER

Paraliso ao som da sua voz, enquanto puxo o travesseiro para cobrir meus
soldados. Levo um momento para absorver o que vejo.
Waverly.
Nua.
Nua e com os olhos vendados.
Ela está em frente às janelas, de frente para mim, uma máscara (dessas
de dormir) de seda preta cobrindo seus olhos. A iluminação do exterior
proporciona o pano de fundo perfeito, mostrando em silhueta cada curva
requintada de seu corpo.
Meu coração bombeia duro no meu peito, minha boca seca, enquanto olho
para ela, deixando meus olhos vagarem por cada centímetro do seu corpo.
“Liam?” Ela chama meu nome novamente, em respiração ofegante.
“Sim,” respondo, minha voz rouca.
“Estive esperando por você.” Sua língua dispara através de seus lábios.
Meu coração bate erraticamente enquanto eu bebo sua imagem. Nunca uma
mulher fez algo tão ousado como isto. É sexy, bonito e intenso ao mesmo
tempo.
“Você está com os olhos vendados,” eu noto.
“Então você saberá que através de cada minuto disto, só vou ver e sentir
você.
Dando um passo na direção dela, paro. Quero perguntar a ela se tem
certeza.... se está realmente certa, mas perguntar pode levar a uma resposta
negativa e, se ela não tiver certeza, teria que me parar. Algo que é quase
impossível para mim neste momento.
“Liam?”
“Estou aqui.” Asseguro-lhe, minha voz rouca.
Agarrando seus cabelos, ela os torce por cima do ombro.
“Se você não me quer...” ela começa.
“Pare.” Digo a ela. Querê-la não é o problema. Não é esta a questão e não a
deixaria pensar nisso.
Ela abaixa a cabeça e envolve seus braços em torno de seu estômago.
“Sinto muito. Pensei que você também me queria.”
BN TOLER

“Eu quero você,” rosno, com os dentes cerrados. “Mulher, você não tem
ideia do quão malditamente quero você.”
Levantando o queixo, ela pergunta:
“Então por que você não me toca?”
“Porque estou com medo.” Admito, quando passo uma mão pelo meu
cabelo molhado.
“Com medo de quê?”
“De tudo,” eu bufo. “Estou com medo do desconhecido, da ideia de que
provavelmente morrerei amanhã ou não, ou ficarei preso neste corpo para
sempre. Estou com medo de que se fizermos isso, só vai tornar muito mais
difícil o amanhã, o que vai me irritar ainda mais.”
“Também estou assustada,” murmura ela. “Mas me aterroriza pensar que,
se você for embora, se amanhã realmente for seu último dia, vou ter perdido a
chance de te sentir.”
Aperto meus dentes, suas palavras batendo-me direto no peito, enquanto
percebo quão certa ela está. Se esta é a única maneira, nossa única chance,
não quero perdê-la, não importa o quão fodido pareça.
“Tenho receio de que você se arrependa disso. Tem certeza, Waverly?”
Quero lembrá-la, novamente, sobre as incógnitas à nossa frente, sobre o fato
de que esta pode ser a nossa única noite juntos. Se vou morrer no dia seguinte,
isso será mais difícil para ela. No final, não falo essas coisas, pois sei que
Waverly já sabe tudo e não quero bater na mesma tecla.
“Se você não vir aqui e me tocar, me beijar,” ela ofega, “eu vou
enlouquecer, Liam. Por favor.”
Como sempre acontece quando estou com ela, minha vontade se
desintegra como açúcar na água. Não tenho dúvidas do que fazer, mas estar
com Waverly desta forma, provavelmente é errado em algum nível; não me
importo, no entanto. A quero mais do que minha própria vida. Deixo cair o
travesseiro, me movo e fico diante dela, nossos corpos a um fôlego de distância.
Estou desesperado para tocá-la, mas sei que observá-la, memorizando seu
corpo, sua boca e curvas, é uma tortura que vale cada momento de agonia.
Levantando a mão, deixo as pontas dos meus dedos patinarem suavemente
sobre sua clavícula, antes de levá-las pelo esterno entre seus seios pesados e
arredondados. Sua cabeça se inclina para trás, sua boca separando-se
ligeiramente, enquanto seu corpo curva-se e um gemido suave lhe escapa.
BN TOLER

“Tem certeza, Waverly?” Pergunto mais uma vez, pois preciso ter certeza.
Uma vez que começássemos, e sentisse seu corpo contra o meu, não teria
forças para me afastar, se ela, de repente, mudasse de ideia.
“Nunca estive tão segura na minha vida.” Deslizando sua mão sobre a
minha, ela segura, me forçando a apalpar seu peito macio e cheio. Grunhindo,
meu desejo cresce através de mim. Pego-a pelos ombros e a viro, tomando seus
braços e levantando-os, para que suas mãos estivessem contra o vidro. Minhas
mãos são impiedosas enquanto inspecionam o comprimento de seu corpo,
tomando seu tempo à medida em que passam sobre cada ponto, cada curva
suave.
“Você é excessivamente perfeita.” Ofego contra sua pele. Deixando minhas
mãos descerem por seus lados até seus quadris, e aperto, ganhando um
gemido dela. “Tão perfeita, Waverly.”
“Eu te quero tanto,” ela murmura, enquanto move o pescoço, pegando
meus lábios com sua língua.
Estou tão excitado que não sei por onde começar. Quero tomar meu
tempo, adorá-la, mas também levá-la rápido e com força. Quando Waverly
contorce o traseiro, pressionando-o em mim, quase perco a cabeça.
Envolvendo-a em meus braços, aperto-a firmemente, minha boca em seu
pescoço.
“Isso vai levar a noite toda,” a aviso, antes de morder o lóbulo macio da
sua orelha. “Vou tocar cada centímetro de você.”
“Espere,” ela geme, enquanto gira em torno de si mesma, para pressionar
suas mãos em meu peito. Meu estômago vira. Waverly não quer fazer isso. Ela
mudou de ideia.
“Merda,” suspiro. “Sinto muito. Eu não deveria...”
“Liam.” Interrompe ela. “Eu só quero fazer algo primeiro.”
“Controle de natalidade?” Questiono. Parece o tópico mais pertinente.
“Não,” ela balança a cabeça. “Encontrei preservativos, que estão no sofá,
mas obrigada por perguntar. É outra coisa.”
“O que você quer fazer?” Mordendo seu lábio inferior, Waverly abaixa a
cabeça ligeiramente. Daria qualquer coisa para ver seus olhos, para lê-los, para
ter alguma indicação quanto ao que ela está pensando.
“Mostre-me todas as suas tatuagens.”
BN TOLER

Olho para ela sem entender.


“Você quer ver as fotos novamente?”
“Não.” Ela balança a cabeça, enquanto sua boca curva ligeiramente para
cima. “Use minha mão. Descreva-as, mostre-me onde estão. Suas cicatrizes e
suas marcas de nascença também. Mostre-me tudo.”
Algo dentro de mim dói, uma dor excruciante e divina. Eu a amo. Já sei
disso, sem dúvida, porque só o amor pode ferir e curar tudo de uma vez.
Abaixando minha cabeça, a beijo.
“Como desejar.”
BN TOLER

CAPITULO TRINTA E SETE

Tomando minha mão, ele dobra suavemente alguns de meus dedos para
dentro da minha palma, então só dois ficam estendidos. Tocando-os em seu
peito, os move enquanto fala, descrevendo cada tatuagem. Liam leva um
tempo, enquanto move minha mão sobre seu corpo, de seu peito e seus braços,
para seu estômago e suas costas. E quando termina, aperta minha mão na dele
e beija cada um dos meus dedos.
Dói em mim... em toda parte. Eu nunca, em todos os meus dias, quis um
homem com tanta ânsia quanto o quero. Mesmo com os olhos vendados, um
dos meus sentidos completamente impedido, anseio por ele.
Levantando meus braços, ele os coloca em seus ombros e ao redor de seu
pescoço.
“O que você está fazendo?”
Liam não responde. Deslizando suas mãos pelas minhas laterais, fazendo
um arrepio crescer através de mim, ele as coloca na minha cintura e pressiona
sua bochecha contra a minha, enquanto nossos corpos se comprimem. Então,
lentamente, nos move.
Ele está dançando comigo.
Não há música e não consigo ver nada, mas isso é mais porque o sinto.
Sinto sua respiração em meu ombro, seu coração batendo em seu peito contra
o meu, sua pele contra minha. Sinto a maneira como ele me guia. Meu corpo
segue sua liderança sem questionar ou hesitar, confiando nele. Até onde
cheguei. Dias antes estava convencida de que nunca me sentiria assim por
ninguém. Tinha perdido a fé e esperança de que alguém viesse e ganhasse
BN TOLER

minha confiança desta maneira. Cresci nos anos desde que Max me deixou e,
em muitos aspectos, estava mais forte do que nunca.
Enquanto nos balançávamos no silêncio, penso no que Liam disse mais
cedo quando me ensinava a dirigir a moto. Como falou sobre confiar em si
mesmo o suficiente para fazer a poderosa máquina se mover, comparando a
uma dança; o dar e receber. Isto é tão diferente?
Puxando a cabeça para trás, ele levanta meu queixo e me beija.
Então, quando o beijo suave se transforma em febril, nossas mãos cavam
na carne um do outro e nossas respirações tornam-se ofegos e gemidos, e
mudamos para um tipo diferente de dança.
Uma bela dança de corpos retorcidos.
A dança mais sagrada de todas.
BN TOLER

CAPITULO TRINTA E OITO

São apenas oito da manhã quando Pimberly senta ao meu lado, a cabeça
encostada no meu braço enquanto bebe leite de seu copo. Dormi mais tarde do
que de costume. Havia colocado Waverly na cama não muito antes, mas não
conseguia dormir. Estava muito ansioso. Ainda assim, gosto disso. Este é o
momento para Pim e eu desfrutarmos. Quando nos sentamos em silêncio e Pim
luta para emergir de sua névoa da manhã, minha mente se afasta para outro
lugar.
A noite anterior, que havia acabado nas primeiras horas da manhã, foi a
melhor noite da minha vida. Imagens de Waverly, nua, a boca entreaberta
enquanto ela ofegava e gemia de prazer, seus dedos enfiados nos meus cabelos,
seu corpo arqueado no sofá com as luzes da cidade aumentando cada curva
suave do seu corpo, foram impressas como um carretel que corre
repetidamente na minha cabeça. Nós mordemos, arranhamos e chupamos
cada centímetro um do outro, antes que terminássemos em cima do sofá,
Waverly me montando enquanto embainhava-me dentro de si.
É o sentimento mais intenso que já senti. Uma tempestade perfeita dos
desejos dos corpos, das necessidades das almas e dos desejos dos corações.
Quando senti a parte mais profunda dela, estava sentado e segurando-a no
lugar, enquanto apertava minha testa entre seus seios. Waverly envolveu seus
braços ao redor da minha cabeça e me segurou à medida em que relaxava
sobre mim, compreendendo que eu precisava dela parada por um momento,
desse sentimento para permanecer comigo o máximo de tempo possível. No
momento em que consegui me mexer de novo, beijei todo o caminho até seu
seio e sacudi minha língua contra seu mamilo. Deixando cair sua cabeça para
trás, ela choramingou, antes de voltar, para descansar sua testa contra a
minha.
BN TOLER

“É uma sensação tão boa ter você dentro de mim, Liam,” ela sussurrou.
“Eu nunca quero que isso termine.”
Dizer meu nome com luxúria foi brutal e incrível de uma só vez. Daria
qualquer coisa para rasgar a máscara do seu rosto e olhar em seus olhos, mas
sabia que, tanto quanto queria vê-la, ela não me veria. Tinha que ser assim. Se
não posso ter sua visão, devoraria todos os seus outros sentidos de todas as
formas possíveis, para que ela me sentisse. Pode não ter sido o meu corpo, mas
fui eu; meu coração, minha alma, meu amor.... Eu.
Finalmente, relaxei minha mão e Waverly se levantou lentamente antes de
deslizar de volta para baixo. Isso foi apenas o começo. Quando lhe disse que ia
demorar toda a noite, quis dizer isso. Nós fomos lentos enquanto ela montou
em mim, e então rápidos quando a virei no sofá, a possuindo com suas pernas
sobre meus ombros. De lado, de joelhos comigo atrás dela, fizemos tudo. No
final, estávamos no chão, meu corpo sobre o dela, quando nos beijamos.
Sentimos isso, o fim à vista. Estivemos a bordo de um foguete por horas, mas
apenas como os foguetes devem aterrar, soubemos que teríamos também.
Agarrando meu rosto em suas mãos, à medida em que eu deslizava para dentro
e para fora dela, sua voz era áspera, com uma pitada de emoção, quando disse:
“Aconteça o que acontecer amanhã, preciso que saiba bem aqui, agora,
que acredito em você. Preciso que você saiba que eu te amo, Liam.”
“Vroom-vroom.” Pim sibila, me acordando de meus pensamentos. Sorio,
quando a puxo para cima e a sento no meu colo. Colocando sua pequena mão
macia em meu rosto, empurro minha cabeça e finjo que vou mordê-la. Ela ri.
Beijo sua testa, meu peito doendo. Dizer adeus a Pimberly é tão difícil
quanto dizer adeus a Waverly, pois ela foi a primeira pessoa a gostar de mim
como Max. Pim, mais do que ninguém, tem todas as razões para odiá-lo depois
de ser abandonada por ele, mas ela é muito jovem para entender o que
aconteceu. A conheci como uma lousa limpa. Dói pensar no que acontecerá
depois. Se Max e eu trocarmos de volta e eu morrer, ou nós dois morrermos,
Pim não entenderá por que estive aqui um dia e não no próximo. Odeio isso. É
mais um exemplo de por que tudo isso parece um castigo. Talvez seja, mas
estou grato por cada momento doce com esta menina; os abraços, os risos,
suas mãos cheias de espaguete manchando meu rosto. Tudo isso. Cada
momento foi um presente.
“Eu não sei o que vai acontecer hoje,” murmuro calmamente, “mas,
apenas no caso, quero que você se lembre de algumas coisas. Primeiro, nunca
BN TOLER

andar de moto sem um capacete. Em segundo lugar, não subir em uma


motocicleta com qualquer um. Apenas monte com um cara que você conhece e
que realmente se importa com você.”
Apertando-a, continuo.
“Em outra vida, se fosse seu pai, você seria a mais incrível pequena
motociclista que já andou no planeta. Ensinaria-lhe a montar sua própria
moto, para que não precisasse confiar em caras motociclistas sujos para ajudá-
la. Sua mãe ameaçaria me matar por ter deixado você dirigir uma motocicleta,
no entanto.”
Meu peito dói com aquele pensamento. Uma vida com Waverly e Pim; uma
vida onde éramos uma família. Uma vida que sinto no fundo que nunca terei.
Tudo parece tão injusto, tão cruel. Por que diabos me colocaram aqui apenas
para que pudesse me apaixonar por Waverly e por esta garotinha, só para que
fossem arrancadas de mim? Respirando fundo, afasto a raiva que tenta me
dominar. Ficar com raiva não ajudará. Não mudará nada.
Tomando sua pequena mão na minha, corro meu polegar sobre sua pele
suave.
“Você tem uma estrada difícil pela frente, pequena. Você não entende o
que seu pai fez e, quando finalmente for capaz, ainda não entenderá realmente.
Sinto muito por isso, porque sei que você vai querer respostas. Vai querer
saber por que ele se afastou de você, mas às vezes não recebemos respostas e,
as que conseguimos, não fazem nada melhor. Algumas pessoas estão apenas
quebradas. Seu pai é uma delas. Mesmo que nenhuma de suas ações tenha
provado isso, acho que ele desejou que pudesse estar em sua vida.
Simplesmente não sabia como.”
Pim descansa a cabeça contra meu peito enquanto eu falo. Sei que ela não
consegue entender o que estou dizendo, mas digo, de qualquer maneira. Não
sei por que. Talvez seja mais para mim do que para ela.
“Obrigado, Pim,” sussurro para ela, lutando contra o nó na minha
garganta. Droga, odeio isso. Odeio ter que dizer adeus, porque não sei com
certeza o que acontecerá. Quero culpar a abstinência de esteroides pela minha
emoção, mas sei melhor. Os sintomas diminuíram significativamente nos
últimos dias. Meu coração está apertado enquanto seguro Pim. A abstinência
definitivamente não á a causa. Isso é real, sou eu, Liam, dizendo adeus a uma
garotinha que desejo que fosse minha. Ela é minha. Pelo menos, para mim, é.
Não ligo para quem ajudou a fazê-la ou como é sua constituição genética, no
BN TOLER

meu coração Pimberly é e sempre será minha filha. “Quero que saiba que você
fez meus últimos dias nesta terra melhor do que qualquer um, antes de te
conhecer.” Minha respiração estremece enquanto luto para mantê-la firme.
“Obrigado por isso, querida. Eu te amo.”
Pim se senta e olha para mim.
“Está bem, Liam?” Sorrio com voz rouca, sua pergunta aquecendo meu
coração e quebrando ao mesmo tempo. Pim está me verificando, certificando-se
de que estou bem. Como pode alguém tão pequeno me causar um sentimento
tão intenso? Um soluço surge do nada e levanto minha cabeça. Helen está a
vários metros de distância, seu rosto molhado de lágrimas. Havia destrancado
a porta quando ela me enviou uma mensagem antes, dizendo que estava no
caminho, para que não precisasse bater e acordar Waverly.
“Oh, Liam,” Hel ofega. “Isso é tão injusto.”
Limpando a garganta, luto para ganhar a compostura. Tenho um longo
dia pela frente e essas mulheres precisam que eu seja forte, seja a rocha. Se
tudo acabar para mim naquele dia, é isso que quero lhes dar.
“Venha aqui, Helen,” digo a ela. Hel praticamente voa na minha direção e
se senta ao meu lado. Sentamos no sofá, seguro-a e Pim enquanto Helen
soluça. Mesmo para uma idade tão jovem, Pimberly parece entender que algo
grande está acontecendo, pois bate no braço de Helen e gorgoleja algo que soa
como está tudo bem? E, quando Helen continua a chorar, Pim tenta fazer
brincadeiras para animá-la. Através das lágrimas e soluços, Helen ri.
“Não é justo,” minha irmã chora.
“Nada disso é justo.” Aperto-a, lutando pelas palavras certas. Hoje não é
um dia apenas para lamentações. Hoje Hel precisa ouvir que estou bem. Tenho
que fazê-la acreditar. “Você sabe,” começo, “depois do acidente, antes de ficar
inconsciente, você foi a última pessoa em quem pensei.”
Erguendo seu olhar para o meu, ela pergunta:
“Sério?”
“Pensei em como não te via há tanto tempo e como deveria estar louca.
Não deveríamos ter nos afastado, e naquele momento você teria que identificar
meu corpo. E me odiava por isso.”
“Eu senti sua falta,” ela murmura. “Chegar ao hospital e vê-lo na cama
daquele jeito foi o pior dia da minha vida.”
BN TOLER

“Eu sei que foi,” concordo com ela. “Me desculpe por ter feito isso com
você. Espero que saiba que nunca poderia ter conseguido passar por isso sem
você, Hel. Sou grato, irmãzinha. Grato por você ser minha irmã, que a tive do
meu lado, quando ninguém mais teria acreditado, e sou grato pela chance de
chegar a dizer...” paro, sabendo que isso será difícil para ela ouvir.
“Adeus?” Ela grunhe.
“Sim, Hel. Adeus. Não sabemos o que vai acontecer hoje, mas devemos
estar preparados para o pior; esperar o pior ou o melhor. Se morrer, quero ter
dito todas as coisas que preciso. Por mais difícil que seja, sinto-me tão
abençoado por ter a chance de dizer a você.” Beijando a parte superior de sua
cabeça, continuo: “Todas aquelas noites na rua senti tanta pena de mim
mesmo, que não tinha nada, mas estava errado. Se Max me ensinou alguma
coisa, foi isso. Eu tinha alguém que, seja o que for, sempre me amaria e
cuidaria de mim. Eu tinha você. Ter alguém assim vale mais do que todo o
dinheiro do mundo.”
“Sempre cuidarei de você, Liam. Sempre.”
“Sei disso. Também sabia antes. Só... odiava decepcioná-la.”
“Você nunca foi uma decepção para mim. Nunca,” Helen repete, enquanto
enxuga seu nariz. Seguro-a um pouco mais, enquanto ela chora.
“Fale comigo, ok?” Digo a ela. “Você não vai me ver, mas vou estar
escutando, Hel. Sempre que você precisar falar, estarei ouvindo.” Seu corpo
treme com soluços silenciosos, destruindo minhas entranhas e, quando
finalmente parece se acalmar, ela se senta e enxuga seu rosto.
“Vou preparar o café para nós,” anuncia, enquanto move a cabeça em
direção a Pim. “Você quer um pouco de panqueca?” Pim estende os braços para
Helen e nós dois rimos. Essa garota adora comer. Helen levanta-se e a pega.
“Estaremos na cozinha.” Depois que elas estão fora de vista, vou para o quarto
acordar Waverly, mas descubro que ela já se encontra de pé.
Waverly está saindo do banheiro quando entro. Um sorriso fraco toma
seus lábios, enquanto ela cora ao me ver. Não consigo parar de sorrir. Ela é
deslumbrante.
“Bom dia, linda.”
“Bom dia,” Waverly responde calmamente, enquanto empurra alguns
cabelos atrás da orelha. Caminhando até ela, dou-lhe um beijo casto.
BN TOLER

“Como você está se sentindo?”


“Um pouco dolorida.” Ela admite e faço uma careta. Fui um pouco áspero
em alguns momentos na noite anterior, mas nunca quis machucá-la. “Da
melhor maneira, no entanto,” ela rapidamente esclarece, acalmando minha
preocupação.
“Helen está fazendo panquecas para Pim,” informo a ela.
“Eu queria me levantar cedo e fazer para você o café da manhã,” puxando-
a para mim, a seguro.
“Tudo bem. Não tenho muito apetite esta manhã.”
Descansando sua cabeça em meu peito, ela toma algumas respirações
lentas, inalando profundamente, como se tentasse se acalmar.
“Ontem à noite foi...” ela faz uma pausa. Não porque procura o que queira
dizer, mas porque tenta não chorar enquanto fala.
“A melhor noite da minha vida,” digo a ela. “Não posso dizer o quão grato
eu sou. Por tudo isso, Waverly. Você precisa saber, não importa o que
aconteça, que é uma mulher incrível, e merece apenas o melhor.” Ela funga
quando estende a mão e segura minha camisa.
“Gostaria de saber o porquê,” me diz, com voz rouca.
“Eu também,” admito, enquanto esfrego suas costas. “Bem, eu quis, mas
agora, não me importo. Não mais. Porque, se não tivesse acontecido, não teria
conhecido você.”
Deslizando para longe de mim, ela enxuga debaixo dos seus olhos. Então
ergue seu úmido olhar para o meu.
“Sem arrependimentos, Liam. Eu não tenho nenhum. Não importa o quê.”
Tomando sua mão, aperto-a, rezando silenciosamente pela força para
superar este dia. “Vamos tomar café com Pim. Quero passar cada segundo que
posso com minhas três mulheres favoritas.”
“Como quiser,” murmura Waverly.
BN TOLER

CAPITULO TRINTA E NOVE

O clima hoje está pesado. Mesmo ao longo da manhã, isso nunca deixou
minha mente. Há um acordo tácito entre Helen e eu; faremos o possível para
dar a Liam o melhor último dia da sua vida. Nenhum de nós sabe ao certo o
que acontecerá quando tirarem o corpo de Liam do suporte vital, mas estamos
nos preparando para o pior, porque, no convés da vida, o mais provável é
sermos tratados com as piores tormentas. Essa não é a pessimista em mim, e
sim a realista.
Matt manda uma mensagem, pedindo para pegar Pim às dez e respondo
dizendo-lhe que o encontraria na frente do prédio. Não preciso que ele entre e
faça outra cena. Não é culpa de Matt, uma vez que ele está apenas tentando
ser um bom irmão, mas não posso lidar com sua raiva naquele dia. É demais.
Devo-lhe um milhão de desculpas, mas elas vão ter que esperar.
Liam nos acompanha até o elevador, segurando Pim firmemente em seu
peito. Sua boca está pressionada em uma linha dura e, embora tente não
demonstrar o quão doloroso é, posso ver isso espalhado em seu rosto.
Fechando os olhos, Liam inala profundamente pelo nariz, como se tentasse
respirar.
“Eu te amo, querida,” ele murmura baixinho. “Obrigado,” continua. “Um
milhão de vezes, obrigado.”
Meus olhos ardem de lágrimas enquanto o observo beijar a testa de Pim e
depois entregá-la para mim. Os olhos da minha garotinha parecem cair. Ela
pode não entender o que está acontecendo, mas sabe que algo está errado.
“Liam.” Pimberly chama, enquanto estende uma mão para ele. Liam
toma-a, à medida em que engole em seco, o pomo de Adão balançando, antes
de beijá-la, então ele olha para mim, seu olhar úmido e cheio de desculpas,
BN TOLER

antes de girar sobre o calcanhar e voltar para o apartamento. Liam não


aguentou mais e não o culpo por não olhar para trás quando Pim chora,
porque sei que não pode, uma vez que seu coração está se quebrando.
Quando encontro Matt na frente, estou perto de quebrar. Ele olha para o
meu rosto e faz uma careta. Pim ainda chora e ele a pega e começa a acalmá-
la.
“Você está bem?” Ele pergunta.
Não consigo falar. Estou bem? Mal sabia. Tudo está prestes a desmoronar
e apenas começou a se unir. É muito para explicar e, mesmo que não seja, não
posso. Então, balanço a cabeça.
“Sim, estou bem. Podemos conversar amanhã?”
“Você está bem comigo ficando com Pimberly esta noite?”
“É claro, Matt,” engasgo, lutando com cada fibra de meu ser para não
chorar na frente dele.
“Waverly?” Ele chama, com a testa enrugada de preocupação.
Levanto a mão, parando-o e me comprando alguns segundos para
controlar a tarefa de formar palavras, sem que elas saiam em soluços.
“Estou bem,” digo a ele, balançando a cabeça um pouco, com muito
entusiasmo.
“Sei que a noite passada foi... feia,” ele baixa a cabeça, “estava apenas
preocupado. Você e Pim são a única família que tenho. Sou protetor com
vocês.”
“Matt,” fungo. “Eu também sinto muito. Prometo que vou explicar tudo
para você, mas... agora não posso.”
Ele balança a cabeça algumas vezes, em entendimento.
“Vou ligar e verificar como Pimberly está mais tarde.” Beijando Pim
rapidamente, corro para dentro e paro imediatamente antes de entrar no
elevador. Não consigo apertar o botão do elevador, não até me recuperar. Estou
cega pela dor e por um imenso medo do desconhecido. Dói pensar na situação:
o homem que amo preso no corpo de Max. Em Liam morrendo; deixando-me
quando acabamos de nos encontrar. Mas o pior é vê-lo caminhar até sua morte
provável, com tanta dor, enquanto tenta permanecer forte para nós. É horrível
testemunhar.
BN TOLER

“Senhora?” Olhando para cima, encontro Braxton com um sorriso


compassivo, enquanto tira um lenço do bolso e me entrega. “Está limpo.”
Tomando-o, limpo meu rosto e nariz.
“Vou ter que lhe comprar uma caixa destes.”
“Eu tenho um milhão,” ele ri. “Ganho uma caixa em meu aniversário e no
Natal todos os anos.” Observando-me por um momento, franze a testa e
pergunta: “Perdoe-me se estou me intrometendo, senhora, mas está tudo
bem?”
Aceno algumas vezes.
“Somente... tenho um dia duro pela frente.” Respondo, enquanto bato no
botão de chamada do elevador. Braxton é um homem gentil por me verificar,
mas não quero chorar na frente dele. Não gosto de pessoas me vendo
vulnerável, especialmente estranhos.
“Qualquer coisa em que possa ajudar?” Braxton pergunta. As portas do
elevador se abrem e ele estende a mão para mantê-las abertas para mim.
“Acho que não, Braxton,” murmuro, quando entro.
“Bem, deixe-me saber se houver.” Com uma leve batida em seu chapéu,
Braxton se afasta, e as portas começam a fechar. Sacudo meu braço para fora,
as paro quando ele se vira para ir embora.
“Braxton,” chamo. Ele se vira para me encarar.
“Sim, senhora?”
“Se você é um homem de oração,” digo calmamente, “ore por um milagre.”
Ele estreita os olhos, enquanto inclina a cabeça.
“Sim, senhora.”
BN TOLER

CAPITULO QUARENTA

Nós três caminhamos para o hospital. Está muito quente fora do prédio,
mas quero estar ali mais uma vez, sentindo o sol no meu rosto. Estamos
calados. Ninguém diz uma palavra. Afinal, o que você fala para um homem
morto andando?
Uma vez que chegamos ao hospital e estamos em pé, do lado de fora do
quarto, somos abordados por uma enfermeira com cabelo comprido cor de
cobre, amarrado em um rabo de cavalo alto.
“Bom dia,” ela sorri tristemente.
“Max,” Helen lança um olhar para mim. “Esta é Kym. Ela é a terapeuta
respiratória diurna de Liam desde que chegou aqui.”
“Oh.” Aceno com a cabeça. “É um prazer conhecê-la, Kym.”
“Gostaria que fosse sob melhores circunstâncias,” ela diz, enquanto
apertamos as mãos. Olhando para Helen, Kym informa: “Fizemos três EEG29
novamente, mas não houve sinal de atividade cerebral.”
Helen baixa a cabeça.
“Então não há esperança?” Pergunto, lutando para aceitar o que a linda
mulher de cabelo de cobre nos diz.
“Vou pedir ao Dr. Malcom que entre e fale com vocês em breve.” Entendo
isso como não, não há esperança. Ela simplesmente não quer ser a única a nos
dizer isso exatamente. Não a culpo. Médicos são pagos mais, então eles devem
ser os portadores da pior notícia.
Depois que Kym corre para longe, me viro para Helen e Waverly.

29 Eletroencefalografia/ eletroencefalograma.
BN TOLER

“Posso... ter alguns minutos?”


Hel e Waverly olham uma para a outra, a incerteza em seus olhos, e
depois para mim. Não querem deixar meu lado e, mesmo me sentindo mal, isso
também faz meu peito doer de uma boa maneira, pois sou amado.
“Só alguns,” asseguro a elas.
“Claro,” Helen diz. “Vamos tomar um café.”
Waverly beija minha bochecha antes que as duas se afastem, de braços
dados. Enquanto as observo desaparecer pelo corredor, a única coisa que me
faz sentir melhor quando penso em minha morte provável é que ambas teriam
uma à outra.
Entrando na sala, não fico surpreso ao descobrir que meu corpo parece
pior do que dias antes. Se me solicitassem a descrição geral do quarto, teria
usado o termo totalmente deprimente. Sentando ao lado da cama, me inclino
para trás e olho para o meu corpo. Ainda me parece surreal estar no corpo de
Max enquanto olho para o meu. É uma loucura acreditar que, preso dentro da
sagrada concha do corpo diante de mim, sendo inflado e esvaziado como um
balão por uma máquina, é muito provável que seja Max. Me pergunto se ele
sabe o que está acontecendo; se entende que está no corpo de outro homem.
“O tempo acabou, Max,” digo a ele. “Temos que puxar o plugue. Não tenho
certeza sobre você, mas estou enlouquecendo um pouco por causa disso,”
sorrio. Não porque é engraçado, mas porque é melhor do que chorar ou ficar
com raiva.
Em pé, coloco minhas mãos nos trilhos da cama e observo o rosto pálido,
com olhos fundos, meu coração também afundando. Há alguma chance de que
meu corpo possa continuar? Com o cérebro morto e falência dos órgãos, não
penso que sim.
“Não sei o que vai acontecer,” admito, “mas tenho a sensação, por alguma
razão, que não vou ficar bem. Juro, Max, se você sair dessa, e voltar para
dentro do seu corpo, é melhor parar de fazer merda. Lamento que sua infância
tenha sido solitária e houve pessoas que te decepcionaram, mas não é uma
desculpa.”
Caminhando até a janela, olho para fora. A vista é horrível, nada além de
uma parede de tijolos do outro lado do hospital. Parece a metáfora da nossa
situação. Não é onde estávamos? O fim? A parede de tijolos metafórica?
BN TOLER

“Se eu sobreviver a isso,” resmungo, com raiva, principalmente porque não


acredito que vá conseguir, “vou amar aquela garotinha como se fosse minha, e
Waverly e eu ficaremos juntos... se ela me aceitar.”
Voltando para a cama, olho para baixo.
“Naquele dia eu vi você... o dia em que te salvei... você parecia um homem
que tinha tudo resolvido. Um homem que tinha tudo.” Bufo para mim mesmo,
enquanto cruzo meus braços. “Estive me perguntando o porquê disso acontecer
comigo; o que fiz para merecer isso, mas agora estou me questionando se,
talvez, isso é na verdade sobre você. Quem sabe isso tenha acontecido para te
ensinar alguma coisa.”
Respirando fundo, balanço a cabeça. Penso sobre Max, sua vida e
escolhas. Penso no Dr. Banahan e na luz que ele derramara sobre a vida de
Max.
“Vi o seu terapeuta, Max,” confesso, perguntando-me se ele se sentirá
humilhado sabendo que outro homem sabe das coisas que ele mais se
envergonha. “Não foi sua culpa. Sua mãe estava doente. Ela tirou a vida porque
não sabia mais o que fazer. Sei que você também esteve doente, e que percebeu
isso um pouco tarde, depois que empurrou para longe a única mulher que
amou e renegou sua filha. Isso não faz com que suas atitudes sejam certas,
mas entendo por que aconteceu.”
“Não sei se você está aí, Max,” continuo. “Mas se estiver... se sobreviver a
isso... não jogue a chance fora outra vez. Eu te salvei, cara. Não acabe com isso
porque você se sente indigno. Se você não consegue lidar com seus problemas,
assine os papéis. Se não pode estar lá para sua filha de todo o coração, então
deixe ela e Waverly irem.”
A porta se abre, e Helen olha para dentro.
“Você ainda precisa de mais tempo?”
“Não,” digo a ela. “Entrem.”
Kym entra atrás deles com o Dr. Malcom, um homem alto com cabelos
grisalhos e óculos, que explica o processo de tirar alguém do suporte vital. Há
um monte de termos médicos usados que nunca me lembrarei, mas entendo o
que está sendo explicado.
“Vamos dar-lhe morfina antes de começar a extubação e, em seguida, a
cada quinze minutos, até que seu coração pare de bater.”
BN TOLER

“Levará apenas alguns minutos?” Waverly pergunta, seu lábio tremendo.


Puxo-a para mim e seguro-a ao meu lado, desejando que pudesse de alguma
forma tomar essa dor dela.
“Pode levar alguns minutos ou mesmo até uma hora, em alguns casos
raros. Você pode achar que ele vai parar de respirar por longos períodos de
tempo, então de repente tomar um fôlego. Pode haver sons estranhos, mais
como gorgolejar. É importante entender que estes não são sinais de que
sobreviverá ou despertará.” Balanço a cabeça e inalo profundamente. Kym
avança em direção a Helen, uma prancheta agarrada em seus braços.
“Precisamos que você assine esses formulários antes que possamos iniciar
o procedimento.” Helen pisca algumas vezes enquanto ela, com uma mão
trêmula, pega a prancheta antes de olhar para mim.
“Está tudo bem, Hel,” asseguro a ela, com o sorriso mais reconfortante
que poderia reunir. “Está na hora.”
BN TOLER

CAPITULO QUARENTA E UM

Helen sai para o corredor com a enfermeira e o médico a fim de assinar os


formulários, deixando Liam e eu sozinhos.
Tentei tão malditamente não chorar na frente dele toda a manhã, mas
enquanto olho em sua direção, então de volta para a cama, para o seu corpo,
praticamente sem vida, quebro. O desconhecido está me matando. Não saber o
futuro é tão devastador, como se soubéssemos com certeza que ele morrerá. As
lágrimas se libertam tão fortemente que caio no chão em uma confusão de
soluços. Liam cai ao meu lado, me pegando em seus braços, segurando-me
com força enquanto soluço alto.
Aqui estávamos, possivelmente a poucos minutos da sua morte e ele está
me confortando.
“Você ainda está com medo?” Choro, enquanto enfio meu rosto entre o
seu pescoço e ombro.
Ele não responde por um momento. Então:
“Se eu disser que sim, você me acharia fraco?” Murmura.
Aperto seu braço.
“Não. De modo nenhum. Eu estaria uma bagunça, se fosse você agora.”
Então bufo. “Não sou você e ainda estou uma bagunça agora.”
“Vai ficar tudo bem, Waverly.” Ele tenta me confortar.
Empurrando-me um pouco para longe dele, tomo seu rosto em minhas
mãos, forçando-o a olhar para mim.
“Não vá,” lhe imploro. “Por favor, Liam. Por favor, não vá.” É horrível da
minha parte questioná-lo, como se ele tivesse algum controle sobre isso. Ou
BN TOLER

será que tem? Minha capacidade de raciocinar está em um cabo de guerra


entre meu coração e minha mente, e quanto mais lutam, mais ansiosa e
desesperada me sinto. “Não temos que tirar seu corpo do suporte à vida.”
Indico, minha voz implorando. Os músculos da sua mandíbula tremem quando
ele desvia o olhar, lutando para manter as emoções sob controle. Sei que estou
sendo irracional, mas não me importo. Não posso perdê-lo. Não posso. Não sou
forte o suficiente para aguentar isso.
Tomando minha cabeça em suas mãos, ele pressiona nossa testa juntos.
Sua voz está rouca, a emoção evidente, enquanto calmamente me diz:
“Tem que ser feito, Waverly.”
“Não,” discordo. “Você não tem que fazer isso.” Bato o lado do meu punho
contra seu peito, egoisticamente querendo machucá-lo da maneira que estou
machucada. “Ainda não. Poderíamos ter mais alguns dias,” imploro a ele.
“Waverly,” ele implora.
Liam está dizendo não. Não há mais espera. Não há mais dias. É isso. A
raiva surge através de mim, enquanto empurro-o para longe e tropeço em meus
pés, meu rosto aquecido e molhado com lágrimas.
“Maldito seja você!” Choro. “Como devo seguir agora? Como vivo depois de
te perder?”
Liam se move rapidamente e, antes que perceba, meus braços estão
firmemente presos por ele.
“Eu sinto muito,” rosna para mim. “Se você acha que a ideia de morrer e
deixar você para trás não está me matando, está errada. Não quero um ou
alguns dias, eu quero centenas e milhares de dias. Quero vê-la sorrir para
mim, para o meu rosto,” enfatiza, com os dentes cerrados. “Não o de Max.
Quando te levar para a cama, quando estiver profundamente dentro de você, te
amando, quero que seja eu, que você me veja quando me olhar, enquanto geme
e diz que me ama. Eu, Waverly... tudo de mim. Meu coração, minha alma, meu
corpo.” Ele para por um breve momento, e aperta meus braços um pouco
mais, como se estivesse tentando transmitir tudo o que sente através de seu
aperto para mim. “Está na hora, Waverly,” ele murmura. “Talvez eu acabe em
seu corpo para sempre e, se acontecer, vamos fazer isto entre nós funcionar,
mas você tem que ser capaz de aceitar se não ocorrer. E tem que continuar.
Quer saber como?” Ele me pergunta, enquanto me empurra suavemente. “Você
apenas faz.”
BN TOLER

Soltando meus braços, ele pega meu rosto em suas mãos e usa seus
polegares para limpar minhas bochechas molhadas. “Você vai fazer isso por
mim.”
Derretendo em seus braços, choro enquanto ele suavemente acaricia meu
cabelo. Liam sussurra seu amor e adoração. Diz belas palavras, enquanto me
aconchega. Promete que tudo ficará bem. Quando Helen volta com o médico e
Kym, estou mais calma, embora ainda chorando.
“Eles estão prontos para começar,” Helen nos informa, seus olhos úmidos.
Virando-se para ela, Liam a abraça com força.
“Eu te amo, Hel Cat,” ele sussurra, onde os outros não podem ouvir. “Se o
bebê for uma menina, nomeie-a Liamina.” Liam tenta brincar, desesperado
para fazê-la rir mais uma vez. Ela não ri, mas consegue forçar um sorriso,
enquanto se afasta dele.
“Eu também te amo,” Helen murmura.
As despedidas foram feitas, os papéis assinados. É isso.
Liam segura-nos a ambas, uma em cada braço em seus lados, enquanto
assistimos Kym começar o processo de extubação. A enfermeira coloca uma
toalha sobre o peito, preparando-se para o trabalho. Antes de começar, silencia
as máquinas que monitoravam a freqüência cardíaca e pressão arterial. O
médico explicou que, uma vez que a máquina que lhe fornece oxigênio fosse
desligada, a pressão sanguínea e frequência cardíaca se alterariam e as
máquinas ficariam altas, se não as silenciassem.
“Agora vou cortar seu oxigênio.” Kym nos informa. Liam aperta minha
mão quando nossos olhares se encontram.
“Eu te amo,” sussurra ele.
Antes que eu consiga responder, Kym pressiona o botão para parar o
suprimento de oxigênio.
Então ouço um baque alto.
Levantando minha cabeça em direção ao som, olho inexpressivamente,
choque me fazendo muda e imóvel.
O corpo de Max encontra-se no chão.
“Liam,” grita Helen, tirando-me do meu estado de incredulidade. Nós duas
caímos de joelhos ao lado dele, avaliando-o. Endireitando a cabeça, bato em
seu rosto algumas vezes, tentando acordá-lo, mas ele está apagado. Dr.
BN TOLER

Malcom apressa-se para nós, com uma pequena lanterna, espremendo as


pálpebras abertas, antes de verificar seu pulso e dizer:
“Seu coração está muito rápido.” Nesse momento, os olhos de Max se
abrem e estreitaram com sonolência enquanto ele olha em volta.
“Onde estou...” ele para quando seu olhar cai sobre mim. “Waverly?”
Murmura em descrença. “Onde estou?” Meu coração congela em meu peito
quando uma familiaridade vem e envolve os braços ao meu redor. Reconheço o
homem olhando para mim. E não é Liam. E sim Max, que está de volta em seu
corpo, O que só pode significar uma coisa. Liam voltou para o dele. Hel e eu
trancamos nossos olhares, enquanto o que acontece cai sobre nós.
“Este é Max.” Digo a ela, mal conseguindo formar as palavras, enquanto o
choque me sufoca. Nós duas olhamos para a cama onde Kym acaba de colocar
uma máscara de oxigênio sobre a boca e nariz de Liam. Mesmo depois de
removerem o ventilador, ainda lhe darão oxigênio através da máscara, até que
seu coração pare de bater. Liam está oficialmente fora do suporte vital. Meu
peito sobe e desce quando a realidade me afunda. Eles trocaram de corpos e
Liam está morrendo. O pior cenário está acontecendo. Minhas emoções são
rapidamente interrompidas quando Max começa a convulsionar, seus olhos
rolando para trás em sua cabeça enquanto ele espuma na boca.
“Ele está tendo uma convulsão.” Dr. Malcolm grunhe, enquanto rola Max
de lado, para evitar que se asfixiasse. “Kym, peça alguma ajuda.” Sinto como se
tivesse sido atingida. Tudo está acontecendo tão rápido e não sei como
processar isso.
“Ele tomou alguma coisa?” O médico pergunta, enquanto outros se
apressam para ajudar. Helen e eu ficamos chocadas, ambas lutando para
compreender o que está acontecendo. Eu sei que Liam não tomou nada
naquela manhã. Então os olhos de Helen se arregalam quando sua mandíbula
se afrouxa, como se algo tivesse acabado de ocorrer a ela.
“As pílulas.” Ela diz mais para mim do que para qualquer um. Olho-a sem
entender. “A nota e as pílulas.” Helen tenta novamente, para me ajudar a
entender.
“Ele tomou pílulas?” Pergunta o médico.
“Acho que ele tentou se matar,” Helen esclarece e então o entendimento se
apodera de mim, minha boca se abrindo. Liam tinha razão. Max tentou acabar
com sua vida e, quando o fez, trocaram. Agora, Max acordara em seu corpo
BN TOLER

novamente, e continua de onde havia parado. Tendo uma overdose. Agora,


ambos estão morrendo.
BN TOLER

CAPITULO QUARENTA E DOIS

Depois de tirarem o corpo de Max do quarto, Helen e eu ficamos


congeladas enquanto olhamos para Liam. Se observarmos atentamente, o seu
peito se eleva ligeiramente, quando respira fundo. Ele ainda respira, mas mal.
Helen se move para o lado esquerdo da cama e me movo para o direito. Há
apenas alguns momentos atrás, ele ainda estava aqui, ao nosso lado, no corpo
de Max.
O médico disse que poderá levar até uma hora para parar de respirar,
para passar. Tomando a mão dele na minha, digo a ele:
“Estamos aqui, Liam. Estamos aqui com você.”
Helen pega a outra mão na dele.
“Nós estamos com você, Liam,” Helen ecoa minhas palavras.
Segundos se tornam minutos e, em pouco tempo, passam-se vinte
minutos. Algumas vezes ele para de respirar e nós também, enquanto
esperávamos para ver se ele respiraria novamente. E quando retornava,
exalávamos com alívio. Ele ainda vive. Ainda o tínhamos.
Após trinta minutos, Kym entra e nos atualiza sobre Max.
“Limparam seu estômago, mas seu nível de álcool no sangue está acima
do normal, e deu positivo para níveis elevados de opioides. Ainda estão
tentando estabilizá-lo.
Sabíamos que Liam não tomou álcool ou pílulas naquela manhã, porque
estávamos com ele a cada segundo, ele mal conseguia ir ao banheiro sozinho.
“Isso é loucura,” Helen murmura, enquanto olha para o rosto do irmão.
BN TOLER

“Por favor, mantenha-nos informados,” digo a Kym. Ela assente uma vez e
olha para Helen.
“Acredito que seu filho está lá fora,” informa ela. “Pedi que me deixasse te
buscar primeiro, porque não tenho certeza se você quer que ele entre ou não.”
“Droga,” Helen suspira, sua boca apertando. “David queria vir hoje, mas
lhe disse que não,” ela explica. “Ele é tão teimoso quanto seu tio. Eu volto já.”
Ambas correm para fora da sala, deixando-me sozinha com Liam. O
quarto está tão tranquilo, que percebo que ele não respira novamente. Pego sua
mão e aperto, enquanto beijo a parte de trás dela.
“Estou aqui, Liam,” digo-lhe novamente. “Estou aqui com você.”
A porta abre novamente e uma mulher entra, um sorriso gentil em seu
rosto, enquanto olha de mim para Liam. Estreito meus olhos enquanto estudo
seu rosto. Reconheço-a. É a mulher do cais.
“Pearl?” Pergunto, em descrença. Ela parece mais limpa do que a única
vez que a vira, no dia anterior. Seus cabelos grisalhos estão lustrosos,
empurrados atrás de suas orelhas e ela usa um vestido de linho branco solto, o
que a faz parecer qualquer coisa, menos sem-teto.
“Olá, Waverly,” me cumprimenta, seu tom confortável, como se fosse
alguém que me conhece bem. Fecho a boca com dificuldade, à medida em que
meus olhos se ampliam com surpresa. Ela sabe meu nome. Como ela sabe meu
nome? Ao som da sua voz, Liam respira fundo, enquanto Pearl coloca a mão em
seu ombro. “Olá, meu amigo.”
Observo-a de perto, me perguntando se devo pedir a ela para sair, mas
não consigo ter coragem para questionar. Além disso, digo a mim mesma que
Liam iria querer que Pearl se despedisse.
“Parece que ele não tem muito mais tempo.” Observa Pearl casualmente,
seu tom faltando a quantidade adequada de simpatia. Ela diz isso como se
estivesse observando o tempo; como se não fosse grande coisa. Enfio minhas
unhas nas palmas das mãos, para me impedir de atacar. Como se atreve a
entrar aqui e declarar o óbvio, como se já não fosse suficientemente difícil? Então
lembro do que Liam me contou a seu respeito. Ele não iria querer que eu
ficasse chateada porque ela não pode evitar.
“Não, acho que não,” murmuro, enquanto engasgo com um soluço.
Erguendo a mão, ela tira alguns cabelos do rosto do Liam.
BN TOLER

“Acredita em milagres, Waverly?”


Seguro a respiração por um momento, sem saber como responder.
“Não sei,” finalmente lhe respondo, enquanto choro, incapaz de segurar
mais. “Quero, mas nada disso parece muito milagroso. Sinto que estou sendo
punida.”
“Humm,” ela murmura. “É tudo sobre percepção.”
“Não sei como perceber isso.”
“Poucas pessoas têm a chance de ver a vida de uma maneira diferente.”
Minha mente gira, enquanto tento entender essa versão de Pearl. Ela está
mentalmente indisposta, certo? Não a vi acariciando um gato de pelúcia, como
se fosse seu animal de estimação? Nunca a conheci e, de acordo com Liam, ela
não está totalmente bem mentalmente e precisa de ajuda profissional, mas,
enquanto a observo, sinto que pode ter muito mais em Pearl do que isso e,
definitivamente, mais na história. Com uma respiração profunda, tento
acalmar-me, algo dentro de mim me faz ouvir Pearl de perto.
“Ele foi de um João-ninguém, de um vagabundo sujo, para um homem
com grande riqueza. Liam já viu muito.”
Minha respiração engata enquanto dissecava suas palavras.
Para um homem com grande riqueza, ela disse. Isso significava que ela
sabe da mudança de corpos entre Max e Liam? Estreitando os olhos para ela,
pergunto:
“Você sabe?”
Pearl sorri como se eu fosse ridícula, quando lança seu olhar em minha
direção.
“Claro que eu sei.”
“C-Como?” Gaguejo assustada. “Como você sabe?”
“Porque é meu trabalho saber.”
Quero estender a mão e estrangulá-la. Ela continua falando em enigmas e
respostas vagas. Nada faz sentido.
“Seu trabalho?”
Caminhando na minha direção, ela me encara nos olhos.
BN TOLER

“Já ouviu falar de Karma?” Meu coração bate de um jeito que sinto em
meus ouvidos. Pearl é realmente uma parte disso? Ela tem alguma coisa a ver
com isso? Ou é uma mulher que sofre de delírios e eu estou tão desesperada
por uma resposta, que estou comprando essa história? Mantendo meu olhar
fixo no dela, espero que ela continue.
“Não entendo,” respiro. Voltando a segurar o braço de Liam, Pearl suspira.
“Você não está sendo punida, Waverly, e nem Liam. Ele é um homem
especial. Existem poucas pessoas neste mundo que dariam atenção para uma
velha louca que não tem nenhum laço com ele.”
“Então por que você está punindo-o?”
“Eu não estou. Se você olhar para isso do jeito certo, talvez veja tudo isso
como uma recompensa.” Olho para Pearl como se ela fosse uma lunática.
“Recompensa?” Fervo, com ira. “Como é que esse homem, que você alega
que é seu amigo, está morrendo como uma forma de recompensa?”
“Você precisa de tempo para ganhar perspectiva, mas não temos tempo
para isso agora, já é quase a hora.” Agarro o corrimão da cama, meus nódulos
branqueando enquanto o medo enrola seus dedos árticos em minha espinha.
“Quase hora de quê?” Pearl franze o cenho.
“A escolha de Max.”
O sangue escorre do meu rosto. O que isso significa? Se alguma coisa
envolve Max fazendo uma escolha, sei que isso não é bom.
“Escolha?” Pearl tira um pouco de sujeira invisível em seu vestido, antes
de encontrar meu olhar intenso.
“Max deve escolher viver ou morrer,” ela declara, simplesmente. Corro em
torno da cama, encurralando-a.
“O que isso significa?” Grito com ela.
Voltando-se para o corpo de Liam, ela ergue a boca para um lado.
“Significa que a escolha de Max decide o destino de Liam.” Meu coração
cai em meu estômago.
“Está me dizendo que Liam vai morrer se Max preferir morrer?” A boca de
Pearl aperta e ela inclina a cabeça, seu olhar suave fixo em mim.
“Sim.” Ela balança a cabeça com firmeza.
BN TOLER

“Não. Como pôde deixar isso acontecer com ele? Liam cuidou de você. Ele
até comprou esse gato idiota. E era seu amigo. Max não fez nada para ninguém
além de si mesmo!” Estou gritando com ela, minha voz rouca de emoção.
“Como é justo Max escolher e Liam não?”
“Porque Liam escolheu. Ele escolheu dar sua vida para salvar outro. Mas
Max não queria ser salvo.”
“Não entendo,” soluço alto. “O que você está me dizendo?”
“Max propositadamente entrou na frente do ônibus naquele dia,” sua boca
aperta por um momento, enquanto tenta recompor-se. “Não foi um acidente.
Max deixou Liam morrer porque estava assustado. Em sua mente, ele o
matou.”
Eu sei que estou de pé, que meus pés estão plantados firmemente no frio
piso de azulejos, mas sinto como se estivesse caindo.
“Ele queria ser atropelado por um carro e morrer?” Questiono. Pearl
balança a cabeça uma vez, deixando-me saber que estou certa. Desilusão fecha
minha espinha dorsal, e transforma minha tristeza em raiva. Olho para Pearl
enquanto dou um passo em sua direção. “Então, Max é recompensado com não
uma, mas duas chances, depois que intencionalmente tentou se matar, mas
Liam,” paro, enquanto aperto o punho na minha boca, lembrando-me de
manter a calma, “Liam deixa seu destino nas mãos de Max? Que tipo de Karma
é esse?” Fervo.
“Liam o salvou. Ele deu sua vida. Eu não a tirei.” Pearl me explica,
levantando a mão em defesa enquanto nota a minha raiva. “Poderia ter deixado
os dois morrerem. Mas não. Quero que Max escolha e decida pelos dois.”
“Por quê? Diga-me por que Max escolhe?”
“Porque é minha última chance de salvar a alma de Max.” Minha mente
se despedaça ante suas últimas palavras em milissegundos.
“É?” Murmuro, o sangue escorrendo do meu rosto. Seus olhos se juntam
quando ela encontra meu olhar com arrependimento.
“Max quer morrer. Tenho medo de ter falhado.”
Não me preocupo em discutir mais. Não posso. Escapando para fora do
quarto como uma mulher louca, corro para a escada. Quando chego ao
primeiro andar, e vou para o departamento de emergência, aonde levaram Max,
estou sem fôlego, tentando respirar. Uma pequena enfermeira loira acaba de
BN TOLER

sair pelas portas duplas que levam à área de triagem, sem me notar, enquanto
olha para alguns papéis em sua mão.
“Senhora.” Ela grita enquanto corro, passando por ela, sem parar. Não há
tempo. Várias enfermeiras e um médico param em seus caminhos e me
observam à medida em que olho ao redor, tentando localizar Max.
À minha direita, há um quarto onde tem vários médicos e enfermeiras
estão amontoados ao redor de uma cama, gritando termos médicos um para o
outro. Quando avisto o rosto de Max, voo para dentro e salto na cama. Pegando
os ombros de Max, o sacudo.
“É melhor você viver, maldição!” Grito com ele, minhas palavras engatadas
em soluços. Minhas mãos doem, pois estou segurando-o com força. “Não o tire
de mim, Max! Não, por favor, estou te implorando!” Mãos agarram-me em todos
os lugares, tentando puxar-me para fora dele, mas agarro-o mais apertado.
“Max, por favor!” Suplico. “Você tem que viver para que ele possa! Viva, por
favor. Não o tire de nós, Max.” Quando finalmente conseguem me remover, sou
arrastada para fora do quarto, meu corpo mole, enquanto choro.
“Ele está falhando!” Alguém grita. As mãos segurando-me de repente
desaparecem e viro meu pescoço, enquanto meus ouvidos palpitam com os
sons dos bipes altos dos monitores. “Traga um EPI30!”
Eu não consigo me mexer. Não posso respirar. Max vai morrer.

30 Equipamento de Proteção Individual, utilizado por profissionais da saúde.


BN TOLER

CAPITULO QUARENTA E TRÊS

Max está morrendo.


Eu nunca corri tão rápido na minha vida. Tenho certeza de que se tivesse
sido cronometrada, teria sido qualificada em algum tipo de recorde mundial.
Quando entro no quarto de Liam, estou engolindo em seco. Pearl desapareceu.
O que provavelmente é bom, porque bateria nela, se estivesse lá. Com meu
peito subindo e descendo, pego sua mão e suspiro através das minhas
lágrimas, minha garganta queimando.
“Estou aqui, Liam.”
Ele emite um som ofegante, quando suga uma respiração rasa. É a
respiração aguda que Kym mencionara, longos períodos de não respirar,
seguidos de inalar um suspiro curto, mas sei que Liam me sente. Pelo menos
digo isso a mim mesma. Olhando para o relógio, percebo que se passou
quarenta minutos desde que o extubaram. Sei que não temos muito mais,
talvez apenas alguns minutos. Onde Helen está? Uma parte de mim quer sair
correndo e encontrá-la, mas e se Liam morre enquanto estou fora? Não posso
arriscar. Estou perdendo ele. Abaixo a grade da cama e deito-me ao seu lado,
pousando gentilmente a cabeça em seu ombro. Tento duramente me controlar,
pois chorar não está ajudando. Coloco minha mão em seu peito e sinto como é
magro e frágil, os ossos do seu peito e costelas predominantes. Meu coração dói
quando penso na longa e acidentada estrada que o trouxe até aqui. As noites
de dormir em bancos duros e calçadas frias, os dias de fome e desesperança.
Ainda assim, Liam deu tudo o que tinha, a única coisa — sua vida — por um
homem que simplesmente jogou tudo fora. Liam não merece isso. Nem um
pouco. Se o que está acontecendo com ele é Karma, como Pearl disse, então o
Karma pode ir se foder.
BN TOLER

“Quero implorar para que você não vá,” eu digo. “Mas sei que você ficaria,
se pudesse.” Tomando sua mão magra na minha, a levanto para minha boca e
beijo novamente. Não tenho ideia de como sair deste quarto depois que ele for
embora. O pensamento é a versão mais real do inferno em que posso pensar.
“Se você precisa deixar ir, Liam,” choro, lágrimas quentes escapando dos meus
olhos, “você pode.”
Sentando-me, tiro a máscara de oxigênio do seu rosto e coloco-a em seu
colo.
“Eu te amo,” sussurro, enquanto acaricio sua bochecha. “Sempre vou te
amar.” Pressionando minha boca em seus lábios secos e frágeis, o beijo
suavemente. É o único beijo que teria com ele; com o físico real dele. Deitada
de lado junto ao seu corpo, coloco a cabeça sobre seu coração, fecho os olhos
enquanto pego sua mão novamente e ouço cada batida do seu coração.
Quando escuto o barulho da porta, abro os olhos e vejo Kym entrando no
quarto, com a sobrancelha franzida, enquanto ela olha de mim para os
monitores. Examinando as máquinas, volta-se para Liam e tira o estetoscópio
do pescoço.
“Desculpe por isso, senhora, mas preciso que você se levante.”
Deslizando da cama, fico de pé quando ela põe a máscara de oxigênio
sobre a boca e nariz de Liam, antes de colocar o estetoscópio em seu peito. Ela
pisca rapidamente enquanto escuta e olha para os monitores.
“O que há de errado?” É isso? Ele morreu e nem sequer percebi enquanto
estava deitada ao lado dele?
Kym não me responde, se movendo para a porta e abrindo-a. Colocando a
cabeça para fora, ela grita para a enfermeira da estação.
“Chame Dr. Malcom. Preciso dele agora.”
Quando Kym retorna, Helen corre atrás dela, com olhos selvagens e
pálida.
“O que aconteceu?” Ela diz. “Ele se foi?”
Um jovem que só pode ser seu filho, porque parece exatamente como ela,
com o cabelo vermelho cacheado, também diz:
“Calma, mãe.” Colocando as mãos nos ombros dela.
“Preciso que todos saiam por um momento.” Kym nos fala, sem se
preocupar em fazer contato visual.
BN TOLER

“O inferno que nós vamos, não quando ele está prestes a morrer,” Helen
explode, seus olhos ardentes. “Esse é meu irmão e, se for isso, não vou
embora.”
Nesse momento, o doutor Malcom se aproxima com duas enfermeiras
passando por Helen.
“Pressão sanguínea?” Ele pergunta, enquanto usa seu estetoscópio para
ouvir o coração de Liam. Uma enfermeira suavemente pega meu braço e me
leva ao redor da cama como se fosse uma criança.
“Noventa e oito, por sessenta e dois,” uma das enfermeiras responde.
Kym vira-se para nós três e estende os braços para fora, gentilmente nos
levando em direção à porta.
“Precisamos que vocês saiam do quarto, por favor.” Ela fala suavemente.
Meu corpo inteiro parece enrolado firmemente, como fio torcido.
“O que está acontecendo?” Pergunto, o medo enchendo minha garganta.
Kym fecha a boca, um olhar de incerteza em seu rosto.
“Sua frequência cardíaca e pressão arterial estão subindo.”
Helen e eu nos olhamos, nossas sobrancelhas franzidas.
“Ele vai conseguir?” David pergunta, seu tom crivado com cada pedaço de
choque que estou sentindo.
“Não sabemos,” Kym rapidamente responde. “Precisamos fazer alguns
testes.”
Finalmente farta, ela diz severamente:
“Por favor. Saiam. Prometo que vamos atualizá-los assim que soubermos
mais.
Quero passar por ela e me jogar em Liam, dizer-lhe para voltar, para lutar,
mas sei que se o impossível pode acontecer, se ele pode voltar, precisamos
deixar o médico e as enfermeiras trabalharem nele.
Sem uma palavra para Helen, arrasto o traseiro para fora do quarto e de
volta ao primeiro andar. Desta vez, as portas duplas estão fechadas e não se
abrem quando as puxo. Frenética, corro para a enfermaria.
“Max Porter.” Grito para a mulher atrás da mesa. “Preciso saber, ele está
vivo?”
BN TOLER

“Senhora, acalme-se.” Ela me instrui, enquanto levanta uma mão.


“Não me diga para me acalmar, maldição,” rosno enquanto agarro seu
pulso, exigindo sua atenção. “Está vivo?”
“Largue-me!” Ela grita.
“Diga-me!” Grito de volta.
“Ele está estabilizado.” Alguém grita, empurrando meu foco. É uma
enfermeira que reconheço vagamente como uma das pessoas que me
arrastaram para fora do corpo de Max. “Ele ainda não está na zona segura,
mas estabilizou.” Soltando a mão da enfermeira, meu peito se convulsiona uma
vez, depois duas vezes, então não para enquanto sorrio e choro, meu corpo se
derretendo enquanto deslizo para o chão. Fecho os olhos quando deixo cair a
cabeça. Então sussurro:
“Obrigada, Max.”

Passam-se três horas e ninguém nos diz nada. Mesmo que eu sinta que
tudo estará bem, que Liam acordará, ainda seguro a respiração. Não quero ter
minhas esperanças destruídas. Eu também não contei a Helen sobre Pearl. Não
é o momento certo, especialmente com David ao redor. Helen nos dá uma breve
introdução, me apresentando a David como a namorada de Liam, e mesmo no
meio do horrível dia, me faz sentir bem. Fico honrada por ser conhecida como
sua, não importa o que aconteça.
Cada uma de nós passeia pela sala de espera, Helen e eu, tomando
turnos, incomodando as enfermeiras para obter informações, mas cada visita é
infrutífera. Imaginava que perder toda esperança era a pior sensação do
mundo, mas estava errada. Perdê-la, depois tê-la retornando, com a menor
possibilidade de que seria retirada de você novamente, era pior. A agonia da
espera é o que sufoca, e faz-me querer subir pelas paredes.
David é muito parecido com Liam, o homem tentando ser forte para nós,
senhoras. Eu sei que Liam estaria muito orgulhoso dele, pois trouxe-nos
bebidas e revistas e fez com que sua mãe comesse, dizendo-lhe que precisava
pensar em seu irmãozinho ou irmãzinha.
BN TOLER

Finalmente, depois de horas passadas, o Dr. Malcom emerge, nos pedindo


para sentar com ele. Tomando nossos assentos, Helen e eu seguramos as
mãos, enquanto David esfregava suas costas e esperávamos em uma
respiração ofegante para a notícia de Liam.
“Eu tenho sido um neurologista por dezessete anos.” Ele nos diz, enquanto
tira os óculos e pega um lenço do bolso, limpando as lentes. “E nunca vi nada
assim.” Ele admite, a derrota grossa em seu tom. Meu coração quase explode
em meu peito. Esta é uma boa notícia. “Ainda é cedo,” continua ele, “mas
quando os sinais vitais de Liam começaram a subir, pedimos outro exame.”
“E?” Helen pergunta.
“O fluido em seu cérebro diminuiu significativamente. Executamos mais
uma rodada de exames e dois dos três mostraram atividade.”
“Ele está acordando?” Engasgo com minhas palavras. Malcom ergue a
mão, parando-me.
“Não podemos dizer ainda, mas ele está se estabilizando. Mesmo se
acordar, ainda não sabemos a extensão dos danos cerebrais. Se recuperar a
consciência, terá um longo caminho a sua frente.” De pé, ele olha para nós
atentamente. “Não há nenhuma explicação médica para isso. O homem deveria
estar morto,” reitera. “Este é um milagre, puro e simples.”
Helen e eu começamos a chorar, enquanto gritávamos e nos
levantávamos, nos abraçando. A exaltação que surge através de mim poderia
ter enviado um foguete para a lua.
O impossível aconteceu.
Um milagre.
Liam está vivo.
BN TOLER

CAPITULO QUARENTA E QUATRO

Depois de dois dias, Max recuperou a consciência, e foi transferido


imediatamente para a ala psiquiátrica, para avaliação. Ele se recusa a me ver.
Teve sorte. Com a quantidade de pílulas e álcool que tomou, deveria ter
morrido. Há tantas perguntas a serem feitas; como aonde foi? Será que sabia
que não estava em seu corpo? Por que tentar se matar? Mas elas teriam que
esperar. Estou feliz por Max. Apesar das nossas diferenças, nunca desejei que
morresse.
Dois dias se passaram e Liam, apesar dos surpreendentes resultados dos
testes, ainda não acordou. O Dr. Malcom reiterou para não termos tanta
esperança, apesar dele demonstrar otimismo. Se e quando Liam acordar, não
tínhamos ideia com o que estaríamos lidando. Poderá haver danos cerebrais
substanciais. Depois da melhora de Liam, ligo para Matt e pergunto se ele pode
manter Pim por alguns dias. Conversamos durante um tempo e lhe asseguro
que não estou com Max. Lhe digo que Max está doente e me sinto moralmente
obrigada a ajudá-lo. Não menciono Liam. Preciso dar informações para Matt em
pequenas porções.
No terceiro dia, estou muito ansiosa. Por que Liam não acorda? Pego Pim
da casa da Sra. Patty e a levo ao hospital para ver Liam. Não tenho certeza se
ele poderia nos ouvir quando falávamos com ele, mas sabia que, se ele
pudesse, adoraria ouvir sua voz.
Quando entramos no quarto de Liam, Pim imediatamente sorri quando vê
Helen, que a pegou e a apertou.
“Que saudade desta pequena coisinha fofa,” Helen diz.
“Ela também sentiu sua falta,” eu respondo.
BN TOLER

“Olha quem está aqui para te ver, irmão mais velho.” Helen fala, enquanto
se vira para a cama onde Liam permanece deitado. Gentilmente, ela senta Pim
ao lado de Liam, perto do seu peito enquanto eu fico na cama do lado oposto.
Se Pim decidir engatinhar, tiraria de cima dele, rapidamente. Ela nunca tinha
visto Liam em sua verdadeira forma física e me preocupo se ficará com sua
estranha desconfiança habitual.
Inclinando a cabeça, ela olha para ele, acariciando seu peito com sua
pequena mão gordinha.
“Você pode dizer oi, Pim,” a induzo.
Pim esfrega o peito de Liam. Suavemente, ela ri.
“Liam.”
Os olhos de Helen ficam tão arregalados quanto os meus se sentem,
quando olhamos uma para a outra.
“Ela deve nos ter ouvido chamá-lo pelo nome,” tento explicar rapidamente.
Helen assente com a cabeça.
“Sim,” Helen concorda. “Deve nos ter ouvido.”
Quando Pim pousa a cabeça no peito de Liam, meu coração se derrete.
“Vroom-vroom.” Pim balbucia e desta vez eu sei que ela não nos ouviu.
Ela sempre soube que era Liam.
E é aí que acontece.
Liam abre os olhos.
BN TOLER

CAPITULO QUARENTA E CINCO

Max senta-se do lado de fora da igreja, usando um boné dos ianques, e


espera que isso o ajude a se camuflar. Os convidados do casamento começam a
emergir das altas portas da catedral, quando ele a vê. Ela está usando um
vestido verde-azulado, a saia parece um tutu. Seus lábios curvam-se
ligeiramente para cima, antes que perceba o que faz.
A visão o deixa feliz. Da maneira que um pai se sente quando vê sua filha
minúscula parecer adorável. Agora ele franze as sobrancelhas, ao perceber que
a garotinha não é realmente sua filha, ou é?
Seu ex-cunhado está ao lado da noiva, Alice, em seu vestido de cetim
branco, sorrindo para o fotógrafo. Eu recompensei bem Matt por suas escolhas,
pois foi um maravilhoso irmão e tio e, agora, viveria uma vida com a mulher
que realmente ama.
Max puxa o boné um pouco mais para frente, porque sabe que Matt não é
seu maior fã e não duvido que, mesmo no dia do seu casamento, se Matt o nota
observando-os, correria pela rua para atacá-lo.
O olhar de Max se move dos noivos para a menininha apaixonante, depois
para a mãe, que está em um vestido verde-azulado correspondente, solto e
fluindo. Linda. Isso é tudo o que vê quando olha para ela. Olhando-o, sinto seu
arrependimento; a dor que irradia dele. Max a perdera e não há ninguém a
quem culpar, senão a si mesmo.
Ao lado dela está ele.
Liam.
BN TOLER

O homem que havia tomado seu corpo, sua vida. Mesmo sabendo da dor
de Max, não deixo de sorrir enquanto observo Liam, que parece bonito em um
terno, mas qualquer coisa é melhor do que roupa de rua suja. Ele se recuperou
completamente e parece melhor do que nunca. Ombros largos e músculos
agora substituem o saco de ossos que apresentava enquanto vivia na rua.
Curvando-se, ele pega Pim e a segura, enquanto colocava um braço ao redor de
Waverly, os três sorrindo enquanto posavam para uma foto.
Nesse momento, Max tira sua própria foto; sua mente captura o momento,
como uma câmera e marca a imagem em seu cérebro para a eternidade. Para
os outros que vêem esse momento, essa imagem só lhes mostraria um belo
casal com uma linda menina; uma família feliz, mas Max enxerga muito mais.
Ele vê um homem que tem todas as coisas — que tem tudo.
Seu tudo.
“Homem de sorte.”
Sua cabeça gira em minha direção, seguindo o som da minha voz. Ele me
observa com olhos cansados por um momento, se perguntando quando me
sentei ali. Não me notou até que eu havia falado. Não sabe quem sou,
especialmente não na forma em que me encontro. Max não sabe que estive
assistindo-o por toda a sua vida, que conheço sua dor.
“Sim,” ele concorda, enquanto limpa a garganta e move o olhar de volta
para a igreja.
“Você tem uma família?” Pergunto-lhe. Max franze a sobrancelha e fica
ligeiramente irritado com sua nova colega de banco, uma vez que está aqui
espionando sua ex e não quer conversar. Então, ele nota o pequeno gato preto
no meu colo. Tento não rir enquanto leio seus pensamentos.
Um bicho de pelúcia? Max esteve em inúmeras e intermináveis horas de
terapia por quase um ano e tem aprendido muito, principalmente sobre si
mesmo, bem como, a não assumir coisas sobre os outros. Talvez ele não queira
falar comigo, mas decide que não deve ser rude, também. Afinal, estou
acariciando um bicho de pelúcia, então claramente eu tenho problemas.
“Eu tinha ... algo como isso,” finalmente responde. “Mas elas se foram
agora.”
“Sinto muito em ouvir isso,” digo, suspirando.
“Só tenho a mim para culpar. Só... não estava pronto,” ele admite. “Queria
estar.... mas não estava.”
BN TOLER

“Você está pronto agora?”


Max balança a cabeça. Ele odeia admitir isso, mas não está. Ainda não
está pronto. Ele quer se apaixonar e seguir em frente, mas sabe que, quando se
trata da mulher com o vestido verde-azulado, é tarde demais, pois causou
muito dano a ela. Será um longo e extenuante caminho para retornar à vida da
menina que ele nunca segurou. Max não é forte o suficiente para lutar por isso,
ainda. Há muito a ser trabalhado.
“Essa mulher foi minha uma vez, a bonita, a do vestido verde-azulado. E
aquela é a minha garotinha também.” Max balança a cabeça em direção da
igreja, no momento em que Liam se inclina e beija Waverly. Max se encolhe
ante a visão e sua mão aperta contra sua coxa.
Sei que minhas próximas palavras vão cortá-lo profundamente, mas
precisam ser ditas. Ele precisa ouvi-las.
“Ambos parecem muito felizes.”
Sua boca se achata e seu pomo de adão balança, enquanto engole em
seco.
“Às vezes,” continuo, “temos que deixar as coisas acontecerem... realmente
deixá-las ir, especialmente se sabemos que não somos bons para elas.”
Sua cabeça recua para trás, quando ele lança um olhar letal para mim.
“O que isso significa?”
“Isso significa, Max, deixá-los ir. Se você fizer isso, talvez sua filha o
procure um dia, quando estiver pronta. E quando você estiver melhor.”
Novamente, leio sua mente. Este homem sabe que estou certa. Max ainda
luta todos os dias para encontrar a vontade de viver. Parecia-lhe cruel,
doloroso, quando viu Liam beijar sua filha. Ele não foi bom em tentar ser pai,
mas detestava saber que alguém assumiu seu papel. Chorou quando viu sua
filha beijar o homem. De fato, uma lágrima escorreu pela sua bochecha,
enquanto percebia, pela centésima vez desde que acordou no hospital, o que
tinha perdido. Isso é um inferno.
Esse é o castigo dele por tratar todos como merda só porque se sentia
assim. Max perdeu tudo. E não só perdeu, como viu outro homem tirar o que
tinha, enquanto estava preso no corpo desse homem. Ele viu tudo.
“Você fez a escolha certa,” falo para ele.
Max ri. Levantando a mão, faz um gesto para a igreja.
BN TOLER

“A escolha certa? Ele roubou a minha vida.”


“Nós dois sabemos que isso não é verdade.”
“É verdade,” ele insiste, suas palavras afiadas.
“Então por que você escolheu viver? Você sabia o que aconteceria se
fizesse. Você viu tudo. A viu se apaixonar por aquele homem. Assistiu como
eles fizeram amor. Sabia que ela iria escolhê-lo.”
Lançando seu olhar para mim, Max franze o cenho.
“Como você sabe tudo isso? Quem é você?”
“Responda à pergunta, Maxwell. Por que você escolheu viver?” Seu olhar
cai para onde seus dedos estão enfiados em seu colo.
“Eu não ia escolher viver,” admite. “Ia morrer e levá-lo comigo. Talvez não
as merecesse, mas pelo menos ele também não as teria.” Olhando para mim de
novo, me encontra olhando-o, esperando que termine. “Mas ela me implorou
para viver, para que não o tomasse.”
“Ela implorou por muitas coisas, Max,” observo. “Suplicou-lhe que a
amasse uma vez; que você amasse sua filha. Para não virar as costas para elas.
Você a ignorou. Por que agora?”
Voltando seu olhar de volta para Waverly, ele diz:
“Porque não poderia fazer isso para ela. Para elas. Ele poderia ser o que eu
nunca pude. Ser o homem que eu não aprendi a ser.” Quando olha para mim
novamente, meus olhos estão cobertos de lágrimas, mas sorrio. Ele fez isso.
Mudou. Coloco a mão na sua bochecha e sussurro:
“Eu sabia que estava certa em não desistir de você.”
“Você fez isso comigo?” Pergunta ele, com expressão perplexa.
“Fiz isso por você,” respondo chorando.
“Você deu a ele a minha vida? Me fez assistir enquanto ele pegava tudo?
Deu a ele a motocicleta, deixando-o pensar que eu havia comprado.” Max
balança a cabeça em descrença enquanto repete, os seus pensamentos tão
rápidos, que são quase um borrão. “ Por quê?”
“A motocicleta era para o Liam, que é um homem amável e, se ele estava
indo morrer, queria dar-lhe algo especial. O resto, Max.... foi para salvá-lo,”
digo sussurrando. Tirando seus olhos de mim, ele morde a língua para evitar
atacar.
BN TOLER

Sem lugar para desencadear sua raiva, as lágrimas começam a fluir


novamente. É difícil vê-lo com tanta dor, mas, ao mesmo tempo, é um dos
momentos mais bonitos que já senti, pois Max está aceitando a dor dele.
“Ponha tudo para fora, Max,” falo em uma voz masculina depois que mudo
de forma, fazendo com que ele mova os olhos em minha direção. “Isso vai
melhorar.” Max fica boquiaberto, em estado de choque. A mulher que estava ao
lado dele momentos antes, desapareceu e, em seu lugar, encontra-se Braxton,
seu porteiro.
Sorrindo suavemente, estendo um lenço para ele. Seu coração troveja à
medida em que estende a mão trêmula e pega o lenço. Ele me olha enquanto
limpa seu rosto molhado e se pergunta se está ficando louco. Max está
tomando alguns medicamentos para a depressão e, de repente, se questiona se
estão causando-lhe alucinações. É então que decido que Max teve o suficiente e
é hora de eu ir — ou pelo menos desaparecer, para que não me veja mais —
mas deixo algo para ele.
Quando olha para mim, vê apenas o gato preto de pelúcia, que estive
acariciando momentos antes de descansar no banco. Pegando-o, olha-o. Algo
dentro dele que não entende muito, o faz querer mantê-lo, quase como se não
tivesse escolha. Segurando-o debaixo do braço, fica de pé e olha mais uma vez
para o mundo para o qual virou as costas — sua filha, finalmente entendendo
que precisa desistir dela. Pelo menos por agora. Esperando que um dia possa
estar em sua vida. Quem sabe, quando ela for mais velha, ele possa explicar e
fazê-la entender. E, quem sabe, até então Max se entenda um pouco melhor,
também.
Acompanho-o quando seus pés começam a se mover, levando-o embora,
não se dando ao trabalho de pensar aonde está indo, ele simplesmente vai. Sei
que há dias em que se perde dentro da sua cabeça, sendo consumido pela
solidão, mas andar parece que ajuda. Isso o mantém em movimento. Se não se
move, preocupa-se que nunca sairá da cama. Ele não sabe que estou guiando-
o suavemente para seu destino. Dez blocos mais tarde, acaba em um pequeno
restaurante. Não qualquer restaurante, mas na esquina onde quase morreu em
um terrível acidente, em que foi salvo por alguém que se recusa a falar o nome
ou pensar. Colocando o bicho de pelúcia na mesa, Max olha pela janela,
lembrando-se de como deixou o homem que salvou sua vida para morrer. Há
algum bom retorno para quem faz o mal? Ele duvida, e o pensamento lhe
enche de desespero.
BN TOLER

“Oi.” Olhando para cima, encontra uma mulher bonita, seu cabelo loiro
amarrado alto em um apertado rabo de cavalo e seus lábios brilhantes. “Não te
vejo há algum tempo,” continua ela com familiaridade, mas Max não lembra de
tê-la conhecido. Quando não responde, ela inclina a cabeça, seu sorriso caindo.
“Me desculpe,” gagueja ele. “Acho que foi um pequeno engano. Minha memória
está um pouco confusa.”
Max faz um gesto com a cabeça, ao acaso. A mulher franze o cenho, então
seu olhar se move do seu rosto para o gato. Ele luta contra o desejo de
encolher-se, quando percebe que ela pensaria que ele é louco, por ser um
homem crescido carregando um gato de pelúcia.
“Esse é o gato do Pearl,” a moça diz, em tom de surpresa. Max não tem
ideia de quem é Pearl ou como responder. Ela acha que ele a roubou? “Ela não
aparece por aqui há cerca de um ano. Você a viu?”
“A mulher de cabelos grisalhos?” Ele pergunta. “Ela me deu isso, mas não
sei o porquê.” Colocando uma mão gentil em seu braço, ela questiona:
“Estou saindo daqui uns quinze minutos. Gostaria de tomar um café e vou
lhe dizer como te conheço e tudo sobre o gato?” Max a encara, se perguntando
por que diabos esta mulher quer sentar e desperdiçar um minuto do seu tempo
falando com ele.
“Tem certeza?”
“Sim,” ela responde com um sorriso. “Parece que você precisa um amigo.”
“Duvido que queira ser minha amiga,” murmura Max. A mulher o observa,
os pêlos levantando-se em sua nuca, quando sente alguém sussurrando em
seu ouvido que ele não era o mesmo de antes, para não deixar que a afaste.
Seu olhar suaviza quando responde calmamente:
“Algo me diz que isso não é verdade.” Ele acena com a cabeça em
concordância, em seguida, faz sinal para o banco desocupado no restaurante.
“Estarei esperando por você se juntar a mim, então.” Enquanto ela acaricia
seu ombro e se move para terminar seu turno, me afasto, concentrando-me
nos sussurros ao redor, procurando onde mais necessitava. Max está em boas
mãos agora e, embora saiba que ainda olharia por ele, é hora de compartilhar
minha magia com outra pessoa.
BN TOLER

CAPITULO QUARENTA E SEIS

“Estou saindo,” grita Lenny, da porta do escritório.


Aceno da terceira garagem.
“Tenha uma boa noite, cara,” grito de volta. “Vou trancar aqui.”
“Te vejo amanhã,” ele fala. Quando a porta do escritório se fecha, olho ao
redor, um sentimento de gratidão me lavando. Já se passaram alguns meses
desde que comecei a trabalhar novamente, mas todos os dias me bate a
maldita sorte que tenho. Lenny fez acontecer. Ele pegou o dinheiro que lhe dera
quando era Max e abriu sua própria loja. Quando voltei a me levantar — literal
e figurativamente — depois de meses de reabilitação e fisioterapia, Lenny me
contratou. Estou de volta fazendo o que amo. Foi um longo ano, mas o melhor
da minha vida. Me certifico de curvar a cabeça todos os dias e dar graças. Um
milagre ambulante, foi do que a imprensa me chamou, porque deveria ter
morrido. Fui de um vagabundo sujo, que mal garantia o olhar de um
transeunte, a famoso, porque despertei depois de uma lesão cerebral
traumática, que deveria ter sido fatal. Foi surreal.
Depois que acordei, Waverly me contou sobre Pearl e sua visita, e as
coisas que ela falou. Todos nós procuramos por Pearl, vasculhando as ruas da
cidade, mas ela desapareceu. Sinto sua falta, mas sei em meu coração que ela
está bem. Pearl sempre esteve bem. Afinal, é o Karma. Tirando-me dos
pensamentos, corro para limpar minha bancada de trabalho e minhas
ferramentas. Waverly me pegará em dez minutos e não quero fazê-la esperar. A
oficina fechou quase uma hora atrás, mas quis ficar um pouco mais para
trabalhar em um projeto especial.
BN TOLER

“Oi, lindo,” ouço, fazendo-me levantar a cabeça para cima. Waverly


acabara de entrar na garagem pelo escritório. Desde que acordei, não ficamos
nem um dia sem nos ver, e todos os dias ainda perco o fôlego com esta mulher.
“Oi, linda,” sorrio, enquanto esfrego minhas mãos em um pano,
observando cada passo dela. “Você chegou cedo.”
“Bem, Matt e Alice estavam tão absorvidos com Pim que consegui escapar
rapidamente.” Matt e Alice acabaram de voltar da lua de mel e estão morrendo
por uma noite com Pim. Tanto quanto aquela doce menina possui meu
coração, estou morrendo por uma noite a sós com sua mãe. Waverly quase me
alcança, quando para abruptamente, boquiaberta com meu projeto especial.
“Está falando sério, Liam?” Ela sorri.
“O quê?” Eu rio.
“Você está alterando o quadriciclo da Barbie, de Pim?”
No ano passado, Pim ganhou outros três quadriciclos, que também foram
arrumados. Pimberly adora vir até a oficina comigo. Ela ainda não é mecânica,
mas gosta de fingir ser e eu adoro nosso tempo juntos.
“Minha menina sempre terá as melhores máquinas,” informo à Waverly.
“Seja uma gaiola31 ou uma motocicleta.”
Ela bufa uma risada enquanto balança os braços em volta do meu
pescoço.
“Você a estraga, sabe?”
“Pim é minha garota,” dou de ombros um pouco. “Só preciso terminar de
limpar e lavar. Será rápido.” Informo, antes de curvar ligeiramente e beijá-la.
Saltando para a minha bancada, ela deixa suas pernas balançando sobre a
borda, enquanto me observa terminar, seu lábio inferior preso entre os dentes.
“Pare,” resmungo, fazendo o meu melhor para manter o foco em minha
tarefa. Waverly sabe que morder o lábio daquele jeito é minha desgraça.
“Parar o quê?” Questiona timidamente.

31
BN TOLER

Waverly usa um top branco fluído que pende em um ombro. Seu cabelo
está solto e enrolado, implorando-me para enfiar meus dedos nele. Ela é a
minha verdadeira fraqueza. Deixando cair minha ferramenta, movo-me entre
suas pernas e agarro seu traseiro, deslizando-a para a borda da bancada.
“Eu não quero te sujar,” digo-lhe.
Beijando-me, ela gentilmente morde meu lábio inferior.
“Talvez eu goste de ser sua garota suja,” ela sussurra.
Isso é tudo que precisou. Em segundos nossas camisas estão fora e ela
levanta o traseiro enquanto eu tiro sua calça. Cada vez que estamos juntos em
nossos corpos, é erótico em todas as maneiras que o sexo pode ser fisicamente,
mas fazer amor com Waverly é além de fisicamente satisfatório. Entre beijos,
mordidas, pele na pele, ofegos e gemidos, encontro a paz que supera tudo. Ela
é minha casa e, quando nos juntamos, e pego seu corpo, isso me enche de
calma, sendo o lugar mais seguro que já conheci.
Suas pernas estão enroladas ao redor da minha cintura enquanto me
movo para dentro e para fora dela, seus dedos cavando em minhas costas,
enquanto gemo.
“Eu te amo, querida,” digo a ela uma e outra vez. Este é o meu paraíso.
Quando terminamos, estamos ambos sem fôlego e unidos. Beijando a
ponta do meu nariz, ela sussurra:
“Tenho algo a lhe dizer.”
“Oh, sim?” Sorrio, enquanto me movo, mas Waverly agarra meus quadris,
me segurando no lugar.
“Não se mova,” ela implora. “Ainda não.”
Minhas sobrancelhas se franzem à medida em que olho em seus olhos. É
quando vejo: ela está preocupada.
“O que há de errado?”
Sua cabeça cai, mas levanto seu queixo, forçando-a a encontrar meu olhar
novamente.
“Não faça isso,” digo a ela. “Conte-me.”
Engolindo em seco, respira profundamente.
“Ele fez. Max assinou os papéis. Ele desistiu dos seus direitos a Pimberly.”
BN TOLER

Meu peito dói por algum motivo. Sei que Waverly queria isso há muito
tempo, mas eu esperava que, quando Max acordasse, ele voltaria novo em
folha. Esperava que agarrasse sua segunda chance com afinco. Isso é o que
tenho feito e continuarei a fazer todos os dias, para o resto da minha vida.
Tanto quanto Waverly queria que Max assinasse seus direitos, sei que não lhe
deu o alívio que ela pensou que teria, sendo apenas mais uma ferida do
diabólico Max Porter.
“Há mais.”
“Há?”
“Max enviou um cheque com os papéis para ajudar a cuidar de Pim. Ele
enviou um cheque de um milhão de dólares, Liam.”
Luto com a notícia, me perguntando por que. Por que assinou os papéis?
Ou melhor, como pôde? Duvido que enviaria um cheque tão grande se a
decisão não tivesse sido tomada com alguma culpa. Em algum nível, ele se
importa com Pim. Se não o fizesse, assinaria os papéis e lavaria as mãos de
tudo. Uma parte dele quis dar algo a Pim, para ter certeza de que ela seria
cuidada.
“Esse dinheiro vai durar muito tempo para Pim,” comento.
“Eu sei,” Waverly concorda. “Apenas sinto como se tivesse sido paga.”
Escovando seu cabelo atrás de seu ombro, a beijo.
“Sinto muito.” Não sei mais o que dizer. Odeio que Max, mais uma vez, a
decepcionasse. Meses depois que saí do hospital, fui ao seu apartamento para
falar com ele. Parecia a coisa certa a fazer, afinal, habitei em seu corpo. No
entanto, Max se recusou a me ver. Waverly queria respostas. Por que ele não
queria Pim?
Poderia ter lhe dado informações das sessões com o terapeuta de Max,
mas nunca me senti bem; essa informação deveria vir dele, se, ou quando,
estiver pronto. Eu tenho minhas próprias perguntas e parte de mim deseja
respostas, mas acredito que há algumas coisas que não devemos saber e,
mesmo se houvesse respostas, sei que elas nunca serão boas o suficiente. É
difícil e injusto, mas às vezes isso é a vida. Talvez nunca entenderíamos Max,
mas eu entendo, mais do que qualquer coisa, como tive sorte.
“Eu não o odeio, sabe?” Levanto minhas sobrancelhas em surpresa.
“Nunca pensei que você odiava, não realmente.”
BN TOLER

“Eu odiava,” Waverly admite. “Por tanto tempo. Mas, no final, ele fez o
certo por Pim e por mim.” Ela coloca as mãos no meu pescoço, seus polegares
roçando minha mandíbula. “Max viveu para que pudéssemos ter você.” Aceno
algumas vezes, suas palavras batendo forte. É uma situação tão fodida e
impossível de entender completamente, e não importa o que o homem fez ou
quão fodido foi, no final, Max nos deu um ao outro — eu dei a minha vida para
salvá-lo quando ele nem queria, e agora Max me deu a dele.
“Quero que você adote Pimberly,” Waverly solta, então morde o lábio
inferior, como se ela estivesse assustada pela minha resposta.
Ela está falando sério? Waverly está nervosa por me pedir para adotar Pim
como minha? Sorrindo, a beijo com força enquanto um calor bombeia através
de minhas veias.
“É uma honra para mim,” digo a ela, minha voz rouca de emoção. Pim é
minha, de qualquer maneira, tanto quanto sei. Não importa quem forneceu seu
DNA, ela é minha filha. Minha menina. Eu faria qualquer coisa por ela. O
sorriso de Waverly é tão grande que faz meu coração pular. Eu sou um maldito
homem, mas preciso de mais uma coisa. Talvez esteja sendo ganancioso, mas
quero mais.
“Case comigo,” digo, meu coração batendo com força no peito.
Queria perguntar a ela no momento em que acordei, mas também queria
ter algo para lhe dar quando perguntasse. E estar de volta em minha
independência, com um trabalho.
“Quero você e Pim mais do que qualquer outra coisa na vida. Você na
minha cama todas as noites e Pim me acordando no raiar do amanhecer, para
que possamos ter o nosso café e leite juntos, e construir uma vida com você.
Quero ter tudo.” Inclinando minha testa contra a dela, digo novamente: “Case-
se comigo, Waverly.”
Ela chora enquanto pega meu rosto em suas mãos e me beija.
“Sim, Liam,” Waverly murmura. “Nós teremos tudo.”
BN TOLER

AGRADECIMENTOS

Um enorme obrigada a todos os meus leitores. Estou humilhada por seus


comentários, mensagens e amor. Obrigada pelo apoio e por partilhar o meu
trabalho com os outros. Vocês balançam meu mundo.
Para você, bela blogger chefe. Obrigada por tomar o tempo para ler o meu
trabalho e compartilhar com os outros. Amo cada uma de vocês.
Obrigada, Amy Donnelly, por seu trabalho duro, editando este livro. Seu
insight foi crítico em fazer este livro trabalhar e sou grata. E eu acho que você é
gostosa.
Obrigada, Rae Vatter Green, com 77 pêssegos para leitura de prova e
ajudando-me finamente a afinar esta história. Seus pensamentos e direções
foram tão úteis.
Obrigada, Kari, pela capa, por cobrir desenhos e para criar, mais uma vez,
outra tampa surpreendente para mim.
Tami, com Formatação de Integridade. Você. É. Foda. Isso é tudo.
Dreama-Boo. Eu te amo muito. Obrigada por todo o seu apoio e entrada.
Obrigada à minha querida amiga Kym. Aprecio todo o seu apoio e
conhecimento do mundo respiratório. Eu te amo, Vermelha!
Um enorme obrigada ao meu bom amigo, Jacob Traylor, por responder
zilhões de perguntas sobre motocicletas. E outro obrigada à sua esposa, a
minha querida amiga, Kate, por brincar como meio homem. Amo vocês dois!
Emmit Thomas e John Blaha, muito obrigada por responder, também, a
uma tonelada de perguntas de motocicleta e ler sobre partes do meu livro para
ter certeza que parecia que eu sabia do que diabos eu estava falando. Vocês
são incríveis!
Por fim, obrigada à minha família e amigos que me apoiaram e me
encorajaram. Eu amo todos vocês e sou muito grata por cada um de vocês.
BN TOLER

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