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BN TOLER
BN TOLER
DISPONIBILIZAÇÃO: EVA
TRADUÇÃO: EQUIPE SWEET CLUB BOOK’S
REVISÃO: INGRID
LEITURA FINAL: L. SOUZA E EVA
FORMATAÇÃO: NIQUEVENEN
BN TOLER
No fundo do poço.
Liam está lá.
Depois de um acidente que o deixa ferido e incapaz de trabalhar, não
demora muito para que ele acabe nas ruas com os seus sonhos em espera.
É isso.
Essa é a vida dele.
Até o dia em que conhece Max Porter – um homem que parece ter tudo.
Eles não se falam, apenas fazem contato visual, no qual Max desdenha Liam,
momentos antes de ocorrer a mudança na vida de ambos na preciosa rua de Nova
Iorque.
Quando Max atravessa a rua sem olhar para os lados, Liam poderia não ter
dado a mínima. Porém, ele arrisca a vida para salvá-lo, apenas para ser deixado
para morrer sem um segundo pensamento.
Liam acorda dias depois e já não é o mesmo...pelo menos ele não está no
seu corpo.
E sim no corpo de Max.
E com o corpo de Liam em um suporte vital, há apenas uma conclusão lógica:
Max está preso no corpo em coma de Liam.
De alguma forma, as mãos torcidas do destino dão a Liam uma segunda
chance para ter tudo. Mas, com todas as vantagens da vida de Max, também vêm
os seus problemas.
Encontrar o equilíbrio em sua nova identidade, mostra-se um desafio mais
uma vez quando Liam cai de amor por Waverly, a linda ex de Max.
Liam poderá viver sua vida como outro homem ou puxará o plugue para
deixar o destino decidir?
Ele perderá suas chances de amor verdadeiro?
BN TOLER
DEDICATÓRIA
PROLÓGO
Deitado ao seu lado, olho para o teto, e contemplo sobre o que fazer. Este
homem desperdiçou chance após chance, empurrando qualquer oportunidade
de felicidade e amor que cruzasse seu caminho. As pessoas o achavam cruel, e
ele era, pois passou boa parte de sua vida em uma dor intensa, agindo como
um animal enjaulado que atacava, querendo que os outros sofressem também.
Tornou-se uma imitação falante e ambulante da sua dor. Era feio em todas as
maneiras que podia ser, exceto fisicamente.
Eu o conheço mesmo antes dele ser essa alma retorcida, ainda quando
criança com um coração de ouro, que chorava enquanto segurava a mão da
sua mãe morta. O menino que foi esquecido pelo pai, ainda que tivesse sido
criado para ser perfeito. Em sua vida, o que mais amou, o deixou ou esqueceu-
se dele. É um ser humano raro para mim, e não posso desistir, embora saiba
que devo. Há apenas alguns por quem me sinto amarrado e por quem luto; os
outros têm o que merecem. Não é sua vida que desejo salvar, mas sim sua
alma. Só que, desta vez, estou limitado no que posso fazer. Escolhas foram
feitas, e a dele foi morrer. Outra pessoa escolheu dar a vida para salvá-lo.
Ambos merecem minha atenção; um meu favor e o outro, minha ira.
Sei que ele estava com medo. Acredito que nem sabia o porquê; apenas viu
o medo. É por isso que deixou para morrer o homem que o salvou. Todos temos
nossas razões —nossas desculpas. Porém, isso não faz com que tudo esteja
bem. Se não fosse por mim e minha incapacidade de desistir, sua vida teria
sido muito diferente.
BN TOLER
Só porque o entendo, não significa que justifique suas ações e, como uma
mãe que ama seu filho com todo o seu ser e ainda deve fazer o que é difícil, vou
ensiná-lo a ser melhor, punindo-o.
Rolando em sua direção, olho para o seu rosto. Com seu nariz e
mandíbula esculpidos, como se tivessem sido criados pelas próprias mãos de
Deus, é um homem com juventude, beleza e riqueza, porém, miserável.
“Oh, meu querido,” digo sussurrando. “O que vou fazer com você?”
Para uma raça tão avançada, ainda assim, após éons1, me choca como os
seres humanos agem tremendamente limitados quando se trata de expandir
suas mentes, a fim de acreditar no que está além de sua compreensão. Se não
podem ver algo, tocá-lo ou dissecá-lo como um sapo em um laboratório de
Ciências do Ensino Médio, o rotulam com títulos considerados absurdos, como
religião, superstição, milagre ou até mesmo trabalho do diabo. E, aqueles que
se atrevem a deixar suas mentes alcançarem os dedos contra o absurdo, são
rotulados como cultistas, fanáticos ou até mesmo loucos. Há magia neste
mundo que está além de qualquer explicação, e que existe porque uma escala
estabiliza o universo e é o desconhecido que mantém o equilíbrio. A raça
humana precisa de milagres; necessita do impensável para acontecer, porque,
sem ele, a esperança não existe.
E é aí que eu entro.
Porque sou os olhos que observam cada movimento, a boca invisível que
sussurra em seu ouvido, lhe incitando a fazer o que é certo. E sou o melhor
marcador de pontos.
Não há má sorte. Coisas ruins acontecem por causa das escolhas, que são
como balas de borracha, quando saltam e ricocheteiam de pessoa para pessoa,
conectando todos. Um termo mais simples seria causa e efeito. Uma escolha
1 “Éon” é um termo usado em Geologia que define a maior sub-divisão de tempo na escala de
tempo geológico. Sua equivalência em anos é muito discutida, sendo, portanto, uma medida
meramente científica, raramente usada para especificar um período exato de tempo.
BN TOLER
coloca em movimento uma série de eventos que colhem outras escolhas. Sou
um árbitro, um monitor de pessoas e suas ações. Assisto, espero e, de vez em
quando, interfiro. Posso te dar alegria ou dor arrasadora. Encontro prazer
imenso em ambos os lados da moeda — trazer os ímpios para os seus joelhos
ou dar-lhes esperança é igualmente gratificante para mim.
CAPITULO UM
O 24 de agosto
Quando abro os olhos, percebo que tem alguma coisa errada. Não
reconheço o quarto, mas não é apenas isso. É mais. Como um sentimento
terrível que se enrosca em minha alma; algo sussurra no meu interior: prepare-
se. Há muito mais do que palavras sussurradas e sentimentos terríveis. A
última coisa que lembro é da dor — imensa, debilitante, mas foi-se por agora. E
jamais quero experimentá-la novamente. Porém, há outra coisa, algo a mais.
Não é até que me sento e esfrego o rosto com as mãos, sentindo o
arranhão de uma barba de alguns dias, que começo a notar algo
definitivamente errado. Onde está minha barba cheia? Eu não havia raspado
em anos.
Lentamente, enquanto percorro os olhos pelo meu corpo, percebo novas
realizações: mãos lisas, limpas, coxas musculosas e abdomên tanquinho. Este
não é o meu corpo.
Lanço as cobertas de lado e voo para fora da cama. Meus pés se
encontram com pisos de madeira fria enquanto olho para o quarto luxuoso em
que estou. As paredes são de um cinza escuro e as janelas grandes,
abrangendo toda a extensão do chão ao teto. Tudo parece moderno e de elite;
como nada que eu tivesse escolhido ou gostasse.
“Onde diabos estou?” Murmuro, estranhando o som e segurando minha
garganta com uma mão. Até minha voz está diferente. Meu coração bate em
meus ouvidos quando o pânico me domina. Estou drogado? Isso é apenas um
sonho?
Corro para a primeira porta que vejo, abro-a e encontro um closet cheio de
ternos e sapatos de couro brilhantes. Definitivamente não são minhas roupas,
BN TOLER
pois não consigo me lembrar da última vez em que coloquei um terno. Balanço
a cabeça em descrença quando abro a porta ao lado.
O banheiro.
Com dificuldade para enxergar na escuridão, deslizo a mão para cima e
para baixo na parede, até que finalmente encontro um sensor sofisticado de
alta tecnologia e o banheiro se ilumina. O espelho gigante acima da pia dupla
de granito revela um homem bonito e musculoso, de olhos selvagens e vestido
com boxer de seda vermelha. Ele ainda possui um abdomên tanquinho que a
maioria dos homens mataria para ter. Seu cabelo está desgrenhado, ombros
aprumados e boca aberta. Parece tão assustado quanto eu. Levanto as mãos
para esfregar o rosto novamente, para acordar desse sonho e.... assim faz o
homem no espelho.
“Mas que porr—?” Passo os próximos cinco minutos fazendo movimentos;
saltos, expressões faciais estranhas, gestos de mão — o homem no espelho
imita tudo o que faço. Bato-me várias vezes, mais e mais. Ele continua
imitando todos os meus movimentos, seu rosto ficando tão vermelho quanto o
meu pelas bofetadas.
“Acorde!” Dou um grito, só para escutar a voz que me deixa ainda mais em
pânico. “Este não sou eu,” digo ao homem no espelho. “Não sou você.”
Fico congelado, com os pés plantados no frio azulejo do chão do banheiro,
dividido entre confusão e pânico. O que devo fazer? Estou no corpo de outro
homem. Quem você chama quando uma merda assim acontece? Se ligar para a
polícia, vão me amarrar em uma camisa de força e me mandar para um
hospital psiquiátrico. Isso definitivamente não é uma opção. Tiro do gancho
perto do chuveiro o robe navy terry2 , o coloco e deixo o banheiro rapidamente.
Quando entro no que parece ser a sala de estar, eu congelo. Este lugar é real?
Um dos maiores televisores de tela plana que já vi pendura-se acima de uma
lareira a gás de mármore, o sofá e namoradeira são de couro preto, e as mesas
de café e de canto, de vidro. Tudo parece novo e incrivelmente limpo. A sala
principal é grande, com um enorme espaço aberto. A cozinha é separada por
uma parede, mas a sala de jantar é aberta. Porém, o que realmente se destaca
é a vista. As janelas que vão do chão ao teto oferecem uma vista fantástica da
cidade. Quem é esse cara e como se deu bem assim?
Procuro no apartamento por fotos, contas, qualquer coisa que possa me
dizer a quem este corpo pertence. Na cozinha, descubro uma gaveta de
2 Marca de robe.
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inutilidades, embora essa fosse muito menos bagunçada do que qualquer outra
que já tenha visto. Na casa onde cresci, tínhamos quatro gavetas de coisas
inúteis cheias e o conteúdo variava de ferramentas para retentores a
quinhentos vales expirados para comer no Kentucky Fried Chicken. As únicas
coisas nesta são um jogo de chaves, um isqueiro, um pacote de goma de
mascar e uma foto.
Uma foto dele.
O homem cujo corpo havia roubado de alguma forma.
Minha mão treme enquanto seguro a foto com um sentimento de medo
que me consome. Nela, o homem está ao lado de uma bela mulher, enquanto
seu braço descansa sobre os ombros da moça. Enquanto olha para a câmera
com seu sorriso perfeito, a mulher o observa com um sorriso suave e amoroso
no rosto. Posso dizer que ela o ama. Franzo o cenho e tento afastar a inveja que
sinto. Não lembro da última vez que uma mulher me olhou dessa forma.
“Merda,” respiro, olhando para minha mão esquerda e suspirando com
alívio — sem anel. Ele não parece ter uma esposa. Mas não posso descartar
uma namorada. No mínimo, deve haver uma mulher em sua vida, a julgar por
esta foto.
Assusto-me, quando um som alto soa. É um telefone celular — o seu.
Como um homem louco, tropeço pelo apartamento até que o encontro no
carregador ao lado do sofá.
O nome Waverly ilumina-se na tela.
Olho para o celular como se fosse uma cobra enrolada, pronta para me
atacar. Devo responder? Para de tocar, e solto a respiração que segurava, mas
então volta a tocar de novo: Waverly chamando novamente. Deve ser
importante. E se não responder e ela vier aqui? Não posso arriscar, afinal meu
cérebro está derretendo pelo fato de habitar o corpo de outro homem, sem ter
ideia de quem é. Fecho os olhos e respiro fundo. Deus me ajude, vou
responder.
“Olá,” estremeço. Minha voz é muito profunda, e soa como James Earl
Jones3. Não tive a chance de falar muito desde que acordei neste corpo. A voz
desse cara levará um tempo para me acostumar.
“Uau,” a mulher ri. “Não posso acreditar que realmente atendeu. Eles
estão pedindo neve hoje?”
Mal contenho o bufo que quero deixar sair. Quem quer que ela seja, é uma
espertinha. É verão; e definitivamente não estão pedindo neve. Abro a boca
para dizer algo, mas o quê? Não tenho ideia de quem é ou o que quer, ou ainda
quem sou. É por isso que você não deveria ter atendido o telefone, idiota.
Qualquer coisa que eu diga pode indicar a alguém que o conhece bem que algo
está errado; e preciso ter cuidado. Não quero ser arrastado para uma ala
psiquiátrica.
“Ainda está de pé nossa reunião no The Mill às seis da noite?” Continua
ela. Conheço o The Mill. É um sofisticado restaurante central no qual nunca me
dei ao luxo de comer, mesmo em tempos melhores. E ainda, se tivesse
dinheiro, não teria desejado. Um cara como eu não frequenta um lugar como
aquele. Sou mais do tipo que fica em um bar, sentado em um banco próximo à
parede. Bares velhos e em más condições são meu forte, pois sou muito áspero
para um lugar como The Mill. Mas, vendo como não sou exatamente eu agora,
ou pelo menos não fisicamente, suponho que isso não importa mais.
“Uh...” eu nem tenho dinheiro. Como posso encontrá-la para o jantar?
Mas, novamente, como dizer não? Ela sabe quem sou, pelo menos a quem este
corpo pertence, de qualquer maneira. Provavelmente me ajudará a descobrir o
máximo sobre ele. E posso fingir uma dor de garganta, dessa forma tenho uma
razão para não falar muito. Talvez ela se ofereça para pagar. Ou então este
homem tenha uma carteira em algum lugar. Em meu pânico, pensando em
como pagar pela refeição, esqueço de respondê-la.
“Por favor, não cancele de novo, Max,” acrescenta ela. Seu tom é irritado e
derrotado. “Só preciso de dez minutos do seu tempo e então você nunca ouvirá
a meu respeito novamente.”
Uau. Ela não parece a maior fã desse cara. Pelo menos deu-me seu
nome... Max. Conhecer seu primeiro nome não ajuda muito, mas já é um
começo. Apenas um pequeno passo em frente, mas ainda um passo.
“Tudo bem,” tusso e deixo minha voz um pouco rouca. Tenho de fazer uma
dor de garganta crível se vou fingir estar doente no jantar. “Às seis. Temos
reservas?”
Há uma longa pausa antes da sua resposta:
“Sim. E estão sob o nome Torres. Vejo você às seis.” A chamada termina,
e a tela clareia revelando a data.
24 de agosto.
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CAPITULO DOIS
O 19 de agosto
Com grande dor, vendi meu bem mais precioso — minha moto Harley
Bobber. Meu melhor amigo, Lenny, comprou-a, prometendo mantê-la até que
eu pudesse comprá-la de volta. Ele me fez um favor enorme comprando-a, pois
não precisava de outra moto, mas sabia o que a Bobber significava para mim.
Tive essa moto por mais de uma década. Não valia muito monetariamente, mas
havia um grande valor sentimental. O dinheiro que Lenny me pagou da venda
me manteve abrigado em um motel barato por um tempo, mas, eventualmente,
esse dinheiro acabou.
Daquele ponto em diante... fui parar nas ruas.
Eu continuava pensando que as coisas não poderiam piorar, que
melhorariam se mantivesse paciência e esperança, mas a vida continuou a
provar que estava errado, quando me deixou nas ruas e me manteve lá. Pode
sempre piorar. Quando a minha mão começou a curar após as cirurgias, e
havia recuperado o uso, mas não o suficiente para o trabalho de mecânica
(levaria tempo para a cura completa), ninguém me contratava para os
trabalhos que me candidatava, porque com mais de uma década em mecânica,
sabiam que não era suscetível de ser um funcionário de longo prazo e acabaria
voltando à função anterior.
Como disse, minha irmã teria deixado eu morar com ela, mas parecia que
quanto mais tempo eu ficava longe da Helen (otimista de que as coisas
melhorariam para mim), mais impossível parecia pedir ajuda. Não suportaria
que visse o quão longe eu tinha caído.
No fundo do poço.
A maioria das pessoas pensa que já esteve ali. Mas eu não estava apenas
no fundo do poço — fiz de lá a minha casa.
“Onde você dormiu ontem à noite?” Pergunta a minha amiga Pearl, uma
senhora de meia-idade que está na rua há três anos.
“Bancada no parque,” digo resmungando, enquanto me sento junto a ela,
ao lado do pequeno restaurante, e deixo minhas costas baterem contra a
parede de tijolos do prédio.
Todas as quartas-feiras nos encontramos no Quick Stop Diner porque
uma das garçonetes, Mary, sempre nos compra um sanduíche para dividir.
Mary é gentil, quando a maioria das pessoas apenas franzem os lábios quando
passam.
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Pearl foi uma das primeiras pessoas sem-teto que conheci. Parei alguns
punks que a estavam intimidando e desde então, ela me trata como um santo.
Via uma porção de vagabundos enquanto eles seguravam seus copos para
mim, implorando por dinheiro, então lhes dava qualquer sobra que pudesse ter
no bolso e me sentia bem com isso, mas nunca conheci um pessoalmente. Que
piada. Se não fosse por Pearl, eu morreria de fome. Todos os dias, ela luta por
comida e sobrevivência, mas escolhe compartilhar comigo. Mary tem lhe
comprado um sanduíche todas as quartas-feiras por um ano. É sua única
refeição garantida a cada semana, e agora Pearl me dá a metade. É engraçado
como, às vezes, as pessoas com o mínimo dão o máximo.
“Você viu Murry?” Pergunta Pearl, erguendo as sobrancelhas com
esperança. Ela é tão doce quanto possível, mas não está totalmente sã. Murry,
pelo que percebi, é um gato invisível que só Pearl vê. Às vezes, ela se senta por
horas com a mão movendo como se estivesse lhe acariciando, mesmo quando
não há nada ali. O elusivo Murry aparentemente fugiu recentemente e Pearl
procura em toda parte.
“Não vi,” digo a ela, fazendo o meu melhor para acompanhar, “mas tenho
certeza de que ele aparecerá em breve.”
A minha situação é lamentável e a má sorte tem me deixado em shitville4.
Tão ruim e sem esperança como me sinto, espero que talvez faça meu caminho
de volta à normalidade algum dia, com um trabalho e um telhado sobre minha
cabeça. Mas Pearl está doente. Os doentes mentais e pobres são realmente
rebaixados. Ninguém quer pagar para cuidar deles e todo mundo os trata pior
do que apenas o vagabundo estereotipado.
“Maldito gato,” Pearl balança a cabeça. “Dou alimento, amo, protejo e é
isso que recebo? Apenas me deixa?” Acaricio sua perna. “Tenho certeza de que
voltará.” Tenho ouvido Pearl falar, dia após dia, sobre seu desaparecido gato
invisível e como costumava viver em uma casa agradável em Jersey. Sempre a
mesma história, uma e outra vez, mas sempre que fala sobre Murry, noto que a
alivia. Então, diariamente, a escuto. Sinto uma profunda obrigação para com
esta mulher, não só porque me alimenta. Minha avó, no final da sua vida,
sofria de Alzheimer. Foi um momento realmente desolador quando assisti uma
das pessoas mais fortes que conheci diminuir diante dos meus olhos. Pearl, de
um modo distante, me lembra dos meus avós, mas ao contrário deles, Pearl
está sozinha. Então, assumi o dever de verificá-la todos os dias e quando me
4 Vila de merda.
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“Não mais do que o normal.” Nunca realmente havia olhado para Mary,
não mais do que para encontrar seus olhos brevemente e dizer obrigado. Na
maioria dos dias, tento não olhar nos olhos das pessoas esperando que, se fizer
assim, talvez não me notem. Quero que a vergonha se iguale à invisibilidade.
“Você viu Murry, Mary?” Pergunta Pearl com um tom de esperança. “Ele é
meu gato, todo preto e tem grandes olhos amarelos.”
Mary olha para mim e temos um momento de compreensão mútua, pois
ela também sabe que Pearl não está bem, e depois sacode a cabeça. “Sinto
muito, Pearl,” ela se desculpa. “Não o vi. Mas vou perguntar por aí e manterei
os olhos abertos.”
“Deus te abençoe, querida,” murmura Pearl. “Só espero que ele esteja
bem, pois nunca esteve nas ruas sozinho.”
“Vai ser muito quente hoje, então coloquei duas garrafas de água para
vocês.” Segurando a mão para bloquear o sol de seus olhos, Mary acrescenta:
“Tentem ficar na sombra, se puderem.”
Eu sorrio, sentado na calçada ao lado de Pearl e fico envergonhado,
quando percebo como inútil e patético devo ter parecido para ela. “Obrigado,
Mary. Juro que te pagarei um dia,” prometo em todas as quartas-feiras desde a
primeira vez que Pearl me trouxe, e esta é uma promessa que pretendo manter.
Algum dia, de alguma forma, pagarei a essa mulher.
E todas as quartas-feiras ela olha para mim, sua boca curvada um pouco
como se estivesse sorrindo e franzindo a testa ao mesmo tempo e diz: “Você não
me deve nada. Nos vemos semana que vem.”
“Obrigada, Mary,” Pearl agradece, com o sanduíche próximo à sua boca
quando Mary se afasta. Pearl já abriu a bolsa e teve sua metade.
Assistimos Mary correr e virar à esquina. Ela trabalha o dia inteiro e
mesmo assim, arruma tempo e usa o próprio dinheiro para nos trazer um
sanduíche. Meu estômago resmunga enquanto olho dentro do saco, desejando
que não estivesse tão desesperado para comer este sanduíche. É difícil
descrever a sensação de ser imensamente grato e tremendamente
envergonhado ao mesmo tempo — é realmente humilhante.
Quando dou uma mordida grande no meu sanduíche, olho para Pearl, que
acaba o dela neste momento.
BN TOLER
Quando nos conhecemos, fazia dois dias que eu não comia. Estava muito
orgulhoso para pedir comida, e naquela época, preferia ter fome. Mas Pearl não
estava bem com isso.
O estrondo de um motor chama nossa atenção.
Com o semáforo no sinal vermelho, um homem para, sentado em uma
motocicleta. A Road King que ele dirige é fodona, com uma roda com raio de 66
centímetro 5 . Posso dizer que o homem colocou alguma dedicação nesta
máquina, uma vez que o tanque de combustível está esticado, e tem um
trabalho de pintura personalizado, bem como, foram adicionados guidão barra
de arrasto, capas laterais e sacos de sela. Meu peito aperta enquanto observo, e
sinto uma pontada de ciúme com o pensamento de que nunca terei uma
motocicleta novamente, nem mesmo para montar.
“Com certeza é uma moto bonita,” Pearl nota e solta uma risada rouca.
Franzo o cenho, me perguntando se ela tem um resfriado. É verão, então
provavelmente não são alergias, mas não tenho a chance de questioná-la,
porque ela acrescenta: “Você olha para as motocicletas como a maioria dos
homens olha para as mulheres,” bufo uma risada com suas palavras, pois
Pearl está certa.
“Já trabalhei nessas,” falo, antes da minha última mordida no sanduíche.
Quando termino de mastigar, acrescento: “Elas são fodonas, não me importaria
de ter uma.”
“E você terá. Algum dia, Liam, conseguirá tudo que você sempre quis. Um
cara como você não fica nessas ruas por muito tempo.”
Aprecio suas palavras de encorajamento, mas com a Road King afastando-
se, temo que toda a minha esperança se foi com ela. Nunca me considerei um
homem que precisasse de muita coisa e jamais sonhei com grande riqueza,
embora almejasse dinheiro suficiente para me sustentar, bem como, que
encontrasse uma mulher para me acostumar e começar uma família.
Um cara como eu, Pearl falou. Mas o que eu sou? Não sou nada.
“Quero acreditar nisso,” digo murmurando.
“Você verá, Liam,” murmura ela, “você verá.”
nunca saber. Não quero morrer, mas minhas pálpebras estão mais pesadas e
respirar está cada vez mais difícil, temo que seja tarde demais. Quero orar,
implorar a Deus, mas como pedir a Ele para me poupar, quando tenho tantos
outros pedidos para serem concedidos?
Pouco antes do meu último suspiro de vida, assisto o idiota que ‘tem tudo’
se levantar e limpar o terno, olhando-me enquanto sangro na rua. Penso que
virá em meu auxílio; que correrá para o meu lado, como qualquer ser humano
decente em seu lugar. Inferno, mesmo que ele tirasse aquele telefone do bolso e
chamasse a polícia, já ajudaria. Mas não. Quando nossos olhares se
encontram, não vejo remorso em seu olhar intenso, e sim medo. Olhando para
baixo, ele vê minha mochila a poucos metros de distância, que deve ter voado
para longe do meu ombro durante o impacto. O homem olha por um momento
antes de agarrá-la. Então gira e corre para longe. Acabo de salvar a sua vida, e
isso é tudo que ganho? Minha mochila roubada e um rápido olhar antes dele
fugir de lá?
Aparentemente, aquele idiota é Max.
Agora, estou no corpo de Max.
E sou o idiota.
BN TOLER
CAPITULO TRÊS
Ando pelo apartamento de Max por horas, sem saber o que fazer, pois
morri e assumi seu corpo de alguma forma. Enquanto procuro através das
suas coisas, minha mente está cheia de pensamentos sombrios. Pergunto-me
como minha irmã recebeu a notícia. Será está bem? Eles fizeram meu funeral?
O pensamento é surreal. Em algum lugar lá fora meu corpo possivelmente já
está apodrecendo em um caixão, mas aqui estou no corpo perfeitamente
saudável de Max. O que me enfurece, quando lembro da sua fuga, deixando-me
como se eu não fosse nada.
Balanço a cabeça, e digo a mim mesmo para permanecer calmo. Ficar com
raiva não vai ajudar em nada. De uma forma ou de outra, tenho que encontrar
esta mulher, Waverly, mesmo que ela não pareça animada em ver Max.
Continuo a procurar através das gavetas, lendo as correspondências
(principalmente contas de serviço público), inspecionando chaves, buscando
pistas sobre de onde elas podem ser. Há um laptop em sua mesa protegido por
senha, então não posso acessá-lo, mas encontrei sua carteira ali ao lado. Um
armário de arquivo no escritório tem algumas informações sobre sua vida. Max
é insanamente rico, o que é bastante óbvio a julgar pelo apartamento
gigantesco em Nova Iorque e roupas extravagantes. Examinando alguns
históricos bancários, descubro que ele tem milhões. Mesmo analisando toda a
papelada, não encontro qualquer coisa que me diga onde ele trabalha ou se
mesmo tem um emprego. Talvez esse homem seja apenas rico.
“Deve ser legal,” murmuro para mim mesmo.
Além da riqueza, não descubro muito mais, mas agora sei que estou no
corpo de Maximus Greyson Porter III, e que ele tem fetiche por pornô asiático, a
julgar pelas informações em seus extratos bancários.
BN TOLER
6 É um termo depreciativo originário dos Estados Unidos, para pessoas brancas de baixa
camada social, como operário, camponês, lavrador, entre outros.
7Quando o polegar está machucado, fica inchado e acaba se destacando, ficando diferente dos
demais dedos.
BN TOLER
“Você está bem, senhor?” Ele pergunta em um tom abafado. “Você parece
diferente.”
Minha cabeça recua um pouco para trás. “Diferente?” Merda. Então não é
coisa da minha cabeça. Realmente estou me destacando como um polegar
dolorido. Imagino que pareça como um humanoide de argila, estranho,
enquanto ando por aí com o corpo de Max.
Acariciando meu braço, ele sorri e diz:
“Você ficará bem, senhor. Talvez, só precise de um pouco de ar fresco.”
“Sim, acho que vou dar uma volta, Braxton,” falo, um pouco atrapalhado.
“Obrigado.”
Braxton me olha por um momento, tentando não sorrir, antes que acene
uma vez e responda:
“Muito bem, senhor. Tenha uma tarde agradável.” Ele corre para trás da
mesa e atende um telefone tocando. Enquanto saio para a tarde quente de
Nova Iorque, me pergunto se é assim que Max age com todos que se
aproximam, será que podem dizer que sou uma fraude?
"Espero que não," murmuro para mim mesmo.
BN TOLER
CAPITULO QUATRO
Assim que seus olhos encontram os meus, posso dizer que tem algo
errado. Seja pelo seu sorriso nervoso ou o fato de enxugar as mãos nos jeans
como se as palmas estivessem suadas, se essas coisas não fossem suficientes
para me avisar, a maneira como está vestido certamente faz. Camisa preta
alinhada e jeans perfeitos, mas não seu terno habitual ou designer da moda? A
roupa casual combina muito bem com o pouco de barba em seu rosto, algo que
também está diferente. Ele parece... bem. Quer dizer, Max é um homem bonito,
sem dúvidas, mas uma vez que você o conhece, seus atributos físicos são
rapidamente manchados pelo caráter egoísta. Infelizmente, eu era jovem e tola
quando o conheci e me apaixonei. Acreditava que poderia mudá-lo. O que
aconteceu foi que desperdicei parte da minha vida com um homem que nunca
amaria mais ninguém além de si mesmo.
Respiro fundo e me preparo. “Tudo o que você precisa é da assinatura de
Max,” murmuro silenciosamente para ninguém. Quando me aproximo da mesa,
ele se levanta rapidamente e derruba sua cadeira. Balançando um braço para
trás, a pega antes que caia e a endireita, dando-me um sorriso embaraçado.
Olho para ele sem entender.
“Max,” digo, dando-lhe um curto aceno de cabeça.
“Waverly.” Quando Max diz meu nome, parece estranho, como se estivesse
mais questionando do que afirmando isso. Nos olhamos por um momento
antes que ele arregale os olhos e suspire alto um tanto estranho. “Você está...”
há uma pausa e um aceno com a mão para cima e para baixo em meu corpo
antes que feche os olhos e resmungue, “Legal?” Mais uma vez, isso parece
uma pergunta. E outra vez, o observo sem entender. Legal? Estou bem. Fala
BN TOLER
sério, não posso dizer se está sendo gentil ou... nervoso? Mas por que isso?
Uma vez que me ignorou e deixou claro que não queria nada comigo em anos,
então por que se preocupar em ser bom agora?
Estreitando os olhos e apertando os lábios, me impeço de dizer alguma
merda. Ser sarcástica é um ponto forte em mim; uma espada de dois gumes,
pois é útil em momentos de discórdia com os outros, mas também me faz dizer
coisas das quais lamentaria mais tarde. Aprendi a controlar essa característica
com o tempo, sabendo que para isso há momento e lugar. Além disso, recuso-
me a descer para o nível de Max, que é o tipo de homem que pode facilmente te
pegar em um argumento inútil. Ele sabe como pressionar os botões das
pessoas. Passei muito tempo escolhendo a roupa certa e fazendo minha
maquiagem e cabelo para encontrá-lo hoje à noite, resultando no clássico estou
incrível, mas não parece que trabalhei muito duro para parecer assim. Tentar
ficar bem antes de vê-lo foi um ponto baixo para mim, porque ele não merece,
mas na última vez em que nos encontramos, eu parecia um acidente de trem,
então, senti a necessidade de apagar essa imagem da sua cabeça, tanto quanto
possível. Pergunto-me se pôde ver o meu esforço. Você está legal? Ele
provavelmente pensa que foi engraçado, elogiando-me. Idiota.
“Permita-me,” movendo-se em torno de mim, ele puxa a minha cadeira e
espera para me sentar.
É um gesto gentil e cavalheiresco. Max está brincando comigo. Fique
calma, Waverly, digo a mim mesma. Basta obter sua assinatura e nunca terá de
vê-lo novamente. Mal contenho o rolar de olhos que tanto quero fazer, sento-me
e espero até que se sente novamente.
“Merlot,” digo ao garçom, quando se aproxima.
“Quer mais uísque, senhor?” Pergunta a Max.
“Sim,” Max geme praticamente, quase como se estivesse desesperado por
um. “Continue trazendo.”
Cerro os dentes, mas mantenho a calma. Estou sendo tão estressante
para ele? Não o incomodei em quase dois anos, exceto para organizar esta
reunião. Quando o garçom se afasta, dou a Max um olhar de lado:
“Desde quando você bebe uísque?” Olá, sarcasmo, meu velho amigo.
Quase mordo a língua para me impedir de perguntar, mas as palavras saem da
minha boca antes que tenha a chance de detê-las. Não quero lhe fazer
questionamentos pessoais. Não preciso saber nada sobre ele. Agora que
perguntei, parece que me importo, o que está longe de ser verdade.
BN TOLER
Seu olhar desloca-se para baixo como se não soubesse como responder,
sua mão segura o copo no alto. Limpando a garganta, encolhe os ombros
ligeiramente e sibila, “Estou experimentando,” antes de tomar o último gole,
“minha garganta está um pouco dolorida. Uísque ajuda.” É tão ridículo que
quero rir. Sua voz estava completamente normal momentos antes, mas agora
ele está rouco e com dor de garganta?
Recuso-me a comentar mais sobre isso. Já pedi mais do que deveria. Se
ele sente a necessidade de fingir uma dor de garganta, por que me importo?
Puxo minha bolsa grande em meu colo e tiro a pasta que contém os papéis que
preciso que assine.
“Não vou tirar mais do que o necessário do seu precioso tempo, Max. Uma
vez que você assinar esses papéis, nunca mais ouvirá de mim ou de nós
novamente.”
Seus olhos azuis se erguem e encontram os meus. “Nós?” Pergunta.
Quero chegar do outro lado da mesa e golpeá-lo no rosto com a pasta, às
vezes o meu sarcasmo parece físico.
“Pimberly e eu,” esclareço.
Seu olhar nunca deixa o meu e minha raiva diminui por um momento,
enquanto seus traços faciais se contorcem para algo como um choque.
“Pimberly?” Perguntou.
Agora sei que está brincando comigo. Por que ele sempre age como um
idiota?
“Sim, Max,” respondo, minhas palavras cortadas. “Nossa filha. Pimberly.
Lembra? A garotinha que você não quis?”
BN TOLER
CAPITULO CINCO
bam-obrigado-senhor8. Max, onde quer que o bastardo esteja, não teve chance
e também não tive. Desde o momento em que ela entrou, sinto como se
estivesse sem ar. Assim que a vi, reconheci imediatamente como a mulher da
foto que encontrei na gaveta de inutilidades no apartamento de Max; aquela em
que Waverly sorri para ele enquanto Max sorri para a câmera. Parece uma
mulher inteligente, bonita, curvilínea e pequena. Seu cabelo loiro está
amarrado em um rabo de cavalo e, embora esteja em um elegante vestido de
negócios, sua composição tem algo diferente. Sua maquiagem não é pesada ou
ruim, apenas deu-lhe um olhar de garota pin-up 9 , quente como o inferno.
Deixe-me apenas esclarecer, não é fácil encontrar uma mulher atraente
enquanto se está no corpo de outro homem; o efeito é semelhante ao que teria
experimentado no meu, porém, não é natural porque estou no de Max.
Pergunto-me momentaneamente se essa atração é exclusivamente minha ou se
vem dele. Talvez, de alguma forma eu esteja mais atraído porque estou em seu
corpo. Pelo menos, Max deve ter sido atraído em algum momento.
“Posso pagar,” a interrompo, e procuro no bolso o dinheiro que peguei da
gaveta de Max, mas paro, pois não quero terminar a noite ainda. Para começar,
necessito de mais tempo para descobrir isso. Porém, preciso de muito mais
uísque. “A conta vai esperar,” informo ao garçom, arrancando o cartão da sua
mão e deslizando-o de volta para ela. “Temos muito para discutir.” Ele se afasta
enquanto Waverly olha para mim. A julgar pela rapidez com que seus olhos
castanhos se tornam assassinos, posso dizer que não gosta da minha decisão,
mas necessito de tempo. Talvez, Max não queira isso, certo? E se assino e ele
perde todas as chances de ver sua filha, e é tudo culpa minha? Enquanto
contemplo a enorme decisão que devo tomar, não percebo o quão furiosa
Waverly está.
“Seu saco de merda mentiroso!” Ela grita. Uau. Waverly tem uma pequena
boca perversa. Fico boquiaberto com suas palavras. Minha reação não a
perturba porque ela continua. “Você disse que assinaria. Esses papéis são o
que você queria.”
Meu estômago cai.
Max disse que assinaria?
Merda.
8 O ato de ter sexo sem sequer se preocupar em tentar obter a mulher para o orgasmo.
Geralmente dura cerca de cinco segundos. No caso, alusão ao fato de que ela pagou a conta,
sem nada em troca.
9 Entre a sensualidade e a inocência.
BN TOLER
CAPITULO SEIS
“Aquele filho da puta!” Meu irmão Matt berra de onde se encontra, sentado
à mesa da cozinha.
“Matty,” sibilo, repreendendo-o. “Olha a língua.”
“Oh, Jesus, Pim está dormindo há horas,” diz, antes de tomar um longo
gole de cerveja. Ele não está feliz com a notícia e não posso culpá-lo. Seu cenho
está franzido e sua boca torcida para um lado, com a famosa expressão de
‘Estou chateado’. Nosso maior medo todo esse tempo era que Max acordasse
um dia e mudasse de ideia sobre estar na vida de Pim e quisesse ser um pai.
Mas pior do que isso era: o que seria de Pim se algo me acontecesse? Max teria
os primeiros direitos sobre ela e isso aterroriza a Matt e a mim.
Tiro meus sapatos, um de cada vez enquanto me sento em frente ao meu
irmão e os jogo na pilha de calçados ao lado da porta dos fundos. Eles batem
contra a parede antes de aterrissarem nos pares de Nike gigantes e botas de
trabalho de Matt, e nos sapatos de tamanho infantil, com tema da Disney, de
Pim.
“De qualquer maneira, por que diabos você usou esses sapatos para se
encontrar com aquele babaca?”
Eu reviro os olhos. Não porque sua pergunta me incomode ou que ele
esteja sendo ridículo, mas porque eu sou ridícula. Por que usei saltos para me
encontrar com Max?
“Foi estúpido,” admito. “Acho que eu só queria ficar bem, sabe? Fazê-lo
sofrer...se isso fosse possível.”
BN TOLER
Um lado da sua boca se curva para cima, mas ele luta contra o sorriso.
Quando Matt está zangado, quer parecer dessa forma.
“Você parece a assistente social mais bem-sucedida de Nova Iorque,” ele
brinca. Matt nunca foi fã da minha escolha de carreira, mas sempre me apoiou.
Meu irmão é o melhor; só quer que eu seja feliz. E no fundo ele sabe que o meu
desejo de ajudar os outros vem da nossa infância, de um tempo em que a
nossa mãe nos abandonou, nos deixando com o nosso pai que, da forma como
tentou, nunca conseguiu arcar com todas as despesas. Houve momentos em
que não tínhamos calor ou sapatos que se encaixassem. Quero ajudar boas
pessoas que não querem apenas um folheto, mas que precisam de uma mão
para ajudá-las a se erguer. Sou o Ronald Reagan dos dias atuais.
Sorrio, mesmo que Matt esteja me provocando. Devia estar louca quando
pensei que serviço social era uma grande carreira, porém, mais um ano de
faculdade e estarei com meu diploma. Posso nunca ser bem-sucedida
financeiramente, mas serei realizada como ser humano e isso significa muito
para mim.
Provavelmente preocupado que tivesse ferido meus sentimentos quando
não lhe respondi, Matt rapidamente acrescenta:
“Você foi a melhor coisa que aconteceu com aquele idiota.”
Bufo e dou um sorriso. Meu irmão achava isso de cada namorado que tive.
Crescendo, nosso pai tinha dois empregos que o mantinham longe de casa por
muito tempo. Logo, com dois pais ausentes, Matt assumiu a responsabilidade
de cuidar de mim e me proteger. E é claro, ele pensou que qualquer um com
quem me envolvesse era um ‘idiota.’ Acontece que, quando se trata de Max é
verdade.
“Não queria apenas parecer sexy,” esclareço. “Queria parecer que estava
indo bem; que minha vida é boa.”
“E funcionou?” Ele pergunta.
Curvo minha boca ao pensar sobre isso. “Não sei,” respondo
honestamente. “Ele definitivamente não é o Max que me lembro. Parece...
diferente. Mas não tenho certeza se isso foi um reflexo por me ver ou se estava
brincando comigo.”
“Não parece tão diferente para mim,” Matt diz. “Ele não assinou os papéis,
embora tenha dito que assinaria. Parece a mesma merda de sempre.”
BN TOLER
Não posso discutir sobre isso. Max nunca foi um cara que faz as coisas do
jeito fácil. Se ele não se sente no controle completo de uma situação, cava os
calcanhares no chão e torna tudo o mais difícil possível. Às vezes, faz isso
simplesmente ignorando-me; se recusando a conversar ou cooperar. Pego a
cerveja de Matt, tomo um gole longo antes de deslizar de volta para ele e dizer:
“Vou dar-lhe alguns dias antes de chamá-lo novamente.”
Matt nega com a cabeça. “Max teve tempo suficiente. Você precisa
empurrar mais.”
Também pensei nisso. Havia me preocupado, imaginando que
incomodando e empurrando Max, só iria fazê-lo resistir mais, pois ele gosta de
torturar-me. Levá-lo ao tribunal sempre foi uma opção, mas Max é rico. Não
tenho dúvida de que, se optasse por esse caminho, ele montaria uma equipe
fantástica de advogados e me aniquilaria. Preciso pensar a esse respeito, mas
nesse momento, estou muito cansada. Caminhar pela cidade de Nova Iorque
em saltos, além de mais de uma hora no metrô e Max se recusando a assinar
os papéis tinha drenado minha energia.
“Você está animado com sua viagem?” Pergunto, desesperada por mudar
de assunto. Matt e sua namorada Alice partem em um passeio de duas
semanas pela Europa. Economizaram para a viagem por anos.
Matt balança a cabeça algumas vezes. “Pronto para algum tempo fora do
trabalho, isso é certo.” Faço uma careta, pois ele trabalha tão duro e tem uma
namorada séria, mas ainda encontra tempo e energia para me ajudar com
Pimberly.
“Vocês podem levar Pim e eu em suas malas, para que possamos ir
também?” Eu brinco.
“Queria que vocês viessem, pois ficarei preocupado o tempo todo com as
duas.”
“Nós vamos ficar bem, Matt,” asseguro a ele. “Você merece as melhores
férias. Não se preocupe com nada aqui em casa.”
Ele grunhe — sua maneira de concordar em discordar. Sei que não
importa o que eu diga, não há forma de que Max não se preocupe conosco.
“Tenho aula cedo amanhã,” bocejo enquanto alongo meus braços acima da
cabeça. Estou exausta. “Vou para a cama. O almoço de Pim para levar para a
Sra. Patty está na geladeira e não se esqueça que ela tem uma atividade de
exposição amanhã.”
BN TOLER
“Pim nem sequer tem dois anos,” Matt ri. “O que diabos ela vai levar para
mostrar e contar?”
“Sua girafa, é claro.” Pim dorme com ela todas as noites e a leva para todo
lado. “A Sra. Patty só quer que as crianças se divirtam. Mostrar e contar é
divertido.”
“Sim, sim,” murmura Matt. “A Sra. Patty é uma ótima moça, Waverly, mas
acho que ela tem muitas crianças sob o seu cuidado.”
“É assim que funciona a creche em casa, Matt. Além disso, Pim a ama e a
Sra. Patty fica de olho nessas crianças como um falcão.” E minha maior defesa
para a Sra. Patty é o preço; o valor das creches comuns é astronômico. E,
desde que minha renda é de empréstimos estudantis, tenho que economizar
cada centavo.
“De qualquer forma,” acrescento antes que Matt possa argumentar, “estou
acabada. Boa noite. Eu te amo.” Aceno enquanto saio da cozinha.
“Boa noite,” responde Matt, “e tente não se preocupar, Waverly.” Meus
olhos ficam úmidos, mas ele não vê porque já me encontro no corredor, fora da
cozinha. Odeio que Max ainda possa me machucar. Vê-lo naquela noite,
implorando-lhe para assinar os direitos sobre a nossa filha, foi um grande
desgaste emocional. Embora lute como o inferno para pará-la, ela vem de
qualquer maneira: a memória. A primeira, de uma série dolorosa. O começo de
um dos piores momentos da minha vida.
Tudo parecia perfeito.
O apartamento inteiro estava banhado pelo brilho suave da luz de uma
vela, uma garrafa de champanhe sobre o balcão, ao lado das duas taças de
cristal Waterford10, que o chefe de Max nos dera, devido às notícias do nosso
casamento, e o aroma decadente do cordeiro que eu preparava flutuava no ar. O
cenário era perfeito. Minha barriga resmungou de fome enquanto checava o
relógio pela milésima vez. Estava faminta e Max tinha uma hora de atraso. Seu
novo emprego exigia que ficasse até mais tarde, enquanto trabalhava duro para
impressionar seu chefe e colegas.
Então entendi o seu atraso e iria esperar.
Esta era uma ocasião especial.
Atirando a caixa sobre a mesa, agarrou sua taça e tomou todo o conteúdo
de uma vez. De pé, pegou a garrafa de champanhe e serviu-se novamente antes
de tomá-la também.
Cada grama de excitação e felicidade que sentia momentos antes evaporou-
se.
Max não estava feliz.
Ele estava chateado.
“Pensei que você ficaria feliz,” consegui dizer depois de um tempo.
Ele riu arrogantemente e disse:
“Por quê? Porque a mulher que conheço há cinco segundos e com quem me
casei na frente de um imitador de Elvis está grávida? Você está falando sério?”
Fiquei boquiaberta e senti como se meu coração tivesse caído no chão ao
lado dos meus sapatos. Nosso romance tinha sido rápido, um turbilhão
realmente, mas parecia um conto de fadas. Pensei que Max tinha sentido o
mesmo. Não tinha?
“Não entendo! Sei que é cedo, mas.... estamos casados. Concebemos na
nossa lua de mel. É meio romântico, se você pensar nisso.”
Novamente, Max riu, o som cheio de desdém. Ele pensou que eu era
ridícula.
Mal conseguia formar palavras e, quaisquer que eu conseguisse pronunciar,
Max não ouvia. Então fiquei quieta, esperando. Ele obviamente precisava de
alguns minutos para processar a notícia.
“Vou agendar uma consulta em uma clínica amanhã,” ele finalmente falou,
seu olhar fixo em algum ponto próximo a mim. “Vou pagar por tudo. Ainda é
cedo, então não deve ser um problema.”
Alguém pode te nocautear apenas com o uso de palavras? Eu sou a prova
de que sim, é possível. Se não tivesse sentada, teria desmoronado em direção ao
chão. Fiquei sem palavras. Estava em choque.
“Tenho que sair daqui,” Max murmurou. Na porta, ele agarrou sua jaqueta.
“Vou enviar-lhe um texto com as informações da consulta na parte da manhã.”
Quando a porta se fechou, eu fiquei congelada no lugar, minha mente não
permitindo mover-me.
Ele não queria nosso bebê.
BN TOLER
CAPITULO SETE
Depois que Waverly foi embora, pedi mais duas bebidas, bem como
batatas fritas e bife. Lendo através da papelada, ainda estou perdido sobre o
que fazer. Documentos legais não são o meu forte, mas sou inteligente o
suficiente para saber sobre o que estava lendo. Se Max assinar esses
documentos, perde qualquer direito ou reivindicação sobre a filha. Pergunto-me
no que Max realmente havia pensado quando disse que iria assiná-los. Eu
apenas não posso fazê-lo... desistir da minha filha? Não seria capaz de dormir
à noite sabendo que ela está fora, pelo mundo, em algum lugar acreditando
que não a queria. Posso assinar ou não os papéis. Ou, não fazer nada. Estou
inclinado para esta segunda escolha. Pelo menos por agora.
Na volta para o apartamento de Max, pego o longo caminho, na esperança
de encontrar Pearl. Desde o dia em que nos conhecemos, sempre fiz questão de
encontrá-la e verificar como estava. Sei a maioria dos seus lugares habituais,
mas às vezes ela se muda, ou encontra um abrigo para passar a noite.
Encontrei-a fora da Broadway, encostada na parede de uma loja, ao lado de um
papelão com algo escrito e segurando sua caneca. Enquanto as pessoas
passam, ela grita: "Deus te abençoe" a cada uma delas. Ninguém coloca nada
em sua caneca; inferno, nem sequer olham para ela.
Tanto quanto Pearl realmente precisa de dinheiro, a placa de papelão ao
seu lado não descreve isso.
Perdido:
Gato preto de olhos amarelos.
E sob a escrita está desenhado um gato preto que mais parece criado por
alguém no jardim de infância. De longe, a observo por um momento. Quero
BN TOLER
tanto falar com ela como costumávamos fazer, mas não posso. Não sou mais
Liam... pelo menos não fisicamente. Um sentimento de impotência me
consome, e me faz querer bater em alguma coisa. Como fazer isso? Como
desistir de todas as pessoas que eu amava e cuidava? Apenas esquecer delas?
Como ser Max Porter?
Caminhando até Pearl, puxo as notas dobradas do meu bolso, mas
quando começo a contá-las, com a intenção de colocar algumas em seu copo,
ela grita:
“Assassino!”
Tropeço para trás quando ela levanta do chão lentamente, e continua a
gritar:
“Você o deixou para morrer, animal!”
“Eu...”
“Ele salvou a sua vida!” Ela continua, e cutuca meu peito com o dedo,
forte o suficiente para me fazer balançar. Seus olhos estão arregalados de raiva
e seu corpo treme. Pearl fala sobre mim. Ou melhor, sobre Max e como ele me
deixou morrrer. Tudo o que quero fazer é dar dinheiro à minha amiga, mas
esqueci uma coisa enorme: ela me viu morrer. E não apenas isso, assistiu
quando salvei a vida de Max e quando ele se levantou e me deixou morrer na
rua sem um segundo pensamento. Pearl continua a gritar e empurrar, as
lágrimas escorrendo pelo seu rosto sujo. As pessoas que passam por nós, nos
encaram, mas ninguém se importa o suficiente para parar e escutar.
“Pearl,” digo alto, agarrando seu pulso, impedindo-a de me empurrar.
“Você não entende.”
“Liam está no suporte vital, seu idiota!” Ela berra, batendo a mão livre
contra o meu peito. “Os médicos dizem que ele provavelmente não vai
conseguir!” Então, dominada pela emoção, desaba contra mim. Eu a seguro e
a guio até a parede, onde Pearl desliza para baixo até que está sentada na
calçada, antes de cobrir o rosto com as mãos. Observo-a por um momento,
meus olhos arregalados, meu coração batendo forte.
Não estou morto.
Quer dizer, eu existo dentro do corpo de Max, mas o meu ainda vive,
muito mal, de acordo com Pearl. Como isso aconteceu? Com esse pensamento,
meus joelhos dobram. Deslizo pela parede e sento-me ao lado de Pearl
enquanto ela geme, seu rosto ainda coberto. Se estou no corpo de Max, isso
BN TOLER
significa que ele está preso no meu? Será que Max está dentro do meu corpo,
em coma?
Gostaria de explicar a Pearl o que tinha acontecido e dizer que ainda que
ela esteja olhando para Max (o homem que me deixou para morrer), que sou
eu, Liam. Mas como explicar? A resposta é simples: eu não posso. Não sem
parecer louco e, dado que Pearl odeia o Max, é impossível. Nenhuma pessoa em
sã consciência acreditaria em mim. Concluindo que minha presença, ou
melhor, a visão de Max a incomoda, decido que é melhor ir embora. Antes de
me levantar, empurro as notas dobradas em sua caneca e fico de pé.
“Não quero nem uma maldita moeda de dez centavos de você,” ela sibila, e
puxa o dinheiro da sua xícara e joga-o para mim. Algumas das notas voam se
afastando, mas com alguns movimentos rápidos, pego a maioria delas.
Com o dinheiro em minha mão, me inclino para ela e imploro:
“Por favor, pegue. Você pode conseguir um quarto de hotel esta noite.”
“Afaste-se de mim,” rosna ela, virando seu corpo de lado. “Você matou
Murry.”
Minha cabeça cai. Pearl está misturando-me com Murry, o infame gato
preto desaparecido, agora. Preciso conseguir ajuda para ela, e logo.
Deixo escapar um longo suspiro derrotado. Empurrando o dinheiro para o
meu bolso, saio correndo, sentindo vergonha por algum motivo. Sei que Pearl
está furiosa com Max, não comigo, mas quando alguém que você cuida e
respeita te trata com tanto desprezo, não dá pra evitar me sentir como merda.
Duas das três primeiras pessoas que vi como Max o odeiam. Waverly
definitivamente não é sua maior fã. E agora Pearl. Duvido que Braxton seja um
grande fã. Será assim com todos? Tirando o iPhone do Max que trouxe comigo,
pesquiso nos hospitais mais próximos. Por sorte, desde que estou em seu
corpo, sua impressão digital me permite acessar o telefone. Ligo para três
hospitais e finalmente encontro para onde levaram o meu corpo. Pego um táxi,
e já não me importo em tentar ser conservador com o dinheiro que tirei da
gaveta de Max, pois ele é um idiota. Seu corpo é perfeito e saudável, enquanto
o meu provavelmente está mutilado, mal pendurado na vida.
Eles me levaram, ou meu corpo, para um dos hospitais de classe mais
baixa. Faz sentido, sendo um sem-teto. Tive sorte de obter assistência médica,
pois não tinha seguro. Após falar com a recepção sobre como chegar ao quarto
onde meu corpo está, atravesso as alas lentamente. Quero ver o que aconteceu
comigo; como poderia me ver morrer do corpo de Max? E o que acontece se eu
BN TOLER
Não sei o que poderia acontecer. Claro que ele não iria apenas sentar e me
responder, mas quem sabe o monitor cardíaco mudaria, ou um dedo da mão
ou do pé se moveria em resposta.
Mas, novamente, nada acontece.
Descansando a cabeça na grade da cama, solto um rosnado. “Não sei por
que isso está acontecendo, Max. Não encontro nenhum sentido, e não há
ninguém com quem eu possa falar,” levantando a cabeça, acrescento: “Você me
deixou morto naquela rua, cara. A propósito, você é um verdadeiro imbecil.”
“Uh, desculpe-me.” Alguém fala. Rapidamente mudo meu olhar para a
porta e encontro Helen, parecendo louca como o inferno. Seus cabelos ruivos
estão amarrados em um nó desordenado em cima da cabeça, os olhos têm
círculos escuros sob eles, um sinal de que ela não tem dormido em dias. “Há
uma razão pela qual você está aqui chamando meu irmão em coma de idiota?”
Apenas a visão dela me domina, mais do que teria pensado. Não a via há
tanto tempo e meu dia tinha sido uma merda. Tudo que quero fazer é abraçar
alguém que amo. Sem pensar, salto e corro em sua direção, agarrando-a num
grande abraço de urso. Helen luta contra mim imediatamente, mas a aperto
com mais força. Segurá-la é como tentar banhar um gato. Finalmente, ela
grunhe e me empurra para longe:
“Que diabos há de errado com você?”
Tropeçando para trás, dou-lhe uma boa olhada, e minha mandíbula cai.
Ela tem o começo de uma pequena barriga redonda mostrando.
“Você está grávida, Hel?” Ofego em descrença.
Seu rosto se contorce quando ela olha para mim como se eu estivesse
louco.
“Quem diabos é você?”
“Quem é o pai, Hel?” Continuo, pois minha irmã não tem um namorado
sério há anos. Eu fico três meses sem vê-la, e ela está grávida?
“Estou chamando o segurança,” ela se move em direção à cama e pega o
telefone do paciente.
“Não, Hel, espere,” imploro, enquanto agarro seu braço e tento detê-la.
Quando ela se esquiva e bate o telefone contra a minha cabeça, eu caio para
trás e aterrisso em minha bunda. “Caralho!” Assobio, segurando minha cabeça
machucada. “Isso dói, Hel!”
BN TOLER
“Você me toca de novo, e vou esmagar seu maldito crânio com esta coisa.”
Ela avisa enquanto tecla nos botões no telefone. Helen sempre foi pequena,
mas sua força é poderosa, sendo uma das razões que lhe chamava de Hel-short
para Hell Cat11.
“Você vai me ouvir por favor?” Imploro. “Eu juro que não sou um louco.”
“Quem é você?” Grita ela.
“Eu ...” paro de falar abruptamente porque quem sou eu? Como explicar
isso? Porra. É impossível, mas tenho que encontrar uma maneira. Preciso que
alguém saiba o que aconteceu.
Afastando-me, para fazê-la se sentir menos ameaçada, encosto-me na
parede.
“Ok, Hel,” começo, “sei que isso vai ser difícil... entenda, mas, por favor,
prometa não enlouquecer e me deixar dizer tudo?”
Estreitando os olhos para mim, ela inclina a cabeça.
“Você é o namorado dele?”
“O quê?! Não!” Balanço a cabeça com firmeza. “Não sou gay, poxa Hel.”
“Não há nada de errado com isso se você for,” retruca ela.
“Eu sei, mas não sou gay, Hel.”
“Por que você continua me chamando assim, hein?” Pergunta, com
frustração evidente em seu tom. “Esse é o apelido que Liam usa para mim. Eu
não te conheço.”
“Hel,” começo de novo. “Sei que isso é difícil de acreditar, mas eu sou
Liam. Estou... preso no corpo desse sujeito,” aponto para o peito de Max.
“Salvei sua vida outro dia, empurrando-o para fora do caminho, e fui atingido
pelo ônibus. Ele me deixou morto e, quando acordei, eu...” Paro e seguro
minhas mãos. Já me sinto derrotado. Não há como inferir que Helen acredite.
“Eu era esse cara.”
Ela olha para mim sem expressão, seu olhar nunca deixando o meu.
Mantendo o corpo imóvel, Helen lança um braço em direção a sua bolsa que
está sobre a mesa ao lado da cama do hospital.
“Muito sutil, Hel,” eu falo bufando. “Você acha que não posso vê-la chegar
a sua bolsa para que possa puxar aquela pequena pistola delicada para fora?”
12 Cartão de virgindade.
BN TOLER
“Tive vergonha,” admito com remorso. “Não sabia como encará-la assim,”
gesticulo com a mão em direção ao meu corpo na cama.
“Você sabe que estou sempre aqui para você,” ela olha fixamente para as
máquinas. “Você poderia ter ficado conosco.”
“Sou o irmão mais velho; você não deveria ter que cuidar de mim.”
“Isso é besteira e você sabe disso,” lamenta Helen, enquanto tira um fio
solto da roupa. Engulo o nó na garganta, mas não digo nada. Ela está certa.
Sou um idiota. Depois de alguns momentos, com os olhos fixos no chão, como
se estivesse perdida em pensamentos, pergunta:
“Então, o que acontece se nós puxarmos o plugue do suporte vital?” Viro
minhas costas e esfrego meu rosto. Não é essa a pergunta de um milhão de
dólares?
“Eu não sei.” Voltando-me em sua direção, dou de ombros.
“Se tirarmos você do suporte e....” ela fecha os olhos e engole em seco,
porque tudo o que está prestes a dizer é difícil. “Se seu corpo morre, então...
ele...” Helen acena com a mão para mim. “Morrerá?” Ela mal consegue
terminar.
“Essa é a minha melhor suposição,” digo-lhe. “Ou, talvez...” ela olha para
mim, me dando um momento para terminar. “Talvez trocaremos de corpo
novamente e morrerei com o meu, sinceramente, eu não sei.”
“Isso é loucura,” ela diz, mais para si do que para mim. “Quero acreditar
tanto que você é Liam, mas será que estou tão desesperada por meu irmão
estar vivo que poderia acreditar em qualquer coisa? E se o que diz é verdade,
há uma boa chance de que você morra, mesmo assim.”
“Não pedi por isso. Apenas fiz uma escolha rápida para salvar a vida desse
cara,” defendo-me, embora ela não esteja me atacando. “Não queria a vida dele,
nem ter que passar por isso,” respirando fundo, trabalho duro para controlar
minha frustração. Isso não é culpa da Helen, e o fato de que ainda fala comigo
é um passo enorme, pois ela necessita de algum tempo para processar tudo e
realmente acreditar. “Compreendo seu medo,” digo. “E sei que não entende...
eu também não compreendo. Apenas me dê algum tempo para provar. Você me
conhece, Helen. Melhor do que ninguém. Se não puder convencê-la, não
conseguirei com ninguém.” Ela balança a cabeça algumas vezes com uma
profunda carranca no rosto.
BN TOLER
“Eles não vão me deixar mantê-lo em suporte de vida por muito tempo. E
ainda tem o fato de que não há nenhum seguro, e você não mostrar nenhum
sinal de atividade cerebral.”
Eu rosno, frustrado com o desconhecido e as complicações desta situação.
Se os médicos tiram meu corpo do suporte vital, Max pode morrer com meu
corpo. Ou podemos voltar e talvez eu vá com meu corpo. Há muitas incógnitas.
Preciso de um tempo para pensar sobre isso. Não quero impedir a vida de Max
de forma alguma, nem tomar uma decisão que possa prejudicá-lo. Sim, o cara
realmente é um idiota, mas eu não sou. Ser a pessoa de nível maior e melhor é
uma escolha. Se há uma chance dele morrer em meu corpo, preciso impedir
que isso aconteça. E se há possibilidade do meu corpo ser salvo através de
algum milagre médico, então ele deve isso a mim.
“Ele é um milionário,” digo. “Posso acessar seu dinheiro. Max pode pagar a
conta para nos comprar algum tempo. Quem sabe haja um milagre. Talvez meu
corpo cure milagrosamente e desperte?” Nem eu acredito em minhas palavras
e, a julgar pela profunda carranca em seu rosto, sei que Helen tampouco.
“Vamos dar algumas semanas. E veremos o que acontece.” Ela acena com a
cabeça algumas vezes antes de se levantar e mexer com os cobertores sobre o
meu corpo. “Você não precisa estar aqui todos os dias.” Ela assente
novamente. Acho que naquele exato momento, Helen realmente acredita em
mim, embora uma pequena parte pense que é bom demais para ser verdade; e
que seu irmão, mesmo no corpo de outro homem, esteja vivo. Eu a abraço.
Desajeitadamente no início, uma vez que apenas se inclina contra mim, seus
braços imóveis em seus lados, mas depois de alguns momentos, me abraça e
soluça em meu peito. “Tudo vai ficar bem, Hel,” digo, mas não acredito muito.
E não tenho ideia do que vai acontecer.
Conversamos um pouco mais. Dou-lhe o endereço de Max e ligo para seu
telefone através do de Max para que Helen tenha o número. Quando saímos do
hospital juntos, ela dá um soco no meu braço.
“Não desapareça novamente,” adverte ela.
“Ow,” digo, com dor. Isso machuca. Um pouco. Minha irmã não é
mariquinha. “Eu não vou,” prometo. “A propósito, quem é o pai do bebê?”
Helen bufa, divertida pela forma como faço a pergunta. “O nome dele é Brian.
Ele é um vendedor de seguros e é muito simpático.”
Levanto uma sobrancelha em questão.
BN TOLER
“Ele é bom para você?” Sorrio, e ela balança a cabeça enquanto desliza a
mão sobre sua barriga. “Ele é muito bom para mim. Nem me deixa trabalhar
agora que estou grávida. Quer se casar antes que o bebê nasça.”
“Você quer isso?” Seu olhar triste encontra o meu.
“Assim que meu irmão mais velho puder me acompanhar pelo corredor.”
Trabalho duro para controlar minha expressão, não querendo que Helen veja o
quanto suas palavras me atingem.
Agarrando sua cabeça, a puxo para mim e beijo sua têmpora.
“Tudo ficará bem, Hel.” Pode não ser verdade, mas possivelmente, se
continuar dizendo isso uma e outra vez, eu acredite.
Mais tarde, depois de caminhar ao redor indiferente, entro no saguão do
prédio de Max, e Braxton levanta-se de trás da escrivaninha.
“Boa noite, Braxton,” dou um pequeno aceno. Ele me encara com o mesmo
olhar vazio que me deu antes. Fiz algo diferente do jeito de Max? Será que ele
nem sequer oferecia um simples boa noite para as pessoas?
“Boa noite, Sr. Porter,” Braxton finalmente responde, inclinando seu
chapéu para mim, o mesmo olhar em branco em seu rosto. “Oh, por falar
nisso,” tagarela ele, correndo para mim.
Inclinando-se, me informa em voz baixa:
“Encontrei.”
“Encontrou?” Questiono.
“Sim e mandei para a loja, conforme sua instrução. Chegou lá hoje.
Queria te dizer mais cedo, mas você parecia estar com pressa.” Olhamos um
para o outro por um momento e ocorre-me que espera por mim, talvez uma
gorjeta para o que fez. Os porteiros ganham gorjetas, certo? Não tenho certeza.
Estou fora dos meus padrões aqui.
“O que devo a você, Braxton?” Finalmente pergunto quando alcanço meu
bolso traseiro.
Ele ergue as mãos. “Nem uma coisa, senhor. Fiquei feliz em ajudá-lo a
tornar seu sonho realidade.”
Sonho? Pergunto-me como Max poderia sonhar quando ele parece ter
tudo.
BN TOLER
CAPITULO OITO
CAPITULO NOVE
Como muitas vezes na vida, meu ataque a Max não foi conforme o
planejado. Estava convencida de que ele assinaria os papéis imeditamente.
Droga. Droga. Droga. Acabo de deixar minha filha com um estranho (pelo
menos para ela, de qualquer maneira), que na verdade é seu pai e não quer
fazer parte da sua vida.
“E o prêmio de mãe do ano vai para... Waverly Torres,” digo a mim mesma,
na melhor imitação da voz de um locutor. As pessoas que estão no mesmo
elevador que eu, dão-me um olhar estranho, pois acabam de testemunhar meu
monólogo como uma louca.
Ugh! Odeio Max. Por quê? Por que ele está fazendo isso? Por que não
assina os malditos papéis? Subindo no mesmo táxi que nos trouxe, instruo o
motorista a levar-me para a escola, e me pergunto se não devo voltar agora e
buscar minha filha. E se algo acontecer com ela? E se Max estiver ocupado
fazendo alguma coisa e Pimberly cair e bater a cabeça?
Merda. Tenho que voltar.
Meu celular toca e rapidamente o pego da minha bolsa, pensando que é
Max desistindo, pedindo-me para salvá-lo da paternidade da nossa criança. Em
vez disso, o nome de Matt ilumina a tela e torço a boca, sem saber se devo
atender. Isso não vai ser agradável. Deixei uma nota no balcão da cozinha
naquela manhã explicando meu plano porque sabia que se falasse cara a cara,
Matt provavelmente sequestraria Pim e fugiria com ela para me parar. Ele é um
tio muito protetor.
“Alô.”
BN TOLER
CAPITULO DEZ
esquecer o elefante na sala. Pim ri do meu telefone enquanto Hel o tira de suas
mãos gorduchas.
“Motociclismo?” Helen questiona, arqueando uma sobrancelha.
“Realmente, Liam?”
“Pim gosta da velocidade e do som,” defendo-me. “Estive observando por
vinte minutos, sendo a única coisa que encontrei para fazê-la parar de chorar.”
Hel balança a cabeça com o mais leve sorriso, enquanto se vira e olha o
apartamento.
“Você não estava brincando. Ele é cheio de dinheiro. Olhe para isso,” ela
ofega quando finalmente nota as janelas.
“Sim,” concordo. “A questão é como ele tem dinheiro? Não consigo
descobrir o que faz para viver. Se não aparecer para trabalhar, ele pode ser
despedido.”
“Você pesquisou no Google?”
“Uh. . . Não,” admito, sentindo-me estúpido por não ter feito isso já.
“Apenas vasculhei seu armário de arquivos e escrivaninha, mas essa é uma
boa ideia.”
Atirando-me o celular, Helen ordena:
“Pesquise sobre ele. Vou trocar esta pequena princesa.” Agarrando a bolsa
de fraldas, Helen corre para o quarto com Pim a reboque. Abrindo o navegador
da web, insiro seu nome e encontro alguns links. Pelo que posso dizer, Max
não está empregado. Não há muita coisa sobre ele, exceto um obituário, onde
foi nomeado como um sobrevivente do seu pai, que aparentemente, foi um dos
primeiros homens a investir em gás natural, e havia feito uma fortuna. Isso
explica a riqueza de Max, por herança.
“O que você achou?” Helen pergunta, quando retorna com Pim.
“Max está desempregado no momento. Seu pai faleceu há um ano,
deixando-lhe uma fortuna.”
“Deve ser legal,” Helen diz, bufando. “O que é que nós conseguimos de
herança? Um conjunto de colecionador de óculos Miller Lite e uma sala de estar
com cinco mil queimaduras de cigarro.”
“Não esqueça as despesas funerárias,” acrescento. Não, ninguém jamais
chamaria Hel e a mim de herdeiros. Nosso pai faleceu de câncer quando
BN TOLER
“Esse não foi o seu melhor desempenho, mas a parte em que você ficou
esgasgada e não conseguia falar teve um ótimo efeito.”
Fechando os olhos, ela balança a cabeça uma vez, reconhecendo que
pareceu ridículo.
“Ela já comeu,” digo a Waverly. “Pim tem um bom apetite.”
Silêncio.
Waverly não responde nada.
Volto meus olhos para Helen, e os arregalo em uma pergunta silenciosa. E
agora?
Helen morde o lábio, com um olhar de incerteza em seu rosto, obviamente
desconfortável com o silêncio antes de dizer abruptamente:
“Ela fez cocô cerca de uma hora atrás. Boa quantidade e consistência.”
Olho para Hel e mudo minhas feições em um: Por que diabos está falando
sobre seu cocô? Helen revira os olhos, jogando as mãos para cima em defesa,
seu próprio olhar em mim, dizendo: Pelo menos eu disse alguma coisa, idiota.
“A mãe precisa saber sobre isso,” defende-se Hel. “Se eles não fazem ou se
é muito duro quer dizer que podem estar constipados, ou se é solto ou líquido,
podem estar desidratados. Cocô é importante,” conclui, desajeitadamente.
Levanto a mão e esfrego a testa. Este é um grande acidente de trem.
Waverly provavelmente pensa que Helen é louca.
“Obrigada pela informação,” Waverly fala. “Tem filhos, Helen?”
“Um filho,” Helen responde, sua boca curvando em um sorriso enquanto
pensa em David. “Ele tem treze anos. E,” colocando a mão dela em sua barriga,
com uma pequena protuberância, acrescenta, “tenho um a caminho, também.”
Se um olhar pudesse envenenar, eu ficaria cego, morto ou queimado. Os
olhos escuros de Waverly fixam-se na protuberância de Helen, antes de me
olharem com tanta raiva que tive que dar um passo para trás.
“Muito bem, Max,” diz ela. “Esquecerá esse bebê, também?”
Rapidamente, Waverly agarra o puxador do carrinho e leva-o para a frente,
arrastando-o entre Helen e eu.
“Inacreditável,” Waverly murmura, enquanto se dirige para a porta da
frente com Pim em seu quadril.
BN TOLER
Helen vira para mim com os olhos arregalados, quando aponta um dedo
firme em sua barriga.
“Ela acha que este é seu bebê.”
Não quero zombar de Waverly, mas Helen é minha irmã. Não importa se
estou no corpo de Max ou não, o pensamento é grosseiro.
Hel bate no meu braço, fazendo-me parar com a zoação.
“A bebê do Max, Liam. Vá atrás dela, idiota!” Virando-me em direção a
porta, Hel me empurra para chegar a Waverly no elevador.
“E dizer o quê? Ela me odeia.”
“Ela não odeia você. E sim Max. Você pode consertar isso.”
Eu paro, congelado em meus pés, fazendo Helen grunhir enquanto ela
tenta mover-me, sem sucesso. Girando para encará-la, digo:
“Helen, eu não sou Max. Não posso fazer nada que altere sua vida. E se
nós trocarmos de corpo novamente e eu tiver fodido seus planos?”
“Bem, pelo menos você sabe que este não é o bebê dele, Liam. E pode
consertar isso. Não permita que Waverly saia, pensando que o idiota morto
deixou sua filha, enquanto se preparava para ser pai de outro.”
Apertando os punhos, gemo. Odeio isso. Odeio ser Max. Sua vida é uma
teia de egoísmo que faz todo mundo se sentir como merda. Agora eu tenho que
descobrir uma maneira de acalmar Waverly, enquanto ela tem vontade de
cometer um assassinato.
“Waverly!” Grito, enquanto corro para o corredor. Ela já está no elevador;
as portas acabam de abrir quando a encontro. No momento em que me vê,
empurra o carrinho para dentro e levanta Pim mais para cima em seu quadril,
antes de começar a bater repetidamente no botão para que as portas se
fechem. Mal consigo alcançá-la a tempo e, momentos antes das portas
fecharem, enfio o pé no meio e as paro.
“Sério?” Pergunto, quase sem fôlego pela corrida.
“O quê, Max?” Retruca ela. “Meu táxi está esperando.”
“Aquele bebê não é meu,” gaguejo, apontando o polegar na direção do meu
apartamento. “Definitivamente não é meu,” reafirmo quando o pensamento
mais uma vez me faz tremer.
“Oh?” Bufa Waverly. “Planejando desmentir esse, também?”
BN TOLER
“Isso é apenas hipotético,” afirma Helen. “Tudo o que estou dizendo é que
sim, esta situação é uma porcaria, por um lado, mas se você ficar preso aqui,”
cutuca meu peito para enfatizar o corpo em que estou habitando. “Há um forro
de prata14.”
“E então?” Dou uma risada. “Apenas assumirei sua identidade
completamente? Fingirei ser o pai daquela menina?”
“Por que não?” Pergunta Hel. “Não é como se aquele idiota a quisesse.”
Pego as chaves de Max do balcão e abro a porta da frente, indicando que é
hora de Helen ir. Sei que o coração da minha irmã está certo, ela está apenas
tentando me mostrar o lado bom de tudo isso, mas ainda não estou pronto.
“Não faça isso,” lhe aviso. “Nenhum de nós pode ficar aqui. Você entende?”
“Liam,” ela respira meu nome como se eu estivesse sendo ridículo.
“Max,” digo a ela. “Por agora é imprescindível que me chame de Max. A
última coisa que preciso é apaixonar-me por uma garotinha que não é minha,
ou fazer com que ela se apegue a Max, só para deixá-la mais tarde. O que isso
faria com sua cabecinha?”
“E se você ficar como Max para sempre, Liam? Apenas manterá todos à
distância? Como será feliz se não conseguir viver?”
“Eu não sei!” Eu grito, e imediatamente ergo a mão em desculpas. “Foram
apenas dois dias, Hel. Só me dá... um minuto, ok?”
Ela franze o cenho, mas balança a cabeça, como em um acordo.
“Vou ver seu corpo, ou Max, eu acho, no hospital. Quer se juntar a mim?”
“Não,” eu gemo. “Acho que vou dar um passeio... limpar a mente. Você não
precisa ir, sabe disso.”
“Sei, mas eu quero.” Aproximando-se de mim, Helen envolve os braços ao
redor de meu pescoço e me abraça firmemente. Então, dando um passo para
trás, dá um tapa no meu rosto.
“Por que diabos você fez isso?” Resmungo de dor, enquanto esfrego minha
bochecha.
14Frase usada para dizer a alguém que há um lado mais brilhante para o problema que estão
enfrentando. A frase vem do fato de que cada nuvem de chuva escura tem uma borda de prata,
ou forro.
BN TOLER
CAPITULO ONZE
palavras também, quando finalmente nos vê. Olha de Matt para mim, então de
volta para ele, e levanta as sobrancelhas em questão. “É... Tudo certo?”
“Por que você não pergunta a Waverly?” Matt responde friamente, sem
olhar para ela, enquanto beija a mão de Pim.
Fecho os olhos para evitar que rolassem e solto um suspiro derrotado.
“Olá, Alice. Sim, está tudo bem. Matt e eu estamos discutindo um pouco.”
“Não,” Matt intervém. “Waverly apenas ficou louca.”
“Matt,” digo calmamente, lembrando que, embora discordássemos sobre
isso, sua preocupação vem do seu amor por Pim. “Você está exagerando.”
“Ele assinou os papéis?” Novamente, Matt não olha para mim.
Espero um momento, enxaguando o pote em minhas mãos antes de
responder.
“Não.” Eu realmente não perguntei novamente. Estava doente de
preocupação por causa de Pim e abandonei minha segunda aula porque não
pude suportar a ideia de deixá-la com Max por mais tempo, apenas para
aparecer e descobrir que tudo correu bem e ele tinha outra mulher lá com meu
bebê nos braços. Uma mulher grávida, para completar. Acredito que o bebê não
é dele, apenas porque Max nunca negou a paternidade de Pim, ele
simplesmente se recusava a fazer parte da sua vida.
“Então, seu plano não funcionou?” Posso ouvir um eu te disse em sua voz.
Voltando-me para ele, limpo as mãos em um pano de prato.
“Não, mas funcionará.”
Um sulco se forma entre suas sobrancelhas e sua boca torce para um
lado, com o famoso olhar irritado.
“Será?” Pergunta ele, seu tom sério.
“Vou levá-la de volta amanhã,” respondo. A decisão de fazer isso é sólida,
mas na minha voz definitivamente falta a convicção que preciso ter neste
momento. Em pé, Matt levanta Pim da poltrona e beija-lhe o rosto, sem
importar-se com as cenouras manchadas por toda parte. Pim ri quando Matt a
beija, mesmo que estremeça um pouco por causa da barba dele.
“Vou dar banho nela,” diz, secamente. Ele está chateado e usa Pim como
uma razão para sair da sala.
“Matt,” Alice tenta intervir, talvez como uma mediadora entre nós.
BN TOLER
“Agora não, Alice,” adverte. Seu tom não é rude, mais como por favor, me
dê algum espaço. “Agora, é hora do banho.”
“Tem certeza?” Pergunto, um pouco surpresa. “Sei que você teve um dia
longo.”
“Tenho certeza. Alice e eu saíremos amanhã para nossa viagem e não verei
Pim por duas semanas,” murmura enquanto sai da cozinha. Olho para a porta
depois que Matt sai, uma sensação desconfortável se assentando sobre mim.
Odeio chateá-lo, pois ele é a minha rocha. O que mais me perturba, porém, é a
ideia de que Matt pode estar certo. E se isso se volta contra mim?
“Quer me contar?” Alice pergunta, enquanto puxa uma cadeira e senta-se
à mesa. Ela está com Matt por cinco anos e o conhece tão bem quanto eu, e
tornou-se mais como uma irmã para mim do que apenas a namorada do meu
irmão.
“Max não assinou os papéis, então tomei uma atitude,” explico
simplesmente, como se isso fosse suficiente explicação. Tiro a bandeja da
cadeira de Pim e a levo de volta à pia para lavar.
“E o que exatamente você fez?” Alice me pergunta.
“Apareci em seu apartamento e deixei Pim com ele.”
“Waverly!” Ela ofega como se eu fosse louca.
“Por favor, não comece,” lhe imploro. “Entendi. Eu entendo, mas
momentos de desespero exigem medidas desesperadas.”
Indo para a geladeira, ela agarra uma cerveja e volta para seu assento.
“Bem... como foi?”
Isso é difícil de admitir, mas não tenho escolha.
“Não exatamente como planejei, mas isso vai funcionar. Vai,” defendo-me.
“Você está preparada para as consequências se isso não acontecer?”
É uma pergunta justa, embora eu a odeie por fazê-la. A verdade é que não
tenho certeza. Não pensei muito sobre isso de antemão, porque estava tão certa
de que Max desistiria no primeiro momento.
“Sim.”
“E está certa de que colocar Pim nessa situação é o melhor para ela?”
BN TOLER
Uma vez que Alice está fora da cozinha, fecho a torneira antes de secar as
mãos.
Jogando o pano de prato no balcão, decido não pensar mais nisso. A
decisão foi tomada. É apenas uma questão de tempo antes de Max quebrar sob
a pressão de ser pai; só preciso ter paciência. Quando Max assinar os papéis
renunciando seus direitos à Pim, Matt ficará extasiado. Só preciso de mais
algum tempo.
BN TOLER
CAPITULO DOZE
Meu coração aperta com suas palavras. Max chamou Pim de querida. Isso
significa que está se apegando? Meu estômago se torce enquanto o observo,
horrorizada. Pegando seu celular, toca a tela algumas vezes e entrega o telefone
para Pim apenas quando um motor alto é ouvido. Ela imediatamente se senta
no chão, o estofamento da fralda amortecendo a queda, e olha para a tela. Max
a observa enquanto se levanta, um olhar de adoração no rosto. Quando ergue
os olhos e encontra os meus, seu sorriso largo imediatamente cai e ele balança
a cabeça como se acordando de algum sonho.
“Corridas de moto,” explica com desdém. “Pim gostou de vê-las ontem.”
“Desde quando você assiste corridas de motocicleta?” Pergunto, enquanto
cruzo os braços, em descreça com o que estou ouvindo e vendo.
Ele encolhe os ombros e inala profundamente.
“Apenas um... passatempo por agora, eu acho.”
O encaro, mas Max olha para qualquer coisa, menos para mim. O
ambiente está quieto, exceto pelos sons das motos em seu telefone e Pim
fazendo "Vroom, vroom". Há uma parte minha que quer arrancá-la e sair
correndo de lá, mas então me lembro de algo: Max ama jogos. Ele adora me
irritar e este é, provavelmente, apenas mais um exemplo disso. O homem deve
ter adivinhado meu jogo final: quebrá-lo para fazê-lo assinar os papéis. Pelo
que vejo, ele tem abraçado o desafio e está vencendo, o que me deixa
cambaleante. Talvez meu plano não funcione e Matt esteja certo. Max sempre
foi bom em me fazer duvidar. Não ajuda que, não importa a situação, Max
tenha essa autoconfiança que nunca parece ir embora. Isso, por si só, é
intimidante. Me considero uma mulher confiante, mas não estou nem perto do
seu nível. Como a maioria das pessoas normais, sempre tenho dúvidas e me
questiono sobre o que acontecerá. E Max não se importa com as situações ou
potenciais colisões ao longo do caminho, pois tudo ocorre exatamente do jeito
que ele quer, apenas pelo fato de querer isso. Por um lado, eu sei que não é
fácil lutar contra alguém que tem tanta certeza de si. É intimidante. Por outro
lado, invejo-o, desejando ser assim, às vezes.
Mordo o lábio inferior enquanto olho para Pim, e travo uma luta interna,
pois ela parece... feliz. Minha filha ficou bem no dia anterior com Max. Devo
deixá-la novamente? Então lembro da senhora que estava aqui no dia anterior.
Qual o nome dela? Helen? Voltaria hoje? Odeio a ideia de outra mulher que não
conheço com minha filha, mas quem sabe Pim seja melhor cuidada se ela
estiver aqui. Olho para Max e digo:
BN TOLER
mas mesmo eu sei que ele não vai tão longe para fazer isso. Então, o que é?
Será que Max quer fazer parte da vida de Pimberly? Mudou de ideia? Ou é
como uma corrida experimental em que ele está testando seus limites? A
percepção de que esta situação pode não funcionar positivamente me preocupa
e pesa sobre mim agora. Max pode acabar querendo Pimberly como parte da
sua vida e, embora, fosse algo que eu queria no passado, evoluí desde então, e
não quero mais isso. O fato é, mesmo que ele tenha se tornado um novo
homem, Max não a merece. Não depois de tudo o que fez.
Quando as portas do elevador se abrem, uma lágrima escorre pelo meu
rosto enquanto revivo uma das memórias mais dolorosas da minha vida.
Max tem trabalhado na empresa Phelps e Winsor por pouco mais de um
ano. Na verdade, um dia depois de receber o telefonema do próprio Sr. Winsor,
oferecendo-lhe a vaga, foi o dia em que ele me levara para Las Vegas e nos
casamos por um imitador de Elvis. Como era um trabalho que ele queria
desesperadamente, me considerou seu amuleto da sorte quando conseguiu, daí o
casamento rápido. A área de recepção onde sentei e esperei tinha brilhantes
pisos de mármore e grandes janelas que revelavam a mais deslumbrante vista
da cidade, mas a atmosfera confortável se foi rapidamente. Não porque carecia
de beleza; pelo contrário. O escritório era lindo, a vista épica, os homens e as
mulheres que se movimentavam por ali eram todos deslumbrantes, com roupas
impecáveis e cabelos sem falhas. Não, me senti fora do lugar porque, em meio a
toda essa beleza estava eu — quatro dias após o parto. Com minha barriga
inchada, o cabelo oleoso e desarrumado, e ainda vestida com roupas da
gravidez, porque nada mais se encaixava. Eu era um espinho entre as rosas.
Sentada, esperei por mais de uma hora enquanto Max estava em uma
reunião. Sua secretária lhe disse que eu estava aqui para vê-lo e educadamente
pediu-me para me sentar, informando-me que ele estaria comigo em breve.
Finalmente, a porta do escritório se abriu e Max conduziu uma loira alta usando
saltos e uma saia lápis para fora, enquanto os dois riam alegremente um para o
outro. Ele sabia da minha presença, mas fez isso, de qualquer maneira. À
medida em que o observava sorrir para a loira enquanto ela ajustava sua
gravata, pensei que meu coração, realmente, não poderia ficar mais ferido, mas
estava errada. Max provaria isso.
Quando a loira saiu, seu olhar se dirigiu para mim e ele fechou os olhos
como se eu o aborrecesse. Com um movimento de sua mão, me indicou para
segui-lo em seu escritório, não se preocupando em esperar-me, embora tenha me
BN TOLER
CAPITULO TREZE
Passaram-se dez minutos desde que Waverly saiu, e como espero Helen a
qualquer momento, quando a campainha toca, não fico surpreso. Porém, ao
abrir a porta, não é minha irmã, e sim um cara.
Um cara grande.
Ele me olha de cima a baixo, rindo para si mesmo, antes de murmurar:
“Já faz um longo tempo, Max.” Mesmo com o boné de Yankees puxado
para baixo cobrindo os olhos, não é difícil dizer que este homem não gosta de
mim. Não tendo ideia de quem é, ou de como responder. Faz muito tempo?
“Isto é ridículo, Matthew,” diz uma mulher ao seu lado. Não posso vê-la,
mas não é difícil ouvir o aborrecimento em seu tom.
“Fique fora disso, Alice,” o homem, Matthew, lhe responde.
“Ela está aqui?” Pergunta ele, seu olhar fixo em mim.
“Quem está aqui?”
Ele bufa e olha para a mulher ao seu lado, como se estivesse dizendo, você
pode acreditar nesse cara?
“Minha sobrinha,” ele fala grunhindo. “Você sabe, a menina que eu tenho
ajudado a criar porque você é um idiota parasita.”
Passando a mão pelo meu rosto, luto com o gemido que quero deixar sair.
Esse cara é o irmão de Waverly, claro que sim. Meus ombros caem, quando
percebo que ainda não encontrei uma pessoa que pense bem de Max. Até
agora, todas pensam que ele é mau e pelo visto, não estão errados.
BN TOLER
“Vamos nos atrasar para o voo, Matt,” afirma a mulher, forçando-o de lado
para que ela possa me ver. Uma mulher alta, com a boca curvada num sorriso
nada agradável, diz: “Olá, Max.”
“Uh... Oi.” Consigo dizer. Mais uma vez, não tenho ideia de quem é.
“Matt gostaria de ver Pim antes de pegarmos nosso voo para a Europa.
Podemos entrar?” Quem quer que ela seja, não perde tempo e vai direto ao
ponto.
Olho para Pim e noto que ela está a meio caminho de mim. Sorrindo, ela
deixa escapar alguns gargarejos excitados enquanto vem de encontro ao seu
tio. Sabendo que está animada para ver Matt, fico de lado e permito que ele
entre.
“Minha menina.” Matt se espreme entre mim e a porta, e vai em direção à
Pim rapidamente. Comparado com o cara durão de momentos antes, agora ele
age como um ursinho de pelúcia. Isso não é difícil de entender, pois Pimberly
transforma os mais viris homens em corações moles, eu sei disso por
experiência própria. Quando ele a pega, continua caminhando para o
apartamento, ficando mais longe da porta. Acho que Matthew não se importa
muito se Max o quer ali, ou não. Alice, lança um rápido olhar para mim,
franzindo a boca, mais como um desculpe, mas realmente não sinto muito.
Matt envolve Pim em um grande abraço enquanto segura sua cabeça em
seu ombro.
“Ela está bem, Matt,” Alice afirma enquanto passa a mão sobre a cabeça
de Pim. “Agora diga adeus. Temos de ir.”
“Eu malditamente odeio isso,” Matt murmura baixinho.
“Linguagem, Matt,” Alice o repreende enquanto bate em seu braço.
Ouvindo a maldição de Matt, sinto algum alívio. Pelo menos se a pequena
começar a balbuciar a palavra com f15, eu não serei o único a levar a culpa.
Fico de pé observando-os, minhas mãos nos bolsos, enquanto falam
suavemente com Pim e uns com os outros, antes de Matt me notar e estreitar o
olhar para mim.
“Quer uma foto ou algo assim, Max?” Resmunga ele.
“Matthew,” Alice geme, depois de soltar um suspiro exasperado.
15 Foda-se.
BN TOLER
16 Cereal saudável.
BN TOLER
“Então, por que você olhava para ela desse jeito?” Minha irmã nunca
desiste. Pode ser tão malditamente frustrante.
“Deixe para lá, Helen,” grito em aborrecimento.
“Por quê?”
“Porque...”
“Diga-me,” exige ela.
“Porque ela me alimentou, Helen.” Rosno, mantendo minha voz baixa para
que outros ao redor não ouçam, mas com ênfase suficiente para indicar que
estou com raiva. Não pela pergunta em si, mais pela vergonha, que de alguma
forma se manifesta através da ira. Não tenho vontade de explicar à minha irmã
que tenho Mary na mais alta escala de respeito porque ela alimentou seu inútil
irmão desabrigado quando ele não podia pagar por uma comida para si mesmo.
Os braços de Helen se soltam.
“Te alimentou... você quer dizer quando estava vivendo nas ruas?”
“Sim.” Digo, sentando-me, e apertando o punho sobre a minha perna
debaixo da mesa. Estou tão zangado e odeio isso. Sou um homem orgulhoso, e
sei disso, pois esse sentimento me manteve longe da minha irmã; tinha muita
vergonha para enfrentá-la naquela circunstância. Nunca quis ser irracional
quando se tratava de orgulho e agir como um idiota. Infelizmente, minha raiva
é parcial, por causa do meu orgulho e vergonha. Mas principalmente, devido à
abstinência de esteroides. Ao ponto de, a cada segundo do dia, uma verdade é
reiterada: tendo Max como um idiota. Me sinto furioso em um minuto e alegre
no próximo. Quase chorei naquela manhã quando Pim ficou animada sobre ver
vídeos de moto novamente. Que diabos é isso? Acredito que estou perdendo a
cabeça. Então, um momento de luxúria veio sobre mim enquanto observava
Waverly morder o lábio. Ela é uma mulher linda, mas mesmo naquele
momento não tive uma ereção; me senti atraído, mas fisicamente, lá embaixo,
não houve nem mesmo uma pontada. Aparentemente, Max anda enfrentando
disfunção erétil também. Eu realmente odeio-o.
Com algumas respirações profundas, me acalmo e tento explicar,
enquanto o lábio inferior de Helen treme. Ela quer chorar e está se
controlando. Não tenho certeza se a minha pequena raiva a alterou, ou se foi a
revelação do que Mary significa para mim, talvez ambos. De qualquer maneira,
odeio ver minha irmã ferida.
BN TOLER
“Estou surpresa que você se lembra de tudo e, por sinal, não fiz cocô na
mesa.” Helen solta um suspiro, afastando os olhos de mim. A verdade é que ela
fez. Como eu sei disso? Oh, só porque de alguma forma fiquei preso na sala de
parto quando ela deu à luz a David, porque o pai era um maluco e eu, o único
membro da família vivo para estar lá no momento. David era prematuro e a
coisa toda foi assustadora pra caralho, mas não havia outra escolha. Era
estranho e desconfortável, mas minha irmãzinha precisava de alguém ali que a
amasse e não a deixaria sozinha. Meus olhos estavam fechados por cerca de
90% do parto e fiquei perto da cabeça de Helen o tempo todo, afastando-me do
evento principal, mas lembro do médico dizendo para ela não se preocupar,
pois isso acontecia o tempo todo, enquanto eles tiravam o papel debaixo dela e
se livravam dele. Foi um daqueles momentos sobre os quais você nunca, nunca
mais fala. Além disso, ela ameaçou me matar enquanto dormia se eu falasse.
“Mesmo se eu tivesse feito cocô,” ela sussurra a última palavra. “É parte
do parto. É tudo parte da... beleza.” Helen acena com a mão ao acaso.
Sorrio.
Alto.
Então Pim começa a rir, ou mais como berrar também, e eu gargalho
ainda mais.
Helen se sacode um pouco enquanto tenta parar de rir também.
Segurando uma mão para cima, ela bloqueia a outra da linha de visão de Pim,
enquanto me mostra o dedo do meio.
“Idiota,” murmura ela. Como disse antes, estávamos loucos, mas não
inteiramente.
Depois de comermos, pego Pim e entrego a Helen.
“Você se importa de levá-la para fora, para que eu possa falar com Mary
por um segundo?”
“Venha aqui, querida.” Helen diz, enquanto alcança Pim. Quando a
pequena olha para mim antes de aninhar a cabeça contra o meu peito, não
pude evitar sorrir. Ela gosta de mim. Não quer me deixar. A boca de Helen se
arqueia enquanto esfrega as costas de Pim.
“Parece que você tem uma fã.” Minha garganta aperta. Alguma coisa
naquele momento me faz sentir tão bem. Me sinto... feliz? Ou triste? Meio que
quero... chorar? Que diabos é isso? Eu não choro... nunca. Malditas emoções!
Os esteroides são a epítome do mal. Talvez a minha reação é quase que
BN TOLER
totalmente devida aos esteroides, mas isso não muda que o momento é
incrivelmente doce, mas com esse pensamento vem uma realidade brutal. Pim
gosta de mim, o que significa que talvez ela esteja apegada. Claro, percebo que
não é só ela. Estou me apegando, também. Beijando o topo da sua cabeça, digo
a ela:
“Não demoro, querida. Vá com Helen e então poderemos brincar no
parque.” Pimberly grita um pouco, enquanto Helen a pegava, mas quando lhe
entrego mais Cheerios do saco, ela se acalma à medida em que empurrava
freneticamente sua mão cheia na boca, tentando comer os cereias. Helen e eu
sorrimos.
“É melhor me entregar a caixa, por precaução,” diz Helen. Com Pim em
seu quadril e a caixa em sua mão livre, ela se dirige para fora. Assim que estão
fora da porta, Mary vem e começa a limpar os pratos restantes da nossa mesa.
Quando limpo a garganta para chamar sua atenção, ela coloca os pratos para
baixo e se vira para mim, um sorriso brilhante em seu rosto.
“Esqueceram alguma coisa?”
“Na verdade, quero te entregar algo,” começo. Sei que Mary pode recusar
uma grande soma de dinheiro, então me preparo. Olho em volta do
restaurante, para ver se alguém nos observa. Não quero fazer de Mary um alvo
para algum ladrão porque viram-na aceitar um monte de dinheiro. Quando
sinto que é seguro, continuo, e estendo a mão com as notas dobradas de cem
dólares. Logo, o sorriso de Mary se desvanece em um confuso franzir de
sobrancelhas, quando ela percebe o que é.
“Isso é muito para uma gorjeta,” declara, seu tom segurando uma
sugestão de ceticismo.
“Isto não é apenas uma gorjeta. É para você.”
“O quê?”
Abaixo a mão, quando ela não pega o dinheiro.
“Você é uma boa pessoa, Mary. Sei que toda semana você leva um
sanduíche para uma mulher sem-teto, e que paga por isso do seu próprio
bolso. Quero dar-lhe isto para talvez ajudá-la com o que possa precisar.”
Mary olha para o dinheiro um pouco pensativa, mas posso dizer que não
importa o quanto precise, ela não quer pegar isto.
BN TOLER
“Ambos são gratos pelo que você faz, Mary,” asseguro-lhe. Essa mulher
nunca saberá o que essa refeição significava para nós.
“Você também conhece Liam?”
“Apenas vi você alimentá-los, isso é tudo. E só queria dar algo bom para
alguém como você. O dinheiro no envelope é para eles.”
“Como sabe que não vou manter tudo isso?”
“Da mesma forma que você diz que Liam é um bom homem. Às vezes,
apenas sabemos. E sei que você vai fazer o que é bom.”
Não tenho certeza de como Mary está levando essa conversa, mas quando
ela me abraça, e com força, não consigo me parar e retribuo, isso significa mais
para mim do que ela entenderia. Sou grato a esta mulher de uma maneira que
não posso explicar, pois ela vê Max, não Liam. Estando no corpo do Max, há
coisas que não consigo parar, e esta é uma delas. Fisicamente, sou esse
homem saudável e rico, mas é minha alma que existe dentro dele e ela se
lembra dos dias em que vivi nas ruas sombrias e sujas, com fome e sem
esperança. Lembra-se também da bondade de uma estranha; a bondade de
Mary. Torturo-me e me pergunto se doar o dinheiro de Max está certo, mas no
final, decido que não me importo. Max tem muita coisa e Mary não, e ainda
ajudava a Pearl e a mim com uma refeição. Naquele dia, se não estivesse lá, o
corpo do Max seria o único em coma, não o meu. Quando nos separamos um
do outro, Mary enxuga os olhos.
“Obrigada...” ela faz uma pausa, percebendo que não sabe o meu nome.
“Não sou ninguém,” digo a ela. “E eu que agradeço. Você pode me fazer
um favor?”
“Claro,” Mary responde, sem hesitação.
Tomando a sacola de presente que está apoiada na cadeira, entrego a ela.
“Você daria isso para Pearl?” Mary olha para o pacote na minha mão, seu
olhar curioso. “Você pode olhar,” permito-lhe. Pegando o saco, ela olha para
dentro e sorri.
“Um gato preto de pelúcia,” ela ri. “Pearl vai adorar isso.”
“Seu nome é Murry,” lhe informo. “Obrigado, novamente, Mary.”
Pegando os pratos da nossa mesa, ela me dá um aceno brusco.
“Terei certeza de que eles se alimentem. Prometo.”
BN TOLER
Não tenho coragem de dizer que eu, ou melhor, Liam, não estará mais lá.
Em vez disso, concordo com a cabeça. Então saio, encontrando Helen e Pim lá
fora. Pimberly praticamente salta dos braços de Helen para os meus. Nós rimos
novamente apenas para parar quando uma motocicleta faz barulho, roubando
nossa atenção. O rosto de Pim se ilumina num sorriso brilhante, e ela
balbucia:
“Vroom-vroom,” enquanto aponta para a moto.
“Você tem bom gosto, querida,” digo a ela. “Essa é uma Harley.”
“Vroom-vroom.” Ela ri.
Enquanto olho para Pim, meu rosto dói, com um sorriso tão grande.
“Você é bom com ela, Liam,” afirma Helen.
“Li-ham,” balbucia Pim, e Helen imediatamente cobre a boca.
“Ela é como um papagaio, não é?” Digo bufando.
“Sinto muito,” Helen engole em seco. “Eu não estava pensando.”
“Li-ham,” Pim murmura novamente.
Respirando fundo, decido não me preocupar com isso. Talvez se não
fizéssemos um grande negócio, Pim pararia.
BN TOLER
CAPITULO QUATORZE
“Você saiu com ela?” O interrompo, minha voz levantando uma oitava.
Levantando as sobrancelhas, aparentemente surpreso com a minha raiva,
ele responde:
“Sim. Fomos ao café da manhã e ao parque.”
Olho para ele e abro a boca para gritar, com raiva por ter saído com Pim,
quando mal a conhece, mas penso melhor. Max nunca mais a verá. Não faz
sentido. Fechando a boca, me viro e começo a arrumar os pertences de Pim.
“Você está com raiva?” Pergunta-me, com uma sobrancelha levantada em
confusão.
“Não importa,” digo, enquanto jogo a bolsa de fraldas de Pim no carrinho.
Eu não tenho a intenção de fazer barulho, mas o som alto a assusta e ela
levanta a cabeça, seus olhos semicerrados enquanto se ajustam à luz.
“Desculpe, garotinha,” me desculpo quando me aproximo e esfrego suas
costas. Olhando para mim, ela pisca algumas vezes antes de aninhar a cabeça
novamente no ombro de Max. Normalmente, Pim voaria dos braços de alguém
para chegar até mim, então quando ela escolhe ficar com Max, é como se meu
coração caísse no chão. Não ajuda quando Max sorri, enquanto ele vira a
cabeça ligeiramente e beija o topo da de Pim.
“Precisamos ir,” murmuro, enquanto ando pelo cômodo, jogando tudo no
carrinho. Não me preocupo em guardar os pertences restantes. Tudo o que
importa naquele momento é sair de lá o mais rápido possível.
“Não precisa se apressar, Waverly,” diz Max em voz baixa. “Ela
provavelmente está com fome.”
Virando a cabeça em sua direção, digo asperamente:
“Oh, dois dias com ela e você acha que a conhece? Ela é minha filha, Max.
Vou fazer o que quiser.”
“Por que diabos você está tão zangada?” Sussurra ele, com raiva.
“Para começar, você a levou para fora.” Falo, ampliando meus olhos com
raiva. Tanto para deixá-lo ir. “E se algo tivesse acontecido?”
“Como o quê, Waverly?”
“Como...” luto por palavras. “Como você ser assaltado.”
Sua mandíbula treme quando ele me encara.
“Oh, e você não seria tão provável de ser assaltada quanto eu?”
BN TOLER
enquanto cruza os braços. Não posso negar que algo sobre sua postura é
diferente de qualquer coisa que me lembre. Está confiante. Max sempre foi um
homem confiante, mas de uma forma que o fazia parecer superior a todos.
Agora é diferente de alguma forma. Sua expressão é estoica, mas combinada
com sua postura, tem um olhar que diz: Estou cansado dessa merda. O que me
incomoda um pouco, mas não me intimida. Sei que estou certa; não há
nenhuma maneira de que me convença do contrário, não importa quais loucos
jogos de mente ele tente jogar comigo.
“Você trouxe ou não Pimberly aqui e a deixou sob meus cuidados nos dois
dias passados?”
“Sim.” A palavra é dita de forma natural e sem desculpas. Eu fiz, de fato,
isso.
“Se você não acha que sou capaz de cuidar dela, por que diabos a trouxe
aqui?” Max sussurra com raiva, os músculos em sua mandíbula
tiquetaqueando.
Aperto meu punho em meu lado, com a esperança de nivelar o volume da
minha resposta, e grito:
“Para fazer você assinar os papéis.” Inclinando-se para mim, com um
olhar intenso, ele encontra meus olhos. “Não vou assinar esses papéis agora ou
a qualquer momento em breve.”
Soltando um grunhido frustrado, elevo minha voz:
“Por que não?! Você não a quer.” Jogando meu braço, aponto na direção
de Pim. “Eu implorei que você fizesse parte da sua vida e nem sequer olhou
para ela. Você literalmente nos jogou para fora do seu escritório, Max! Por
quê?” Minha última palavra termina em um soluço, as emoções obtendo o
melhor de mim. “Apenas assine-os. Por favor,” lhe imploro. Suas feições
relaxam quando a raiva em seus olhos diminui. É remorso que vejo? Sua boca
volta a ficar achatada, enquanto sacode a cabeça. Então, Max puxa uma toalha
de papel do rolo próximo a ele e me entrega. Meu rosto está em uma confusão
de lágrimas, e imagino que meu rímel esteja estriado por minhas bochechas.
Quando ele se apoia contra o balcão e cruza os braços novamente, não tenho
ideia do que esteja pensando, mas permaneço em silêncio. Quero que Max seja
o próximo a falar.
“Eu estou...” Faz uma pausa, com o queixo erguido, como se estivesse
procurando por suas próximas palavras. “Não sei o que fazer.” Ele finalmente
consegue dizer. “Juro que não estou tentando ser um idiota para você.”
BN TOLER
Quando seu olhar encontra o meu novamente, posso vê-lo; Max realmente está
em conflito. Sobre o quê? Não tenho certeza. “Não posso assinar esses papéis
agora, Waverly.”
Meu corpo estremece, enquanto seguro os soluços que tão
desesperadamente quero deixar sair. Quero atacar, jogar minha raiva nele, mas
sei que não importa. Meu plano não funcionou e agora tenho que sair de lá.
Coloco as mãos nos quadris, inalo profundamente, e o informo:
“Nós vamos sair agora. Não vou trazê-la de volta.”
Arregalando os olhos ligeiramente, Max quase parece desapontado. Então,
passando a mão pelo cabelo, exala com um gemido. Ajoelhando-se na frente de
Pim, ele a pega e fica em pé, sua boca se curva em humor quando ela balbucia
algo incoerente.
“É hora de ir para casa com a mamãe, querida.” Tirando o telefone dela,
ele joga no sofá antes de dar um longo beijo na testa dela, como se
silenciosamente, estivesse dizendo adeus a ela.
“Eu me diverti muito.”
Pim olha para ele e coloca as mãos em suas bochechas. Max rapidamente
sacode a cabeça e finge comê-las, fazendo-a berrar de riso. Fizeram isso mais
algumas vezes, até que eu não aguento mais. Vê-los brincar de alguma forma
me irrita e quebra meu coração de uma só vez.
“Venha para a mamãe,” canto, enquanto estendo as mãos para ela.
Relutantemente, Pim vem até mim e a apoio no quadril antes de me inclinar e
pegar o cabo do carrinho.
“Eu vou.... uh... abrir a porta para você,” balbucia Max, antes de dirigir-se
para a saída. Depois de deslizar o carrinho através da porta, não viro para trás.
Vou direto para o elevador.
Quando aperto o botão de chamada, Max diz:
“Waverly.”
Girando ao redor, encontro seu olhar de onde está, junto à sua porta.
“Por tudo o que vale a pena, você fez um trabalho incrível com Pim. Ela é
uma ótima criança.”
“Eu sei.” Respondo, apenas quando as portas do elevador se abrem.
Puxando o carrinho para dentro, aperto o botão do lobby. Quando as portas se
fecham novamente, Max acena com a mão em despedida.
BN TOLER
CAPITULO QUINZE
Assim que esse pensamento passa pela minha mente e meus pelos
começam a arrepiar-se, Helen lança seu olhar em minha direção, quase como
se sentisse que a observava.
“Merda,” murmuro para mim mesma.
Em menos de cinco segundos, ela aponta em minha direção, e faz Max me
olhar também.
“Podemos ir agora,” digo à enfermeira. Ela me empurra suavemente, mas
só fizemos alguns metros, antes de Max e Helen chegarem até nós.
“O que aconteceu?” Max questiona, quando fica na frente da minha
cadeira de rodas, forçando-nos a parar. Vestido novamente em uma simples
camiseta cinza e jeans, ele mais uma vez parece completamente diferente de si
mesmo.
“Torci meu tornozelo,” respondo secamente, empurrando alguns de meus
fios soltos atrás da orelha. “Tive um pequeno acidente esta manhã.”
“Oh, meu Deus!” Helen ofega, preocupação genuína espalhada por seus
traços. “Pimberly está bem?”
Balançando a cabeça, percebo que eles pensam que foi um acidente de
carro.
“Sim,” lhe asseguro. “Ela está bem. Caí na casa da babá. Estava
segurando Pim, mas ela não ficou ferida... apenas assustada.”
Olhando em volta, Max indaga:
“Quem está com ela agora?”
“Ela ainda está com a babá.”
“Quem está pegando você?”
“Ninguém,” admito, irritada. Ter de dizer a Max e Helen que não tenho
ninguém para me ajudar é humilhante. “Então, se você me desculpar, tenho
que tomar um táxi e pegar Pimberly. É bom te ver novamente, Helen,”
murmuro sem sinceridade.
Max não se afasta do caminho. Ele e Helen trocam um olhar como se
estivessem tendo uma conversa com os olhos.
“Você não pode cuidar dela sozinha com seu tornozelo assim,” diz Max.
“Vou descobrir uma forma, Max,” respondo. “Agora, por favor, saia.”
“Deixe-me ajudar,” Max exige, seu tom suave, mas firme.
Nos encaramos por um momento, nenhum de nós dizendo uma palavra. A
agitação das pessoas ao nosso redor não parece dissuadi-lo.
BN TOLER
“Consegui sem sua ajuda por um longo tempo, Max. E não preciso dela
agora,” lhe ataco. Chicoteando as muletas ao redor, tento levantar, mas a
cadeira de rodas tem minha perna presa. Meu rosto se aquece de
constrangimento, enquanto resmungo desajeitadamente, tentando me levantar.
“Waverly,” Helen diz meu nome suavemente enquanto coloca uma mão
gentil no meu ombro, parando-me. “Por favor, deixe-nos ajudá-la. Já fui mãe
solteira antes. Sei o que é estar ferida ou doente e precisar de ajuda. Não há
problema em precisar de ajuda, sabe?”
Meu olhar cai para a minha perna, meu peito doendo com uma lembrança
que passa através da minha mente.
Depois que Max saiu do apartamento na noite em que disse que estava
grávida, passei a noite inteira rezando para que ele se acalmasse e lamentasse
sua reação. Esperava que com algum tempo, ele percebesse que o bebê era um
presente, mas isso não aconteceu. Em vez disso, recebi uma mensagem de
texto na manhã seguinte, como ele havia dito. Max tinha feito isso, tinha
marcado uma consulta para eu ter um aborto.
A palavra devastadora nem sequer chegava perto de como me sentia.
Empacotando minhas coisas em um saco, saí e fui para a casa de Matt.
Menti e disse que Max estava fora da cidade e não gostava de ficar no
apartamento sozinha. Max me enviou uma mensagem naquela tarde, horas
após o horário da consulta.
“Como foi a consulta? Parei no apartamento, mas você não estava em
casa. Onde você está?”
Ele pensou que eu fiz o aborto.
Eu não respondi.
Talvez fossem os hormônios da gravidez. Ou quem sabe, tanto quanto
odeio admitir isso, era uma mulher patética convencida de que poderia mudá-
lo. Não sei, mas em algum lugar em meu cérebro torcido, me convenci de que
Max mudaria de ideia; que ele iria querer o nosso filho. Meu primeiro passo
para ajudá-lo a chegar a essa conclusão foi dar-lhe tempo e espaço. Embora
suas palavras tivessem cortado como uma faca, poderia entender como ter um
bebê tão cedo poderia tê-lo feito entrar em pânico. Tínhamos casado há apenas
alguns meses e nosso namoro foi curto. Tudo aconteceu tão rápido, talvez Max
se sentiu oprimido. Espaço, lhe daria espaço. Ele só precisava de tempo para
envolver sua cabeça em torno da ideia.
Me escondi na casa do meu irmăo por uma semana. Tive que contatar
todos os professores e fingir a gripe do ano, assim poderia faltar às aulas e
fazer meu trabalho em casa. Além do texto que ele havia enviado depois da
consulta marcada, Max não tentou entrar em contato comigo novamente.
BN TOLER
Ferida.
Fúria sem qualquer mudança.
Senti como se estivesse sufocando nisso.
Finalmente, incapaz de suportar mais, fui para o nosso apartamento,
esperando que naquela noite pudéssemos sentar e tentar discutir novamente.
Queria entender seus sentimentos; por que ele não queria nosso filho? Estava
com medo? Será que pensava que seria um mau pai? O que era? Talvez ele só
precisasse de alguma tranquilização. Estava preocupada, mas determinada.
Nós resolveríamos isso. Não nos deixaria fracassar. Com um suspiro pesado,
inseri minha chave na fechadura, preparando-me para a discussão adiante.
Não deu certo.
Ele tinha mudado a fechadura.
O entorpecimento cobriu-me enquanto sentia o sangue escorrer do meu
rosto. Deslizando pela porta, me derreti em uma pilha, enquanto lágrimas
escorriam por minhas bochechas. Puxando meu celular, liguei para ele.
“Waverly,” respondeu ele.
“Oi,” berrei. “Estou tentando entrar no apartamento, mas minha chave
não está funcionando.”
“Isso é porque as fechaduras foram mudadas. Você não vai morar lá
mais.”
“Max,” respirei, meu coração afundando. “ Por que você está fazendo
isso?”
“Você não foi ao encontro.”
“Não, eu não fui,” concordei, enxugando as lágrimas de minhas bochechas
quentes. “Não podia, Max.”
“Então você fez sua escolha. Tem um envelope na recepção para você, com
a localização e a chave para a unidade de armazenamento onde enviei todas as
suas coisas. Meu advogado está trabalhando em uma anulação. Não quero ver
ou ouvir de você novamente.”
Então ele desligou.
Devo ter ficado lá por horas, entorpecida e sem noção. Como isso
aconteceu? Sabia que Max era egoísta até certo ponto. E que ele podia ser
insensível, mas isso... quem era ele? Eu tinha sido cega?
Nos meses seguintes, procurei-o milhares de vezes. Enviei-lhe fotos de
ultrassom, mensagens de texto e e-mails. Ele nunca respondeu. E nunca
levantou um dedo para ajudar.
BN TOLER
CAPITULO DEZESSEIS
é uma mulher bonita, mas não consigo vê-lo íntimo dela. Seja como for,
descobrirei isso mais tarde.
Max entra novamente e fica em pé, olhando em volta. Dando um polegar
para a cozinha, ele brinca:
“Devo levar a pia da cozinha? A geladeira?”
Revirando os olhos, respondo com ironia:
“Ha, ha, ha.” Então meu sarcasmo está de volta: “Não que você saiba
disso, Max, mas os bebês precisam de muita coisa.” É uma facada barata, que
me sinto mal por golpeá-lo, especialmente quando Max a deixa rolar pelas suas
costas.
Maldito seja por ser a pessoa maior.
“Precisa de ajuda, Hel?” Grita ele, dando o primeiro passo na escada.
Embora se recuse a reconhecer o meu comentário sarcástico, posso dizer que
Max está desesperado para ficar longe de mim no caso de eu ter mais
artilharia.
“Não, peguei!” Helen grita de volta. “Desço em um minuto.”
Pouco antes de Max descer, um dos quadros na parede chama sua
atenção. Inclinando-se, ele observa, e estreita os olhos, antes de um grande
sorriso capturar seus traços.
“Maldição,” murmura ele. “Pim se parece exatamente com você nesta foto.”
A foto é de Matt e eu; eu com três anos e ele, sete. Matt está sentado em
um sofá castanho horrível comigo ao seu lado, descansando a cabeça em seu
colo.
“Essa é a foto favorita de Matt. Ele sempre brinca comigo sobre como
minha cabeça era tão grande que cobriu a maior parte do seu corpo."
Max ri; um riso profundo, saudável e autêntico.
“Minha cabeça não era tão grande,” defendo-me.
Max ri mais alto, o som de certa forma igualmente emocionante e
aterrorizante para mim de uma só vez. Não consigo lembrar de nenhum
momento em que tenha rido assim. Virando seu pescoço, nossos olhares se
encontram e ele dá um pequeno encolher de ombros.
“É um pouco grande.”
BN TOLER
Minha boca abre em surpresa, quando olho para ele. Max está dizendo
que eu tenho uma cabeça grande? Que idiota.
“Na foto,” rapidamente me explica, quando aponta para o quadro
pendurado. “Agora não. Sua cabeça é dimensionada adequadamente agora.
Seu corpo deve ter crescido envolta dela.”
Fecho a boca, minhas unhas tornam-se de repente interessantes,
enquanto olho para elas, pressionando meus lábios para segurar o riso.
Quando você se ressente com alguém como me sinto por Max, você não ri de
suas piadas, nunca. Chama-se conspirar com o inimigo. Já estou indo viver
com o homem; serei amaldiçoada se risse de suas piadas, também.
“Tanto faz.”
Não olho para cima para ver se Max volta a examinar a foto ou se ainda
continua me olhando, até que ele acrescenta:
“Pim se parece com você, Waverly. Ela é absolutamente linda.”
Quando levanto a cabeça, descubro que Max me observa com seus traços
sérios. É um verdadeiro elogio, um dos mais bonitos que ele já me deu. E não
tenho ideia de como responder.
“Ok,” Helen desce as escadas enquanto cantarola. “A menos que haja
qualquer outra coisa que você possa pensar, acho que estamos prontas para
ir.”
Limpando a garganta, Max tosse um pouco, antes de pegar a sacola de
Helen.
“Vou levar isso para o carro.” Um segundo depois, Max está fora da porta.
Olho-o, sem saber o que havia acontecido.
“Você está bem?” Pergunta Helen.
“Sim,” bufo e sacudo a cabeça para limpar os pensamentos. Quando caio
na borda do sofá, ela corre para me ajudar. “Acho que devemos pegar Pim.”
Enquanto Helen me ajuda a ficar em pé e a arrumar minhas muletas,
encontro seu olhar intenso.
“Sei que esta não é sua primeira escolha e que você não confia em Max, e
tem todas as razões para não fazer isso, mas espero que realmente nos deixe
ajudar... pelo menos até que você esteja melhor ou seu irmão volte.”
BN TOLER
O que Helen está fazendo aqui? Ela parece uma boa moça e eu odeio
pensar que Max a engane de algum modo, como fez comigo anos atrás. Queria
que alguém tivesse me avisado.
“Não sei o quão bem você conhece Max, mas este não é ele,” digo, sem
rodeios. “Max não sai do seu caminho por alguém, nem mesmo por Pimberly
ou por mim.”
“Não posso te prometer que esse novo Max está aqui para ficar, mas posso
dizer que é real... pelo tempo que dure... agora mesmo... é real.”
Não entendo o que ela quer dizer e a dor no meu tornozelo está se
intesificando, então deixo isso para lá. Se o novo Max durar o suficiente para
me ajudar a passar as próximas duas semanas até Matt voltar, então que
assim seja. O que vier depois disso, não poderei me importar menos.
BN TOLER
CAPITULO DEZESSETE
“Eu realmente desejo que você fique hoje à noite,” gemo para Helen
enquanto a sigo para o elevador, indo atrás dela como uma criança segurando
a ponta do avental da sua mãe. O que faço com essas duas aqui por dias,
possivelmente semanas? Tive algumas namoradas sérias ao longo dos anos,
que passavam uma noite aqui e ali, mas nenhuma oficialmente viveu comigo. E
se eu deixar o assento do vaso sanitário erguido e Pim cair nele? E ainda, há
uma questão muito maior. O maior problema é manter minha identidade como
Max na frente de Waverly. Ela já mencionou várias vezes que não sou o mesmo
que costumava ser. Estas foram todas as coisas que passavam em minha
mente enquanto olhava para Waverly no saguão do hospital, oferecendo-lhe
ajuda. Sabia que era uma má ideia, mas que escolha tinha? Ela precisava de
mim.
“Você vai ficar bem,” boceja Helen. “Voltarei amanhã depois de passar no
hospital.”
Dando uma boa olhada na minha irmã, meus ombros caem. Pequenos
círculos escuros cercam seus olhos e sua pele está pálida. Helen está exausta e
eu sou inteiramente culpado por isso. Desde o acidente, ela tem estado ao meu
lado, no hospital com meu corpo ou aqui comigo, ajudando-me, enquanto
tropeço na vida de Max.
“Helen, descanse amanhã, ok? Você precisa de um dia para relaxar. Na
verdade, não quero que venha aqui todos os dias, pois está grávida. Precisa
descansar e dormir um pouco.”
Estendendo seu olhar ardente para o meu, ela responde:
BN TOLER
“Posso só ter dias com você, Liam. Dormirei o resto da minha vida, mas
posso não ter meu irmão mais tarde. Então, estarei aqui amanhã depois de ir
ao hospital.”
Puxando-a em minha direção, a abraço enquanto ela pressiona a cabeça
contra o meu peito. Helen funga um pouco, mas não chora.
“Vai ficar tudo bem, Hel Cat,” prometo-lhe. “Não importa o que aconteça,
vai ficar tudo bem.”
A mudança de Waverly e Pimberly para a casa comigo é preocupante, mas
também uma distração bem-vinda. Helen e eu passamos o dia focados em
ajudar Waverly, evitando as más notícias que tínhamos recebido
anteriormente. Não muito tempo antes de nos encontrarmos com Waverly no
saguão do hospital, os médicos conversaram com Helen para atualizá-la sobre
minha saúde. Fazia mais de uma semana e não havia sinais de atividade
cerebral. Meus sinais não reagem à luz e não respondo a qualquer tipo de
estímulo. Fisicamente, estou morto, puro e simples. Só o milagre da medicina
moderna tem mantido meu corpo vivo. O prognóstico é deprimente, para dizer
o mínimo. Já sabíamos disso, mas foi repetidamente reiterado. Os médicos
acreditam que meu cérebro não vai se recuperar. Eles recomendaram
fortemente que me tirassem da vida.
“Tenho medo, Liam,” Helen diz.
Não sei o que dizer e não quero ficar emocional. O maldito uso dos
esteroides de Max ainda tem me bagunçando, fazendo-me sentir como uma
mulher. É isso que a TPM significa para mulheres? Em um minuto me sinto
bem, então me sinto choroso, e por fim chateado. Me sinto louco. Juro a mim
mesmo que nunca farei outra piada sobre mulheres durante sua época do mês.
Agora, com meu prognóstico inalterado, adicionado à mistura, a tarefa
esmagadora de manter a vida de Max; a ideia de tê-lo preso em meu corpo,
congelado; a carga de trabalho que estou criando para Helen; sem mencionar o
possível dano psicológico que estou fazendo a Pimberly e Waverly, há motivos
mais do que suficientes para tirar o meu corpo do suporte vital e ver o destino
agir.
“Em duas semanas, Helen,” digo a ela, enquanto beijo o topo de sua
cabeça.
Recuando, ela me olha.
“Duas semanas o quê?”
BN TOLER
Engulo em seco, preparando-me para sua reação, pois sei que ela não vai
gostar do que tenho a dizer.
“Depois que Waverly e Pimberly forem para casa, tiraremos o meu corpo
do suporte vital.”
“Li-”
Levanto a mão, parando-a.
“Se não houver evidências de que meu corpo acordará, temos que fazer a
coisa certa. Se Max está preso lá, ele merece ser capaz de mudar de volta para
o seu corpo ou mesmo seguir em frente...” faço um gesto com a mão para o
teto, “para o outro lado.”
“O que você quer dizer com ‘ele merece’?” Murmura ela.
“Ok, talvez o cara seja um idiota, mas ninguém merece isso, Hel. E quanto
a mim? Não posso viver assim. Fingir ser ele quando sou.... eu, você sabe? Se
ficar preso em seu corpo para sempre... isso é uma coisa, mas não posso viver
sabendo que Max está preso lá e a qualquer momento poderíamos mudar de
volta, ou eu poderia morrer, ou qualquer outra coisa.”
As portas do elevador se abrem. Estendo a mão para mantê-las abertas
enquanto Helen olha para o chão. Ela precisa de um momento para absorver o
que estou dizendo e não importa quanto tempo demore, darei isso a ela.
“Ok,” ela concorda, após um breve silêncio. “Mas prometa-me uma coisa,”
Hel esfrega o nariz com a manga da blusa.
“O quê?”
“Viva essas próximas duas semanas, certo? Quero dizer,” ela faz uma
pausa, limpando a emoção de sua garganta, procurando por palavras,
“realmente viva, Liam.” Ela finalmente termina. “Gaste um pouco do dinheiro
desse cara, pois ele tem uma tonelada. Isso não faz de você um idiota ou um
ladrão. Faça algo divertido, louco e ria. Dê muito amor para aquela garotinha.
Talvez você não sinta que ela é sua, mas pode ser o mais próximo que pode
chegar de ser um pai. Pode ser apenas duas semanas, mas elas podem ser
especiais. Só, por favor,” ela chora, enquanto descansa uma mão firme no meu
peito. “Viva.”
Acenando com a cabeça, acrescento:
“Eu vou. Agora, prometa-me não derramar mais lágrimas e não se
esgotar.”
BN TOLER
CAPITULO DEZOITO
não posso mentir e dizer que não passou pela minha cabeça. Meu outro
pensamento é: O que aconteceria se Pim tivesse saído do berço e vagasse ao
redor do apartamento, desacompanhada por horas? O apartamento de Max não
é seguro para crianças. Quem sabe o que ele tem nos armários ou gavetas? Me
encolho, pensando nisso. Voltando para o lado da cama onde havia dormido,
pego as muletas e vou em direção à porta, que não está totalmente fechada,
então não acordo Max ou Pim quando abro-a, muito rápido, e praticamente
caio, na minha pressa.
E lá estão eles, dormindo no sofá.
Pim ronca, enquanto mantém seu pequeno punho dentro da camiseta
branca de Max, sua boca ligeiramente entreaberta à medida em que respira
lentamente. Uma das mãos de Max descansa sobre as costas de Pim, quase
protetor, e a outra se encontra atrás de sua cabeça. Engulo em seco enquanto
os observo. Se a vida fosse diferente, esta seria uma foto perfeita. Uma imagem
para enquadrar e mostrar um pai e sua filha compartilhando um momento
doce e amoroso. O que é isso, no entanto... não tenho certeza.
Por uma fração de segundo, sinto uma raiva crescente, uma amargura
direcionada a Max, recusando-me a enxergar a menor beleza nisso, mas luto
contra isso. Tenho sido amarga por anos e estaria mentido se dissesse que não
há dia em que esse sentimento me atinge, mas tenho trabalhado duro para
combatê-lo, pois aprendi que a minha dor, raiva e desdém por Max nunca o fez
mudar, tornando-o um homem melhor; ou amar Pimberly e eu. Não fez a
minha vida melhor. Na verdade, só piorou. Quão pesado o ódio pode ser, com o
poder de afogá-lo. Por meses, depois que Max me abandonou, me sentei no
meu quarto com o laptop, navegando no Pinterest 17 e inundado-me com
citações sobre deixar ir e seguir em frente. Nada disso ajudou, me
atrapalhando mais. Seguir em frente é uma escolha. Podemos permanecer
cimentados no passado, ou avançar em busca de melhores dias.
O ódio é o inimigo do amor, mas os dois estão tão intimamente ligados;
quase de mãos dadas. Você só pode odiar alguém se você o ama. Quando
pensei nisso, percebi que não amava Max. Eu me amei no amor, a maneira que
me sentia confiante em saber que tinha alguém, um parceiro no crime. No
entanto, quando me aprofundei na reflexão, vi que nem sequer tive isso com
Max. Ele nunca foi meu parceiro, meu confidente. Tudo que amei foi uma
17Uma rede social que permite a partilha de fotos e vídeos em diferentes murais, de acordo
com o gosto de cada utilizador. Aliás, o próprio nome pi + interest remete-nos para isso mesmo,
uma parede virtual onde cada pessoa pode pendurar aquilo que mais lhe interessa.
BN TOLER
ilusão, uma ideia. Posso odiá-lo por ser um parasita para minha filha, mas não
por minhas ilusões. Vi o que queria ver e foi minha culpa, não dele.
Quando o telefone de Max toca, quase tenho um treco pelo tanto que me
assusta. Ele ajustou a campainha ao som de uma motocicleta acelerando. Que
diabos está acontecendo com essa obsessão por moto? É estranho. Como um
homem crescido apenas acorda um dia e começa a amar motocicletas?
Levantando a mão livre com cuidado, tentando não perturbar Pim, que não
está nem um pouco perturbada com o som do toque desagradável, Max
procura o telefone freneticamente. Quando encontra, aperta o botão de aceitar
e responde.
“Hel,” ele grunhe. “Que horas são?”
Hel eu sei que é Helen. Ouvi quando ele a chamou assim algumas vezes
no dia anterior.
“Elas ainda estão dormindo.” Ele ri suavemente enquanto inclina a
cabeça para baixo e olha para Pim, sua boca virando em um sorriso. “Pim está
dormindo no meu peito.”
Hel diz algo e Max fecha os olhos, sacudindo a cabeça.
“Não vou tirar uma selfie de nós, Hel,” ele informa em um sussurro.
Depois de alguns segundos, acrescenta: “Não.” Adivinho outra recusa dele
depois que ela empurra. “Você ainda está no hospital?” Max fica quieto por um
momento e então sua boca fica achatada e os músculos em sua mandíbula
apertam-se, quando ele pergunta: “Bem, o que eles disseram?” Enquanto
escuto, finalmente percebo que estou cem por cento espionando. As
medicações têm me deixado lenta, estou ali de pé, como uma mosca na parede,
mas se me movo agora, Max me ouvirá. É errado continuar ali sem fazer minha
presença conhecida, mas noto algo. Nunca descobri por que os dois estavam no
hospital no dia anterior. Estive tão presa em meus próprios problemas e
preocupada sobre como cuidaria de Pimberly, que esqueci completamente de
perguntar o que eles faziam lá. Antes que possa terminar esse pensamento ou
decidir o que fazer, Max diz: “Insuficiência hepática?” Soltando um suspiro
profundo, seu corpo inteiro parece desinflar enquanto escuta o que Helen diz.
“Então estamos trabalhando com menos de uma semana agora?” Minhas
sobrancelhas sulcam enquanto escuto. Do que eles estão falando? Ou de
quem? “Olha,” Max diz bufando. “Vamos falar sobre isso mais tarde.” Quando
ele finalmente desliga, deixa cair o telefone ao seu lado e dobra o pescoço,
BN TOLER
CAPITULO DEZENOVE
Quando passo por ela, sussurra-me: “Vou mantê-la ocupada, mas você
precisa se livrar deles rapidamente.”
Balanço a cabeça e encolho os ombros, minha maneira silenciosa de
perguntar, “Quem?”
“Apenas se apresse,” me ordena em voz baixa.
Mal abro a porta quando um homem baixo, calvo, com olhos escuros e
dentes manchados, cacareja:
“Max-a-million. 18 ” Estendo a mão para ele, que a agarra e tenta algum
aperto de mão estranho de grandes amigos. Não sei como fazer, então acaba
desajeitadamente. Recuando, o homem me avalia e me olha de cima abaixo
com confusão. “Mudando o guarda-roupa, vejo,” ele ri.
Olhando para o elevador, vejo Braxton acenando freneticamente.
“Eu tentei detê-los, senhor, mas eles vieram mesmo assim. Devo chamar o
segurança?”
“Disse-lhe que somos amigos.” O careca grita para Braxton. Então
voltando sua atenção para mim, aparentemente esquecendo tudo sobre
Braxton, acrescenta: “Você parece um bandido assim. Eu gosto.” O homem ri
um pouco mais, incrivelmente humorado por si mesmo. Odeio pessoas que
fazem suposições sobre outras, especialmente as que acabo de conhecer, mas
algo me diz que esse cara provavelmente é assim. O modo como se move
rapidamente, batendo o meu ombro levemente e rindo, me irrita ridiculamente.
Ele está passando dos limites. E por um momento me pergunto se realmente é
quem diz, ou se é assim ao redor de Max. Esse estranho desagradável é o
suficiente para lidar, mas é claro, há mais. Como sempre acontece quando se
trata de Max Porter, sempre tem mais.
Ao lado do homem calvo, há duas mulheres, ambas bonitas, vestindo
saltos e casacos de pele. Mesmo com casacos no meio do verão, posso
acrescentar, não é difícil adivinhar que não há muita roupa por debaixo deles.
“Você não foi ao clube e Wallace disse que você gosta de aprovar todas as
meninas. Ele teve que levar o filho para o acampamento de verão hoje e me
pediu para trazê-las.” Então, inclinando-se para mim, acrescenta: “Não importo
de ser voluntário para isso,” diz em voz baixa, antes de começar a rir
novamente.
“Eu sei,” suspiro alto. “Nós vamos, mas preciso de algum tempo para
esfriar. Você pode esperar um pouco?”
“Sim, eu espero.”
Pegando as chaves, saio sem dizer outra palavra. Waverly provavelmente
ficará chateada. Deus sabe que Max não pode fazer nada agora e
provavelmente precisará de uma boa explicação mais tarde, mas não posso
falar nesse momento, pois tenho medo de que, se ela pressionar ou dar uma de
esperta (ela tem todo o direito, quando se trata de Max), eu explodiria e não
quero fazer isso.
Passo horas andando pela cidade, a procura de Pearl. Preciso ver que ela
está bem. Demora algum tempo, mas a encontro empoleirada em um banco do
parque, o pequeno gato de pelúcia, que pedi a Mary para entregar-lhe, no colo,
e sua mão acariciando-o distraidamente. Suas roupas estão limpas e o cabelo
amarrado. Ela não é Elizabeth Taylor, mas parece bem. Isso me dá algum
alívio.
Uma hora mais tarde, faço meu caminho até a loja em que costumava
trabalhar antes de cair pelas escadas, ferindo-me. Por oito anos trabalhei ali.
Rob, o proprietário, herdou o negócio do pai dois anos antes, e mal mantém o
lugar funcionando. A verdade é que ele não sabe nada de motocicletas. Com a
renda dos negócios diminuindo e minha lesão infeliz, apenas deu-lhe a
desculpa que precisava para reduzir os funcionários, mantendo o lucro sem
parecer um idiota total. Desnecessário dizer que Rob não é minha pessoa
favorita, mas a menor das minhas preocupações no momento.
Quando ouço o zumbido de motores e a música alta de rock tocando a
dois quarteirões de distância, o mal humor e os pensamentos negativos
começam a dissipar-se. Porra, sinto falta deste lugar. Amo mecânica. Há algo a
ser dito sobre entender uma coisa tão complexa e tentar descobrir o que está
errado com uma máquina quando esta não funciona direito.
Quando estou a alguns metros de distância, a vejo.
Minha motocicleta.
Mesmo não sendo mais minha, e sim de Lenny, no meu coração, sempre
será minha. Meu peito aperta quando me aproximo, uma sensação de nostalgia
enquanto me lembro dos anos que tive com ela. Sei que para algumas pessoas
é apenas uma moto; uma armadilha de morte em rodas, como minha avó dizia.
Mas para mim significa liberdade; história, trabalho duro e diversão, tudo em
um. Porra, sinto falta de montar; a sensação do vento e rugido do motor, a
BN TOLER
maneira como a máquina vibrava abaixo de mim, quanto mais rápido eu ia. Até
sinto falta da sensação de uma mulher atrás de mim, com os braços envoltos
na minha cintura, seu peito pressionado em minhas costas. Enquanto me
detenho ao lado da moto, bufo, imaginando Waverly andando comigo,
provavelmente falando na minha orelha o tempo todo sobre como estava indo
muito rápido. Claro, ela iria querer pilotar e teria que pegá-la e colocá-la na
parte de trás da moto primeiro. E pode me chamar de cético, mas duvido que
isso aconteça. Então ocorre-me, estou sonhando acordado sobre Waverly
montada na parte traseira da minha moto. Que diabos está acontecendo?
“Posso ajudá-lo?” Minha cabeça se levanta e encontro Lenny, olhando
para mim, sua testa enrugada em suspeita enquanto ele limpa as mãos
manchadas de graxa com um pano.
“Apenas andando por aqui e vi esta Bobber,” gesticulo para a moto, então
cruzo meus braços. “É sua?”
Lenny sacode a cabeça, dando alguns passos na minha direção, ainda
esfregando as mãos.
“Não, não é.”
Meu estômago cai. Ele vendeu. Droga. Lenny disse que não iria. Mesmo se
fez, não posso culpá-lo. Ele pagou pela moto de forma justa e correta, mas
esperava comprá-la de volta algum dia. Claro... pode não haver algum dia
próximo.
“É do meu amigo. Estou apenas... segurando-a por um tempo.” Balanço a
cabeça, me sentindo um idiota por duvidar. Alívio me inunda, por Lenny ser
um bom rapaz. Nunca deveria ter duvidado dele.
“É uma boa máquina.” Observo, querendo envolvê-lo em uma conversa.
Ele pode não saber que sou Liam, seu melhor amigo, mas sinto sua falta. Não
tenho muitos, e Max certamente não tem nenhum. “Heritage Softail?” Pergunto
sobre o modelo. Qualquer entusiasta de motocicleta real saberia que é um
patrimônio, mas como disse, só quero manter a conversa. Lenny sorri
enquanto empurra o pano no bolso traseiro.
“Meu amigo construiu o motor e cortou o quadro para abaixar a postura.”
Lenny acena com a cabeça, a boca curvada para baixo em uma carranca,
enquanto arranha a barba vermelha. “Ele trabalhou muito tempo.” Enquanto
olho para a moto, quero dar-lhe um tapinha nas costas. Lenny está pensando
em mim e na minha má sorte. Me pergunto se sabe sobre o acidente. Tenho
certeza de que Helen ligou para lhe dizer. Com tudo acontecendo, não
BN TOLER
perguntei se ela o avisou. Movendo meu olhar de volta para a moto, não posso
deixar de sorrir, lembrando do trabalho que empreguei nela. Lenny também
ajudou muito. Passamos muitas noites trabalhando nesta moto depois que a
loja fechava. Às vezes, apenas ficávamos e inventávamos merda para fazer, só
para ter uma razão para sair e beber cerveja. Tínhamos feito esta moto. Os
espelhos se foram e as luzes de sinalização também. É uma motocicleta muito
linda e foda, e reconheço isso. Pode não ter sido a mais cara, mas foi
empregado muito tempo e suor, e isso vale mais para mim.
“Eu gosto,” reconheço. Então, dou um passo em sua direção e lanço
minha mão. “Sou Max, a propósito.”
“Lenny,” diz ele, pegando minha mão em um forte aperto. “Você tem
uma?” Sacudo a cabeça e cruzo os braços novamente: “Não, mas estou
pensando em comprar uma.”
Lenny me olha, depois para a loja e de volta para mim.
“Cara, sei que não te conheço, mas esta moto veio há alguns dias atrás e
as peças que pedi acabaram de chegar, então finalmente estou trabalhando
nisso. Tenho que mostrar a alguém.” Lenny animado sobre uma moto significa
que ela é fodona.
“Oh, sim?” Com um rápido movimento de sua mão, Lenny indica para eu
segui-lo. Quase voo atrás dele, muito animado para conversar com alguém que
conheço e se importa com as motocicletas. Quando entra na baía, comigo logo
atrás, ele anuncia:
“Você já ouviu falar de uma Panhead?” Paro em meu caminho. Ele não
pode estar falando sério.
“Você tem uma Panhead lá?”
Lenny ri.
“1948, homem. Essa coisa me deixa duro só de olhar para ela.”
Sorrio, um riso real, um riso de Liam. Droga, é bom. Quando entramos e
vejo a moto, me sinto como uma criança em uma loja de brinquedos, com os
dedos coçando para tocá-la.
“Ela não é bonita?” Lenny pergunta, seu rosto se ilumina com um sorriso.
“O proprietário está investindo bastante nela. Quer que fique pronta rápido.
Aposto que ele gastou uma fortuna. A velha precisa de algum TLC, mas parece
BN TOLER
boa.” E ele não está brincando. A moto precisa de amor, e é uma joia. Eles não
fazem mais motos assim.
“Parece que ela pode ter alguns problemas elétricos. Você vai substituir o
tubo de escape?”
“Sim. O proprietário a quer completa mais uma vez; limpeza do tanque,
verificação dos freios, uma nova embreagem.” Lenny listou e eu balanço a
cabeça em compreensão.
“Daria minha bola direita por uma moto como esta,” Lenny sorri. “Ela é
extremamente sexy.”
Dirijo-lhe um olhar e coloco uma mão sobre minha virilha.
“Definitivamente estou tendo uma ereção apenas olhando para ela.”
Nós dois rugimos com risos e, antes que perceba, Lenny e eu estávamos
nos divertindo, falando sobre cada moto que poderíamos pensar. Naquela
tarde, passo algumas horas conversando com meu melhor amigo sobre nossa
coisa favorita. Depois de dias navegando pela vida de Max e o desconhecido, de
fingir ser alguém que não sou, pude esquecer todos os meus problemas por um
momento. Esquecer, por um curto período de tempo, que sou Max Porter.
BN TOLER
CAPITULO VINTE
Max parte no início do dia sem uma palavra. Pelo menos nem uma palavra
para Pim ou para mim. Aparentemente, deixa Helen no comando para ajudar-
nos. Soa mais como ele, sair e deixar alguém segurando a bagagem. Helen
insiste que ele tem um assunto urgente para resolver.
Quando lhe pergunto:
“Que assunto urgente?”
Helen responde vagamente:
“Não tenho certeza.”
Então digo a mim mesma que não farei perguntas sobre Max. Não quero
saber sobre sua vida, e depois, mudo de ideia. Só não quero parecer muito
interessada. É um verdadeiro dilema. Tento fazer perguntas à Helen sobre sua
vida, após o seu interrogatório, mas ela mal responde. Talvez Helen seja uma
pessoa que não gosta de compartilhar informações pessoais. Se este é o caso,
tudo bem, mas que seja justo, uma vez que me fez perguntas e respondi, ela
não deveria fazer o mesmo?
Eu gosto da Helen, menos da sua falta de compartilhamento. Ela é uma
pessoa pensativa e uma boneca para Pim. Enquanto Max está fora, Helen
senta-se no chão e brinca com Pim enquanto me deito no sofá com meu pé
para cima, estudando. Avisei aos professores sobre minha lesão e que não
estaria na sala de aula, por pelo menos, essa semana, me certificando de
manter meus estudos.
“Você quer um menino ou uma menina?” Pergunto, esperando que ela me
responda ao menos isso, pois não é uma questão pessoal, é?
BN TOLER
Então eu grito:
“Seja como for, Max.” Ele pode ser tão estupidamente irritante. Como
mais veria a moto, se não no deck do estacionamento? A menos que Max a
tenha trazido ao apartamento, mas isso significa que ele utilizou o elevador, o
que é ridículo. A realização me atinge e meus olhos se arregalam. Ele não fez,
não é? “Onde está a moto?”
Seu sorriso cresce e quero sufocá-lo, pois parece tão emocionado.
“Vou pegar.” Então, curvando-se, ergue Pim e a apoia no quadril.
“Aonde está levando-a?” Eu grito.
Soltando um suspiro, ele abaixa o queixo e fixa o olhar em mim.
“Só até a porta da frente,” me informa. Girando em seu calcanhar, ele sai.
“Você não trouxe a moto até aqui, não é?” Grito, mas ele não responde.
“Não a coloque nela!” Agarro as muletas e levanto. Uma vez que estou em pé,
chamo: “Max!” Se ele trouxe a moto até aqui, provavelmente será expulso do
edifício. O que está pensando? E é melhor Max não colocar Pim nela, pois ela é
apenas um bebê e motos são muito perigosas. Não me importo se está
estacionada ou não, não a quero em uma. “Max!” Grito novamente. Consigo
dar três passos quando ouço algo como um esmerilhamento19, quase como um
forte apontador de lápis elétrico.
Quando olho para baixo, Pim desliza, virando na esquina, em uma
pequena moto de três rodas. Seu rosto ilumina em um sorriso enquanto olha
para mim, e sua cabeça tem capacete de motocicleta correspondente. Max está
curvado, andando desajeitadamente, com o polegar no botão de energia que faz
a moto se mover.
“Agora coloque sua mão aqui, querida.” Max instrui, enquanto pega seu
braço e o move sobre o botão de energia. Em seguida ele solta, e Pim aperta o
botão fazendo com que a moto avance, o que a assusta e ela solta.
“Vroom-vroom.” Ela ri, seu sorriso gengival largo, com alguns dentes de
bebê mostrando.
“O que é isso?” Pergunto, conforme olhamos Pim bater no botão.
“Disse-lhe que comprei uma moto hoje,” brinca, então aperta os lábios
para parar de rir, enquanto absorve minha expressão.
Ele me enganou. E me fez trabalhar duro para sair do sofá por nada.
Rolando os olhos, murmuro:
“Muito engraçado. Um veículo de três rodas?” Pergunto secamente. “Desde
que você é um motoqueiro fodão agora, estou surpresa que trouxe um triciclo,
em vez de um veículo de duas rodas.” O sarcasmo é mantido em meu tom.
“Triciclos são para crianças e veteranos,” ele afirma. “Ou para alguém
como você.”
“Como você? O que isso significa?” Pergunto, defensivamente.
Max bufa.
“Não é uma ofensa. Só quero dizer que você parece o tipo de pessoa que
fica aterrorizada de andar em uma moto de verdade.”
Inclinando a cabeça, estreito os olhos para ele.
“Você não me conhece, Max.”
Dando-me um sorriso afetado, que grita que ele me conhece, Max
pergunta:
“Você já andou de moto, Waverly?”
A resposta a essa pergunta é não, mas isso não tem absolutamente nada a
ver com qualquer coisa. Só porque não montei em uma motocicleta, não
significa que não poderia ou não iria. Se penso nisso, andar de moto parece
assustador. Desistir do controle é difícil para mim e pensar em colocar minha
vida nas mãos de outra pessoa é aterrorizante, mas serei condenada se
admitir.
As muletas estão irritando minhas axilas, então as ajusto, usando isso
como uma desculpa para olhar para longe do Max.
“Não tenho medo de andar de moto.”
“Não perguntei se você está com medo.” Olhando para cima, o encontro
me observando. Ele perguntou se estou com medo, não é?
“Sim, você perguntou.”
Ele me esclarece:
“Perguntei se você já montou alguma.”
“Existe alguma diferença?” Brinco.
“Sim, existe.”
BN TOLER
“Como assim?”
Coçando um lado da face, ele encolhe os ombros.
“Há, sim. As pessoas podem fazer muitas coisas das quais elas têm medo.
Só porque andar de moto te assusta, não significa que você pode, ou não, fazê-
lo.”
“Jesus, Max,” eu gemo, cada vez mais aborrecida com esta conversa. “Não,
eu não montei em nenhuma moto. Está feliz agora?”
“E montaria uma?” Ele é implacável.
“Não sei. Talvez,” gaguejo.
“Certo,” ele reconhece, enquanto vem em minha direção. “Então, ande
comigo.”
Eu rio, um som altivo.
“Com você?”
Qualquer felicidade em seu rosto desaparece e sua boca achata-se,
quando encontra meu olhar com seriedade.
“Sim, Waverly,” afirma firmemente. “Comigo.”
“Você sabe mesmo montar, Max?” Sorrio. A ideia é simplesmente absurda.
Dando um passo em minha direção, Max encontra-se a centímetros de
distância quando me encara, com um olhar pesado de desafio. Quero
desesperadamente dar um passo atrás, e criar distância entre nós, mas não
faço. Não recuo. É isso que ele quer que eu faça. Além disso, as muletas fazem
movimentos desajeitados para trás.
“Não sou o Max Porter que você se lembra, Waverly. Sou um homem
completamente diferente agora. Então, por favor, pare de pensar que sabe tudo
sobre mim.”
Meu rosto esquenta enquanto nossos olhares permanecem trancados.
Odeio esses sentimentos. Suas palavras me irritam, me fazem amargar, me
envergonham. Não tenho certeza de por que me sinto envergonhada, talvez eu
aja de forma amarga porque odeio ser essa mulher, abandonada desprezada?
Ou talvez esteja envergonhada porque no fundo algo dentro de mim percebe
que, entre toda a dor e raiva, Max e eu estamos flertando. Tipo isso. Não é o
que estamos fazendo? Estou flertando com o inimigo e, embora a brincadeira
esteja manchada com algum desdém, pelo menos da minha parte, eu gosto.
BN TOLER
CAPITULO VINTE UM
Mais tarde naquela noite, quando coloco Pim em seu berço de viagem, ela
adormece em menos de dois minutos. A menina havia montado sua motocicleta
até acabar a bateria, então chorou por duas horas até que foi recarregada e ela
montou novamente. Sem dúvida, a moto é um sucesso. E Pim está apaixonada
por ela.
Waverly... bem... para ela a moto perdeu seu brilho depois que a bateria
acabou e tivemos que lidar com uma criança mal-humorada. Após deixar
Lenny naquele dia, não posso negar que estive tentado em comprar-me uma
moto, chegando a pegar um táxi para a loja Harley mais próxima, mas ao
chegar lá, simplesmente não consegui. Posso ser Max Porter no sentido físico,
mas ainda sou Liam por dentro. Não me sinto bem em gastar seu dinheiro
comigo mesmo. Quero dizer, ele já paga a conta do hospital, embora alguém
possa argumentar que é benéfico para nós dois, pois se puxasse o plugue, ele
poderia morrer. Gastarei o que tenho para viver, mas sem despesas
desnecessárias ou extremas. Ainda não, de qualquer maneira. Com exceção
para Pim. Justifico essa compra como algo fresco para fazê-la feliz. E acredito
também que Max precisava fazer algo de bom para a filha.
Coloco um pequeno cobertor sobre Pim e escovo alguns dos cabelos finos
de seu rosto. Foi um grande dia.
“Boa noite, querida,” digo sussurrando.
Quando o celular de Max vibra no meu bolso, fecho a porta do quarto e o
retiro de lá.
O nome Dr. Banahan ilumina-se na tela.
BN TOLER
vezes, a única maneira que poderia lidar com minhas inseguranças era cobri-las
com sarcasmo.
Fingindo um suspiro dramático, respondi:
“Eu sei. Nem todas as garotas são tão incríveis quanto eu.”
Ele riu e relaxou, puxando-me para baixo com ele, então eu estava inclinada
sobre seu peito, nossos rostos próximos.
“Você é um círculo.” Ele falou suavemente, enquanto roçava minha
bochecha com os nódulos dos dedos.
Eu sorri em questionamento.
“Um círculo?”
“Você é um círculo e eu sou um quadrado.”
Eu ri um pouco, mais em nervosismo do que humor. Aqui estávamos, tendo
o piquenique mais romântico e senti que ele estava prestes a terminar comigo.
“Do que você está falando, Max?”
Seu olhar caiu.
“Quero dizer, sou um quadrado. Eu deveria querer coisas que se encaixam
em um quadrado. Em vez disso, estou aqui, com você, o círculo, tentando
encaixar.”
Inclinando-me, o beijei castamente. Sabia o que ele estava dizendo. Éramos
diferentes. Nós estávamos namorando por alguns meses e as coisas chegaram a
um ponto, de nos comprometermos — realmente nos comprometermos — ou
seguirmos em frente? Éramos um caso clássico de opostos que se atraem e,
enquanto ter coisas em comum era importante, acho que encontramos um no
outro tranquilidade. Ele estava tão certo de tudo, enquanto eu sentia que estava
sempre debatendo. Ele tinha um diploma, um emprego respeitável e um 401k20.
Eu ainda não consegui o meu grau da faculdade. Depois que me formei no
colégio, tinha levado um ano para pensar sobre o que queria ser quando
crescesse. Quando finalmente me matriculei, pagar as mensalidades tornou-se
um desafio e acabei saindo por um semestre ou dois para me salvar. Me senti
como uma bagunça. Max, por outro lado, estava tão certo. Ele me impressionou.
Não pelo seu dinheiro, mas sua diligência. Por causa de tudo o que tinha
conseguido em uma idade tão jovem. O invejei.
20Um tipo de plano de aposentadoria patrocinado pelo empregador, adotado nos Estados
Unidos e outros países.
BN TOLER
“A sorte não tem nada a ver com isso. Você ganhou este trabalho.”
Depois que me beijou novamente, se afastou, mantendo sua testa
pressionada contra a minha.
“Case comigo, Waverly.”
“O quê?” Consegui dizer, meu coração batendo como um tambor no peito.
“Case comigo. Vamos pegar um avião esta noite e nos casar em Las Vegas.”
Olhando-o, procurei em seu rosto qualquer sinal de que estava brincando,
mas tudo que vi foi sinceridade. Estaria mentindo se dissesse que a voz da
razão não estava gritando como um banshee21 no fundo da minha mente, me
dizendo que era muito cedo. Conhecia nossas diferenças; também sabia que Max
não era perfeito. Tudo o que sabia, bom ou mau, perfeito ou imperfeito, era que
queria alguém para me escolher. Realmente me escolher.
E pensei que era isso que ele estava fazendo.
Eu era uma otária para romances complicados; tinha a ideia de que,
quando duas pessoas se amavam, apesar dos obstáculos em seu caminho, o
amor conquistaria tudo. Meu coração, embora incrivelmente tolo, estava no lugar
certo, quando, com cada batida, me disse para saltar de cabeça para essa
relação com Max.
Então, é claro, eu disse:
“Sim.”
Enquanto caminhávamos pela rua para chamar um táxi, olhei para cima e
encontrei-o ainda sorrindo. Ia me casar com esse homem. Tudo parecia um sonho
lindo e maravilhoso.
“Pare por um segundo,” ordenei, quando me afastei dele. Um adolescente,
talvez com uns dezesseis anos, estava passando por nós.
“Com licença, você se importaria de tirar uma foto nossa?”
O tipo estranho pegou meu telefone e, depois que lhe mostrei o que fazer,
voltei para Max e envolvi meu braço em torno de sua cintura, enquanto sorria
para ele.
Ele mantém essa foto? Por quê? Olhando para ela, a única coisa que
percebo é..... eu pareço tão feliz. Deus, perdi esse sentimento; o sentimento de
21 Raça de cão.
BN TOLER
Olho-o com incredulidade, e isso só faz com que seu sorriso cresça mais.
Ele está.
Max está seriamente flertando comigo.
Estou dividida igualmente em partes, de achar isso emocionante e terrível.
O odeio e, se o faço, por que diabos quero rir como uma idiota? Então me
pergunto, ele falou isso para me provocar? Para me deixar incomodada? Depois
do ocorrido da moto antes, sei que Max gosta de me tirar do sério. É só ele
mexendo comigo de novo? E se o seu jogo final for, na verdade, me deixar
agitada e incômoda, tenho notícias para ele. Dois podem jogar junto.
Então, curvo minha boca em um sorriso tímido, provocante, como se
achasse divertida sua oferta, levanto lentamente a bainha da minha camisa,
puxo-a sobre a cabeça e jogo a roupa manchada para ele. Quando o tecido
desliza sobre seu rosto, revela um Max com a mandíbula caída e olhos
arregalados.
Ele definitivamente não imaginou essa reação.
Seu olhar desloca-se para cima e para baixo, entre meu rosto e meu sutiã
de renda. Pelo menos ele está tentando não olhar para o meu peito, mas parece
que Max não pode se ajudar. Talvez pareça superficial, mas faz-me sentir
muito bem. Gosto de torturá-lo um pouco. Meu sarcasmo cutuca-me,
sussurrando para que lhe diga, sente-se bem em olhar para o que não pode ter?
Mas, empurro-o para baixo, pois não é momento e nem lugar. Dando a volta,
agarro as muletas e as posiciono sob meus braços. Apontando para a camisa
ainda grudada ao seu peito, digo:
“Lave-a a frio e pendure-a fora para secar. Obrigada.”
BN TOLER
Deixo cair minha cabeça para trás e olho para o teto, com um longo e
lento suspiro. Ela tirou a camisa na minha frente. Sei que sugeri, mas foi uma
piada. Pensei que Waverly cuspiria fogo e talvez esquecêssemos sobre o que
aconteceu quando nos tocamos. Que diabos foi aquilo? Por que a cada vez que
toco nessa mulher sinto como se minhas entranhas estivessem acesas? Ela é
atraente... certo, mais do que isso. Em termos gerais Waverly é extremamente
sexy, mesmo quando me olha, ou para Max, com repugnância. Não sei muito
sobre ela, mas, pelo pouco que sei, é uma mulher linda e incrível, bem como
uma excelente mãe, que trabalha duro para avançar na vida, apesar dos
obstáculos diante dela. Eu admiro isso. Então talvez esteja atraído por ela, mas
isso ainda não explica — por que ao tocá-la, acontece isso comigo?
Então o jeito que ela me olhou... A maneira como nossos olhares fixaram-
se.... Não sei. Foi intenso. E seus seios. Porra. Agora eu tenho a imagem dela em
um sutiã de renda presa em meu cérebro. Lembrando-me do seu olhar escuro
fixo no meu, a maneira como seu lábio inferior prendeu-se entre os dentes,
seus seios, e é aí que acontece. Abaixando a cabeça, meus olhos quase pulam
fora da minha cabeça.
“Nããããããããooooo,” resmungo, enquanto encaro.
A protuberância.
Eu tenho uma ereção.
E uma ereção no corpo de outro homem.
“Nããããããããooooo,” gemo novamente. Isto. Não. Está. Acontecendo.
Mas está.
BN TOLER
22 Loja de conveniência.
BN TOLER
ele não está perguntando a Liam, e sim a Max. Suponho, desde o meu melhor
conhecimento, que Max está em coma, preso em meu corpo, então ele
responderia provavelmente que está uma merda, também. Como não posso
explicar nada disso ao Dr. Banahan, dou uma resposta mais simples:
“Não muito ruim.”
“Você gostaria de começar de onde paramos na última vez?” Ele pergunta
enquanto fecha sua pasta.
Me inclino para a frente, apoiando os antebraços nos joelhos.
“Na verdade, não. Quero fazer algo um pouco diferente hoje.”
Ele levanta uma sobrancelha peluda em questão.
“Ok...”
“Há quanto tempo venho para a terapia agora?” Ele me olha sem
entender.
“Não muito tempo, Max.” Torcendo a boca, penso por um momento sobre
como dizer o que quero.
“Quero que me diga o que você pensa de mim, com base no que sabe a
meu respeito.”
“O que penso de você?” Ele pergunta.
“Nós conversamos sobre um monte, certo? Minha vida e história?” Estou
me arriscando com essas perguntas, não tenho ideia do que eles podem, ou
não, ter discutido nessas sessões, mas faz sentido para mim. Max
provavelmente compartilhou mais com esse cara do que com qualquer outra
pessoa.
“Nós conversamos,” ele responde simplesmente.
“Então, com base nisso, me diga o que pensa de mim ou porque você acha
que sou do jeito que sou.”
Seu olhar se fixa no meu, sua boca apertada.
“E você quer honestidade completa?”
“Sim.”
“E está pronto para ouvir?”
“Estou,” prometo-lhe.
BN TOLER
“Terra para Max,” Waverly diz alto, enquanto acena uma mão na frente do
meu rosto. Pisco algumas vezes, tentando limpar minha cabeça. “Vir ao parque
esta tarde foi ideia sua,” diz ela. “Você planeja estar presente?”
Inalo profundamente e assinto.
“Sim. Desculpe.” O Central Park está agitado, mas não lotado. Depois de
chegar em casa do encontro com o Dr. Banahan, precisava limpar minha
mente. O médico tinha muito a dizer sobre Max Porter. Pensei que seria
benéfico; que descobriria informações-chave sobre o homem cujo corpo tenho
habitado, e descobri. Descobri muito. Demais. Dr. Banahan tinha tanto a dizer
sobre Max que concordamos em nos reunir novamente quando duas horas e
meia não foram suficientes.
Chegar em casa e ficar confinado no apartamento parecia insuportável.
Waverly arrumou uma pequena briga sobre minha ideia de fazermos uma
excursão ao parque, mas quando mencionei sorvete e Pimberly gritou de
emoção, Waverly desistiu. Tive que forçar Helen a ir para casa, insistindo que
descansasse um pouco. Sabia que estava exausta, mesmo que ela negasse.
Visitamos a exposição de animais aberta ao público, e finalizamos nossa
excursão com sorvete. Olhando para baixo, para Pim, vejo que ela tem sorvete
de chocolate manchado em todo o rosto gordinho e mãos, e sua camisa
também está suja dele.
“E... Ela está uma bagunça,” rio.
“Essa sua ideia brilhante de levá-la para tomar sorvete quando está mais
quente do que Hades aqui fora,” Waverly brinca. Porra, essa mulher é uma
espertinha.
BN TOLER
“Eu não vi você reclamar quando tomou aquela colher dupla de sorvete de
chocolate e hortelã,” argumento. Quando ela lança um rolar de olhos para
mim, bufo uma risada.
Waverly segura as muletas juntas, usando-as para equilibrar-se, e se
abaixa para pegar lenços do saco de fraldas de Pim. Seu short cinza (que mais
parece short de pijama sexy para mim, do que short que você usa em público)
levanta-se enquanto ela se inclina, mostrando sua bunda incrível. Dois rapazes
que estão andando por perto diminuem as passadas e viram as cabeças,
olhando sem disfarçar.
Algo surge através de mim. Não sei se é raiva ou ciúme. Não tenho tempo
para analisar isso antes de reagir.
“Mexam-se, idiotas,” advirto, meu corpo tensionando. Eles fazem uma
varredura rápida, enquanto rosno para ambos, trocam olhares e fogem.
O que eu fiz? Quer dizer, eles estavam agindo como idiotas e mereciam ser
repreendidos, mas por que me sinto tão protetor? E com raiva? Balanço a
cabeça e inalo profundamente, tentando me acalmar. Com cada dia, a
abstinência dos esteroides está cada vez menos intensa, mas meu humor ainda
é um pouco oscilante. Os esteroides devem ser o motivo de eu reagir com tanta
força. Waverly se endireita, com o rosto vermelho por ter ficado dobrada e
balançando em um pé, e pergunta:
“O quê?” Ela não tem a menor ideia que dois sacos de merda acabaram
de olhar fixamente para sua bunda.
“Nada,” murmuro. “Você apenas...” Gesticulo minha mão para ela.
“Apenas deixe-me fazer isso.” Tiro os lenços da sua mão. “Pelo amor de Deus,
não se incline de novo,” suplico frustrado. Esta situação fica mais e mais
fodida a cada dia. Não estou sabendo como ser Max, sem ficar ligado às
pessoas ou coisas da sua vida, e isso é exatamente o que está acontecendo.
Estou me apegando a Waverly, e ficando com ciúmes dela. Isso não é bom.
“Você só me forçou a sair e vir aqui para que pudesse me ignorar a maior
parte do tempo e agir como um pedaço de papel higiênico sujo no resto?”
Lanço um olhar para ela, lutando contra um sorriso.
“Um pedaço de papel higiênico sujo?”
Waverly revira os olhos, algo que sempre faz quando está irritada, mas
posso dizer que ela está tentando não rir, pela maneira como aperta os lábios
juntos.
BN TOLER
novamente. Espero pela reação, sei o que pode vir, mas não me afasto. Acredito
que ela vai me xingar. A mulher diria que não tenho o direito, que sou um
idiota, mas o chicote verbal nunca vem. Em vez disso, ela limpa a garganta e
olha para Pim.
“Provavelmente devemos levá-la para casa agora.”
“Sim,” concordo, depois de um momento. “Essa é uma boa ideia.”
Enquanto empurro o carrinho de Pim e Waverly manobra as muletas pela
movimentada calçada da cidade de Nova Iorque, me repreendo. Eu falei
demais. Não tenho o direito de falar aquelas coisas... transmitir esses
pensamentos e sentimentos, porque tudo que ela vê e ouve é Max dizendo-os.
Não eu. Estou perdendo o controle da situação, não que realmente tenha
algum controle disso, para começar. Quando voltamos para o apartamento, me
ocupo fazendo guacamole, enquanto Waverly senta em uma cadeira na frente
de Pimberly e tenta alimentá-la com purê de batata-doce. Pimberly grita e
empurra a mão de Waverly para longe cada vez que ela tenta colocar uma
colher perto de sua boca.
“Ela nem vai tentar comê-las,” Waverly geme. Andando até elas, me abaixo
para que esteja em seu nível.
“Alimente-me. Talvez se Pim me ver comê-las, ela vai querer experimentá-
las.”
Waverly agita as batatas antes de pegar um pouco com uma colher e me
alimentar.
“Isso está... bom... Humm...” Tenho que parar quando sinto o sabor. Eu
gosto de batata-doce, mas essa coisa tem gosto de bunda.
“É tão gostoso, não é?” Waverly questiona, me lembrando que deveria
estar ajudando.
“Oh, sim,” engasgo, me obrigando a engolir a porção.
“Você fez isso, mamãe?”
“Sim, eu fiz,” ela me informa, enquanto levanta uma sobrancelha, me
avisando para não insultar seu prato. “E você amou, não é?” Pondera,
enquanto sorri brilhantemente para Pim, acenando com a cabeça.
“O amor é uma palavra forte, mas é definitivamente diferente.” Pimberly
agarra a tigela em sua bandeja e desliza-a mais perto dela. Recolhendo a
massa de laranja com uma mão, Waverly e eu ficamos em silêncio
BN TOLER
antecipadamente. Ela vai tentar. Não importa se Pim usa a colher ou a mão,
desde que coma. Logo, examina a massa laranja presa em sua mão, zomba
dela, então chicoteia a mão na minha direção, jogando a massa, me cobrindo.
Meu olho direito está fechado, um pouco do mingau atingindo-o e consegue
também jogar batata no meu cabelo e na minha camisa. Waverly ruge em um
riso e, então, Pim a segue.
“Isso é engraçado?” Rio, enxugando meu olho.
“Muito engraçado,” Waverly concorda, seu rosto vermelho.
Tomando a tigela de Pim, pego algumas porções na minha mão.
“Isso é engraçado?” Pergunto a Pim em voz alta.
“O que você-” Waverly tenta fugir, mas já é tarde demais. Passo a batata
no lado do seu rosto, fazendo com que Pim fique histérica.
Estávamos todos rindo quando Waverly se apoia em seu pé bom e coloca
ambas as mãos na tigela, antes de manchá-las em meu rosto. Lutamos um
contra o outro enquanto ríamos, e me certifico de não ir muito longe devido seu
tornozelo ferido, mas antes que perceba, estávamos no chão, nossos corpos
sacudindo com riso, a tigela vazia e de cabeça para baixo ao nosso lado.
Enquanto nos deitávamos ao lado um do outro, tentando nos acalmar,
faço um inventário da cozinha. Poderia uma batata doce realmente criar essa
confusão? Droga.
Waverly levanta a cabeça e olha para Pim.
“Ela é uma garota inteligente. Apenas descobriu uma maneira de não ter
que comer sua batata-doce.”
“Fomos manipulados,” finjo descrença.
Saltando de volta em meus pés, pego as mãos de Waverly e a puxo para
cima. Ela segura no balcão para ter equilíbrio, enquanto eu tiro Pim de sua
cadeira alta.
“Todos nós precisamos de um banho.”
“Que desperdício,” ela aponta, enquanto olha para si mesma e depois para
mim. “Pim nem comeu uma porção.”
Olhando para Pim, murmuro:
“Você me deve uma, garota.”
Quando olho para trás, Waverly está me olhando.
BN TOLER
“Tenho certeza de que ela é a coisa mais linda do mundo,” observa Helen,
enquanto olhávamos Pim usar suas mãos para empurrar espaguete em sua
boca. Havia tirado sua roupa, então ela está só de fralda. É uma coisa boa, pois
Pim está coberta de molho.
“Sim,” concordo, quando sorrio para minha filha. “Espaguete é seu prato
favorito.”
Helen vai até a cozinha e pega a panela do fogão. Ela coloca um pouco
mais de espaguete na bandeja de Pim, antes de levá-la de volta para a cozinha.
Helen retorna com a garrafa de vinho da qual eu já havia tomado uma taça.
“Mamãe precisa reabastecer,” ela anuncia, enquanto enche minha taça
vazia.
“Oh, não,” balanço a cabeça. “Uma taça é suficiente. O vinho me deixa
tonta.”
“Ah, você tem que beber,” Helen insiste. Em seguida, esfrega uma mão
sobre seu ventre pequeno, e faz beicinho com o lábio inferior. “Preciso viver de
forma indireta através de você. Tenho tanta saudade do vinho.”
Rio, enquanto levanto a taça em um brinde.
“Se você insiste,” respondo, antes de tomar um longo gole.
“Realmente, precisei dobrar seu braço atrás das suas costas para te
obrigar a tomá-lo, não é?” Graceja ela, sarcasticamente.
Rio novamente, quase cuspindo meu vinho. Nunca fui de recusar uma
taça de vinho. Na verdade, não. Além disso, sendo completamente honesta,
estou me divertindo. Juro que quanto mais fico com Helen, mais gosto dela.
BN TOLER
Ela é tão querida e tem o melhor senso de humor. É por isso que me
surpreendo tanto que Helen seja amiga de Max.
Max.
Até mesmo pensar em seu nome faz meu estômago virar. A noite anterior
foi tão surreal. Toda aquela tarde e noite em que fomos brincalhões. Tínhamos
flertado. Nossa brincadeira e a maneira como lançávamos gracejos espirituosos
um para o outro havia sido um grande divertimento. Não me lembro de ter sido
assim antes com Max. Quando ele me jogou sobre o ombro como se eu não
pesasse nada e nos levou para o chuveiro, esqueci que não gostava dele. De
todos os seus erros. Por um breve tempo, deixei as paredes caírem, deixei-o se
aproximar e tivemos o melhor momento.
Então ele me beijou.
Devia tê-lo impedido. Sabia o que estava prestes a acontecer quando ele
puxou meu queixo e olhou-me nos olhos. A palavra não estava na ponta da
língua, mas a engoli de volta. Max não perguntou se estava tudo bem. Apenas
fez isso. Queria estar brava; me sentir violada pelo que me fez sem perguntar,
mas não podia. A forma como se moveu, a maneira como não perguntou me
excitou. Era como uma espada de dois gumes. Eu reproduzi esse beijo uma e
outra vez em minha mente durante toda a noite, e no dia seguinte, e toda vez
que fiz isso, minha pele formigava em toda parte e calor devastava meu rosto.
Pensar nisso mexeu com algo tumultuoso dentro de mim, mas a excitação,
emocionante como era, sempre foi seguida por um arrependimento profundo e
sufocante.
Eu deixei Max me beijar.
Pior... O beijei de volta.
Tipo realmente o beijei de volta.
Com língua e tudo.
Tanta língua.
Ugh... O que está errado comigo? Como uma pessoa beijar alguém que
odeia e realmente gosta disso? Eu sou uma contradição ambulante e falante.
Um clichê.
“Um centavo por seus pensamentos?” Helen pergunta. Percebo que estou
olhando inexpressivamente para o nada, correndo os dedos sobre meus lábios.
Olhando para ela, algo me atinge: quem é aquela mulher? É quando decido lhe
BN TOLER
perguntar. Não aguento mais. Tenho que saber como e por que eles são
amigos. Desta vez, porém, não me conformaria com respostas vagas, que não
fossem claras.
“Helen,” começo, enquanto corro o dedo sobre a borda da taça de vinho.
Quando seu olhar vem em minha direção e vê minha expressão, ela
inclina a cabeça como se dissesse "Pergunte."
“Qual é o vínculo entre você e Max?” Vou direto ao ponto; não girando em
torno dele. “Quero dizer, realmente?”
Lambendo os lábios, ela olha para baixo em sua barriga e esfrega
novamente.
“É difícil de explicar, Waverly,” admite ela. “Não é romântico ou íntimo. Ele
não é o pai do meu bebê,” me assegura, com um sorriso que me faz sorrir.
Quando seus olhos se erguem e encontram os meus, não desvio e não falo.
Helen tem um pensamento, algo que quer dizer-me, e estou com medo de que,
se eu falo algo, ela mudará de ideia sobre querer compartilhar comigo ou não.
“Você acredita em destino? Ou mesmo milagres?”
Dou de ombros e bebo meu vinho.
“Claro que sim,” admito. “Acredito que eles acontecem todos os dias.”
Ela acena com a cabeça algumas vezes.
“Eu também,” então acrescenta com mais convicção: “eu sei que eles
acontecem.”
“Está dizendo que Max é um milagre?” Bufo, mas ela não ri. Sua
expressão fica séria.
“Você concorda que ele está diferente?”
Alargo os olhos e solto um longo suspiro. Isso é um eufemismo.
“Ele está muito diferente,” admito.
“Isso não é um milagre?” Ela me pergunta, com uma sobrancelha erguida.
Estreito meu olhar para ela e digo:
“Não sei se chamo isso de milagre, Helen.”
“Mas ele está diferente, sim?”
“Diferente ou experimentando um momento temporário de insanidade?”
Pergunto, secamente.
BN TOLER
“Ou,” ela faz uma pausa, olhando fixamente nos meus olhos, “ele é uma
pessoa completamente diferente.”
“O que está dizendo, Helen?”
Inclinando a cabeça para o lado, ela franze os lábios em pensamento.
“Estou dizendo que-”
“Alguém em casa?” Nós duas viramos nossas cabeças em direção ao som
da voz de Max. Ele acaba de passar pela porta.
“Estamos aqui!” Helen grita enquanto se levanta.
Dentro de momentos, Max aparece, sua expressão aparentemente estoica
e ilegível. Então ele vê o espaguete cobrindo Pim e suas feições ficam
iluminadas quando um sorriso largo se espalha em seu rosto.
“Olhe para isso,” ele sorri. Lá está novamente. Minha pele começa a
formigar. Não é apenas a visão dele ou a lembrança do beijo. É algo mais puro.
Mais doce. É a maneira como olha para Pim como se ela fosse a coisa mais
preciosa do mundo.
“Bolas!” Pim gorgoleja, enquanto levanta as mãos de molho em direção a
Max. Inclino os olhos para Pim perguntando-me de onde isso vem. Bolas. Por
que ela diria isso agora?
Ver Pim tão feliz e radiante em ver Max, emparelhado com o vinho, quebra
brevemente minha parede metafórica e faz meu coração derreter. Quando Pim
acordou na hora impiedosa das cinco da manhã daquele dia, e Max levantou-se
com ela, isso definitivamente lhe valeu alguns pontos. E naquela manhã,
através da abertura da porta do quarto, pude vê-lo segurando-a e dançando, e
cantando silenciosamente para ela Tennessee Whisky, por Chris Stapleton.
Isso foi... Doce. Não posso negar isso.
“Oi, Max!” Grito, incapaz de impedir que o menor sorriso se forme no meu
rosto. Seu corpo congela, seu olhar azul saltando de mim para Helen, e de volta
para mim, seus olhos crivados com confusão.
“Alguém mais sente essa mudança no espaço-tempo?” Meu sorriso cai.
Max está sendo um idiota. Minha saudação amigável é diferente de mim, mas
ele não tem que ser um idiota sobre isso.
“Você sabe-”
“Você quer um prato?” Helen interrompe, seu tom uma oitava mais alta.
Ela está tentando amenizar o clima. Então relevo e bebo o vinho outra vez.
BN TOLER
“Se você fez, sabe que sim,” diz Max. Depois que Helen corre para a
cozinha, Max vai para Pim e se abaixa, beijando sua bochecha, então não é
surpresa quando ela suja de molho toda a sua camisa.
“Sua camisa, Max,” indico. “Ela está fazendo uma bagunça em você.”
Quando ele levanta, acena com a mão desdenhosa.
“É apenas uma camisa.”
“Se você diz,” murmuro.
“Talvez eu tenha que lavar minha própria camisa desta vez,” brinca ele.
Meu rosto se esquenta quando me lembro, mais uma vez, do movimento
audacioso de remover minha camisa na outra noite. Pegando um dos
guardanapos de pano da mesa, ele enxuga o rosto.
“Como está o tornozelo hoje?”
“Melhor,” admito. “Não dói tanto.”
“Bom. Fico feliz em ouvir isso.”
A sala fica em silêncio enquanto Max muda o olhar para Pim, pois não
sabe o que dizer. Nem eu. Depois do nosso beijo no chuveiro, ele mal fala uma
palavra para mim e esta manhã saiu logo depois que Helen chegou, e ficou fora
o dia todo. Aparentemente, ainda estávamos brigando hoje. Se ele quer fingir
que o beijo não aconteceu e me ignorar, o que me importa?
Ok, me importo, mas me recuso admitir.
Helen entra e coloca um prato de macarrão sobre a mesa.
“Vocês dois conversem. Vou dar um banho a esta pequena, se estiver tudo
bem para você, Waverly.” Esta é uma das coisas de que mais gosto dela. Helen
combina comigo.
“Tem certeza de que não se importa, Helen? Ela está uma bagunça,” digo,
olhando para minha filha, incapaz de segurar uma risada. Pim tem dois longos
macarrões em seu cabelo e eles estão pendurados em seu rosto.
“Adoraria fazer isso.” Então, ela tira Pim da cadeira alta e a leva no
comprimento do braço em direção à sala de estar, em seu caminho para o
banheiro. Quando olho para Max, ele empurra comida em sua boca, olhando
para o nada. E está tão perdido em pensamentos que nem sequer nota que
ainda estou sentada ali com ele.
BN TOLER
“O que quer que tenha acontecido no passado, apenas saiba... não foi
você. Você não fez nada de errado.”
Meu rosto fica entorpecido enquanto absorvo sua proclamação. Isso é....
uma desculpa? É isso que ele está tentando fazer? Espero há tanto tempo por
um pedido de desculpas de Max, e pensei que, se alguma vez conseguisse, de
alguma forma, me curaria, pelo menos um pouco. Uma parte de mim queria
desesperadamente que Max reconhecesse o que fez para mim, para nós, mas
suas desculpas não são tão reconfortantes como pensei que seriam. Então,
novamente, é realmente um pedido de desculpas?
Tirando a língua para fora, lambo meus lábios secos.
“Por que você está dizendo isso para mim?”
Sentado, ele bufa.
“Eu não sei, porra. Precisava ser dito.”
De repente, empurra a cadeira e começa a agarrar os pratos da mesa.
“Vou limpar a cozinha.” Enquanto observo Max mover-se para a cozinha,
quero chamá-lo; fazê-lo voltar e explicar o que disse, ou tentou dizer, mas paro.
Algo me diz que o que ele falou, é tudo o que tinha a dizer. Cabe a mim
interpretar suas palavras e seu significado, e levá-lo como desejar. Também
entendi que mesmo que tenha guardado remorso de Max por anos, talvez não
esteja pronta para o pedido de desculpas. Na verdade, não. Há uma diferença
entre precisar do perdão de alguém para curar e realmente estar pronta para
curar.
Depois que Max me deixou quando descobriu que eu estava grávida, li
todas as malditas citações inspiradoras já escritas sobre cura; sobre deixar ir e
seguir em frente. Quão simples essas palavras de sabedoria são. As pessoas
que dizem que segurar a dor, pois ela só estará machucando você, e que deve
deixá-la ir, são as piores. Alguém realmente pensa, por um segundo, que não é
o que gostaríamos de fazer? Claro que queremos deixá-la ir. Dor é uma coisa
viva e respirante, com dedos frios e longos que alcançam por dentro e rasgam-
nos parte por parte. Luto com isso por tanto tempo, tentando deixá-la ir.
Entendo que, depois de algum tempo, não é tão simples como acordar e dizer
voila 23 .... Está feito, estou deixando ir. É um ponto culminante de muitas
variáveis; como espaço e tempo separados; mantendo-nos ocupados, fazendo
outras coisas que nos trazem alegria. Há também o sentimento de ouvir; ver
23 Aí está em francês.
BN TOLER
sua dor sendo reconhecida pela pessoa que causou isso para você. Isso é algo
que nunca conseguiria obter de Max, sendo uma pílula difícil de engolir. Não,
eu precisava fazer o impossível: perdoar uma pessoa que nem mesmo pediu por
isso. Quer falar sobre algo que toma força?
Então, na mistura de tudo isso — o perdão, o espaço, os passatempos —
tem-se uma escolha. Tudo isso anda de mãos dadas, mas não significa que
você tenha se curado ou que realmente conseguirá. Significa apenas que
decidiu abandonar o peso da dor e guardá-la no sótão metafórico da sua mente
e coração, e seguir em frente. Ainda há dano e, no fundo, eu sei que sempre
haverá, mas também há espaço para mais. Para mais amor, mais felicidade.
Inclinando a taça em minha boca, bebo todo o restante do meu vinho.
Repousando a cabeça nos braços, sobre a mesa, fecho os olhos. O vinho me
ajuda a relaxar esta noite, mas é mais do que isso. Estou em paz e quero
saborear o momento, por mais breve que seja. Max me ofereceu algo naquela
noite.... Talvez não um pedido de desculpas, por assim dizer, mas um
reconhecimento. Honestamente, suas palavras não me confortaram. Não, o que
me encheu de contentamento é que percebi que já não preciso do seu
reconhecimento ou desculpas. E talvez esteja finalmente deixando ir, depois de
tudo.
BN TOLER
“Diga logo, Hel,” ordeno, enquanto ajusto Pim, que tem a cabeça aninhada
contra meu ombro já à beira de desmaiar.
“Depois que tirei Pim do banho e a vesti, a coloquei no chão enquanto
pendurava a toalha no banheiro. Quando voltei,” fez uma pausa, “Pim havia
encontrado algo na cama de Max.”
Meus olhos se arregalam em horror enquanto minha mente pensa na pior
coisa em que poderia imaginar.
“Por favor, me diga que não era um preservativo.”
A fisionomia de Helen se revira de nojo.
“Eca, não,” ela grunhe. Solto um suspiro aliviado.
“Obrigado, Deus,” murmuro contra a cabeça de Pim.
“Então, o que era?”
“Sua mochila, Liam.”
“Droga,” respiro. Havia esquecido. Lembro-me de ver Max apanhá-la e
fugir com ela, mas com o que vem acontecendo, esse fato perdeu-se no caos.
“Ele manteve,” murmuro mais para mim do que para Helen. “Onde está
agora?” Pergunto, preocupado que Waverly possa encontrá-la.
“Coloquei na parte de trás do armário de Max, atrás dos ternos.”
Solto um suspiro de alívio. Graças a Deus Waverly não a encontrou. Não
tenho ideia de como explicaria isso.
“Pim também encontrou isto,” alcançando em seu bolso traseiro, ela puxa
um pedaço de papel dobrado.
“O que é isso?”
Helen limpa a garganta e inclina-se para mais perto.
“Acho que é uma nota de suicídio, Liam,” sussurra Helen. Depois que
desdobra, a entrega para mim. O papel está enrugado em toda parte, pois foi
amassado quando Pim o encontrou.
BN TOLER
É assim que o bilhete termina. Embora não pareça uma nota clara de
suicídio, pode ser lida dessa forma. E se for uma nota de suicídio, Max deve ter
mudado de ideia sobre se matar, ou sobre deixar uma nota. Daí ela encontrar-
se enrolada sob sua cama. Aprendi com o Dr. Banahan que Max é um homem
doente, mentalmente. No entanto, ele só mostrou ao mundo o que queria que
vissem, não o que realmente é. Então fico mais triste do que chocado ao ler
esta nota. Balanço a cabeça e abro a boca para dizer algo a Helen, mas a fecho.
Max queria se matar.
“Puta merda,” eu respiro.
“O quê?” Helen pergunta, tirando a carta de mim.
“Ele estava se matando,” dou um berro.
“Ou ele estava pretendendo,” Helen dá de ombros.
“Não, Helen,” sussurro em voz alta. “Acho que sei o que aconteceu.”
Helen não pergunta, só me observa com olhos curiosos, esperando que eu
explique.
“Não acordei como Max até cinco dias depois do acidente.”
“Sim,” ela concorda.
“Por que cinco dias? Por que não imediatamente?”
Ela bufa com impaciência.
“Boa pergunta. Questione-se a si mesmo, já que você é Max.”
“Provavelmente nunca teremos uma razão lógica para explicar como isso
aconteceu, mas por que esse período de tempo?” Questiono novamente. “Acho
que sei.”
“Então... Por quê?”
BN TOLER
“Acho que ele tentou se matar, Helen. Acho que é por isso que mudamos.
Acho que sim. Max realmente se matou.”
“Mas ele não terminou a carta. Talvez tenha mudado de ideia,” aponta ela.
Essa teoria faz minha pressão sanguínea aumentar. Finalmente ter
alguma ideia sobre como me tornei Max Porter chega até mim. Com Pim
desmaiada em meus braços, tenho que manter a calma, porque não quero
acordá-la.
“No dia em que acordei como Max, encontrei uma garrafa de scotch 24
vazia, uma embalagem vazia de analgésicos na mesa de cabeceira e um bloco
de notas. Acho que ele teve uma overdose.”
Seu rosto se revira, revelando incerteza.
“Mas...” Helen faz um gesto com a mão para mim. “Obviamente não. Se o
fizesse, o corpo dele teria desaparecido e você não estaria aqui.”
Encolhendo-me, pisco rapidamente enquanto pensamento após
pensamento ricocheteiam através da minha mente. O Dr. Banahan me ofereceu
um pouco de esclarecimento naquele dia. Odeio pensar em qualquer homem
chegando ao ponto de tirar a própria vida, mas sabendo o que sei, não é tão
difícil de acreditar.
“Da mesma forma que trocamos de corpos. Não consigo explicar. Mas....
Faz sentido.”
Helen fica quieta por um momento, com a testa enrugada, enquanto
pensa.
“Você salvou sua vida e ele tentou se matar depois?”
“É o que parece.”
Ela lança um olhar intenso para mim, cheio de raiva.
“Você arriscou sua vida para salvá-lo, e ele tentou suicídio?” A mesma
pergunta é formulada por mim, mas de maneira diferente. Meu rosto cai
enquanto absorvo sua expressão e emoção. Helen está brava.
“Você pode morrer e ele apenas...” Ela para, sufocando as palavras. “Ele
apenas tentou acabar com isso?”
“Hel,” digo seu nome calmamente, enquanto a puxo para um abraço. Em
um braço, seguro uma Pimberly dormindo e, no outro, minha irmã chorando.
24 Uísque escocês.
BN TOLER
“Não faça isso com você mesma,” imploro, em silêncio. “Pelo menos temos
uma ideia sobre por que tudo isso aconteceu.”
Sei que isso não muda nada, realmente. Certamente não faz a situação
mais fácil ou menos confusa, mas me ajuda. Isso me ajuda a saber que talvez
exista um porquê de tudo isso.
Afastando-se de mim, Hel tira uma toalha de papel do rolo e enxuga o
rosto.
“Você sabe, Liam,” ela funga, “sei que nos perguntamos por que, mas
honestamente, não me sinto melhor em saber. Temos três dias, antes que
tenhamos que tirar seu corpo do suporte. E não temos ideia do que vai
acontecer.”
Abro a boca para dizer algo, qualquer coisa, para confortá-la, mas congelo.
O que dizer? Esta situação é uma merda, pura e simples, mas tenho que
tentar.... Por ela... tenho que tentar dar-lhe um ponto de vista mais otimista, se
isso for mesmo possível.
“Sei que se eu acabar morrendo, você pode não ver isso por um lado bom,
mas... Pelo menos conseguimos dizer adeus, Hel.” É difícil ver isso como um
lado bom, mas é. Se você tiver sorte o suficiente para conseguir dizer eu te amo
e compartilhar um adeus com alguém que se preocupa antes de morrer, você é
um maldito bastardo afortunado, sem e, se, ou mas envolvidos.
Sua mandíbula fica frouxa quando seu corpo se convulsiona, enquanto
um soluço a envolve. A dor em seus olhos quase me derruba. Aperto minha
boca junta e quero me dar um soco. Não devia ter dito isso a ela. Mesmo que
seja verdade. Helen não quer a voz da razão, ela quer chorar e ser ouvida.
Como minha avó sempre me lembrou, Deus nos deu uma boca que fecha e
ouvidos que permanecem abertos. Eu só quis oferecer conforto; consolo, mas
tudo o que fiz, foi reiterar que estamos a poucos dias de dizer adeus um ao
outro.
“Sinto muito,” passo meu braço em torno dela e aperto-a para mim. “Por
favor, não chore, Hel,” imploro, minha garganta apertando com emoção. “Sei
que isso é um inferno para você e sinto muito. Mal estou me segurando aqui,
irmãzinha,” confesso. “Por favor, fique forte para mim. Só mais um pouco, Hel.
Por favor.”
Seu corpo treme enquanto Helen pega minha camisa e funga nela algumas
vezes. Então, com um súbito empurrão, sua cabeça surge e ela dá um passo
para trás, longe de mim. Assentindo algumas vezes, inala algumas respirações
BN TOLER
profundas com as mãos nos quadris. Então, decide que o tempo para o choro
terminou.
“Ok,” ela repete várias vezes. “Certo, Liam. OK.”
Minha boca entreabre-se em um sorriso triste quando dou a ela um curto
aceno de cabeça. Helen quer desmoronar, eu posso dizer, mas não fará,
embora tenha todos os motivos para isso: estando grávida, esgotada de correr
entre aqui e o hospital, criando um filho e lidando com o desgaste emocional
que se sente, querendo saber se seu único irmão vai morrer. Sim, Hel merece
um bom descanso, mas a minha irmãzinha é dura como pregos. Ela é um Gato
do Inferno, pequeno, mas feroz. Em nossas vidas juntos, tenho muito orgulho
em ser o irmão que ela sempre pode confiar, especialmente depois que
perdemos nossos pais. Eu era sua pedra, mas maldição se a maré não mudou
isso. Porque sei, sem dúvidas que, se Helen não estivesse lá para mim depois
que me tornei Max Porter, teria sido uma porra de destruição. Ela é minha
espinha dorsal, a minha rocha. Eu sei mais do que tudo, que precisamos
mudar o assunto. Preciso dar-lhe algo para ocupar a mente, para mantê-la
ocupada.
“Você se importaria de pegar Pim para que eu possa verificar Waverly?”
Seu olhar cai sobre Pim, e ela sorri.
“Claro que não me importo,” sussurra. Lentamente e suavemente,
transfiro o corpo flácido de Pim para Helen, que a leva para a cama.
Depois que elas saem da cozinha, dobro a carta amassada e a enfio no
bolso traseiro. Coloco minhas mãos no balcão e deixo cair a cabeça. Minha
pobre irmã. Envolvê-la faz de mim um egoísta. Estou cobrando um pedágio
dela e não tenho ideia do que acontecerá com Hel depois que eu morrer.... Se
morrer. Nesse ponto, não tenho absolutamente nenhuma razão para acreditar
que minha vida não acabará em poucos dias. Então o que Helen fará? Ela
estará grávida e de luto. E quanto a Waverly? Fale sobre uma mulher boa e
chateada. O que acontecerá se Max volta e puxa o mesmo cartão idiota para
ela? O peso da culpa me atinge com força e cerro os olhos.
“Deus,” oro baixinho, minha voz profunda. “Sei que não sou um homem
de oração,” admito, “mas, querido Deus, por favor, ajude-me a ser forte o
suficiente para lidar com essas mulheres sem arruiná-las. Por favor, não deixe
que eu estrague essa doce menina. Por favor, não me deixe ser outra decepção
para Waverly, outra razão para ela ressentir-se dos homens. Por favor, não
BN TOLER
permita que minha irmã fique emocionalmente drenada. Não peço nada para
mim, Senhor. Só para essas mulheres. Por favor. Amém.”
Com uma respiração profunda, firmando-me, faço o meu caminho para a
sala de jantar, parando na porta. Não posso deixar de resmungar uma risada
para mim mesmo. Waverly está nocauteada. Droga, ela é uma mulher bonita,
mesmo com o rosto amassado de um lado, contra os braços. Coço a parte de
trás do meu pescoço e pergunto-me por um momento se não será melhor
apenas deixá-la, mas então me lembro do seu tornozelo e que provavelmente
precisa tê-lo apoiado. Aperto seu braço algumas vezes e a balanço suavemente,
mas ela não se mexe. Tenho que levá-la para a cama. Waverly ficará bem com
isso? Na noite anterior, definitivamente cruzei uma linha e não tenho certeza se
está chateada comigo ou não. Ela parecia bem no jantar, mais do que bem. Ela
realmente parecia... agradável, mas estava tão preocupado com meus
pensamentos que não prestei muita atenção. Se a levo para a cama, ela se
lembrará e, se ao lembrar, detonar a porra da minha cabeça por fazer isso?
Provavelmente a última opção, imagino. A sacudo novamente, esperando que
acorde.
“Waverly,” falo calmamente. “Se você não acordar, vou levá-la para a
cama,” aviso. Ela não se mexe. “Ok. Tentei avisá-la.”
Com um pouco de manobras desajeitadas, a pego. Mesmo com toda essa
agitação, ela não acorda. Seu corpo está mole como um macarrão espaguete
cozido em meus braços. Waverly é leve e macia, e seu cabelo tem uma
fragrância exótica que me atinge.
“Porra, você cheira bem, mulher,” resmungo para ela, mesmo que esteja
desmaiada e não possa me ouvir. Não que queira que Waverly ouça.
Lentamente, manobro através do apartamento, com cuidado para não bater
sua cabeça ou pés contra quaisquer móveis ou armações de porta. Helen vem
saindo do quarto depois de colocar Pim, enquanto estou prestes a entrar. Seus
olhos ainda estão vermelhos e inchados, mas ela parece um pouco mais calma.
“Uau,” ela ri. “Acho que o vinho tinto é seu inimigo. Pim também está
dormindo, então tente ficar quieto.”
“Entendido,” concordo.
Helen beija minha bochecha.
“Estou saindo,” ela me informa. “Voltarei brilhante e cedo para ajudar.”
“Obrigado, Helen,” sussurro. “Eu te amo, irmã,” ela sorri fracamente.
BN TOLER
De jeito nenhum. Seus olhos estavam abertos. Ela olhava direto para mim
enquanto eu repreendia o pau de Max. Está fingindo dormir agora? Esteve
fingindo o tempo todo? Porra. Devo dizer algo?
Rapidamente, empurro o cobertor sobre ela e desligo a lâmpada no criado-
mudo. Você pode pensar que a sensação que experimentei de ataque cardíaco
murcharia a ereção imediatamente, mas não. O pau do Max está preparado
para me torturar.
Saio do quarto e agarro o monitor do bebê. Vou para o banheiro de visitas,
tirando as roupas enquanto ando. Uma vez que chego ao banheiro, coloco a
ducha tão fria quanto possível e entro, forçando-me a ficar sob a água gelada
ártica à medida em que tremo e amaldiçoo qualquer força que me colocou
nesse corpo.
BN TOLER
Solto um longo e lento suspiro. Aquele que estive segurando pelo que
parece uma eternidade. Depois de Max praticamente correr para fora do
quarto, abro os olhos e encaro o teto, tentando não deixar o pânico me
congelar.
Ele sabe que eu fingia dormir.
Merda.
Não tinha a intenção de abrir os olhos, mas quando Max disse “você, filho
da puta” não pude me ajudar. Depois de tudo o que ouvi, deveria estar tendo
um ataque de pânico, mas sei que preciso manter a calma. Claramente, Max
não está bem e não digo sobre o estranho fato dele ter repreendido sua virilha
momentos antes. Isso certamente não ajudou. Estou falando sobre... algo mais.
Sei que deveria ter ido embora. Sei que é errado, mas minha curiosidade
superou-se e talvez... apenas talvez... seja bom uma ajuda extra. A verdade é
que meu tornozelo está bem melhor. Não cem por cento, mas bom o suficiente
para fazer tudo sem muletas. Soube disso naquela manhã, quando acordei.
Mas não disse a Max.... ou Helen.
Apenas continuo fingindo precisar das muletas e deixá-los cuidar de Pim e
de mim. É muito baixo, mas estou determinada a descobrir o que está
acontecendo com Max, e quero saber qual a ligação de ambos. Talvez não seja
o meu negócio, mas quanto mais conheço esse ‘novo’ Max e sua ‘amiga’ Helen,
mais eu preciso saber. Talvez seja a masoquista em mim, essa parte que
precisa sentir-se torturada, mas o que realmente quero saber é..... Por quê?
Por que Max está diferente agora?
BN TOLER
A parte mais patética de mim quer saber por que ele não poderia ter sido
diferente anos atrás? Por que eu não fui suficiente para evocar esse novo e
melhorado Max?
Vergonhosamente, tenho que admitir que parte de mim quer ficar por
causa do beijo, também. Não gosto de me sentir atraída por Max novamente,
mas o fato é que está acontecendo. Não importa o quão duro lute, ou quão alto
construa e reforce a parede ao meu redor, está lá.
Então finjo, mas, no meu esforço para descobrir o que diabos está
acontecendo, descubro mais do que gostaria ou estava em minha cabeça.
Preciso ligar para Matt, para que meu irmão venha ao meu resgate, mais uma
vez.
Quando Helen voltou com Pimberly, depois de prepará-la para dormir, não
estava realmente desmaiada no sofá. Não sei por que fingi estar dormindo, ok,
isso é mentira. Eu sei. Queria ver como ambos agiriam, quando pensassem que
eu não estava ouvindo. Tudo o que ouvi soou como pura loucura. Helen
chamava Max de ‘Liam' e Max se referia a si mesmo na terceira pessoa. E quem
estava em um suporte de vida? Por que ele chamou Helen de irmã quando ela
estava indo embora?
E suicídio? Max teria realmente tentado se matar?
Há tantas perguntas. Nada disso faz sentido. A única conclusão que posso
tirar é que eles são loucos. Talvez eu também esteja. Afinal, estou colocando a
mim e a minha filha nas mãos de duas pessoas insanas.
Empurro a cabeça para cima e olho para o criado-mudo.
“Merda,” sussurro. Deixei meu celular na mesa da sala de jantar. Com
cuidado para não fazer barulho e acordar Pim, desço da cama e vou na ponta
dos pés até a porta. Max não fechou ela em sua pressa, então sou capaz de
espiar. A televisão está ligada, iluminando a sala, mas não há sinal dele. Ouço
por alguns momentos e, em seguida, entendo que ele está no chuveiro.
Virando meu pescoço, olho de volta para Pim em seu berço de viagem. Ela
está dormindo, a girafa apertada contra ela.
“Já volto, querida,” sussurro, como se Pim me ouvisse. Fechando a porta,
saio correndo, saltando como uma gazela em direção à sala de jantar. Todas as
luzes estão apagadas no apartamento, exceto pela a televisão, mas não demora
muito para eu entrar na sala de jantar e encontrar o meu telefone onde havia
deixado.
BN TOLER
tentando ser uma, de qualquer maneira. Tenho uma obrigação. Se não, quem
mais faria? Helen? Claramente, aquela senhora sabe que Max está montando o
trem da loucura e tem colocando carvão no motor. Ela definitivamente não é de
nenhuma ajuda para ele. Então, sobrou para mim.
“Posso te ajudar, Max,” começo, meu tom suave, esperando que isso o faça
sentir-se menos ameaçado. “Você precisa de ajuda profissional.”
Abaixando a cabeça, ele fecha os olhos e sorri, enquanto coloca as mãos
nos quadris.
“Você não entende, Waverly,” murmura ele. “E eu não...” Max faz uma
pausa, erguendo o queixo e encontrando meu olhar. “Não sei como fazer você
entender.”
Max está falando. Isso é bom. Se ele desabafar, talvez possa descobrir
onde está sua cabeça e com o que estamos lidando. Ele é maníaco, bipolar?
Quanto mais descobrir agora, será melhor quando chegarmos a um
profissional. Só tenho que mantê-lo falando.
“O que eu não entendo, Max?”
“Eu não sou Max,” diz ele com firmeza, “não sou Max Porter.”
Pisco algumas vezes, imóvel e permaneço em silêncio, buscando em meu
cérebro o que poderia estar errado com ele. Será algum tipo de transtorno de
personalidade múltipla? Sacudindo a cabeça, ele ri com frustração.
“Não há sentido nisso,” ele acena com uma mão desdenhosa para mim.
“Você nunca vai acreditar em mim.”
“Por que não acreditaria?” Pergunto, desesperada para mantê-lo falando.
“Porque você odeia Max,” ele retruca.
“Você?” Pergunto-lhe. “Você é Max, Max,” digo. “E... não odeio você.”
“Você está revoltada comigo desde aquela noite no The Mill, e sei que Max
tem sido um pedaço de merda para você, e venho tentando ser compreensivo,
mas maldição, mulher,” ele bufa, “você sabe como desgastar um homem.”
O medo e a incerteza que sinto derretem, enquanto a piedade me domina.
Max está se referindo a si mesmo na terceira pessoa novamente. Percebo que
quem quer que ele pensa que é, não é Max Porter. Então decido jogar junto,
querendo fornecer ao médico, para o qual estou determinada a levá-lo, tanta
informação quanto possível.
BN TOLER
“Ok. Se você não é Max, então quem é você?” Pergunto, minha voz rouca.
Seus ombros caem.
“Meu nome é Liam. Helen é minha irmã.”
O sangue escorre do meu rosto. Porra, isso é pior do que pensava. Helen
também está louca, ou vem enganando um homem mentalmente instável,
jogando junto com suas desilusões, para que ela possa roubar seu dinheiro? Só
então meu celular toca. Não viro a cabeça, apenas movo os olhos para ele. É
Matt me chamando de volta. Pego o telefone, que Max me entrega.
“Você pode responder,” ele diz simplesmente. “Embora, eu gostaria que
você me desse uma chance para explicar, antes de chamar ajuda.”
Quando o celular para de tocar, imediatamente começa novamente. Matt
está chamando de volta. Claro que sim. Deixei-lhe um correio de voz
enigmático, mencionando o nome do homem que ele detesta. Sei que responder
e aliviar suas preocupações é mais sábio, mas estou preocupada que, se faço
isso, Max mudará de ideia sobre se abrir para mim. Este é o momento crucial.
Preciso que Max concorde em obter ajuda, mas, antes que possa encorajar
isso, tenho que fazê-lo confiar em mim, para que veja que realmente quero
ajudá-lo. Tirando meu telefone da sua mão, encerro a ligação. A boca de Max
está em uma linha plana e apertada, os músculos em sua mandíbula
tiquetaqueando, enquanto me observa, esperando por mim para dizer algo.
“Ok, Max,” digo calmamente, enquanto coloco o telefone de volta na mesa.
“Explique,” tomo sua mão na minha e aperto.
Eu sinto.
De novo.
O choque da nossa conexão.
BN TOLER
perder o emprego, o que me levou a acabar nas ruas. Conto-lhe sobre o meu
amor pelas motocicletas, sobre Helen e nossa infância e, finalmente, conto a
Waverly sobre o único encontro que Max Porter e eu já tivemos. Ao olhar para o
meu corpo, digo: “Max olhou para mim como se fosse um lixo. Em sua defesa,
provavelmente parecia que eu tinha acabado de sair direto de uma caçamba.
Claro, ele... ele parecia ter tudo.”
“Você é um homem muito rico, Max,” concorda ela.
“Eu. Não. Sou. Max.” Afirmo com veemência, minha paciência vacilando.
“E seu dinheiro é merda,” estou ardendo de raiva. “Ele não tem ninguém. Estou
preso no corpo deste homem, odiado por todos, incluindo você.”
“Eu não te odeio,” ela insiste.
“Não,” concordo. “Você odeia Max. Não é muito bom você gostar de mim,
Liam, se eu estiver preso no corpo do homem que você odeia.” Ela revira os
olhos e desvia o olhar, observando o meu corpo na cama do hospital. Talvez
esteja cansada de ouvir minha história. Talvez ela nunca acredite, mas
maldição, eu ia terminar.
“Max estava na esquina a ponto de atravessar a rua,” continuo. “Quando
cheguei atrás dele, com a mesma intenção, ele parecia tão aborrecido por
minha causa, que atravessou a rua sem olhar para o lado. Um ônibus vinha
em sua direção e eu.... eu o empurrei para fora do caminho.”
“E é assim que esse cara,” ela aponta para o meu corpo na cama, “acabou
aqui.”
“Como meu corpo acabou aqui. Sim. Acordei dias depois no apartamento
de Max e em seu corpo. E foi no mesmo dia em que você ligou para falar sobre
o encontro no The Mill.”
“Max,” ela grunhe, com emoção em seu tom. “O que você está dizendo... É
impossível.”
Puxo meu cabelo. Estou além frustrado. Nunca fui um homem de muitas
palavras e raramente sei a coisa certa a dizer, o que só me frustra mais.
Contornando a cama, aproximo-me dela. Waverly se afasta até que não pôde
mais, para próximo ao equipamento médico de pé junto à cama. Com apenas
alguns centímetros entre nós, pego sua mão e coloco em meu peito sobre meu
coração, aquele mesmo arrepio correndo por mim quando nos tocamos.
Quando ela tenta puxar o braço para trás, agarro seu pulso e seguro lá,
recusando-me a deixá-la ir. Olho profundamente em seus olhos e pressiono
BN TOLER
minha outra mão sobre a dela, que está apoiada em meu peito. No espaço entre
nós, sem palavras, imploro que confie em mim. Que relaxe. Para fechar seu
cérebro e procurar a verdade com seu coração. Depois de alguns breves
momentos, ela relaxa, a tensão desaparecendo com isso.
“Olhe para mim, Waverly,” imploro, calmamente. “Por favor.” Com
hesitação, move seu olhar cheio de lágrimas para o meu. “Eu não sou Max.
Você sabe que é verdade. No fundo, você sabe disso. Não é uma doença mental
ou múltiplas personalidades. Desde que nos encontramos no The Mill naquela
noite, você disse isso uma e outra vez, que sou diferente. É verdade. Sou o
oposto de Max.”
Usando a mão livre, ela enxuga o nariz, mas não diz nada.
As máquinas tocam, o ventilador chia, nossas respirações resfolegam, mas
Waverly ainda não diz nada. Percebo naquele momento que não tenho mais
palavras. Não tenho voz. Tudo o que tenho é esse momento para mostrar a ela,
e provar que o que estou dizendo é verdade. Movo minhas mãos para sua
cabeça e agarro gentilmente seu rosto, e de todo coração, sem remorso, a beijo.
Em primeiro lugar, Waverly luta para escapar, pressionando as mãos
contra meu peito em uma débil tentativa de me afastar. Ela grunhe fracamente
em protesto, mas apenas um pouco e brevemente; não como uma mulher que
se sente acuada ou forçada, mais como se desejasse não querer isso. Porque se
ela o quer, e deseja o beijo de um homem louco, o que isso significa?
Isso significa que ela está louca também.
Depois de um momento, ela sucumbe, seu corpo flácido em meus braços,
enquanto segura meus ombros com firmeza. Beijo-a com desespero, como um
homem que sabe que é isso que deve fazer ou quebrar. A beijo como se nunca
mais fosse beijá-la de novo, o que provavelmente será o caso, se Waverly se
recusar a acreditar em mim. Pressionando seu corpo para o meu, a levanto
levemente, um rosnado baixo escapando-me, enquanto suavemente sugo seu
lábio inferior. Com meus braços envoltos em torno dela, segurando-a
firmemente, e pergunto:
“Você acredita em mim?” Seu peito sobe e desce. Algo pesado pende no ar
entre nós, nos cercando. Para mim, é o medo, pois não tenho ideia do que
Waverly dirá e o desconhecido está me matando. Uma lágrima escorre pelo seu
rosto quando ela olha nos meus olhos. Soluça e seu corpo começa a tremer,
enquanto tenta controlar a emoção. Um nó se aloja em minha garganta
enquanto a observo. A guerra que se desenrola no seu interior é evidente.
BN TOLER
Waverly quer acreditar em mim, mas como fazer isso? Levantando os dedos dos
pés, ela agarra meu rosto em suas mãos e me beija novamente. Quando se
afasta, seu olhar deixa o meu.
“Não,” choraminga ela.
BN TOLER
25 Tradução livre de “Panheads”. Obviamente, ela não sabe o que é uma motocicleta.
BN TOLER
loucura passa pela minha cabeça quando começo a contar as datas. Quase
duas semanas atrás foi antes do acidente, onde Max afirma que ele, como
Liam, foi atingido, consequentemente salvando a vida de Max.
“Posso perguntar, aqui entre nós, por que ele fez isso?”
Braxton inclina a cabeça.
“Não tenho nenhuma ideia, senhora. Ele mal falava comigo antes.”
Olhando para os elevadores para medir o quão longe Max está, ele se inclina
para mais perto e sussurra: “Não acho que o Sr. Porter tem muitas pessoas das
quais seja próximo. Na verdade, esta última semana é a primeira vez que me
lembro de alguém que veio visitá-lo.”
“Realmente?” Questiono. “E as mulheres que ele namorou?”
“Não me lembro de uma,” admite, “mas isso é entre você e eu.” Ele me diz,
com olhos suplicantes.
Sacudo a cabeça uma vez, deixando-o saber que seu segredo está seguro
comigo, e digo a Braxton:
“Vou deixá-lo saber sobre a moto.”
Aceno quando ele oferece um tímido:
“Boa noite.”
Com um profundo cenho franzido, dirijo-me para o elevador onde Max já
se encontra, segurando a porta, a minha espera, com um olhar perdido e mal-
humorado. Tudo é uma bagunça enorme. Max está se perdendo e eu não tenho
certeza de poder ajudá-lo. Eu quero, muito, mas há um problema. Um enorme.
Um que me assusta admitir porque conduz às perguntas sobre minha própria
sanidade.
A verdade é, uma parte de mim tão distorcida quanto pode parecer,
acredita nele.
E isso é apenas insano.
Isso significa que não posso ajudar Max, porque, na realidade,
provavelmente eu precise de ajuda.
Quando entramos no apartamento, coloco Pim em seu berço de viagem e
fecho a porta. Max está de frente para as altas janelas da sala, com os braços
cruzados enquanto olha para a cidade. O quarto é escuro, mas as luzes do lado
de fora proporcionam um iluminado suave dentro.
BN TOLER
“Pensei que você estaria arrumando suas coisas.” Sua voz rouca quebra o
silêncio.
Isso é o que eu deveria fazer, certo? Quer dizer, Max está louco, certo?
Incapaz de dar-lhe uma desculpa a respeito de por que eu não estou
empacotando minhas coisas naquele segundo, solto um grunhido frustrado
enquanto caio no sofá e cubro meu rosto com as mãos. Como posso considerar
esta história ridícula que ele contou? E o que isso diz sobre mim? Estou tão
desesperada por amor que compraria algo que é impossível?
“Desculpe, Waverly,” diz ele, fazendo-me soltar as mãos. Max está virado
agora, de frente para mim, com seu olhar fixo em minha direção. “Sei que tudo
isto é.... Muito.”
“Você disse que não era dono de uma motocicleta!” Eu digo.
Ele franze a boca como se estivesse confuso.
“E não sou.”
“Max,” respiro profundamente.
Ele deixa cair seus braços, frustrado.
“O quê?” Pergunta-me, defensivamente. “Eu não sou dono de nenhuma
moto. Antes de terminar nas ruas, tinha uma Bobber, mas a vendi para o meu
amigo Lenny.”
“De acordo com Braxton, você é, sim,” respondo rapidamente. “Você a
comprou há quase duas semanas e gastou uma fortuna na compra e na
restauração. Isso não se encaixa na sua linha do tempo,” discuto. “Se você é
Liam e não se tornou Max até cinco dias após o acidente, por que Max teria
comprado uma motocicleta? O Max que conheci, nem uma vez, nunca,
mencionou motocicletas.”
Ele olha para mim sem entender.
“Braxton mencionou que tipo de moto é?”
“Humm...” O que ele disse? É um nome estranho. “Uma panela...26 alguma
coisa.” Então me sinto estúpida, pois estou dizendo o nome da motocicleta
como se ele já não soubesse.
“Uma Panhead?” Sua voz levanta uma oitava em descrença.
“Sim,” aceno com a cabeça. “Foi isso.”
26 Referência a “Panhead”.
BN TOLER
“Você não entendeu? Max te jogou de lado porque você chegou muito
perto. Ele queria você e ter uma família, mas sabia que se você conhecesse o
verdadeiro Max Porter, o deixaria assim mesmo. Pensou que poderia ser o
suficiente, mas quando você engravidou... foi demais. Ele não tinha o suficiente
dentro dele.”
Meus olhos lacrimejam e pisco algumas vezes, tentando segurar as
lágrimas.
“E se você não é Max, como sabe disso?” Soltando sua cabeça, ele solta
um longo suspiro, seus ombros cedendo. Está cansado de explicar; de tentar
convencer-me.
“Eu vi seu terapeuta. Fui lá nos últimos dois dias. Queria saber mais
sobre... Max..... no caso de ficar preso como ele.”
“Isso parece insano, Max.” Argumento, minha voz aumentando com
emoção. Curvando-se, ele puxa a mochila e enfia um braço para dentro,
enquanto cava. Quando encontra o que procura, ele deixa cair a mochila.
“Esse,” segura a foto para mim, “sou eu.” Tomando-a, examino, deixando
meus olhos lentamente rever cada detalhe. A foto é do homem, Liam, que
acabo de ver no hospital, embora pareça um milhão de vezes melhor na foto do
que em seu estado atual. Liam é bonito e robusto. Seu cabelo é comprido e
denso, e tem uma barba curta. Seus dentes estão à mostra e, até mesmo com a
barba, suas covinhas se mostram, enquanto sorri para a câmera de pé ao lado
de uma motocicleta. Seus olhos são castanhos, ricos e escuros, como os meus.
Seus braços decorados com tatuagens vibrantes; algumas das quais reconheço
por ter visto em seu corpo no hospital. Enquanto a estudo e deixo meus olhos
memorizarem cada detalhe, sinto algo como um sentimento de familiaridade.
Quando sinto Max mover-se atrás de mim, tensiono, a proximidade fazendo
minha respiração engatar. Com cuidado, ele coloca as mãos em meus quadris,
pressionando seu peito em minhas costas antes de pastar seus lábios
suavemente em meu ombro nu.
“Esse sou eu, Waverly,” me diz em uma voz baixa, grave. “Olhe para a foto
e me sinta.” Ele sussurra, à medida em que sua mão escorrega sob a bainha da
minha camisa, seu polegar passando por minha pele macia. O contato íntimo
faz minhas costas arquearem, enquanto envia aquele arrepio familiar pela
minha espinha. Sei que devo dizer-lhe para parar, mas em algum lugar entre
meu coração e minha mente, onde a razão sempre parece desaparecer, as
BN TOLER
palavras se perdem e tudo o que pode sair são gemidos e gemidos. Em vez de
lutar contra ele, me inclino e deixo meu corpo se derreter contra o seu.
“Sei que estou te pedindo para acreditar no impossível.” Max continua,
seus lábios escovando a pele do meu pescoço delicadamente como uma pétala
de flor, enquanto ele fala. Me movo para virar e encará-lo, mas suas mãos
agarram minha cintura, batendo-me contra ele, me impedindo.
“Não,” ele diz com firmeza. “Se olhar para mim, você só vai vê-lo. Só verá
Max Porter, o homem que te machucou.”
“Mas-”
“Não,” ele interrompe meu protesto. “Olhe para a foto,” me ordena,
enquanto pega meu cabelo e puxa-o de lado para que ele possa descansar seu
queixo em meu ombro, sua bochecha tocando a minha. “Olhe em seu coração.
Se você olhar lá, realmente olhar, você não verá Max.”
Fechando meus olhos, minha respiração falha enquanto ele sussurra.
“Eu preciso, mais do que qualquer coisa neste mundo, que você me veja,”
diz contra meu pescoço. Fixo meu olhar na foto, olhando nos olhos escuros do
homem que Max alega ser, enquanto ele beija meu pescoço e sussurra palavras
de súplica.
“Por favor. Por favor, me veja.” Implora-me repetidamente, enquanto sua
boca queima meu pescoço com necessidade e desejo. Seus dedos agarram até
que se enfiam em meu cabelo, onde ele suavemente o puxa. Eu nunca fui
tocada desta maneira; adorada desta forma. Minha respiração escapa-me em
pequenas rajadas enquanto ele me puxa para mais perto, nossos corpos
tentando se fundir juntos.
Não há dúvida de que o Max que ele foi esta semana não é o homem que
eu conheço. É como noite e dia, mas há explicações perfeitamente lógicas do
porquê disso acontecer, e uma troca de corpo não é uma delas. Há explicações,
como ele estar brincando comigo, mentindo ou mentalmente doente. Minha voz
da razão defende firmemente que essas são conclusões válidas, mas aquele
coração - meu coração - aquele lugar que me disse para olhar... Ele vê algo
mais.
“Estou tão assustada.” Ofego, enquanto ele gentilmente morde meu
ombro. Eu realmente não quis dizer em voz alta, mas uma vez que digo, ele
para. Estendendo a mão ao redor, ele a desliza suavemente pela minha
BN TOLER
garganta até que está segurando meu queixo. Pressionando seu rosto ao lado
do meu, ele diz: “Eu sei.”
Suas palavras seguintes batem-me bem no peito.
“Estou com medo, também.”
Por um momento, nenhum de nós diz nada. Ele me segura, sua mão
firme, mantendo nossas bochechas apertadas, nossas respirações erráticas.
“Vamos puxar o plugue do suporte vital depois de amanhã. Não tenho ideia do
que acontecerá, então. Posso morrer.” Seu queixo descansa em meu ombro, as
palavras difíceis para dizer. “Sei o que estou perguntando, Waverly, mas você
pode me dar um dia? Depois de amanhã poderá ir embora e nunca pensar em
mim novamente, se é isso que quer. Se posso ter mais um dia neste mundo, sei
que não quero gastá-lo com ninguém além de você.”
Meus olhos ardem de lágrimas enquanto minha garganta se aperta. Suas
palavras são devastadoramente bonitas, o que toda mulher quer ouvir. Isso é
loucura, digo a mim mesma quando inclino a cabeça em direção à dele,
deixando-a descansar. Você não pode permitir ser levada para isso. Mas,
maldição... a forma como me sinto quando me toca. Meu coração sabe. Este
não é Max. Sei, porque desejava que Max me quisesse, precisasse de mim
assim. Levantando minha mão e colocando-a sobre a dele, sugo uma
respiração irregular.
“Ok, Liam,” sussurro. “Ok.”
BN TOLER
CAPITULO TRINTA
Envio uma mensagem para Helen depois que Waverly foi para cama,
perguntando se ela poderia vir mais cedo, porque tenho algo que preciso fazer.
Assim que ela chega, a preencho com os eventos da noite anterior e digo-lhe
para responder a qualquer pergunta que Waverly possa ter.
Em seguida lhe entrego uma sonolenta Pim, que começou a beber seu de
leite e saio. Nova Iorque é sempre animada, as calçadas lotadas de muitas de
pessoas manobrando o caminho um ao outro, mas no início da manhã, há uma
calma que me permite abrandar e admirar a cidade. Enquanto ando, tomo nota
dos edifícios, as luzes e até mesmo as poucas pessoas que estão fora, como eu.
Esta é a minha cidade. Minha casa. Essas calçadas e esses prédios foram meu
abrigo por um tempo em que não tinha nada. Isso não é exatamente verdade.
Talvez não tivesse uma casa ou posses, mas tinha algo de mais valor. Uma
consciência. Sei que, o que quer que aconteça amanhã, se eu vivo ou morro, fiz
o meu melhor. Quando a moral me provocou, testando minha decência como
ser humano, respondi ao salvar a vida de Max. Não importa quantos bens tive
na vida, nunca perdi a minha alma.
Não demora muito para chegar à loja. E não é surpresa encontrar a oficina
já aberta. Lenny sempre acordou cedo. Quando entro, ele me reconhece
imediatamente e aperta minha mão.
“Então, eu ouvi que você tem minha moto pronta,” começo, casualmente.
Inclinando a cabeça, ele aperta os olhos em confusão.
“A Panhead,” rio, enquanto caminho até ele e inspeciono-o.
“Uau,” ele bufa. “Me sinto estúpido,” Lenny ri enquanto coça a nuca. “Não
tinha ideia de que era sua motocicleta.”
BN TOLER
CAPITULO TRINTA E UM
“Mas não foram só as histórias. Havia outros sinais. Ele se move como
Liam. Até mesmo curva sua boca de um lado e sorri tolamente apenas como
meu irmão. Os maneirismos, o humor...” ela balança a cabeça. “Era tudo
Liam.”
“Você sabe como isso parece, certo?”
“Como?” Helen questiona, com uma sobrancelha elevada, especulativa.
“Quero dizer...” Torço minha boca, enquanto tento decidir como dizer o
que quero. Não há maneira de colocá-lo delicadamente. “Como se você
estivesse usando um homem mentalmente doente para pagar as contas
médicas do seu irmão.”
Sua sobrancelha se ergue levemente enquanto sua cabeça recua para trás.
Eu a ofendi. Lentamente, suas feições se relaxam, enquanto a observo absorver
o que lhe disse.
“Não tinha pensado nisso, mas acho que pode ser assim para alguém que
não acredita nele.” Então, ela fixa seu olhar atento sobre o meu. “E acho que é
por isso que ele tem sorte que nós acreditamos.”
Sua expressão fica estoica enquanto me encara. É um desafio. Ela quer
que eu confirme. Quer que diga qual voz escolho, ambas guerreando, entre Max
é louco versus Liam é Max.
Isso é justo, acho, mas há um problema. É difícil dizer e percebo que não
posso. Não até acreditar de todo coração. Só não estou pronta para falar em
voz alta. Gostaria de ficar e passar este dia com ele, até tirarem o corpo de
Liam do suporte vital. Mas dizer que acredito? Para fazer minha língua curvar
em torno dessas palavras, enquanto derramam fora da minha boca? Não estou
pronta para isso.
Como não posso dizer o que ela quer que eu diga, falo outra coisa, algo
honesto.
“Estou assustada.”
É a coisa mais honesta que posso dizer. Antes que saiba, Helen tem seus
braços envoltos em torno de mim, seu corpo se arrastando suavemente com
soluços silenciosos.
“Se isso te faz sentir melhor,” ela chora, “estou com medo também.”
E, por um momento, deixo que minhas suspeitas sobre Helen escapem
enquanto a abraço. E se ela não é uma manipuladora? E se é como eu;
BN TOLER
homem bonito, mas não é sua aparência que mexe as coisas dentro de mim.
Isso é diferente. Eu o sinto; posso sentir sua vontade em seu olhar. E ali está.
Percebo que estou olhando para Max, mas não é Max olhando para mim. É
Liam. Acredito nele.
BN TOLER
Depois de uma hora e meia, tenho que resgatar Waverly. Minha irmã
mostra-lhe cada foto que possui e passa a contar-lhe oito mil histórias sobre
mim, que me faz soar como um cara fantástico. Não sou um homem modesto;
sei que não sou tão bonito, nem tão interessante quanto o que ela diz, então
não há dúvida em minha mente que Waverly provavelmente teve o suficiente e
está pronta para fugir do apartamento e do tédio.
Trinta minutos depois, Waverly sai do quarto, vestida com um top e uma
calça jeans, o cabelo liso e ondulando sobre os ombros. Ela fez sua
maquiagem, seus olhos com uma linha escura, como uma menina pin-up, e
seus lábios perfeitos estão brilhantes. Tomando nota de seu traje, luto com o
grunhido de frustração que quero deixar sair. Como ela parece tão sexy em
algo tão simples como jeans e um top? Cada babaca pelo qual passarmos
provavelmente vai olhar para ela. E será uma longa tarde.
“O que diabos é isso?” Waverly pergunta à medida em que aponta para
minha mão, e me sacode dos meus pensamentos, enquanto olho para ela,
admirado.
Levo um momento para fazer minha língua funcionar novamente.
“Seu capacete,” a informo, enquanto estendo para ela.
Ela olha para ele sem entender.
“Isto é para mim?”
“Hum... tão bem como rosa choque ficaria em Max, não acho que é
realmente para ele,” rosno. Estou muito orgulhoso de mim mesmo, pois
consegui um capacete que combina com o de Pimberly.
Olhando para Helen, Waverly morde o lábio, sua expressão incerta.
BN TOLER
Ela deve ter notado minha excitação, porque geme em zombada irritação.
“Ok, Liam. Vamos montar essa coisa ou não?”
Jogando minha perna sobre a moto, a estabilizo.
“Estas não são normalmente motos de dois lugares, então coloquei uma
almofada no final, para que você se sentasse.”
“Ótimo,” diz secamente, enquanto sobe atrás de mim. “Parece super
seguro.”
“Se você não quer fazer isso, não precisa, você sabe, não é?” Não há nada
que eu queira mais do que andar com ela, mas sei que está nervosa sobre isso.
Não quero que se sinta forçada.
“Se não quisesse, não faria.” Não duvido. “Além disso,” ela suspira, “hoje é
um dia perfeito para fazer todos os tipos de loucura. Você sabe.” Waverly
pensa em voz alta: “Acreditar que outro homem está habitando o corpo do meu
ex. Andar de moto com o dito habitante,” sorri, enquanto suas palavras me
alarmam.
Sei que pedir a ela para acreditar é insano e Waverly não teve tempo para
processar as informações. Suas palavras fazem me perguntar se ela ainda tem
dúvidas de que estou dizendo a verdade. Ter sua confiança e fé é importante
para mim. Deixando de lado as preocupações, pelo menos por enquanto,
decido dar-lhe o dia. Quero que ela passe um dia comigo, todos os segredos
expostos e dar-lhe uma chance de decidir. Sei que há uma diferença entre ela
querer acreditar e realmente acreditar em mim.
Antes de dar partida na moto, dou a ela algumas instruções sobre o que
fazer com seus pés e como não se inclinar em voltas, e assim por diante.
Chegando atrás de mim, agarro seus braços e envolvo-os ao meu redor,
pressionando-os contra meu peito.
“Apenas segure firme,” a instruo. “Você vai ficar bem.”
“Para onde vamos?” Ela pergunta.
“Ver uma pessoa da qual sou amigo,” respondo. Andando com a moto um
pouco, dou o pontapé inicial e ela ruge para a vida, vibrando abaixo de nós.
Waverly aperta-se em mim e não posso deixar de sorrir. Não tenho certeza que
a vida pode ser melhor do que isso; este momento. É isso. Este é um momento
que nunca vou esquecer, um belo dia para andar de motocicleta com a minha
mulher.
BN TOLER
Ok.
Nem a moto ou a mulher são minhas, tecnicamente, mas por hoje vou
fingir que são. É muito possivelmente o último dia da minha vida e espremerei
cada gota dele. Enquanto aceleramos, meu coração troveja em meu peito
porque, pela primeira vez em muito tempo, que consigo me lembrar, sinto-me
feliz.
BN TOLER
“Me sinto da mesma maneira.” Deixando cair a cabeça, ele descansa sua
testa em meu ombro.
“O que há de errado?” Pergunto, incapaz de virar e ver seu rosto.
Mentalmente me repreendo por perguntar, pois sei exatamente o que está
errado. Deveria ter feito a mesma pergunta que me fez: o que você está
pensando?
“Posso morrer amanhã,” responde sem rodeios. “Ou posso viver, como
Max, para o resto dos meus dias. Nenhuma das duas opções parece ser um
grande resultado.”
Meu corpo parece apertar e soltar de uma só vez com suas palavras,
enquanto a ansiedade me domina. O desconhecido é de longe o pior nesta
situação. Há vários resultados possíveis e todos vêm carregados com uma
enorme lista. Há uma possibilidade; um fugaz raio de esperança de que Liam
acorde em seu próprio corpo. De alguma forma, apesar do fenômeno da
situação, sinto que Liam acordar como ele mesmo é o menos provável. Não
tenho certeza se isso é porque queremos mais e, na vida, raramente
conseguimos aquilo que queremos, ou se é porque as chances estão tão
empilhadas contra ele. Liam está com morte cerebral e entrando em falência de
órgão. Coloco minha mão sobre a dele, que se encontra pousada na grade, e
faço o meu melhor para confortá-lo com as opções limitadas que tenho, dada a
posição em que estamos.
Erguendo a cabeça, ele envolve seus braços ao meu redor.
“Só estou me perguntando qual é o ponto de tudo isso,” ele diz.
“O que quer dizer?”
Movendo-se ao meu lado, ele se inclina na grade e olha para a água,
apertando as mãos na frente dele.
“Quero dizer,” ele suspira, “por que isso aconteceu; essa troca de corpos?
Tenho que acreditar que há uma razão.... uma moral para a história. O que
poderia ser?”
Olho para a água, desejando saber o que dizer, mas não sei. Não tenho
palavras, nem sabedoria para oferecer. Há um milhão de maneiras que posso
tentar pintar esta situação em tons felizes de amarelo e rosa, mas qual é o
ponto? Posso oferecer finais felizes e mencionar o lado bom de tudo durante
todo o dia, mas que bem fará a ele?
BN TOLER
“Dormi aqui há algumas noites.” Murmura ele, seu olhar lançando-se para
baixo, em suas mãos, a vergonha dominando suas feições.
“No cais?”
“Sim,” me responde, virando o pescoço e sinalizando com seu queixo para
um banco a alguns metros de distância. Uma mulher mais velha senta-se no
banco olhando fixamente para fora na água, acariciando o que parece ser um
gato de pelúcia em seu colo. Sua boca se move como se estivesse falando, mas
não posso ouvir o que ela diz de onde estamos. “Bem ali naquele banco,”
continua ele.
Eu aperto os lábios enquanto imagino Liam, seu verdadeiro eu físico,
enrolado em um banco tentando dormir. Quão perdido e solitário ele deve ter
se sentido.
“Não tinha nada,” continua ele. “Não era nada.”
Envolvendo meu braço ao redor dele, coloco a cabeça em seu ombro.
“Isso não é verdade.”
“Foi assim que me senti,” argumenta. “Quando alguém olhava para mim,
se eles se incomodassem em olhar, tudo o que viam era um vagabundo sem
valor, sujo. Mas não Pearl,” ele termina.
“Pearl?” Questiono. Quem é Pearl?
“Aquela é Pearl,” lança um rápido olhar para a mulher acariciando o gato.
“Você a conhece?” Pergunto, confusa.
“Encontrei-a na rua.” Seu olhar volta a cair para suas mãos. “Alguns
punks estavam brincando com ela, tentando pegar sua bolsa. Eu intervi,” ele
coça a nuca, “estava com fome e Pearl ficou tão grata. Então, compartilhou sua
comida comigo naquele dia e toda semana depois.”
Observo a mulher, meu olhar mais profundo.
“Ela ainda vive nas ruas?”
Ele assente.
“Eu trouxe você aqui por uma razão.” Explica-me, enquanto se vira,
inclinando seu quadril contra a grade, mantendo suas costas para Pearl.
“Preciso que você a ajude. Se algo...” faz uma pausa, sua boca apertando,
enquanto trabalha em formar as palavras. “Se eu morrer,” finalmente termina.
“Preciso que você a ajude. Ela tem alguns...” ele faz um gesto com a mão em
BN TOLER
volta da cabeça, “problemas. É a mulher mais doce que você pode conhecer e é
inofensiva. Só não está... totalmente bem mentalmente. Como você é da área de
trabalho social, penso que talvez consiga a ajuda que ela precisa.” Enquanto
observo por cima do seu ombro, suas feições parecem cair. Meu peito se
contrai quando absorvo o quão genuinamente preocupado por esta mulher
Liam está. Aqui está ele, sua vida prestes a terminar em menos de vinte e
quatro horas e passa uma parte de seu último dia tentando se certificar de que
Pearl será cuidada.
“Quer falar com ela?” Pergunto a ele com firmeza, enquanto me encara de
novo.
“Não. Eu tentei e ela reagiu mal, pois viu Max me deixar para morrer. Ela
o odeia...” aponta para o seu rosto. Tomando sua mão na minha, a aperto.
“Vou ter certeza de que ela receba ajuda.” Prometo a ele. Sei que não é tão
simples como apenas pegar Pearl e levá-la para uma enfermaria de psiquiatria;
levará algum tempo, mas farei isso, não importa como, por ele.
“Obrigado.” Puxando minha mão para seu rosto, ele a beija. “Como um
vagabundo sem valor, como eu tive tanta sorte?”
“Liam,” começo. “Talvez você tenha se sentido assim, mas você nunca foi
inútil. Apenas chegou a um ponto complicado. Um lugar muito difícil,”
acrescento. “Todos nós atingimos pontos difíceis.” Sei disso melhor do que
qualquer outra coisa. Posso não ter acabado nas ruas, desabrigada, mas sei o
que é estar no fundo do poço e me perguntar se nunca ia subir. De novo, ele
luta por palavras. É o conto clássico do cara legal que termina em último lugar.
As explicações habituais vêm à mente; Deus não nos dá mais do que nós
podemos lidar, às vezes temos que bater no fundo do poço para trabalhar o
nosso caminho de volta para cima.
Mas, não importa o quanto queira, não consigo falar isso. Comecei a me
apaixonar por esse homem da maneira mais inexplicável; ele está preso no
corpo do meu ex. Isso certamente não facilita. Mas, não diz muito sobre ele,
sobre seu caráter? Nesta semana, vi um homem amável, com paixão real e um
coração grande o suficiente para amar uma garotinha que não era sua. Ouvi
histórias de um irmão que sempre foi mais do que um confidente ao longo da
vida de uma irmã apaixonada por ele. Não é justo. Eu sou uma pessoa terrível
por não inventar algo para lhe dizer, mas a verdade é..... eu preciso de uma
explicação, também. Por que o homem pelo qual me apaixonei tem que estar no
corpo de Max? Estou sendo punida? Ou ele?
BN TOLER
“Liam?”
“Sim?”
“Posso te fazer uma pergunta?”
Ele ri.
“Não.” Brinca ele. “Perguntas não são permitidas.”
Reviro meus olhos.
“O que acontece se você ficar no corpo de Max?” Virando a cabeça, ele
beija o topo da minha cabeça e descansa ali sua boca por um momento, antes
de falar.
“Não sei,” ele responde. “Do lado de fora, provavelmente parecerá algo
como uma vitória, de alguma forma.”
“É assim que você se sente?” Ele fica calado por um momento, como se
estivesse pensando.
“Se fico como Max, serei saudável. Terei um lar e dinheiro.”
“E,” acrescento relutantemente, “você me terá.” Quando ele fica em
silêncio por um momento, imagino se ficou aborrecido com minhas palavras.
“Será difícil ter você, ou qualquer coisa, dessa forma.” Ele finalmente diz.
Minhas sobrancelhas se franzem em confusão, enquanto olho para ele.
Difícil de me ter? Que diabos isso significa?
“Por quê?”
“Talvez seja o meu orgulho... eu não sei. Seu dinheiro não é o meu
dinheiro. Assumindo que me sinto mal com sua identidade e, em algum nível,
sabendo que você me ama, Liam, mas então a outra parte de mim saberá que,
cada vez que te tocasse, toda vez que você me olhasse.... tudo o que você
sentirá e verá é Max.”
“Você sabe que há mais do que isso;” discuto, afastando-me dele, minha
frustração agindo como uma distância entre nós. O que ele está dizendo? Que
se permanecesse no corpo de Max ele não poderá estar comigo? Meu rosto arde
de raiva.
“Então, se você ficar como Max, acabamos? É isso?” Agarrando-me, ele
me vira para encará-lo, os músculos em sua mandíbula tiquetaqueando.
“Pare com isso,” exige.
BN TOLER
aquela promessa de que o amarei, seja como Max ou em seu próprio corpo.
Depois do beijo, Liam pressiona a boca na minha testa e respira fundo.
Tinha sido um momento bonito; profundo e significativo.
Mesmo com as minhas garantias, no entanto, ainda há um pensamento
assustador e inimaginável.
E se eles trocassem de novo quando tirarem o corpo de Liam do suporte
vital?
E se Liam morresse?
27 Em inglês seria “As you wish”. No filme essa frase é muito utilizada.
BN TOLER
que um motorista use uma mão no guidão. Tentar conduzir a moto e mantê-la
equilibrada é muito difícil. Se Liam não estivesse lá para nos equilibrar,
teríamos caído nas inúmeras vezes em que tínhamos parado porque eu não
podia mudar e a moto pesava uma tonelada.
“Filha da puta,” amaldiçoo, depois que a moto para bruscamente. “Eu não
posso dirigir essa maldita coisa.”
Liam ri, descansando suas mãos em meus ombros, massageando
suavemente, para me acalmar.
“Você está pensando demais.”
“Há muito para lembrar. Muitos passos.”
Ele fica quieto por um momento antes de perguntar:
“Você gosta de dançar?” Deixo meus ombros caem em frustração. “Acho
que sim,” admito, severamente. “Já faz muito tempo.”
Deus, nem conseguia me lembrar da última vez que fui dançar. Então um
pensamento bate em mim, me empolgando.
“Você dança?” Pergunto, uma pitada de excitação em meu tom. Ele ignora
minha pergunta.
“Como eu estava dizendo...”
“Você dança!” Dou um grito, o choque evidente em meu tom. “Um homem
que dança e tem bom gosto para filmes? Acho que encontrei ouro aqui.”
“Tenho que parar de falar,” murmura ele. “Estou perdendo toda a minha
credibilidade na rua,” brinca.
“Seu segredo está seguro comigo.” Asseguro, lutando contra o desejo de
rir. Gosto de deixá-lo desconfortável. Ainda mais, amo que ele leva isso tão
bem, porque é capaz de rir de si mesmo. “Ok...” Contorço-me de volta no
assento, fazendo com que ele rosnasse com luxúria, ganhando a reação exata
que eu esperava. “Ensine-me.” Inclinando-se rapidamente, deixa seu corpo
colado no meu, sua boca em meu ouvido enquanto me alcança e puxa minha
mão esquerda, colocando-a sobre o câmbio, então toma minha mão direita e
coloca-a sobre o acelerador.
“Pense nisso como uma dança.” Me instrui, sua voz rouca. “Dança
envolve passos, coordenação e conhecer o seu parceiro. Isso não é muito
diferente.”
BN TOLER
“Sinto muito, Matt. Não quis preocupar você e agora arruinei sua viagem.”
Matt não reconhece as desculpas de Waverly ou qualquer coisa que ela
diga sobre esse assunto, enquanto continua:
“Então venho aqui e encontro Pim com esta mulher que não me deixa vê-
la. O que diabos está acontecendo, Waverly?”
Waverly cobre o rosto com as mãos quando percebe a grande confusão
que um telefonema criou. Deixando-as cair, levanta uma mão e faz um gesto
para Helen.
“Matt, esta é a minha amiga Helen. Helen, este é meu irmão, Matt.”
Helen e Matt se entreolham, nenhum deles oferecendo um cumprimento
educado ao outro. Aparentemente, tinha sido o suficiente28 antes de chegarmos
lá.
“Posso segurar minha sobrinha agora?” Matt grunhe.
Helen olha para Waverly que acena afirmativamente.
Matt imediatamente puxa Pim em seus braços e a aperta contra ele,
embalando-a para acalmá-la. Os gemidos de Pim começam a calar-se
imediatamente quando Matt beija sua cabeça algumas vezes, sussurrando para
ela.
Finalmente, Pim acalma-se.
A sala está em silêncio; calma.
Até que não está mais.
Matt olha fixamente para mim.
“O que está acontecendo aqui, Waverly?”
Lançando um olhar de desculpas a mim, antes de retornar seu foco de
volta para Matt, ela dá de ombros.
“Nada. Eu... eu estava bêbada quando liguei para você.”
O que mais ela diria a ele? Que pensou que eu estava sofrendo de
transtorno de personalidade múltipla, mas não achava mais isso, porque agora
acredita que troquei de corpo com seu ex? Eu tenho um sentimento de que, de
28Do original stand-off, para nós uma situação em que um argumento ou luta para por um
período de tempo porque ninguém pode ganhar ou obter uma vantagem.
BN TOLER
realmente, mas sei que no dia seguinte pode, muito provavelmente, ser o meu
último dia e eu quero tempo com Pimberly.
“Desculpe-me?” Suas sobrancelhas estão unidas quando ele cruza os
braços. “Desde quando você decide o horário de Pim?” Abro a boca para
explicar.... Inteiramente inseguro de como fazer isso, quando Waverly intervém.
“Helen, você levaria Pim para o quarto?” Waverly pergunta calmamente
enquanto mantém os olhos fixos em Matt. Helen não hesita, simplesmente
pega Pim em seus braços e desaparece no quarto, fechando a porta atrás dela.
“Então o que é, Max?” Matt continua vindo em minha direção, seus ombros
afastados. “Você mudou de ideia?” Ele pergunta. “De repente decidiu que
realmente quer ser pai?”
“Matt.” Waverly agarra seu braço, tentando chamar a atenção de volta
para ela, mas Matt a sacode e dá outro passo em minha direção. Mantendo as
mãos em meus lados, amplio minha postura um pouco, preparando-me para
levar um soco. Se alguém merece um soco no rosto, Max Porter é o cara certo.
Não posso culpar Matt por sua raiva. Ele acabara de arruinar sua viagem para
voltar para casa e encontrar a irmã com o homem que a abandonou. Quando
Matt está a poucos centímetros de mim, seu olhar intenso, com cada desdém
que sente por Max, ele grita:
“Você sabe o que fez quando a jogou de lado como se ela não fosse nada?”
“Matt.” Waverly implora.
“Waverly não conseguia sair da cama. Teve que deixar a faculdade e ir
morar comigo. Levei dois meses para que ela saísse da casa, pois estava
malditamente deprimida.” Aperto meus lábios enquanto a tristeza me bate
forte. Sei que Max causou muito sofrimento a Waverly, mas ouvir a perspectiva
do irmão é brutal.
“Pare, Matt. Por favor.” Implora, seus olhos rasgando enquanto ela agarra
seu braço novamente. Matt pega a mão dela e a puxa para fora. Nem mesmo se
incomodando em olhá-la.
“Ela estava grávida do seu bebê.” Ele rosna, com os dentes apertados
enquanto me empurra com força no peito. “E você agiu como se ela nem
existisse. Waverly teve que ver um terapeuta duas vezes por semana por mais
de um ano pela forma como você livrou-se dela.”
“Isso é o suficiente, Matt.” Waverly declara em voz alta, em uma respiração
engatada, enquanto seu corpo afundava suavemente. Meu peito aperta quando
BN TOLER
olho para ela, lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Não quero nada mais
naquele momento do que tomá-la em meus braços e segurá-la; deixá-la sentir o
meu amor, a minha compreensão.
“Não, não é suficiente!” Matt grita, enquanto chama a atenção da irmã.
Seu rosto vermelho de raiva, enquanto apontava para mim. “Você se lembra o
que esse idiota lhe fez? E está voltando para ele como uma mulher patética e
desesperada.” As palavras parecem uma bala, acertando-a nos lugares mais
vulneráveis. A dor que Waverly sente é palpável enquanto seu corpo parece
cair, seus ombros encolhidos. A raiva se agita dentro de mim e, antes que
possa me conter, o agarro e o empurro para longe dela.
“Isso é o suficiente, maldição!” Dou um grito. Não é surpresa quando Matt
me soca, minha mandíbula rachando quando seu punho faz contato apenas no
lugar certo. Resmungo, mas me recupero rapidamente, agarrando-o pela
camisa e o empurrando. Perdendo o equilíbrio, ele tropeça para trás e nós dois
caímos no chão.
“Filho da puta.” Ele resmunga, enquanto lutamos. “Matt.” Waverly chora,
à medida em que se move em volta de nós. Minha razão está perdida conforme
lutamos, nossos corpos se torcendo enquanto tentávamos dominar o outro. Sei
que, em algum lugar no fundo da minha mente, onde existe senso comum e
lógica, sua raiva está dirigida a Max, não a mim. Fisicamente, lutar com ele é
errado, mas vê-lo ferir Waverly.... não consegui me segurar, por mais
justificados que sejam os seus sentimentos a respeito da situação. Algum
instinto protetor e primordial assumiu e reagi. Consigo rolar Matt em suas
costas, então estou sentado em cima dele, prendendo-o no chão. Ele tem uma
mão segurando minha garganta enquanto empurra, tentando me jogar fora
dele, mas estou sentado solidamente. Puxando meu punho para trás, tenho a
intenção de atingi-lo, até que sou arrancado de Matt e jogado de volta em
minha bunda. Lutando para voltar aos meus pés, me preparo para atacar
quem quer que fosse, até que sou empurrado para trás, novamente.
“Isso é o suficiente, Sr. Porter.” Braxton grita para mim, antes de mudar
sua atenção para Matt e empurrá-lo de volta, como ele fez comigo. “Chega!” Ele
ruge para Matt. De pé, de lado entre nós, ele ergue as mãos, agindo como um
bloqueio. “Eu preciso chamar a polícia?” Estamos ambos ofegantes, olhando
um para o outro, nenhum de nós se incomodando em falar. Então noto
Waverly, suas mãos pressionadas contra o rosto enquanto ela chora.
Espremendo meus olhos fechados, solto um longo suspiro enquanto a culpa e
o arrependimento me atingem.
BN TOLER
“Merda.” Bufo. Isso não deveria ter acontecido, não importa o quão grande
babaca Matt estava sendo. Braxton vira-se para Matt quando percebe que não
íamos atacar um ao outro novamente e sugere:
“Acho que é hora de você ir, senhor.” Matt corta seu olhar zangado para
Waverly, enquanto seu peito sobe e desce a cada respiração.
“Waverly?” Ele resmunga. Não tenho certeza se Matt quer que ela vá com
ele, ou se ele só quer que ela o defenda.
Erguendo os olhos para os dele, ela franze o cenho:
“Temos planos pela manhã,” ela funga, virando a cabeça, “mas devemos
terminar às dez. Você pode vir buscar Pim então.” Matt olha ao redor da sala,
seu olhar desdenhoso fixando-se em mim uma última vez, antes de ir para
fora. A boca de Braxton está pressionada em uma linha dura, enquanto me
olha fixamente.
“Os vizinhos estavam reclamando,” ele explica. “Por favor, certifique-se de
que isso não aconteça novamente, ou terei que denunciá-lo.” Aceno uma vez,
enquanto segurava minha mandíbula latejante.
“Desculpe,” murmuro em resposta.
Puxando um lenço do bolso, estende-o para Waverly. “Está limpo e você
pode ficar com ele,” diz, com a voz suave.
“Obrigada.” Nós o observamos sair, ancorados no chão por vários minutos,
antes de finalmente chegar à porta e fechá-la.
Quando volto, Waverly está na cozinha, tirando um saco de ervilhas
congeladas. Meu estômago se revira quando ela me encara de novo, me
deixando ver de perto quão magoada está, enquanto gentilmente coloca a bolsa
contra meu rosto. Seus olhos ainda estão vermelhos e inchados de chorar e
Waverly não consegue parar.
“Ele quebrou a mandíbula de um garoto uma vez, quando estava no liceu.”
Ela diz, enquanto me olha. “Você tem sorte.”
“Waverly, eu sinto m-”
“Não.” Ela me corta. “Eu odeio isso... que aconteceu, mas foi minha
culpa. Deveria ter ligado para ele. Sou a única errada.”
“Acabei de fazê-la dormir.” Helen murmura, enquanto entra na cozinha.
“Pobre bebê, chorou para dormir.” Faço uma careta enquanto pego as ervilhas
BN TOLER
perguntando se devo entrar. Sei que Waverly está chateada e quero consolá-la;
estar lá para ela, mas também quero dar-lhe espaço, se é isso que ela precisa.
Minha mandíbula está latejando (Matt tem um bom gancho de direita), e estou
tenso. Preciso me acalmar. Um chuveiro me ajudará a relaxar e quem sabe
então, Waverly estará pronta para conversar. Mesmo que ela não esteja ou não
fale uma palavra, irei segurá-la.
BN TOLER
foi a auto-aversão. Max me transformou em uma mulher fraca, mas não sou
mais assim. Sou forte e uma boa mãe, e não penso em mim como uma pessoa
vaidosa ou superficial, mas, sim, definitivamente boa para uma senhora que
teve um bebê. Estou melhor agora, e sei o meu valor.
Percebo, por mais cruel que esta situação pareça, que tenho a chance de
sentir o amor de um homem que respeito. Esta pode ser minha única
oportunidade de estar com Liam e, não importa o que aconteça amanhã, não
quero perdê-la. Há uma boa chance de Liam morrer, e esse pensamento é
suficiente para me fazer quebrar, se eu deixar. Mas pensar em nunca sentí-lo
dessa forma, essa conexão em níveis mais profundos entre um homem e uma
mulher, é mais debilitante do que o pensamento anterior. Em algum nível, luto
com a decisão; é certo, considerando todas as incógnitas? Fazer isso só me
machucará no final? Também penso se Liam estará aberto a isso. Não duvido
que me queira; eu duvido que ele possa fazer amor comigo no corpo de Max.
Mordo o lábio, enquanto olho para o meu reflexo, me pergunto como fazer
Liam se sentir confortável.
Sei que Liam está preocupado sobre eu enxergar Max sempre que olhasse
para ele, mas tenho uma ideia a esse respeito. Encontrei a venda de olhos na
gaveta do criado-mudo de Max quando estava — não tenho orgulho de admitir
isso — bisbilhotando, dias antes. Também encontrei a grande caixa de
preservativos em seu armário do banheiro, o que fez com que me encolhesse,
mas esta noite eles serão úteis. Não me deixo pensar sobre como é irônico que
eu esteja pegando preservativos do meu ex para usar com o homem habitando
seu corpo, pois é demais para assimilar. Sentindo que tenho um plano, ou pelo
menos a maior parte de um, levanto o queixo e olho para os meus próprios
olhos.
“Você pode fazer isso,” digo a mim mesma.
Depois que tiro minhas roupas, escovo meus cabelos emaranhados, devido
a um dia de montar na parte de trás de uma motocicleta, retoco a maquiagem e
me limpo.
Olhando para o espelho uma última vez, inalo uma respiração profunda.
“Aqui vamos nós,” digo ao meu reflexo.
Agarrando a venda e alguns preservativos, caminho na ponta dos pés por
causa de Pim, antes de espreitar pela porta do quarto. A luz que aparece por
baixo da porta do banheiro de visitas indica que Liam está no chuveiro. Não sei
o que me leva a fazer isso, mas sei que quero Liam tão nu quanto eu quando
BN TOLER
Paraliso ao som da sua voz, enquanto puxo o travesseiro para cobrir meus
soldados. Levo um momento para absorver o que vejo.
Waverly.
Nua.
Nua e com os olhos vendados.
Ela está em frente às janelas, de frente para mim, uma máscara (dessas
de dormir) de seda preta cobrindo seus olhos. A iluminação do exterior
proporciona o pano de fundo perfeito, mostrando em silhueta cada curva
requintada de seu corpo.
Meu coração bombeia duro no meu peito, minha boca seca, enquanto olho
para ela, deixando meus olhos vagarem por cada centímetro do seu corpo.
“Liam?” Ela chama meu nome novamente, em respiração ofegante.
“Sim,” respondo, minha voz rouca.
“Estive esperando por você.” Sua língua dispara através de seus lábios.
Meu coração bate erraticamente enquanto eu bebo sua imagem. Nunca uma
mulher fez algo tão ousado como isto. É sexy, bonito e intenso ao mesmo
tempo.
“Você está com os olhos vendados,” eu noto.
“Então você saberá que através de cada minuto disto, só vou ver e sentir
você.
Dando um passo na direção dela, paro. Quero perguntar a ela se tem
certeza.... se está realmente certa, mas perguntar pode levar a uma resposta
negativa e, se ela não tiver certeza, teria que me parar. Algo que é quase
impossível para mim neste momento.
“Liam?”
“Estou aqui.” Asseguro-lhe, minha voz rouca.
Agarrando seus cabelos, ela os torce por cima do ombro.
“Se você não me quer...” ela começa.
“Pare.” Digo a ela. Querê-la não é o problema. Não é esta a questão e não a
deixaria pensar nisso.
Ela abaixa a cabeça e envolve seus braços em torno de seu estômago.
“Sinto muito. Pensei que você também me queria.”
BN TOLER
“Eu quero você,” rosno, com os dentes cerrados. “Mulher, você não tem
ideia do quão malditamente quero você.”
Levantando o queixo, ela pergunta:
“Então por que você não me toca?”
“Porque estou com medo.” Admito, quando passo uma mão pelo meu
cabelo molhado.
“Com medo de quê?”
“De tudo,” eu bufo. “Estou com medo do desconhecido, da ideia de que
provavelmente morrerei amanhã ou não, ou ficarei preso neste corpo para
sempre. Estou com medo de que se fizermos isso, só vai tornar muito mais
difícil o amanhã, o que vai me irritar ainda mais.”
“Também estou assustada,” murmura ela. “Mas me aterroriza pensar que,
se você for embora, se amanhã realmente for seu último dia, vou ter perdido a
chance de te sentir.”
Aperto meus dentes, suas palavras batendo-me direto no peito, enquanto
percebo quão certa ela está. Se esta é a única maneira, nossa única chance,
não quero perdê-la, não importa o quão fodido pareça.
“Tenho receio de que você se arrependa disso. Tem certeza, Waverly?”
Quero lembrá-la, novamente, sobre as incógnitas à nossa frente, sobre o fato
de que esta pode ser a nossa única noite juntos. Se vou morrer no dia seguinte,
isso será mais difícil para ela. No final, não falo essas coisas, pois sei que
Waverly já sabe tudo e não quero bater na mesma tecla.
“Se você não vir aqui e me tocar, me beijar,” ela ofega, “eu vou
enlouquecer, Liam. Por favor.”
Como sempre acontece quando estou com ela, minha vontade se
desintegra como açúcar na água. Não tenho dúvidas do que fazer, mas estar
com Waverly desta forma, provavelmente é errado em algum nível; não me
importo, no entanto. A quero mais do que minha própria vida. Deixo cair o
travesseiro, me movo e fico diante dela, nossos corpos a um fôlego de distância.
Estou desesperado para tocá-la, mas sei que observá-la, memorizando seu
corpo, sua boca e curvas, é uma tortura que vale cada momento de agonia.
Levantando a mão, deixo as pontas dos meus dedos patinarem suavemente
sobre sua clavícula, antes de levá-las pelo esterno entre seus seios pesados e
arredondados. Sua cabeça se inclina para trás, sua boca separando-se
ligeiramente, enquanto seu corpo curva-se e um gemido suave lhe escapa.
BN TOLER
“Tem certeza, Waverly?” Pergunto mais uma vez, pois preciso ter certeza.
Uma vez que começássemos, e sentisse seu corpo contra o meu, não teria
forças para me afastar, se ela, de repente, mudasse de ideia.
“Nunca estive tão segura na minha vida.” Deslizando sua mão sobre a
minha, ela segura, me forçando a apalpar seu peito macio e cheio. Grunhindo,
meu desejo cresce através de mim. Pego-a pelos ombros e a viro, tomando seus
braços e levantando-os, para que suas mãos estivessem contra o vidro. Minhas
mãos são impiedosas enquanto inspecionam o comprimento de seu corpo,
tomando seu tempo à medida em que passam sobre cada ponto, cada curva
suave.
“Você é excessivamente perfeita.” Ofego contra sua pele. Deixando minhas
mãos descerem por seus lados até seus quadris, e aperto, ganhando um
gemido dela. “Tão perfeita, Waverly.”
“Eu te quero tanto,” ela murmura, enquanto move o pescoço, pegando
meus lábios com sua língua.
Estou tão excitado que não sei por onde começar. Quero tomar meu
tempo, adorá-la, mas também levá-la rápido e com força. Quando Waverly
contorce o traseiro, pressionando-o em mim, quase perco a cabeça.
Envolvendo-a em meus braços, aperto-a firmemente, minha boca em seu
pescoço.
“Isso vai levar a noite toda,” a aviso, antes de morder o lóbulo macio da
sua orelha. “Vou tocar cada centímetro de você.”
“Espere,” ela geme, enquanto gira em torno de si mesma, para pressionar
suas mãos em meu peito. Meu estômago vira. Waverly não quer fazer isso. Ela
mudou de ideia.
“Merda,” suspiro. “Sinto muito. Eu não deveria...”
“Liam.” Interrompe ela. “Eu só quero fazer algo primeiro.”
“Controle de natalidade?” Questiono. Parece o tópico mais pertinente.
“Não,” ela balança a cabeça. “Encontrei preservativos, que estão no sofá,
mas obrigada por perguntar. É outra coisa.”
“O que você quer fazer?” Mordendo seu lábio inferior, Waverly abaixa a
cabeça ligeiramente. Daria qualquer coisa para ver seus olhos, para lê-los, para
ter alguma indicação quanto ao que ela está pensando.
“Mostre-me todas as suas tatuagens.”
BN TOLER
Tomando minha mão, ele dobra suavemente alguns de meus dedos para
dentro da minha palma, então só dois ficam estendidos. Tocando-os em seu
peito, os move enquanto fala, descrevendo cada tatuagem. Liam leva um
tempo, enquanto move minha mão sobre seu corpo, de seu peito e seus braços,
para seu estômago e suas costas. E quando termina, aperta minha mão na dele
e beija cada um dos meus dedos.
Dói em mim... em toda parte. Eu nunca, em todos os meus dias, quis um
homem com tanta ânsia quanto o quero. Mesmo com os olhos vendados, um
dos meus sentidos completamente impedido, anseio por ele.
Levantando meus braços, ele os coloca em seus ombros e ao redor de seu
pescoço.
“O que você está fazendo?”
Liam não responde. Deslizando suas mãos pelas minhas laterais, fazendo
um arrepio crescer através de mim, ele as coloca na minha cintura e pressiona
sua bochecha contra a minha, enquanto nossos corpos se comprimem. Então,
lentamente, nos move.
Ele está dançando comigo.
Não há música e não consigo ver nada, mas isso é mais porque o sinto.
Sinto sua respiração em meu ombro, seu coração batendo em seu peito contra
o meu, sua pele contra minha. Sinto a maneira como ele me guia. Meu corpo
segue sua liderança sem questionar ou hesitar, confiando nele. Até onde
cheguei. Dias antes estava convencida de que nunca me sentiria assim por
ninguém. Tinha perdido a fé e esperança de que alguém viesse e ganhasse
BN TOLER
minha confiança desta maneira. Cresci nos anos desde que Max me deixou e,
em muitos aspectos, estava mais forte do que nunca.
Enquanto nos balançávamos no silêncio, penso no que Liam disse mais
cedo quando me ensinava a dirigir a moto. Como falou sobre confiar em si
mesmo o suficiente para fazer a poderosa máquina se mover, comparando a
uma dança; o dar e receber. Isto é tão diferente?
Puxando a cabeça para trás, ele levanta meu queixo e me beija.
Então, quando o beijo suave se transforma em febril, nossas mãos cavam
na carne um do outro e nossas respirações tornam-se ofegos e gemidos, e
mudamos para um tipo diferente de dança.
Uma bela dança de corpos retorcidos.
A dança mais sagrada de todas.
BN TOLER
São apenas oito da manhã quando Pimberly senta ao meu lado, a cabeça
encostada no meu braço enquanto bebe leite de seu copo. Dormi mais tarde do
que de costume. Havia colocado Waverly na cama não muito antes, mas não
conseguia dormir. Estava muito ansioso. Ainda assim, gosto disso. Este é o
momento para Pim e eu desfrutarmos. Quando nos sentamos em silêncio e Pim
luta para emergir de sua névoa da manhã, minha mente se afasta para outro
lugar.
A noite anterior, que havia acabado nas primeiras horas da manhã, foi a
melhor noite da minha vida. Imagens de Waverly, nua, a boca entreaberta
enquanto ela ofegava e gemia de prazer, seus dedos enfiados nos meus cabelos,
seu corpo arqueado no sofá com as luzes da cidade aumentando cada curva
suave do seu corpo, foram impressas como um carretel que corre
repetidamente na minha cabeça. Nós mordemos, arranhamos e chupamos
cada centímetro um do outro, antes que terminássemos em cima do sofá,
Waverly me montando enquanto embainhava-me dentro de si.
É o sentimento mais intenso que já senti. Uma tempestade perfeita dos
desejos dos corpos, das necessidades das almas e dos desejos dos corações.
Quando senti a parte mais profunda dela, estava sentado e segurando-a no
lugar, enquanto apertava minha testa entre seus seios. Waverly envolveu seus
braços ao redor da minha cabeça e me segurou à medida em que relaxava
sobre mim, compreendendo que eu precisava dela parada por um momento,
desse sentimento para permanecer comigo o máximo de tempo possível. No
momento em que consegui me mexer de novo, beijei todo o caminho até seu
seio e sacudi minha língua contra seu mamilo. Deixando cair sua cabeça para
trás, ela choramingou, antes de voltar, para descansar sua testa contra a
minha.
BN TOLER
“É uma sensação tão boa ter você dentro de mim, Liam,” ela sussurrou.
“Eu nunca quero que isso termine.”
Dizer meu nome com luxúria foi brutal e incrível de uma só vez. Daria
qualquer coisa para rasgar a máscara do seu rosto e olhar em seus olhos, mas
sabia que, tanto quanto queria vê-la, ela não me veria. Tinha que ser assim. Se
não posso ter sua visão, devoraria todos os seus outros sentidos de todas as
formas possíveis, para que ela me sentisse. Pode não ter sido o meu corpo, mas
fui eu; meu coração, minha alma, meu amor.... Eu.
Finalmente, relaxei minha mão e Waverly se levantou lentamente antes de
deslizar de volta para baixo. Isso foi apenas o começo. Quando lhe disse que ia
demorar toda a noite, quis dizer isso. Nós fomos lentos enquanto ela montou
em mim, e então rápidos quando a virei no sofá, a possuindo com suas pernas
sobre meus ombros. De lado, de joelhos comigo atrás dela, fizemos tudo. No
final, estávamos no chão, meu corpo sobre o dela, quando nos beijamos.
Sentimos isso, o fim à vista. Estivemos a bordo de um foguete por horas, mas
apenas como os foguetes devem aterrar, soubemos que teríamos também.
Agarrando meu rosto em suas mãos, à medida em que eu deslizava para dentro
e para fora dela, sua voz era áspera, com uma pitada de emoção, quando disse:
“Aconteça o que acontecer amanhã, preciso que saiba bem aqui, agora,
que acredito em você. Preciso que você saiba que eu te amo, Liam.”
“Vroom-vroom.” Pim sibila, me acordando de meus pensamentos. Sorio,
quando a puxo para cima e a sento no meu colo. Colocando sua pequena mão
macia em meu rosto, empurro minha cabeça e finjo que vou mordê-la. Ela ri.
Beijo sua testa, meu peito doendo. Dizer adeus a Pimberly é tão difícil
quanto dizer adeus a Waverly, pois ela foi a primeira pessoa a gostar de mim
como Max. Pim, mais do que ninguém, tem todas as razões para odiá-lo depois
de ser abandonada por ele, mas ela é muito jovem para entender o que
aconteceu. A conheci como uma lousa limpa. Dói pensar no que acontecerá
depois. Se Max e eu trocarmos de volta e eu morrer, ou nós dois morrermos,
Pim não entenderá por que estive aqui um dia e não no próximo. Odeio isso. É
mais um exemplo de por que tudo isso parece um castigo. Talvez seja, mas
estou grato por cada momento doce com esta menina; os abraços, os risos,
suas mãos cheias de espaguete manchando meu rosto. Tudo isso. Cada
momento foi um presente.
“Eu não sei o que vai acontecer hoje,” murmuro calmamente, “mas,
apenas no caso, quero que você se lembre de algumas coisas. Primeiro, nunca
BN TOLER
meu coração Pimberly é e sempre será minha filha. “Quero que saiba que você
fez meus últimos dias nesta terra melhor do que qualquer um, antes de te
conhecer.” Minha respiração estremece enquanto luto para mantê-la firme.
“Obrigado por isso, querida. Eu te amo.”
Pim se senta e olha para mim.
“Está bem, Liam?” Sorrio com voz rouca, sua pergunta aquecendo meu
coração e quebrando ao mesmo tempo. Pim está me verificando, certificando-se
de que estou bem. Como pode alguém tão pequeno me causar um sentimento
tão intenso? Um soluço surge do nada e levanto minha cabeça. Helen está a
vários metros de distância, seu rosto molhado de lágrimas. Havia destrancado
a porta quando ela me enviou uma mensagem antes, dizendo que estava no
caminho, para que não precisasse bater e acordar Waverly.
“Oh, Liam,” Hel ofega. “Isso é tão injusto.”
Limpando a garganta, luto para ganhar a compostura. Tenho um longo
dia pela frente e essas mulheres precisam que eu seja forte, seja a rocha. Se
tudo acabar para mim naquele dia, é isso que quero lhes dar.
“Venha aqui, Helen,” digo a ela. Hel praticamente voa na minha direção e
se senta ao meu lado. Sentamos no sofá, seguro-a e Pim enquanto Helen
soluça. Mesmo para uma idade tão jovem, Pimberly parece entender que algo
grande está acontecendo, pois bate no braço de Helen e gorgoleja algo que soa
como está tudo bem? E, quando Helen continua a chorar, Pim tenta fazer
brincadeiras para animá-la. Através das lágrimas e soluços, Helen ri.
“Não é justo,” minha irmã chora.
“Nada disso é justo.” Aperto-a, lutando pelas palavras certas. Hoje não é
um dia apenas para lamentações. Hoje Hel precisa ouvir que estou bem. Tenho
que fazê-la acreditar. “Você sabe,” começo, “depois do acidente, antes de ficar
inconsciente, você foi a última pessoa em quem pensei.”
Erguendo seu olhar para o meu, ela pergunta:
“Sério?”
“Pensei em como não te via há tanto tempo e como deveria estar louca.
Não deveríamos ter nos afastado, e naquele momento você teria que identificar
meu corpo. E me odiava por isso.”
“Eu senti sua falta,” ela murmura. “Chegar ao hospital e vê-lo na cama
daquele jeito foi o pior dia da minha vida.”
BN TOLER
“Eu sei que foi,” concordo com ela. “Me desculpe por ter feito isso com
você. Espero que saiba que nunca poderia ter conseguido passar por isso sem
você, Hel. Sou grato, irmãzinha. Grato por você ser minha irmã, que a tive do
meu lado, quando ninguém mais teria acreditado, e sou grato pela chance de
chegar a dizer...” paro, sabendo que isso será difícil para ela ouvir.
“Adeus?” Ela grunhe.
“Sim, Hel. Adeus. Não sabemos o que vai acontecer hoje, mas devemos
estar preparados para o pior; esperar o pior ou o melhor. Se morrer, quero ter
dito todas as coisas que preciso. Por mais difícil que seja, sinto-me tão
abençoado por ter a chance de dizer a você.” Beijando a parte superior de sua
cabeça, continuo: “Todas aquelas noites na rua senti tanta pena de mim
mesmo, que não tinha nada, mas estava errado. Se Max me ensinou alguma
coisa, foi isso. Eu tinha alguém que, seja o que for, sempre me amaria e
cuidaria de mim. Eu tinha você. Ter alguém assim vale mais do que todo o
dinheiro do mundo.”
“Sempre cuidarei de você, Liam. Sempre.”
“Sei disso. Também sabia antes. Só... odiava decepcioná-la.”
“Você nunca foi uma decepção para mim. Nunca,” Helen repete, enquanto
enxuga seu nariz. Seguro-a um pouco mais, enquanto ela chora.
“Fale comigo, ok?” Digo a ela. “Você não vai me ver, mas vou estar
escutando, Hel. Sempre que você precisar falar, estarei ouvindo.” Seu corpo
treme com soluços silenciosos, destruindo minhas entranhas e, quando
finalmente parece se acalmar, ela se senta e enxuga seu rosto.
“Vou preparar o café para nós,” anuncia, enquanto move a cabeça em
direção a Pim. “Você quer um pouco de panqueca?” Pim estende os braços para
Helen e nós dois rimos. Essa garota adora comer. Helen levanta-se e a pega.
“Estaremos na cozinha.” Depois que elas estão fora de vista, vou para o quarto
acordar Waverly, mas descubro que ela já se encontra de pé.
Waverly está saindo do banheiro quando entro. Um sorriso fraco toma
seus lábios, enquanto ela cora ao me ver. Não consigo parar de sorrir. Ela é
deslumbrante.
“Bom dia, linda.”
“Bom dia,” Waverly responde calmamente, enquanto empurra alguns
cabelos atrás da orelha. Caminhando até ela, dou-lhe um beijo casto.
BN TOLER
O clima hoje está pesado. Mesmo ao longo da manhã, isso nunca deixou
minha mente. Há um acordo tácito entre Helen e eu; faremos o possível para
dar a Liam o melhor último dia da sua vida. Nenhum de nós sabe ao certo o
que acontecerá quando tirarem o corpo de Liam do suporte vital, mas estamos
nos preparando para o pior, porque, no convés da vida, o mais provável é
sermos tratados com as piores tormentas. Essa não é a pessimista em mim, e
sim a realista.
Matt manda uma mensagem, pedindo para pegar Pim às dez e respondo
dizendo-lhe que o encontraria na frente do prédio. Não preciso que ele entre e
faça outra cena. Não é culpa de Matt, uma vez que ele está apenas tentando
ser um bom irmão, mas não posso lidar com sua raiva naquele dia. É demais.
Devo-lhe um milhão de desculpas, mas elas vão ter que esperar.
Liam nos acompanha até o elevador, segurando Pim firmemente em seu
peito. Sua boca está pressionada em uma linha dura e, embora tente não
demonstrar o quão doloroso é, posso ver isso espalhado em seu rosto.
Fechando os olhos, Liam inala profundamente pelo nariz, como se tentasse
respirar.
“Eu te amo, querida,” ele murmura baixinho. “Obrigado,” continua. “Um
milhão de vezes, obrigado.”
Meus olhos ardem de lágrimas enquanto o observo beijar a testa de Pim e
depois entregá-la para mim. Os olhos da minha garotinha parecem cair. Ela
pode não entender o que está acontecendo, mas sabe que algo está errado.
“Liam.” Pimberly chama, enquanto estende uma mão para ele. Liam
toma-a, à medida em que engole em seco, o pomo de Adão balançando, antes
de beijá-la, então ele olha para mim, seu olhar úmido e cheio de desculpas,
BN TOLER
CAPITULO QUARENTA
Nós três caminhamos para o hospital. Está muito quente fora do prédio,
mas quero estar ali mais uma vez, sentindo o sol no meu rosto. Estamos
calados. Ninguém diz uma palavra. Afinal, o que você fala para um homem
morto andando?
Uma vez que chegamos ao hospital e estamos em pé, do lado de fora do
quarto, somos abordados por uma enfermeira com cabelo comprido cor de
cobre, amarrado em um rabo de cavalo alto.
“Bom dia,” ela sorri tristemente.
“Max,” Helen lança um olhar para mim. “Esta é Kym. Ela é a terapeuta
respiratória diurna de Liam desde que chegou aqui.”
“Oh.” Aceno com a cabeça. “É um prazer conhecê-la, Kym.”
“Gostaria que fosse sob melhores circunstâncias,” ela diz, enquanto
apertamos as mãos. Olhando para Helen, Kym informa: “Fizemos três EEG29
novamente, mas não houve sinal de atividade cerebral.”
Helen baixa a cabeça.
“Então não há esperança?” Pergunto, lutando para aceitar o que a linda
mulher de cabelo de cobre nos diz.
“Vou pedir ao Dr. Malcom que entre e fale com vocês em breve.” Entendo
isso como não, não há esperança. Ela simplesmente não quer ser a única a nos
dizer isso exatamente. Não a culpo. Médicos são pagos mais, então eles devem
ser os portadores da pior notícia.
Depois que Kym corre para longe, me viro para Helen e Waverly.
29 Eletroencefalografia/ eletroencefalograma.
BN TOLER
CAPITULO QUARENTA E UM
Soltando meus braços, ele pega meu rosto em suas mãos e usa seus
polegares para limpar minhas bochechas molhadas. “Você vai fazer isso por
mim.”
Derretendo em seus braços, choro enquanto ele suavemente acaricia meu
cabelo. Liam sussurra seu amor e adoração. Diz belas palavras, enquanto me
aconchega. Promete que tudo ficará bem. Quando Helen volta com o médico e
Kym, estou mais calma, embora ainda chorando.
“Eles estão prontos para começar,” Helen nos informa, seus olhos úmidos.
Virando-se para ela, Liam a abraça com força.
“Eu te amo, Hel Cat,” ele sussurra, onde os outros não podem ouvir. “Se o
bebê for uma menina, nomeie-a Liamina.” Liam tenta brincar, desesperado
para fazê-la rir mais uma vez. Ela não ri, mas consegue forçar um sorriso,
enquanto se afasta dele.
“Eu também te amo,” Helen murmura.
As despedidas foram feitas, os papéis assinados. É isso.
Liam segura-nos a ambas, uma em cada braço em seus lados, enquanto
assistimos Kym começar o processo de extubação. A enfermeira coloca uma
toalha sobre o peito, preparando-se para o trabalho. Antes de começar, silencia
as máquinas que monitoravam a freqüência cardíaca e pressão arterial. O
médico explicou que, uma vez que a máquina que lhe fornece oxigênio fosse
desligada, a pressão sanguínea e frequência cardíaca se alterariam e as
máquinas ficariam altas, se não as silenciassem.
“Agora vou cortar seu oxigênio.” Kym nos informa. Liam aperta minha
mão quando nossos olhares se encontram.
“Eu te amo,” sussurra ele.
Antes que eu consiga responder, Kym pressiona o botão para parar o
suprimento de oxigênio.
Então ouço um baque alto.
Levantando minha cabeça em direção ao som, olho inexpressivamente,
choque me fazendo muda e imóvel.
O corpo de Max encontra-se no chão.
“Liam,” grita Helen, tirando-me do meu estado de incredulidade. Nós duas
caímos de joelhos ao lado dele, avaliando-o. Endireitando a cabeça, bato em
seu rosto algumas vezes, tentando acordá-lo, mas ele está apagado. Dr.
BN TOLER
“Por favor, mantenha-nos informados,” digo a Kym. Ela assente uma vez e
olha para Helen.
“Acredito que seu filho está lá fora,” informa ela. “Pedi que me deixasse te
buscar primeiro, porque não tenho certeza se você quer que ele entre ou não.”
“Droga,” Helen suspira, sua boca apertando. “David queria vir hoje, mas
lhe disse que não,” ela explica. “Ele é tão teimoso quanto seu tio. Eu volto já.”
Ambas correm para fora da sala, deixando-me sozinha com Liam. O
quarto está tão tranquilo, que percebo que ele não respira novamente. Pego sua
mão e aperto, enquanto beijo a parte de trás dela.
“Estou aqui, Liam,” digo-lhe novamente. “Estou aqui com você.”
A porta abre novamente e uma mulher entra, um sorriso gentil em seu
rosto, enquanto olha de mim para Liam. Estreito meus olhos enquanto estudo
seu rosto. Reconheço-a. É a mulher do cais.
“Pearl?” Pergunto, em descrença. Ela parece mais limpa do que a única
vez que a vira, no dia anterior. Seus cabelos grisalhos estão lustrosos,
empurrados atrás de suas orelhas e ela usa um vestido de linho branco solto, o
que a faz parecer qualquer coisa, menos sem-teto.
“Olá, Waverly,” me cumprimenta, seu tom confortável, como se fosse
alguém que me conhece bem. Fecho a boca com dificuldade, à medida em que
meus olhos se ampliam com surpresa. Ela sabe meu nome. Como ela sabe meu
nome? Ao som da sua voz, Liam respira fundo, enquanto Pearl coloca a mão em
seu ombro. “Olá, meu amigo.”
Observo-a de perto, me perguntando se devo pedir a ela para sair, mas
não consigo ter coragem para questionar. Além disso, digo a mim mesma que
Liam iria querer que Pearl se despedisse.
“Parece que ele não tem muito mais tempo.” Observa Pearl casualmente,
seu tom faltando a quantidade adequada de simpatia. Ela diz isso como se
estivesse observando o tempo; como se não fosse grande coisa. Enfio minhas
unhas nas palmas das mãos, para me impedir de atacar. Como se atreve a
entrar aqui e declarar o óbvio, como se já não fosse suficientemente difícil? Então
lembro do que Liam me contou a seu respeito. Ele não iria querer que eu
ficasse chateada porque ela não pode evitar.
“Não, acho que não,” murmuro, enquanto engasgo com um soluço.
Erguendo a mão, ela tira alguns cabelos do rosto do Liam.
BN TOLER
“Já ouviu falar de Karma?” Meu coração bate de um jeito que sinto em
meus ouvidos. Pearl é realmente uma parte disso? Ela tem alguma coisa a ver
com isso? Ou é uma mulher que sofre de delírios e eu estou tão desesperada
por uma resposta, que estou comprando essa história? Mantendo meu olhar
fixo no dela, espero que ela continue.
“Não entendo,” respiro. Voltando a segurar o braço de Liam, Pearl suspira.
“Você não está sendo punida, Waverly, e nem Liam. Ele é um homem
especial. Existem poucas pessoas neste mundo que dariam atenção para uma
velha louca que não tem nenhum laço com ele.”
“Então por que você está punindo-o?”
“Eu não estou. Se você olhar para isso do jeito certo, talvez veja tudo isso
como uma recompensa.” Olho para Pearl como se ela fosse uma lunática.
“Recompensa?” Fervo, com ira. “Como é que esse homem, que você alega
que é seu amigo, está morrendo como uma forma de recompensa?”
“Você precisa de tempo para ganhar perspectiva, mas não temos tempo
para isso agora, já é quase a hora.” Agarro o corrimão da cama, meus nódulos
branqueando enquanto o medo enrola seus dedos árticos em minha espinha.
“Quase hora de quê?” Pearl franze o cenho.
“A escolha de Max.”
O sangue escorre do meu rosto. O que isso significa? Se alguma coisa
envolve Max fazendo uma escolha, sei que isso não é bom.
“Escolha?” Pearl tira um pouco de sujeira invisível em seu vestido, antes
de encontrar meu olhar intenso.
“Max deve escolher viver ou morrer,” ela declara, simplesmente. Corro em
torno da cama, encurralando-a.
“O que isso significa?” Grito com ela.
Voltando-se para o corpo de Liam, ela ergue a boca para um lado.
“Significa que a escolha de Max decide o destino de Liam.” Meu coração
cai em meu estômago.
“Está me dizendo que Liam vai morrer se Max preferir morrer?” A boca de
Pearl aperta e ela inclina a cabeça, seu olhar suave fixo em mim.
“Sim.” Ela balança a cabeça com firmeza.
BN TOLER
“Não. Como pôde deixar isso acontecer com ele? Liam cuidou de você. Ele
até comprou esse gato idiota. E era seu amigo. Max não fez nada para ninguém
além de si mesmo!” Estou gritando com ela, minha voz rouca de emoção.
“Como é justo Max escolher e Liam não?”
“Porque Liam escolheu. Ele escolheu dar sua vida para salvar outro. Mas
Max não queria ser salvo.”
“Não entendo,” soluço alto. “O que você está me dizendo?”
“Max propositadamente entrou na frente do ônibus naquele dia,” sua boca
aperta por um momento, enquanto tenta recompor-se. “Não foi um acidente.
Max deixou Liam morrer porque estava assustado. Em sua mente, ele o
matou.”
Eu sei que estou de pé, que meus pés estão plantados firmemente no frio
piso de azulejos, mas sinto como se estivesse caindo.
“Ele queria ser atropelado por um carro e morrer?” Questiono. Pearl
balança a cabeça uma vez, deixando-me saber que estou certa. Desilusão fecha
minha espinha dorsal, e transforma minha tristeza em raiva. Olho para Pearl
enquanto dou um passo em sua direção. “Então, Max é recompensado com não
uma, mas duas chances, depois que intencionalmente tentou se matar, mas
Liam,” paro, enquanto aperto o punho na minha boca, lembrando-me de
manter a calma, “Liam deixa seu destino nas mãos de Max? Que tipo de Karma
é esse?” Fervo.
“Liam o salvou. Ele deu sua vida. Eu não a tirei.” Pearl me explica,
levantando a mão em defesa enquanto nota a minha raiva. “Poderia ter deixado
os dois morrerem. Mas não. Quero que Max escolha e decida pelos dois.”
“Por quê? Diga-me por que Max escolhe?”
“Porque é minha última chance de salvar a alma de Max.” Minha mente
se despedaça ante suas últimas palavras em milissegundos.
“É?” Murmuro, o sangue escorrendo do meu rosto. Seus olhos se juntam
quando ela encontra meu olhar com arrependimento.
“Max quer morrer. Tenho medo de ter falhado.”
Não me preocupo em discutir mais. Não posso. Escapando para fora do
quarto como uma mulher louca, corro para a escada. Quando chego ao
primeiro andar, e vou para o departamento de emergência, aonde levaram Max,
estou sem fôlego, tentando respirar. Uma pequena enfermeira loira acaba de
BN TOLER
sair pelas portas duplas que levam à área de triagem, sem me notar, enquanto
olha para alguns papéis em sua mão.
“Senhora.” Ela grita enquanto corro, passando por ela, sem parar. Não há
tempo. Várias enfermeiras e um médico param em seus caminhos e me
observam à medida em que olho ao redor, tentando localizar Max.
À minha direita, há um quarto onde tem vários médicos e enfermeiras
estão amontoados ao redor de uma cama, gritando termos médicos um para o
outro. Quando avisto o rosto de Max, voo para dentro e salto na cama. Pegando
os ombros de Max, o sacudo.
“É melhor você viver, maldição!” Grito com ele, minhas palavras engatadas
em soluços. Minhas mãos doem, pois estou segurando-o com força. “Não o tire
de mim, Max! Não, por favor, estou te implorando!” Mãos agarram-me em todos
os lugares, tentando puxar-me para fora dele, mas agarro-o mais apertado.
“Max, por favor!” Suplico. “Você tem que viver para que ele possa! Viva, por
favor. Não o tire de nós, Max.” Quando finalmente conseguem me remover, sou
arrastada para fora do quarto, meu corpo mole, enquanto choro.
“Ele está falhando!” Alguém grita. As mãos segurando-me de repente
desaparecem e viro meu pescoço, enquanto meus ouvidos palpitam com os
sons dos bipes altos dos monitores. “Traga um EPI30!”
Eu não consigo me mexer. Não posso respirar. Max vai morrer.
“Quero implorar para que você não vá,” eu digo. “Mas sei que você ficaria,
se pudesse.” Tomando sua mão magra na minha, a levanto para minha boca e
beijo novamente. Não tenho ideia de como sair deste quarto depois que ele for
embora. O pensamento é a versão mais real do inferno em que posso pensar.
“Se você precisa deixar ir, Liam,” choro, lágrimas quentes escapando dos meus
olhos, “você pode.”
Sentando-me, tiro a máscara de oxigênio do seu rosto e coloco-a em seu
colo.
“Eu te amo,” sussurro, enquanto acaricio sua bochecha. “Sempre vou te
amar.” Pressionando minha boca em seus lábios secos e frágeis, o beijo
suavemente. É o único beijo que teria com ele; com o físico real dele. Deitada
de lado junto ao seu corpo, coloco a cabeça sobre seu coração, fecho os olhos
enquanto pego sua mão novamente e ouço cada batida do seu coração.
Quando escuto o barulho da porta, abro os olhos e vejo Kym entrando no
quarto, com a sobrancelha franzida, enquanto ela olha de mim para os
monitores. Examinando as máquinas, volta-se para Liam e tira o estetoscópio
do pescoço.
“Desculpe por isso, senhora, mas preciso que você se levante.”
Deslizando da cama, fico de pé quando ela põe a máscara de oxigênio
sobre a boca e nariz de Liam, antes de colocar o estetoscópio em seu peito. Ela
pisca rapidamente enquanto escuta e olha para os monitores.
“O que há de errado?” É isso? Ele morreu e nem sequer percebi enquanto
estava deitada ao lado dele?
Kym não me responde, se movendo para a porta e abrindo-a. Colocando a
cabeça para fora, ela grita para a enfermeira da estação.
“Chame Dr. Malcom. Preciso dele agora.”
Quando Kym retorna, Helen corre atrás dela, com olhos selvagens e
pálida.
“O que aconteceu?” Ela diz. “Ele se foi?”
Um jovem que só pode ser seu filho, porque parece exatamente como ela,
com o cabelo vermelho cacheado, também diz:
“Calma, mãe.” Colocando as mãos nos ombros dela.
“Preciso que todos saiam por um momento.” Kym nos fala, sem se
preocupar em fazer contato visual.
BN TOLER
“O inferno que nós vamos, não quando ele está prestes a morrer,” Helen
explode, seus olhos ardentes. “Esse é meu irmão e, se for isso, não vou
embora.”
Nesse momento, o doutor Malcom se aproxima com duas enfermeiras
passando por Helen.
“Pressão sanguínea?” Ele pergunta, enquanto usa seu estetoscópio para
ouvir o coração de Liam. Uma enfermeira suavemente pega meu braço e me
leva ao redor da cama como se fosse uma criança.
“Noventa e oito, por sessenta e dois,” uma das enfermeiras responde.
Kym vira-se para nós três e estende os braços para fora, gentilmente nos
levando em direção à porta.
“Precisamos que vocês saiam do quarto, por favor.” Ela fala suavemente.
Meu corpo inteiro parece enrolado firmemente, como fio torcido.
“O que está acontecendo?” Pergunto, o medo enchendo minha garganta.
Kym fecha a boca, um olhar de incerteza em seu rosto.
“Sua frequência cardíaca e pressão arterial estão subindo.”
Helen e eu nos olhamos, nossas sobrancelhas franzidas.
“Ele vai conseguir?” David pergunta, seu tom crivado com cada pedaço de
choque que estou sentindo.
“Não sabemos,” Kym rapidamente responde. “Precisamos fazer alguns
testes.”
Finalmente farta, ela diz severamente:
“Por favor. Saiam. Prometo que vamos atualizá-los assim que soubermos
mais.
Quero passar por ela e me jogar em Liam, dizer-lhe para voltar, para lutar,
mas sei que se o impossível pode acontecer, se ele pode voltar, precisamos
deixar o médico e as enfermeiras trabalharem nele.
Sem uma palavra para Helen, arrasto o traseiro para fora do quarto e de
volta ao primeiro andar. Desta vez, as portas duplas estão fechadas e não se
abrem quando as puxo. Frenética, corro para a enfermaria.
“Max Porter.” Grito para a mulher atrás da mesa. “Preciso saber, ele está
vivo?”
BN TOLER
Passam-se três horas e ninguém nos diz nada. Mesmo que eu sinta que
tudo estará bem, que Liam acordará, ainda seguro a respiração. Não quero ter
minhas esperanças destruídas. Eu também não contei a Helen sobre Pearl. Não
é o momento certo, especialmente com David ao redor. Helen nos dá uma breve
introdução, me apresentando a David como a namorada de Liam, e mesmo no
meio do horrível dia, me faz sentir bem. Fico honrada por ser conhecida como
sua, não importa o que aconteça.
Cada uma de nós passeia pela sala de espera, Helen e eu, tomando
turnos, incomodando as enfermeiras para obter informações, mas cada visita é
infrutífera. Imaginava que perder toda esperança era a pior sensação do
mundo, mas estava errada. Perdê-la, depois tê-la retornando, com a menor
possibilidade de que seria retirada de você novamente, era pior. A agonia da
espera é o que sufoca, e faz-me querer subir pelas paredes.
David é muito parecido com Liam, o homem tentando ser forte para nós,
senhoras. Eu sei que Liam estaria muito orgulhoso dele, pois trouxe-nos
bebidas e revistas e fez com que sua mãe comesse, dizendo-lhe que precisava
pensar em seu irmãozinho ou irmãzinha.
BN TOLER
“Olha quem está aqui para te ver, irmão mais velho.” Helen fala, enquanto
se vira para a cama onde Liam permanece deitado. Gentilmente, ela senta Pim
ao lado de Liam, perto do seu peito enquanto eu fico na cama do lado oposto.
Se Pim decidir engatinhar, tiraria de cima dele, rapidamente. Ela nunca tinha
visto Liam em sua verdadeira forma física e me preocupo se ficará com sua
estranha desconfiança habitual.
Inclinando a cabeça, ela olha para ele, acariciando seu peito com sua
pequena mão gordinha.
“Você pode dizer oi, Pim,” a induzo.
Pim esfrega o peito de Liam. Suavemente, ela ri.
“Liam.”
Os olhos de Helen ficam tão arregalados quanto os meus se sentem,
quando olhamos uma para a outra.
“Ela deve nos ter ouvido chamá-lo pelo nome,” tento explicar rapidamente.
Helen assente com a cabeça.
“Sim,” Helen concorda. “Deve nos ter ouvido.”
Quando Pim pousa a cabeça no peito de Liam, meu coração se derrete.
“Vroom-vroom.” Pim balbucia e desta vez eu sei que ela não nos ouviu.
Ela sempre soube que era Liam.
E é aí que acontece.
Liam abre os olhos.
BN TOLER
O homem que havia tomado seu corpo, sua vida. Mesmo sabendo da dor
de Max, não deixo de sorrir enquanto observo Liam, que parece bonito em um
terno, mas qualquer coisa é melhor do que roupa de rua suja. Ele se recuperou
completamente e parece melhor do que nunca. Ombros largos e músculos
agora substituem o saco de ossos que apresentava enquanto vivia na rua.
Curvando-se, ele pega Pim e a segura, enquanto colocava um braço ao redor de
Waverly, os três sorrindo enquanto posavam para uma foto.
Nesse momento, Max tira sua própria foto; sua mente captura o momento,
como uma câmera e marca a imagem em seu cérebro para a eternidade. Para
os outros que vêem esse momento, essa imagem só lhes mostraria um belo
casal com uma linda menina; uma família feliz, mas Max enxerga muito mais.
Ele vê um homem que tem todas as coisas — que tem tudo.
Seu tudo.
“Homem de sorte.”
Sua cabeça gira em minha direção, seguindo o som da minha voz. Ele me
observa com olhos cansados por um momento, se perguntando quando me
sentei ali. Não me notou até que eu havia falado. Não sabe quem sou,
especialmente não na forma em que me encontro. Max não sabe que estive
assistindo-o por toda a sua vida, que conheço sua dor.
“Sim,” ele concorda, enquanto limpa a garganta e move o olhar de volta
para a igreja.
“Você tem uma família?” Pergunto-lhe. Max franze a sobrancelha e fica
ligeiramente irritado com sua nova colega de banco, uma vez que está aqui
espionando sua ex e não quer conversar. Então, ele nota o pequeno gato preto
no meu colo. Tento não rir enquanto leio seus pensamentos.
Um bicho de pelúcia? Max esteve em inúmeras e intermináveis horas de
terapia por quase um ano e tem aprendido muito, principalmente sobre si
mesmo, bem como, a não assumir coisas sobre os outros. Talvez ele não queira
falar comigo, mas decide que não deve ser rude, também. Afinal, estou
acariciando um bicho de pelúcia, então claramente eu tenho problemas.
“Eu tinha ... algo como isso,” finalmente responde. “Mas elas se foram
agora.”
“Sinto muito em ouvir isso,” digo, suspirando.
“Só tenho a mim para culpar. Só... não estava pronto,” ele admite. “Queria
estar.... mas não estava.”
BN TOLER
“Oi.” Olhando para cima, encontra uma mulher bonita, seu cabelo loiro
amarrado alto em um apertado rabo de cavalo e seus lábios brilhantes. “Não te
vejo há algum tempo,” continua ela com familiaridade, mas Max não lembra de
tê-la conhecido. Quando não responde, ela inclina a cabeça, seu sorriso caindo.
“Me desculpe,” gagueja ele. “Acho que foi um pequeno engano. Minha memória
está um pouco confusa.”
Max faz um gesto com a cabeça, ao acaso. A mulher franze o cenho, então
seu olhar se move do seu rosto para o gato. Ele luta contra o desejo de
encolher-se, quando percebe que ela pensaria que ele é louco, por ser um
homem crescido carregando um gato de pelúcia.
“Esse é o gato do Pearl,” a moça diz, em tom de surpresa. Max não tem
ideia de quem é Pearl ou como responder. Ela acha que ele a roubou? “Ela não
aparece por aqui há cerca de um ano. Você a viu?”
“A mulher de cabelos grisalhos?” Ele pergunta. “Ela me deu isso, mas não
sei o porquê.” Colocando uma mão gentil em seu braço, ela questiona:
“Estou saindo daqui uns quinze minutos. Gostaria de tomar um café e vou
lhe dizer como te conheço e tudo sobre o gato?” Max a encara, se perguntando
por que diabos esta mulher quer sentar e desperdiçar um minuto do seu tempo
falando com ele.
“Tem certeza?”
“Sim,” ela responde com um sorriso. “Parece que você precisa um amigo.”
“Duvido que queira ser minha amiga,” murmura Max. A mulher o observa,
os pêlos levantando-se em sua nuca, quando sente alguém sussurrando em
seu ouvido que ele não era o mesmo de antes, para não deixar que a afaste.
Seu olhar suaviza quando responde calmamente:
“Algo me diz que isso não é verdade.” Ele acena com a cabeça em
concordância, em seguida, faz sinal para o banco desocupado no restaurante.
“Estarei esperando por você se juntar a mim, então.” Enquanto ela acaricia
seu ombro e se move para terminar seu turno, me afasto, concentrando-me
nos sussurros ao redor, procurando onde mais necessitava. Max está em boas
mãos agora e, embora saiba que ainda olharia por ele, é hora de compartilhar
minha magia com outra pessoa.
BN TOLER
31
BN TOLER
Waverly usa um top branco fluído que pende em um ombro. Seu cabelo
está solto e enrolado, implorando-me para enfiar meus dedos nele. Ela é a
minha verdadeira fraqueza. Deixando cair minha ferramenta, movo-me entre
suas pernas e agarro seu traseiro, deslizando-a para a borda da bancada.
“Eu não quero te sujar,” digo-lhe.
Beijando-me, ela gentilmente morde meu lábio inferior.
“Talvez eu goste de ser sua garota suja,” ela sussurra.
Isso é tudo que precisou. Em segundos nossas camisas estão fora e ela
levanta o traseiro enquanto eu tiro sua calça. Cada vez que estamos juntos em
nossos corpos, é erótico em todas as maneiras que o sexo pode ser fisicamente,
mas fazer amor com Waverly é além de fisicamente satisfatório. Entre beijos,
mordidas, pele na pele, ofegos e gemidos, encontro a paz que supera tudo. Ela
é minha casa e, quando nos juntamos, e pego seu corpo, isso me enche de
calma, sendo o lugar mais seguro que já conheci.
Suas pernas estão enroladas ao redor da minha cintura enquanto me
movo para dentro e para fora dela, seus dedos cavando em minhas costas,
enquanto gemo.
“Eu te amo, querida,” digo a ela uma e outra vez. Este é o meu paraíso.
Quando terminamos, estamos ambos sem fôlego e unidos. Beijando a
ponta do meu nariz, ela sussurra:
“Tenho algo a lhe dizer.”
“Oh, sim?” Sorrio, enquanto me movo, mas Waverly agarra meus quadris,
me segurando no lugar.
“Não se mova,” ela implora. “Ainda não.”
Minhas sobrancelhas se franzem à medida em que olho em seus olhos. É
quando vejo: ela está preocupada.
“O que há de errado?”
Sua cabeça cai, mas levanto seu queixo, forçando-a a encontrar meu olhar
novamente.
“Não faça isso,” digo a ela. “Conte-me.”
Engolindo em seco, respira profundamente.
“Ele fez. Max assinou os papéis. Ele desistiu dos seus direitos a Pimberly.”
BN TOLER
Meu peito dói por algum motivo. Sei que Waverly queria isso há muito
tempo, mas eu esperava que, quando Max acordasse, ele voltaria novo em
folha. Esperava que agarrasse sua segunda chance com afinco. Isso é o que
tenho feito e continuarei a fazer todos os dias, para o resto da minha vida.
Tanto quanto Waverly queria que Max assinasse seus direitos, sei que não lhe
deu o alívio que ela pensou que teria, sendo apenas mais uma ferida do
diabólico Max Porter.
“Há mais.”
“Há?”
“Max enviou um cheque com os papéis para ajudar a cuidar de Pim. Ele
enviou um cheque de um milhão de dólares, Liam.”
Luto com a notícia, me perguntando por que. Por que assinou os papéis?
Ou melhor, como pôde? Duvido que enviaria um cheque tão grande se a
decisão não tivesse sido tomada com alguma culpa. Em algum nível, ele se
importa com Pim. Se não o fizesse, assinaria os papéis e lavaria as mãos de
tudo. Uma parte dele quis dar algo a Pim, para ter certeza de que ela seria
cuidada.
“Esse dinheiro vai durar muito tempo para Pim,” comento.
“Eu sei,” Waverly concorda. “Apenas sinto como se tivesse sido paga.”
Escovando seu cabelo atrás de seu ombro, a beijo.
“Sinto muito.” Não sei mais o que dizer. Odeio que Max, mais uma vez, a
decepcionasse. Meses depois que saí do hospital, fui ao seu apartamento para
falar com ele. Parecia a coisa certa a fazer, afinal, habitei em seu corpo. No
entanto, Max se recusou a me ver. Waverly queria respostas. Por que ele não
queria Pim?
Poderia ter lhe dado informações das sessões com o terapeuta de Max,
mas nunca me senti bem; essa informação deveria vir dele, se, ou quando,
estiver pronto. Eu tenho minhas próprias perguntas e parte de mim deseja
respostas, mas acredito que há algumas coisas que não devemos saber e,
mesmo se houvesse respostas, sei que elas nunca serão boas o suficiente. É
difícil e injusto, mas às vezes isso é a vida. Talvez nunca entenderíamos Max,
mas eu entendo, mais do que qualquer coisa, como tive sorte.
“Eu não o odeio, sabe?” Levanto minhas sobrancelhas em surpresa.
“Nunca pensei que você odiava, não realmente.”
BN TOLER
“Eu odiava,” Waverly admite. “Por tanto tempo. Mas, no final, ele fez o
certo por Pim e por mim.” Ela coloca as mãos no meu pescoço, seus polegares
roçando minha mandíbula. “Max viveu para que pudéssemos ter você.” Aceno
algumas vezes, suas palavras batendo forte. É uma situação tão fodida e
impossível de entender completamente, e não importa o que o homem fez ou
quão fodido foi, no final, Max nos deu um ao outro — eu dei a minha vida para
salvá-lo quando ele nem queria, e agora Max me deu a dele.
“Quero que você adote Pimberly,” Waverly solta, então morde o lábio
inferior, como se ela estivesse assustada pela minha resposta.
Ela está falando sério? Waverly está nervosa por me pedir para adotar Pim
como minha? Sorrindo, a beijo com força enquanto um calor bombeia através
de minhas veias.
“É uma honra para mim,” digo a ela, minha voz rouca de emoção. Pim é
minha, de qualquer maneira, tanto quanto sei. Não importa quem forneceu seu
DNA, ela é minha filha. Minha menina. Eu faria qualquer coisa por ela. O
sorriso de Waverly é tão grande que faz meu coração pular. Eu sou um maldito
homem, mas preciso de mais uma coisa. Talvez esteja sendo ganancioso, mas
quero mais.
“Case comigo,” digo, meu coração batendo com força no peito.
Queria perguntar a ela no momento em que acordei, mas também queria
ter algo para lhe dar quando perguntasse. E estar de volta em minha
independência, com um trabalho.
“Quero você e Pim mais do que qualquer outra coisa na vida. Você na
minha cama todas as noites e Pim me acordando no raiar do amanhecer, para
que possamos ter o nosso café e leite juntos, e construir uma vida com você.
Quero ter tudo.” Inclinando minha testa contra a dela, digo novamente: “Case-
se comigo, Waverly.”
Ela chora enquanto pega meu rosto em suas mãos e me beija.
“Sim, Liam,” Waverly murmura. “Nós teremos tudo.”
BN TOLER
AGRADECIMENTOS