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CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

BRUNA PINHEIRO RIBEIRO

PROTEÇÃO CONTRATUAL À LUZ DO CÓDIGO DE DEFESA DO


CONSUMIDOR

Macapá/AP

Outubro/2015
BRUNA PINHEIRO RIBEIRO

PROTEÇÃO CONTRATUAL À LUZ DO CÓDIGO DE DEFESA DO


CONSUMIDOR

Trabalho de Pesquisa apresentado à


disciplina Direito do Consumidor, na
Turma 10ºDIN-1, para obtenção de
pontuação, sob a orientação da
Professora Luciana Esteves.

Macapá/AP

Outubro/2015
As relações consumeristas configuram a ideologia da proteção contratual
no Código de Defesa do Consumidor (CDC). A implementação da proteção
contratual no CDC se deu como uma forma de dar ao "Direito das Relações de
Consumo" uma maior autonomia dentro da ciência do Direito. Compõem essas
relações: o consumidor, o fornecedor, o produto ou serviço, e o seu fato
propulsor.

Segundo o CDC, em seu art. 2º, “Consumidor é toda pessoa física ou


jurídica, que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”. Neste
sentido, Martini e Costa (2013) acrescentam:

Propugna o legislador ordinário pela ampliação do conceito de


“consumidor”, a teor do art. 2º. do Código consumerista, para
abranger todo o sujeito, aqui integrado não só pela pessoa
física que adquira produtos, mas também por pessoas jurídicas
que, de forma direta ou indireta, não só sejam adquirentes de
produtos e serviços, mas fundamentalmente o utilizem como
destinatários finais.

Já o fornecedor, tem sua definição prevista no CDC, art. 3º, in verbis:

Art. 3º: Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou


privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.

É válido ressaltar que o rol supracitado é apenas exemplificativo, onde a


expressão “fornecedor” é tratada como gênero, do qual são consideradas
espécies o produtor, o montador, o criador, o construtor, o transformador, o
importador, o exportador, o distribuidor, o comercializador e o prestador de
serviços, dentre outros não arrolados, visto que não se trata de um rol taxativo.

As relações de consumeristas são complexas e exigem interação


interdisciplinar de normas de direito material e de direito processual . Mas,
apesar desta interação, quando se trata de relações de consumo, incide sobre
os casos concretos o CDC.

No que tange aos aspectos contratuais da proteção do consumidor, o CDC


rompeu com a tradição do Direito privado e surgiu com o propósito de instituir
uma mudança de mentalidade no que diz respeito às relações de consumo.
Neste sentido, Martini e Costa (2013) dizem:

O direito contratual, ao fundar-se no princípio da autonomia da


vontade, estabelece um espectro amplo de realização do
negócio jurídico a ser firmado entre as partes contratantes.
Nesta seara, o Código de Defesa do Consumidor vai além da
simples e razoável previsão da autonomia de vontades para
alcançar o status de norma especial e ensejadora da proteção
dos direitos afetos às relações de consumo para além da
razoável determinação autônoma de disposições favoráveis,
trazendo fundamentos sistêmicos de grande relevância para a
sociedade.

Partindo-se do fato de que o consumidor é a parte mais vulnerável do


contrato, o CDC visa equilibrar a relação consumerista ao estabelecer direitos
para o consumidor:

[...] Art. 1° O presente código estabelece normas de proteção e


defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos
termos dos arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição
Federal e art. 48 de suas Disposições Transitórias [...].

O CDC, em seu art. 4º, reconhece a vulnerabilidade do consumidor no


mercado de consumo, estabelecendo normas que objetivam a defesa de direitos
individuais, coletivos e difusos constitucionalmente previstos, a considerar a
harmonização de interesses sob o comando constitucional do art. 170 da
Constituição Federal de 1988, pelo qual é o direito do consumidor princípio
fundante da própria ordem jurídico-econômica e constitucional posta.

O CDC estabeleceu princípios gerais amplos, que chegam a ser aplicados


aos contratos, dispondo de um capítulo inteiro (Capítulo IV, que engloba os arts.
46 ao 54) sobre a proteção contratual. Tal abordagem visa, principalmente,
nortear a interpretação das cláusulas contratuais de maneira mais favorável ao
consumidor (art. 47 do CDC). Neste sentido, observam Martini e Costa (2013):

Ora, trata-se de uma plêiade de institutos de proteção para o


consumidor, e que por ora resgatam, evidentemente, a sua
necessária postulação no âmbito de responsabilidades na
conformação das relações de consumo juridicizáveis.
Quanto aos contratos, o CDC instituiu a boa fé como princípio basilar nas
relações de consumo e impôs ao fornecedor o dever de prestar declaração de
vontade através dos contratos.

Por se tratar de veículo de circulação de bens, o contrato possui função


social, que se resume em assegurar que as partes, mediante suas vontades,
estabeleçam suas obrigações e as cumpram efetivamente. Ao se tratar de
cumprimento, visualiza-se o princípio do “pacta sunt servanda” que significa “os
pactos devem ser obedecidos”, ou seja, estabelece que o contrato deva ser
cumprido.

[...] A concepção social do contrato apresenta-se,


modernamente, como um dos pilares da teoria contratual. Tem
por escopo promover a realização de uma justiça comutativa,
aplainando as desigualdades substanciais entre os contraentes
[...]. (Gonçalves. 2011, p. 15).

O contrato nasce do consenso, ou seja, a vontade das partes é essencial


ao contrato, visando uma relação harmônica para manter isonomia entre as
partes, dirimindo qualquer desigualdade substancial entre as partes, como
propôs Carlos Alberto Gonçalves na citação supra. Segundo César Fiuza (2004,
p. 366),

[...] os contratos são fenômeno econômico-social. Sua


importância, tanto econômica quanto social, salta os olhos. São
meio de circulação de riquezas, de distribuição de renda, geram
empregos, promovem a dignidade humana, ensinam as pessoas
a viver em sociedade, dando-lhes noção do ordenamento
jurídico em geral, ensinam as pessoas a respeitar os direitos dos
outros. Esta seria a função social dos contratos: promover o bem
estar e a dignidade dos homens, por todas as razões
econômicas e pedagógicas acima descritas [...].

Diante do exposto, é notória a importância do contrato, bem como o seu


cumprimento para fins de ordem social e garantia de direitos e deveres. Porém,
dispõe o CDC, em seu art. 46, primeira parte: "Os contratos que regulam as
relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a
oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, (…)". Este artigo
é a projeção, do direito básico do consumidor à informação adequada sobre os
produtos e serviços, em toda sua extensão (qualidade, quantidade, conteúdo,
riscos que apresentam etc.).
Para que os contratos tenham validade e produzam os efeitos expressados
neste pelas partes, se faz necessário o preenchimento de alguns requisitos que
podem ser de ordem geral ou de ordem especial. Dentre as condições de ordem
especial tem-se o acordo entre as partes; e de ordem geral, tem-se aqueles que
são comuns aos atos jurídicos em geral, tais como a capacidade dos
contratantes, objeto lícito, possível e determinado ou determinável, e a forma
prescrita ou não defesa da lei, como versa o art. 104 do Código Civil (CC) de
2002, in verbis:

[...] Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:


I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei [...].

Quanto à capacidade das partes, em regra, se permite contratar os


absolutamente capazes, os relativamente incapazes, desde que emancipados e,
os absolutamente incapazes somente “se representados por seus pais, tutor ou
curador, e, assim mesmo, dentro dos limites de poderes impostos aos
representantes legais” (FIUZA, 2004, p. 367).

Quanto ao objeto, é necessário que este seja lícito, ou seja, não atente
contra a moral social ou os bons costumes, possível e determinado ou
determinável. E quanto à forma, pode ser escrito, verbal, público, particular, em
regra livre, porém com exceções em que se faz necessária a publicação, etc.

Caso o contrato não esteja com todos os requisitos especificados, poderá


ser tornado nulo, com base no art. 166, I, II e IV do CC, in verbis:

[...] Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:


I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;
II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;
IV - não revestir a forma prescrita em lei [...].

O artigo supracitado trata de nulidade absoluta, que decorre de negócio


jurídico praticado com ofensa a legislação. Tem-se também o negócio anulável,
mas este, por sua vez não ofende preceitos de ordem pública, e sim o interesse
particular de parte protegida pelo legislador, que é o caso do consumidor, já que
tem seus interesses protegidos pelo CDC. O negócio jurídico anulável pode ser
tornado válido no caso de supressão do vício.
O fornecedor, antes de concluir o contrato de consumo, deve ter a cautela
de oferecer ao consumidor o contrato para que este tome conhecimento do seu
conteúdo e saiba quais são os deveres e direitos de ambos os contratantes, bem
como quais as sanções por eventual inadimplemento de alguma prestação a ser
assumida no contrato, conforme dizem Martini e Costa (2013):

A partir da leitura dos artigos 46 a 50 observam-se várias


medidas protetivas insculpidas pelo legislador, dentre elas a
regra sobre a qual os contratos devem oportunizar um
conhecimento amplo, por parte do consumidor, sobre as suas
condições de fruição e gozo, sejam dos direitos que dos bens;
tanto produtos como serviços ofertados, pois devem estar
claramente evidenciados pelo ofertante, mas não só
evidenciados, porquanto deve-se realmente oportunizar a
tomada de consciência por parte daquele que compra ou
contrata um serviço, para atribuir-se-lhe uma ciência prévia
quanto ao conteúdo, à origem, à adequação relacionada às
normas de controle e vigilância sanitária, bem assim à sua
compatibilidade biológica e técnica.

Ou seja, é do interesse do fornecedor dar esta oportunidade de


conhecimento prévio do contrato ao consumidor, porque o consumidor tem, a
seu favor, a possibilidade de inversão do ônus da prova.

A inversão do ônus da prova implica na transferência do ônus da prova ao


fornecedor, que deverá demonstrar que foi dada oportunidade para que o
consumidor tomasse conhecimento dos termos do contrato, se quiser ver a
questão solucionada a seu favor. Martini e Costa (2013) explicam que:

[…] as cláusulas contratuais, neste ímpeto informacional,


sempre serão interpretadas de modo mais favorável ao
consumidor, a considerar ainda que, no que tange à
judicialização dos direitos, as relações de consumo no Brasil
refletem uma realidade na qual o magistrado tem o poder-dever
de autorizar a inversão do ônus probatório sempre que
observam-se práticas ou omissões abusivas sobre as quais as
partes litigam, bem assim no caso de relações de consumo
eivadas de vício de nulidade ou anuláveis por definição legal, e
que portanto representam esferas mutuamente reflexivas do
ponto de vista da legalidade.
Cumpre salientar que, se não for dado conhecimento efetivo da cláusula ao
consumidor, não produzirá os efeitos pretendidos pelo fornecedor. Não basta,
que a cláusula exista e esteja inserida no instrumento do contrato.

Dispõe o CDC, em seu art. 46, segunda parte: "Os contratos que regulam
as relações de consumo não obrigarão os consumidores, (…) se os respectivos
instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido
e alcance”. Verifica-se que não basta o emprego de termos comuns, é preciso
que o sentido das cláusulas seja claro e de fácil compreensão. Do contrário, não
haverá exigibilidade, desonerando-se da obrigação o consumidor.

O CDC em seu artigo 47 diz que "as cláusulas contratuais serão


interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor”. Cláusulas contratuais
significa todo e qualquer pacto ou estipulação negocial entre fornecedor e
consumidor, seja pela forma escrita ou verbal, pela técnica de contrato de
adesão ou de "contrato de comum acordo".

O CDC estipula que o inadimplemento da obrigação de fazer derivada


dessas manifestações de vontade não é resolvido em perdas e danos, mas em
cumprimento forçado da obrigação.

Há o reconhecimento do direito que deriva desses escritos, e o consumidor


tem a oportunidade de pedir a execução forçada da obrigação de fazer assumida
pelo fornecedor, nos termos do art. 84 e parágrafos, in verbis:

Art. 84, CDC. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da


obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela
específica da obrigação ou determinará providências que
assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.
§ 1° A conversão da obrigação em perdas e danos somente será
admissível se por elas optar o autor ou se impossível a tutela
específica ou a obtenção do resultado prático correspondente.
§ 2° A indenização por perdas e danos se fará sem prejuízo da
multa (art. 287, do Código de Processo Civil).
§ 3° Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo
justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz
conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia,
citado o réu.
§ 4° O juiz poderá, na hipótese do § 3° ou na sentença, impor
multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se
for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando prazo
razoável para o cumprimento do preceito.
§ 5° Para a tutela específica ou para a obtenção do resultado
prático equivalente, poderá o juiz determinar as medidas
necessárias, tais como busca e apreensão, remoção de coisas
e pessoas, desfazimento de obra, impedimento de atividade
nociva, além de requisição de força policial.
O CDC consagra ao direito do consumidor arrepender-se e voltar atrás,
sem que seja necessária qualquer justificativa do motivo de sua atitude. Basta
que o contrato de consumo tenha sido concluído fora do estabelecimento
comercial para que incida o direito de arrependimento.

A lei lhe dá esse direito porque presume que o consumidor possa não ter
ficado satisfeito e ter sido apanhado de surpresa quanto à qualidade e outras
peculiaridades do produto ou serviço. No entanto, deve fazê-lo, dentro do prazo
de reflexão, fixado em 7 (sete) dias, conforme observam Martini e Costa (2013):

Neste âmbito, o consumidor pode desistir de um eventual


contrato no prazo de 7 dias a contar de sua assinatura ou do
recebimento do produto (cláusula de reflexão),
fundamentalmente em hipóteses nas quais a contratação ocorre
fora do estabelecimento comercial, em especial por telefone ou
a domicílio, devendo valores pagos antecipadamente serem
restituídos em sua integralidade e monetariamente atualizados.

Tal prazo de reflexão é contado a partir da conclusão do contrato de


consumo ou do ato de recebimento do produto ou serviço, excluindo-se o dia do
início e incluindo-se o do final. Ressaltando-se que não se inicia prazo em feriado
ou dia não útil e, se o dia do vencimento cair em dia não útil ou feriado, prorroga-
se o prazo para o primeiro dia útil seguinte.

O consumidor tem direito à devolução imediata das quantias pagas,


atualizadas, caso exerça o direito de arrependimento dentro do prazo de
reflexão. A cláusula contratual que lhe retire o direito ao reembolso das quantias
pagas é abusiva e, portanto, nula.

Por fim, o CDC deixa claro a impossibilidade de haver substituição da


garantia legal pela garantia contratual, conforme dispõe o art. 50, in verbis:

Art. 50, CDC. A garantia contratual é complementar à legal e


será conferida mediante termo escrito.
Parágrafo único. O termo de garantia ou equivalente deve ser
padronizado e esclarecer, de maneira adequada, em que
consiste a mesma garantia, bem como a forma, o prazo e o lugar
em que pode ser exercida e os ônus a cargo do consumidor,
devendo ser-lhe entregue, devidamente preenchido pelo
fornecedor, no ato do fornecimento, acompanhado de manual de
instrução, de instalação e uso do produto em linguagem didática,
com ilustrações.
O princípio da garantia legal deflui adequação, qualidade, durabilidade,
desempenho e segurança dos produtos e serviços, enquanto que a garantia
contratual é apenas um plus em favor do consumidor. A garantia legal é sempre
obrigatória, a contratual é mera faculdade.

Os termos e o prazo da garantia contratual ficam ao interesse exclusivo do


fornecedor de acordo com sua conveniência, atendendo, ao princípio da livre
iniciativa. O CDC não permite que a garantia contratual seja dada verbalmente.
Exige que venha expresso no termo o objeto da garantia, para que se possa
avaliar sua medida e extensão e maior transparência na relação com o
consumidor.

Caso a obrigação reste descumprida, a conduta em tese configura o crime


do art. 74 do Código, além de ensejar indenização por perdas e danos.

Neste sentido, oportunamente se ratifica o fato de que os direitos e


garantias fundamentais do consumidor têm seu pilar estabelecido no princípio
constitucional da isonomia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário


Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 11 de janeiro de 2002.

BRASIL, Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Institui o Código de Defesa


do Consumidor. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 12 de
setembro de 1990.

FIUZA, César. Direito Civil Curso Completo. 8. Ed. Belo Horizonte: Delrey,
2004.

GONÇALVES, Carlos Alberto. Direito das Obrigações Parte Especial


Contratos. 13. Ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

MARTINI, Elza Carolina Davi de Oliveira; COSTA, Victor Delson Martins. A


proteção contratual do Direito do Consumidor. Publicado em 11/2013.
Disponível em <http://jus.com.br/artigos/25685/a-protecao-contratual-do-direito-
do-consumidor>. Acesso em 07 out. 2015, 22:58.

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