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GESTÃO DO CONHECIMENTO E CAPITAL SOCIAL: AS

REDES E SUA IMPORTÂNCIA PARA AS EMPRESAS

Antonio Braz de Oliveira e Silva


Marta Araújo Tavares Ferreira

Resumo No entanto, a pesquisa em gestão do conhe-


O artigo destaca os principais aspectos do con- cimento, embora destaque os aspectos rela-
ceito de capital social, sua relação com as cionados à troca de conhecimento entre indiví-
redes sociais e sua importância para a criação duos e ao capital intangível, não utiliza, em
de conhecimento nas empresas. A Análise de geral, o conceito de capital social. A aproxima-
Redes Sociais (ARS) estuda as ligações rela- ção das análises de gestão do conhecimento
cionais entre atores sociais. Estes podem ser com esse conceito seria vantajosa para o a-
tanto pessoas, departamentos dentro de uma vanço da área.
organização ou empresas de uma região. Os
laços entre eles podem ser, por exemplo, ami- Palavras-Chave
zade, informações sobre produção ou o forne- Capital social, redes sociais, gestão do conhe-
cimento de bens, respectivamente. Parte-se do cimento, teoria da firma
pressuposto que, nas empresas, as ações dos
indivíduos não são autônomas, mas dependem
das relações sociais e das rotinas existentes.
Por sua vez, a ação das próprias empresas
depende de suas redes com outras empresas.
Essas redes fazem parte do capital social em-
presarial, pois mesmo o capital social dos indi-
víduos pode ser administrado em favor da or-
ganização. Observa-se um crescimento da
literatura sobre o uso da ARS na pesquisa so-
bre informação e conhecimento nas empresas.

1 INTRODUÇÃO* as ligações relacionais entre atores sociais.


Os atores na ARS, cujas ligações são ana-
A análise de redes sociais (ARS) é
lisadas, podem ser tanto pessoas, conside-
uma abordagem oriunda da sociologia, da
radas como unidades individuais, ou uni-
psicologia social e da antropologia
(FREEMAN, 1991). Tal abordagem estuda dades sociais coletivas, como, por exem-
plo, departamentos dentro de uma
*
O presente artigo é parte da pesquisa doutoral organização, agências de serviço público
realizada para estudar o cluster da construção em
em uma cidade, países de um continente
Minas Gerais (SILVA, 2007).

Inf.Inf., Londrina, v. 12, n. esp., 2007.


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uma cidade, países de um continente ou nistração e gestão. Esses autores organi-


do mundo (WASSERMAN; FAUST, 1999). zaram a revisão classificando as pesquisas
nas seguintes categorias: capital social,
A rede social é, portanto, um conjunto
‘embeddedness**, e considera que as a-
de pessoas (ou empresas, ou qualquer
ções dos indivíduos não são autônomas,
outra entidade socialmente criada) interli-
mas dependem das relações sociais, rede
gadas (conectadas) por um conjunto de
de organizações e organizações em rede,
relações sociais tais como amizade, rela-
ções de trabalho, trocas comerciais ou de integração de conselhos, aliança entre em-
presas e ‘joint ventures’, gestão do conhe-
informações.
cimento, cognição social e uma categoria
A idéia de que as relações sociais
que agrega todos as demais pesquisas,
compõem um tecido que condiciona a ação
denominada processos em grupo (group
dos indivíduos nele inseridos é do início do
processes).
século XX. A metáfora do tecido ou rede,
inicialmente usada na sociologia, para as- Na perspectiva da ciência da informa-

sociar o comportamento individual à estru- ção (CI), as ligações estudadas através da

tura à qual ele pertence, se transforma em ARS dentro das organizações são capazes

uma metodologia denominada sociometria, de identificar e analisar os fluxos de infor-

cujo instrumento de análise se apresenta mação entre os atores, o papel dos diferen-

na forma de um sociograma tes tipos de relacionamento em facilitar

(WASSERMAN; FAUST, 1999). Atualmen- esses processos e a ligação das redes in-

te, observa-se aplicações em muitas outras formais com aquelas previstas nas normas

áreas, como na saúde pública (como se das empresas.

espalham as doenças); tecnologia da in- Assim, os estudos baseados na ARS


formação (a mesma idéia para um vírus de dentro das empresas foram, em geral, rea-
computador); sociologia (os movimentos lizados com a intenção de descrever o flu-
sociais); economia (mercados e economias xos de informações e seus efeitos sobre os
de rede) e matemática aplicada (otimiza- indivíduos, departamentos (ou outro sub-
ção de algoritmos) (WATTS, 1999). conjunto da organização) e na própria em-
presa. Suas referências são os estudos
Numa revisão da literatura sobre o
baseados nas redes de comunicação entre
paradigma de redes sociais na pesquisa
organizacional, Borgatti e Foster (2003)
comprovam o crescimento do número de ** Algumas das traduções possíveis de embed para
o português são: embutir, fixar, ancorar, incrustar,
pesquisas que utilizam a metodologia de embeber. Assim, embeddedness seria enraizamen-
to ou incrustramento.
ARS em várias disciplinas ligadas à admi-
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atores para a obtenção de informações teóricos, o que, por si só, representa uma
vantajosas (BORGATTI; CROOS, 2003; imensa vantagens para os estudos organi-
BURT, 2001, 1995; GRANOVETTER, zacionais.
1973). Outras pesquisas envolvem as re-
lações de autoridade formal ou de aconse- 2 REDES E CAPITAL SOCIAL
lhamento técnico em uma organização O interesse pelos estudos sobre re-
(ALLEN, 1985; KRACKHARDT, 1987; des sociais está relacionado, também, com
KRACKHARDT; HANSON, 1993; MOLINA, o aumento dos estudos na área de econo-
2000); a análise de redes de empresas em mia e sociologia sobre a importância do
clusters geograficamente limitados (MACÍ- capital social. De acordo com Burt (2000) o
AS, 2002; SAXENIAN, 1996); o estudo de conceito de capital social está se tornando
redes de pequenas e médias empresas relevante para as áreas de administração,
(ROCHA, 2003; TOMAÉL, 2005); empre- sociologia e economia. O capital social é
endedorismo e redes familiares (LIN et al. multidimensional, o que significa que ele é
2001) e as redes entre grandes empresas capaz de incorporar vários níveis e unida-
e seus fornecedores (CARLEIAL, 2001). des de análise. Assim, os estudos e pes-
Existe uma discussão epistemológica quisas usam combinações de diferentes
em torno da análise de redes sociais. Para metodologias de pesquisa quantitativa e
muitos autores, trata-se de uma metodolo- qualitativa para sua mensuração.
gia de análise de dados relacionais que A literatura econômica reconhece di-
permite a captação de diversos fenômenos ferentes formas de capital, que em comum
sociais que se deseja estudar segundo têm a possibilidade de serem acumulados.
uma área de conhecimento específica; já Muitas formas de capital possuem, tam-
para alguns, trata-se de um novo paradig- bém, características que permitem que se-
ma de análise estrutural (DEGENNE; jam valoradas e transacionadas no merca-
FORSÉ, 1994). Para outros, é uma tentati- do, ou seja, o mercado determina o seu
va de se introduzir um nível intermediário preço e a sua disponibilidade. O capital
entre os enfoques micro e macro na análi- social é uma forma de capital não-
se da realidade social, ou entre o indivíduo mercantil. Embora sua definição seja alvo
e a estrutura, nas principais correntes da de discussão na ciência econômica e na
sociologia (MARTELETO, 2001). De qual- sociologia, algumas características pare-
quer forma, há uma linguagem comum e cem se destacar, como a não ocorrência
métodos de coleta e análise de dados que de retornos decrescentes, a apreciação
podem ser utilizados em vários modelos com o uso (não se deprecia, portanto), a
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produção coletiva a partir das relações so- riam uma parcela dos ativos do capital so-
ciais existentes nas comunidades, mas cial.
seus benefícios não podem ser antecipa- A maior parte dos estudos sobre o
damente mensurados. Embora possua ca- capital social destaca as contribuições de
racterísticas de bem público, observa-se três teóricos (DURSTON, 2002): i) James
nele um aspecto único, ou seja, a sua pro- Coleman, para quem o capital social é um
dução é, necessariamente, coletiva. recurso para o indivíduo que pertence a
O capital social gera externalidades, uma determinada estrutura, tratando-se de
mas sua análise deve transcender esse um recurso coletivo; ii) Robert Putnam que,
ponto, isto é, o capital social deve ser en- de forma semelhante, trata o capital social
tendido como um conjunto de redes e nor- como um recurso coletivo baseado nas
mas que permitem a redução dos riscos normas e redes de intercâmbio entre os
decorrentes das relações entre desconhe- indivíduos; e iii) Bourdieu (1985), que trata
cidos e, conseqüentemente, dos custos de o capital social como a soma dos recursos
transação. No entanto, sua mensuração é decorrentes da existência de uma rede de
bastante problemática e embora ele possa relações de reconhecimento mútuo institu-
ser associado ao desenvolvimento, especi- cionalizada. Os recursos são empregados
almente local, sua promoção não é trivial, pelas pessoas em uma estratégia de pro-
ou seja, como ele está incrustado nas re- gresso dentro da hierarquia social, prática
des de relações sociais, não é claro como resultante da interação entre o indivíduo e
a sua expansão ou modificação pode afe- a estrutura.
tar o bem-estar de seus componentes. Vários problemas de pesquisa são
Segundo Burt (2000), a maioria dos enfrentados, de maneira adequada, com o
trabalhos o apresenta como uma metáfora uso do conceito de capital social, mas po-
da vantagem (BOURDIEU, 1985; BURT, dem ser aprofundados com mais eficiência
1995; COLEMAN, 1990; PUTNAM, 1996), se os mecanismos de rede forem melhor
o que já era esperado devido ao estágio de entendidos (BURT, 2000). A pesquisa so-
difusão inicial do conceito. As vantagens bre o capital social, em seu núcleo, apre-
que os indivíduos teriam seriam fruto de senta uma metodologia – a análise de re-
suas habilidades individuais (capital huma- des sociais – e um problema de pesquisa
no) num contexto definido pelo capital so- fundamental relacionado ao desempenho,
cial, em termos de melhores conexões com qual seja, de permitir identificar, com o uso
outros indivíduos, sendo que estas compo- de modelos rigorosos, a razão pela qual
certas pessoas e organizações têm de-
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sempenho melhor do que as demais. As- Os dois mecanismos assumem que a


sim, o autor tenta definir as estruturas de comunicação demanda tempo e que ela vai
rede que determinam o capital social, que circular mais rapidamente dentro dos gru-
seriam baseadas no tipo de conexões exis- pos menores do que entre grupos distintos.
tentes entre os atores. Como resultado, as pessoas não es-
No entanto, conforme se observa na tão informadas de todas as oportunidades
fig.1, não há acordo em definir o que seri- existentes em todos os grupos e como sua
am as ‘melhores conexões’. Nessa figura difusão demanda tempo, alguns indivíduos
estão representadas as linhas de discus- possuem vantagens por serem informados
são dos mecanismos que definem a cria- antes dos demais. Nesse ponto, os dois
ção do capital social, mas as duas linhas mecanismos passam a ser distintos.
apresentadas à direita (fechamento e in-
termediação) são as que permitem opera-
cionalização e mensurações mais adequa-
das (BURT, 2000).

FIGURA 1 – Capital social como metáfora e estrutura de rede


Fonte: Adaptado de Burt (2000)

No caso do fechamento, as rela- densa), diminuindo-se o custo de proces-

ções dentro dos grupos são mais impor- samento da informação e o risco dela ser

tantes e todos estão conectados (rede incompleta, uma vez que, pelo fato da
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rede ser densa, há maiores possibilida- a geração de valor, enquanto o primeiro


des de se aplicar sanções aos indivíduos viabiliza a realização do valor criado. Es-
que têm um comportamento oportunista sa conjugação dos dois mecanismos é
(COLEMAN, 1990 apud BURT, 2000). um elemento importante para a compre-
ensão e o avanço no uso do conceito de
Já no outro mecanismo, de inter-
capital social (BURT, 2000, 2001). Sua
mediação, a capacidade de obtenção de
importância é evidente no estudo das
novas informações é a forma pela qual se
redes internas das organizações e das
manifesta o capital social, e os indivíduos
redes entre organizações em um cluster.
que são intermediários entre diferentes
grupos (brokers) possuem maior capital O capital social não deve ser con-
social. A criatividade e o aprendizado são fundido com o capital humano nem com
fundamentais para o surgimento de no- infra-estrutura. O capital humano engloba
vas idéias, mas são os contatos com dife- as habilidades e conhecimentos dos indi-
rentes grupos que permitem aos interme- víduos que, em conjunto com outras ca-
diários a obtenção de informações novas. racterísticas pessoais. Parte desse capi-
Porém, não se trata apenas do interme- tal está associada ao processo, formal ou
diário ser um canal de informações, mas, informal, de aprendizagem pelo qual to-
também, de ser capaz de gerar novos dos passam, mas tanto a sua aquisição
conhecimentos, isto é, analisar a quali- quanto o seu uso são processos afetos
dade da informação com respeito às ne- ao indivíduo. A infra-estrutura se refere
cessidades do grupo. Assim, outros fato- ao conjunto fundamental de instalações e
res influenciam na eficácia dos interme- meios para que a produção se realize e
diários, especialmente o seu capital hu- se distribua. O capital humano é condi-
mano. ção necessária, mas, freqüentemente,
não é suficiente para que o indivíduo te-
Em pesquisa realizada para identifi-
nha acesso amplo às informações ou
car a importância dos dois mecanismos,
outros recursos, que podem ser alcança-
Burt (2000) analisou várias característi-
dos a partir de suas redes de relações.
cas das redes pesquisadas (tipos de re-
lação, densidade, tamanho, existência de Dito de outra forma, entre indiví-
buracos estruturais, dentre outras). En- duos com o mesmo capital humano, têm
quanto o mecanismo de fechamento está melhores oportunidades aqueles com
associado à confiança, o de intermedia- maior capacidade de utilizar o seu capital
ção se relaciona com a mudança. Este social (DEGENNE; FORSÉ, 1994).
permite a obtenção de novos recursos e
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Muitas críticas foram feitas ao con- um quadro conceitual no qual a comuni-


ceito de capital social, assim como à sua dade funcionaria como uma unidade ca-
utilização indiscriminada, como se fosse paz de tomar decisões autônomas.
uma panacéia para remediar todos os Por outro lado, se é verdade que as
males da exclusão social e como se per- redes sociais dificultam o surgimento da
mitisse resolver os problemas do baixo figura do carona (free rider, aquele indivi-
nível de desenvolvimento. Esse risco do duo que se beneficia sem contribuir), difi-
conceito de capital social ser usado de cultando o oportunismo, podem, também,
forma simplista como sinônimo de tudo funcionar no sentido inverso, para excluir
que se refere aos aspectos sociais da novos participantes, impor normas que
vida, apontado, dentre outros, por Lin et prejudiquem grupos específicos dentro
al. (2001), aumenta a necessidade de se de uma comunidade (como por exemplo,
ampliarem os programas de pesquisa mulheres, praticantes de determinada
que permitam o delineamento dos pa- religião, etc.) ou atitudes com relação a
drões de distribuição dos recursos sociais outros grupos, como para impedir que
e sua influência sobre o indivíduo, a de- outras comunidades tenham acesso a
monstração robusta de que se trata de determinados serviços públicos.
capital, isto é, que gera retorno sobre os
Portanto, é importante destacar
investimentos realizados para a sua ob-
que nem toda forma de capital social é
tenção e a demonstração de causalidade
positiva e que ele pode ser usado
entre os recursos incrustados e os limites
negativamente contra aqueles que estão
da ação individual.
fora de uma determinada rede, ou pode,
De acordo com Glaeser, Laibson e ainda, gerar grupos corruptos e sistemas
Sacerdote (2002) as bases teóricas para autoritários. O capital social pode funcio-
a mensuração empírica dos impactos do nar, também, como um inibidor das inicia-
capital social são bastante claras, mas o tivas individuais, além de impor restrições
mesmo não acontece com a identificação à liberdade, dependendo das normas e
dos mecanismos associados à criação do sanções originadas a partir das relações
capital social. Parte da dificuldade é atri- culturais na comunidade.
buída ao fato de que o verdadeiro propri-
etário do capital social não é o indivíduo,
mas a comunidade, através da rede de
relações existentes. Assim, os economis-
tas, por exemplo, têm dificuldade em criar

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3 O CAPITAL SOCIAL E O ACESSO À dos fluxos de informação com base nas


INFORMAÇÃO DENTRO DAS ORGA- redes sociais implica em analisar as rela-
NIZAÇÕES ções de poder existentes, com todas as
dificuldades inerentes ao seu conceito.
Muitas pesquisas nas ciências soci-
Os conceitos de buraco estrutural e de
ais que utilizam os conceitos e a metodo-
intermediários (brokers) ou atores capa-
logia de análise de redes sociais tentam
zes de ‘saltar’ sobre eles (BURT,1995),
identificar a organização de grupos espe-
criando pontes entre diferentes grupos,
cíficos dentro de comunidades maiores, a
podem ser aplicados. Os intermediários
partir de problemas específicos associa-
têm vantagens sobre os demais atores
dos ao acesso a recursos. Conforme já
por construírem uma rede de informa-
exposto, os fluxos de informação e co-
ções que garante o acesso às oportuni-
nhecimento que circulam pelos laços e-
dades existentes, de três formas: i) con-
xistentes entre os membros da comuni-
trole sobre o acesso e o conhecimento de
dade dependem de características cultu-
quem melhor pode usar a informação; ii)
rais e políticas que regulam, também, a
uso privilegiado e antecipado em relação
participação de cada um no acesso aos
aos demais, e iii) ampliação de sua legi-
benefícios e as sanções para aqueles
timação.
que não colaboram ou participam. A po-
sição de cada indivíduo na rede depende As relações de confiança existentes
do quanto ele agrega ao capital social do na rede são fundamentais para o papel
conjunto e a margem de decisão de cada do intermediário, uma vez que, dada a
um está sujeita à distribuição de poder, à capacidade limitada de processamento
estrutura de interdependência e às ten- de informação por parte dos indivíduos
sões no interior do grupo, de forma que (racionalidade limitada), a qualidade da
as estruturas representadas nas redes informação recebida não pode ser inte-
determinam, em grande parte, a atuação gralmente verificada e, assim, sua quali-
dos indivíduos. dade depende da reputação das fontes.
Além da confiança, os intermediários de-
Em outras palavras, o capital social
vem ser capazes de identificar quem po-
está associado à localização dos atores
de fazer melhor uso da informação dis-
na rede e aos recursos sociais nela in-
ponível, sem o que não poderiam tirar
crustados, numa associação positiva,
vantagem de sua posição (BURT, 1995,
pois uma melhor localização aumenta a
2000, 2001).
possibilidade de se mobilizar os melhores
recursos. O estudo, nas organizações,
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Segundo Borgatti e Foster (2003), utilizando a metodologia de ARS, dedica


dentre os estudos sobre organizações especial atenção aos fluxos de informa-
que utilizam a ARS, a maior parte envol- ções na organização e também a sua
ve o conceito de capital social. Além dos estrutura informal.
trabalhos de Burt (1995, 2001), muitos Um dos trabalhos mais importantes
outros são citados em Borgatti e Foster sobre redes internas de empregados e-
(2003), envolvendo poder, liderança, mo- xistentes dentro das empresas é o de
bilidade, acesso a emprego, desempenho Krackhardt (1987). Numa empresa fabri-
e criatividade individuais, e empreende- cante de bens de capital de alta tecnolo-
dorismo. gia, os 21 gerentes foram consultados,
Na área sob a denominação de ges- primeiramente, sobre as suas próprias
tão de conhecimento, a aplicação do con- redes envolvendo vários tipos de relacio-
ceito de capital social para explicar o namento, tais como os de amizade e os
comportamento informacional dos geren- de aconselhamento técnico. Em seguida,
tes é utilizada, assim como nos estudos eles foram consultados sobre a sua per-
relacionados às condições internas às cepção das redes de aconselhamento
empresas para que haja a criação de no- técnico dos demais gerentes.Finalmente,
vos conhecimentos, por autores que ana- os resultados obtidos nessas duas eta-
lisam o funcionamento das redes internas pas foram comparados com a rede formal
sem, no entanto, utilizar a ARS, como definida pelo organograma da empresa.
Brown e Duguid (2001) e Davenport e A rede obtida da percepção de cada um
Prusak (1998). sobre as redes dos demais 20 gerentes
foi comparada com a rede efetiva cons-
Outros autores entendem que ainda
truída para o conjunto a partir das res-
há uma carência de estudos sobre as
postas obtidas das consultas da primeira
redes existentes nas organizações.
fase. Os resultados mostraram que al-
Grosser (1991) analisa sua a importância
guns gerentes tinham uma percepção
para a troca de informação entre pessoas
errônea de sua importância e que aque-
e, segundo ele, “[...] existe pouco reco-
les com posição mais alta na hierarquia
nhecimento de que as pessoas podem
tinham melhor percepção de suas redes
constituir o mais importante recurso de
e das dos demais. Em outro trabalho,
informação em qualquer organização”
com o objetivo mais específico de identi-
(GROSSER, 1991, p.351, tradução nos-
ficar as redes informais por trás do orga-
sa). Ele destaca a contribuição de Mintz-
nograma da empresa, Krackhardt e Han-
berg (1979), outro autor que mesmo não
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son (1993) buscaram identificar as dife- vado reconhecimento por sua competên-
rentes redes nas quais os indivíduos es- cia técnica.
tavam envolvidos em uma empresa, mos- Outra conseqüência dessa capaci-
trando que diferentes relações podem ser dade é sua promoção para postos de
estudadas em uma organização, por coordenação de equipes. Por outro lado,
meio da metodologia de ARS e os seus são, também, aqueles com melhores
resultados podem servir como suporte contatos fora de seu próprio departamen-
aos trabalhos dos seus gerentes e execu- to e da própria empresa. Assim, eles fun-
tivos. cionam como gatekeepers, trazendo in-
Em uma ampla pesquisa sobre o formações relevantes e não redundantes
comportamento informacional dos enge- para dentro da empresa. O autor destaca
nheiros em laboratórios de pesquisa e que, inicialmente, a discussão em torno
desenvolvimento (P&D), Allen (1985) das novas informações é feita dentro de
mostra a importância da superposição de grupos menores, compostos por outros
diferentes laços nas redes para que a gatekeepers ou apenas pela equipe do
busca por informações tecnológicas e projeto, antes de serem disseminadas
aconselhamento apresente maior eficá- mais amplamente (ALLEN, 1985).
cia. Para chegar a essa conclusão, ele Essa conclusão valida o esforço de
pesquisou, inicialmente, o comportamen- Burt (2000, 2001) de conciliação dos me-
to informacional dos engenheiros e suas canismos que definem o capital social:
preferências pelos vários tipos de fontes intermediação (o engenheiro gatekeeper
de informação. Uma vez constatada a tem acesso a informações fora de seu
importância das fontes pessoais, elas grupo) e fechamento (o engenheiro gate-
foram analisadas separando-se, inicial- keeper dissemina a informação, em pri-
mente, as fontes internas e externas. meiro lugar, entre os membros de um
Em seguida, as posições dos en- grupo menor, mais coeso e mais fecha-
genheiros nas duas redes foram do, com os quais tem laços mais fortes).
confrontadas de forma a se identificar Esses aspectos são relevantes para
algumas características relevantes para o a compreensão da importância do capital
aprimoramento dos sistemas de informa- social no interior das organizações. Um
ção existentes de P&D. O autor conclui possível modelo, seria, conforme, Borgat-
que os engenheiros que são mais procu- ti e Cross (2003),
rados por outros dentro dos projetos de
baseado numa revisão da litera-
pesquisa se caracterizam por terem ele- tura de redes sociais, processa-
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mento da informação e aprendi- tura, teoricamente, diminui os custos de


zagem organizacional, [...] um
modelo formal de busca de in- obtenção de informações.
formação no qual a probabilidade
de buscar informação junto a ou- As novas tecnologias de informação
tra pessoa é função: 1) do co-
e comunicação (TIC’s) e as novas meto-
nhecimento sobre o que a outra
pessoa sabe; 2) do valor atribuí- dologias de administração (qualidade
do a esse conhecimento; 3) do
ganho de tempo estimado em se total, just-in-time e organizações em re-
obter acesso a esse conhecimen- de) afetam significativamente a organiza-
to; 4) do baixo custo associado a
essa forma de busca de informa- ção das empresas em direção a estrutu-
ção. Adicionalmente é feita a hi-
pótese que as variáveis ‘conhe- ras mais flexíveis e incentivam a criação
cimento’, ‘acesso’ e ‘custos’ de- de redes de empresas (entre clientes,
terminam a relação entre proximi-
dade e busca por informação fornecedores, etc.) ou, ainda, a sua estru-
(BORGATTI; CROSS, 2003,
p.440, tradução nossa).
turação em torno de projetos ou no for-
mato misto (matricial) (MOLINA, 2000).
Na análise feita por Molina (2000),
De qualquer forma, a empresa bus-
que se baseia nas conclusões de Mintz-
ca se adaptar às novas situações e ade-
berg (1979), o organograma de uma em-
quar suas estruturas, de forma que elas
presa representa um arranjo institucional
minimizem os custos de obtenção de in-
racional e consciente da divisão do traba-
formação. As pessoas participam da rede
lho, segundo uma tradição weberiana de
formal, conforme definida pelo organo-
análise das organizações burocráticas. A
grama, mas fazem parte, também, de
sua estruturação em divisões funcionais
outras redes informais. Como assinalado
que não se superpõem, e nas quais a
no trabalho de Allen (1985), há uma su-
hierarquia e as normas de procedimento
perposição entres as redes, e, segundo
garantem um funcionamento formal e
Molina (2000), essa característica é rele-
impessoal entre seus membros, se trans-
vante para o bom funcionamento da em-
formou num padrão administrativo mun-
presa. Além disso, se a empresa partici-
dial (MOLINA, 2000).
pa de um mercado dinâmico, os organo-
Os vários níveis dentro de uma or- gramas tendem a mudar mais lentamente
ganização representam uma divisão de do que as redes informais.
trabalho ditada pela especialização e a
Dessa forma, acompanhar as redes
sua coordenação fica sob a responsabili-
informais internas passa a ser um ele-
dade dos níveis hierárquicos mais eleva-
mento relevante para os gerentes e exe-
dos, com o objetivo de conseguir níveis
cutivos. Essa conclusão reforça a obser-
adequados de produtividade. Essa estru-
vação de Allen (1985) e impõe novos de-
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safios para a definição dos sistemas in- em diferentes grupos. Eles são, também,
ternos de informação. melhor avaliados e recebem promoções
relativamente mais rápido que os demais,
A divisão social do trabalho leva à
assim como remunerações mais eleva-
especialização de pessoas e organiza-
das (BURT; HOGARTH; MICHAUD,
ções, que passam a se dedicar às suas
próprias atividades e tarefas, excluindo 2000).

outras, mesmo adjacentes. Dessa forma, Para identificar se essas caracterís-


surgem buracos na estrutura da organi- ticas dos gerentes e os benefícios asso-
zação social da produção e os grupos ciados são generalizáveis ou se estão
funcionais internos deixam de acompa- relacionadas a um conjunto de institui-
nhar outras funções e os ambientes ex- ções e à cultura de um de-terminado pa-
ternos. Com isso, os benefícios advindos ís, esses autores com-pararam empresas
da troca entre as pessoas passam a ser nos EUA e na França. Esses paises, se-
mal avaliados porque elas deixam de sa- gundo os autores, pos-suem culturas
ber o que podem oferecer para trocar, empresariais significa-tivamente distintas
desconhecendo “as múltiplas taxas de entre si (BURT; HOGARTH; MICHAUD,
retorno das relações de troca”1, conforme 2000). Os resultados mostram semelhan-
Burt, Hogarth e Michaud (2000, p.3). ças entre o comportamento dos gerentes
e as suas recompensas nas duas eco-
Por outro lado, os indivíduos conec-
nomias, isto é, os gerentes com redes
tados com outros grupos enxergam a
mais amplas, ainda que menos densas e
importância da função de coordenação
controladas, recebem melhores salários e
dos trabalhos realizados pelos diferentes
promoções mais rápidas. Dessa forma,
grupos e do conhecimento das informa-
os autores concluíram que há uma rela-
ções de que eles necessitam. Esses indi-
ção positiva entre o capital social dos
víduos são ricos em capital social, que
gerentes, medido por sua capacidade de
está associado à sua capacidade de
‘saltar’ os buracos estruturais nas redes
construir pontes sobre os buracos estru-
de informação, e seu desempenho, este
turais (devido à inexistência de conexões
medido pelo acesso a uma maior remu-
entre os grupos). Eles são denominados
neração e menor tempo decorrido entre
‘gerentes empreendedores’, atuando em
suas promoções (BURT; HOGARTH;
canais mais flexíveis e rápidos do que os
MICHAUD, 2000). Os gerentes de ambas
caminhos burocráticos e, portanto, são
mais eficientes ao atingir mais pessoas as nacionalidades possuíam redes com o
1 mesmo formato e topologia, assim como
Multiple rates of return to exchange relation.
Inf.Inf., Londrina, v. 12, n. esp., 2007.
Gestão do conhecimento e capital social: as redes ... Antonio B. de O. e Silva; Marta A. T. Ferreira

os mapas cognitivos de suas redes eram ganizações sociais e os indivíduos que


similares, e apontaram para uma caracte- as compõem são os responsáveis por
rística que pode ser universal nas empre- esses processos. Os indivíduos partici-
sas, a saber, a eficiência dos gerentes pam de várias redes sociais, algumas
associada à sua capacidade de saltar os contidas no interior das empresas, outras
buracos estruturais na obtenção de in- com pontos de interseção com indivíduos
formações relevantes (brokerage) de outras firmas, como as redes de rela-
(BURT; HOGARTH; MICHAUD, 2000). ções profissionais. Essas redes são vis-
tas como canais que facilitam os fluxos
Concluindo essa seção, segundo
de informações.
Degenne e Forsé (1994), o uso da meto-
dologia de análise de redes sociais é a Existem diferentes conceitos de fir-
abordagem mais adequada para a men- ma na teoria econômica e na administra-
suração do capital social, pelo menos no ção, e muitas abordagens destacam as
nível micro (no interior das firmas) e me- suas competências, a criação de conhe-
so (entre as firmas). cimentos e a capacidade de inovação. As
iniciativas gerenciais que visam facilitar o
4 A FIRMA E A GESTÃO DO CONHE- aprendizado e a inovação podem ser a-
CIMENTO nalisadas com as ferramentas agrupadas
sob um grande guarda-chuva denomina-
O objetivo desta seção é analisar a
firma2, destacando o seu papel como u- do ‘gestão do conhecimento’. Essas téc-
nicas de gestão valorizam os aspectos
nidade que processa informações e pro-
duz conhecimentos. Essa apresentação é sociais da organização, sem perder de
vista a tecnologia. Além disso, permitem
importante uma vez que a literatura sobre
Gestão do Conhecimento não discute a a administração do capital social das em-
presas, composto, em grande medida,
teoria da firma. Para cumprir suas fun-
ções, as firmas se organizam em estrutu- pelas redes sociais de seus empregados.
Ainda assim, na literatura de referência
ras que visam diminuir os custos de obter
e trocar informações. São, também, or- mais usada no Brasil sobre Gestão do
Conhecimento, pouco se utiliza a análise
2
Muitas vezes, os termos ‘firma’ e ‘organização’
e, em menor grau, ‘empresa’, são usados, em de redes sociais (ARS).
várias ocasiões, como sinônimos. As firmas são
organizações com uma hierarquia, divisão do Ronald Coase, ao tratar das institui-
trabalho e uma estrutura de gerência executiva
que planeja e decide sobre as questões que afe- ções em sua aula magna que ocorreu
tam o seu desenvolvimento (KERSTENETZKY,
1995). Essa mesma forma de emprego dos ter- durante a cerimônia de entrega do Prê-
mos como substitutos pode ser observada, por mio Nobel de Economia, destacou que os
exemplo, em Williamson (1995).
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economistas tratam as firmas como ‘cai- um ator passivo, que toma a tecnologia,
xas-pretas’, por não se interessarem pela os preços dos fatores e a capacidade
sua estrutura interna de funcionamento, organizacional como dados. Aspectos
mas apenas pelos mercados, pelas com- organizacionais ou de relacionamento
pras dos fatores de produção e pela ven- com clientes e fornecedores são ignora-
da dos bens produzidos com o uso des- dos. A natureza da firma com respeito às
ses fatores: suas decisões de produção e de investi-

isso é extraordinário uma vez que mento, bem como aspectos de organiza-
a maior parte dos recursos em ção interna, tais como a estrutura hierár-
um sistema econômico moderno
são empregados pelas firmas, e quica e os processos de controle, por
como esses recursos são usados
exemplo, são irrelevantes e, portanto,
depende de decisões administra-
tivas e não, diretamente, das o- ignorados (FEIJÓ; VALENTE, 2004).
perações de um mercado. Con-
seqüentemente, a eficiência do Nessa teoria, o sistema de preços
sistema econômico depende, de
uma maneira bastante considerá- da economia funcionaria como um siste-
vel, de como essa organização
conduz os seus negócios, em
ma de informações totalmente adequado
particular as grandes empresas a um regime no qual as firmas e os con-
modernas (COASE, 1991, [s.p.]).
sumidores têm amplo conhecimento das

Numa economia capitalista moder- variáveis relevantes para processar suas

na, a maior parte da produção de rique- escolhas.

zas é feita pelas empresas. A teoria que Mudanças ocorridas na teoria da


se ocupa da produção, na literatura eco- firma usada na economia buscaram in-
nômica, é denominada ’teoria da firma’, troduzir aspectos de comportamento
embora englobe abordagens teóricas mais próximos daqueles verificados na
bastante diferentes, uma vez que não se realidade, destacando-se os processos
produziu uma definição clara e ampla- de tomada de decisão e incorporando
mente aceita da firma (KERSTENETZKY, outros objetivos, além da maximização
1995). do lucro, nos procedimentos de análise.

Na teoria neoclássica, a firma é tra- Nessas abordagens, as firmas são


tada de uma forma mais ou menos abs- descritas a partir de suas atribuições bá-
trata e seria, apenas, o local que reúne sicas de produção e das rotinas a ela
fatores de produção (capital e trabalho) associadas. Suas relações com outras
que se combinam de acordo com a tec- firmas são reguladas por contratos, o que
nologia disponível e de conhecimento levou ao questionamento, por parte de
comum, comportando-se, assim, como alguns economistas, dos mecanismos de
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mercado e dos sistemas de preços como rárquica, na qual a alocação de recursos


suficientes para coordenar a produção de é resultado de decisões administrativas:
bens e serviços. os empresários, ao decidir sobre
a condução dos negócios e sobre
Esse questionamento tomou a for- o que produzir, levam em conta
ma de uma questão simples, qual seja, os custos de transação. Se os
custos superam os ganhos […]
por que as firmas existem, e foi a respos- não haverá produção. Dessa
forma, os custos de transação a-
ta a essa pergunta que, justamente, le- fetam não apenas os arranjos
vou Ronald Coase ao reconhecimento contratuais, mas também quais
bens e serviços serão produzidos
pela Academia Real de Ciências da Sué- (COASE, 1991, [s.p.], tradução
nossa).
cia. Segundo Granovetter (1994), ao se
fazer essa simples e inócua questão, que
Dessa forma, Coase (1937) traz
pode ter ocorrido a outros, mas não havia
uma nova abordagem sobre a firma que
sido objeto de uma investigação sistemá-
possibilita o surgimento de um programa
tica, Coase iniciou uma revolução silen-
de pesquisa distinto do programa neo-
ciosa:
clássico. De maneira simplificada, os cus-
Em sua resposta, agora famosa, tos de se obter informações e controlar
e grandemente elaborada por O-
liver Williamson numa série de os contratos são minimizados no interior
trabalhos que divulgaram o seu das firmas.
programa de pesquisas sobre
mercados e hierarquias, as firmas
As escolhas entre produzir interna-
existem em função da presença
de custos de transação e pelo mente ou comprar no mercado seriam
sistema de preços não pode pro-
ver toda a informação necessária feitas no interior de uma estrutura hierár-
requerida pelos pequenos produ- quica, com os gerentes respondendo às
tores isolados em cada transação
que necessitem realizar no mer- forças do mercado e balanceando cons-
cado (GRANOVETTER, 1994,
p.453, tradução nossa). tantemente o custo de usar o mercado
com o custo da organização interna. Os
Em outras palavras, existem custos
limites da firma passam a ser dados pela
associados ao uso dos mecanismos de
escolha entre quais atividades devem ou
preços, tais como obter informações, es-
não ser realizadas internamente, ou seja,
crever e controlar contratos, acompanhar
entre ‘fazer ou comprar’ (FEIJÓ;
as transações no mercado, etc. Assim,
VALENTE, 2004; KERSTENETZKY,
como alternativa ao sistema de preços
1995).
como mecanismo de coordenação, a fir-
De acordo com Pavitt (2001), Edith
ma se coloca como uma instituição hie-
Penrose foi um dos poucos eminentes

Inf.Inf., Londrina, v. 12, n. esp., 2007.


Gestão do conhecimento e capital social: as redes ... Antonio B. de O. e Silva; Marta A. T. Ferreira

economistas do século XX a considerar quanto o conhecimento gerado interna-


que aquilo que acontece dentro das fir- mente na empresa for importante para a
mas é importante para a economia, de- sua competitividade, ele irá crescer, mas,
senvolvendo uma abordagem inovadora como conseqüência, as empresas serão
e extremamente importante sobre o tema cada vez menos auto-suficientes, mais
(PAVITT, 2001). Para Kerstenetzky dependentes de fontes externas de co-
(1995, p.120), o trabalho de Penrose po- nhecimento e passarão por mais dificul-
de ser visto como ”a base sobre a qual se dades para se organizarem internamente.
assenta boa parte dos esforços contem- Penrose foi a primeira autora a con-
porâneos de constituição de um para- ceber uma análise da firma centrada em
digma alternativo para a teoria da firma”. suas capacidades (organizational capabi-
Segundo Penrose (1959), a firma só lities), ou seja, a firma é tanto uma orga-
pode ser definida em função do que ela nização administrativa quanto uma cole-
faz ou do que é feito nela, mas cada ana- ção de recursos produtivos. Em sua aná-
lista pode escolher uma ou mais caracte- lise, a autora distingue recursos e servi-
rísticas e definir a firma segundo seus ços dos recursos. Recursos podem ser
interesses de pesquisa. Para a autora, a definidos independentemente do seu uso,
função econômica básica da firma é for- enquanto os serviços providos pelos re-
necer os bens e serviços demandados, cursos não podem.
com a utilização de recursos produtivos Portanto, inputs não são simples-
de acordo com os planos desenvolvidos mente fatores de produção. Eles são
em seu interior. Portanto, a firma planeja, serviços de fatores para a firma, de forma
e suas diferentes atividades internas e os que as características produtivas destes
departamentos são coordenados pela serviços são determinadas pelo contexto
existência de uma política desenhada ao organizacional no qual são usados, isto
se pensar a firma como um todo, isto é, é, eles são específicos para cada firma
segundo a estratégia definida para o (FEIJÓ; VALENTE, 2004).
negócio (PENROSE, 1959).
A firma é uma organização e os re-
Penrose (1959) considera útil o cursos que ela administra, inclusive os
conceito de rotinas organizacionais e re- gerenciais, são os fatores que impulsio-
conhece que muito do conhecimento fun- nam o seu crescimento, mas este é limi-
damental para a diversificação e cresci- tado pelo tempo e pela capacidade de se
mento da firma existe em sua forma táci- adquirir novos conhecimentos. Os recur-
ta e é aprendido pela experiência. En- sos gerenciais são específicos e neles
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estão depositados os conhecimentos e a seu interior, ou em outras palavras, sob


experiência da firma (KERSTENETZKY, controle de suas equipes.
1995). Penrose (1959) introduz o concei- Sendo assim, destaca-se um tercei-
to de equipe de trabalho (teamwork), des-
ro elemento associado ao conhecimento
tacando a importância do conhecimento tácito dos membros da equipe e ao a-
tácito, da confiança e das redes prendizado organizacional. Segundo es-
(PENROSE, 1959). sa autora, o conceito de conhecimento
Para se reduzir a incerteza sobre o experimental é central, pois ela argumen-
desenrolar futuro dos acontecimentos é ta que todo gerente tem qualificações
preciso obter mais informações sobre os práticas e conhecimentos técnicos que
fatos relevantes, e uma das tarefas mais não são facilmente codificados. A teoria
importantes da firma, num mundo de in- da firma de Penrose é, portanto, uma
certezas, é obter o maior volume possível ‘teoria da firma que aprende’ (learning
dessas informações. Para obtê-las, são theory of the firm), visto que, na sua con-
necessários maiores recursos, enquanto cepção, não só produtos e serviços são
que para interpretá-las, são necessários produzidos, mas também conhecimentos
‘serviços gerenciais’ (‘services of existing (FEIJÓ; VALENTE, 2004).
managemet’). A combinação dos recur-
No interior de cada firma, cada indi-
sos com a capacidade de interpretação víduo tem apenas uma parcela do co-
foi denominada, pela autora, de ‘pesquisa nhecimento a ser utilizado na solução de
gerencial’ (‘managerial research’)
um problema, mas a equipe detém o co-
(PENROSE, 1959). nhecimento completo necessário para a
A concepção da firma de Penrose tarefa. O aprendizado resultante da solu-
adianta uma série de atributos que, atu- ção do problema afeta as competências
almente, são amplamente destacados na individuais de maneira dependente da
literatura sobre gestão. Sem ordem de composição da equipe, ou seja, da divi-
importância, pode-se mencionar, em pri- são interna do trabalho e dos processos
meiro lugar, a necessidade de se pensar internos à equipe. As competências or-
que a firma pressupõe o trabalho em e- ganizacionais seriam o resultado desses
quipe (teamwork), que demanda tempo processos internos, combinadas com a
para ser constituída e para ser, progres- aprendizagem decorrente da divisão do
sivamente, incrementada. Em segundo trabalho entre firmas, isto é, das redes
lugar, o crescimento da firma está asso- nas quais cada uma está envolvida
ciado à acumulação de conhecimento em (RICHARDSON, 1972).
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A teoria evolucionária da firma, que de considerar que todas as tarefas de


tem no trabalho de Nelson e Winter decisão sejam rotineiras. Os processos
(1982) um marco, busca analisar as res- de tomada de decisão da alta administra-
postas das firmas e da indústria às mu- ção estão longe de serem rotineiros, mas
danças no seu ambiente, em função de o que é regular e previsível pode ser
alterações no seu próprio mercado, do classificado sob essa denominação.
crescimento econômico e da introdução A firma usa as mesmas rotinas até
de inovações. Segundo os autores, as que se tenha algum motivo para alterá-
firmas são tratadas a partir de suas ca- las. Elas podem, por exemplo, fornecer
pacidades e seu comportamento anterior, resultados insatisfatórios. Nesse caso,
mas o conjunto de regras de decisão, uma outra área da empresa pode possuir
tomado como referência na análise, não rotinas para identificar essas anomalias.
pertence à teoria econômica neoclássica Alternativamente, a firma pode, de tem-
(NELSON; WINTER, 1982). Na verdade, pos em tempos, se engajar na análise de
essas regras são os padrões de compor- suas rotinas com a intenção de melhoria,
tamento normais e previsíveis ou, em revisão ou mesmo alteração radical.
outras palavras, ‘rotinas’.
Nesse caso, normalmente se recor-
Ao destacarem o papel das rotinas, re à figura de um consultor externo, já
os autores reconhecem que elas apon- que as rotinas existentes estão incrusta-
tam para um possível comportamento das (embedded) nos empregados, o que
(ou, ao menos, indicam a capacidade de dificulta sua avaliação pelos envolvidos
se adotar esse comportamento), mas não diretamente na execução (NELSON;
de forma determinista, uma vez que exis- WINTER, 1982).
tem as influências do ambiente. As roti-
As rotinas da firma são, em grande
nas podem ser transmitidas, indicando
medida, parte do conhecimento tácito de
que o comportamento de amanhã é de-
seus membros, “não sendo transferível
terminado pelas rotinas correntes e que
por meios formais e compondo o caráter
elas podem ser usadas na reprodução
idiossincrático da atividade empresarial”
dos processos em uma outra planta in-
(KERSTENETZKY, 1995, p.61). O co-
dustrial, por exemplo.
nhecimento das rotinas é fundamental
As firmas e suas rotinas são, tam- para o funcionamento da firma, pois uma
bém, alvo de seleção, já que umas exe- grande parte do conhecimento para o
cutam melhor que outras as suas funções desempenho do negócio não se encontra
(NELSON; WINTER, 1982). Não se trata registrado em manuais, documentos ou,
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ainda, no desempenho das máquinas e desenvolvimento implica em analisá-las


equipamentos. como unidades autônomas de decisão,
isto é, com o poder de fazer escolhas e
Essas características indicam a im-
definir comportamentos ad hoc frente ao
portância desse tipo de análise econômi-
seu ambiente.
ca na análise da firma do ponto de vista
dos seus processos de gestão. Como As firmas tornam-se organizações
parte do conhecimento sobre o funcio- idiossincráticas, que enfrentam desafios
namento do negócio é tácito e reside nas diferenciados e tomam decisões com ba-
mentes dos seus empregados e nas roti- se em conhecimentos próprios e modos
nas da firma, todas as políticas de arma- de agir específicos (FEIJÓ; VALENTE,
zenamento e recuperação da informação 2004). Elas desenvolvem suas funções
e do conhecimento envolvem a compre- de produção pela combinação de fatores
ensão de como os agentes econômicos de forma eficiente, geram e acumulam
selecionam e acumulam os conhecimen- conhecimentos, além de estabelecer la-
tos úteis à sua atividade produtiva. Ao ços com outras firmas, e suas interações
mesmo tempo, não é um processo ape- originam novas estruturas institucionais
nas individual, mas, principalmente, soci- (KERSTENETZKY, 1995).
al. Os indivíduos têm capacidade de co- Autores da economia, ao escreve-
nhecer apenas uma parcela daquilo que rem sobre a firma, também influenciaram
é necessário para os negócios da firma, as disciplinas da administração e a litera-
pois eles possuem racionalidade limitada. tura produzida foi classificada, não sem
Alterações no ambiente afetam o alguma arbitrariedade, em gerencial (ma-
funcionamento das rotinas e sub-rotinas nagerial) ou comportamental (behavioral).
da firma, e sua adaptação à nova situa- Elas têm como ponto de partida
ção depende de rotinas de resolução de comum a recusa do princípio da
problemas desenvolvidas internamente maximização dos lucros como norma
ao longo de sua trajetória e relacionadas absoluta de decisão da firma. Na primeira
a procedimentos que lograram êxito no linha destaca-se Baumol (1959) e, na
passado. segunda, o expoente maior é Simon
Essas abordagens introduzem ele- (1957), com seu princípio da
mentos de realidade e de complexidade racionalidade humana limitada. Ambas
na análise da firma, diferentemente da destacam aspectos e variáveis que
tradição da economia neoclássica. A devem ser tomados como relevantes nos
compreensão da sua importância para o processos de decisão em uma
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organização complexa como uma grande De acordo com Hansen et al.


empresa, que opera sob incerteza e num (1999), a gestão do conhecimento (GC) e
mercado imperfeito (FEIJÓ; VALENTE, as denominações correlatas não são no-
2004). vidade em termos práticos, nem mesmo
do ponto de vista do deslocamento do
Pode-se observar que o acesso à
foco da análise do sucesso da empresa,
informação e seu processamento são
de fatores naturais e tangíveis para os
elementos fundamentais nas teorias da
ativos intelectuais, intangíveis em sua
firma apresentadas, assim como as ques-
grande maioria.
tões relacionadas às suas competências.
As disciplinas da administração foram No entanto, segundo os autores, foi
afetadas por essas teorias, mas a popu- a consolidação do paradigma da microe-
larização da preocupação com a informa- letrônica, a partir de 1990, que estabele-
ção e sua importância na sobrevivência ceu as práticas conscientes de GC, for-
das organizações está relacionada com o temente apoiadas nas tecnologias de
novo paradigma tecnológico baseado nas informação e comunicação (TIC’s). Essas
tecnologias de informação e comunica- tecnologias tornaram possível a codifica-
ção (TIC’s). ção, o tratamento, a armazenagem, a
recuperação e o compartilhamento da
No final do século XX, ocorreu o
informação de forma mais fácil e barata
que foi, por muitos autores, denominado
do que em qualquer período anterior da
de terceira Revolução Industrial, baseada
história (HANSEN et al, 1999).
na microeletrônica (FREEMAN; LOUÇÃ,
2001; FREEMAN; SOETE, 1997). O efei- Conforme apresentado acima, o co-
to das TIC’s sobre as organizações foi nhecimento da empresa reside nos indi-
bastante intenso nos últimos 30 ou 40 víduos e nas rotinas estabelecidas. De-
anos do século passado. preende-se daí que os sistemas de in-
formação e comunicação são apenas
Entretanto, foi a partir da década de
parcialmente formais, isto é, baseados
1990 que se observou uma mudança no
em dispositivos, aplicativos e normas
comportamento de executivos e gerentes
formais. Eles possuem uma parcela ba-
de empresas, bem como na reflexão de
seada na comunicação implícita para o
pesquisadores e professores das áreas
desempenho das rotinas e dos indiví-
ligadas principalmente à administração,
duos.
economia, tecnologia e ciência da infor-
mação, dando origem ao que se batizou Embora o conhecimento organiza-
como gestão do conhecimento. cional esteja armazenado nos dispositi-
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Gestão do conhecimento e capital social: as redes ... Antonio B. de O. e Silva; Marta A. T. Ferreira

vos formais, muitos autores terminam por estimular o aprendizado, o compartilha-


enfatizar apenas os aspectos ligados ao mento e o registro do conhecimento e
conhecimento dos membros da organiza- “uma vez codificado o conhecimento, es-
ção, o conhecimento tácito, como, por te se torna informação em potencial, pas-
exemplo, Nonaka e Takeushi (1998), que sível, esta sim, de ser gerenciada”
afirmam ser esse o tipo de conhecimento (CIANCONI, 2003, p.16).
mais importante. A GC é uma forma de ir além da
Em geral, os autores mais citados mera gestão da “informação formal, re-
na área de GC (CHOO, 1998; gistrada, passando ao mundo mais difuso
DAVENPORT; PRUSAK, 1998; HANSEN dos ativos intangíveis, aos canais infor-
et al., 1999; NONAKA; TAKEUCHI, 1998) mais de comunicação e ao chamado ca-
defendem a tese de que a gestão do co- pital intelectual” (CIANCONI, 2003, p.90).
nhecimento está ligada, de forma indis- As ações de GC devem facilitar o apren-
sociável, à gestão de pessoas e que o dizado, lidando com os aspectos huma-
uso das TIC’s e das práticas gerenciais é nos das organizações e o conhecimento
relevante para a criação de um ambiente tácito dos indivíduos, o que representa
adequado ao compartilhamento da infor- avanço em relação à gestão da informa-
mação e do conhecimento. Para esses ção. A autora constata que a GC é, além
autores, a importância das rotinas e das de uma metáfora, um guarda-chuva que
redes internas como canais de informa- abriga inúmeras práticas voltadas para a
ção e de conhecimento é menor e fica gestão da informação, da comunicação e
subordinada aos aspectos cognitivos dos das tecnologias de informação.
indivíduos. As ferramentas de GC, relativamen-
Observa-se essa percepção em au- te pouco utilizadas, são aquelas voltadas
tores que estudam o tema no Brasil para facilitar o contato entre as pessoas e
(CIANCONI, 2003; NEHMY, 2000). Por o compartilhamento do conhecimento. “O
exemplo, Cianconi (2003) chama a aten- discernimento e entendimento das duas
ção que o termo ‘Gestão do Conhecimen- entidades (informação e conhecimento) é
to’, embora seja amplamente empregado, fundamental para os resultados positivos
é inadequado e deve ser encarado como dos programas de Gestão do
uma metáfora, “uma vez que o conheci- Conhecimento” (CIANCONI, 2003,
mento é inerente ao ser humano e não se p.252).
As conclusões da autora confirmam
transfere diretamente” (CIANCONI, 2003, a observação apresentada acima, ou se-
p.16). As técnicas de GC servem para ja, que as discussões sobre GC atribuem
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Gestão do conhecimento e capital social: as redes ... Antonio B. de O. e Silva; Marta A. T. Ferreira

uma importância maior ao conhecimento mas” (TOMAÉL, 2005, p.103) e que “em
tácito em relação ao conhecimento expli- um ambiente de rede, criar e compartilhar
citado e demais aspectos da organiza- conhecimento tácito requer a adoção de
ção, como suas rotinas e outras formas técnicas de trabalho em colaboração e o
de capital. A introdução do conceito de estabelecimento de relacionamentos e de
capital social e, de forma associada, do confiança entre os atores” (TOMAÉL,
conceito de redes sociais, que lhe forne- 2005, p.107).
ce a infra-estrutura de sustentação, per- Dessa forma, as redes são compo-
mite ampliar a compreensão das práticas nentes chaves para o sucesso das práti-
de GC e de sua importância para o de- cas de gestão do conhecimento (GC),
senvolvimento das competências da fir- sendo os elementos constituintes do ca-
ma. pital social.

Conforme apresentado anteriormen-


5 A GESTÃO DO CONHECIMENTO E
te, dentre os estudos organizacionais que
O CAPITAL SOCIAL: AS REDES E SUA
utilizam a ARS, a área que vem revelan-
IMPORTÂNCIA PARA AS ORGANIZA-
do maior produção trabalha com o con-
ÇÕES
ceito de capital social (BORGATTI;
Os modelos de Choo (1998) e No-
FOSTER, 2003).
naka e Takeushi (1998), da mesma forma
Segundo esses autores, nas pes-
que o de Dixon (2000), enfatizam a im-
quisas sobre GC observa-se, crescente-
portância dos laços interpessoais para a
mente, a aplicação do conceito de capital
criação do conhecimento. Todavia, eles
social para explicar o comportamento
não destacam a importância das redes
informacional dos gerentes, inclusive por
sociais existentes no interior das organi-
autores que analisam o funcionamento
zações. A análise de redes sociais (ARS)
das redes internas sem utilizar a metodo-
é uma metodologia usada para se estu-
logia de ARS (BROWN; DUGUID, 2001;
dar a troca de recursos entre atores,
DAVENPORT; PRUSAK, 1998)3.
sendo a informação um dos recursos es-
Segundo Tsai e Ghoshal (1998), o
tudados (HAYTHORNTHWAITE, 1996).
uso do conceito de capital social nas em-
A ARS vem sendo aplicada nos
presas se relaciona à existência de re-
ambientes de negócios, uma vez que “as
pessoas, em organizações, contam com 3
A ciência da informação se ocupa, há bastante
tempo, de diversos aspectos das estruturas soci-
a sua rede de relacionamento para en- ais de conhecimento sem usar o conceito de capi-
contrar informações e resolver proble- tal social (WIDÉN-WULFF; GINMAN, 2004, p.
456).
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cursos incrustados nos relacionamentos ação de valor no desenvolvimento de


pessoais que podem ser usados em pro- novos produtos, ou seja, na inovação.
veito dos indivíduos e das organizações. As três dimensões do capital social
Esses autores estudaram como o capital de Tsai e Ghosal podem ser aproximadas
social contribui para a criação de valor na da união dos conceitos de conhecimento
firma, na forma de inovações. Para tal, cultural (CHOO, 1998) e de ambiente de
eles identificaram três dimensões do ca- criação de conhecimento (NONAKA;
pital social: estrutural, relacional e cogni- KONNO, 1998). Cabe também destacar
tiva (também denominada de dimensão que os laços estudados são interpesso-
de conteúdo ou de comunicação). ais, mas, também, interdepartamentais, e
O capital estrutural permite que o as relações entre essas entidades (pes-
indivíduo obtenha vantagens, pois inclui a soas e departamentos) na criação do co-
interação social e a posição do ator na nhecimento são identificadas com a di-
rede e seus contatos permitem que ele mensão ontológica da criação do conhe-
obtenha informações vantajosas (vanta- cimento no modelo de Nonaka e Takeu-
gem no acesso a recursos). Já o capital shi (1998).
relacional se refere a ativos que estão re- Os resultados obtidos confirmam o
sidentes nas relações, como a confiança. argumento de que o capital social facilita
Por fim, a dimensão cognitiva se re- a criação de valor nas organizações, e
laciona com o compartilhamento de códi- estão de acordo, segundo Tsai e Ghoshal
gos, modelos e paradigmas que facilitam (1998), com outras pesquisas que evi-
a compreensão dos objetivos da coletivi- denciam que as organizações podem
dade e das normas para atuar naquela obter vantagens do compartilhamento de
sociedade. Essa compreensão comum é recursos entre as suas unidades de ne-
apropriada pela coletividade como um gócio.
recurso (TSAI; GHOSHAL, 1998). A análise sugere, ainda, que o in-
Em sua pesquisa, Tsai e Ghoshal vestimento em capital social dentro das
(1998) analisam a relação entre unidades organizações ajuda na criação de valor.
de negócios de uma empresa, destacan- Os investimentos em técnicas de gestão
do como as três dimensões interagem e infra-estrutura têm retorno, pois as re-
entre si, como influenciam a combinação lações sociais informais e os acordos
e troca de recursos entre as unidades e tácitos encorajam a troca e a combinação
como esses processos influenciam a cri- de recursos. Porém, como as unidades
de negócios possuem diferentes recursos
Inf.Inf., Londrina, v. 12, n. esp., 2007.
Gestão do conhecimento e capital social: as redes ... Antonio B. de O. e Silva; Marta A. T. Ferreira

e são, de fato, seus detentores, ampliar o artefatos (TIC’s) representam uma parte
alcance e o escopo dos laços entre os essencial do processo (ANKLAN, 2002).
departamentos seria mais significativo As TIC’s permitem, também, a su-
para os resultados das organizações, do peração parcial das barreiras à comuni-
que aumentar os laços interpessoais cação entre as pessoas, com o desen-
(TSAI; GHOSHAL, 1998). volvimento de ferramentas de suporte
Anklan (2002) analisa a importância (páginas amarelas, divulgação das me-
da GC para o compartilhamento do co- lhores práticas, intranets, etc.). As raízes
nhecimento tácito e o uso de tecnologias dessas ferramentas são as tecnologias
para facilitar o ambiente de redes e o de- de suporte para a integração de grupos
senvolvimento do capital social. Ele as- (groupware e group decision technologi-
sociou o desenvolvimento da GC à am- es) que permitem a criação e ampliação
pliação da aplicação das tecnologias de das comunidades de prática, de aprendi-
informação e comunicação (TIC’s) na zado, de interesses e de objetivos
gestão dos recursos informacionais das (ANKLAN, 2002).
empresas. Anklan (2002) define o capital social
O uso das TIC’s amplia, exponenci- como o “estoque de relações, contexto,
almente, o acesso ao conhecimento ex- confiança e normas que permitem o
plícito armazenado, que pode ser repre- comportamento adequado para o com-
sentado, quando necessário, por alguns partilhamento do conhecimento”
‘artefatos’: relatórios, estudos de caso, (ANKLAN, 2002, p.9-10, tradução nossa).
projetos e planos, metodologias, informa- Em conjunto com outras formas não-
ções dos clientes, dentre outros. Os arte- tangíveis de capital (estrutural, dos clien-
fatos são os elementos-chave do lado tes) e o capital humano, formam o capital
‘real’ da GC em uma empresa e as tecno- intelectual da organização (fig. 2).
logias de acesso e manipulação desses

Inf.Inf., Londrina, v. 12, n. esp., 2007.


Gestão do conhecimento e capital social: as redes ... Antonio B. de O. e Silva; Marta A. T. Ferreira

Figura 2 – Componentes do Capital Intelectual.


Fonte: Adaptado de Anklan (2002).

um ambiente adequado ao compartilha-


Segundo Widén-Wulff e Ginman
mento do conhecimento seja criado; 3) in-
(2004), poucas pesquisas relacionam o
dividual, que se relaciona com a abertura a
comportamento informacional e o capital
novas idéias, que se relaciona com o fato
social, embora outras, que ligam os aspec-
do conhecimento tácito residir na mente
tos sociais dos indivíduos aos seus com-
dos empregados e deve ser gerenciado
portamentos informacionais, sejam fre-
com o uso de uma abordagem cognitiva; 4)
quentes. A maioria das pesquisas, portan-
social, que implica no desenvolvimento de
to, se preocupa com o comportamento do
uma comunidade que compartilhe o co-
indivíduo, com pouca ênfase nas dimen-
nhecimento. Os indivíduos têm parte de
sões sociais que afetam o comportamento
sua força extraída de suas redes, de acor-
informacional e o compartilhamento do co-
do com o paradigma do capital social.
nhecimento.
As dimensões de números 2 e 3 se
Segundo Widén-Wulff e Ginman
relacionam com a cultura informacional da
(2004), essa preocupação surge como um
organização, enquanto a de número 4 re-
desafio para a GC, que pode ser decom-
posto em quatro dimensões: 1) técnica, na presenta o maior desafio para a GC.4

qual: as TIC’s inspiram a visão de uma Segundo Widén-Wulff e Ginman


gestão efetiva da informação e do conhe- (2004), o comportamento informacional nas
cimento, mas não garantem que a visão se redes sociais pode ser associado ao traba-
transforme em ação; 2) gerencial, na qual a
4
necessidade de se realizar ações para que De acordo com Widén-Wulff e Ginman (2004, p.
449), o desafio está posto para a ciência da infor-
mação (CI), isto é, deve-se buscar entender como o
compartilhamento do conhecimento se relaciona
com o capital social.
Inf.Inf., Londrina, v. 12, n. esp., 2007.
Gestão do conhecimento e capital social: as redes ... Antonio B. de O. e Silva; Marta A. T. Ferreira

lho de Choo (1998), mesmo que esse autor gem que permitem a comunicação de sua
não utilize esse conceito. O capital humano realidade (WIDÉN-WULFF; GINMAN,
é a base do conhecimento dos indivíduos, 2004). O papel da tecnologia como suporte
mas o conhecimento necessita de uma à gestão do capital social é, também, trata-
dimensão social para ser compartilhado. do por Huysman e Wulf (2006) e por Da-
venport e Snyder (2005). Ambos os traba-
Para Widén-Wulff e Ginman (2004),
lhos destacam o papel das TIC’s como fer-
as empresas são capazes de mapear de-
ramentas de suporte ao compartilhamento
safios e oportunidades e os processos de
do conhecimento nas organizações, que
decisão são baseados na responsabilidade
permitem que seu capital social se torne
coletiva e na perspectiva global, definidas
visível de uma forma que não era possível
pelos altos executivos e compartilhadas
antes de sua existência.
por seus integrantes: “O compartilhamento
do conhecimento é uma atividade com As TIC’s afetam os processos de co-
múltiplas dimensões e engloba habilidades ordenação e integração, pois atingem, in-
cognitivas e de comunicação em um de- clusive, os limites da firma. Essas tecnolo-
terminado contexto” (WIDÉN-WULFF; gias afetam os custos de transação e as
GINMAN, 2004, p.453, tradução nossa). práticas de externalização do conhecimen-
Para o sucesso das empresas, o seu pro- to, mudando as configurações das redes
cesso de comunicação deve se tornar uma internas (de indivíduos e outras estruturas,
competência fundamental (TEECE, 2005). como departamentos) e externas (entre
organizações) (FORSAY, 2000;
Segundo Widén-Wulff e Ginman, ob-
WILLIAMSON, 1995). Em outras palavras,
serva-se certa ‘frouxidão’ (no sentido de
as TIC’s afetam o valor do capital social.
pouca tensão ou pouca rigidez) organiza-
cional nas empresas que compartilham Citando pesquisas na área, Bender
conhecimento, resultado que vai ao encon- (2004) aponta que as TIC’s afetam tanto as
tro do conceito de capital social apresenta- transações internas quantos as externas às
do por Burt (2000, 2001). firmas. Os estudos mostram que, inicial-
mente, os impactos foram maiores nas
Com relação à dimensão técnica, é
transações internas, com a introdução de
preciso observar que grupos distintos de-
aplicativos de gestão de recursos das em-
mandam diferentes plataformas de TIC’s.
presas (enterprise resource planning (ERP)
Estas devem se adequar às necessidades
software). Porém, em seguida, novas for-
dos indivíduos, não perdendo de vista que
mas e recursos de TIC’s (como a Internet e
eles compartilham, em suas comunidades,
sistemas de informação interorganizacio-
uma história, experiências e uma lingua-
Inf.Inf., Londrina, v. 12, n. esp., 2007.
Gestão do conhecimento e capital social: as redes ... Antonio B. de O. e Silva; Marta A. T. Ferreira

nais ou interorganizational information sys- ça, e as TIC’s ampliam os limites das redes
tems) levaram a um maior relacionamento de empresas (FEIJÓ; VALENTE, 2004).
interorganizacional e permitiram maiores Assim, as técnicas de GC têm que ser
ganhos de produtividade nas relações adaptadas a um ambiente mais amplo, que
mercantis entre diferentes empresas. envolva toda a cadeia produtiva e as orga-
nizações de apoio ao negócio.
Ou seja, essas tecnologias reduziram,
inicialmente, os custos internos de transa-
ção, para, em seguida, reduzir os custos 6 CONCLUSÃO

externos. Estes últimos também têm im- O artigo apresenta, de forma sucinta,
pacto na estrutura das empresas, pois as o conceito de redes sociais e sua impor-
TIC’s permitem uma melhor gestão da es- tância para a compreensão do capital soci-
colha entre produzir internamente ou com- al. Seu objetivo é destacar a importância
prar fora, diminuindo os custos de transa- dessa forma de capital para os processos
ção, fixos e variáveis, referentes à de criação de conhecimento nas firmas. No
coordenação das atividades econômicas. entanto, a firma é um conceito que não é
regularmente discutido nem na literatura de
Em sua conclusão, baseada em am-
Gestão do Conhecimento, nem na literatu-
pla pesquisa empírica, Bender (2004) con-
ra de Ciência da Informação.
firma que as fronteiras das firmas foram
afetadas pela difusão dessas tecnologias, Assim, fez-se uma breve apresenta-
em direção a empresas menores e mais ção da teoria da firma, conforme as princi-
voltadas para o seu negócio principal (core pais correntes da ciência econômica. Des-
capabilitie), pois as TIC’s possibilitam o tacou-se a crítica à visão neoclássica da
aumento coordenado do número de parcei- firma e a incorporação de elementos mais
ros pelo seu amplo potencial de controle de próximos à realidade, como os conceitos
informações e processos. de custos de transação, que se relacionam,
dentre outros aspectos, com os custos as-
Como conseqüência, os limites entre
firma e mercado passam a levar em conta sociados à busca e ao processamento da
informação, com a racionalidade limitada
modos de relação cooperativos intermediá-
dos indivíduos, com a necessidade de tra-
rios. As redes são um novo tipo de organi-
balho em equipe e com o papel das rotinas
zação que surge como resposta à crescen-
te incerteza, ao aumento do risco e do cus- e do conhecimento tácito na constituição
das competências das firmas. Esses as-
to de processamento de informações. As
empresas procuram relações mais colabo- pectos tratados pela teoria econômica
trouxeram mudanças na forma como as
rativas, envolvendo cooperação e confian-
Inf.Inf., Londrina, v. 12, n. esp., 2007.
Gestão do conhecimento e capital social: as redes ... Antonio B. de O. e Silva; Marta A. T. Ferreira

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Title dentro de las firmas, el comportamiento de los


individuos depende de las relaciones sociales y
Knowledge management and social capital: de las rutinas existentes. La acción de las fir-
networks and their relevance for enterprises mas también depende de sus redes de suplido-
res y de consumidores. Ambas las redes son
Abstract parte del capital social de las empresas. Ob-
serva-se el incremento en la literatura que des-
This article outlines the main aspects of the cribe el uso de la ARS en la investigación so-
concept of social capital, its relation with the bre el flujo de la información o la creación del
social networks and its relevance for the crea- conocimiento dentro de las firmas. Sin embar-
tion of knowledge inside enterprises. Social go, en lo tocante a la gerencia del conocimien-
Network Analysis (SNA) investigates the links to, las investigaciones poco frecuentemente
between social actors, which can be people, hacen uso del concepto de capital social. El
departments of a firm or enterprises in a region. uso de la ARS en esas pesquisas mejoraría la
The links between them can be, for example, calidad de sus resultados.
friendship, information on production or supply
of goods. Behavior of the individuals inside the Palabras claves
firms is supposed to depend on the social rela-
tions and the existing routines. The action of Capital social, redes sociales, gerencia del
the firms also depends on their suppliers and conocimiento, teoría de la firma
consumers networks. Both are part of the firms’
social capital. It can be observed the increasing
literature describing the use of SNA in the re-
search about information flow and knowledge
creation inside the firms. Nevertheless, re-
searches in knowledge management rarely
make use of the concept of social capital. The
use of SNA in those researches would improve
the quality of their findings.

Key words: social capital, social networks,


knowledge management, theory of the firm

Título

Gerencia del conocimiento y capital social: re-


des y su importancia para las empresas

Resumen

Este artículo destaca los aspectos principales


del concepto del capital social, su relación con
las redes sociales y de su importancia para la
creación del conocimiento en las empresas. El
análisis de redes sociales (ARS) investiga los
lazos presentes entre los actores sociales, que
pueden ser personas, departamentos de una
firma o empresas en una región. Los lazos en-
tre ellos pueden ser, por ejemplo, amistad, in-
formación sobre la producción o la provisión de
mercancías, respectivamente. Se supone que,
Inf.Inf., Londrina, v. 12, n. esp., 2007.

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