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arquitetura moderna NO brasil - sevsique e. wou _—— ~ aimee CConvidado a fazer uma breve apresentago deste li- ‘10 ~ a primeira edigio em portugués de Modern Architeture in Bra, de awtorin de meu inno Hen- sigue, publicado em 1956 tamibém em francés eale- Indo, resolv, de inicio, pb de lado © parentesco de |que me orgltto, e fal apenas da obra, que revelou, aqui eno exterior, o extraoedinsio trabalho dos po- ‘eiros da modema arquitetura brasileira. Fito de 0 livro ainda ser, depois de inteiramente esgorado hii tantos anos, considerado ume importante Fonte de rwfertncia para as novas geragées de arqutetos e para os estudiosos da cultura brasileira jé constitu, por si s6, um eloglente testemunho dos méritos dessa. obra, © fot apenas sobre esse aspects desta ego que eu nha pretenida fala. Mas nto con- Segui. Minha ligaglo com Henrique foi tio forte, {que ni acho possivel, nem razodvel, falar de seu ro sem fala dele, Foi meu melhor amigo, ¢ juntos descobrimos quase tudo quanto veto @ formar nossa cultura. Havia, & ‘erdade, uma diferenga em nossos interesses inci rando Aecioly. 1950 Lina Bo Banti, Case de Lina e PM. Bardi, 1951 Sergio W, Bemanles, Casa de Jadir de 1951 Oswaldo Conta Gongalves, Casa de Osmar Goncalves, lst lave Redig de Campos. Casa do embatrador Walther Moreins Salles, 195t Sergio W, Bemardes, Casa de campo de Guilherme Bra i, 1952 Amaldo Furquiim Paoliello, Casa de Domingos Pires de Oliveira Dias, 1952 Afonso Eduardo Reidy, Casa de Carmen Portinho, 1952 Sergio W. Bernarles, Casa dle campo de Lota de Macedo Soares. 1953 Oswaldo Anur Bratke, Cas de Oswaldo Arter Branke, 1983 Oswaldo Artur Bratke, Atelier ¢ casa de hoxpedtes. 1953 Lygia Femandes, Case de Jodo Punto de Miranda Neto, 1953 Ring Levi © Roberto Cenqueita Cesar, Casie de, Milton Guper, 1983 ‘Oscar Niemeyer. Casa de Oscar Niemeyer, 1953 4Jox6 Bina Fonyat Filho e Tereio Fontana Pacheco, Casa de’ campo ite dod Antero de Carvalho, 1954 ‘Thomar Estrella, Jorge Ferreira, Renato Mesquita dos San- los ¢ Renato Soeiro, Casa de Stanislay Koslowski, 1954 Ring Levi ¢ Roberto Cerqueira Cesar, Casa de Olivo Go- mes, 1954 Olavo Redlig de Campos, Casa de campo de Geraldo Bap. fist, 1954 Paulo Antunes Rik ito, Casa dle Plo Antunes Ribeiro, 95S SUMARIO 0 a 2B 37 43 4 s4 56 38 9 a os cy 1 16 ® 80 4 86 88 1 92 96 Paulo Antunes Ribeito, Casa de Emesto Waller, 1955 Paulo Everard Nunes Pires, Paulo Ferreira dos Santos & Paulo de Taso Ferreira dos Santos, Casa de Martin Holzmeister, 95S Miguel Fone ¢ Galiano Clampaglis, Case de Luis Forte. 195 Hearique E. Mindlin, Casa de eampo de Lauro Souza Carvalho, 1955 Alvaro Vital Brazil e Adhemar Marinho, Edificio Esther, 1938 Gregori Warchavehick, Ezificio residencial, 1939 Helio Uchéa, Rdificio residencial Luiz Felipe, 1945 M.M.M. Roberto, Edificio residencial em Botafogo, 1947 Liicio Costa, Edificius esidenclais Nova Cintra, Bristol & Caledonia no Parque Guinte, 1948 ~ 1950 ~ 1954 J. Vilanova Attigas, Edificio residencial Lowveira, 1950 Rino Levi e Roberto Cenyueita Cesar, Ldificio residencial Alin, Buificio Trés Ledes, 1951 Jorge Machado Moreira, Edificio residencial Antonio Ceppas, 1952 Plinio Croce e Roberto AVlalo. Ealffcio residencial Biagd, 938 Oscar Niemeyer, Grande Hotel emt Ouro Preso, 1940 Larcio Costa, Park Hotel, 1944 M.M. Roberto, Coldnia de Férias, 1944 Paulo Antunes Ribeiro e Diogenes Rebougas. Hotel da Bahia, 1951 Oscar Niemeyer, Unidade habitacional tipo A do Centr Tecnoldgico da Aerondutica, 1947 ‘Oscar Niemeyer, Unidade habitacional tipo B do Cent ‘Tecnoldico da Aerondutica, 1947 Oscar Niemeyer, Unidaule habitacional tipo CF do Centro Tecnaldgico da Aerondutica, 1947 Oscar Niemeyer, Unidale habitacional tipo C2 do Centro Teenoldgico da Aerondutica, 1947 Carlos: Frederico Ferreira, Conjunto. habitacional para ‘openirios, 1949 Affonso Eduardo Reidy, Conjunto revidencial de Peleg tho, plano geral, 1950 Affonso Eduardo Reidy. Conjuito residencial de Pedregu tho, bloeo A. 1980-52 Afonso Eduardo Reidy, Conjunto residencial de Pedregu- tho, blocos B-I ¢ B-2, 1950-52 Alfonso Eduardo Reidy, Conjunto resilenctat de Pedregw- tho, Escola priniiria e Gindsio, 1950-52 Afonso Eduardo Reidy, Conjunto residencial de Pedregu tho, Lavanderia e Mercado, 1952 Afonso Eduardo Reidy, Conjunto residenctal de Pedvegu- tho, Centro de Saiide, 95052 Franciseo Bolonha, Conjunro residencial de Paguetd. 1982 ESCOLAS, HOSPITALS, IGREIAS. PREDIOS ESPORTIVOS K DE RECREACAO. MUSEUS PAVILHOES Dr EXPOSICOES Carlos Frederico Ferreira, Escola primdria, 1949 Francisco Bolonha. Jerfin de infncia em Vitbria, 1952 Eduardo Corona, Colégio secuandario na Penha, 1952 M. M. Roberto, Escola de uprenaizado industrial, 195 os 100 102 104 106 Ws 109 110 m2 116 us 20 124 126 128 130 137 139 140 142 4 146 Las 130 Is 155 156 158 160 162 Helio Queiror Duarte ¢ E. R. de Carvalho Mange, Escola de aprendizado industrial Anchieta, 1934 ‘Oscar Niemeyer, Obra do Berga, 1937 Francisco Bolonha, Hospital Maternidade, 1951 Esctitorio Técnico dla Cidade Universitiria da Universi dade do Brasil, Escola de Puericultura, 1953 Rino Levi e Roberto Cerqueira Cesar, Intituno Cenural da Cancer (Hoxpiuat Antonio Cando de Camargo), 1954 Firmino F. Saldanha, Hospital dos Martimos, 1955 ‘Oscar Niemeyer, Feria de So Francisco, 1943 Francisco Bolonha. Cypela de Santa Maria na case de campo do embatxaador Hildelbrando Accioty, 1954 Aleides Rocha Miranda, Elvin MeKay Dubugras ¢ Ferman. do Catal Pinto, Pavilio de Altar do XXXVI Congres sv Eucaristco, 1985 ‘Oscar Niemeyer, Casa do Baile, 1942 Oscar Niemeyer, Cassino, 1942 Oscar Niemeyer, fate Clube, 1942 Afonso Eduardo Reidy, Teatro popular Marechal Hermes, t9s0 Pedro Paulo Bastos, Rafael Galvo, AntOnio Dias Carneiro © Orlando Azevedo, Estddio Municipal do Maracand, 1980 caro de Castro Mello, Piscina coberta, 1982 Olavo Redig de Campos, Pavithio de natagio da casa de campo de Homery Sousa ¢ Silva, 1955 Wit Ola Prochnik, Pavithdo de naiagdo na casa de campo de Alfredo Baumann, 1955 Lilcio Costa © Osear Niemeyer, com Puul Lester Wiener, Puvilhdo Brasileira das Beira de Nowe York, 1939 Lina Bo Bardi, Museu de Arse de Séo Pauto, 1947 Oscar Niemeyer, Zenon Lotufo, Helio Ueda ¢ Eduardo Kneese Mello, Puldcios das Nagdes e das Estados no Parque Ibinapucra, 1951 ‘Oscar Niemeyer, Zenon Lotufo, Helio Uchéa ¢ Eduardo Knoese Mello, Paldicio da Indistria no Parque do Wirapuera, W953 Oscar Niemeyer, Zenon Lotufo, Helio Uchida e Eduardo Kneese Mello, Pakicio das Artes no Parque do Ibirapuera, 1958 Oscar Niemeyer, Zenon Lotufo, Helio Uchda © Eduardo Kneese Mello, Puldeie da Agricultura no Parque de Iirapuera, 1955 Oscut Niemeyer, Zenon Lotufo, Helio Uchou ¢ Eduardo Kneese Mello, Grande marguise mo Parque do Wirapuera, 195 ADMINISTRAGAO, COMERELO F INDUSTRIA M. M, Roberto, Bificio da Associagdo Brasileira de tm: prensa Edificio Herbert Moses, 1938 Liicio Costa, Oscat Niemeyer, Carlos Azevedo Led, Jorge Moreira, Affonso Eduardo Reidy, Ernani Vasconcelos , Le Corbusier (consultor), Ministério do Educagao ¢ Suse. 1937-1043 Alvaro Vital Beal, Instiuto Vital Brazil, 1941 M. M. Roberto, Ediffeio do Instiuto de Resseguros do Brasil, 42 164) 166 168 70 176 180) 182 Is 186 Iss 190 192 194 196 198 200 201 202 204 206 208 210 216 Euuardo Kneese de Mello, Euificio Leonidas Moreira, toa Oscar Niemeyer, iifcio do Banco Boavista, 1946 Jorge Ferreira, Restaurante do Instituto Osvaldo Ci (Manguinhos), 1948 Aleides Rocha Miranda, Oficinas, 1948 Aberlado de Souza, Galiano Ciampuglis, Helio Qu Duarte. Jacob Ruchii Miguel Forte, Rino Levi, Roberto Ceryucira Cesar © Zenon Lotufo, Sede do Instituto de Aruitetos do Brasil ~ Deparumento de Sa0 Paulo, 1948 Paulo Antunes Ribeiro, Euifcio Caramure, 1946 M.M.M. Roberto, Edificio Seguradoras, 1949 M.M.M, Roberto. Unidade industrial da SOTREQ. 1949 ‘Oscar Niemeyer ¢ Helio Uehia, Fibrica da indistria de ‘alimentos Duchen, 1950 Alvaro Vital Bruzil, Edificio do Banco da Lavoura, 1981 Lucjan Korngold, Castelo d'dgua (fibvica da indiisivia Jarmacéutica Fontoura Weth S.A, 1953 E PAISAGISMO. Auitio Correa Lima, Estagao de Hidras (estagde de hid vides}, 1938 M.M. Roberto, Aeroporto Santos Dumont, 1944 J. Vilanova Artigas, Terminal Rodovicirio. de Londrina, 1951 Comissio do Plano do Rio de Janeiro, Plano Diretor do Rio de Janeiro, 1938-1948 Afonso Eauardo Reidy, Plano de urbanicagdo da crea do “antigo morro de Santo Anténio, 1948, Henrique E. Mindlin, Projero de urbanizardo da Praia Pernambuco, 1933 Excrtsiio Téenico ds Cidade Universitria da Universi ‘de do Brasil, Plano Geral da Cidacle Universitaria — Universidade do Brasil, 1955 Carlos Perry, Javelin da casa de Ox de Almeida e Sil, 1951 Jardim das casa do julz Ranulpho Bocayuya Cunha, 1951 Jardim da casa de Alberto Lee (argulteto Sergio Ber nares), 1954 Roberto Burle Mars, Oscar. 1936 Esboge do jardim da casa de campo de Anwonin Leite Garcia, 1942 Jardim da residéncia. do embaixaddor do Canada, 1944 Roberto Burle Marx, Jardim da casa de campo da sra, bi fio Monteiro, 1947 Roberto Burle Marx, Jardim da casa de campo de Carlos Somto, 1948 Roberto Burle Mars, Jardim da Capeta da Jaqueira, 1954 Esboxo do jardin da praga Arthur PROIETOS COMPLEMENTARES 1956-1980 Lista das arquitetos Bibliografia FoiGaratos 245 246 24K 250 267 25 285 286 NOTA DO AUTOR Este trabalho foi concebido inicialmente vomo uni suplemento ao livro Brazil Builds, de Philip E. Goodwin, uma magnifica apresen- ‘ago da antiga e da nova arquitetura no Brasil, publica pelo Mu- seu de Arte Moderna de Nova York, ¢ ilustrado com espe fotografias de G. E. Kidder Smith. No entanto, como Brazil Builds esté esgotada ha varios anos, decidiu-se mais tarde incluir aqui al- zauns dos exemplos mais importantes ali mostrados anteriormente, Assim, seri possivel dar uma imagem mais completa do desenvol- vimento da arguitetura moderna no Brasil, dos seus primérdios no Final das anos 20 até 05 dns de hoje. Mas este livro nfo substitai 0 belo trabalho de Goodwin, nem isso jamais esteve nas minhas imtengoes, 0 objetivo deste livro € antes apresentar, da forma mais condensa- {dae ordenadia possfvel, por meio de um certo ntimero de exemplos selecionados, a imagem daquilo que o Brasil aleangou no campo da arquitetura moderna, de modo a permitir um julgamento funda mentado, tanto por parte dos proprios arquitetos quanto dos exit 0s dagui € do exterior: ‘A necessidade de cobrit uma ampla perspectiva em um ntimero preestabelecido de psiginas impds uma série de limitagdes na esco- tha do material a ser apresentado. Nao foi possfvel evitar a exclu- sio de um grande niimero de bons projetos, especialmente quando ‘suas caracteristicas mais marcantes também estavam presentes em ‘otras obras que ji ilustram este trabalho. O autor ¢os editores aco Therio de bom grado os comentirios sobre eventuais falas © erros ‘cometidos, para que possam ser corigidos em edigdes futuras. Gostaria, no entanto, de expressar aqui a minha profunda gratidsio «todos aqueles que me ajudaram, e que nao s2o tesponsiveis por isis eros: Vera, minha mulher, que aceitou com paciéncia o saeri- ficio de todo © nosso tempo livre, sem o que eu nunca teria termi nado este trabalho: a Walmyr Lima Amaral, Samuel Levy, Anny Sitakoff, Olga Verjovsky, Mare Demette Foundoukas e Sérgio ‘Campos, do meu escritorio, que me ajudaram & organizar, a classi- Preparar o material para publicagio; a Femando Tabora, Jodo Tévora, Herman Neves Apostolo, Jayme de Gouveia Veloso, Jayme Leal, Wilson Azevedo Sergio, José Lopes Pires, Roberto Radler de Aquino, também do meu escrito, que colaborarazn na preparagio do ivr; a Jorge Picotelli, que executou desenhos zenles quando o pessoal do esertrio nia estava disponivel & Zi da Ribeito Bueno Ferreira, minha pacemt sere, que dailogr fou e edatloprafou milhares de vezes estas piginas. ecu isis \encia junto aos arqutetes evitou atrasos inconvenientes: meus colegas que me ajudaram a obter o material indispensével, em es pevial a Renato Sociro, Carmen Pornbo, Lygia Femandes e Gian- ro Pant, assim como aJ, Faria Ges, Marcos Juimovich, José Simeio Leal, Oscar Ciampighia e Antonio Joaquim de Almeds: 3 Lota de Macedo Soares, que me permiti usar magnifica esto ‘de sua casa em Samambaia; a Esaboth Bishop, que traduziu para © inglés o original em portugués da intradugaio€ dos primeiros co- mentirios dos exemplos,saciicando um tempo que seria melhor ‘emprezado no seu proprio trabalho, visto que sua poesia Ihe valeu ‘0 Prémio Pulitzer de Poesia de 1956; a John Knox, que passou por un angustante processo de tradugéo da grande parte restane: a [Adolfo Casas Monteiro e Rachel Moacyt, aos quis coube # pe ‘nosatarefa de fazer a tadugdo francesa em urn azo extremamet te camo: a Marcel Gautherot, Jean Manzon, Léon Liberman. Mary Shand € aos demas fotdgrafos, cujas bea provasenriquecem este livro;ao see sta. Finn Engersen st sa. Alan Fisher est. Ronald Bourall, pelas diversas sugesties e comentéris; « Licio Cosa, Mario Pedrosa, Matio Barata, Hemani Tavares de $8, Wladimir Alves de Souza e Willian Atkin, pla paciente Isitura do texto, bem como pelas numerosas comegGes; a Claude Vincent, pelos ex- tos sobre os jardins de Roberto Burle Marx; a Rodrigo Mella Franco de Andrade ea Carlos Drummond de Andrade, que me for- rneceram importantes fontes: 4 KLM Royal Dutch Airlines, por sua ajuda no transporte de mattiaisinsubsttuveis: ep tamentendo por ikime, a Walter Geyethah, que me intigou ae erever este liv; a J. R, Meulenhoff, J. Somerwil e H.P. Dochee, 405 quis este Tivo deve a beleza de sua apresentagio; a Osmat Castro, pelo proto grfico, mesmo que tea sido seguido apenas «em parte na fase final da rmpresso, ea antes cutos eujo nome no cite, simplesmente porque seria impossivelfaz-to neste espago. HEM a ARQUITETURA MODERNA NO BRASIL A hist6ria da anquitetura moderma no Brasil 6a histéria de um Punhado de jovens e de um conjunto de obras realizado com uma rpidez inacreditével, Em poucos anos, uma idéia que teve apenas © lempo de langar suas raizes, em Sio Paulo e no Rio de Janeiro, Nloresceu e alcangou uma maturidade paradoxal, Nao demandow sequer, como se poderia supor, 0 tempo de uma geragio, mas ape- ras 05 poucos anos de passagem de uma turma pela escola de arguitetura, Em seu ensaio sobre a arquitetura brasileira’, Licio Costa, cujo papel nessa historia jamais serd suficientemente louva- do, 0 analisar 0 period que vai de 1930 2 1940 e que antecede & consirugo do Ministério da Educagio ¢ Satie, assinala com pro- priedade que “a arquitetura jamais passou, noutro igual espago de tempo, por tamanha (ransformac20”. Nao houve tempo suficiente para a emeryéncia de homens como Wright, Berlage e Perret, que porinea. A partir daf, 0 homem comum, desconfiado e irdnico por natureza, comegou a sentir ongulho de edifcios que a principio tinha considerado engragados ou bizarros. Embora continuasse a traté-tos por apelidos, privilégio do critico da mua, fazia-o com secreta adm ragio. Assim, esses edificios se tomaram parte do profundo orgulho e-aleigdo que os habitantes se ‘Um nimero crescente de visitantes veio de outros pases, em par- estudantese arquitetas, jovense velhos,curiosos para ver com (0s prprios los as obras de seus colegas brasileros. Repetindo 0 ‘que Frank Lloyd Wright fizera quinze anos antes (quando apoiou os estudantes em greve no Ri), Richard Neutra provacou 0 entusiasmo «da jovem geragio com conferéncias em que abordava com profundi- ddade os aspectos humanos e sociais da arquitetura. Paul Lester ‘Wiener € Jose Luis Sert foram convidados a projetar a Cidade dos ‘Mototes para a empresa estatal Fabrica Nacional de Motores, ¢ Sert fez revivero interesse nos trabalhos dos Congressos Intemacionais, de Arquiterura Modema (CIAM), Mais tarde, as bienais de Sao Paulo de 1951, 1953 e 1955 passariam a apresentar, a lado de grandes mostrasinternacionais de artes plisticas, exposigBes de arquit moderna ¢ tabulhos de estudantes. A participago de Siceft Giedion, Jano Sakakura e Mario Pani mo ji da primeira Bienal, © de Walter Gropius, Alvar Aalto e Emesto Rogers no da segunda (a ter- cera apreseniou apenas trabalhos de estudantes e fo} apreciada por um ji local), estabeleceu estreito contato com @ movimento inter nacional. As revistas estrangeinis publicaram mais © mais artigos sobre a arquitetura brasil A juluar pelas aparéncias, o movimento modemo tina tiunfado no Brasil Infelizmente, as sparéneias enganam, Ainda hi muito por fazer antes que a presenga essencial do arquiteto, sua Fungo como organi- 7zalor do espago urbano poss ating a grande massa da populago Nos ultimos quinze anos, um conjunto aprecidvel de obras de valor indiscutivel foi realizado, apesar das limitages impostas pela incipiente produgdo industrial do pais. Mas essas conquisias Fora em certa medida, prejudicadas pelo grande miimero de obras de qu: lidade duvidosa, que tracm uma incompreensio dos prinefpios fun ddamentais da arquitetura moderna. Esse & um resultado inevitvel da ‘elevadissima taxa de edificago inerente ao desenvolvimento econ ae dedicaram-the nimeros especiais rico braileito, Mesmo considerando as leis das variages em torno 44x média, ainda continuou-se a construir edificagdes de qualidade Inferior, até que decorresse tempo suiciente para que pomtos de vista ssem aceitos © pari que téenicas constnutivas mais ficients fossem adotadas. Ainda assim, até mesmo as construgGes ccontemporiineas de qualidade inferior mostram que os imitadores cso procurando, & sua mancia, seguir 0 bom caminho, Por outro lado, © erescimento descontrolado das cidades e a ex: pans industrial vieram expor uma necessidade gritante de planeja ‘mento urbano. Na verde, a despeito dos detalhados decretos reais referentes & implantagdo de novas cidades trzidos pelos primeiros colonizadores portugueses, no hi nenhum registro histéico de planejamento urbano em larga escala no Brasil, Muito embora, € {20 surpreendentemente quanto possa parecer, Recife tenha pavimentado suas ealgadas antes de Paris, nunca houve, nos tempos da coldnia ou do Império, nenhuma tentativa consistente de planejamento urban, sequer um exemplo isolado de importncia comparivel as expetién

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