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19/02/2018 Lição IV: Os Conceitos Básicos do Idealismo e Materialismo

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O Materialismo Histórico em 14 Lições

L. A.Tckeskiss

Lição IV: Os Conceitos Básicos do Idealismo e Materialismo

Afirmamos, numa das nossas lições anteriores, que a sociologia marxista é materialista, bem como a sua
correspondente filosofia da historia. E por isso toma ela o nome de materialismo histórico. Em que consiste a parte
materialista do materialismo histórico? Materialismo histórico e materialismo filosófico, não são a mesma coisa. É
possível ser-se materialista em filosofia e idealista em historia. Mas o materialismo histórico está intimamente ligado
ao materialismo filosófico e dele extrai sua seiva histórica. Para compreender o materialismo histórico deve-se,
portanto, ter ao menos uma compreensão geral do materialismo filosófico.

O materialismo, em geral, se contrapõe ao idealismo; não se pode realmente compreender o materialismo sem
conhecer o seu oposto — o idealismo. Para se responder à pergunta, sobre o que vêm a ser materialismo e idealismo,
não colocaremos a questão tão metafisicamente, do seguinte modo: “qual é a primeira causa de tudo o que existe, a
matéria ou o espírito?”, se há principio e fim em tudo o que existe. Formularemos a questão um tanto diferentemente.
No mundo em existência que concebemos, sentimos primeiramente a nossa própria existência que se compõe em
certo sentido de duas partes: 1º) vemos a nós mesmos como um corpo: — nosso corpo material; 2º) sentimos a nós
mesmos como elemento de manifestações internas: — pensar, sentir, saber. São esses os dois momentos principais
que cada “eu” sente em sua própria existência. Por isso, ao construirmos uma escola filosófica, temos diante de nós
dois caminhos a seguir: 1º, a escola materialista afirmando que em todo o existente está a matéria, o corpo; que tudo
na natureza é objeto da percepção dos nossos sentidos e que o pensamento humano é o resultado da matéria — o
pensar é atributo da matéria, como todos os outros, ou 2º), a escola idealista que diz sentirmos primeiramente a
existência das nossas emoções, dos nossos pensamentos e que o corpo, — a matéria existe tão somente porque o
“eu”, o nosso pensamento concebe. A pedra, por exemplo, que não se concebe a si própria, não tem existência.
Percebemos um fenômeno com os nossos órgãos, vemo-lo com os nossos olhos, mas o ato em si de ver, o fato como

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tal, não é material, não pode ser visto nem tocado. Esta escola toma por isto como base o espírito, o pensamento. A
matéria é por ela tomada como um acidente ou como corporificação do espírito.

A que pode conduzir e a que nos levaram o materialismo e o idealismo em seu desenvolvimento histórico?

Desde que verificamos ser o corpo, a matéria, o objetivo, o que realmente existe, devemos estudá-lo antes de
tudo, conhecer suas prioridades e só assim é que poderemos conhecer o mundo. O materialismo tornou-se assim um
propulsor do desenvolvimento das ciências, graças ao fato de construir as suas concepções sobre a matéria.(1)

Os idealistas, ao contrario, diziam que se devia antes de tudo investigar as manifestações internas, — o espírito, o
fator básico de tudo o que existe; que se pode apresentar até sob a forma de matéria. Mas o espírito é algo que não
se pode apreender, que não se pode investigar. O espírito, como tal, não pode estar sujeito a força alguma, e, pelo
seu conteúdo, só pode ser explicado espiritualmente ou divinamente. O desenvolvimento histórico dessas duas
doutrinas deu-se de tal forma, que o materialismo cresceu e se desenvolveu ao lado da ciência, ao passo que o
idealismo achava-se quase sempre ligado á religião, ou se entretinha com a metafísica especulativa, divagando
sempre nas esferas da metafísica e da teologia.

O materialismo filosófico encontrou em seu percurso uma série de dificuldades. Porque como escola teve muitos
defeitos. Enquanto, por exemplo, o materialismo afirmava que a base de tudo o que existe é a matéria e procurava
estudá-la profundamente, foi ele um grande auxiliar do desenvolvimento das ciências, mas desde que via na matéria
um elemento imutável, de formas definitivas e eternas, tropeçava forçosamente, com o tal ponto de vista, num
entrave á verdadeira concepção da natureza.

Ao materialismo dessa época, era incompreensível o ponto de vista da evolução, de desenvolvimento, ou, em
outros termos, o conceito de um processus. O idealismo, ao contrario, tinha neste ponto uma vantagem sobre aquele.
Reconhecendo que tudo é espírito, isto é, algo que não podemos ver, cujo conteúdo não podemos apreender, algo que
existe e não existe ao mesmo tempo, que cria sempre novas formas, o idealismo, com esta concepção, não podia ser
estático, tinha, pois, tendências a chegar à idéia de evolução. O idealismo tentava compreender não só o que existe,
mas também o que vem a existir, não só o que é, mas também o que vem a ser. Segundo seu conteúdo o idealismo
tinha forçosamente de chegar à idéia de desenvolvimento, de evolução e de processus; delas no percurso do
desenvolvimento da filosofia, devia-se forçosamente chegar a uma síntese entre os elementos fortes do materialismo
e dos elementos sólidos do idealismo. O idealismo tinha seu defeito peculiar, que era o de não se basear na matéria,
— sobre o que existe, e procurar apenas as leis gerais do pensamento humano. Ele construía sobre si mesmo, estava

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longe da experiência. O materialismo, ao contrario, estava intimamente ligado ao que existe, — com a natureza e com
experiência. Mas a natureza e a experiência, ele as compreendia estaticamente, como algo que existisse sempre com
a mesma forma, eternamente. As idéias de criação e de influencia de um fenômeno sobre o outro, eram-lhe
estranhas. O materialismo não possuía asas que lhe permitissem voar e não podia penetrar o intimo da natureza. O
idealismo, ao contrario, procurava encontrar e penetrar o intimo da natureza, mas achava-se suspenso no ar, sem
base em que se apoiar.

No transcurso do seu desenvolvimento, essas duas escolas se reuniram em certa medida e formaram uma nova
filosofia cientifica — o materialismo moderno, que encerra em si um ponto de vista monista, unitário, visto que reúne
numa concepção única, — espírito e corpo.
continua>>>

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Notas:

(1) Até mesmo os materialistas, que admitem ter sido a matéria criada originariamente por uma força sobrenatural pensavam ter sido criada
desde logo com certas propriedades, as quais lhe deram durante seu desenvolvimento a força de um fator criador independente. (retornar ao
texto)

Este texto foi uma contribuição do

Inclusão 26/02/2010

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