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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE TECNOLOGIA
FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL

Estruturas de Concreto Armado I

Dênio Ramam Carvalho de Oliveira

BELÉM

Março de 2011
UFPA/FEC - Estruturas de Concreto Armado I

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL FACULDADE


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ DE
INSTITUTO DE TECNOLOGIA ENGENHARIA CIVIL

DISCIPLINA: CÓDIGO:
ESTRUTURAS DE CONCRETO I TE-09036

CARGA HORÁRIA TEÓRICA PRÁTICA TOTAL CRÉDITO


SEMANAL 03 03 04
SEMESTRAL 51 51

PRÉ-REQUISITO CÓDIGO
Mecânica dos Sólidos III TE-09003

EMENTA

A origem das estruturas de concreto: O concreto armado e protendido. A aplicação do


concreto como material de construção: viabilidade, vantagens e desvantagens.
Propriedades dos materiais: concreto, aço de armadura passiva. Comportamento conjunto:
aderência, emenda das barras, ancoragem das armaduras. Requisitos Gerais da qualidade :
qualidade e critérios de projeto visando a durabilidade. Ações, Segurança e Estados
Limites. Análise Estrutural: Considerações básicas, elementos estruturais, tipos de análise
estrutural. Princípios gerais de dimensionamento, detalhamento e verificações.
Dimensionamento em estado limite último e verificações em estados limites de utilização
de elementos lineares sujeitos a flexão simples, força cortante e torção. Detalhamento.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

1. A origem do concreto armado: idéias básicas, o concreto armado e protendido;

2. A aplicação do Concreto armado e protendido como material de construção: viabilidade,


campo de aplicação, vantagens e desvantagens;

3.Propriedades dos materiais. Concreto: propriedades mecânicas e reológicas. Aço:


processo de fabricação, características mecânicas, denominação;

4. Comportamento conjunto dos materiais: aderência, ancoragem, emendas das barras;

5. Requisitos gerais da qualidade e durabilidade da estrutura. Qualidade do projeto.


Durabilidade: vida útil, mecanismos de deterioração, agressividade do meio. Critérios de
projeto visando a durabilidade: Características do concreto, cobrimentos, controle da
fissuração, formas estruturais, drenagem, manutenção;

6. Estados Limites. Estados limites últimos: domínios. Estados limites de utilização:


limites para deslocamentos e abertura de fissuras;

7. Ações e Segurança. Ações a considerar: permanentes, variáveis e excepcionais.


Combinações de ações. Valores das ações e resistências. Coeficientes de ponderação.

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Verificação da segurança;

8.Análise estrutural. Hipóteses básicas. Elementos estruturais. Tipos de análise estrutural.


Estruturas de elementos lineares e com elementos de placa;

9. Vigas: função estrutural, tipos de vigas, ações a considerar.

9.1.Dimensionamento em estado limite último, verificações e detalhamento de elementos


lineares sujeitos a flexão simples. Seções retangulares com armadura simples e dupla.
Seção T. Prescrições normativas.

9.2. Dimensionamento em estado limite último, verificações e detalhamento de elementos


lineares sujeitos a força cortante. Prescrições normativas.

9.3. Dimensionamento em estado limite último, verificações e detalhamento de elementos


lineares sujeitos a torção. Prescrições normativas.

9.4. Verificações de elementos lineares em estados limites de utilização: flecha e fissuração

BIBLIOGRAFIA

Süssekind, José Carlos – Curso de Concreto – Volumes I e II – Editora Globo;

Fusco, Péricles Brasiliense – Estruturas de Concreto -Solicitações Normais – Editora


Guanabara Dois;

Rocha, Aderson Moreira da – Curso Prático de Concreto Armado – Volumes 1 a 4 –


Editora Científica;

Brandão, Ivens Coimbra – Fundamentos para o Cálculo em Concreto Armado – Edições


CEJUP

APROVADO PELO DEPARTAMENTO BELÉM, / /

Em / / __________________________
CHEFE DO DEPARTAMENTO

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1. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS ESTRUTURAS


DE CONCRETO ARMADO

1.1 ORIGEM DO CONCRETO ARMADO

1.1.1 Breve histórico

1824: o empreiteiro Josef Aspdin inventa e patenteia o cimento Portland, em Yorkshire, na


Inglaterra. O nome é baseado na coloração que o cimento endurecido adquire, semelhante às
das pedras da ilha de Portland, no sul da Inglaterra;
1855: o francês J. L. Lambot constrói um barco de argamassa de cimento reforçada com
barras de aço;
1861: o jardineiro francês J. Monier produz artefatos de concreto reforçado com fios de aço.
O também francês F. Coignet publica os princípios básicos para a construção em concreto
armado;
1867: J. Monier obtém a patente para vasos de concreto armado. Depois patenteia tubos,
placas, etc. F. Coignet apresenta vigas e tubos de concreto armado na Exposição Internacional
de Paris;
1873: o americano W. E. Ward constrói uma casa de concreto armado em Nova York, o
Ward’s Castle, que ainda existe;
1888: o alemão Dohring, de Berlim, obtém uma patente onde é possível aumentar a
resistência de placas e pequenas vigas através da protensão da armadura. É a primeira vez que
o conceito de protensão deliberada é mencionado;
1900: Koenen dá início ao desenvolvimento da teoria do concreto armado. Posteriormente,
Mörsch realiza inúmeros ensaios e aprimora a teoria iniciada por Koenen. Os conceitos
desenvolvidos, em seus princípios fundamentais, são utilizados até hoje;
1904: são publicadas as “Instruções provisórias para preparação, execução e ensaio de
construções de concreto armado”, na Alemanha.

No Brasil o concreto armado chegou ainda na segunda década do século XX. O rápido
desenvolvimento do concreto armado no Brasil deve-se, em grande parte, ao engenheiro
Emílio Baumgart. Uma de suas primeiras obras foi o viaduto de Belo Horizonte e o edifício

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de 22 andares “A Noite”, no Rio de Janeiro. Enquanto a engenharia estrangeira empregava


lajes com 12 cm, a nacional utilizava 7 cm. Assim, as peças robustas deram lugar às esbeltas
e, em 1931 a engenharia brasileira ostentava a marca de 68 m para o vão de uma viga reta em
concreto armado na ponte sobre o Rio dos Peixes, em Santa Catarina. Em 1940 é publicada a
primeira norma brasileira para o concreto armado NB 1/40. Em 1960 a segunda versão da
norma é publicada. São apresentados então os conceitos que viriam a revolucionar o
dimensionamento das estruturas em concreto armado. Era o método das roturas, ou método
brasileiro, que definia o Estádio III de dimensionamento. Este método teve reconhecimento
internacional e foi normalizado pelo CEB (Comitê European du Bèton). A atual versão da
norma brasileira é a NB 1:2003.

No Pará, mais precisamente em Belém, o dique seco da Base Naval de Val-de-Cães foi a
primeira obra em concreto armado, na década de 40 do século XX. Os engenheiros
professores da Universidade Federal do Pará foram responsáveis por grande parte do
desenvolvimento e disseminação do concreto armado no Estado. Hoje, o dimensionamento
estrutural, associado ao desenvolvimento tecnológico, permite que o concreto armado supra as
necessidades da construção civil regional.

1.1.2 Idéia básica

Para a utilização estrutural, o concreto simples não é adequando para a maioria das peças,
salvo aquelas onde as tensões solicitantes sejam seguramente absorvidas. Embora a
resistência à compressão do concreto seja satisfatória, a resistência à tração é
aproximadamente 10 vezes menor. Estas características já haviam sido observadas desde o
início, quando Lambot sentiu a necessidade de armar seu barco. Naquela situação, pequenas
colisões seriam suficientes para danificar a estrutura não armada do barco, e até mesmo seu
transporte poderia ser uma ameaça. Sem a armação não existe a característica autoportante é
fragilizada pois, mesmo que uma peça de concreto consiga suportar seu peso próprio, pode
não suportar esforços adicionais.

Para ilustrar esta necessidade, a figura 1.1 apresenta uma situação onde uma viga de concreto
armado é submetida a esforços de flexão, ou seja, compressão nas fibras superiores e tração
nas fibras inferiores. Como o concreto resiste satisfatoriamente às tensões de compressão, a
fissuração tem inicio na região tracionada, progredindo rapidamente e levando a peça à

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ruptura. Quando a viga não apresenta armadura de tração, essa ruptura é brusca, sem aviso
prévio. Nas vigas armadas, tanto a resistência última quanto o grau de fissuração são maiores.
Esta fissuração na zona tracionada alerta para a iminência da ruptura (figura 1.1).

Figura 1.1 – Ensaio de flexãoa em vigas de concreto armado

Deve-se ressaltar que um elemento linear sob flexão pode apresentar diversos modos de
ruptura, não só por flexão, mas também por cisalhamento. A taxa geométrica de armadura de
tração pode ser suficiente para evitar a ruptura na zona tracionada, fazendo com que a viga
apresente ruptura por esmagamento do concreto (flexão) ou por cisalhamento. Nestes dois
casos a ruptura é brusca, podendo ser mais dúctil na presença de armaduras adequadas nas
respectivas regiões. Maiores detalhes deste comportamento serão fornecidos ao longo do
curso.

1.1.3 Os concretos armado e protendido

a) Concreto armado

É obtido pela associação do concreto simples (cimento, agregados e água) com uma armadura
convenientemente posicionada (armadura passiva) para resistir em conjunto aos esforços
solicitantes. A armadura é dita passiva por não receber qualquer esforço prévio antes da ação
do carregamento. Ressalta-se também que os principais materiais componentes do concreto
armado, ou seja, o concreto e o aço, possuem coeficientes de dilatação térmica muito
próximos, 1  10 5 C 1 e 1,2  10 5 C 1 , respectivamente. O concreto (alcalino), ao envolver o
aço, protege-o satisfatoriamente na maioria dos casos de agressividade ambiental, tanto contra
a oxidação quanto a elevadas temperaturas. A figura 1.2 mostra o aspecto da armadura de

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tração superior durante a etapa de concretagem. As vigas fazem parte de um programa


experimental realizado na Universidade Federal do Pará.

Figura 1.2 – Moldagem de viga de concreto armado

b) Concreto protendido

É obtido pela associação entre o concreto simples e a armadura ativa, ou seja, uma armadura
que recebeu um alongamento elástico antes da atuação da solicitação. A armadura ativa
introduz forças adicionais no concreto, normalmente de compressão nas regiões que
teoricamente serão tracionadas durante o uso da peça estrutural, antes da fase de utilização da
estrutura, de forma que as tensões de tração sejam minimizadas. O ato de tracionar a armadura
ativa é chamado de protensão, e confere à estrutura maior capacidade resistente e menor grau
de fissuração sob as mesmas condições de carregamento dos elementos em concreto armado.
A figura 1.3 mostra a distribuição das tensões de tração e compressão em uma viga biapoiada.
As linhas brancas representam os cabos de protensão. São apresentadas duas distribuições
para os cabos, uma reta e outra parabólica, que produzem diferentes efeitos nas vigas.

Figura 1.3 – Simplificação dos efeitos da protensão em vigas

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A figura 1.4 mostra alguns detalhes da protensão de vigas e os mapas de fissuração em vigas
protendidas externamente.

Figura 1.4 – Protensão de vigas

1.2 APLICAÇÃO DOS CONCRETOS ARMADO E PROTENDIDO

1.2.1 Viabilidade

O concreto ainda é um material relativamente acessível economicamente. As jazidas minerais


que o compõem são encontradas em quase todas as regiões da Terra. Tecnicamente o concreto
apresenta as seguintes características que tornam sua utilização viável.

a) Aderência: é responsável pela solidarização das barras de aço ao concreto. É a principal


característica do concreto armado. No caso da flexão, devido à baixa capacidade resistente à
tração do concreto, o mesmo fissura mas permanece solidário às barras de aço;

b) Otimização das seções: o correto posicionamento das armaduras possibilita o


dimensionamento de seções esbeltas, coerentes e econômicas, com um rendimento muito

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próximo das estruturas metálicas. As armaduras suprem a necessidade de resistência à tração


do concreto;

c) Durabilidade: o concreto é alcalino, condição que, associada ao cobrimento satisfatório,


protege as armaduras da corrosão. Cabe ressaltar que a porosidade do concreto pode propiciar
a corrosão das armaduras quando a estrutura está sujeita a ambientes agressivos. Não só as
armaduras podem ser deterioradas, mas o concreto também, ou seja, a dosagem correta do
concreto prolonga a vida útil das estruturas de concreto armado e protendido;

d) Dilatação térmica: o concreto protege as armaduras do calor e, apesar dos coeficientes de


dilatação do aço e do concreto serem muito próximos, em situações de incêndio, por exemplo,
as armaduras se deformam bem mais do que o concreto, gerando um estado de tensões
inaceitável.

1.2.2 Campo de aplicação

As aplicações do concreto armado são as mais diversas possíveis, principalmente na indústria.


Em estruturas prediais; obras rodoviárias como pontes e viadutos; obras hidráulicas como as
barragens e reservatórios; em obras industriais, como silos, chaminés, postes e pré-fabricados
em geral; fundações; pavimentação (pavimento rígido); obras de contenção e outras.

1.2.3 Vantagens e desvantagens

Como todo material, o concreto armado possui vantagens e desvantagens.

a) Vantagens

- Boa resistência à maioria das solicitações;


- Boa trabalhabilidade, se adaptando a várias formas, podendo assim ser escolhida a
mais conveniente do ponto de vista estrutural, dando maior liberdade ao projetista;
- Permite a obtenção de estruturas monolíticas, o que não ocorre com as de aço, madeira
e a maioria das pré-fabricadas. Há aderência entre o concreto endurecido e o que é
lançado posteriormente, facilita a transmissão dos esforços;
- As técnicas de execução são simples e de domínio geral;

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- Em diversas situações pode competir economicamente com as estruturas de aço;


- Apresenta durabilidade e resistência ao fogo superior à madeira e aço, desde que o
cobrimento e a qualidade do concreto estejam de acordo com as condições do meio em
que está inserida a estrutura (recomendações normativas);
- Possibilita a pré-fabricação, proporcionando velocidade e facilidade de execução às
obras;
- Boa resistência a choques, vibrações, efeitos térmicos, atmosféricos e desgastes
mecânicos.

b) Desvantagens

- Resulta em elementos com maiores dimensões que o aço, o que, associado ao elevado
peso próprio (25 kN/m3), limita sua utilização e eleva seu custo;
- As obras de reforma e adaptação são, em algumas situações, de difícil execução;
- É bom condutor de calor e som, exigindo, em algumas situações, a associação com
outros materiais para suprir estas características;
- Necessita de fôrmas (exceto quando se utilizam os pré-fabricados), que permanecem
na estrutura até que o concreto apresente resistência satisfatória para a desfôrma. Cabe
ressaltar que a construção civil, devido às técnicas de moldagem das estruturas de
concreto armado, ainda consome grande quantidade de madeira, contribuindo para a
degradação do meio ambiente, sem contar com a exploração de jazidas minerais não
renováveis.

1.3 PROPRIEDADES DOS MATERIAIS

1.3.1 Concreto

1.3.1.1 Resistência à compressão

Como mencionado anteriormente, o concreto é obtido pela mistura de agregados (naturais ou


britados) com cimento e água. De acordo com a utilização podem ser acrescentados aditivos
para melhorar as características tanto do concreto fresco (trabalhabilidade) quanto endurecido
(resistência). A resistência do concreto endurecido depende de vários fatores, dentre eles

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pode-se destacar o consumo de cimento e água, o grau de adensamento e o tipo de agregado


utilizado. De modo geral, quanto maior o consumo de cimento e menor a relação água-
cimento, maior a resistência à compressão do concreto. A relação água cimento determina a
porosidade da pasta de cimento endurecida e, portanto, as propriedades mecânicas do
concreto. Concretos dosados com seixo rolado geralmente apresentam menor resistência
mecânica que aqueles dosados com pedra britada (calcário, granito, basalto, etc.).

De acordo com a norma brasileira NBR 6118/03, admite-se na determinação da resistência


característica do concreto à compressão (fck) que até 5% dos resultados de ensaios de
compressão axial pode apresentar valores abaixo da especificada. O método para
determinação de fck é probabilístico e baseia-se na freqüência de ocorrência de resultados
experimentais representados por uma distribuição aproximadamente normal, conforme mostra
a figura 1.5. O valor de fck pode ser estimado pela equação 1.1. Na equação fcj é a resistência
média à compressão a j dias da moldagem ou resistência média de dosagem, também
chamado de fcm na norma.

1,65 Sd
Número de ensaios

Sd Sd

95%

5%
f ck f cj

Resistência à compressão
Figura 1.5 – Simplificação para determinação de fck

f ck  f cj  1,65  Sd (1.1)

O desvio padrão Sd depende da qualidade do controle empregado na dosagem e utilização do


concreto. Assim a norma estabelece que Sd seja determinado como segue.

( f ci  f cj ) 2
Sd  i 1

n 1

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Sendo fci uma resistência qualquer obtida em n corpos de prova. Observa-se que a resistência
de dosagem fcj pode ser estabelecida e, em função desta, adotar-se uma resistência
característica fck no cálculo estrutural. A norma brasileira, através da equação 1.1, não
apresenta estimativas de resistência para qualquer idade do concreto, e sim, parâmetros para
obtenção de valores de fck acima daquele adotado em projeto.

De acordo com a NBR 6118/03 o valor a ser adotado em projeto (que deve ser confirmado
posteriormente), para idades inferiores a 28 dias, pode ser determinado através da equação
1.2. Deste modo a nova edição da norma brasileira passa a orientar o projetista em
verificações quando a resistência é notoriamente inferior a fck.

   28 1 2  
f ckj  f ck  Exp s  1      (1.2)
   t   

onde,
s = 0,38 para concreto de cimento CPIII e IV;
s = 0,25 para concreto de cimento CPI e II;
s = 0,20 para concreto de cimento CPIV-ARI;
t é a idade efetiva do concreto em dias.

A partir da equação 1.2 são apresentadas aqui curvas para determinação dos valores de fckj
considerando o emprego de cimento CPII e, conseqüentemente, s = 0,25. A figura 1.6 mostra
as estimativas de resistência para idades inferiores aos 28 dias considerando diversas classes
de concreto.

A figura 1.7 mostra o equipamento utilizado e o posicionamento de um corpo de prova de 150


por 300 mm antes de ser ensaiado.

A resistência à compressão de cálculo fcd, que deve ser utilizada em projeto, é igual a fck/c,
sendo c =1,4.

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45
f ck=40 MPa
40
f ck=35 MPa
35
f ck=30 MPa
30
f ck=25 MPa
fckj (MPa) 25
f ck=20 MPa
20

15

10

0
0 7 14 21 28 35
Idade (dias)

Figura 1.6 – Resistência à compressão para idades inferiores aos 28 dias

Figura 1.7 – Equipamento utilizado e ensaio de compressão axial do concreto

1.3.1.2 Resistência à tração

A resistência à tração do concreto (fctk) pode ser obtida experimentalmente através da ruptura
de corpos de prova no ensaio de compressão diametral (split cylinder test), também conhecido
como ensaio brasileiro, idealizado pelo Engenheiro Fernando Lobo Carneiro.

A figura 1.8 mostra um corpo de prova de 150 por 300 mm antes da realização do ensaio de
compressão diametral. A figura 1.9 ilustra de modo simplificado as tensões principais
atuantes no corpo de prova. A equação 1.3 é utilizada para a determinação de fctk.

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Figura 1.8 Ensaio de compressão diametral

Figura 1.9 Ensaio de compressão diametral

2P (1.3)
f ctk 
  D l

Na ausência de dados experimentais a NBR 6118/03 recomenda que a resistência


característica à tração pode ser estimada de acordo com a equação 1.4.

f ct , m  0,3  f ck
23
(MPa) (1.4)

A resistência à tração de cálculo fctd, que deve ser utilizada em projeto, é igual a fctk/c, sendo
c =1,4.

1.3.1.3 Módulo de elasticidade

O módulo de elasticidade do concreto (Ec), ou módulo de deformação longitudinal, pode ser


determinado através de ensaios de compressão axial (figura 1.10) de acordo com a NBR

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8522/84. Como a não linearidade do concreto está presente em todos os estágios de


carregamento, a NBR 6118/03 recomenda que o valor do módulo de elasticidade pode ser
estimado considerando algumas simplificações.

A partir do diagrama tensão-deformação é permitido traçar uma reta tangente à curva,


partindo da origem, e adotar a tangente do ângulo como o valor de EcTg. A resistência de
referência recomendada para determinação do módulo de elasticidade é de 30% da resistência
última do concreto, e neste caso, o trecho curvo pode ser representado por uma reta secante
até este limite, e o erro causado por esta simplificação pode ser considerado desprezível. O
módulo assim determinado chama-se módulo secante EcSec (figura 1.11a).

Figura 1.10 – Ensaio para determinação do módulo de deformação longitudinal

Visando a praticidade do cálculo estrutural, a norma brasileira recomenda a utilização de um


digrama de deformação simplificado, composto por um trecho parabólico e outro reto,
conforme mostra a figura 1.11b. A equação 1.5 (empírica) pode ser utilizada para estimar os
valores de c em função da deformação c. A redução de 15% é resultado de análises
experimentais que consideram os efeitos de cargas de longa duração (-25%) (efeito Rüsch), o
ganho de resistência do concreto ao longo tempo (+20%) e a influência da forma cilíndrica
dos corpos de prova em relação ao elemento estrutural (-5%).

  2
σ c  0,85  f  1  (1  c )  (1.5)
cd 
 0,002 

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(a) (b)

Figura 1.11 – Recomendações da NBR 6118/03: a) determinação de EcTg e EcSec.


b) diagrama tensão-deformação simplificado de cálculo

Na ausência de ensaios para a determinação do módulo de elasticidade, a norma recomenda a


equação 1.6 para estimar o módulo tangente inicial cordal. Para determinação de deformações
em peças sob flexão a NBR 6118 utiliza o módulo de elasticidade secante correspondente a
0,85EcTg. Para tensões de compressão menores que 0,5  f c' o coeficiente de Poisson do

concreto  pode ser tomado como igual a 0,2.

E cTg  5.600  f MPa (1.6)


ck

O CEB-MC90 estima o valor do módulo de deformação longitudinal do concreto através da


equação 1.7. Resultados experimentais têm confirmado a proximidade dos resultados
estimados com os observados para resistências à compressão em torno de 50 MPa.

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4  f ck 
Ec  2,15  10    (1.7)
 10 
 

1.3.1.1.4 Comportamento reológico do concreto

O comportamento reológico do concreto refere-se à sua deformabilidade ao longo do tempo, e


tem considerável importância na análise estrutural. As deformações ao longo do tempo
(diferidas) são convencionalmente separadas em duas: autógenas e imediatas ou lentas. Estas
deformações serão melhor analisadas no item seguinte.

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1.3.1.5 Deformações do concreto

As deformações permanentes do concreto que serão apresentadas podem ser classificadas em


dois grupos. O primeiro compreende as deformações autógenas (retração, temperatura), que
podem ocorrer mesmo antes da peça concretada entrar em serviço. O segundo grupo engloba
as deformações imediatas e lentas (fluência) que ocorrem com a peça sob carregamento. O
tipo de cimento, os aditivos e as propriedades mecânicas dos agregados são fatores que afetam
o comportamento reológico do concreto. Tanto a fluência quanto a retração trazem efeitos
indesejáveis às estruturas de concreto, como flechas maiores que as projetadas, perdas de
protensão, momentos fletores adicionais devido ao aumento da curvatura de pilares, maior
grau de fissuração, tensões adicionais não previstas, principalmente para estruturas
aporticadas, e a previsão de juntas de dilatação.

Deformações autógenas:

a) Retração

É responsável pela variação de volume das peças devido à ação de forças capilares em seus
poros. A retração é mais acentuada nas primeiras idades do concreto e tende a se estabilizar
após algum tempo. Dentre os fatores que influenciam o fenômeno da retração estão:
quantidade e finura do cimento, fator água/cimento, adensamento e cura do concreto,
dimensões das peças, distribuição das armaduras, umidade do ar, variações de temperatura,
intensidade do vento, etc. As fissuras provocadas pela retração caracterizam-se por sua
distribuição e espaçamento aproximadamente uniformidade, pouca profundidade e rápida
estabilidade.

A retração do concreto pode ser de dois tipos:

Retração química: ocorre durante o processo de hidratação do cimento (pega), provocando a


contração do concreto. É uma reação exotérmica. Este tipo de reação deve considerado no
dimensionamento de obras executadas com concreto massa, como barragens e outras obras
onde o controle da fissuração é rigoroso.

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Retração por evaporação: parte da água de amassamento (responsável pelo grau de


trabalhabilidade) em excesso àquela necessária para hidratação do cimento ao evaporar por
capilaridade provoca a redução do volume da peças.

A NBR 6118/03 recomenda que o valor da retração pode ser estimado pela equação 1.8. Deve
ser observado que a norma permite estimar valores para a retração em diversas idades do
concreto.

 cs (t , t 0 )   cs    s (t )   s (t 0 ) (1.8)

onde,
 s (t ) ou  s (t 0 ) é o coeficiente relativo à retração no instante t ou t0 de acordo com a NBR
6118/03;
 cs   1s   2 s
 cs é o valor final da retração;
 1s é o coeficiente que depende da umidade relativa do ambiente e da consistência do
concreto de acordo com a NBR 6118/03;
 2 s é o coeficiente que depende da espessura fictícia da peça:

33  2  h fic
 2s 
20,8  3  h fic

onde,
hfic a espessura fictícia de acordo com a NBR 6118/03;
t é a idade fictícia do concreto no instante considerado, em dias;
t0 é a idade fictícia do concreto no instante em que os efeitos da retração passam a ser
considerados, em dias.

b) Deformações térmicas

A NBR 6118/03 considera os coeficientes de dilatação linear do concreto aproximadamente


igual ao aço, ou seja, 10-5 C-1, estabelecendo que as tensões térmicas geradas entre os dois

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materiais são pouco significativas para ser levadas em conta no dimensionamento de


estruturas convencionais. A norma dispensa a consideração dos esforços provenientes das
variações de temperatura em estruturas onde a maior dimensão em planta não ultrapasse 30 m,
e em estruturas permanentemente envolvidas por terra ou água. No caso do aço a norma
mantém o coeficiente de dilatação térmica linear para intervalos de temperatura entre –20 e
150 C.

Outra alternativa para o dimensionamento de juntas de dilatação é através da consideração das


deformações devido às variações de temperatura, como mostra a equação 1.9. O valor de l
corresponde à distância do centro de dilatação da estrutura à seção considerada.

l   ct  l (1.9)

onde,
 ct    T é a deformação específica axial devido à variação de temperatura ( = 10-5 C-1).

Outro efeito da variação de temperatura é a fissuração. As tensões de origem térmica podem


ultrapassar em determinados pontos os valores estabelecidos para a resistência à tração do
concreto. Que seja considerado como exemplo o caso de uma viga bi-engastada de concreto
armado com fck = 20 MPa que sofre uma redução de temperatura da ordem de 10 C. O
encurtamento axial do concreto decorrente desta variação de temperatura pode ser estimado
como segue.

 ct    T  10 -5  10  10 -4  0,1‰
 ct  E Sc   ct  4.760  20  0,0001  2,13 MPa

Neste exemplo não foi informada a resistência à tração do concreto, que pode ser estimada de
acordo com as recomendações normativas.

23
f ct , m  0,3  f ck  2,21 MPa

19
UFPA/FEC - Estruturas de Concreto Armado I

Como pôde ser observado, a resistência à tração é 6% maior que o esforço solicitante,
indicando que a peça não apresentará fissuração devido às tensões térmicas.

Deformação lenta:

a) Fluência

Fluência é o fenômeno no qual ocorre o acréscimo contínuo das deformações mesmo para
uma tensão constante. Em virtude dos efeitos do envelhecimento do concreto, a fluência
depende, além da duração do carregamento, da idade de aplicação das cargas. O
comportamento do material também pode ser influenciado pela troca de umidade com o meio
ambiente. Quanto mais seco for o ambiente maior será a fluência. A elevação da temperatura
também acelera o fenômeno da fluência, por favorecer o envelhecimento da estrutura. Para
temperaturas abaixo de 5C a fluência praticamente cessa.

Na figura 1.12, pode-se observar o comportamento de um corpo de prova de concreto


carregado em um instante t0, apresentando uma deformação imediata ci. A tensão aplicada é
mantida constante até o instante t1, quando o corpo de prova é descarregado. Neste trecho as
deformações aumentam com o passar do tempo. Após a retirada do carregamento a
deformação imediata é recuperada parcialmente, se a tensão aplicada for pequena em relação
à resistência à compressão do concreto. Com o passar do tempo a deformação por fluência
(ed) continua atuando sobre o corpo de prova, mas não recupera totalmente a deformação,
restando a deformação residual pd.

Figura 1.12 – Deformação por fluência

20
UFPA/FEC - Estruturas de Concreto Armado I

A deformação por fluência é dada de acordo com a equação 1.10, quando a tensão de serviço
é menor que 0,4  f cm (t 0 ) , onde a relação é admitida linear. Para relações não lineares a norma

deverá ser consultada.  (t , t 0 ) é o coeficiente de fluência, também contido na norma.

 c (t 0 )
 cc (t )    (t , t 0 ) (1.10)
Ec

A deformação total sofrida pela peça de concreto é igual ao somatório das deformações
inicial, de retração, por fluência e térmica.

1.3.2 Aço para concreto armado

Os aços para concreto armado podem ser fabricados através do processo de laminação à
quente (com patamar de escoamento) ou por deformação a frio (sem patamar de escoamento),
onde predomina a trefilação. Estes aços também são chamados de encruados, e surgiram com
a necessidade do cálculo considerando o estádio III de dimensionamento (diagrama parábola-
retângulo).

1.3.2.1 Resistência à tração

A resistência à tração dos aços brasileiros para concreto armado pode ser determinada pelo
ensaio de tração de acordo com a NBR 6152. A resistência de cálculo fyd corresponde à
fyk/1,15. A figura 1.13 mostra uma barra de aço durante um ensaio de tração.

Figura 1.13 – Ensaio de tração em barras de aço

21
UFPA/FEC - Estruturas de Concreto Armado I

A tensão de escoamento pode ser determinada pela equação 1.11.

Pk
f yk  (1.11)
As

1.3.2.2 Módulo de elasticidade

São utilizados com muita freqüência dois tipos de aço. Um de dureza natural, e que apresenta
diagrama tensão-deformação com patamar de escoamento bem definido (figura 1.14), e outro
com propriedades mecânicas alteradas. Para este último, que passam por um processo de
encruamento a frio, o diagrama tensão-deformação não apresenta patamar de escoamento,
devendo seu módulo de elasticidade ser determinado com o auxílio de uma reta com origem
na deformação residual de 2‰ paralela ao trecho reto da curva, conforme figura 1.15.

A NBR 6118 (2003) permite a utilização de um diagrama simplificado de cálculo com


patamar de escoamento para aços com e sem patamar real de escoamento. O limite de 10‰
para a deformação específica do aço é recomendado para evitar deformações excessivas nas
peças de concreto armado sob flexão. A tabela 1.1 apresenta as propriedades mecânicas mais
importantes de alguns aços para concreto armado mais utilizados no Brasil.

Figura 1.14 – Determinação de Es para aços com patamar de escoamento

22
UFPA/FEC - Estruturas de Concreto Armado I

Figura 1.15 – Determinação de Es para aços sem patamar de escoamento

Tabela 1.1 Propriedades mecânicas de alguns aços para concreto armado


Aço fyk (MPa) fyd (MPa) yd (‰) f’yd (MPa)
Aços com patamar de escoamento
CA40 400 347,8 1,656 347,8
CA50 500 434,8 2,070 420,0
CA60 600 521,7 2,484 420,0
Aços sem patamar de escoamento
CA40 400 347,8 3,656 304,6
CA50 500 434,8 4,070 364,1
CA60 600 521,7 4,484 397,9

Os valores de f’yd correspondem às tensões máximas de cálculo a serem utilizadas para barras
comprimidas em peças de concreto armado, como no caso de pilares, e correspondem à
deformação limite de 2‰, relativa ao esmagamento do concreto por compressão axial. Vale
lembrar que na ruptura por flexão este limite passa a ser 3,5‰.

Nas estruturas usuais é rara a utilização de mais de um tipo de aço com a mesma função, para
evitar qualquer troca equivocada no canteiro de obras, mas é comum a utilização de categorias
diferentes com funções distintas. Por exemplo, pode utilizar uma categoria na armadura de
flexão e outra na armadura de cisalhamento de uma mesma viga.

23
UFPA/FEC - Estruturas de Concreto Armado I

1.4 COMPORTAMENTO CONJUNTO DOS MATERIAIS

1.4.1 Aderência

Como mencionado anteriormente, o trabalho conjunto do concreto e do aço só é possível


devido à aderência entre estes materiais. De fato, o concreto armado só existe em presença da
aderência. A figura 1.16 mostra uma viga de concreto armado construída de maneira usual. As
armaduras são posicionadas na fôrma e posteriormente o concreto é lançado, ficando em
contato direto com as barras de aço. Após o endurecimento do concreto, a ligação entre os
dois materiais se estabelece.

Figura 1.16 – Transferência de esforços do concreto para a armadura

Ao ser aplicado o carregamento, a viga se deforma e, supondo que a mesma não esteja
fissurada, ocorre uma distribuição linear das deformações normais ao longo da altura da viga.
Devido à aderência, a deformação do concreto, situado no mesmo nível da armadura, tende a
tracionar as barras de aço, deformado-as (s) do mesmo valor.

Caso as barras da armadura fossem revestidas por uma bainha engraxada, não haveria
qualquer deformação da armadura e, conseqüentemente, nenhuma tensão de tração. A viga se
deformaria sob carregamento mas as barras das armaduras de flexão deslizariam dentro das
bainhas engraxadas. Neste caso, a viga seria de concreto simples e s=0.

1.4.2 Ancoragem por aderência

A ancoragem das barras das armaduras pode ser realizada por aderência ou com a utilização
de dispositivos de ancoragem, como placas e barras adicionais. As ancoragens por aderência
são mais econômicas. A figura 1.17 mostra uma barra de aço aderida ao concreto e solicitada

24
UFPA/FEC - Estruturas de Concreto Armado I

por uma força de tração de cálculo. Devido à aderência, surgem tensões tangenciais na
superfície de contato entre os dois materiais. Assim, a força de tração é transferida para o
concreto, ao longo do comprimento ancorado da barra. A tensão de aderência é variável ao
longo da ancoragem, sendo mais intensa no trecho inicial da mesma. Em projeto, é suficiente
considerar a tensão média de cálculo fbd.

Figura 1.17 – Tensão de aderência e comprimento de ancoragem

Como a tensão solicitante deve ser menor ou igual à tensão de escoamento de cálculo da
barra, fyd, a força solicitante de cálculo de tração é dada por

  2
Rsd  As  f yd   f yd (1.12)
4

Esta força deve ser equilibrada pela força resultante da aderência da barra no concreto, para
que a mesma não seja arrancada do concreto, conforme a equação 1.13.

Rsd  u  lb  f bd      lb  f bd (1.13)

Substituindo a equação 1.13 na equação 1.12, tem-se o comprimento de ancoragem


necessário. Este é o menor comprimento de aderência para que a barra seja ancorada por
aderência. Este comprimento é também chamado de “comprimento de ancoragem básico”.
Observa-se que barras de menor diâmetro permitem menores comprimentos de ancoragem.

  f yd
lb  (1.14)
4  f bd

De acordo com a norma brasileira, a tensão última de aderência pode ser determinada pela
equação 1.15.

25
UFPA/FEC - Estruturas de Concreto Armado I

f bd  1   2   3  f ctd (1.15)

A equação considera o valor de cálculo da resistência à tração do concreto e três coeficientes


que levam em conta alguns fatores que afetam a resistência de aderência, como segue.

2/3
f ctd  0,15  f ck (MPa ) (1.16)

Os coeficientes  são dados por

1  1,0 para barras lisas (CA-25 e CA-60 liso);


1  1,4 para barras entalhadas (CA-60 entalhado);
1  2,25 para barras nervuradas (CA-50);
 2  1,0 para situações de boa aderência;
 2  0,7 para situações de má aderência;
 3  1,0 para barras de diâmetro  32 mm;
132  
3  para   32 mm, com  em mm.
100

A figura 1.18 mostra algumas situações de boa e má aderência. As situações apresentadas são
válidas para barras sobre fôrmas fixas. Para outras posições e quando da utilização de fôrmas
deslizantes, as barras devem ser consideradas em situação de má aderência.

Figura 1.18 – Zonas de boa e má aderência

26
UFPA/FEC - Estruturas de Concreto Armado I

Considerando barras de CA-50 de diâmetro menor ou igual a 32 mm, nervuradas, e em zona


de boa aderência, a tensão de aderência pode ser determinada pela equação 1.17.

2/3
f bd  0,42  f cd (MPa ) (1.17)

De forma geral, para diâmetros menores ou iguais a 32 mm, em zona de boa aderência, pode-
se estabelecer que

2/3
f bd  k  0,42  f cd (MPa ) (1.18)

Onde k = 1 para barras nervuradas, k = 0,62 para barras entalhadas e k = 0,44 para barras lisas.
Para as mesmas barras, em zona de má aderência, deve-se multiplicar a equação 1.18 por 0,7.
Percebe então que o comprimento de ancoragem para zonas de má aderência será 43% maior.

1.4.2.1 Comprimento de ancoragem reta

Quando a área de aço adotada no projeto for superior à área calculada, ou seja, Ase  As.cal , o

comprimento de ancoragem pode ser reduzido, pois a tensão na armadura será inferior à
tensão de escoamento. Nestes casos, o comprimento de ancoragem necessário é dado pela
equação 1.19.

  f yd As ,cal
lb ,nec    lb , min (1.19)
4  f bd Ase

0,3  lb ;

Sendo lb ,min  10   ; .
10 cm.

No caso de feixe de barras, o comprimento básico de ancoragem de ser calculado


considerando o diâmetro do círculo de mesma área do feixe. Por exemplo, para um feixe de n
barras de diâmetro  , o diâmetro equivalente é dado por  n  o  n . A barras constituintes

27
UFPA/FEC - Estruturas de Concreto Armado I

dos feixes devem apresentar ancoragem reta, sem ganchos, e devem atende às condições
prescritas pela NBR 6118:2003.

1.4.2.2 Barras com ganchos

De acordo com a NBR 6118:2003, os ganchos das extremidades das barras d armadura
longitudinal de tração podem ser semicirculares (Tipo 1), em ângulo de 45 (Tipo 2) e em
ângulo reto (Tipo 3). Os trechos retos dos ganchos devem apresentar o comprimento mínimo
indicados na figura 1.19. Para estribos estes comprimentos são de 5    5 cm para os tipos 1
e 2, e de 10    7 cm para o Tipo 3. Este último tipo de gancho não deve ser utilizados em
estribos de barras e fios lisos.

Figura 1.19 – Tipos de ganchos recomendados

Os diâmetros mínimos de dobramento dos ganchos e estribos recomendados pela NBR


6118:2003 são apresentados na tabela 1.2. Para estribos com diâmetro não superior a 10 mm,
o diâmetro mínimo de dobramento pode ser reduzido para 3   . As barras lisas devem sempre
ser ancoradas com ganchos, mas se as barras forem comprimidas, devem apresentar
ancoragem reta, para evitar o fendilhamento na extremidade da barra. Não é recomendado o
emprego de ganchos em barras com   32 mm.

Tabela 1.2 – Diâmetros mínimos de dobramento para ganchos e estribos


 (mm) CA-25 CA-50 CA-60
<20 4 5 6

 20 5 8 -

Para considerar a contribuição dos ganchos, o comprimento de ancoragem pode ser reduzido
em relação ao comprimento reto, como mostra a figura 1.20.

28
UFPA/FEC - Estruturas de Concreto Armado I

Figura 1.20 – Ancoragem de barras tracionadas com ganchos

De acordo com a norma brasileira, o comprimento reto de ancoragem com gancho necessário,
é dado por

  f yd As ,cal
lb ,nec   1    lb ,min (1.20)
4  f bd Ase

sendo,

1  0,7 se o cobrimento de concreto no plano normal ao gancho for maior ou igual a 3   ;


 1  1,0 se o cobrimento for menor que 3   .

Existem ainda outros fatores e situações que permitem reduzir o comprimento de ancoragem,
para tanto, deve-se consultar a literatura. Um procedimento bastante comum é a utilização dos
parâmetros  recomendados pelo CEB-FIP MC90.

1.4.2.3 Ancoragem em apoios de extremidade

No caso de ancoragem reta (figura 1.21), deve-se respeitar o valor lb,min. Quando a barra
apresenta ganchos, deve-se observar os limites abaixo, que garante que o início da curva fique
dentro da região de apoio (figura 1.22).

 R  5,5   ;
l b ,nec 
6 cm.

29
UFPA/FEC - Estruturas de Concreto Armado I

Figura 1.21 – Ancoragem em apoio de extremidade

Figura 1.22 – Ancoragem com gancho em apoio de extremidade

No caso de apoio demasiadamente curto, a ancoragem pode ser realizada com o auxílio de
grampo de diâmetros inferiores, como mostra a figura 1.23. O diâmetro de dobramento para
estes grampos pode ser aquele adotado para os ganchos. Ressalta-se que esta técnica de
ancoragem é bastante utilizada em vigas bi-apoiadas com taxas geométricas elevadas de
armadura longitudinal de tração.

Para armaduras distribuídas em mais de uma camada, recomenda-se a adoção de estribos


adicionais de altura reduzida na região de ancoragem. Quando o espaçamento dos estribos é
de no máximo 10 cm, utilizam-se barras suplementares do tipo colchete.

30
UFPA/FEC - Estruturas de Concreto Armado I

Figura 1.23 – Ancoragem com gancho em apoio de extremidade

1.5 EMENDAS DE BARRAS

Sempre que possível, as emendas das barras devem ser evitadas. Havendo a necessidade, estas
emendas podem ser realizadas por traspasse, através de solda, com luvas rosqueadas e outros
dispositivos, devendo-se garantir a resistência da emenda nos dois últimos casos. A emenda
por traspasse é a mais econômica e de fácil execução, fazendo-se uso da própria aderência. De
acordo com a norma brasileira, a emenda por traspasse não deve ser empregada para barras
com diâmetro superior a 32 mm. No caso de feixes, o diâmetro equivalente não deve ser
superior a 45 mm, e as barras constituintes devem ser emendadas uma por vez, sem que
ocorram 4 barras emendadas em uma mesma seção transversal do feixe.

Nas emendas por traspasse, a transferência dos esforços entre as barras ocorre através das
bielas comprimidas inclinadas, como mostra a figura 1.24. A distância entre as barras
emendadas não deve ser superior ao limite indicado na figura.

Figura 1.24 Emenda por traspasse

31
UFPA/FEC - Estruturas de Concreto Armado I

O comprimento de traspasse das barras tracionadas, lot, é dado por

l ot   ot  lb , nec  l ot , min

Sendo l b , nec o comprimento de ancoragem dado em 1.20.  ot  1 é um coeficiente que leva

em conta as piores condições na região da emenda, em relação à ancoragem de uma barra


isolada. Os valores indicados são apresentados na tabela 1.3.

Tabela 1.3 – Valores recomendados para o coeficiente  ot

% de barras emendadas na seção  20 25 33 50 >50


Valores de  ot 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0

O comprimento mínimo da emenda de barras tracionadas é dado por

20 cm;

l ot ,min  15   ;
0,3    l .
 ot b

Onde lb é o comprimento básico de ancoragem.

São consideradas na mesma seção as emendas que se superpõem ou cujas extremidades esteja
afastadas de menos que 20% do comprimento do trecho traspassado. Logo, para se evitar
emendas demasiadamente longas, procura-se evitar a situação mostrada na figura 1.25 ao
longo do eixo longitudinal do elemento estrutural.

Figura 1.25 – Emendas consideradas na mesma seção

32
UFPA/FEC - Estruturas de Concreto Armado I

A norma brasileira também estabelece a porcentagem máxima permitida para emendas em


uma mesma seção, de acordo com a tabela 1.4. Este procedimento também evita elevadas
taxas geométricas de armadura longitudinal de tração na seção, o que poderia viabilizar a
ocorrência de nichos de concretagem, indesejáveis nas estruturas de concreto armado,
podendo expor as armaduras e exigir o reforço precoce do elemento estrutural.

Tabela 1.4 – Porcentagem de barras tracionadas emendadas


Carregamento
Tipo de barra Situação
Estático Dinâmico
Em uma camada 100% 100%
Alta aderência
Em mais de uma camada 50% 50%
  16 mm 50% 25%
Lisa
  16 mm 25% 25%

Para barras comprimidas ou de distribuição, permite-se que todas as barras sejam emendadas
na mesma seção. O comprimento do trecho de traspasse, loc, é dado por

l oc  l b ,nec  l oc ,min

Sendo

20 cm;

l oc ,min  15   ;
0,6  l .
 b

Na região das emendas por traspasse surgem esforços de tração que devem ser combatidos
por armaduras transversais. Estas armaduras devem ser posicionadas nos terços extremos da
emenda. O espaçamento desta armadura, medido na direção das barras emendadas, deve ser
menor ou igual a 15 cm.

33
UFPA/FEC - Estruturas de Concreto Armado I

1.6 QUALIDADE E DURABILIDADE DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO


ARMADO

1.6.1 Requisitos gerais da qualidade e durabilidade da estrutura

A nova versão da norma brasileira NBR 6118:2003 traz recomendações referentes à qualidade
e à durabilidade das estruturas de concreto, apresentadas na seção 5, “Requisitos Gerais de
Qualidade da Estruturas e Avaliação da Conformidade do Projeto”, e na seção 6, “Diretrizes
para a Durabilidade das Estruturas de Concreto”.

No item 5.1.1 a norma estabelece que as estruturas de concreto devem atender a requisitos
mínimos de qualidade, durante as fases de construção e utilização, classificados em 3 grupos
bem definidos (item 5.1.2), como segue.

Grupo 1: requisitos relativos a sua capacidade resistente ou a de seus elementos


componentes;

Grupo 2: requisitos relativos ao seu desempenho em serviço, que consiste na capacidade da


estrutura se manter em condições plenas de utilização, não devendo apresentar danos que
comprometam, em parte ou totalmente, o uso para o qual foi projetada;

Grupo 3: Requisitos relativos à sua durabilidade, que consiste na capacidade da estrutura


resistir às influencias ambientais previstas e definidas em conjunto pelo projetista e pelo
contratante.

Simplificadamente, as exigências do grupo 1 referem-se à segurança à ruptura, as exigências


de grupo 2 referem-se a danos como fissuração, deformações e deslocamentos excessivos,
bem como vibrações indesejáveis. As exigências do grupo 3 referem-se à conservação da
estrutura, sem a necessidade de reparos de custo elevado.

1.6.2 Qualidade do projeto

A solução estrutural adotada deve atender aos requisitos de qualidade estabelecidos nas
normas técnicas referentes aos 3 grupos supracitados. Deve ainda considerar as características

34
UFPA/FEC - Estruturas de Concreto Armado I

arquitetônicas, funcionais, construtivas (NBR 14931:2003), estruturais e de integração com os


demais projetos (elétrico, hidráulico, etc.).

O projeto deve conter informações claras e bastantes para a execução da estrutura, devendo
atender a todos os requisitos estabelecidos na NBR 6118:2003, e em outras normas
específicas e complementares para cada caso.

1.6.3 Durabilidade

A NBR 6118:2003 recomenda, no item 6.1, que as estruturas de concreto sejam projetadas e
executadas de modo que, sob as influências ambientais previstas, e quando utilizadas de
acordo com o projeto, conservem sua segurança, estabilidade e comportamento adequado em
serviço durante o período correspondente à sua vida útil de projeto. A durabilidade das
estruturas de concreto requer a cooperação e esforços coordenados dos responsáveis pelo
projeto arquitetônico, pelo projeto estrutura, pela tecnologia do concreto e pela construção, do
proprietário e do usuário.

1.6.3.1 Vida útil

Vida útil, de acordo com o item 6,2, é o período de tempo durante o qual se mantém as
características da estrutura de concreto, desde que atendidos os requisitos de uso e
manutenção prescritos pelo projetista e pelo construtor, bem como de execução dos reparos
necessários decorrentes de eventuais danos acidentais.

1.6.3.2 Mecanismos de deterioração

Em relação à durabilidade das estruturas de concreto, devem ser considerados os mecanismos


mais importantes de deterioração. Dentre os mecanismos de deterioração relativos ao concreto
tem-se a lixiviação provocada pela água, a expansão provocada pela ação das águas e solos
contaminados, e expansões decorrentes de reações entre os álcalis do cimento e certos
agregados reativos (RAA: reação álcali-agregado). A corrosão (carbonatação, cloretos, etc.) é
um mecanismo de deterioração relativos às armaduras de aço.

35
UFPA/FEC - Estruturas de Concreto Armado I

Além destes, existem vários mecanismos de deterioração relacionados às ações mecânicas,


movimentações de origem térmica, impactos, ações cíclicas (fadiga), etc. Deve-se considerar
também as ações físicas e químicas relacionadas à agressividade do ambiente.

1.6.3.3 Agressividade do ambiente

Uma das principais responsáveis pela perda de qualidade e durabilidade das estruturas de
concreto é a agressividade do ambiente que, segundo o item 6.4 da NBR 6118, está
relacionada às ações físicas e químicas atuantes sobre as estruturas, independentemente das
ações mecânicas, das variações volumétricas de origem térmica, da retração, etc.

A tabela 1.5 apresenta a classificação normativa para a agressividade ambiental, que pode ser
avaliada, simplificadamente, segundo as condições de exposição de estrutura ou de suas
partes.

Tabela 1.5 – Classes de agressividade ambiental


Classe de Ambiente para Risco de
Agressividade
agressividade efeito de projeto deterioração estrutural
Rural
I Fraca Insignificante
Submersa
II Moderada Urbana1, 2 Pequeno
1
Marinha
III Forte Grande
Industrial1, 2
Industrial1, 2
IV Muito forte Elevado
Respingos de maré
1 – Pode-se admitir um microclima com uma classe de agressividade mais branda
(um nível acima) para ambientes internos secos (salas, dormitórios, banheiros,
cozinhas e áreas de serviço de apartamentos residenciais e conjuntos comerciais ou
ambientes com concreto revestido com argamassa e pintura).
2 – Pode-se admitir uma classe de agressividade mais branda (um nível acima) em:
obras em regiões de clima seco, com umidade relativa do ar  65%, partes da
estrutura protegidas da chuva em ambientes predominantemente secos ou regiões
onde raramente chove.
3 – Ambientes quimicamente agressivos, tanques industriais, galvanoplastia,
branqueamento em indústrias de celulose e papel, armazéns de fertilizantes e
indústrias químicas.

36
UFPA/FEC - Estruturas de Concreto Armado I

1.6.4 Critérios de projeto visando a durabilidade

Para evitar a deterioração prematura e atender às exigências quanto à durabilidade, devem ser
observados diversos critérios na fase de projeto, de execução e de utilização da estrutura.
Dentre os principais critérios na fase de projeto tem-se a especificação de um concreto de
qualidade satisfatória, de cobrimentos mínimos para as armaduras, a verificação da abertura
de fissuras e o correto detalhamento das armaduras.

1.6.4.1 Características do concreto

A durabilidade das estruturas depende das características do concreto e da espessura e


qualidade do concreto do cobrimento das armaduras. A qualidade do concreto está
intimamente relacionada com o fator água-cimento, pois é este que determina a porosidade do
concreto endurecido e, conseqüentemente, a facilidade de água ou de gases no concreto.
Existindo uma forte relação entre o fator água-cimento e a resistência à compressão do
concreto, a NBR 6118 recomenda a tabela 1.6, que permite o projetista escolher a resistência
à compressão do concreto em função da classe de agressividade ambiental.

Tabela 1.6 – Classes de agressividade ambiental e qualidade do concreto


Classe de agressividade
Concreto Tipo
I II III IV
Concreto armado 0,65 0,60 0,55 0,45
Água/cimento (massa)
Concreto protendido 0,60 0,55 0,50 0,45
Classe do concreto Concreto armado C20 C25 C30 C40
(NBR 8953) Concreto protendido C25 C30 C35 C40

1.6.4.2 Cobrimento

Além das exigências de qualidade do concreto, é necessário especificar um cobrimento


mínimo para as armaduras. Para garantir este cobrimento mínimo, o projeto e a execução
devem definir o cobrimento nominal, que é o cobrimento mínimo acrescido de uma tolerância
Δc . Assim, as dimensões das barras das armaduras e os espaçadores de fôrmas devem
respeitar o cobrimento nominal.

37
UFPA/FEC - Estruturas de Concreto Armado I

Quando houve um adequado controle de qualidade e rígidos limites de tolerância da


variabilidade das medidas durante a execução, pode ser adotado Δc  0,5 cm. Em caso
contrário, nas obras correntes, este valor deve ser, no mínimo, igual a 1 cm. A tabela 1.7
apresenta os cobrimentos normativos nominais para as classes de agressividade ambiental,
para casos usuais em que Δc  1,0 cm. Nos casos em que o controle de qualidade for
rigoroso, os valores da tabela podem ser reduzidos de 0,5 cm, desde que as exigências para o
controle rigoroso conste do projeto.

De modo geral, o cobrimento nominal de uma determinada barra deve ser, no mínimo, igual
ao diâmetro da própria barra. Pra feixes de barras, o cobrimento do feixe não deve ser inferior
ao diâmetro do círculo de mesma área do feixe (diâmetro equivalente).

Tabela 1.7 – Cobrimento nominal das armaduras (cm)


Classe de agressividade ambiental
Elemento
I II III IV
Laje 2,0 2,5 3,5 4,5
Viga e pilar 2,5 3,0 4,0 5,0

A dimensão máxima característica do agregado graúdo do concreto, dmáx, não deve ser
superior a 20% do cobrimento nominal, ou seja, d máx  1,2  c nom . Para a face superior de vigas

e lajes revestidas com argamassa de contrapiso, com revestimentos finais secos (carpete,
cerâmica, madeira, etc.) os cobrimentos nominais apresentados podem ser reduzidos para 1,5
cm, respeitando a condição de ser maior ou igual ao diâmetro da barra ou que o diâmetro
equivalente, no caso de feixes.

1.6.4.3 Controle da fissuração

A abertura máxima característica das fissuras, desde que não ultrapasse valores da ordem de
0,3 a 0,4 mm, são pouco significativas para a evolução de um processo corrosivo nas
armaduras. Nos casos usuais, podem ser adotados os limites abaixo para a abertura de
fissuras, em função da classe de agressividade ambiental.

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UFPA/FEC - Estruturas de Concreto Armado I

Classe de agressividade I:  0,4 mm;


Classe de agressividade II e III:  0,3 mm;
Classe de agressividade IV:  0,2 mm.

Estes limites ainda podem ser reduzidos, como para o caso de reservatórios, onde estes limites
devem ser especificados para garantir a estanqueidade e não afetar a funcionalidade da
estrutura.

1.6.4.4 Formas estruturais

As diversas formas estruturais não convencionais, ou regiões de difícil acesso, não deveriam
comprometer a durabilidade da estrutura, mas favorecem a ocorrência de determinadas
patologias que podem acarretar problemas de durabilidade. O difícil acesso do concreto e
diâmetros maiores que os recomendados para os agregados podem levar a ocorrência de
nichos de concretagem (brocas). Um bom detalhamento das armaduras também é necessário
para garantir a durabilidade. As barras devem ser dispostas dentro do elemento estrutural de
modo a facilitar o lançamento e o adensamento do concreto. O congestionamento das barras
dificulta o lançamento, propicia a segregação e impede um bom adensamento, ao dificulta a
passagem da agulha do vibrador. Estes fatores comprometem a compacidade final do concreto
endurecido e facilita sua deterioração.

1.6.4.5 Drenagem e manutenção

Para garantir a durabilidade das estruturas de concreto, medidas adicionais ainda devem ser
tomadas, como:

- Prever uma drenagem eficiente, capaz de evitar o acúmulo de água sobre o concreto;
- Prever acessos de inspeção e manutenção de partes da estrutura com vida útil
reduzida, tais como aparelhos de apoio, caixões, impermeabilizações, etc.;
- Prever espessuras de sacrifício ou revestimentos protetores em regiões sob condições
de exposição ambiental muito agressivas;
- Definir um plano de inspeção e manutenção preventiva, e realiza-lo.

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