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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS


DEPARTAMENTO DE LETRAS E COMUNICAÇÃO
CURSO DE JORNALISMO

A cultura da mobilidade e o consumo de notícias: uma análise das


estratégias digitais mobile do jornal O Estado de São Paulo

Victor Sena

Seropédica, Julho 2017

1
A cultura da mobilidade e o consumo de notícias: uma análise d as
estratégias digitais mobile do jornal O Estado de São Paulo

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito


parcial para obtenção do título de Bacharel em Jornalismo pela
UFRRJ, nota final da disciplina TS 123 – TCC II e cumprimento da
AC 472 – MONOGRAFIA.

Seropédica

Julho, 2017

2
A cultura da mobilidade e o consumo de notícias: uma análise das estratégias
digitais mobile do jornal O Estado de São Paulo

Por Victor Sena

Data de defesa:14/07/2017 às 17h

Grau:

Profa. Dra. Alessandra Pinto de Carvalho

Prof. Dr. André Fabrício da Cunha Hollanda

Profa. Dra. (orientadora) Simone Mattos Guimarães Orlando


Dedico este trabalho aos meus pais, à minha
irmã, aos meus amigos, professores e à
comunidade acadêmica do curso de Jornalismo
da UFRRJ.

4
AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, meu agradecimento é à minha orientadora Simone Orlando, que desde o
início da minha graduação contribuiu para o meu crescimento intelectual e interesse pelos
temas relacionados ao jornalismo e novas tecnologias. Agradeço à sua paciência, carinho,
cuidado, conselhos, ouvidos, direcionamento e por me fazer acreditar capaz de concretizar
esse trabalho.

O agradecimento especial vai para a minha família, que sempre apoiou as minhas escolhas
profissionais e pessoais. Sem seu suporte, não seria possível iniciar, me manter e concluir a
minha graduação. Obrigado mãe, pai, dinda, cunhada e tia, por terem sido sempre um porto
seguro.

Agradeço ao corpo docente do curso de jornalismo da UFRRJ, que acreditam no nosso


potencial dentro da Universidade Rural. À professora Cristiane Venâncio, um muito obrigado
por ter feito eu me apaixonar pelo jornalismo e por ter sido uma chefe e uma editora
inesquecível.

Aos amigos e colegas que passaram, passam ou ficaram na minha vida deixando alguma
marca positiva minha vida acadêmica, um obrigado cheio de saudades de cada momento
vivido em sua companhia.

Agradeço também à banca escolhida para avaliar meu trabalho, que é referência nos temas
do curso e sempre estiveram na vanguarda do nosso corpo docente.

Não posso deixar de agradecer à Universidade Rural, por ter me acolhido e feito com que eu
vivesse os melhores anos da minha vida.

Por fim, agradeço ao universo e ao acaso, que sempre trazem para nossa vida o resultado
das nossas escolhas e ensinam da maneira que a gente precisa que é caminhando que se faz
o caminho. A gratidão, aqui, é por tudo. Não abro de nada vivido, nem do que é áspero.

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"No momento em que nos comprometemos, a providência divina
também se põe em movimento. Todo um fluir de acontecimentos surge
ao nosso favor. Como resultado da atitude, seguem todas as formas
imprevistas de coincidências, encontros e ajuda, que nenhum ser
humano jamais poderia ter sonhado encontrar. Qualquer coisa que
você possa fazer ou sonhar, você pode começar. A coragem contém em
si mesma, o poder, o gênio e a magia.”

Goethe

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RESUMO

Este trabalho aborda, em um primeiro momento, a alteração cultural e social provocada pela
disseminação de smartphones, entendendo a contemporaneidade como um contexto onde
uma nova dinâmica de comunicação surge. Isso leva por consequência a indústria jornalística
a acompanhar o perfil cognitivo do consumidor de conteúdo, apostando nos dispositivos
móveis como suporte e focando seu modelo de negócio em assinaturas digitais. No segundo
nível, esmiuçamos a expertise adquirida do jornal O Estado de São Paulo na produção do
jornalismo mobile.

Palavras-chave: jornalismo mobile; modelos de negócio no jornalismo; cultura da


mobilidade, ubiquidade.

ABSTRACT

This essay firstly discusses a cultural and social evolution caused by the daily dissemination
of smartphones, understanding contemporaneity as a context where a new dynamic of
communication emerges. This leads the journalistic industry to follow the consumer's
cognitive profile, betting on mobile devices as platform and focusing their business model on
digital subscriptions. In the second part, we explore the experience acquired by the
newspaper O Estado de São Paulo in the production of mobile journalism.

Key-words: mobile journalism; journalism business models; mobility; ubiquity.

7
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 12

CAP. I - A CULTURA DA MOBILIDADE........................................................................... 15


1.1 Uma nova dinâmica de comunicação .................................................................................15

1.2. Os dispositivos, suas gramáticas e a relação corpo-objeto ................................................23

1.3. A popularização dos dispositivos móveis e a evolução dos celulares .................................28

1.4 Tablets versus smartphones ..............................................................................................30

CAP.2 – Os dispositivos móveis e o jornalismo ........................................................... 34


2.1 O leitor de notícias e novos comportamentos de leitura ................................................34

2.2 O jornalismo digital e os suportes de leitura ................................................................36

2.2.1 Jornalismo, mobilidade e dispositivos ............................................................. 39

2.2.2 A estrutura das interfaces dos sites jornalísticos na era do PC ......................... 43

2.2.3. A estrutura das interfaces jornalísticas nos ambientes mobile ........................ 46

2.3. A relação entre o Vale do Silício e a mídia .................................................... 54

2.4 A crise no modelo de negócio da mídia impressa e os novos investimentos .......................57

2.4.1.O paywall, a cultura do acesso gratuito e as saídas no financiamento ............. 62

2.4.2.O paywall e os números do leitor que paga por notícias .................................. 63

2.5 Potenciais e desafios do mobile como suporte de notícias e os caminhos do jornalismo ...67

CAP. 3 – O ESTADÃO E OS INVESTIMENTOS MOBILE .................................................. 70


3.1 A história do jornal O Estado de São Paulo e seu pioneirismo nos investimentos em novas
tecnologias ............................................................................................................................. 70

3.2 Análise do site mobile do Estadão ......................................................................................72

3.3 As estratégias e a expertise do Estadão na área digital e mobile.........................................84

3.3.1 A cultura das assinaturas digitais e a relação entre assinaturas e independência


dos jornais ..................................................................................................... 88

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................... 91

BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................................94

8
9
ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Imagem retirada de ROGERS, EverettM.Diffusionofinnovations.Canada:Macmillan


Publishing Co,1971 ..................................................................................................................................... 22

Figura 2 – Imagens de palmtops e celulares de primeira geração - Fonte: Google Images. ................29

Figura 3 – Smartphones de última geração – Fonte Google Images...................................................29

Figura 4 –Ipad Pro (Apple, 2016) - Galaxy Tab S3 (Samsung, 2016) – Fonte: Google Images. .............33

Figura 5 – Site do Jornal Folha de SP, que exemplifica a estrutura do tridente. ..................................44

Figura 6 – Capturas de tela feitas em 18 de maio de 2017 .......................................................... 49

Figura 7 – Mesmo artigo, sobre atentado no Reino Unido, aberto no Instant Articles (à esquerda) e no
navegador do celular. .......................................................................................................................56

Figura 8 - Gráfico retirado da pesquisa State of News Media 2015: “Receitas de propaganda em
jornais vindas do digital e impresso” ....................................................................................... 58

Figura 9 – O gráfico mostra o percentual de queda na circulação de jornais impressos nos Estados
Unidos ano após ano ............................................................................................................. 59

Figura 10– Os gráficos mostram o crescimento do investimento publicitário nos ambientes digitais e
o crescimento do interesse pelos dispositivos móveis .......................................................................60

Figura 11 – O aumento das demissões em redações de jornais. ........................................................61

Figura 12– O gráfico mostra que pessoas mais velhas tendem a confiar mais nas notícias. ...............69

Figura 13 – Grupo de prints do layout do aplicativo (1). ............................................................. 74

Figura 14 – Grupo de prints do layout do aplicativo (2) .............................................................. 75

Figura 15– Imagem 1 - editoria de esportes do site. .................................................................. 77

Figura 16– Imagens 1 e 2 – Editoria de Economia. ............................................................................78

Figura 17 – Chamada de publieditorial ..............................................................................................80

Figura 18– Imagem em movimento de publicitária ...........................................................................80

Figura 19 – Editoria de Economia, com menu superior ......................................................................80

Figura 20– Tela inicial do aplicativo Estadão .....................................................................................81

10
Figura 21 – Opção de permitir notificações por push no aplicativo ......................................... 81

Figura 23 – Tela inicial do aplicativo “Você no Estadão” ........................................................ 82

Figura 22 – Lista dos arquivos das edições impressas para download ................................... 82

11
INTRODUÇÃO

O contexto em que nasce o objeto de estudo deste trabalho é o da mudança de


paradigma na forma como consumimos notícia. Mas, esse ponto de transformações nas
redações, nos ambientes digitais ocupados pelo conteúdo jornalístico e nos modelos de
negócios dos jornais impressos é apenas o reflexo na indústria da mídia de uma mudança
mais profunda por que passamos, como uma sociedade influenciada pela presença da
tecnologia, na qual se apresenta a cibercultura (LÉVY, 1997) alterando as relações.
Antes de se discutir o cenário da produção e distribuição de conteúdo jornalístico
para dispositivos móveis passamos por esse contexto cultural e por uma discussão em que
se abordam as alterações cognitivas, de leitura e na geografia das redes digitais trazidas pela
consolidação da ubiquidade com a popularização de smartphones, entendidos como
Computadores Coletivos Móveis, que recebem a nossa atenção e por onde gerenciamos o
nosso cotidiano. Por isso, esse trabalho — em um primeiro ponto — trata dessa nova
dinâmica de comunicação e do aspecto sociocultural da mobilidade.
A capacidade dos smartphones terem ganhando um protagonismo no cotidiano pode
ser entendida como algo apenas possível pelos altos níveis de convergência de mídias e
ferramentas incluídas nos aparelhos acrescentando o acesso à alta conexão. Com uma lista
interminável de usos, os aparelhos se tornaram o suporte por onde se consome notícia hoje.
De acordo com a pesquisa Digital News Report 2016, mais da metade das pessoas
(53%) entrevistadas afirmaram usar smartphones para acessar e lerem notícias, por
exemplo.
Como aponta Santaella (2014), esse é um leitor ubícuo que tem uma mistura das
características dos leitores moventes e imersivos, definido em 2004 pela autora como
aquele que “passeia” sua atenção pelos textos à sua volta e é interrompido e aquele que
imerge em um conteúdo virtual a partir do acesso à rede, fazendo seu caminho por
hiperlinks.
Mas até começar a considerar como organizar seus produtos dentro desses
dispositivos e distribuir conteúdo para esse tipo de leitor o jornalismo já ocupava os espaços
digitais há quase 20 anos. Nos anos de 1994 e 1995, vemos os primeiros sites de jornais
impressos. Assim, o percurso editorial dos jornais na transição para o digital também é
abordado no trabalho.

12
Uma das marcas dessa transição é a decaída de venda dos jornais impressos, com
queda da receita das empresas com um movimento em que a publicidade online em sites
não jornalísticos cresceu e o perfil do leitor mudou. Ele, hoje, usa as redes sociais como
central de informação, consome pelo celular e não está muito interessado em pagar por
informação. O que os jornais fizeram com essa mudança de cenário? Essa é uma das
perguntas da pesquisa. Vamos adiantar algumas respostas: os jornais investiram em
interfaces sofisticadas para dispositivos móveis — e com uma boa usabilidade tentam
garantir audiência — e admitiram que a publicidade online não seria suficiente para
compensar o que foi perdido com a diminuição de leitores e anúncios dos jornais impressos.
Com isso, pode-se encarar como definitiva a estratégia de cobrar assinaturas digitais dos
leitores.
No primeiro capítulo, discutimos o sentido da mobilidade no aspecto mais amplo e
procuramos mostrar como dispositivos móveis alteram a geografia da rede com a sua
disseminação. Ela passa a ser fluída, distendida, mutável. O acesso não é mais a partir de
pontos fixos. Vivemos a era da ubiquidade. Como pano de fundo, esmiuçamos como
acontece a adoção de novas tecnologias, como os dispositivos móveis ultrapassaram os
desktops na venda e utilização e as diferenças entre as gramáticas de suas interfaces.
Em seguida, no segundo capítulo, a discussão começa em entendermos quem é esse
leitor de conteúdo ubíquo, que acessa, por exemplo, o conteúdo digital a caminho do
trabalho. Aqui, começamos a discutir como o jornalismo é afetado por essa dinâmica e
precisou orientar suas estratégias para estar em sintonia com esse paradigma. Vamos
também olhar para o percurso do jornalismo digital e do webjornalismo, além de entender
que o trabalho jornalístico é intrinsecamente móvel (afinal, um repórter usando um
telégrafo no começo do século XX já experimentava a mobilidade). O que vivemos é a última
fase dessa mobilidade — na qual não só repórteres durante a apuração, mas o material
jornalístico disponibilizado, são configurados de acordo com os suportes digitais móveis
atuais (Firmino, 2015) .
Finalizamos o trabalho, no terceiro capítulo, com uma análise do site mobile do jornal
O Estado de São Paulo. Além dessa análise, estão presente nessa parte da pesquisa
fragmentos da entrevista feita com o Editor de Produtos Digitais do jornal, Luís Fernando
Bovo, realizada na sede do jornal na capital paulista, em 8 de julho de 2016.
Assim, neste trabalho, o corpus de análise para esse projeto é o site mobile utilizado
pelo jornal, além de termos como referência para reflexão a entrevista com o jornalista
13
sênior mencionado. O Estado de São Paulo surgiu como corpus de estudo a partir do sucesso
do site mobile, colocado no ar em 2015. Na época, o desejo de estudar a produção
jornalística para mobile já era forte. Após a implantação do site, fiz uma visita com um grupo
de estudos à redação do jornal em setembro de 20151, onde pudemos conhecer os novos
processos editoriais da empresa causadas pelas novas tecnologias e observar a dedicação da
empresa aos dispositivos móveis. Essa primeira visita nos influenciou para escolher o jornal
como foco de atenção e voltar à redação em 2016 para entrevistar o Editor de Plataformas
Digitais.
A dedicação desse trabalho ao aspecto sociocultural da mobilidade é justificado
devido à necessidade da produção de uma pesquisa menos efêmera. Aqui, discute-se o
contexto cultural e jornalístico da prática de jornalismo para dispositivos móveis pelas
redações em 2017, antes de qualquer análise de design de interface ou de conteúdo
editorial do objeto.
Como objetivos, os principais são: discutir o significado cultural e social do paradigma
da mobilidade, o levantamento de dados sobre o cenário de transição dos modelos de
negócios dos jornais impressos e a análise dos produtos digitais móveis do jornal Estadão.
Outros pontos relacionados, mas que deixo a discussão para próximas pesquisas, são
a análise da composição das receitas dos jornais – para que possamos compreender algumas
hipóteses que surgem com novos modelos de negócios – e a manutenção da profissão do
jornalista em tempos de notícias falsas, pós-verdade e crise de confiança na mídia
tradicional. Mais um assunto interessante que surge em um cenário de enxugamento de
redações causadas por essa transição, é o surgimento de projetos independentes e start-ups
com financiamento direto de leitores. Mas, por ora, vamos à cultura da mobilidade, ao
jornalismo móvel e à análise das estratégias do Estadão.

1
Em visita feita à redação, em ocasião de pesquisa de campo realizada com o grupo de laboratório de convergência,
ministradopela profa. Simone Orlando(2015/1 e 2015/2),já havíamos realizado uma breve entrevista com Bovo.
14
CAP. I - A CULTURA DA MOBILIDADE

1.1 Uma nova dinâmica de comunicação

O mais recente estágio a que chegamos no que se refere ao relacionamento


humano com a tecnologia é a potencialização da convergência digital e da cibercultura,
causada por uma dinâmica de comunicação nascida com a liberação do polo emissor na
cibercultura, durante a segunda geração da web e pela inerente mobilidade dos meios pelos
quais administramos nosso cotidiano informacional: os dispositivos móveis. Esse último e
atual estágio do desenvolvimento da cibercultura é a “cultura da mobilidade”, conceito
definido por André Lemos (2004).

Mas o que nos traz a essa nova dinâmica de comunicação? André Lemos traça uma
pequena cronologia, ao afirmar que antes dessa radicalização tecnológica, conhecemos a
informatização da sociedade nos anos 70 e, agora, o que há é a ubiquidade da conexão e a
mobilidade.

“O que está em jogo nesse começo de século XXI é o surgimento de uma


nova fase da sociedade da informação, iniciada com a popularização da
internet na década de 80, e radicalizada com o desenvolvimento da
computação sem fio, pervasiva e ubíqua, a partir da popularização dos
telefones celulares, das redes de acesso à internet sem fio e das redes
caseiras de proximidade com a tecnologia “bluetooth”. (LEMOS, 2004, p.1)

A convergência digital, a cibercultura e a sociedade em rede são conceitos do fim do


século XX, que procuraram nomear e explicar fenômenos como reconfigurações sociais
existentes quando os relacionamentos começam a ser mediados por computadores e os
pontos de conexão de Internet ainda fixos. São caudatários do processo de universalização
da Internet e da criação da World Wide Web, em 1991.

Nesse contexto, foi consolidado o modus operandi horizontalizado da “sociedade


em rede”2, conceito de Castells (1998). Nas palavras de Simões é uma, “(...) Era da
Informação, de maneira geral, constitui o novo momento histórico em que a base de todas

2
Em um momento pré-internet, a comunicação acontece de forma vertical. É a era das mídias de massa (TV, rádio, jornais
e revistas), na qual a produção ocorre de poucos (ou um) para muitos. Com o formato de rede da Internet, onde há o
potencial de produção de conteúdo em qualquer ponto de acesso, passamos para um momento pós-massivo, com uma
rede desenhada de forma horizontalizada.
15
as relações se estabelece através da informação e da sua capacidade de processamento e de
geração de conhecimentos.” (SIMÕES, 2009, p.1)

O autor Pierre Lévy (1997) avança nesse processo e, voltando-se mais que Castells
ao aspecto comportamental da Sociedade em Rede, traz os primeiros referenciais teóricos
sobre a Cibercultura, que surge como a cultura que evidencia a mediação tecnológica nas
relações.

A mediação digital remodela certas atividades cognitivas fundamentais


que envolvem a linguagem, a sensibilidade, o conhecimento e a
imaginação inventiva. A escrita, a leitura, a escuta, o jogo e a
composição musical, a visão e a elaboração das imagens, a concepção, a
perícia, o ensino e o aprendizado, reestruturados por dispositivos
técnicos inéditos, estão ingressando em novas configurações sociais.
(LÉVY, 1997, p.17).

Assim, Lévy também aponta que a cibercultura é o conjunto “de práticas, de


atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o
crescimento do ciberespaço.” (LÉVY, 1999, p.17)

A partir dessa trajetória na qual a internet nasce, cresce e se torna pessoal, a


sociedade em rede chega ao ponto em que a nova dinâmica é a da conexão móvel. Assim, a
internet é trazida para dentro dos nossos bolsos, virando protagonista nos telefones
celulares, potencializando sua capacidade de ser rede, de ser meio e máquina de contato e
de troca de informações.

Em uma era pós-computacional, esse protagonismo de dispositivos como celulares


e tablets para a vida pessoal altera como nos relacionamos com o conteúdo que
consumimos e os modos de produção de atividades que, por natureza, acompanham o
desenvolvimento tecnológico, como as telecomunicações e o jornalismo.

De acordo com Lemos, há definida uma era pós-desktops porque é consequência dessa
mudança de paradigma “novas práticas e usos da informática” (p.15). Assim, ainda de acordo com o
autor, agora, a “internet móvel está aproximando o homem do desejo de ubiquidade” (p.15). Apesar
do cenário, é importante ressaltar a permanência do uso de desktops como estações de trabalho e
para “entrada” de dados. O paradigma móvel é mais relacionado ao consumo de conteúdo, como
veremos mais à frente no trabalho.

Ainda de acordo com Lemos (2004),

16
“(...) depois do PC (computador pessoal) isolado dos anos 60-70, da
popularização da internet fixa com o CC (computadores coletivos) nos
anos 80-90, estamos vendo, no começo do século 21, a emergência da
era do CCM (computadores coletivos móveis)”. (LEMOS, 2004, p.15)

A potência dessa era da mobilidade altera a dinâmica da cibercultura e as relações


sociais que têm a rede como “terreno” ganham novas configurações pautadas pelas próprias
características da Internet. Na dinâmica da mobilidade, essa cultura é influenciada por
características como a ubiquidade, onde os limites espaciais diminuem e o comportamento
das pessoas é diretamente afetado pela liberdade de movimento adquirida para consumir
conteúdo, para ser receptor, ou emissor. De acordo com Lemos, a ubiquidade é uma das
principais características da dinâmica contemporânea. Ela representa um deslocamento
espacial-temporal no momento de conexão com a rede. Há, então, uma onipresença e um
sentimento de liberdade.

Cada período do desenvolvimento tecnológico da Internet trouxe novas práticas e


uma cultura de uso da rede, causada por novos paradigmas, conforme a internet mostra seu
potencial agregador das tecnologias de comunicação. “A internet móvel está aproximando o
homem do desejo de ubiquidade, fazendo emergir uma nova cultura telemática, com novas
formas de consumo de informação e com novas práticas de sociabilidade.” (TOWNSEND,
apud LEMOS, 2004, p.15).

Hoje, o celular deixa de ser um telefone móvel para ser o painel de controle de uma
vida já configurada pela sociedade em rede e suas especificidades, na qual o conhecimento e
a informação circulam de forma invisível. Essa invisibilidade é potencializada pela mobilidade
do dispositivo que, mesmo quando ainda era apenas um telefone móvel, já transformava a
distribuição de pessoas pelos espaços em uma rede com pontos passíveis de contato,
perdendo a rigidez. A rede, então, se torna flexível, móvel. Os pontos de acesso se deslocam
com os usuários, impedindo a ideia de uma rede com nós estáticos.

Esse novo paradigma de comunicação entre os atores da rede pode ser observado
em diversas áreas do conhecimento. Da Sociologia à Psicologia, das Ciências da Computação
ao Jornalismo. Na abordagem proposta por André Lemos, podemos visualizar essa nova
dinâmica em várias esferas da vida contemporânea.

“A mobilidade, em sua dimensão física (transporte de pessoas, objetos,


commodities) e informacional (sistemas de comunicação), cria uma
17
dinâmica tensa entre o espaço privado (a fixação) e o público (a passagem,
a efemeridade), entre o próximo e o distante, entre curiosidade e apatia
(Simmel, 1988). É nesse movimento que se produz a política, a cultura, a
sociabilidade, a subjetividade.” (SIMMEL, 1988, apud LEMOS, 2009, p.1)

Alguns dos desafios do jornalismo e dos produtores de conteúdo se encontram


nessa esfera informacional que Lemos apresenta. Nesta pesquisa, há uma delimitação
teórica “do que é” este momento em que o celular ganha protagonismo na rotina das
pessoas para sedimentar uma discussão posterior sobre como os veículos de mídia têm
experimentando este espaço. Antes, porém, é preciso reconhecer o contexto
comunicacional-sociológico em que a população adere ao paradigma da mobilidade.

O autor também supõe que há correlações entre a capacidade de se ter um acesso


em qualquer local à informação (o aspecto informacional da cultura da mobilidade) com a
própria mobilidade física. A mobilidade seria uma espécie de poder, que existe nos
indivíduos em diferentes graus e esferas. André Lemos (2009) explica a relação entre
mobilidade física e informacional:

“Na atual cultura da mobilidade, esta potência varia de acordo com o


indivíduo ou grupo social, segundo estruturas de poder. Pensemos, por
exemplo, naqueles que se deslocam em transportes públicos e/ou privados,
nos que têm acesso à internet por banda larga ou linhas discadas, nos que
podem viajar o mundo e dos que nunca saem dos seus lugares de
nascimento. Parece haver hoje uma correlação e ampliação dos poderes já
que quanto maior a potência de mobilidade informacional-virtual, maior é a
mobilidade física e o acesso a objetos e tecnologias”. (LEMOS, 2009, p.2)

O que vivemos hoje, como já foi citado, é “apenas” uma exponenciação do processo
de cibercultura e da convergência digital asseverada por uma dinâmica de comunicação
móvel pautada pela ascensão dos dispositivos de comunicação móveis. Como mostra Lemos
em “A Cultura da Mobilidade”, a sociedade vive a mobilidade há séculos em diferentes
aspectos. O que é protagonista, hoje, é o aspecto da comunicação e da informação.

“(...) a cultura da mobilidade faz parte da evolução da cultura humana


como um todo. Hoje, os números mostram um crescente deslocamento de
pessoas ao redor do mundo (movimentos de migração, turismo, negócios,
congressos, etc.), assim como de informação por redes de
telecomunicações”. (LEMOS, 2009, p.2)

18
Podemos ver, igualmente, como propõe Kellerman (2006) sobre o trabalho de
Bonss & Kesselring (2001) outros formatos na história desta mobilidade: uma de caráter
tradicional (até o fim do século XVIII); depois territorial (surgimento do Estado Nação no
século XIX); globalizada (com os meios de transporte e comunicação do século XX); e, hoje,
virtualizada, com as redes e os dispositivos de conexão móvel e sem fio. Assim, cada formato
produz uma nova forma de relação específica com o lugar.

Cooper, Green & Murtagh et al. (2002), alegam que

“(...) quando pensamos no impacto empírico do fenômeno dos


celulares/aparelhos móveis na vida cotidiana, nós descobrimos que a
sociologia e a filosofia contém termos que parecem apropriados, mas que
têm ou tiveram algumas conotações diferentes: por exemplo, mobilidade
social, a problematização da distinção entre público/ privado , a
transformação estrutural da esfera pública, a metafísica da presença, o
fonocentrismo, e, claro, a mobilidade imutável.” (COOPER, GREEN &
MURTAGH et al, 2002, p. 288).

A “invisibilidade” e a mobilidade da rede sem fio dão mais uma característica a essa
era: a ubiquidade3 da rede transforma os pontos de acesso em um ambiente de acesso, “que
coloca o usuário em seu centro”. “Se o usuário ia à rede de forma fixa, na era da conexão e
das smartmobs, é a rede que vai até o usuário”. (LEMOS, 2004, p.16)

“Cria-se, na era da conexão, um ambiente de acesso e troca de


informações que envolvem os usuários. A fase atual da computação
ubíqua, dos computadores pervasivos e do acesso sem fio mostra a
emergência da era da conexão e da relação cada vez mais intrínseca
entre os espaços físicos da cidade e o espaço virtual das redes
telemáticas”. (LEMOS, 2005, p.16)

Essa situação pode ser exemplificada com hábitos que temos no nosso cotidiano
que eram diferentes no começo da ascensão da cibercultura, como, por exemplo, passar um
fim de semana na praia. Quando o nosso acesso à rede era restrito aos acessos fixos dos
computadores em casa, quando não havia rede wireless em massa e smartphones, a
presença do usuário e o compartilhamento do conteúdo, das fotos, das impressões do fim
de semana na beira do mar precisavam esperar. A rotina era: fotografar com a máquina

3
Ao pé da letra, de acordo com o dicionário Priberam, a ubiquidade é onipresença, a capacidade de estar presente em
toda parte, a todo tempo. No sentido da mídia, Pavlik (2014) a define assim: “(...) ubiquidade implica que qualquer um, em
qualquer lugar, tem acesso potencial a uma rede de comunicação interativa em tempo real”. (p.2)
19
digital, chegar em casa e descarregá-la no computador. Aí sim o usuário fazia um upload a
partir do acesso fixo à rede: o computador, muitas vezes compartilhado por mais de um
membro da família.

Dessa perspectiva, pode-se criar uma imagem mental de como era a rede. Era
reduzida à localização das residências e computadores dos ambientes de trabalho. Era fixa.
Com a mobilidade, a produção e o consumo de conteúdo ocorrem em qualquer espaço,
reconfigurando-os e flexibilizando-os.

Para Castells (2000), que estrutura o conceito de sociedade em rede como uma
organização das nossas práticas sociais compartilhadas de forma temporal com um
funcionamento de fluxos, estamos diante de novas práticas que se aproximam de uma
“sociedade em rede móvel”. Em torno dela, orbitariam todas estas perspectivas
desencadeadas de forma mais massiva a partir do início do século XXI com a formatação da
estrutura da Web 2.0, das plataformas móveis e das conexões sem fio.

Na complementação da delimitação do que é esse ciberespaço, Lucia Santaella


(2009) afirma que ele não é um “território extranatural”. Ele não paira sobre “a fisicalidade
do mundo”. Ele é parte integrante de “um espaço de fluxos”. André Lemos (2004), que
também é usado pela autora como referências nessa conceituação, define assim: “(...) o
espaço de fluxos é a organização de uma nova estrutura específica, definida pela
concentração e descentralização territorial articulada por redes telemáticas, o ciberespaço”
(Lemos, 2004, p.6).

Nas palavres dele, “o espaço de fluxos reestrutura as cidades e dá forma às cidades


contemporâneas. (...)”, onde “a rede telemática é a infraestrutura central da cidade-
ciborgue”. (LEMOS, 2004, p. 6)

Em uma rede móvel, os nós desse ciberespaço são outros. Enquanto na Internet
fixa, os computadores, roteadores e servidores são os nós fixos, na rede alterada pela
cultura da mobilidade e pelo desenvolvimento tecnológico desterritorializante observados
nos últimos tempos, os celulares se tornam esses nós. Eles se deslocam pelos lugares junto
com os usuários. (SILVA, 2006).

Nesse movimento, não só os nós da rede se tornam móveis, mas também os


caminhos através dos quais os nós se movem configuram da rede. É uma comunicação que
acontece de qualquer lugar para qualquer lugar a qualquer momento.

20
As alterações dessa dinâmica de comunicação chegam à geografia da rede. Ela deixa
de ser fixa e o seu mapa se torna sempre mutante. Isso acontece devido às

“(...) ações grupais micro e macro coordenadas, naquilo que Rheingold


(2004, p. 195) chama de redes sociais ad hoc móveis, novas formas sociais
que nascem da junção da computação, comunicação e sensores de
localização, possibilitadas pela conexão móvel. Nesse contexto, ad hoc
significa que a organização entre as pessoas e os dispositivos desenvolve-se
de modo informal. Rede social, por seu lado, quer dizer que cada indivíduo
de um coletivo inteligente é um nó que tem laços sociais (canais de
comunicação e vínculos sociais) com outros indivíduos.” (Santaella, 2009, p.
133)

Com essa mudança de paradigma na cultura, contextualizamos e estabelecemos a


base de um ciclo da tecnologia marcado pela mobilidade e com reflexos diretos no modo
como consumimos mídia.
Nos próximos tópicos, vamos entender como é a adoção de inovações tecnológicas
pelas pessoas, como é a nossa relação corporal e cognitiva com os dispositivos criados com a
Sociedade em Rede, entender a organicidade do dispositos móveis e visualizar o alcance que
eles tem, além de compreender o que eles trazem de diferente quanto a interface. Assim,
chegaremos ao ponto de perceber como a relação deles com a forma massiva de leitura
contemporânea constroem o contexto do jornalismo móvel digital.

Tanto Barbosa (2013) como Lemos (2004) entendem que a era da mobilidade é a
característica do novo ciclo tecnológico por que passamos. Mas como as novas tecnologias
são adotadas pelas pessoas? A partir da admissão de que o ponto em que a cibercultura e o
desenvolvimento que os computadores chegaram são construídos pela ampla utilização do
uso dos dispositivos móveis no nosso cotidiano, é preciso entender como funciona essa
adoção da inovação tecnológica pelos usuários.
O desenvolvimento da tecnologia caminha como um jogo de proposições e
respostas entre a indústria, a pesquisa e o público. Nessa comunhão, os pontos de interesse
são só o que costumam garantir a adoção daquela inovação.
O processo de adoção da inovação é explicado dentro da Teoria de Difusão de
Inovações (ROGERS, 1995). De acordo com a teoria, uma inovação “envolve novo
conhecimento, mas pode ser também expressada em termos de persuasão ou uma decisão
para adotar determinada inovação”. (ROGERS, apud BARBOSA, 2013, p. 55).

21
A estrutura que forma a Teoria de Difusão de Informações é formada por quatro
elementos: a inovação em si, os canais de comunicação onde existe divulgação, o tempo e o
sistema social. Esses elementos se relacionam no formato que o autor chama de “curva de
modelo de adoção de inovação”. Nela, a difusão é vista como um processo em que “uma (1)
inovação (2) é comunicada através de certos canais (3) sobre o tempo (4) entre os membros
e um sistema social” (ROGERS, 1995, p.11).

Figura 1 - Imagem retirada de Diffusions of Innovation (ROGERS, 1995).

Entre os membros desse sistema social, vão existir os indivíduos que provavelmente
adotarão a inovação prontamente. Essas pessoas seriam os early adopters, que vão exercer
influência sobre outros grupos. Há os céticos que poderão resistir em alguma medida, mas
vão adotar o movimento no futuro. Em seguida, vêm os late adopters. De acordo com o
autor, essas ondas caminham até a inovação alcançar um ponto máximo, que pode ser
entendido por saturação. O resultado da saturação é a formação de uma massa crítica.

Essa adoção da inovação tecnológica, a consolidação da cibercultura e a alteração


da rede são a nova dinâmica de comunicação construída sobre o paradigma da mobilidade e
a aderência dos indivíduos aos ciclos de inovação aconteceram a partir da relação homem-
máquina. Assim, esses processos amadureceram acompanhados sempre das preferências
naturais do corpo humano e do aspecto cognitivo para interagir com a tecnologia.
Um objeto que fez sucesso como inovação e se tornou praticamente onipresente é
o celular. Por que esse protagonismo dos dispositivos móveis cresceu? Os estudos da
Interação Homem Computador (IHC) têm algumas respostas. Entre elas, muito tem a ver
com o aspecto do dispositivo mais próximo da gente: a interface.

22
1.2. Os dispositivos, suas gramáticas e a relação corpo-objeto

Nessa reconfiguração cultural causada pela cultura da mobilidade, há o aspecto


humano no relacionamento com o meio, no qual o dispositivo móvel “pede” a atenção
corporal e perceptiva do usuário. Independente se é, ou não, em um dispositivo móvel, a
“existência” corporal-mental do usuário é alterada. Nesse contexto, há uma profunda
intimidade dos equipamentos tecnológicos com a dinâmica que é ditada pelo corpo humano
e uma necessidade de sintonia gráfica – e de hardware - entre os elementos que compõe os
dispositivos com a forma com que nos relacionamos cognitivamente com cada um deles.
Da perspectiva humana, há uma posição que o corpo ocupa. Quando imergimos em
um conteúdo fazemos isso por meio de um espaço intermediador que garante a
comunicação e a relação entre o objeto e o corpo. De acordo com Santaella (2003):

“(...) mesmo quando acessa as redes, o corpo mantém a propriocepção


de sua existência carnal no espaço em que existe. De outro lado, as
interfaces transportam o aparato sensorial e perceptivo aumentado do
corpo para uma jornada imersiva em um mundo espectral.”
(SANTAELLA, 2003, p.313)

Derrick de Kerckhove (1997) entende a alteração no corpo humano como um vetor


que aumenta as possibilidades de interfaces sensoriais, de contato, com o mundo. O que a
tecnologia faz é potencializar os sentidos naturais do corpo. De acordo com o autor, “não é o
mundo que se está a tornar global, somos nós” (Kerckhove,1997, p.123). Assim, há uma
expansão das mentes e dos corpos, gerando pontos de vistas estendidos.
Todo esse movimento jaz sobre um ambiente chamado de interface, que é
responsável pela intermediação. De acordo com Santaella, o emissor não emitiria mais
apenas as mensagens, mas começa a construir um sistema com “rotas de navegação e
conexões”. E essas interferências se processam “sobre” uma tela ou interface.
Uma interface “é a parte de um sistema computacional com a qual a pessoa entra
em contato físico, perceptiva e conceitualmente” (MORAN, 1981 apud PRATES & BARBOSA,
2003, p.2). A interface, portanto, é intermediária.
Toda essa relação sobre uma interface e essa nova dinâmica de comunicação,
apresentada na primeira parte do capítulo, vão estar relacionados diretamente ao último
grau da evolução dos aparelhos de telefonia móvel: os smartphones. Mas, afinal, o que eles
são?

23
Neste trabalho, vamos utilizar a perspectiva de Love (2005), que entende o
smartphone como algo além da evolução da telefonia, como um híbrido entre os celulares e
os PDAs (Personal Digital Assistants). Os dispositivos móveis podem ser entendidos como
parte da quarta geração de computadores. De acordo com Kaamersgard (1998), esses
aparelhos passaram por quatro etapas de evolução na sua interação com o homem: uma em
que o usuário é entendido como máquina; em seguida, o computador é visto como pessoa;
depois o computador vira ferramenta (e aí nascem as proposições de usabilidade e design
agradável nas interfaces) e por último o computador é encarado como mídia. Nasce, então,
nesse cenário uma nova proposta de interação.
A partir da ideia de se entender esses aparelhos híbridos como CCM (Computadores
Coletivos Móveis), de acordo com Lemos (2005), é preciso voltar um pouco no tempo e
entender como essa máquina saiu dos laboratórios do Pentágono durante a Guerra Fria –
como computadores e suas redes - e chegou aos nossos bolsos, e como a relação desse
objeto com o nosso corpo foi construída pelas décadas, tanto de forma propositiva pela
indústria da tecnologia, como de forma reativa dessa mesma indústria, em resposta ao
comportamento humano.

Para Pedroza & Nicolau (2015), a tela, entendida como suporte até mesmo
analógico, se tornou fluida, onde podemos imergir4 com um toque, criando caminhos em
sintonia com as vontades do usuário.

“As inovações nos suportes da tela proporcionam, dentre algumas


considerações, novas formas de interação, dinâmica comunicacional,
mudanças de convivência e dos processos de pensamento e produção. São
recursos cognitivos que influenciam as formas de pensar e de viver do ser
humano. Embora alguns padrões permaneçam, como o conceito básico de
"tela" – um espaço de visualização que pode estar na parede de uma
caverna, na tabuleta de argila, em papel, numa pintura, na fotografia, no
cinema, na televisão ou no computador, porém, o que muda são os
processos estruturais para o seu uso e compartilhamento.” (PEDROZA &
NICOLAU, 2015, p.14)

4
Quando falamos de mídias, o conceito de imersão vai tratar das alterações sensoriais vividas enquanto entramos em
contato com o conteúdo. No caso de ambientes digitais, ela se caracteriza por ser interativa, decorrente da própria
estrutura digital em rede, onde o leitor faz escolhas de caminhos nas teias do hiperlink. Essa alteração sensorial acontece
com um protagonismo da experiência virtual e mental sobre a corporal-física. Como vimos há pouco, isso acontece sobre o
intermédio de interfaces, que “transportam o aparato sensorial e perceptivo aumentado do corpo para uma jornada
imersiva em um mundo espectral”. (SANTAELLA, 2003, p.313)
24
Essa imersão e essa “liberdade” de caminhos trazidos pelas mídias digitais
demonstra a existência de uma navegação não linear, na qual o antigo receptor se
transforma em usuário (alguém empoderado), que pode organizar sua navegação (Santaella,
2004). Um dos principais diferenciais que a mídia digital trouxe para o relacionamento com o
usuário é essa capacidade proativa de traçar seus caminhos, fazer buscas e construir sua
dinâmica de consumo de conteúdo. Não há mais só a recepção.

Uma das orientações mais conhecidas do processo de construção de interfaces é a


usabilidade, que pode ser definida como o “a facilidade com que o usuário acha o que
procura, entende o que esta fazendo e o que vai fazer, e também a satisfação pelo resultado
obtido, de acordo com seu objetivo.” (VILHEGAS & SILVA, 2013, p.10)
Com o objetivo de se construir dispositivos e ambientes que levem o corpo em
consideração, os estudos da Interação Homem-Computador apresentaram diretrizes para
alcançar o objetivo de garantir a comunicação efetiva entre as partes.
Tendo em vista esses dois dispositivos e sua similaridade no que se refere a
apresentarem interfaces, há também gramáticas próprias derivadas de suas características
físicas, de hardware e dos propósitos que ambos tem quando lançamos mão deles. Vamos a
essas diferenças.
Uma palavra que pode resumir a gramática da interface dos computadores
desktops é: janelas. A perspectiva multitarefa é um dos pontos que caracterizam esses
dispositivos. Na história das interfaces desse dispositivo, há divergências sobre quem
desenvolveu os primeiros rascunhos do que viria a ser a interface de um computador como
conhecemos, com janelas, ícones, cursor etc. Domingues (2001, p. 33) dá o crédito a Ivan
Sutherland, cientista do MIT (Massachussets Institute of Technology) para a invenção da
primeira interface gráfica de computador. Ela fazia parte do SketchPad. No programa, os
usuários podiam “desenhar”, criar linhas, círculos e pontos. Mas Novais (2008) e Reimer
(2005) preferem creditar tal invenção a Engelbar.

“Uma das primeiras versões das interfaces gráficas de usuário (GUI –


Graphical User Interface) que conhecemos hoje, com janelas, botões,
menus, mouse, foi apresentada 1968 por Doug Engelbart, e se chamava
MEMEX. Engelbart havia se inspirado no ensaio de Vannevar Bush,
concretizando o projeto de um processador de informação que pudesse
ser explorado pelo usuário, abrindo caminhos a partir dos dados
armazenados, um conceito muito parecido aos nossos atuais
navegadores. Foi Engelbart quem gerou a possibilidade de manipular,

25
com a ajuda do mouse, os elementos computacionais representados na
tela por um símbolo gráfico.” (NOVAIS, 2008, p. 26.)

Citando Lévy (1993), Novais (2008) aponta que o estipulado por essa primeira
interface se manteve na gramática desses dispositivos. A tela de múltiplas janelas de
trabalho, as conexões associativas (hipertextuais) em bancos de dados ou entre documentos
escritos por autores diferentes; as representações gráficas, estruturas conceituais e os
sistemas de ajuda ao usuário, integrados aos programas são os pontos que permanecem
desde Engelbar.
Engelbar é o primeiro nome da linha cronológica, mas a ideia da representação em
tela com possibilidade de manipulação daqueles objetos digitais foi absorvida por diversas
empresas e pesquisadores, como a Xerox, Apple e Microsoft. O pesquisador do Xerox PARC
(Palo Alto Research Center) Alan Kay deu continuação ao trabalho de Engelbart e apresentou
o conceito de metáfora. Assim, nas telas haveria uma representação de uma mesa de
trabalho. A partir dali, a relação entre homem e máquina passa a levar em conta fatores
humanos e tem como fundamento a democratização do acesso. Assim, há uma a valorização
do humano, do que os usuários podem fazer com as máquinas e satisfazer suas
necessidades.
Com esse pontapé, o computador vai deixando de ser uma calculadora para um
dispositivo de representação no ambiente digital e com possibilidade de convergência de
mídia, além de editor de textos.
Assim, a principal diferença na gramática e no design de um computador com os
dispositivos móveis se dá no contato. Nos computadores (desktops), geralmente os ícones
respondem a um cursor de mouse. No contato touchscreen, os ícones respondem a dedos.
Essa diferença no tamanho do ponto de contato foi uma das coisas que balizaram o design
de interfaces para dispositivos móveis. Na tela de um celular, a lógica de distribuição de
opções de toques é diferente. Há menos camadas e opções mais objetivas. Ambas, porém,
trazem a interação como pilar:

“[...] a atividade do usuário diante da tela interativa não pode ser


reduzida a dinâmica entre texto e mise en page: a essas gramáticas
(textual e gráfica) se agrega uma terceira, uma gramática da interação
que inclui botões e ícones para navegação hipertextual, os dispositivos
para a personalização da interface, os mecanismos de feedback, as
seqüências operativas e todas as ações que o usuário deve executar para
obter um resultado predeterminado. A gramática da interação contribui
26
não só para impor uma maneira de ler, mas sobretudo, uma maneira de
fazer”. (SCOLARI, 2004, p. 105)

Com as telas touchscreen dos dispositivos móveis, - que se popularizam na segunda


metade dos anos 20005 - nasce a interação gestual imersiva no contexto digital móvel. O
toque é a nova forma como nos relacionamos com os computadores, principalmente no que
se refere ao consumo de conteúdo. A manipulação pelo mouse, que, com a movimentação
em base plana, gera movimentos correspondentes no software, na tela, está perdendo
espaço.
Com esses dispositivos começamos a viver uma “manipulação” direta, conceito de
Ben Shneiderman (1982). De acordo com o autor, o processo envolve ações dos usuários
sobre representações de elementos virtuais na interface e oferece uma certa analogia entre
o cursor e a mão. O uso de superfícies touchscreen faz parte do conceito e simboliza uma
progressão na “proximidade” entre a interface e o corpo, sem o intermédio de um mouse ou
caneta. Portanto, a relação do corpo com o dispositivo móvel pode ser entendia como mais
orgânica.
Para Oliveira & Paulino (2013), que se apoiam em Saffer (2009), a interface gestual
faz parte de uma nova era das interfaces, que são construídas levando o corpo em
consideração e é um design de interfaces baseadas na natureza ou em elementos naturais
humanos. O autor citado explica que “um gesto pode ser considerado como qualquer
movimento físico detectado através de sensores por um sistema digital, ao qual poderá
responder sem o auxílio de mecanismos tradicionais, como mouses ou canetas” (SAFFER,
2009, p.2).
Se nos computadores, a gramática é a da representação acessível via cursor e
disposição do conteúdo por janelas derivadas de programas executados, nos smartphones –
que é o que vamos considerar neste trabalho – há o desenho de uma grade de ícones e um
acesso único – e não multitarefa – ao programa escolhido. Esta característica em que um
aplicativo está disponível por vez e a tela não é dividida com programas pode derivar de um
dos pontos da lista de que compõe o perfil do usuário de smartphone: a facilidade de
distração.

5 O experimento da tela touchscreen existe há mais tempo, mas a popularização comercial de celulares com telas
dedicadas aos dedos – e não a canetas – acontece com a alta convergência dos smartphones, que trouxeram a inclusão do
teclado e expansão da tela à toda área frontal do aparelho como diretriz.
27
Essa lista a que me referi é formada por pontos elencados por Love (2005), Ballard
(2007) e Cybis et al. (2007) que tratam do perfil do usuário de smartphones, diferenciando-o
do computador. Esses usuários têm, então:

• mobilidade e mudança de ambiente durante o uso do dispositivo;


• chances de interrupção de uso e uma facilidade de distração;
• disponibilidade para contato e acesso;
• são sociáveis e “pedem” uma adaptação do dispositivo à sua situação;
• tem identificação e personalizam o aparelho; tem habilidade espacial;
• tem personalidade projetada (como vimos no primeiro ponto do capítulo, o
aparelho começa a fazer parte da identidade do dono);
• exigem o uso da memória de curta duração; usam os dispositivos com uma
certa experiência prévia.

Assim, vemos que esse o usuário interage de forma diferente e tem necessidades
diferentes. A facilidade de distração está relacionada com a simplicidade e a objetividade no
acesso ao que se quer acessar nos celulares. De acordo com Maeda, isso se reforça no
smartphones devido à tela reduzida.

“Simplicidade, orientação hierárquica clara e diminuição de passos para o


acesso à informação são importantes em dispositivos que têm limitações no
tamanho de suas telas e cujos usuários estão constantemente sujeitos à
interrupção da tarefa e atividades paralelas” (MAEDA, 2006, APUD
PADOVANI & PUPPI, 2013, p.14 ).

Se há um novo paradigma de interação, ele é o dominante. Esses aparelhos com


essa gramática do toque se popularizam e se tornaram protagonistas na vida cotidiana.

1.3. A popularização dos dispositivos móveis e a evolução dos celulares

Apesar da popularidade de celulares e palms que serviram como planejadores no


começo da década, a comunicação ainda era precária no fim dos anos 2000. Os primeiros
dez anos do século XXI forma marcados pela ascensão da banda larga no Brasil, mas os
dispositivos móveis ainda ensaiavam uma comunicação efetiva. Apenas em 2008, depois de
ter passado por uma licitação pública em 2007, as operadoras de telefonia móvel
começaram a implantar o sistema conhecido como 3G, com alta capacidade de transmissão

28
de dados. Assim, a possibilidade do surgimento de efetivos smartphones e, mais adiante, de
tablets só foi possível devido a essa tecnologia de transmissão.

Figura 2 – Imagens de palmtops e celulares de primeira geração - Fonte: Google Images.

Figura 3 – Smartphones de última geração – Fonte Google Images.

Com a implantação da rede 3G e o lançamento de celulares com mais


funcionalidades de conexão, havia, à época, uma expectativa positiva sobre o crescimento
do uso dos aparelhos. Os aparelhos iniciaram, então, um processo de assimilar as funções de
outros dispositivos, como já havia ocorrido com computadores, agendas eletrônicas e palms.
Quando há a incorporação, eles dão origem aos smartphones que usamos (MORIMOTO,
2009). Um termo que pode definir bem o que é o smartphone é alta taxa de convergência de
antigos gadgets analógicos em um celular com alta capacidade de comunicação. Assim, há o
poder de levar o trabalho e o lazer para qualquer lugar.

29
Não é só de celular que é feita a cultura da mobilidade e a vida contemporânea.
Dentro do que chamamos de dispositivos móveis, que trazem uma perspectiva mais
interacional de meio tecnológico, os tablets também fazem parte dessa esfera. Como no
celular, eles têm a perspectiva da convergência tecnológica, com uma confluência de “telas”.
Hoje, há inserido nos celulares e tablets o livro, a revista, a fotografia, a TV, o cinema. Eles
fazem parte da quarta dela (PEDROZA & NICOLAU, 2015).

Como o celular, o tablet é portátil e carrega as características de ubiquidade e


personalização. Oliveira e Paulino (2013) o definem como “um aparelho digital, portátil,
pessoal e em formato de prancheta; além disso, dotado das capacidades básicas de um
computador e habilitado a desencadear ações que respondam ao toque em sua tela (cujo
tamanho varia, em geral, de 7 a 10 polegadas).” (OLIVEIRA &PAULINO, 2013, p.9)
Ainda de acordo com a autora, os princípios desse dispositivo nascem em paralelo
com a ideia no século XX de um telefone móvel. Apesar de ter sido aceito com mais força
pelo mercado consumidor depois do sucesso de smartphones, por volta de 2010, quando a
empresa Apple criou o iPad e popularizou o dispositivo, as tentativas de implantar essas
pranchetas na lista de dispositivos tecnológicos indispensáveis existe há mais tempo.
Apenas com o iPad, o mercado de tabletes teria compreendido o caminho –
direcionado pela Apple – que deveria ser construído nos aparelhos, percebendo quais
parâmetros do design de interfaces e da usabilidade o aparelho pedia. Oliveira cita o início
desse processo com o cientista norte-americano Alan Kay em 1968, que projetou o
computador Dynabook, destinado a crianças. Ele tinha o tamanho de um caderno e cerca de
1,8 kg. Em 1983, a Apple contratou uma empresa de design para criar o conceito de um
tablet denominado “Bashfu”. O computador portátil possuiria uma base com teclado, um
drive de disquetes e alça para transporte. A interação com o objeto seria com uma caneta
usada para a seleção de ícones na tela.

1.4 Tablets versus smartphones

Apesar do sucesso de vendas e as projeções das adesões começarem a apontar uma


linha para cima, com o número de vendas superando o de computadores como desktops e
notebooks, o tablet ficou pelo caminho durante os primeiros anos dessa segunda década do
século XXI e as vendas estagnaram. Ele virou um aparelho de nicho e os smartphones
conseguiram, com o aumento no tamanho da tela, fazer o papel que acreditava-se ser o do

30
tablet: o uso para consumir conteúdo multimídia e de forma mais imersiva. Ganhou a
praticidade. Para Barbosa (2013), o smartphone é o aparelho que representa mais a ideia de
Mc Luhan de meios como extensão do corpo. De acordo com autora, ele é “mais extensão
da mão do que o tablet”. (BARBOSA, e SEIXAS, 2013, p. 66)
No Brasil, segundo a empresa de consultoria IDC – Analyze the future6, a venda dos
aparelhos caiu 38% em 2015 na comparação com 2014. Desde 2010 em onda crescente, os
dispositivos apresentaram no ano a primeira queda em relação ao ano anterior. A venda foi
de cerca de 5,7 milhões de unidades. Em 2014, foram vendidas cerca de 9,5 milhões de
dispositivos. Para o ano de 2016, a previsão era de que fossem vendidos 29% a menos que
em 2015: 4,1 milhões de unidades.
De acordo com a pesquisa The State of Mobile 20167, do Instiuto Flurry, da Yahoo,
os usuários de smartphones estadunidense passaram em média 5 horas por dia nos seus
aparelhos. O protagonista na vida contemporânea virou o celular, que inerentemente
convergente, absorveu os interessados em investir em tablets.
O Programa Nacional de Análise de Domicílios do IBGE e seu braço de pesquisa na
área da tecnologia começou a estudar o acesso à Internet no Brasil por meio de outros
dispositivos além dos desktops e notebooks em 2013. Há, no país, domicílios onde o acesso
à rede é feito exclusivamente por smartphones e tablets. Em 2014, 8,6 milhões das 36, 8
residências que têm acesso à Internet têm moradores que acessam a internet em casa por
dispositivos móveis. Em 2013, eles eram apenas 3,6 milhões, segundo o documento Acesso à
Internet e à Televisão e Posse de Telefone Móvel Celular para Uso Pessoal. A pesquisa foi
feita pelo IBGE em parceria com o Ministério das Comunicações8.

O estudo também mostrou que, apesar de ter invertido para baixo as projeções de
venda no ano de 2014, como mostra a pesquisa da IDC, o tablet está em cerca de 16,5% dos
domicílios brasileiros. Segundo dados do Suplemento TIC 2014, 11,1 milhões (16,5%) de
domicílios particulares permanentes do País tinham tablet, o que representa um aumento
de 5,7 pontos percentuais em relação a 2013. Dentre aqueles com tablet, mais da metade
(6,1 milhões) situava-se na Região Sudeste, onde a proporção de domicílios com esse

6
Informações da IDC disponíveis em http://br.idclatin.com/releases/news.aspx?id=1973
7
Informações disponíveis no blog do Instituto http://flurrymobile.tumblr.com/post/157921590345/us-consumers-time-
spent-on-mobile-crosses-5
8
Disponível em ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/acessoainternet2014/default.shtm
31
aparelho era de 20,8%, o mais alto registrado entre as Grandes Regiões. A menor proporção
foi estimada para a Região Norte (8,6%).
Neste cenário dúbio entre tablets e smartphones, quem ganhou foi o segundo.
Nenhum outro dispositivo passa tanto tempo na rotina do cidadão contemporâneo como o
celular. O sucesso do aparelho pode ser atribuído à ubiquidade, em que podemos sempre
estar disponíveis para interagir, garantida pelo aparelho e pela colaboração que o dispositivo
tem na construção – e reafirmação – da identidade individual de cada um (Canavilhas, 2012).
A constituição da personalidade também é fortalecida pelo caráter de “acessório de moda”
que os aparelhos têm (Ling, 1998; Lasen, 2002).
Em pesquisa sobre como o brasileiro acessa a Internet, o Plano Nacional de Análise
de Domicílios (PNAD), do IBGE, mostrou que em 2014 o “contingente de pessoas com 10
anos ou mais de idade que tinham telefone móvel celular para uso pessoal era de 136,6
milhões, o que corresponde a 77,9% da população do País nessa faixa de idade.” (PNAD,
2016, p.50)
Hoje, o mercado de smartphones é ocupado principalmente pelas empresas de
tecnologia Apple e Samsung. A primeira delas pode ser considerada a percursora em
delimitar os formatos com que os novos dispositivos móveis deveriam seguir em frente,
ainda de acordo com Pedroza e Nicolau. Em pesquisa de análise de mercado de celulares no
mundo, a IDC apontou que, em 2014, 24,8% do smartphones mundiais são da marca
Samsung. A Apple ocupa o segundo lugar com uma fatia de 11,7%.
Se voltarmos ao cenário descrito anteriormente nesse capítulo, em que citamos o
exemplo de uma família que decidiria passar seu final de semana na praia por volta do ano
de 2007, podemos reconhecer como os meios de acesso a uma estrutura de rede fixa eram
coletivos. Havia pouca margem para personalização, causada pela imobilidade dos desktops
e mobilidade restrita de notebooks e laptops. Aí, entra a capacidade imersiva que os
dispositivos móveis apresentam em maior grau ao usuário.

Portanto, os traços que distinguem as plataformas podem ser divididos em três: 1)


elas fortalecem e vêm de uma vinculação com a identidade do usuário; 2) elas fazem com
que estejamos expostas a elas de forma permanente; 3) e a conectividade passa a depender,
então, não do lugar, mas da pessoa. (AGUADO, CASTELLET, 2010).

Nessa caracterização exposta pelos autores, podemos enxergar que essas


definições se complementam. A ubiquidade e mobilidade dos aparelhos celulares, por
32
exemplo, reforça-os como dispositivos pessoais, personalizáveis e leva-os para o mais
vinculado com a identidade do usuário dentre os que compõem o que pode chamar de
“ecossistema digital contemporâneo” (Barbosa, Seixas, 2013). Para Kerckhove (1993), cada
novo dispositivo cria uma nova cultura.
A cultura da mobilidade que surge quando o celular adquiriu o status de
protagonista, se olhada mais de perto, mostra um forte caso de mediatização, processo
social onde as relações humanas são mediadas pelas mídias.

Não foi só o mercado de tecnologia e os indivíduos que se entusiasmaram com o


tablet, mas se viram preferindo smartphones. Uma área que abraçou o dispositivo e viu ali a
salvação para uma crise no modelo de negócios foi o jornalismo. Em certa medida, toda área
da comunicação social “prendeu a respiração” para entender onde estaria o consumidor de
conteúdo ao longo dessa segunda década do século XXI. Com o tablet aposentado na gaveta
e o consumo de informação aumentando nos smartphones, o jornalismo se perguntou:
como a gente alcança esse leitor?

Por trás da resposta dessa pergunta há um cenário duro às redações. Desde o


começo dos anos 2000, a indústria das notícias atravessa uma crise e vem se perguntando
como rentabilizar o acesso online. No próximo capítulo, vamos percorrer esse caminho.

Figura 4 –Ipad Pro (Apple, 2016) - Galaxy Tab S3 (Samsung, 2016) – Fonte: Google Images.

33
CAP.2 – OS DISPOSITIVOS MÓVEIS E O JORNALISMO

2.1 O leitor de notícias e novos comportamentos de leitura

O ritual de consumo de notícias está relacionado com a forma com que o leitor
percorreu as mídias enquanto a tecnologia dos suportes se desenvolvia. Se há uma
comunicação ubíqua, uma cultura da mobilidade estabelecida, como abordamos no primeiro
capítulo, há também outro tipo de consumidor de signos, significados e textos (no seu
sentido mais amplo). Há, então, um leitor ubícuo (Santaella, 2014).
Santaella traz essa nomenclatura 10 anos depois de ter descrito os perfis cognitivos
dos leitores: contemplativo, movente e imersivo. Antes de abordarmos a quarta – e mais
recente – definição da autora, é importante esclarecer nesse trabalho como, em paralelo ao
desenvolvimento tecnológico das mídias, a cognição9 e a formas de leitura se modificaram.
A leitura contemplativa é aquela que perdurou como única forma da Renascença –
quando houve uma explosão das ideias, dos livros, da arte e da ficção - até a revolução
industrial. Era um leitor que parava, se dedicava ao texto – ainda como uma unidade de
sentido - com entrega, com uma prática quase reclusa. Era uma leitura individual, solitária e
fixa, sem muitas alterações da atenção.
Neste contexto, a escolha pela leitura é deliberada pelo leitor. Ele não é
“surpreendido” pela informação como começa a acontecer quando a revolução industrial
alastra os suportes de informação e o cotidiano fica com uma velocidade de fluxo de
informações em um grau maior do que o vivido nas épocas e contextos fora da vida urbana.
É aí que surge um novo perfil de leitor: o leitor movente. De acordo com a autora,
há uma “fragmentação das coisas” quando surgem as metrópoles, o capitalismo avança e a
tecnologia altera a relação com o tempo e o espaço do ser humano. Os estímulos passam a
ser muito maiores e a instabilidade e o excesso viram parte da dinâmica pós-revolução
industrial. A atenção, então, é instável e começa a se mover – porque aí os suportes não são
mais fixos. As cidades ganham placas, outdoors, as vitrines têm cartazes, os jornais nascem e
fazem sua miscelânea de histórias.
Assim nasce um leitor “de memória curta, mas ágil”, capaz de alternar sua leitura por
diversas linguagens. Esse é um leitor que começa a esbarrar nos textos pelo seu cotidiano e

9
Nesta parte do trabalho, vamos entender “cognição da leitura” como experiência sensorial.
34
aprende a transitar por eles. De acordo com a autora, isso se acentua com o surgimento da
televisão. Santaella afirma que o leitor dos livros, que é meditativo e “observador ancorado”
começa a viver com o leitor movente, que é “leitor de formas, volumes, massas, interações
de forças, movimentos; leitor de direções, traços, cores”. (Santaella, 2014, p.4)
Essa dinamização do perfil do leitor prepara o leitor para mais uma transformação,
quando a tecnologia apresenta a Internet. Surge o leitor imersivo. Esse novo leitor traz um
hábito de leitura completamente diferente dos anteriores porque ele faz seu consumo sobre
a espacialidade virtual, em um ambiente projetado, abstrato e que tem a geografia de uma
rede sem início ou fim, simplesmente estabelecida.
Para entender esse comportamento, é importante entender um dos fundamentos da
Web, que é a estrutura do hipertexto. Na Internet, de acordo com Canavilhas, “o texto
transforma-se numa tessitura informativa formada por um conjunto de blocos informativos
ligados através de hiperligações” (CANAVILHAS, 2014, p.10). Os links são, portanto, todas as
opções de caminhos. É importante ressaltar que esses três tipos de leitores não se excluem,
mas se complementam e coexistem.

O leitor ubíquo, por sua vez, tem uma fiel conexão com os dispositivos móveis,
segundo Santaella. É um perfil cognitivo possível por causa deles. Entendem os aparelhos
como composição de sua personalidade e os colocam na prática da leitura contemporânea.
Como vimos no primeiro capítulo, eles viraram protagonistas e a representação tecnológica
da cultura da mobilidade. De acordo a autora, é um leitor que acaba misturando o perfil
cognitivo de leitor imersivo com o movente.

“O acesso passa a se dar em qualquer momento e em qualquer lugar.


Acessar e enviar informações, transitar entre elas, conectar-se com as
pessoas, coordenar ações grupais e sociais em tempo real tornou-se
corriqueiro. Assim, o ciberespaço digital fundiu-se de modo indissolúvel
com o espaço físico”. (SANTAELLA, 2014, p.8)

Na mistura das características desses dois tipos de leitor, o leitor ubíquo é


caracterizado pela sua prontidão cognitiva em mudar de um contexto imersivo ao contexto
disperso. Portanto, o leitor ubíquo herdou do leitor movente a flexibilidade, a alternância, a
variação na atenção e herdou do leitor imersivo a entrega e o “perder-se” no ciberespaço.
Santaella mostra como esse leitor também é em parte imersivo justamente quando se

35
abstém da fragmentação informacional em que seu corpo está e com um toque penetra no
ciberespaço informacional (SANTALLEA, 2014).

Nesse leitor, a atenção terá uma característica de ser parcial e contínua e tem um
perfil cognitivo que não deixa espaço para a contemplação. Como os celulares são “o”
aparelho da convergência midiática hoje e são inerentemente móveis, eles encaixam como o
par perfeito do leitor ubíquo. Um não vive sem o outro.

“[Os celulares] Não são mais simplesmente dispositivos que permitem a


comunicação oral, mas sim um sistema de comunicação multimodal,
multimídia e portátil, um sistema de comunicação ubíqua para leitores
ubíquos, leitores para os quais não há tempo nem espaço para a
reflexão, a reflexão, este tipo de habilidade mental que precisa do
tempo para se tecer e que, por isso mesmo, é característica primordial
do leitor contemplativo”. (SANTAELLA, 2014, p. 10)

Assim, resumimos nossos perfis cognitivos como disponíveis e interessados em


acompanhar o percurso de desenvolvimento tecnológico das mídias e suportes,
respondendo aos dispositivos apresentados pela indústria tecnológica. Um determinismo
tecnológico 10que gera mudança do perfil do homem como consumidor de conteúdo e
consequências nas estratégias da indústria da mídia e do entretenimento em seguir e ocupar
esses espaços novos.

2.2 O jornalismo digital e os suportes de leitura

Esse percurso cognitivo do leitor que abordamos, acompanhando os suportes, é


base para falarmos de outro percurso que ocorreu em decorrência dele: o jornalismo para a
internet, que seguiu o caminho desse indivíduo e chegou aos smartphones. Antes de
chegarmos ao ponto de entender como o aumento do consumo de conteúdo em
dispositivos móveis reorientou a indústria jornalística, é preciso voltar no tempo e olhar para
os primeiros movimentos da mídia em ocupar a Internet e os suportes.

No capítulo anterior, passamos pelos estágios da tecnologia e vimos como o último


ciclo, o da mobilidade, alterou também a cultura. O ponto inicial e o contexto social onde a
indústria da mídia ocupa o espaço da web é a consolidação da Sociedade em Rede, conceito

10 O determinismo tecnológico se refere a como o desenvolvimento da tecnologia afeta, configura, influencia e altera as
relações sociais, se consolidando como fator de causalidade na vida em sociedade. É uma perspectiva que afirma que a
tecnologia é um pilar de sustentação do padrão de organização social.
36
de Manuel Castells. De acordo com o autor, a consolidação dessa dinâmica contemporânea
modifica a cultura, a economia, o tempo e as relações sociais das comunidades que possuem
uma determinada base tecnológica (CASTELLS, 1999).

E por que foram os jornais impressos as primeiras empresas jornalísticas a apostar


na Internet, quando estávamos começando a acessar os conteúdos em desktops? De acordo
com Canavilhas (2014), o texto como mídia já era trabalhado eletronicamente no fim da
década de 80, sendo então um conteúdo já fácil de ser digitalizado. Com a baixa velocidade
de transmissão de dados da época, a notícia em texto do jornalismo impresso é o primeiro
dos formados jornalísticos a ingressar na web. O outro fator que é ajudou é que os
programas de edição que haviam se popularizado no fim da década de 80, garantindo uma
paginação mais rápida e flexível já permitiam exportar versões finais em HTML11.

De acordo com Palacios, a Web estabeleceu de forma definitiva uma relação de fluxo
de consumo jornalístico. O autor aponta que, antes do rádio e da TV, a informação chegava
às pessoas em doses marcadas pelo jornalismo do dia após dia.

“(...) de maneira abrupta, passamos de uma situação em que (por mais


de cem anos), uma ‘ração diária de realidade’, uma seleção daquilo que
os profissionais da informação singularizavam em nosso entorno como
‘aquilo que era preciso saber’ nos era servida, formatada como um
jornal diário, colocado à mesa do café da manhã a cada 24 horas, para
uma situação em que essa mesma ‘realidade’, essas “marcas
particulares de instantes factuais” (Sodré, 2009, p. 94), jornalisticamente
selecionadas e construídas, passaram a fluir de maneira contínua e
ininterrupta, ou quase. (PALACIOS, 2014, p.93)

Com a Web, o fluxo perde definitivamente marcações temporais e o consumo de


informações em nossas vidas é “em tempo real”. Assim, o ritual de consumo de notícias fica
mais dissolvido no cotidiano, se misturando com os momentos dos nossos outros hábitos.

Com a necessidade de criar uma terminologia apropriada para a prática de


jornalismo na Internet, havia uma discussão sobre quais nomes eram ideais. Jornalismo
digital, jornalismo online e ciberjornalismo eram alguns dos conceitos usados de forma
aleatória. Ora para significar uma coisa. Ora para significar outra.

11
Ao pé da letra, HTML é a linguagem do hipertexto ( HyperText Markup Language). É com ela que se constrói uma página
do web. Quando documentos são finalizados nesse formato, podem ser interpretados por navegadores e podem ter
recursos interacionais.
37
No Brasil, a pesquisadora Luciana Mielniczuk (2003) apresentou uma taxonomia
definitiva para os estudos da área. Assim, a autora decide propor um processo em que os
meios tecnológicos nos quais as informações são trabalhadas seriam um critério para se
elaborar a nomenclaturas da prática jornalística. Com o princípio definido, a autora
caracteriza as cinco nomenclaturas mais utilizadas: jornalismo eletrônico, digital,
ciberjornalismo, jornalismo online e webjornalismo.

Tabela 1- Retirada de "Sistematizando alguns conhecimentos sobre jornalismo na web”


(Mielnicicuk, 2003).

A autora Luciana Mielniczuk, apoiada posteriormente por outros autores, defende


a tese de John Pavlik (2001) de que a trajetória do webjornalismo antes de do fenômeno da
mobilidade aconteceu em três fazes.

A primeira delas é marcada por um comportamento de transposição do conteúdo


e da manutenção das diretrizes e métodos jornalísticos da realidade analógica e impressa
para a digital. Essas primeiras investidas teriam sido neste modelo de reprodução porque o
novo campo ainda seria desconhecido.

É possível, então, afirmar que a primeira fase do jornalismo digital se resume em


transposição, além de que a Internet ainda não era encarada com outra mídia, com suas
especificidades. É preciso relembrar que a interface onde isso acontecia era exclusivamente
o browser dos desktops.

38
A autora nomeia a segunda fase como a fase da metáfora, com as primeiras
experimentações dos recursos da Internet, como os hiperlinks e a comunicação via e-mail
com leitores e assinantes.

Essas duas primeiras fases ainda se caracterizam como um jornalismo digital e não
eram propriamente um webjornalismo, segundo Mielniczuk. Quando as experiências das
mídias chegam ao fim da terceira fase é que se pode chamar essa indústria de
webjornalismo, onde há originalidade, independência, inovação e regras próprias.

Enquanto passava por suas fases, o webjornalismo se constituiu com alguns


princípios e características. Neste trabalho, não aprofundaremos nestas características, mas
vale citar como é o fazer jornalístico na web. Apesar de alguns autores utilizarem uma lista
de características que varia um pouco, aqui vamos tomar a proposta de João Canavilhas
(2014) como a adequada, que envolve os pontos de: hipertextualidade, multimidialidade,
interatividade, memória, instantaneidade, personalização e ubiquidade12.

2.2.1 Jornalismo, mobilidade e dispositivos

Quando começamos a falar sobre jornalismo para dispositivos móveis, estamos


falando, conceitualmente, de um novo tipo de jornalismo digital mesclado com
webjornalismo. Como nova plataforma, como novo terreno – com sua própria
gramaticalidade e características novas no que se refere ao hardware – o jornalismo para
dispositivos móveis tem mais a ver com a progressão histórico-tecnológica do termo
jornalismo digital. Ao tratar da questão do design de interfaces, estratégias de
direcionamento da audiência via redes sociais e sites de buscas, mudanças editoriais,
alterações nas dinâmicas de apuração do repórter e conteúdo multimídia, estamos nos
referindo ao webjornalismo.

Para Susana Barbosa e Lia Seixas, esse cenário de inovação atual, no qual surge o
jornalismo mobile tem como norma a convergência. De acordo com a autora, nesse cenário
de convergência jornalística, o que se vive é a comunicação móvel e os dispositivos móveis
como celulares, smartphones, e-readers e tablets são “os objetos principais da mobilidade,

12
No livro “Webjornalismo – 7 características que marcam a diferença”, Canavilhas organiza sete artigos que expandem a
discussão sobre essas características.
39
os quais, como vetores de mudança, afetam sobremaneira os conteúdos informativos, as
formas de produção, distribuição e consumo.” (BARBOSA & SEIXAS, 2013, p.7)

Tendo essa premissa, devemos pensar a mobilidade dentro do jornalismo


considerando que esse é um processo consequente de um caminho que parte de um
processo de “digitalização vinculado à computação” nas redações a partir da década de 90.
Já havia sinais iniciais de ubiquidade e portabilidade então.

Citando diversos autores como Briggs (2007), Srivastava (2008), Pardo Kuklinski,
Brandt & Puerta (2008), Firmino (2009) também aponta essa naturalidade, lembrando que
em um contexto histórico, o jornalismo sempre foi construído com a tecnologia como pano
de fundo. Além disso, o caminho em direção à mobilidade também já faria parte
intrinsecamente da mídia.

“O jornalismo, dentro de um contexto histórico amplo, foi construído


tendo como background a tecnologia, a busca pela mobilidade e a
instantaneidade para a produção e emissão da notícia. Estas fronteiras
se entrecruzam de forma mais tênue na atualidade com a
disponibilização de um “ambiente móvel” para a condução de
reportagens de forma remota através de estruturas formadas por
tecnologias móveis digitais e conexões em banda larga 3G”. (Firmino,
2009, p.78)

De acordo com a pesquisa Digital News Report 201613, mais da metade das pessoas
(53%) entrevistadas afirmaram usar smartphones para acessar as noticiais. Em alguns países,
como Suécia, a taxa chega a 69%. Neste ponto da pesquisa, é demonstrado a curva
ascendente desses dados. Nos Estados Unidos, em 2013, quem dizia utilizar o smartphone
para acessar noticiais eram 30% dos entrevistados. No relatório de 2016, o número é de
46%.
Quando perguntados quais entre os três aparelhos listados (computador,
smartphone ou tablet) as pessoas usaram para acessar notícias na semana em que a
pesquisa foi feita, a média global foi de 53%. Comparando com os dados das pesquisas
anteriores, o acesso via computador caiu e por tablet estabilizou.

13
Digital News Report 2016 está disponível em http://reutersinstitute.politics.ox.ac.uk/sites/default/files/Digital-News-
Report-2016.pdf. Vale ressaltar que a pesquisa excluiu pessoas que afirmaram não consumir notícias de qualquer natureza
nos últimos 30 dias anteriores do levantamento.
40
Mas que diferenças a prática jornalística mobile trouxe depois dessa consolidação do
webjornalismo?

Há dois pontos dos quais partiremos para abordar a questão: o jornalismo mobile
tem, de um lado, o leitor que lê notícias de forma ostensiva pelo seu celular (aí, já
completamente imerso no contexto social da cultura da mobilidade) e a indústria jornalística
e de entretenimento, por isso, alteram sua produção de conteúdo para essas plataformas e
para um novo comportamento de consumo.
Como aponta Firmino (2015), há alteração de dinâmicas nessas duas esferas da
prática jornalística, tanto no âmbito da produção da notícia, como no que se refere à
disseminação e representação do conteúdo de mídia dentro das plataformas, sempre
acompanhando o leitor.

O jornalismo móvel não seria, então, um último estágio do webjornalismo, mas tem
seu desenvolvimento em paralelo a ele porque não diz respeito à apenas linguagem.

Esta prática da relação entre dispositivos móveis e o jornalismo também teve suas
fases e é caracterizada por uma lista que demonstra que o jornalismo móvel se constrói em
cima de três pilares: a expansão da mobilidade através das tecnologias móveis, a
geolocalização e a mobilidade do consumidor de informações. Firmino (2015) explica que
essa expansão com as tecnologias móveis e sem fio:

“(...) desencadeou uma nova relação entre jornalismo e mobilidade


com a apropriação dos territórios informacionais enquanto espaços
para conexão e fluidez de conteúdos” (FIRMINO, 2015, p.12).

O segundo ponto, da geolocalização, “permite a contextualização do local de


emissão, aparecendo como um valor agregado às narrativas conduzidas diretamente dos
locais da emissão” (FIRMINO, 2015, p, 13). Já a mobilidade do consumidor de informações
vêm como desafio à mídia porque isso “demanda por atualizações de forma mais frequente,
pressionando a produção” (FIRMINO, 2015, p.13).

O autor também ressalta, quando apresenta as cinco fases do jornalismo móvel, que
esse termo engloba os primeiros movimentos de mobilidade da prática jornalística, como o
uso de aparelhos analógicos e rudimentares móveis ainda na década de 70, como câmeras e
maquinas de escrever. Há que se perceber uma progressão na absorção da mobilidade na
41
prática jornalística. Portanto, o jornalismo móvel vai além dos smartphones. O autor separar
as três primeiras fases como pertencentes de um jornalismo móvel. A quarta e a quinta
fazem parte de um jornalismo móvel digital.

A primeira fase pode ser entendida como tele-analógica (décadas de 60 e 70),


contexto em que os jornalistas começaram a ter gravadores de rolo, câmeras fotográficas e
tinham apetrechos “mais carregáveis do que móveis”, como aponta Firmino.

Já a segunda fase (década de 80), entendida como portátil analógica, é caracterizada


pelo uso de gravadores de fita e é intermediária.

Na terceira fase (década de 90) há uma mobilidade expansiva, garantida graças aos
primeiros celulares, computadores móveis, como notebooks, câmeras digitais, além da
conexão à rede. Aqui, os fundamentos atuais da mobilidade começam a surgir.

Neste trabalho, vamos nos ater à quarta – onde começam os sinais da ubiquidade –
e quinta fase. É no início da quarta fase, por volta do ano 2000, que surgem as redes sem
fios e os smartphones emergem.

Na quinta fase, as redes 3G se popularizam em smartphones com alta capacidade


convergente e de qualidade técnica, por volta de 2010. É a fase por que ainda passamos. Há,
então, a “cultura dos aplicativos” e uma solidificação da era pós-PC, já demonstrada no
primeiro capítulo quando percebemos o majoritário consumo de conteúdo nas residências
brasileiras via dispositivos móveis.

Até aqui, abordamos de forma teórica o universo do jornalismo online, passamos por
conceituações de suas nomenclaturas, suas fases de transição, citamos a características do
webjornalismo e compreendemos que ao largo disso havia uma linha do tempo relacionada
à ubiquidade. São dois caminhos diferentes, mas que se apoiam e se alimentam. Um é mais
relacionado ao webjornalismo e ao jornalismo digital. O outro trata da mobilidade na
produção e no consumo de informação, em uma maneira móvel de ser jornalista e consumir
de notícias – não nos últimos anos, mas há algumas décadas.

Com esse movimento, há o desafio de se entender a linguagem – gráfica e jornalística


– apropriada e sintonizada com o modelo de negócio escolhido. Como se faz jornalismo para
esses dispositivos? Nos próximos pontos, vamos entender essa ruptura de design e de
dinâmica de consumo de informação das interfaces móveis.
42
2.2.2 A estrutura das interfaces dos sites jornalísticos na era do PC

Durante esses cerca de 20 anos de experiência do jornalismo no ambiente digital o


que ocorria nas interfaces e na apresentação do conteúdo nos computador? Vamos
entender como os sites de notícias fizeram seu caminho de estrutura até o ponto em que as
redações começam a considerar os suportes pós-PC.
Cada suporte vai propor que tipo de interface precisa ser construída. No caso dos
jornais online houve uma ruptura com a linearidade (o que é próprio da hipertextualidade
ser multidirecional), mas permaneceu a necessidade de hierarquia da informação, o que fez,
por exemplo, que nos estudos de arquitetura informacional, design editorial e de interface
surgisse a característica da “usabilidade”14 como necessária para orientar a leitura.
Esse (o cânone do hipertexto e da não-linearidade) foi um formato se consagrou
durante os anos 2000 na maioria dos portais de notícia. Ainda hoje, as estruturas costumam
ainda se inspirar nele, com alguma variação e liberdade. No jornalismo, convencionou-se
organizar os conteúdos pela estrutura do “tridente” (NOCI, 2004) ou das três colunas. Nela,
os sites dividem a área a ser trabalhada com destinos específicos: a esquerda costuma ser
para menus ou notícias quentes; a do meio para as notícias gerais ou para matéria de
comportamento e interpretativas; a da direita para blogs colunistas, comentários, sites
associados ou propagandas.
A hierarquia do conteúdo seria orientado de cima para baixo. Conforme a página
descesse, a relevância jornalística do conteúdo seria menor.

(...) atualmente, a maioria dos jornais eletrônicos apresentam uma


característica formal muito parecida entre eles. A prática normal é
organizar o conteúdo da página principal, como muito autores chamam,
em “tridente”. Isso acontece quando a apresentação dos itens noticiosos
se dá na parte central da página, deixando a coluna da esquerda para a
inserção dos menus de navegação e a da direita para serviços,
publicidade e promoções. (DIAZ NOCI et al, 2004, p. 5)

14
Como já explicado, a usabilidade está relacionada com a facilidade de encontrar o que procura, com simplicidade e
objetividade. Como acréscimo dessa definição, vale enumerar a lista feita por Nielsen (1994) com os princípios que se
identifica um projeto com boa usabilidade: visibilidade do status do sistema; linguagem familiar ao usuário; controle do
usuário; consistência; prevenção de erros; memorização mínima; uso eficiente e flexível; projeto minimalista, simples; boas
mensagens de erro; ajuda e documentação.
43
O site da Folha de São Paulo ilustra essa perspectiva (quando pensando para
desktop), sobretudo tendo em vista que as zonas ópticas na leitura digital diferem das que
se estruturam para o papel15.

Figura 5 – Site do Jornal Folha de SP, que


exemplifica a estrutura do tridente.

Podemos ver zonas quando se acessa o site do jornal. No exemplo da Figura 5, um


banner publicitário e uma manchete com matérias relacionadas ocupam as áreas nobres da
página (acima, há o cabeçalho fixo do site do jornal). Geralmente, a parte superior acaba
sendo mais flexível. Com assuntos de grande repercussão, os jornais costumam crescer o
destaque à manchete. Em baixo, vem então as três colunas citadas. No exemplo desde
trabalho, vemos matérias da editoria “Cidade” na coluna esquerda (relacionada ao factual),
esportes e cultura na central e a lista de blogs, colunistas e editoriais como conteúdo apenas
relacionado às notícias quentes com “mais valor” na coluna da direita.

15
Na leitura impressa, a experiência de escaneamento óptico passa por uma comunhão com os movimentos de passar,
dobrar e escolher as páginas. A hierarquia acontece no sentido: capa, página 2 e 3 em direção às outras, com mais
valorização das páginas impares, que ficam à direita quando a edição é aberta.
44
A escolha por inserir fotos nas chamadas também acrescentam grau de importância
às matérias da home, além de variações no tamanho da tipografia.
Os sites na Internet, hoje, também têm outro modelo que vai além da perspectiva
do tridente, presente em portais de notícias e sites de jornais. Há um caminho e uma
distribuição multimídia distribuídos em camadas de informação, onde conforme você segue
os caminhos dos links, “entra” em contato com o detalhamento. Bruno Rodrigues chama-a
de metáfora da cebola:

“Imagine a primeira camada de uma cebola como a primeira página de


um sítio, seu nível inicial. Esta é a chamada Camada de Apresentação,
onde são expostos os aspectos mais persuasivos da informação que virá
a seguir. As páginas que vêm logo após a primeira camada, tenham sido
elas apontadas por chamadas ou itens de menu, constituem a segunda
camada, a Camada Genérica, onde são respondidas questões básicas
sobre a informação em questão - mas apenas as básicas. Às camadas e
páginas que vêm posteriormente, com os múltiplos aspectos da
informação, dá-se o nome de Camadas de Detalhamento. Nestas
camadas estão todos os detalhes sobre a informação abordada”.16

No caminho de digitalização dos jornais, durante a fase de transposição do


webjornalismo, a prática de utilizar nos portais um espaço para que o leitor baixe um
arquivo em formato PDF da versão impressa se consolidou como uma das características
convergentes da prática jornalística, apesar de o formato não ser o adequado para a leitura
no computador.

Essa transposição pode ser chamada de plataforma flipshow, onde se visualiza o


jornal impresso em sua versão digital é possível “folheá-lo” com o cursor do mouse.

Hoje, com a massificação da banda larga, o acúmulo de expertise das empresas


jornalísticas, a política de valorizar o digital, vemos variações e flexibilizações do formato do
tridente como consequência de experimentações e do aumento do consumo multimídia dos
conteúdos.

Em 2016, dois grandes portais brasileiros romperam com essa estrutura, se


aproximando mais com o design de interface que haviam construído para seus ambientes
nos dispositivos móveis. Eles foram o site G1 e o site do jornal O Estado de São Paulo - que

16
Texto retirado da Cartilha para Redação Web do Governo Federal, elaborado por Bruno Rodrigues. Disponível em
http://epwg.governoeletronico.gov.br/cartilha-redacao.
45
tem sua estratégia digital como parte do objeto desta pesquisa -, que criaram um design de
uma coluna principal.

Essa estrutura vertical e mais simples, neste caso relacionadas esteticamente às


suas interfaces mobile, remete a uma escolha pelas características dos sites jornalísticos
mobile, com simplicidade e objetividade – características da interface móvel, como vimos no
capítulo quando diferenciamos a gramática do desktop das dos dispositivos móveis.

2.2.3. A estrutura das interfaces jornalísticas nos ambientes mobile

Se nos computadores o paradigma que definiu as interfaces foi a condução de um


cursor por mouse em uma tela grande e por um software formado por “janelas”, o toque
define a era pós-PC no que se refere ao design das suas interfaces. De acordo com Fernando
Firmino, a “tendência natural é o de estabelecimento de novas “gramáticas” para as
interfaces baseadas em telas sensíveis ao toque e em outros recursos possibilitados pelos
sistemas operacionais móveis.” (Firmino, 2015, P.39).

Com essa premissa, há o surgimento de produtos autóctones, que têm ambientes e


interfaces construídas com base na gramática do dispositivo móvel e do toque. São originais
– cognitivo e jornalisticamente – e tem natureza nativa.

“Considerando a tactilidade como uma das affordances (qualidade ou


propriedade do dispositivo), as aplicações autóctones apresentam
formato (estrutura) que incorpora recursos como navegação não linear,
explora imagens em 3D ou 360 graus, trabalha com narrativas mais
longas, recursos para visualizar imagens internas com o toque das mãos,
bem como detalhamentos para dados, números, recursos de
geolocalização, entre outros”. (BARBOSA et al., 2013, p.14)

O grande interesse da mídia em ocupar os dispositivos móveis aconteceu com uma


grande superestimação aos tablets. Ele foi o principal produto que estimulou a criação de
aplicativos jornalísticos por volta dos anos de 2012 e 2013. Os smartphones ainda eram
ligeiramente menosprezados porque o mundo da comunicação estava entorpecido pela
popularização dos tablets e pelo potencial da plataforma como suporte de mídia.

O entusiasmo da academia e das redações dos jornais com o aparelho foi notável
pelo grande número de publicações acadêmicas feitas e de produtos jornalísticos autóctones

46
destinados à plataforma. Os produtos costumavam ser, inclusive, vespertinos ou noturnos
porque pesquisas apontavam uma utilização maior do suporte durante a noite.

Como vimos no primeiro capítulo, os smartphones ocuparam o espaço dos tablets no


cotidiano das pessoas. Em consequência, a indústria da mídia descontinuou e/ou estagnou
seus investimentos no suporte. Um dos casos notáveis no ambiente jornalístico brasileiro é a
revista vespertina O Globo A Mais, do jornal carioca O Globo. A publicação ganhou o prêmio
Esso de melhor contribuição à imprensa em 2012 e ficou durante três anos em atividade. O
fim do produto acontece em 15 de maio de 2015, justamente quando as vendas dos tablets
já haviam invertido para baixo e o jornalismo começou a dar atenção ao celular.

Mesmo enquanto havia os primeiros ensaios para se experimentar as interfaces dos


dispositivos móveis, os jornais mantiveram – e até endossaram – a opção do download do
arquivo do jornal em PDF, como abordamos há pouco no caso da plataforma flipshow no
webjornalismo. Com a leitura facilitada pelo conforto dos dispositivos, pela exploração do
arquivo com movimentos eficientes dos dedos como o de “pinça”, a versão em PDF nos
dispositivos móveis também foi um ponto inicial antes da experimentação da nova
gramática que o aparelho propõe. Apesar de não serem autóctones e nem terem sintonia
com a gramaticalidade do dispositivo móvel, ainda há no leque de produtos dos jornais para
dispositivos móveis um espaço destinado para se fazer o download do arquivo do jornal
impresso. E há também um público que gosta dessa experiência. No próximo capítulo,
vamos discutir como o jornal O Estado de São Paulo tratam essa transposição.

De acordo com Firmino, nesses casos de transposição há uma desconsideração da


linguagem própria do ambiente mobile, e sim um comportamento de tratar essas
plataformas como repositórios, quando há a “publicação de PDFs de versões impressas sem
tratamento e sem consideração da linguagem em desenvolvimento das interfaces baseada
na tactilidade e interatividade” (Firmino, 2015, p.46).

Esses produtos que surgem no contexto de entusiasmo com o tablet são


principalmente caracterizados como aplicativos. São as extensões que se adicionam ao seu
dispositivo. A produção em escala de apps – e pouco de pensar em sites adaptáveis para as
telas móveis – é um das características dessa primeira experimentação jornalística.

47
As principais investidas em produtos e linguagens da indústria jornalística nos
dispositivos móveis residem em dois tipos de micro-contextos: os sites mobile e responsivos
e os aplicativos. Neste trabalho, vamos definir como esses os formatos jornalísticos nos
ambientes.

Os aplicativos em geral são produtos criados como autóctones. Usam a referência do


sistema operacional do smartphone como norte quando estão em fase de desenvolvimento
e o toque. Em “Jornalismo adaptado a novas telas: Um estudo da linguagem jornalística nas
novas interfaces móveis”, Mello, A. F. Pase, B. M et lal (2015) ressaltam o entusiasmo que
aconteceu com o desenvolvimento de apps como o jeito ideal de se fazer jornalismo mobile.

Em um primeiro momento de desenvolvimento, os apps foram vistos


como uma grande possibilidade de negócios pela indústria jornalística,
representando um novo canal para distribuição de conteúdos impressos
e digitais. (Mello, A. F; Pase, A. F.; Gross, B. M et lal, 2015, p.11)

Com esse entusiasmo, as experimentações vinham de uma já consolidada expertise


sobre o webjornalismo, causando uma “rápida evolução verificada nos primeiros anos do
jornalismo móvel” apoiada em “conhecimentos acumulados durante a evolução do
webjornalismo” (CANAVILHAS & SANTANA, 2011, p. 65)

Os sites mobile e responsivos são página da web abertas nos navegadores dos
smartphones. Como os primeiros anos de jornalismo feito para mobile focava nos apps, a
atenção para a adaptação dos sites foi relativamente tardia.

Os sites responsivos são aqueles que na sua programação tem uma orientação para
se ajustar às telas do mobile. Eles autodistribuem seus elementos naquele espaço reduzido e
excluem o “desnecessário”. Funcionam bem, mas não são completamente originais.

No caso dos sites mobile, a produção é completamente original, com referencias à


identidade do site original, mas com todas as suas camadas pensadas para o mobile. Alguns
conteúdos não precisam estar ali.

48
Figura 6 – Capturas de tela feitas em 18 de maio de 2017, às 23h33 . É possível ver a presença das
diretrizes do design para smartphones, como a simplicidade. Há apenas uma coluna, diferentemente
das três dos desktops

Além dessas duas formas de webjornalismo mobile, é possível acessar uma terceira
nos celulares, que é a reprodução do site como ocorre no desktop. Essa opção tem ficado
para trás. Hoje, é raro navegar em sites que não sejam minimamente adaptados para as
telas menores dos nossos smartphones. Há ainda casos nos smartphones de reprodução
exata da estrutura hiper-detalhada, distribuída, com seus muito menus e caminhos de uma
primeira camada de um site tradicional na web. Nesse caso, há uma falha de usabilidade. A
experiência do usuário é desgastante e fica nítido como é difícil traçar seu caminho naquele
ambiente em uma plataforma que não é adequada para aquilo. Os ícones e textos clicáveis
são, por exemplo, muito pequenos.

Tanto no site responsivo, como no original site mobile, há a “perda” do paradigma do


tridente. O design para site nos celulares perde essa estrutura de três colunas e se
transforma em um ambiente com uma coluna (BUDIU & NIELSEN, 2012). Aqui, podemos ver
mais uma vez o estabelecimento do principio da objetividade no design mobile.

“Diferentemente do design de páginas, no qual já existe uma convenção


acerca de elementos necessários para o sucesso de uma interface -
menus, colunas, e links - aplicativos para dispositivos móveis têm muitas

49
possibilidades de desenvolvimento e ainda existem definições acerca de
elementos indispensáveis para uma interface. As recomendações de
design variam de acordo com as plataformas nas quais os aplicativos são
desenvolvidos, gerando experiências muito distintas do mesmo app
(...)”. (MELLO et al, 2015, p.10)

Seja em aplicativos ou no desenvolvimento de sites mobile, as diretrizes ainda estão


sejam construídas. Há menos de 10 anos os smartphones despontaram e, há menos de
cinco, eles se apresentaram como o aparelho que define o consumo de conteúdo na década.
Assim, o design “ideal” dessas interfaces ainda está em discussão e construção.

2.3 Os caminhos da audiência mobile: as redes sociais como central de informação

O desenvolvimento da mobilidade dos suportes, o avanço da tecnologia dos


computados (em seu sentido mais amplo) e a convergência de conteúdo aconteceu junto a
um processo de horizontalização da produção de informação, de ruptura no processo
comunicacional, que é a transformação de uma sociedade que vivia apenas com a
comunicação em massa (de um para muitos) para um momento de “empoderamento” do
consumidor de informação. A produção de informação é, portanto, de todos para todos.

A grande virada nesse processo ocorreu quando surgiram os blogs e os rascunhos


do que viriam ser as redes sociais. É um momento de ruptura que muitos autores chamam
de construção da web 2.0. Nesse sistema, todos ganharam voz e a mídia começou a passar
por uma crise existencial – a financeira está mais relacionada com o modelo de negócio -,
em que o questionamento da presença do jornalista como gatekeeper 17 no universo
horizontal da produção de informação ganhou força.

A característica desses espaços é que, antes, precisava-se contar com um


programador ou webdesigner para criar algum espaço de produção de conteúdo pessoal.
Depois dessa marca divisória, não. As redes sociais – como sites que possibilitam a criação
de um perfil com um avatar seu, a comunicação com amigos e a troca de informações – se
solidificaram como componentes da vida contemporânea.

17 A ideia de gatekeeper se refere ao jornalista como “dono” da escolha do que é notícia; o único com a capacidade de
validar um fato como de interesse social e merecedor de cobertura jornalística.
50
Neste ponto do trabalho, vamos nos dedicar a entender como os espaços de
discussão e consumo de informação dentro dessas redes – chamados de feed de notícias –
viraram o espaço em que dedicamos a nossa atenção e por onde somos informados. O feed
virou a central de informação na vida contemporânea com uma miscelânea de publicações
de caráter pessoal, divulgações de marcas com abordagens do marketing digital e notícias.

Como vimos no início do capítulo, o leitor ubíquo se depara com a chance de ler
conteúdos (anyway/anytime), ele tem possibilidades de imersão em seu feed com os
conteúdos a que pode se dedicar. São pequenos os momentos reservados exclusivamente
ao consumo de notícias, e a dinâmica atual não é como há 20 anos, quando recebíamos as
edições das notícias “embaladas” nos jornais impressos, revistas e nas edições dos
programas de TV. O processo de se informar se diluiu dentro do cotidiano.

Para Raquel Recuero (2008), os sites de redes sociais são consequência da


apropriação de ferramentas de interação mediada por computador pelos atores sociais. A
diferença se dá na dinâmica que elas organizam a visibilidade dessas interações. De acordo
com Anderson, Bell & Shirky (2013), esses sites ajudam a ampliar o universo de meio de
comunicação, o que termina em uma “competição” pelo clique, atenção e dedicação do
usuário.

“A web cria um enorme aumento na diversidade sobre um mundo


dominado pelos meios de transmissão e de impressão. Mais
recentemente, uma quantidade crescente de notícias está fluindo
através de sites de mídia social, especialmente, Twitter e Facebook; o
crescente domínio da disseminação social das notícias e comentários
ainda desgasta a capacidade de qualquer site produzir um pacote de
notícias abrangente” (p. 96)

Nesse contexto de troca e produção, a capacidade da circulação da notícia – seja


publicada por um perfil tradicional de mídia ou não – cresce. Baseando-se em Machado
(2008), Thorn & Pfeil (1987), Zago (2012), Jenkins, Ford & Green (2013), Marina Conde
(2016) ressalta como o conteúdo acaba sendo replicado e o alastramento da notícia
acontece.

“A capacidade de concentrar a audiência e permitir a interação entre


indivíduos e organizações através da possibilidade de
compartilhamentos e comentários, por exemplo, potencializa o processo
de circulação da notícia que pode, ainda, ser replicada por usuários

51
interconectados, levando a um espalhamento de informações e
conferindo visibilidade às notícias”. (CONDE, 2016, p.9)

A autora Isadora Ortiz de Camargo (2016) reafirma esse ponto de “concorrência”


entre as investidas jornalísticas no ambiente mobile.

“Mais do que conteúdo multimídia, interação e usabilidade, o jornalismo


que deverá ser produzido para esses dispositivos continuará
concorrendo com redes sociais, aplicativos de serviços e agregadores.
Não dá para prever se vai ser rentável ter o próprio app – que confere
mais rapidez do que acessar sites móveis pelo browser - e talvez seja
mais vantajoso manter lugar cativo em canais de distribuição como o
Facebook ou ainda manter novidades que atraiam esta audiência”.
(CAMARGO, 2016, p.2)

Ainda de acordo com o Digital News Report 2016, 18% dos entrevistados brasileiros
afirmaram que sua principal fonte de notícias são as mídias sociais. Junto da Austrália, é a
taxa mais alta dos países com pessoas que identificam esses meios como os prioritários na
sua rotina. Nos Estados Unidos, a taxa é de 14%. Quando perguntados se na última semana
eles usaram alguma vez as mídias sociais como fonte de notícia, o número de respostas
positivas dos brasileiros chega a 72%.

Quanto ao uso em geral, sem considerar qual é a principal fonte, 52% dos
pesquisados usam mídias sociais para acessar notícias toda semana no Brasil. De acordo com
pesquisa, o Facebook é o principal meio para isso, com 49% dos usuários usando a rede para
consumir e compartilhar as notícias. É possível justificar a perspectiva de que o feed é a
central de informação contemporânea com o fato de que o acesso às notícias nos sites dos
jornais acontece dessa forma.

Outro dado interessante é o que aponta as redes sociais como a maior via de acesso
às notícias (39%). Além das mídias sociais, os caminhos de leitura online são principalmente
os sites de buscas e o tão valorizado acesso direto, geralmente feito por leitores fidelizados.
No próximo capítulo, quando vamos analisar os caminhos de relacionamento com os
usuários para o mobile, do Jornal Estadão, discutiremos os tipos de clientes dessa marca e
seus comportamentos.

52
Tabela 2 - Caminhos da audiência online, de acordo com o Digital News Report 2016

Tipo de audiência Brasil Estados Unidos

Acesso direto 43% 35%

Buscas 49% 30%

Mídias sociais 52% 35%

Agregadores 18% 9%

E-mail 23% 20%


Alertas Mobile
12%
13%

Assim, definimos o modo de consumir notícia hoje: ele é principalmente via redes
sociais, em um smartphone, como já vimos momentos atrás. Vemos também como a
mobilidade é desafiadora e reconfigura os aspectos da prática de produção de conteúdo e as
cadeias industriais relacionadas, como afirma Barbosa (2013):

“As mídias móveis, especialmente os smartphones e tablets, são os


novos agentes que reconfiguram a produção, publicação, a distribuição,
a circulação, a recirculação, o consumo e a recepção de conteúdo
jornalístico em multiplataforma”. (BARBOSA, 2013, p. 42).

Com esses dados que demonstram qual é o principal caminho para se chegar a um
site de notícias, completamos a discussão do ponto anterior onde vimos o percurso dos sites
mobile e sua sobreposição ao uso dos aplicativos. As pessoas estão dentro das redes sociais,
e os links oferecidos ali para o acesso ao conteúdo remetem aos navegados dos dispositivos
móveis. Assim, vemos a pertinência do site mobile na atual dinâmica de comunicação.

Apesar de existir a possibilidade de direcionamento para aplicativos, o


procedimento poderia ser mais complexo do que simples para o usuário, além de não ser
algo encorajado pelas empresas das redes sociais, porque haveria a abertura de outro
programa em detrimento da continuidade da imersão, por exemplo.

53
Assim, o percurso “feliz” do usuário começa com ele dentro da sua característica de
cidadão ubíquo, que decide aleatoriamente sacar seu smartphone, depois checar seu feed e
clicar no link de uma notícia, dentro do site mobile de um jornal.

2.3.1 A relação entre o Vale do Silício e a mídia

Apesar de o Facebook, o Twitter, o Google e o Youtube, por exemplo, não serem


produtores de conteúdo, eles são plataformas de busca e distribuição e atualmente
concentram grande parte da atenção dos usuários, como vimos nos dados do ponto
anterior.

Com esse protagonismo e a consciência de seu papel de “rival” no sentido de


competir pela verba publicitária, mas complementar no cotidiano dos leitores com sites
jornalísticos, Google e Facebook, principalmente, lançaram nos últimos anos facilitadores
para o acesso mobile de websites via smartphones. Os lançamentos acontecem com um
discurso de que essas suas tecnologias, que se destinam a diminuir o tempo de
carregamento dos sites, ajudariam a garantir mais cliques e acesso aos sites de notícias.

Em maio de 2015, o Facebook lançou o Instant Articles, funcionalidade dentro do


seu aplicativo para smartphones que possibilita aos editores criar artigos em páginas com
acessos mais rápidos, publicadas em uma versão simplificada – tanto no sentido do design
como no sentido da programação – no feed, sem a necessidade de o usuário clicar em um
link que o leve ao site do veículo.

Um dos motivos que moveu as empresas a desenvolverem essa configuração é que


o tempo de carregamento das páginas influencia na desistência do leitor em continuar
dentro do seu site. O tempo costuma ser de oito segundos. O que é muito elevado. No
Instante Articles, o carregamento acontece até 10 vezes mais rápido18.

No Brasil, portais como R7 e G1, além da maioria dos jornais, como O Globo, Estado
de São Paulo, Folha de São Paulo, Zero Hora, e todas as revistas do grupo Abril, como Veja e
Exame aceitarem participar do Instant Articles. É válido ressaltar que nem todas as
publicações são intermediadas pelo sistema. As páginas desses veículos continuam com a
proposta de levar os usuários para dentro de seus sites mobile via os navegadores, onde

18
Informações disponíveis em instantarticles.fb.com e developers.facebook.com/docs/instant-articles.
54
poderiam imergir em mais conteúdo, sem simplesmente consumir aquele único artigo e ser
“forçado” a voltar ao ambiente do Facebook.

De acordo com Conde (2016), essa parceria simboliza alterações nos processos
tradicionais do jornalismo industrial.

“Através de iniciativas como o Instant Articles, articulado com o objetivo


de atender a demanda de uma audiência que consome notícias
majoritariamente através de dispositivos móveis, observamos um
empenho dos sites de redes sociais, no âmbito das mídias sociais em
estabelecer relações com o jornalismo (e das empresas jornalísticas em
contrapartida), o que consequentemente altera os processos de
produção, circulação e consumo de conteúdo na medida em que a mídia
(site de rede social) direciona este processo para uma lógica divergente
da do chamado jornalismo industrial”. (CONDE, 2016, p.2)

Quanto ao Google, a ferramenta desenvolvida é parecida. O nome é AMP, de


Accelerated Mobile Pages Project. Além do Facebook, a busca do Google também é um
caminho da audiência, tanto no acesso mobile, quanto no acesso via desktop, para chegar
aos sites de notícias, como vimos nos dados da Digital News Report 2016 (Tabela 1), do
Reuters Institute: 49% das pessoas no Brasil chegam ao conteúdo jornalístico via buscas.
Assim, o projeto do Google reforça a importância desse outro caminho do leitor para se
chegar às notícias.

Esse número justifica o “sim” dado pelas empresas jornalísticas quando o Google
propôs uma ferramenta parecida com o Instant Articles. Nesse caso, o carregamento rápido
acontece a partir da abertura de “cards” com notícias que aparecem disponíveis na busca do
Google de acordo com sua pesquisa, levando o usuário a esses ambientes simplificados do
site do jornal.

Em pesquisa própria, no projeto Double Click19, dados descobertos pela Google


reforçam a perspectiva de que o usuário desiste de ler um artigo se ele demora a abrir.
“Slow loading sites frustrate users and negatively impact publishers. In our new study, ‘The
Need for Mobile Speed’, we found that 53% of mobile site visits are abandoned if pages take
longer than 3 seconds to load”.

19
Dados disponíveis em https://www.doubleclickbygoogle.com/articles/mobile-speed-matters/.
55
A seguir, vemos a mesma matéria do portal de Notícias G1 fora do site do portal e
dentro do ambiente do Instant Articles e do Google Amp. Em análise rápida, no segundo
caso é nítido que o acesso – via a primeira página de buscas do Google pelo termo “Ariana
Grande” – não acontece dentro do Portal G1, como vemos na barra de endereço. A primeira
imagem é uma reprodução do Instant Articles dentro aplicativo do facebook, onde ele
nativamente opera. É válido notar a seta indicativa de que é você pode voltar ao feed.

Essas estratégias são apenas dois exemplos de que como o consumo mobile alterou a
dinâmica jornalística de distribuição. Neste trabalho, não há intenção de discutir a fundo as
estratégias do jornalismo nas mídias sociais ou diagnosticar problemas na mídia causadas
pelas empresas de tecnologia californianas, mas mapear como é acesso mobile às notícias.

Figura 7 – Mesmo artigo, sobre atentado no Reino Unido, aberto no Instant Articles (à esquerda) e
no navegador do celular.

Como vimos que é pelas redes sociais o caminho percorrido pelo usuário, não
podíamos deixar de nomear as estratégias dessas redes sociais – no caso o Facebook – para
impactar esse acesso. Vamos agora aos abalos de todas essas revoluções vistas até aqui no
modelo de negócio dos jornais.
56
2.4 A crise no modelo de negócio da mídia impressa e os novos investimentos

Enquanto havia uma migração do comportamento de leitura do consumidor de


notícia, também houve mudanças na configuração econômica da indústria jornalística e em
sua estrutura: das dinâmicas das redações às adequações de estratégias decorrentes dos
movimentos da audiência. Nesta etapa do capítulo, vamos olhar para o movimento desse
leitor que deixou de pagar por notícia impressa quando a informação se espalhou pelos
portais e olhar para a dificuldade de os jornais transformarem essa audiência em lucro.

Essa crise de modelo de negócio por que os principais jornais passaram


principalmente depois da segunda metade da primeira década do século XXI – por volta de
2005 – acontece principalmente em função da migração da publicidade para fora do jornal
impresso – onde rendia bem – para portais onde a rentabilidade da propaganda acabava
sendo melhor e para fora do espaço jornalístico, como os espaços dos sites de buscas e
dentro de redes sociais.

Assim, mesmo que sendo um pouco reducionista, podemos compreender um


percurso de causalidade: a tecnologia apresentou novos suportes durante o século XX e o
leitor acompanhou; em consequência, a publicidade foi atrás desses espaços para atingir
essas pessoas.

No começo dos anos 2000, com a popularização da Internet e em um momento


ainda pré-mobile, a dúvida sobre o futuro já estava colocada. É possível ver autores
prevendo “mortes” de jornais impressos bem antes de essas empresas serem encurraladas.

Com a Internet, o valor (no sentido amplo, de importância) do jornal impresso caiu
porque – mais do que nunca – ele ficou datado e já saía velho das gráficas. As notícias eram
publicadas assim que aconteciam nos portais de notícias, muitas vezes desses próprios
jornais.

57
No gráfico a seguir, que é parte da pesquisa State Of News Media 201520, podemos
ver como a receita anual do mercado estadunidense dos jornais com publicidade no jornal
impresso caiu, comparado com um leve crescimento da receita gerada pela propaganda
online.

Figura 8 - Gráfico retirado da pesquisa State of News Media 2015: “Receitas de propaganda em
jornais vindas do digital e impresso”

Podemos ver o início da queda em 2006, com a receita gerada pelo jornalismo
impresso com publicidade perdendo US$ 0,8 bi depois de anos de crescimento e pico de US$
47,4 bilhões no ano anterior. Quase dez anos depois, em 2014, o número é muito menor:
US$ 16,4 bilhões. Assim, há a justificativa quantitativa para se afirmar que a crise está
relacionada ao modelo de negócio.

A pesquisa também mostra, apesar de não valor de números absolutos, uma


tendência de queda na circulação dos jornais impressos nos Estados Unidos que explicam o
porquê dessa perda de investimento publicitário: houve queda nas vendas dos jornais
impresso.

No gráfico a seguir, há uma comparação em que é possível se ver a queda da


circulação do jornal impresso comparada com o ano anterior em um ciclo que começa em

20
Disponível em http://www.journalism.org/files/2015/04/FINAL-STATE-OF-THE-NEWS-MEDIA.pdf.
58
2000 e vai até 2014, tanto nas edições de dias úteis, como de fim de semana. É importante
ressaltar que o gráfico não retrata o percurso dos números das vendas, mas do percentual
da queda.

Figura 9 – O gráfico mostra o percentual de queda na circulação de jornais impressos nos Estados
Unidos ano após ano.

A queda da receita digital até 2014, mostrada na Figura 8, é explicada por dois
principais pontos, que já tratamos anteriormente: o preço da publicidade digital online, que
é baixo, e o surgimento de outros espaços para o desenvolvimento da propaganda.

No processo de dedicação da atenção às redes sociais, o investimento publicitário


preferiu investir de forma mais intensa nesses espaços, que trazem novas métricas além do
clique, como o engajamento.

Em 2016, o investimento publicitário digital nos Estados Unidos cresceu 20%


voltado principalmente para dispositivos móveis. Porém, estes investimentos não são
prioritariamente destinados para veículos jornalísticos, mas para cinco grandes empresas do
Vale do Silício: Google, Facebook, Yahoo, Microsoft e Twitter.

In 2015, $59.6 billion was spent on any digital advertising, including on


search engines, social media, news or any other kind of website. This is
up 20% from 2014, according to estimates by eMarketer. (State of News
Media, 2016, p.52)

59
Esses sites de mídias sociais fizeram com que surgisse um novo tipo de anúncio
publicitário de contato mais eficaz com a audiência e que não entra no subsídio do conteúdo
jornalístico. Anderson, Bell & Shirky (2013) sinalizam que:

“Quando um número satisfatório de empresas decidiu que redes sociais


eram um meio aceitável, o estoque disponível de anúncios passou a ser
em função do (ilimitado) interesse das pessoas umas nas outras, e não
da capacidade do veículo de comunicação de criar conteúdo ou manter
a audiência”. (Anderson, Bell & Shirky, 2013, p.35)

Figura 10– Os gráficos mostram o crescimento do investimento publicitário nos ambientes digitais
e o crescimento do interesse pelos dispositivos móveis

No primeiro gráfico a seguir (Digital advertising continues to grow and to account


for a larger portion of all ad spending), vemos o crescimento do investimento publicitário em
geral. Dos US$ 183 bilhões investidos por esse mercado em 2015 nos Estados Unidos, US$ 60
bi vão para os meios digitais. No gráfico da direita, é possível não só ver o crescimento da
publicidade digital, mas sua alta consideração em ocupar o mobile. Em 2010, o investimento
foi de U$ 0,8 bilhão no ambiente móvel. Em 2015, foi de US$ 32 bilhões.
60
Como efeito da queda de receita, as redações também encolherem e tem menos
jornalistas do que tinham antes. No Brasil, desde 2013 as redações têm reduzido seu
pessoal, no que tem ficado conhecido como “passaralhos”. Ainda de acordo a State of News
Media 2015,

“A força de trabalho geral da redação diminuiu, embora a taxa de


declínio esteja diminuindo um pouco. De acordo com o Censo de
Emprego do Newsroom da Sociedade Americana de Editores de Notícias,
depois de cair 11% em 2008 e 6% em 2012, o emprego geral da redação
caiu 3% em 2013 - o ano mais recente para o qual os números estão
disponíveis - para 36.700.” 21

No gráfico a seguir, a pesquisa mostra como a força de trabalho nas redações caiu.

Figura 11 – A linha marrom do gráfico mostra o – principalmente a partir de 2008 – o aumento das
demissões em redações de jornais.

21
Tradução nossa.
61
2.4.1.O paywall, a cultura do acesso gratuito e as saídas no financiamento

Fica claro com os dados apresentados no State of News Media 2015 e 2016 que o
jornalismo online não se mantem se é baseado apenas na publicidade como financiadora.
Para finalizar esse ponto do capítulo, vamos observar quais foram as alternativas
encontradas por grandes jornais e projetos independentes – e menores – para se sustentar e
quem é o leitor disposto a pagar para consumir notícias online.

Antes da mudança do paradigma orçamentário, os custos de um jornal eram pagos


pela publicidade, como vimos há pouco no gráfico. Custos esses que foram definidos pelo
processo de industrialização da mídia. De acordo com Júnior (2013), porém, isso não deve
ser visto como algo ruim e não é possível haver sobrevivência da pratica jornalística de
forma artesanal. Contudo, ainda de acordo com o autor, “o jornal, assumindo as
características de uma empresa, passa e se preocupar com as necessidades da empresa,
insere-se no jogo do mercado e, portanto, necessita gerar lucro” (P.6).

As saídas que os jornais impressos encontraram para se depararem com a falência


teve dois principais focos: reduzir custos e estimular assinaturas digitais.

No caso de diminuir custos, o mais notável foi o encolhimento da redações – como


vimos no ponto anterior – e mudanças gráficas nas edições impressas, que perderam
cadernos (muitos se fundiram) e páginas. A outra estratégia foi admitir que o custo da
produção jornalística que estava toda disponível online não continuaria viável se dependesse
apenas da publicidade.

Como vimos no gráfico “Newspapper Ad Revenue from Digital and Print”, o


crescimento do investimento da publicidade nos ambientes jornalísticos digitais não alcança
os valores suficientes para suprir a perda de receita que vinha do jornal impresso. Em 2007,
a receita da indústria da mídia de jornais norte-americana com a publicidade online foi de R$
3,2 bilhões. Em 2015, foi de R$ 3,5 bi.22

22
Aqui, vale citar rapidamente mais um motivo além da preferência da indústria da propaganda por anunciar em redes
sociais e nas pesquisas do Google: a publicidade nos portais de notícia “incomoda” e o percurso do leitor por eles é
escapando de clicar nos banner e pop-ups que os abordam. Em um jornal impresso, por exemplo, onde o espaço
publicitário ainda é caro e só teve o faturamento diminuído devido ao alcance que também caiu com as quedas nas vendas
dos jornais, há até uma contemplação e uma dedicação à publicidade. É fácil se lembrar de grandes páginas de anúncios
em jornais e revistas que admiramos esteticamente.
62
A questão sobre quem vai pagar a conta desse buraco no orçamento jornais impera
desde que essa crise deu as caras, trazendo à tona o debate entre conteúdo pago versus
conteúdo gratuito.

Camargo (2015) e Júnior (2013) concordam quando afirmam que não há uma
cultura de fácil aceitação em pagar por notícias. Júnior (2013) ressalta que “os brasileiros
não estão acostumados a pagar para ter acesso a notícias” (P.2) e Camargo (2015) ressalta
que o pagamento por outros tipos de conteúdo não passa por esse estranhamento do leitor:
“(...) atualmente, os leitores/usuários estão dispostos a pagar por entretenimento e não por
notícia”. (Camargo, 2015, p.6)

Esse conteúdo de entretenimento pelo qual as pessoas pagas podem ser


exemplificadas pelo catálogo online de filmes e séries Netflix e pelo serviço de streaming
Spotify, que “salvou” a indústria fonográfica da pirataria. Apesar de serem mídias diferentes,
o jornalismo vêm seguindo o mesmo caminho.

2.4.2.O paywall e os números do leitor que paga por notícias

Um dos primeiros jornais brasileiros a implantar o paywall (nome dado ao


impedimento de ler notícias ilimitadas em um site se você não for assinante) foi a Folha de
São Paulo em junho de 2012. A manobra foi ousada e venho como consequência de
consolidação da estratégia que já acontecia fora do país. Em 2011, o The New York Times
lançou mão do modelo. (JÚNIOR, 2013).

Mas bem antes do NYT, o primeiro jornal a adotar o modelo foi The Wall Street
Journal em 1997, ganhando cerca de 200 mil assinantes em pouco mais de um ano. O
sucesso dessa publicação em específico pode estar relacionado com especialização do jornal,
voltado para a área de economia e negócios.

O The Wall Street Journal adota o modelo de paywall chamado de rígido, onde
nenhum artigo pode ser lido de forma completa se você não for assinante. O modelo menos
radical dessa estratégia de negócio é chamado de “poroso”, onde um leitor não assinante
tem um limite de artigos que pode ler em determinado tempo. A maioria dos sites faz a
utilização dele.

Essa opção mais branda garante que continue havendo visualizações e tempo gasto
dentro da página no jornal pelas pessoas que não são assinantes. É uma postura híbrida,
63
porque esses números de visualização são importantes para a publicidade. O leitor entra em
contato com o conteúdo e pode ser conquistado.

Algumas experiências com o paywall rígido não deram certo, como nos casos da
revista The Atlantic Monthly (norte-americano) e do jornal The Times (inglês). No caso do
jornal britânico, conseguiu-se 120 mil assinaturas assim que se instituiu a barreira, mas a
publicação perdeu quatro milhões de leitores no site. O Atlantic Monthly desistiu do paywall
depois de a inciativa ser mal recebida pelos leitores. (JÚNIOR, 2013)

A decisão da Folha de S. Paulo de focar nas assinaturas digitais é considerada o


divisor de águas no modelo de negócio dos jornais brasileiros. De acordo com Júnior (2013) a
decisão do jornal faz sugir “o que pode ser considerado como início de uma era de transição
para um novo modelo de consumo de conteúdo jornalístico no Brasil.” ( P.2).

Hoje, existem 33 jornais brasileiros com modelos de assinatura para acesso ao


conteúdo completo monitorados pelo Instituto Verificador de Circulação (IVC), órgão que faz
levantamentos estatísticos das publicações brasileiros associadas 23. Os jornais O Globo,
Estado de São Paulo e Zero Hora completam – junto à Folha – o rol de maiores veículos.
Todos estão nessa lista e adotaram o paywall de alguma forma.

De acordo com dados do instituto, em setembro de 2016 existiam 818.873


assinaturas digitais ao total, um número 20% maior do que a média de 2015.

A Folha de S. Paulo anunciou em agosto de 2016 que a sua circulação digital


ultrapassou a impressa24. Em setembro de 2016, o jornal “vendeu” 164 mil edições digitais e
151 mil impressas. Já o jornal O Globo também está bem próximo dessa transição: com 150
mil de circulação digital e 163 mil impressa.

Os números podem ser considerados uma surpresa, se levado em conta a atitude


vacilante dos jornais anos atrás em se dedicar a essa modelo de negócio, focado no
assinante digital. De acordo com o presidente do instituto, Pedro Silva, o paywall “incentiva
o leitor a se tornar cliente". Com base nesses números, o Knight Center for Journalism in The

23 Informações retiradas de reportagem de matéria do site especializado em discutir o jornalismo nas Américas, Knight
Center https://knightcenter.utexas.edu/pt-br/blog/00-
24 Matéria publica pelo jornal disponível em http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/09/1816633-folha-e-o-1-
jornal-do-pais-a-ter-circulacao-digital-maior-do-que-a-impressa.shtml?cmpid=comptw.
64
Americas ouviu representantes desses jornais para entender como a implantação do paywall
acabou por incentivar as assinaturas.

Assim como Junior (2013), para o diretor de circulação e marketing da Folha, Murilo
Bussab, o sucesso do paywall o caracteriza como “divisor de águas”.

“O paywall tem uma história muito boa. Quando instalamos, na


Folha, tudo levava a crer que perderíamos audiência, porque, por
mais flexível que seja, o paywall é um limitador. A pessoa pode
pensar: 'se tem que pagar eu vou deixar de ler'. Só que, quando
colocamos o paywall, aconteceu uma coisa absurda, cresceu a
audiência”.25

O representante da Folha também afirma que o paywall só estimulou as assinaturas


porque o conteúdo exclusivo e premium – tradicionalmente impresso - ficou disponível no
site para quem é assinante. Assim, faz sentido para o leitor pagar por conteúdo.

Há cinco anos, um furo era guardado para o impresso do dia seguinte,


não tínhamos a menor dúvida disso. Agora não temos mais pudores de
colocar 100% do conteúdo da Folha no ar. E isso fez crescer a audiência,
mesmo com o paywall.26

O artigo também aborda como o crescimento da presença online desses jornais


alterou o perfil do leitor da marca. Na era do impresso, eles eram da região geográfica
atingida e sobre a qual o veículo “falava”. Com a Internet, há uma descentralização desse
leitor – e do assinante – e consequentes mudanças editoriais: “(...)além de mais jovens,
esses leitores estão mais dispersos pelo país, e não concentrados nas capitais de origem dos
jornais, como ocorria com o papel27.”

Independente de “ter pego” o leitor brasileiro de surpresa, o modelo expandiu-se


para os principais jornais do país e virou regra na constituição do modelo de negócio do
jornalismo contemporâneo – móvel e digital. Como vimos acima, deu certo. Mas qual é o

25
Declaração retirada de artigo do site especializado em discutir o jornalismo nas Américas, Knight Center
https://knightcenter.utexas.edu/pt-br/blog/00-17750-adocao-de-paywall-faz-aumentar-audiencia-de-jornais-no-brasil-e-
estimula-venda-de-assi?????
26
Declaração também retirada de artigo do site especializado em discutir o jornalismo nas Américas, Knight Center
https://knightcenter.utexas.edu/pt-br/blog/00-17750-adocao-de-paywall-faz-aumentar-audiencia-de-jornais-no-brasil-e-
estimula-venda-de-assi?????
27
Ver em: https://knightcenter.utexas.edu/pt-br/blog/00-17750-adocao-de-paywall-faz-aumentar-audiencia-de-jornais-
no-brasil-e-estimula-venda-de-assi.
65
tamanho desse público que tem aceitado ingressar nesse modelo de negócio? A pesquisa
Digital News Report 2016 mostra que no Brasil, 22% das pessoas pagaram por notícia online
em algum momento no último ano. A pesquisa não aborda apenas assinantes de versões
online de jornais impressos, mas consumidores de notícias online no aspecto geral.

Around one in five (22%) urban Brazilians say they paid for some
kind of online news content during the past year. That’s the third
highest rate among the 26 countries analysed, with demand
highest for premium content such as financial news and on-
demand video. (Digital News Report 2016, p.82)

É importante levar em consideração a cultura de consumo de informação de cada


país analisado, onde suas indústrias de mídia tiveram seus próprios caminhos, ritmos e
abordagens de disponibilização de notícias online. Na Noruega, por exemplo, a taxa de
pagamento por notícias é de 82%. Já na Polônia, ela gira em torno de 9%.

Nesse modelo de negócio baseado nas assinaturas digitais, os dispositivos móveis


acabam por ser um fator diferencial e influenciador das estratégias. O modelo de paywall se
encaixa com uma abordagem eficaz quando o alvo é o leitor relativamente fidelizado, que
decide buscar intencionalmente notícias em um momento do seu dia. Como integrar essa
estratégia ao tráfego que vem dos que esbarram com a notícia no feed de sua rede social?

Não existem respostas prontas para aumentar as assinaturas digitais. O que se tem
definido é que o caminho passa pelo conteúdo mobile. Para Camargo (2016), os
smartphones devem exigir um olhar mais atento das direções dos jornais, “já que transforma
a audiência, a interação e o consumo do conteúdo noticioso” (P.4).

De acordo com Camargo, o The New York Times entendeu como diretriz para a
estratégia a diferenciação dos produtos digitais com a versão impressa.

“(...)a estratégia proeminente do jornal foi garantir uma independência


das plataformas digitais em relação a versão impressa para que cada vez
menos não estejam atreladas e possam ser produtos diferentes, já que
atualmente as assinaturas digitais atingem o número de 800 mil no país
americano.” (CAMARGO, 2016, p.15)

Essa transformação “pode contribuir com a sustentabilidade das empresas


jornalísticas, sendo balanceada com a queda da publicidade.” Assim, fica claro que se há a

66
necessidade de justificar ao leitor que a assinatura é válida, o ambiente onde novos
conteúdos para esse público serão desenvolvidos são os dispositivos móveis.

2.5 Potenciais e desafios do mobile como suporte de notícias e os caminhos


do jornalismo

O momento em que nos deparamos no que se refere à crise nos modelos de


negócio do jornalismo é o justamente abordado no ponto anterior: muitos jornais obtiveram
sucesso com a cobrança de assinaturas digitais – em alguns esse número superou o tamanho
de assinantes de impresso, mas o balanço dos últimos 10 anos são redações menores e uma
dependência ainda grande da publicidade. Não abordamos neste trabalho a representação
que os valores das assinaturas digitais têm na receita dos jornais. Os dados são informações
confidenciais e deixo esse ponto em aberto para futuras investigações.

Se há uma tendência da diminuição da representatividade da publicidade na receita


jornalística, em um primeiro momento por consequência da migração do mercado de
propaganda e agora como uma intenção dos jornais, é importante percebermos que
mudanças isso pode trazer nos próximos anos, com a possível consolidação da capacidade
de sustentação financeira da indústria da mídia com o sucesso do paywall.

Assim, entra em discussão o benefício de se inverter o tamanho da receita


jornalística, perdendo tradicional força vinda do mercado publicitário e se pulverizando
pelos assinantes. Como cita Marshall, o caminho que o jornalismo percorreu nas suas
escolhas editoriais muitas vezes estava em sintonia com a necessidade do mercado da
propaganda atingir o mesmo público.

“A imprensa de massa passou a criar, a partir do final do século XX,


uma série de produtos comerciais, como cadernos, encartes ou
edições especiais, com o objeto específico de atrair novas e mais
densas verbas publicitárias e escoar a demanda do mercado. Embora
sejam extensões do corpo jornalístico, esses produtos nascem com o
estigma de ser, em essência, obras feitas sob medida para os
investimentos publicitários” (MARSHALL, 2003, p. 128).

Os desafios do jornalismo online na contemporaneidade estão mais relacionados


com a implantação de modelos de negócio inovadores e com a concorrência da notícia no
mar de informação causada pela mediatização da sociedade do que com a produção de

67
conteúdo sintonizado com as plataformas utilizadas em massa. Isto já se é feito de forma
consistente. O jornalismo já sabe como fazer conteúdo para dispositivos móveis e como
trazer tráfego para seu site, além de ter admitido qual modelo de negócio seguir.

O ponto, entretanto, que merece ser considerado desafiador tem a ver com uma
outra crise – mais sútil – e menos mensurável por que passa o indivíduo jornalista, a mídia, e
o produto com valor social conhecido como notícia.

De acordo com Martins, existe uma concorrência entre a produção da notícia e a


informação alastrada na web por cidadãos e grupos com posturas de gerar informação.

“Não há novidade em afirmar que hoje o jornalismo atravessa um


período de crise em sua legitimidade, historicamente consolidada, o que
gera uma necessidade de revisão de suas práticas. Tal cenário de
adversidade e reinvenção é alimentado por múltiplas tensões, como o
possível esgotamento de seus tradicionais modelos de negócios – mas,
sobretudo, pela concorrência inescapável à informação gerada pelo
público. Vivenciamos hoje um cenário no qual a informação apurada
pelo jornalista concorre, inevitavelmente, com dados enviados (muitas
vezes, voluntariamente) pela audiência”. (MARTINS, 2016, p.1)

Ainda de acordo com o autor, é “preciso encontrar maneiras para continuar


produzindo notícias para um público que, muitas vezes, desconfia da legitimidade das
tradicionais empresas jornalísticas” (MARTINS, 2016, P.1)28.

Portanto, quando se foca na ruptura que Internet trouxe à indústria da mídia no


que se refere à linguagem e a plataforma e a crise do modelo de negócio gerado pela queda
da receita publicitária, há o risco de se esquecer sutis mudanças de comportamento no
consumidor de conteúdo, que acaba conseguindo se informar dentro das suas redes sem
consumir material jornalístico. Aí, está um ponto desafiador.

Nessa situação de descrédito, o fator geracional faz diferença no valor que os


leitores dão à mídia tradicional. A pesquisa Digital News Report 2016 apontou que os mais

28
Em 2016, a Universidade de Oxford elegeu o termo pós-verdade como a palavra do ano. A ideia se refere a
um momento que as versões – e boatos – ganham força sobre a objetividade e o fato, recursos tradicionais do
método jornalístico. Acrescido a isso, a capacidade das mídias pós-massivas de conferir “poder” de produção
de informação por qualquer um com acesso à rede, cria um contexto onde notícias falsas se alastram. No
próximo capítulo, vamos discutir rapidamente o papel do jornalismo nesse cenário onde nem tudo o que se
publicado na rede é verídico.

68
jovens dentem a confiar menos nas notícias (as empresas de mídia entram como sinônimo
de notícias) do que os mais velhos.

A pesquisa dividiu os entrevistados entre um grupo com menos de 35 anos e um


grupo com mais de 35. No EUA, por exemplo, 32% do grupo mais jovem disse concordar com
a afirmação: “I think you can trust most news most of the time”. Já no grupo mais velho, o
número foi de 34%. Nesse país, a diferença foi pequena, mas na Espanha, ela foi grande:
38% dos mais jovens concordaram com a informação, frente a 51% dos mais velhos.

Figura 12– O gráfico mostra que pessoas mais velhas tendem a confiar mais nas notícias.

Neste capítulo, vimos o percurso do jornalismo digital, o perfil do leitor ubíquo, a


presença da mobilidade como fator natural do jornalismo moderno, a gramaticalidade dos
dispositivos por onde consumidos notícias, os dados referente à crise no modelo de negócio
e discutimos as saídas encontradas pela indústria da mídia para escapar de um caminho
trágico, admitindo que a saída é o estímulo por cobrança de assinaturas digitais

No próximo capítulo, vamos olhar para a expertise que o jornal brasileiro O Estado
de São Paulo conseguiu juntar nos últimos cinco anos de investimento em mobile.
69
CAP. 3 – O ESTADÃO E OS INVESTIMENTOS MOBILE

3.1 A história do jornal O Estado de São Paulo e seu pioneirismo nos


investimentos em novas tecnologias

O ano era o de 1993 quando o jornal paulista O Estado de São Paulo começou a
experimentar formas de ocupar os suportes digitais. Como vimos no capítulo anterior, o
momento era o da digitalização e informatização de processos editoriais, mas ainda bem
distante do paradigma de consumo de notícia online como vemos à partir da segunda
metade dos anos 2000. Neste contexto de experimentação, desconfiança e amadorismo nas
iniciativas jornalísticas, o Estadão foi um dos primeiros a investir nas plataformas digitais
para distribuição do seu conteúdo e em processos.

O Estadão está entre os três maiores jornais brasileiros do formato premium e


standart29 — levando em conta ainda a convenção econômica de se contar o número da
circulação impressa, com o número médio 157.671 unidades no ano de 2015, de acordo com
a Associação Nacional de Jornais.30

A história do veículo começa em 1875, quando a cidade de São Paulo passava por um
processo exponencial de urbanização. O jornal nasce com o nome de “A província de São
Paulo”, que é alterado em 1890 com a mudança da regra para a nomeação dos estados
brasileiros. Uma característica do veículo foi o apoio aberto à Republica e à abolição da
escravatura. Neste momento, ainda havia uma prática jornalística pré-industrial, onde um
contexto histórico em que os jornais eram abertamente inclinação panfletária e sem a
diretriz da objetividade linguística no gênero jornalístico31.

Durante o século XX, o jornal se consolidou no mercado editorial brasileiro, em


paralelo ao desenvolvimento da cidade de São Paulo. Em 1992, é criado o embrião dos
futuros projetos digitais do veículo, com a criação da Agência Estado e do serviço de
Broadcast. Em junho de 1993, o jornal apresenta o projeto Estadão Multimídia (QUADROS,
2002).

29 Formato de jornal impresso com 55 centímetros de altura. Geralmente, são jornais para às classes A e B.
30 Informações disponíveis em http://www.anj.org.br/maiores-jornais-do-brasil/.
31 Informações retiradas de http://www.estadao.com.br/historico/resumo/conti1.htm.
70
Antes de desenvolver sua representação na web, as alterações que as novas
tecnologias trouxeram aos processos editoriais fizeram surgir serviços de fax e boletins
eletrônicos. Aqui, como vimos no capítulo anterior, é uma fase de digitalização do
jornalismo, como parte mais elaborada de um jornalismo eletrônico (MIELNICZUK, 2001). Em
agosto do mesmo ano, o Grupo Estado começou a explorar novas ferramentas, como o fax e
os boletins eletrônicos em formato BBS (Bulletin Board System).

Em entrevista à pesquisadora Claudia Irene de Quadros no artigo “Uma breve visão


histórica do jornalismo on-line", Luciano Martins Costa, ex-diretor e criador da versão digital
de O Estado de São Paulo, afirma que essas experiências de boletins eletrônicos levaram o
jornal a criar seu portal. “Além disso, o FaXPaper e o Newspaper, também tínhamos dois
BBS. Um era para o cliente da Agência Estado e outro dedicado a pessoas físicas, os leitores
do jornal. Foi exatamente este último serviço que surgiu o NetEstado."

De acordo com Quadros (2002), o jornal digital do Estadão, na época com o nome de
NetEstado, foi estruturado em março de 1995, mas só foi publicado no dia 8 de dezembro
daquele ano. Assim, “o Jornal do Brasil é considerado o primeiro diário digital do País ‘a fazer
cobertura completa no espaço virtual’ (MOHERDAUL, 2000, apud QUADROS, 2002).

Apesar do carioca Jornal do Brasil ser considerado o pioneiro na Web, a autora


ressalta que “os esforços dos jornalistas da versão digital de O Estado de São Paulo serão
retomados por sua importante contribuição para o desenvolvimento do jornalismo on-line”.

Agora, vamos ao salto que o jornal deu nesses mais de 20 anos de experiência online
e olhar quais são os produtos digitais do jornal em 2017, cerca de 130 anos depois de sua
fundação, e suas investidas nos ambientes dos dispositivos móveis. Mais à frente no
capítulo, vamos olhar para a expertise adquirida pela empresa, principalmente no que se
refere à questão mobile, e analisar seu site para dispositivos móveis.

Para essa discussão, o trabalho usará a entrevista do editor de plataformas digitais do


Estadão, Luís Fernando Bovo, realizada em 8 de julho de 2016, como integrante do objeto de
estudo.

71
3.2 Análise do site mobile do Estadão

O ponto de partida da análise neste trabalho é o momento em que o Estadão


disponibiliza a versão atual do seu site mobile, em maio de 2015. O novo site é considerado,
nesta pesquisa, um ponto de destaque no contexto do jornalismo móvel brasileiro, por dois
principais pontos: ele foi finalista em premiações internacionais de design e deu início à mais
recente identidade digital geral do Estadão, que desenvolveu o atual site para desktops
junto a esse mobile, mas esse último só foi ao ar em 8 de julho de 2016.

Além das premiações, na época em que foi lançado, era nítida a sua originalidade na
interface perante os sites mobiles dos outros grandes jornais brasileiros. O site foi finalista
nos prêmios Digiday Publishing Awards e Pixel Awards, nas categorias “Melhor Estratégia de
Desenvolvimento de Audiência” e “Notícias e Publicações”, respectivamente.

O que guiou a mudança na interface do site mobile do jornal foi a “experiência do


usuário”, conceito das ciências da computação que define diretrizes para a construção de
design de interfaces que leva em consideração – no caso de projetos editoriais digitais - as
melhoras formas para o leitor acessar o conteúdo que se pretende oferecer em determinado
suporte. O jornal contratou a agência Huge para desenvolver o projeto, em substituição ao
site mobile anterior, no ar desde maio de 2014. A agência desenvolveu o site para mobile e o
site geral do jornal, que foi pensando na gramaticalidade dos desktops, mas que tem a
característica responsiva.

Em matérias publicadas em 2015 para divulgar o novo site mobile, o jornal cita a
mudança como algo que se destaca pela curadoria – por parte dos editores, personalização –
por parte do leitor – e pelo foco na experiência do usuário.32 O site do jornal, à época,
também publicou vídeos com o guia de apresentação da nova interface.

O editor Luís Fernando Bovo reforça que a grande mudança se refere à curadoria e
personalização. No projeto anterior, o site mobile “puxava” e organizava automaticamente
as informações nos detalhes dos dispositivos.

Em 2015, a gente lançou nosso site mobile porque a gente percebeu que
a nossa audiência estava migrando para o mobile. A nossa e de todo

32 Informações disponíveis em http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,estado-estreia-novo-site-para-dispositivos-


moveis,1684238.
72
mundo. Em alguns momentos do dia, a gente via que tinha mais gente
no mobile do que no desktop. Então, a gente viu que era a hora de a
gente investir no novo site mobile. Como é que era antes? Ele
automaticamente puxava trechos da nossa home e apresentava para o
leitor. E aí a gente achou que estava na hora de fazer um desenho.
Primeiro a gente fez o desenho do desktop em 2014 e no ano passado a
gente fez o redesenho do site mobile. Fomos procurar ajuda, que foi a
agência Huge, que ajudou a gente a pensar o mobile e desenvolver um
projeto que atendesse esse leitor que esta em movimento.33

De acordo com Bovo, que forneceu a entrevista na véspera de o novo site geral ir ao
ar, como o site mobile e geral foram feitos pela mesma empresa, a unidade nas interfaces se
destaca.

“O conceito do site mobile está sendo expandido também o nosso


desktop, para dar não só uma unidade de design, mas uma unidade de
conceito também. Aquilo que você vê no mobile você vê também no
desktop. Com isso, a gente vai ter um site só para qualquer plataforma.”

Para Bovo, foi importante o Estadão contratar uma empresa com experiência em
design de interfaces focado na experiência do usuário.

“A gente pensou no que seria legal para o usuário. Eles trouxeram muito
de sua expertise para gente, como: tem que ser limpo, tem que ter foto,
fácil de compartilhar, curadoria e aí entrou as nossas premissas de que
tinha que ter ‘temperatura’. Não pode colocar uma foto só pela foto.
Tem o jornalismo que diz que a foto tem que ser quente. A nossa
premissa foi curadoria e edição.”

Neste trabalho, com o objetivo de descrever o ambiente mobile do Estadão, vamos


dividir as partes da análise em: capa e apresentação, editorias (acessíveis em uma segunda
camada), funções e compartilhamento. Além da descrição do design da interface, vamos

33
A partir deste ponto, as informações oferecidas por Luís Fernando Bovo foram todas obtidas em uma entrevista
realizada na sede do jornal O Estado de São Paulo, no bairro Limão, São Paulo (SP), em 8 de julho de 2016. A entrevista
aconteceu no contexto em que o Estadão aplicava seu novo site para desktops, feito pela mesma empresa que
desenvolveu a versão mobile dele, disponibilizada um ano antes.

73
identificar também a presença das estratégias do jornal, como a forma com que a
publicidade aparece, como a barreia do “paywall” surge no ambiente mobile, etc.

Capa e apresentação

A primeira tela do site mobile do jornal tem seu espaço geral ocupado geralmente
por um fotografia de impacto, com uma barra superior transparente com a marca do jornal,
o ícone para o acesso à previsão do tempo, um ícone para buscas e um ícone de menu.

A fotografia é relacionada à notícia mais importante, que é a primeira de uma lista de


que pode ir até 12, escolhidas pelos editores para ficar na primeira tela do site mobile. O
nome da lista é “Saiba Agora”. Ao lado, uma descrição de quantos itens foram escolhidos
fica à mostra. Na figura abaixo, havia 12.

Conforme se rola para baixo o site, a transparência da barra superior desaparece,


dando lugar a uma barra em azul sólida que permanece em todo o acesso.

A coluna com as matérias que surgem, a seguir, é branca e de design minimalista. Há


sempre um título, um subtítulo e ícones para compartilhar em redes sociais. Ao lado
esquerdo do título, um número com a posição da matéria e uma termo chave (com o nome
da editoria ou uma frase com referência ao assunto abordado) contextualizam a informação.

Figura 13 – Grupo de prints do layout do site (1) – capa verticalizada.

74
Embaixo do título e subtítulo, pode-se acrescentar bullets com matérias relacionadas
ao tema, ou mesmo secundárias, como galerias ou artigos com análises de colunistas.

As quatro primeiras notícias dessa lista compõem o design da home do site. Caso se
queira olhar a lista completa é preciso clicar no botão “Carregar mais”. Quando clicado, não
se abre uma nova página, mas o site se alonga, com o prolongamento da seção Saiba Agora.

Até o fim do site – e depois do Saiba Agora, toda a hierarquia do conteúdo seguinte é
personalizável. No acesso feito em 6 de junho de 2017, às 23h39, assim que se passava pela
sessão, tinha-se acesso ao um “carrossel” com artigos da equipe de colunistas do jornal.
Todos sempre com a possibilidade de compartilhamento, com a fotografia e o nome dos
colunistas em destaque na tela.

Em seguida, a sessão de Opinião tem a mesmo design. Finalizada a sessão de Opinião,


a seção seguinte é a de Blogs, com a formatação seguindo a mesma lógica do carrossel.
Todos essas três sessões, com design parecido, sempre tinham em baixo a opção de se abrir
uma segunda camada com todos os artigos dentro dela, como o texto “Mais em Blogs”.

Figura 14 – Grupo de prints do layout do aplicativo (2) – espaço das chamadas para textos dos
colunistas (imagem 1). Na imagem 2, espaço para as chamadas dos blogs. A imagem 3, espaços
com as chamadas dos editoriais do Estadão.

75
No acesso citado, o conteúdo seguinte a esse fazia uma divulgação do pacote digital
do Estadão com informações dos benefícios do pacote. Esse card com a divulgação do
pacote digital aparece em outras camadas e em outras espaços dentro do ambiente do site
mobile. Mais à frente, vamos discutir melhor o conteúdo relacionado ao modelo de negócio
do Estadão presente no site, como propaganda (incluindo conteúdo patrocinado), estímulos
às assinaturas digitais e os bloqueios do paywall.

Em seguida, os conteúdos das editorias vêm à tona. No acesso citado havia uma
matéria de Esportes. Já no acesso feito em 11 de junho de 2017, às 17h37, o conteúdo dessa
segunda parte da home (após o Saiba Mais, Opinião, Colunistas) começava com o da editoria
de cultura com o título Fim de Semana, seguido por Esportes, Economia, E+.

A quantidade de seções seguintes ao Saiba Agora pode variar, até chegarmos ao


rodapé da página, onde encontramos informações de atendimento, opções para o assinante,
trabalhe conosco e links para os perfis dos jornais no Facebook, Twitter e Intagram.

A prioridade ao mobile na redação do Estadão pode ser vista a seguinte afirmação de


Bovo: “Dependendo do dia e dependendo do horário, a gente edita primeiro a home do
mobile e depois a home do desktop, porque a audiência está muito mais no mobile.” De
acordo com o editor, a curadoria fez diferença, garantindo o sucesso do site mobile.

“A gente fez um trabalho focado basicamente em experiência do


usuário, que é a expertise desses caras. Eles não trabalham só com
mídia. Trabalham com banco, comércio eletrônico. Esse projeto foi
premiado duas vezes fora do país. Uma delas, ele ganhou o Oscar do
design. Ele é superpremiado porque ele traz uma coisa que os outros
não tem que é a curadoria de noticias. São de 7 a 11 notícias, o Saiba
Agora, que é editado manualmente. São pessoas que fazem. Não é um
robô.”

A capa do site mobile é, então, um ambiente marcado pela personalização e pela


sintetização do conteúdo produzido pelo jornal. Um ponto importante é a permanência da
barra superior. Como já citamos, ela oferece a opção de clima, busca e o menu.

Editorias, o menu, segundas camadas e linguagem

As segundas camadas do site mobile do Estadão seguem o design da home, com


destaque à seta de “voltar” no canto superior esquerdo. Quando esse segundo click nos leva

76
à uma editoria, e não a um artigo, há sempre cabeçalho com o nome da seção e um menu
horizontal. É possível perceber que esses espaços funcionam como uma nova home dentro
do site, com personalização. Não é, puramente, uma lista das matérias.

O ambiente das editoriais também ganha individualidade devido às cores que cada
uma tem. No caso da “Economia e Negócios”, a cor predominante é um marrom claro. A de
política tem um azul acinzentado.

Como possibilidade acessada em um segundo clique, o que também chama atenção


nas ferramentas do site é o menu, acessado pelo ícone de três linhas no canto superior
direito. Dentro dele, é possível fazer login na sua conta do Estadão, checar informações de
trânsito, do tempo, horóscopo, quadrinhos, aplicativos e acessar as opções de assinatura.

Quando entrarmos em contato com a segunda camada do site mobile, nos


deparamos com um tradicional artigo jornalístico, que pode ser enriquecido e é
caracterizado por aquelas sete características apontadas no capítulo. Mas, uma coisa não
tem sido alterada pelo paradigma do jornalismo digital movél: a linguagem.

Figura 15– Imagem 1 - editoria de esportes do site. Imagem 2 - Funções mostradas quando aparece
a opção menu no site.

77
De acordo com Bovo, não há revoluções em como se escrever um bom texto
jornalístico. A revolução estaria em “entregar o conteúdo de outra maneira”.

“A linguagem é a mesma. É A linguagem jornalística. Não tem que ter


grandes malabarismos. Se o texto for bom, o cara lê e ponto. O que a
gente faz é dar opção para o usuário pular para outra coisa se não é
aquilo que ele quer”.

Para o jornalista, também é questionável dizer que o texto não pode ser grande,
porque “se for interessante, o sujeito vai ler.”

“Se fosse assim, a Eliane Brum não ia ser lida e, segunda ela me diz, a
coluna dela é lida até o fim. E a gente percebe que ele lê porque o
engajamento no celular é alto. Então, isso para a gente é besteira. O
tempo de acesso no desktop é 11, 12 minutos, mas no celular o cara fica
6 minutos no site”.

Dois pontos que se destacam no site mobile do Estadão são características fortes de
presença de interatividade no ambiente. Elas são as funções de Previsão do Tempo e
Trânsito e as opções de compartilhamento em redes sociais dos artigos. O link para a
previsão do tempo está disponível na home do site mobile como um ícone. Já o trânsito fica
“dentro” do menu, acessado via as três barras horizontais.

Figura 16– Imagens 1 e 2 – Editoria de Economia, com menu superior. Imagem 3 - Função previsão
do tempo.

78
As funções de compartilhamento em redes sociais se destacam por já estarem
disponíveis na home, ao lado dos títulos. Os ícones em destaque são Facebook e WhatsApp,
o que também “merece” um destaque, já que a rede se consolidou no Brasil como a
principal forma de troca de mensagens instantâneas entre usuários de smartphones, com
76% dos usuários de smartphone fazendo uso do aplicativo de forma regular.34

O destaque dado ao compartilhamento simboliza como as redes sociais se


transformaram em protagonistas na nossa experiência digital, como vimos no capítulo 2.
Além disso, mostra que o jornal assume essa via como o ambiente onde as notícias são
recomendadas, compartilhadas e se alastram.

Propaganda e chamadas para assinatura

De acordo com Bovo, as investidas da publicidade mobile ainda não aproveitam


tudo o que poderia. Apesar de o jornal entender o novo modelo de negócio como algo mais
baseado nos assinantes, a publicidade digital é desejada pelos jornais.

“Muitos anunciantes ainda não estão preparados para anunciar no


mobile. Tanto que muitos não tem peça para o site mobile. Então, às
vezes a gente facilita quando o cara não tem essa peça. A gente ajuda a
desenvolver para tentar atrair o cara. A publicidade está um passo atrás
nisso ainda. Ainda está muito no desktop”.

No site mobile do jornal, existem peças publicitárias multimídia, publieditoriais


(Figura 16) além de peças de propaganda com incentivo à assinatura do jornal.

As propagandas em formato de publieditorial são textos com aparência jornalística


inseridas dentro de veículos jornalísticos como estratégia de marketing de conteúdo das
marcas. Elas são uma abordagem de marketing menos direta, que trabalha com informação
e educação dos públicos. Seu formato tem a pretensão de se misturar ao conteúdo
jornalístico, com menos invasão, e na tentativa de ter mais aderência com o público. Já há,
dentro das empresas jornalísticas, setores de marketing de conteúdo formado por
publicitários e jornalistas, que oferecem esse tipo de peça aos anunciantes. Assim, abre-se
uma discussão sobre como o jornalismo pode estar cedendo suas técnicas e espaços à
dinâmica do mercado publicitário.

34
http://exame.abril.com.br/tecnologia/brasil-e-um-dos-paises-que-mais-usam-whatsapp-diz-pesquisa/

79
Um ponto em comum dos jornais que lançam mão desse anúncio tem servido
também de “álibi” para os jornais usarem esse tipo de anúncio travestido de notícia: sempre
se avisa com algum elemento gráfico que aquele conteúdo é patrocinado por um
anunciante. Se isso é suficiente ou não, não pretendo discutir nesse trabalho. Fica aqui um
ponto que merece atenção em outros estudos acadêmicos.

Na figura 16 ainda, podemos ver uma peça de publicidade online com formato mais
tradicional. O destaque aqui é para o movimento do texto sobre a imagem, dando
dinamismo à publicidade, mas aproveitar as especificidades da gramaticalidade mobile e da
dinâmica interacional do touchscreen vai além disso. A imagem com autopropaganda das
assinaturas digitais do Estadão são frequentes no site e fazem parte do estabelecimento do
novo modelo de negócios.

Figura 17 – Chamada de Figura 18– Imagem em Figura 19 – Propaganda


publieditorial movimento de peça com incentivo à assinatura
publicitária

Os aplicativos do Estadão

Como vimos no capítulo 2, a distribuição em todos os formatos móveis é o norte pelo


qual os grandes veículos têm se direcionado. Entre os que se destacam são os sites
desenvolvidos para mobile – e toda uma estratégia que vá remeter a audiência a ele – e os
aplicativos.

80
O que é interessante de se observar é a escolha do investimento nesses produtos em
sintonia com o comportamento dos leitores. Como já vimos, ele acontece principalmente via
o feed das redes sociais, enquanto a pessoa está usando seu celular. Com essa dinâmica,
ficaria claro que o direcionamento ideal deveria ser a valorização dos sites, abertos ao
acesso conquistado via rede social. Além disso, o conteúdo de um aplicativo não é indexado
(rastreado, passível de ser buscado). É como se aquele material estivesse “fora” da rede. É
uma comunicação mais direcionada.

Além do site mobile analisado até este ponto, neste trabalho vamos descrever
rapidamente os outros produtos digitais para celulares do Estadão, que são os aplicativos. O
Estadão tem três aplicativos para smartphones: eles são o “Estadão”, “Estadão Digital” e o
“Você no Estadão”. Cada um tem uma interface e um objetivo diferente.

O aplicativo com nome de Estadão é a versão para aplicativo do site para


navegadores móveis. Ele tem a gramaticalidade e a lógica dos sites mobile, com uma coluna
só e todas as opções do site original. A diferença que merece destaque aqui é a possibilidade
de o leitor ser alertado com notificações quando novas notícias são publicadas. Outra opção
adicional interessante é o download daquele conteúdo para leitura sem conexão.

Figura 20– Tela inicial do Figura 21 – Opção de


aplicativo Estadão permitir notificações por
push no aplicativo.
81
Enquanto o Estadão mobile – o primeiro a aparecer na buscar na loja de aplicativos
do sistema iOS como resultado da busca Estadão – é o site móvel do jornal dentro de um
aplicativo, o Estadão Digital é destinado para o download de versões digitalizadas do jornal
impresso, com a possibilidade se fazer um login e ter acesso livre ou comprar uma edição
avulsa por US$ 0,99.35 Como vimos no capítulo 2, é uma forma de transposição da gramática
impressa para o mobile, mas ainda há público para ela. No caso do Estadão, não pode ser
considerado uma apego a uma forma ultrapassada, mas sim um sinal de que o jornal não
abre mão de qualquer forma de distribuição que tenho alguma apelo, público e retorno.

O aplicativo “Você no Estadão” é oferecido para os leitores contribuírem com


sugestões de pautas e enviarem fotografias e vídeos. Mais uma vez, é um posicionamento de
abarcar todas as possibilidades de contato com o leitor móvel, quando se depara com um
algum fato relevante. Geralmente, é um tipo de contribuição relacionada a pautas de cidade.

Figura 22 – Lista dos Figura 23 – Tela inicial do


arquivos das edições aplicativo “Você no
impressas para download. Estadão”.

35
Preço conferido no dia 20 de junho de 2017.
82
Mas, de acordo com Bovo, a estratégia é usar as duas formas de distribuição.

“Se você perguntasse para mim o que eu prefiro, eu ia preferir muito


mais que o cara tivesse o aplicativo instalado. Porque eu posso “falar”
com ele e medir na hora o acesso. Quanto mais gente eu tenho com o
aplicativo baixado, mais gente eu consigo falar via push, incentivar a
leitura em primeira mão. Posso saber se ele abriu ou não aquela
informação. Posso saber quantas pessoas estão ignorando. Você tem
que estar nos dois. Ter o aplicativo e ter o site mobile. Tem gente que
quando faz uma pesquisa no Google vai chegar no site mobile. Então
tem que ter os dois. Eu preferiria trabalhar com aplicativo. Só. Mas você
tem que estar nos os dois. Eu prefiro entrar no site mobile. Mas
enquanto empresa, é melhor falar com o cara via aplicativo”.

Até aqui, neste capítulo, analisamos os produtos digitais do Estadão, usando como
informação de contexto e de extensão a entrevista feita com o editor Luís Fernando Bovo. O
conteúdo da entrevista relacionado às estratégias do jornal menos relacionadas à descrição
desses produtos serão discutidas agora.

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3.3 As estratégias e a expertise do Estadão na área digital e mobile

A audiência e caminhos do leitor

Como vimos no capítulo anterior, existem muitos caminhos possíveis para se chegar
ao conteúdo jornalístico digital, seja em um ambiente mobile, ou não. De acordo com Bovo,
o jornal decidiu lançar mão de uma estratégia para aumentar o tráfego direto assim que o
novo site mobile foi lançado.

“Logo que a gente lançou a gente percebeu que os usuários chegavam


ao nosso site mobile principalmente pelas redes sociais. A gente fez um
trabalho para mudar isso e hoje a maioria já é trafego direto. Não é rede
social. Primeiro a gente começou a fazer uma ação. Quando o cara
entrava em uma matéria pelo facebook e caía dentro de uma matéria,
aparecia um aviso para ele criar um atalho na área de trabalho dele. E a
gente fez um trabalho desenvolvendo nosso aplicativo também, para as
pessoas baixarem, uma campanha, uma campanha com assinante. Aí
conseguimos fazer essa transferência. Hoje a nossa audiência tem o
pessoal que chega pro mobile via redes sociais é maior do que o do
desktop, mas nos dois casos a maioria é tráfego direto.”

O jornalista também comenta sobre a métrica do engajamento. Segundo Bovo, ela


aumentou. Na prática, as pessoas ficaram mais tempo dentro do site do Estadão, navegando
por mais páginas, o que surpreende. “E é uma coisa que não acontece no mobile
geralmente. As pessoas passam seis, sete minutos aqui, o que é bastante tempo num site
mobile.”

No capítulo anterior, vimos diferentes tipos de leitor seguindo a categorização


cognitiva, mas quando estamos nos referindo ao consumidor de notícias de uma marca
jornalística, o espectro de tipos de “cliente” é gigantesco. O desafio também envolve ter
uma estratégia válida para todos eles.

“Você tem o cara que é assinante e digita Estadão.com.br para acessar,


tem o sujeito que é assinante e topa com uma matéria na rede social
que ele eventualmente não encontrou na home ou nas editoriais... Do
mesmo jeito que tem o não assinante, o usuário eventual, que digita
estadão.com.br e o um eventual que vem das redes sociais. É um mix.”

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Bovo afirma que o leitor que vêm pelo tráfego direto digitando em sua barra de
endereços o link da home do jornal “quer confirmar uma informação, basicamente”. Aqui,
entra o comportamento permanente de o leitor buscar a confirmação de fatos na indústria
jornalística.

De acordo com Bovo, o engajamento e o tempo de permanência dos leitores que


formam a audiência do Estadão é grande porque é uma audiência que já estava procurando
a informação do Estadão sobre algum assunto, e que não chegou ali de forma aleatória.

“Ninguém vem ao site do Estadão para ler uma matéria de dieta. Ele
vem ao site para ler sobre a crise política, sobre como está a economia,
para ler algum colunista. E aí obviamente ele topa com outros
conteúdos e vai ficando e navegando. Por isso que ele navega bastante
aqui dentro. Porque as pessoas tem esse habito de procurar o Estadão
‘sozinhas’, do que vindo por outros meios.”

Assim, de acordo com o editor, a probabilidade de se permanecer no site e navegar por


outras páginas quando você chegou ali procurando o Estadão é “muito grande”.

“Não é que o assinante não vai chegar por rede social. Ele vai. Os caras que são
assinantes, que são leitores mais fieis, são mais propensos a digitar
Estadão.com.br do que aqueles que não são. Mas entre todos que entram, a
gente também tem uma grande parte que a gente sabe que é a primeira vez
que está entrando no site do Estadão.”

As parcerias com Google e o Facebook: o Google AMP e o Instant Articles

A utilização das funcionalidades Instante Articles e Amp, do Facebook e Google


respectivamente, está diretamente ligada à característica que Bovo destaca como definidora
do contexto atual: a importância de se pensar em distribuição.

“Hoje em dia não tem como você ficar fora disso. Hoje em dia o jornalismo é
distribuição. Se você não tiver distribuição, acabou. Então você tem que estar
no Instagram, no Facebook, no Twitter, no Google, no Snapchat. Tem que estar.
Não tem jeito. Uma vai trazer marca, um vai trazer experiência, um vai trazer
recall, mas você tem que estar.”

Na entrevista, o jornalista também destacou como é fundamental para o jornal


valorizar a distribuição, já que ele não é hospedado dentro de um grande portal que pode
85
ajudar no direcionamento de sua audiência. O jornalista faz uma analogia ao comércio de
lojas. O Estadão seria “uma loja de rua” e não “uma loja de shopping, como é a Folha e O
Globo”. Esses jornais estariam dentro de grandes shoppings, que é o UOL e a Globo.com.

Segundo Bovo, o Estadão foi o primeiro jornal brasileiro a adotar a parceira com o
Facebook e aceitar a utilização do Instant Articles e ele “compensa” a perda de trafego
direto ocasionada pela mudança no algoritmo do Facebook, que vêm privilegiando as
postantes de amigos, e menos de páginas.

“O Instant Article é um conteúdo que carrega muito mais rápido. A


audiência é nossa, a publicidade é nossa. O engajamento acaba sendo
menor, porque você clica, lê matéria e vai embora. Por outro lado, em
um momento como esse em que o algoritmo do Facebook mexeu e nós
estamos tendo sendo afetados porque perdemos principalmente
usuário único, a gente tá usando o Instant Article como munição para
tentar compensar essa queda. Mesmo que o engajamento seja menor,
você tenta manter pelo menos a aquisição de novos usuários. A gente
percebeu que o Instant Articles sofreu menos que os links diretos com
essa mudança de algoritmo”.

No caso do Google Amp, Bovo ressalta que o a empresa norte-americana quer uma
experiência de usuário de qualidade na dinâmica de busca do leitor. Se os links oferecidos
demoram para carregar a partir dos resultados, tanto o Google como o site “perdem”
qualidade nessa experiência.

“O Google AMP é fundamental para que o site carregue rápido no


celular. Não muda nada. Você só tem que construir uma outra interface,
tirando algumas coisas, limpar para ficar mais rápido o carregamento. E
se você faz isso, você tem privilégios. O que o Google está fazendo é,
quando você entra no celular e pesquisar alguma coisa do Estadão, ou
de qualquer outro veíciulo, se você não tiver o AMP lá você não vai
aparecer mais na busca, porque você vai ficar muito mais pesado de
carregar e a experiência do usuário é melhor”.

Ainda de acordo com Bovo, a audiência não é afetada, “muito pelo contrário.” A
parceria favoreceria os veículos que lançam mão dela. Apesar dos benefícios dessas duas
ferramentas, como há perda de tráfego direto, o jornalista afirma que o veículo precisa
investir nesse tipo de audiência para não ser dependente.

“Obviamente, a gente sabe todos os riscos que isso traz, de você ficar na
dependência de todos eles e tal, por isso que é importante você ter um
86
trafego direto como a gente tem. Então a gente fica menos vulneral
quando, como por exemplo, o Facebook vai lá e resolve mexer no
algoritmo. O impacto na gente é menor, apesar de a gente sentir
também. É menor porque a gente tem um tráfego direto muito forte.
Quem depende 80% do Facebook morreu nessa hora, porque a
audiência do cara despenca”.

De acordo com Bovo, apesar da importância do tráfego que vem de redes sociais e de
estratégias para conseguir engajamento nas publicações dentro desses ambientes, o “clique
pelo clique” não é um caminho positivo: “o usuário fica puto com título caça clique.”

Essa formatação de títulos a que o editor se refere é recorrente em sites como


BuzzFeed e Huffington Post, que usam de suspense, exageros para atrair audiência. Outra
novidade de linguagem são os títulos com lista. Mas esses o jornal usa.

“A gente não produz nada voltado para rede social. A gente faz porque é
bacana. A gente acredita que a gente define a audiência e não o oposto.
Logo, a audiência vem. A gente está atento às redes sociais, ao que
pessoas estão vendo. E aí isso cabe em algumas editoriais, mas isso não é
premissa. Todas essas coisas novas, como lista, a gente usa para o nosso
tipo de conteúdo. Isso você está dando uma informação relevante. Então
a gente usa essas novas maneiras, adequando ao nosso tipo de
conteúdo.”

Ainda falando sobre distribuição, a perspectiva de Bovo sobre a queda no uso dos
tablets é pragmática: esses aparelhos tinham nascido “meio sem função” e foram engolidos
pelo aumento das telas dos celulares. Para o jornalismo, o leitor também não estava muito
interessado em conteúdo “ultramultimídia”.

“Os celulares ficaram cada vez maiores e melhores. Com isso, eles
praticamente ofuscaram os tablets, que até então a grande novidade da
indústria. As possibilidades do tablete eram muitas, mas só que o
usuário não tava a afim de pirotecnias editoriais. A nossa edição tem
galeria de fotos, vídeo. O usuário não respondeu positivamente. O tablet
virou um aparelho para ficar em casa. Eu nem trago mais o meu para cá.
Tenho três tablets que ficam em casa e quase não uso. Antes, eu usava
para baixar o jornal e ler de manhã antes de vir para cá. Agora, eu baixo
no celular e pronto. Mais prático. Eu acho que o que aconteceu é que o
tablet já nasceu meio sem função. Ele não era um notebook, não era um
celular, ficou uma coisa meio hibrida. Estava pedindo para morrer. Aí,
vem o celular e aumentou sua tela”.

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Como o celular já é o protagonista no que se refere a dispositivo convergente a nos
acompanhar, não haveria espaço para outro aparelho. “Está todo mundo no celular. A
pessoa está o tempo todo com o celular. É com ele que ela anda. É com ele que ela se
comunica, onde ela tira foto, ouve musica e é ali que ela vai ler noticia também.”

Curadoria e o papel do jornalismo

No site mobile do Estadão, há a presença forte da capacidade de personalização. Ao


mesmo tempo, mas não de forma contraditória, o produto se caracteriza pela curadoria na
lista do “Saiba Agora”. Como abordamos no capítulo 2, existem indícios de perda de
credibilidade da figura do jornalista e da imprensa tradicional no modo de consumo de
conteúdo das gerações mais novas. Apesar disso, segundo Bovo, o público do Estadão confia
na escolha dos editores: “Outra coisa é que as pessoas personalizam pouco. Elas valorizam a
sua curadoria para escolher o que ele quer e isso é um puta voto de confiança”.

Quando perguntado se ele acreditava que as milhões de fontes de informações na


Internet reforçam a necessidade da figura do jornalista, Bovo é enfático:

“Sim. Mais do que nunca. Curadoria parece uma palavra antiga, mas ela
tá super na onda. No período de impeachment, de cada cinco noticias,
três eram falsas no Faceboook. É muito importante o jornalismo de
qualidade feito com o método jornalístico, seja de verdade. Que não
seja informação disfarçada de jornalismo, seja boato disfarçado de
jornalismo. A gente bate muito nessa tecla. Nem tudo que tá na rede é
peixe, porque tem muita porcaria que cai na rede. Quando você tá
navegando, você topa com tudo. O jornalismo nunca teve um papel tão
importante. Se não, você tá ferrado. Eu, por exemplo, não clico em nada
que eu não conheço a fonte”.

De acordo com Bovo, o leitor que utiliza o aplicativo Estadão Digital e baixa o pdf do jornal
em seu dispositivo móvel é um leitor que “preza à edição e quer saber como o jornal está
empacotando aquela informação”.

3.3.1 A cultura das assinaturas digitais e a relação entre assinaturas e independência dos
jornais

Uma hipótese que surgiu durante a entrevista, foi sobre a mudança da cultura de se
pagar por conteúdo na Web. Júnior (2013) e Camargo (2015) comentam que o leitor paga
por entretenimento, mas não gosta de pagar por notícia. De acordo com Bovo, os serviços
de música e vídeo on demand “ajudam” na travessia para esse novo modelo de negócio.

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“Esses serviços tipo Spotify, Apple Music, Netflix... Isso tem ajudado a
incutir na cabeça da pessoa que compensa você pagar um pouquinho,
mas ter acesso a um conteúdo, a musicas, a filmes. Tem ajudado
bastante a gente, só não sei quanto tempo essa travessia vai demorar.”

Outra característica do público pagante por informação é que ele sempre foi de
nicho e mais praticado por classes mais abastadas, de acordo com Bovo: “O brasileiro acha
que tudo é de graça. Nós nunca tivemos como uma cultura geral isso de pagar assinatura de
jornal. Sempre foi uma cultura de nicho. E acham que é de graça.”

Mas como se convence esse público que hesita em pagar? Para o jornalista, “a
estratégia é informar um cara que pra continuar lendo, ele tem que colaborar para manter o
jornalismo de qualidade.”

Como discutimos no capítulo 2, o modelo de negócio baseado em anunciantes pode


trazer problemas de dependência editorial às redações. Para Bovo, é positivo aumentar os
números de assinantes digitais para se depender menos da publicidade.

“O ideal é que você tenha inúmeros, milhares, muitíssimos assinantes


para que você dependa menos do poder econômico e do poder que a
publicidade exerce sobre o jornalismo. Esse é o melhor dos mundos. A
gente ainda não conseguiu equalizar, mas é o que a gente está
buscando”.

Para Bovo, “essa travessia vai acontecer”, mas o desafio é “o que você vai fazer
enquanto isso não acontece.”

A permanência do jornal impresso dentro do portfólio dos produtos dos jornais vai
além do seu peso simbólico. Ele parou de trazer o lucro que trazia, mas ainda tem uma
relação de espaço publicitário-lucro significativa. De acordo com Bovo, o anunciante ainda é
interessado nessa mídia, mas não desembolsa tanto quanto antes porque não somos mais
aqueles leitores que consomem notícia folheando páginas impressas no café da manhã.
Segundo o editor, o caminho é o da diversificação das fontes de receita em um modelo de
negócio, à partir da consolidação da Internet, mais focado nas assinaturas digitais.

“A gente sabe que o impresso é super importante para o modelo de


negocio que a gente tem atualmente. Logo, a gente não vai sacrificar a
vaca leiteira. Então, você continua dar um tratamento porque tem
cliente e anunciante interessado, mas isso não significa que a gente não
esteja tentando um outro modelo de negocio, que são assinaturas
89
digitais, o paywall, as vendas de conteúdo. Temos que ampliar e
diversificar nosso modelo de negocio.”

Ressaltando o sucesso do paywall – como vimos no capítulo 2 – Bovo assume que é


essa a estratégia do jornal. Um componente interessante desse modelo de negócio,
apontado pelo editor, é que uma assinatura digital de um jornal com cobertura de temas
nacionais (como O Globo, Estadão e Folha) faz mais sentido para um leitor de outras regiões.

“O que a gente tem aumentado são as assinaturas digitais, que é uma


estratégia nossa. Fora de São Paulo, por exemplo, não faz sentido você
ficar fazendo essa coisa de mandar jornal para casa do cara lá no Piauí.
Eu acho que o jornal impresso vai ficar para um nicho e você vai ter um
aumento exponencial das assinaturas digitais, até pela facilidade de ler
em celular. Isso deve aumentar porque todas as empresas estão nesse
movimento de restringir o acesso.”

Novas formas de se consumir informação implicam em novas formas de


distribuição, que trazem novos modelos de negócios. Mas as redações mudaram sua
dinâmica? Se antes tudo convergia ao fechamento da edição impressa com grupos
secundários cuidando a publicação digital, no Estadão o caminho apontando por Bovo
inverte a atenção dos jornalistas e editoras dos jornais: o impresso deve virar um produto
feito por um grupo menor. Na época da entrevista, toda a redação e as editoriais faziam
conteúdo para todas as plataformas, inclusive para o impresso. De acordo com o editor do
jornal, o momento é de avaliar a produção do impresso de forma mais isolada.

“Hoje, a redação trabalha produzindo conteúdo para todas as


plataformas e as editorias fecham o jornal impresso também. O que a
gente tá discutindo é como fazer essa divisão porque estamos com a
ideia de que o jornal impresso seja um espécie de editoria aqui dentro e
tratado por um grupo de pessoas só cuidando do impresso e que as
editoriais passem produzindo conteúdo o dia todo para o mobile e
digital e no final do dia um grupo que fecharia o impresso.”

Bovo destaca que essa é a dinâmica já adotada pelo jornal espanhol El País e pelo
nova-iorquino The New York Times. Para o editor “esse é o caminho” e estaria até se
demorando para fazer isso: “Estamos discutindo como vai ser essa redação, onde o impresso
vai ser um produto e não mais o centro da produção. Você tem que produzir conteúdo e ter
um grupo que fecha o impresso.”
90
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vivemos uma transição relativamente longa entre os padrões de consumo em


plataformas tradicionais das mídias de massa até o completo consumo de conteúdo e mídia
via Internet. O caminho aponta nessa direção há tempos, mas não é na velocidade da
transmissão de dados da banda larga que se altera o nosso relacionamento com o conteúdo
que consumimos.

Neste trabalho, entendemos que, antes de se analisar produtos desenvolvidos pelo


jornalismo, é preciso perceber em função de que tipo de leitor esses novos formatos são
propostos e qual o contexto sociocultural. A cultura da mobilidade está estabelecida, mas
não começou quando os celulares se massificaram. Ela é um novo estágio da sociedade em
rede, muito ligado à tecnologia sem fio de qualquer dispositivo minimamente móvel,
nascendo em um período pré-celulares.

Todo a revolução tecnológica e editorial trazida pelos smartphones tem a ver com a
interface, com o surgimento de dispositivos com gramáticas próprias. Tudo isso é o
fundamento para qualquer investida de produtos jornalísticos sobre esses aparelhos.

Antes de qualquer clareza sobre quais caminhos de modelo de negócio, de


produção e distribuição de conteúdo os smartphones trariam, os jornais impressos já
passavam por seus questionamentos quando a Internet começou a alterar sua sólida lógica
de vendas altas que garantiria anunciantes. Era nítido que o jornalismo também precisava
ocupar aquele espaço. Quando o webjornalismo já havia atingido uma certa maturidade, os
jornais perceberam que o acesso por smartphones começou a ser significativo na audiência
digital – e só tinha a crescer.

Neste trabalho, falamos de muitas linhas do tempo paralelas e de muitos fatores


que se relacionam com o objeto de estudo. Falamos do percurso de alteração da geografia
da rede; da dinâmica da adoção de inovação pela população; do surgimento das gramáticas
das interfaces; dos tipos de leitor decorrentes dos suportes que surgem; das fases do
webjornalismo e da evolução do jornalismo digital; da crise gerada pela Internet no modelo
de negócio etc. É uma salada de fatores e de contextos. Nota-se como é complexo discutir os
efeitos, causas e aspectos relacionados ao jornalismo digital móvel. Há muito a que se levar
em consideração.

91
Há duas principais conclusões: encontramos uma dinâmica do consumo de notícias
em tempos de smartphones e identificamos um padrão no pensamento estratégico dos
grandes jornais, ilustrado pela entrevista de Luis Fernando Bovo.

O leitor médio consome notícias dos portais dos jornais quando encontra com ela
em seu feed na rede social, em seu smartphone. Esse é um perfil que vem crescendo e está
estabelecido como o alvo das estratégias digitais dos jornais, como vimos nos dados das
pesquisas State of News Media e Digital News Report. De acordo com o Digital News Report
2016, 52% dos pesquisados usam mídias sociais para acessar notícias toda semana no Brasil.

A estratégia digital móvel atual dos grandes jornais é focada na diversificação da


receita, com menos dependência da publicidade e valorização dos recursos vindos de
assinaturas digitais. Os jornais relutaram um pouco em “baixar o muro”, mas fizeram. Hoje,
para ter acesso ilimitado, é preciso pagar. Além de incutir uma mudança cultural no
consumo de notícia ao leitor, as empresas precisaram reforçar que seu conteúdo merece ser
“patrocinado” pelo leitor.

O conteúdo gratuito e sua decorrente crise nos jornais me parecem características


desses primeiros anos do webjornalismo, onde a cultura do paywall foi servida “à força” na
mesa do café da manhã do leitor, que “aceitou” as políticas de restrição de conteúdo nos
sites, como vimos nos capítulos 2 e 3. Todos os quatro maiores jornais brasileiros (Zero Hora,
Folha, Estadão e O Globo) adotam a estratégia das assinaturas digitais. No caso do Estadão,
ela é ressaltada pelo investimento grande no design dos sites do jornal, como já
analisamos.

Outro ponto emque, tanto autores usados na referência, como o editor do Estadão
Luís Fernando Bovo concordam, é a sobre a falência dos tablets como suportes ideais para o
conteúdo jornalístico digital móvel. Ganhou a praticidade do smartphone.

Pudemos obter uma “fotografia do agora” com as reflexões abordadas sobre a


relação entre a cultura da mobilidade e o consumo de notícias, mas ele passa. Quando
algum outro produto apresentar uma nova dinâmica de comunicação, mais uma vez o
jornalismo vai atrás e deve propor alguma forma de ocupar aqueles suportes. O amanhã
pode ser ter um novo ciclo da tecnologia batendo à porta das redações, dizendo aos
editores dos jornais que os smartphones ficaram para traz.

Onde vamos consumir conteúdo? E notícia? O texto vai sobreviver? Qual será o

92
paradigma do consumo de conteúdo jornalístico daqui a 10 anos? A narrativa será construída
sobre a gramaticalidade da realidade aumentada? A Internet das coisas e os dispositivos
vestíveis devem vingar? Haverá algum que servirá como suporte de mídia?

Sempre haverá um trabalho sem fim da indústria da mídia de fazer conteúdo para
um novo suporte que surge. O curioso é que a sensação é que sempre estamos um passo
atrás da tecnologia, porque o tempo de entender a relação cognitivo-mercadológico-
corporal dos leitores que rapidamente aderem a novos gadgets é lento. O exemplo do
tablet, que não vingou, pode ilustrar essa situação.

É preciso entender a experiência sensorial do leitor utilizando algum futuro novo


suporte, qual a dinâmica do acesso dentro do cotidiano, qual a melhor linguagem e a
maneira de manter aquela produção economicamente sustentável. O Estadão, com seu site
mobile, apostou com tudo na experiência do usuário e no design.

Antes de qualquer novidade concreta trazer novos suportes, alguns assuntos


relacionados às reflexões desse trabalho se apresentam como imperativas para as pesquisas
sobre o jornalismo digital móvel e o novo perfil de negócios dos jornais.

Podemos destacar algumas questões em aberto: qual é o lugar do jornalismo de


fôlego, literário, investigativo no contexto do leitor ubícuo e do jornalismo móvel? Como a
indústria de mídia televisa é afetada com a alta de consumo de conteúdo audiovisual via
conexão com internet? Qual a estratégia dela? Como é o encaixe de start-ups e projetos de
jornalismo independente dentro do cenário que vimos neste trabalho?

O que sobra da figura do jornalista em tempos de ambivalência? Por que há uma


geração descrente da mídia tradicional, mas vivemos a valorização da curadoria e o
combate a boatos na Internet tomam força nas redações.

Os assuntos relacionados às transformações digitais trazidas pelas tecnologias


móveis e pela massificação do consumo de conteúdo via Internet são muitos. Aqui,
escolhemos olhar para os produtos digitais móveis de um dos muitos jornais brasileiros e
para sua expertise. Mas, o espectro temático é muito maior.

O que temos de concreto é a consolidação do acesso via mobile nos próximos anos,
junto da consolidação de assinaturas digitais e as receitas dos jornais pulverizando. Com esse
novo modelo de negócio estabelecido, os jornais que investiram nos ambientes digitais
devem encontrar sua sustentabilidade.

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