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20/02/2018 Exército prepara ordens de busca e apreensão em bairros inteiros do Rio | Brasil | EL PAÍS Brasil

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INTERVENÇÃO FEDERAL NO RIO DE JANEIRO ›

Exército prepara ordens de busca e apreensão em bairros inteiros do Rio


A medida já foi adotada em ao menos outras três ocasiões e acabou proibida pela Justiça
fluminense
AFONSO BENITES

Brasília - 19 FEV 2018 - 20:36 BRT

O general Braga Netto, interventor do Rio de Janeiro. SERGIO LIMA (AFP)

A intervenção do governo Michel Temer (PMDB) na segurança pública do Rio de Janeiro, aprovada na madrugada
desta terça-feira na Câmara dos Deputados, mal começou e já enfrenta seus primeiros entraves. Nesta segunda-
feira, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, anunciou que a gestão federal prepara uma série de mandados
coletivos de busca e apreensão para bairros inteiros do Rio. Medida essa que já foi adotada em ao menos outras
três ocasiões e acabou proibida pela Justiça fluminense.

Cumprir mandados coletivos é algo incomum. Significa, por exemplo, que policiais (ou
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militares que estejam sob o comando do interventor) teriam a autorização para vasculhar
qualquer casa da favela da Rocinha, uma comunidade com quase 70.000 habitantes. As
varreduras ocorreriam mesmo se não houvesse a suspeita do cometimento de crimes pelos
moradores ou frequentadores dessas residências. Para a ex-presidenta Dilma Rousseff,  "a
Intervenção, a nova iniciativa do governo golpista de promover mandados coletivos de busca, apreensão e captura
cara das ações
é uma das mais graves violações aos direitos civis que o Brasil enfrenta desde o fim da
militares que
fracassam há ditadura". Dilma comentou a questão no Twitter.
décadas no Rio
 
O decreto, assinado pelo presidente Michel Temer na sexta-feira, dia 16, foi aprovado nesta
madrugada após sete horas de sessão, com 340 votos favoráveis, 72 contrários e uma
abstenção. O texto segue agora para o Senado, onde deve ser analisado na tarde desta terça-
feira. Para aprovação, precisa do apoio da maioria simples dos senadores.
Uma interrupção
conveniente da
votação da reforma
da Previdência
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No ano passado, quando a polícia foi autorizada a investigar todas as casas da comunidade do
Jacarezinho, o Judiciário suspendeu a decisão alegando que o abandono das regras e
princípios jurídicos não é permitido nem em tempos de paz contra os cidadãos, nem em tempo de guerra contra
os inimigos. Na ocasião, o mandado tinha como objetivo investigar a morte de um policial civil e a consequente
reação que resultou no assassinato de sete moradores do local.

A possível batalha jurídica que Temer enfrentará já está no radar de vários especialistas do assunto. O procurador
da República Vladimir Aras, por exemplo, afirma que esse mandado coletivo seria ilegal. “A intervenção federal
não suspende garantias individuais. Entre essas garantias está o direito à inviolabilidade domiciliar. Se houvesse
sido declarado o estado de sítio, seria possível fazer buscas coletivas, inclusive sem mandado judicial”, alertou em
uma rede social. "Os mandados coletivos são um chute na porta do cidadão, de qualquer cidadão", reclamou o
deputado Wadih Dahmous (PT-RJ), ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio.

Opositores do Governo reclamam que a proposta não foi devidamente embasada. “Essa decisão da intervenção
não teve qualquer planejamento. Foi uma decisão atabalhoada. Foi um tiro no escuro. Não foi feito nenhum
balanço das ações anteriores”, reclamou o líder da minoria na Câmara, José Guimarães (PT-CE). Nos últimos dois
anos o Rio de Janeiro foi palco de 18 operações de Garantia da Lei e da Ordem, conhecidas como GLO. Nelas,
militares das Forças Armadas e da Força Nacional eram deslocados para fazer o policiamento de diversas regiões
do Estado. Os resultados delas ainda são desconhecidos do público em geral.

Endurecimento de lei penal


Enquanto o Governo se prepara para responder a uma enxurrada de processos contrários à sua intervenção no
Rio, no Legislativo os congressistas tentarão aprovar medidas que endureçam as leis penais. Representantes da
bancada da segurança pública, conhecida como bancada da bala, já esperam que projetos como o que a prevê a
redução da maioridade penal, o que diminui os direitos dos detentos e o que altera o estatuto do desarmamento
voltem à pauta do Parlamento.

“Se não endurecer a legislação, o marginal vai ver que o crime compensa. A intervenção no Rio é necessária, mas
ainda assim, iremos enxugar o chão com a torneira aberta. As causas dessa criminalidade são as leis brandas e a
sensação de impunidade”, afirmou o deputado Capitão Augusto Rosa (PR-SP), presidente da Comissão de
Segurança.

Na mesma linha seguiu o deputado Major Olímpio Gomes (SD-SP). “Voto a favor desse decreto de intervenção,
mas se você não criar um temor do criminoso de ser apenado, não vai mexer com nada”.

Ao menos três fatores devem influenciar para que pauta de segurança seja fortalecida no Congresso: ausência de
projetos estruturantes na área econômica (a reforma da Previdência não pode ser votada enquanto a intervenção
estiver em vigência), ano eleitoral em que políticos querem capitalizar feitos de olhos nos votos e o clamor popular
estimulado pelo anúncio da gestão Temer de que vai pôr um fim na crise de segurança do Rio.

“Essa intervenção é mais um produto de comunicação e marketing do que um projeto sério. Se fosse uma
intervenção de fato, teriam estratégia, planejamento. Tudo o que não tem”, criticou o deputado governista Índio
da Costa (PSD-RJ). “O Governo encontrou uma saída honrosa para abandonar a reforma da Previdência. Agora,
resta
  saber se ele vai conseguir dar um fim na crise do Rio, o que acho difícil”, ponderou o deputado oposicionista
Júlio Delgado (PSB-MG).

Em outra frente, a relatora do decreto na Câmara, Laura Caneiro (MDB-RJ), já tenta estender o prazo em que a
União continuará subsidiando as ações de segurança em seu Estado. No relatório que embasou a votação na
Câmara, Carneiro sugeriu que no orçamento da União de 2019 constem novos recursos para a área de segurança
do Rio e pediu que o Ministério do Desenvolvimento Social desenvolva projetos em todas as cidades do Estado.
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