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Territórios Luminosos e Territórios Opacos – uma análise à luz

das contribuições de Milton Santos

Virginia Elisabeta Etges


Doutora em Geografia, Professora e Coordenadora do Programa de Pós-
Graduação em Desenvolvimento Regional – UNISC e Bolsista Senior do
Programa Cátedras IPEA/CAPES 2010 etges@unisc.br
Eduardo Carissimi
Mestre em Desenvolvimento Regional, Pesquisador e Professor do Curso de
Geografia da UNISC ecarissimi@unisc.br

Resumo

Esta pesquisa busca, através da utilização das Geotecnologias, analisar a


heterogênea distribuição de imagens de satélite de alta resolução espacial,
disponibilizados pelo Software Google Earth, no território da região sul do
Brasil. Embasados na metodologia proposta por Milton Santos, com ênfase nas
categorias de territórios luminosos e territórios opacos, buscamos identificar os
territórios luminosos e opacos na região sul do país.

Palavras-chave: Geotecnologias, Território Luminosos e Opacos,


Desenvolvimento Sustentável

Abstract

This research seeks, through the use of Geotechnology, to analyze the


heterogeneous distribuition of satellite images of high spatial resolution,
provided by Google Earth Software, in the region of south Brazil. Based in the
methodology proposed by Milton Santos, with emphasis on the categories
bright territories and opaque territories, we aimed to identify the bright and
opaque territories in the region of south Brazil.

Key-words: Geotechnology, Bright and Opaque Territories, Sustainable


Development

Área Temática: 7. Desenvolvimento e Espaço: ações, escalas e recursos


Introdução

Partimos do pressuposto de que o desenvolvimento de um país


soberano não pode prescindir de uma estrutura produtivo-tecnológica
avançada. Quando trazemos esta constatação para o campo do
desenvolvimento regional, ela adquire significado particular, uma vez que
evoca a compreensão e a análise do processo nas várias dimensões que lhe
são inerentes, sendo uma delas a dimensão territorial.

Vivenciamos na atualidade um período extremamente dinâmico quanto


às transformações tecnológicas. A velocidade da circulação de informações,
indivíduos, mercadorias e capitais é ímpar na história da civilização humana,
promovendo intensas e incessantes inovações, tanto na forma de interpretar e
analisar a realidade, quanto na maneira de se locomover, criar e agir no
território. De acordo com Santos (1999) estamos diante de algo novo,
denominado meio técnico-científico-informacional.

O meio técnico-científico-informacional caracteriza-se pela união entre a


ciência e a técnica (já presentes no meio técnico-científico precedente) com os
significativos recursos da informação, constituindo a cara geográfica da
globalização (SANTOS, 1999 e SANTOS e SILVEIRA, 2001).

Por meio do desenvolvimento tecnológico, a cartografia sofreu


transformações significativas. Representações e referências geográficas são
ferramentas fundamentais aos processos de planejamento, gestão e tomada de
decisão estratégica. Em função do avanço tecnológico, possibilitado pelo meio
técnico-científico-informacional, surgem novas técnicas e formas de apreender
o território. Entre elas as chamadas geotecnologias, que consistem no
“conjunto de tecnologias para coleta, processamento, análise e disponibilização
de informação com referência geográfica” (FATORGIS, 2009a).

Entende-se, portanto, que as geotecnologias estão voltadas às


demandas por conhecimento mais preciso sobre as formas e os conteúdos que
o território vai assumindo, tanto em áreas urbanas e rurais, auxiliando na
identificação e na proposição de medidas e ações que venham ao encontro das
necessidades da sociedade, em sintonia com o desenvolvimento territorial
sustentável.

Entendemos que uma forma eficaz de interpretar o território e suas


particularidades regionais consiste na análise da distribuição territorial dos
instrumentos técnicos, científicos e informacionais de que se dispõe. Santos
(1999, p. 193) afirma que, em função da técnica e da ciência, o homem foi
beneficiado com a capacidade de acompanhar o movimento da natureza,
graças aos progressos nas “técnicas de apreensão dos fenômenos que
ocorrem na superfície da terra”.
Milton Santos afirma ainda que a densidade de informação e
conhecimento do território acarreta em uma seletividade espacial por parte das
empresas e do capital. As porções territoriais dotadas de informação
“competem vantajosamente com as que deles não dispõe” (SANTOS, 1999, p.
194). E complementa afirmando que se estabelece uma categoria de análise
pertinente: aqueles territórios que acumulam densidades técnicas e
informacionais e, portanto, se tornam mais aptos a atrair atividades
econômicas, capitais, tecnologia e organização são denominados territórios
luminosos. Os espaços onde estas características estão afastadas são
chamados de territórios opacos.

Assim, pode-se afirmar que para a obtenção de êxito em propostas de


desenvolvimento regional, o conhecimento do território em questão torna-se
indispensável, o que coloca o domínio e o manejo das geotecnologias em novo
patamar, enquanto instrumentos essenciais à identificação das necessidades e
potencialidades do território, voltados à eficácia na sua gestão, tanto pela
esfera pública quanto pela esfera privada.

Sensoriamento Remoto e Território

É sabido que a revolução tecnológica vem causando diversas


transformações na área da representação espacial, alterando o paradigma do
papel, da cartografia analógica, para os meios digitais, através das
geotecnologias.

As imagens de satélite possuem a capacidade de representar a


superfície da terra em intervalos regulares, permitindo, portanto, acompanhar a
evolução das transformações no território.

Ao contrário dos mapas, que se constituem em abstrações da realidade,


elaboradas sob um determinado ponto de vista, as imagens (principalmente de
alta resolução espacial) obtidas por satélite, devido ao seu caráter não seletivo,
retratam a realidade como um todo, caracterizando uma representação fiel do
território. Contudo, é necessário saber interpretar a imagem para poder analisar
a realidade ali representada como expressão do uso do território.

O sensoriamento remoto fornece imagens que são utilizadas como base


segura para o mapeamento do território, sendo também utilizadas como
instrumento de localização de fenômenos na superfície terrestre, tanto em
ambiente urbano quanto rural, além de diversas outras finalidades, para as
quais o geoprocessamento contribui como meio de pesquisa.

Santos (1999) afirma que a sinergia entre ciência, técnica e informação


engendrou a possibilidade de acompanhar os fenômenos que ocorrem na
superfície terrestre, através das geotecnologias. De acordo com Santos (1999,
p. 193) “as fotografias por satélite retratam a face do planeta em intervalos
regulares, permitindo apreciar, de modo ritmado, a evolução das situações e,
em muitos casos, até mesmo imaginar a sucessão dos eventos em períodos
futuros”. Portanto, a informação sobre o território é um recurso imprescindível
para uma eficaz organização do mesmo.

Santos (1997, p. 51) reitera que, “[...] apesar de uma difusão mais rápida
e mais extensa do que nas épocas precedentes, as novas variáveis não se
distribuem de maneira uniforme na escala do planeta.” Considerando a “[...]
composição quantitativa e qualitativa dos subespaços (aportes de ciência, de
tecnologia e da informação) haveria áreas de densidade (zonas “luminosas”),
áreas praticamente vazias (zonas “opacas”) e uma infinidade de situações
intermediárias” de acordo com o “[...] funcionamento das sociedades em
questão”. (SANTOS, 1997, p. 51-52).

O processo de Globalização, sobretudo da economia, associado ao


sistema capitalista de produção, determinou alterações expressivas nas formas
de organização do espaço, reconfigurando os territórios. Compreender a
configuração atual do território dos três Estados que conformam a Região Sul
do Brasil (RS, SC e PR), procurando identificar os territórios luminosos e os
territórios opacos, enquanto expressões da ação tanto dos interesses públicos
quanto privados, é o propósito desta pesquisa.

Cientes da defasagem de material cartográfico no Brasil, de acordo com


Trino (2005) e CONCAR (2009), e da necessidade de uma base cartográfica
digital e atualizada, que beneficie e viabilize uma gestão territorial mais eficaz,
apresentamos o presente estudo que se encontra em execução, no âmbito do
território da Região Sul do Brasil, de sistematização e análise das imagens de
satélite de alta resolução, disponibilizadas pela empresa Digital Globe, no
software livre Google Earth.

Em pesquisas sobre o desenvolvimento regional, procura-se geralmente


identificar e discernir as regiões por meio dos seus dados e indicadores sócio-
econômicos, ou seja, apoiando-se em elementos quantitativos para representar
realidades e níveis de desenvolvimento distintos. Ao buscarmos uma forma de
análise regional através da criação de uma metodologia que permita identificar
os espaços opacos e luminosos no território da região Sul do país e a sua
relação com os usos deste território, utilizando as geotecnologias disponíveis
como ferramentas, pretendemos contribuir para o aprimoramento do uso dos
instrumentos de análise espacial, de forma a evidenciar as formas particulares
da organização do seu território.

Neste trabalho, utilizaremos as ferramentas dos SIG’s, para


compreender o acúmulo de registros de imagens por satélite (modo orbital) no
território, trabalhando, desta forma, com dados de Sensoriamento Remoto. No
entanto, não os utilizaremos da maneira mais usual, visando mensurar, analisar
e caracterizar um determinado alvo ou objeto da superfície terrestre. Nosso
interesse nesta pesquisa se volta para a distribuição, a densidade e o acúmulo
de imagens de satélite de alta resolução espacial no território da região Sul,
relacionadas aos usos do território. Assim, o nosso propósito é buscar
estabelecer relações entre a produção e demanda de imagens de satélite, a
sua densidade no território dos três Estados da Região Sul e os usos do
território nas distintas regiões. Cabe ressaltar que a produção de imagens de
satélite de alta resolução espacial resulta da demanda empregada tanto pela
esfera pública quanto pelas empresas privadas, de modo a atender interesses
distintos.

Para isso, contamos com as contribuições de Santos e Silveira (2001, p.


264) que afirmam que: chamaremos de espaços luminosos aqueles que mais
acumulam densidades técnicas e informacionais, ficando assim mais aptos a
atrair atividades com maior conteúdo em capital, tecnologia e organização. Por
oposição, os subespaços onde tais características estão ausentes seriam os
espaços opacos.

À luz do acima exposto, esta pesquisa apresenta-se em duas etapas:


uma primeira, que visa discutir as concepções de território, região,
regionalização, desenvolvimento territorial, bem como a formação do território
dos três Estados da Região Sul; e uma segunda etapa, voltada à análise de
base geográfico-territorial da densidade de imagens de satélite de alta
resolução espacial nos três Estados do Sul, buscando identificar e mapear os
territórios luminosos e os territórios opacos, relacionando a maior ou menor
luminosidade com o uso do território.

O imageamento da superfície terrestre e a análise do território

O software livre Google Earth é um programa de informática de


propriedade da empresa norte-americana Google Inc. Sua função é
disponibilizar imagens aéreas e de satélite em diferentes níveis de resolução,
atendendo, dessa forma, a interesses e/ou necessidades diversas. Através
deste modelo de representação do globo terrestre é possível identificar (nas
áreas imageadas em alta resolução) países, estados, municípios, formas do
relevo, edificações, enfim, as distintas paisagens do planeta terra.

O Google Earth pode ser acessado em computadores pessoais (PC),


sendo necessário acesso a Internet Banda Larga, pois o programa precisa
acessar a sua base de dados para visualizar os lugares requisitados conforme
a navegação.
Figura 1. Visualizador Google Earth

Fonte: Software Google Earth.


Org. CARISSIMI, Eduardo. 2010.

A atualização dos dados, a inserção de novas imagens capturadas e o


advento de funcionalidades adicionais é freqüente. Atualmente boa parte do
planeta já pode ser visualizada com níveis satisfatórios de identificação das
especificidades locais. O programa é “alimentado” com imagens de satélite de
diferentes resoluções, de empresas como SPOT Image e Digital Globe, que
utilizam diversos satélites de captação de imagens, como o Ikonos, Landsat,
Quickbird e World-View I e II.

O imageamento de alta resolução espacial, base de dados do presente


trabalho, foi desenvolvido pela empresa Digital Globe, por meio dos satélites
Quickbird e World-View I, cujos dados estão sistematicamente disponibilizados
no software Google Earth, classificados por data e taxa de nebulosidade. As
imagens são captadas pelos satélites, enviadas para as centrais de operação
da Digital Globe, geoprocessadas e georreferenciadas, e só então enviadas
para o Google. Desta forma, possibilita-se a obtenção das imagens de alta
resolução do território.

O software Google Earth tem possibilitado uma série de ações, como


visualizar e cartografar locais antes e depois de tragédias e catástrofes
naturais, avaliar impactos ambientais, planejar e traçar rotas de emergência,
efetuar operações de geomarketing, acompanhar a redução das calotas
polares, observar cenários de crimes, planejar o trânsito, monitorar vulcões,
entre outras tantas ações, o que tem transformado este recurso, antes visto
como um mero elemento de entretenimento, em uma ferramenta de
significativa utilidade acadêmica, de investigação e planejamento territorial, de
tecnologia fácil e acessível à população. (METTERNICHT, 2006).
O software de Geoprocessamento que utilizamos no presente estudo é o
software livre Terraview, criado e disponibilizado pelo INPE. A figura abaixo
sintetiza com propriedade a função do geoprocessamento:

Figura 2. Definição de Geoprocessamento

Fonte: Adaptado de FATORGIS (2009b).


Org. CARISSIMI, Eduardo. 2009.

Portanto, no estudo que estamos realizando utilizamos as


geotecnologias para identificar a densidade de informação do território dos três
Estados da Região Sul, coletando as imagens obtidas por sensoriamento
remoto, armazenando-as e organizando-as em um banco de dados e
analisando-as por meio de um software de geoprocessamento.

Metodologia e resultados preliminares

Partimos do pressuposto de que o espaço geográfico é constituído “por


um conjunto indissociável, solidário e também contraditório de sistemas de
objetos e sistemas de ações” (SANTOS, 1999, p. 51). Os objetos, fixos no
território, relacionam-se com os fluxos, com as ações desempenhadas pelos
agentes espaciais, configurando a organização dos distintos territórios.

As imagens de satélite de alta resolução espacial diferem dos mapas


tradicionais em muitos aspectos. Mas um deles é preponderante: as imagens
de satélite mostram a realidade tal qual ela se apresenta, não são seletivas, ou
seja, não ocultam informações e nem selecionam o que deve ser mostrado,
diferentemente da comunicação por mapas, que são construídos a partir da
concepção e da intenção de quem os produz, mostrando apenas as
informações previamente selecionadas

O sensoriamento remoto, enquanto técnica de levantamento de


informação do território, viabiliza o acesso à visualização do acontecer na
superfície terrestre, em uma perspectiva sincrônica. A interpretação do que se
vê, entretanto, é a tarefa que cabe ao usuário pesquisador, o qual deve estar
devidamente habilitado para realizar a leitura do acontecer, em tempo real, na
superfície terrestre.

Historicamente tem-se regionalizado os territórios a partir de dados


estatísticos e da combinação de indicadores. A nossa proposta, neste trabalho,
aponta para uma investigação espacial partindo do uso de instrumentos
técnicos de visualização e interpretação territorial, a saber, as imagens de
satélite de alta resolução espacial.

A coleta dos dados é executada diretamente no software livre Google


Earth, onde as imagens de alta resolução espacial, produzidas e captadas pela
empresa Digital Globe (por meio dos satélites Quickbird e World View) estão
sistematizadas, desde o início de sua cobertura no ano de 2002, até os dias
atuais. Nesta fase, são identificadas todas as imagens de satélite, com as suas
respectivas coordenadas geográficas, obtidas no período de 2002 a 2006, no
território em estudo. Estes dados são agrupados sistematicamente em uma
planilha do software Microsoft Excel.

Na terceira etapa utilizamos o software livre1 de geoprocessamento


Terraview, disponibilizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE). Neste ambiente virtual, a primeira tarefa será criar um banco de dados.

Em seguida, é importada a base vetorial do mapa da região Sul,


disponibilizada pelo Laboratório de Geoprocessamento do Núcleo de
Planejamento e Gestão Territorial (NPGT) da Universidade de Santa Cruz do
Sul (UNISC). Na sequência, serão também importados arquivos vetoriais da
rede hidrográfica da região, bem como da rede de transportes, incluindo
rodovias, ferrovias, hidrovias e localização dos aeroportos no território gaúcho.
Na etapa seguinte serão criados arquivos de pontos constituídos pelas
coordenadas geográficas das imagens de satélite coletadas no Google Earth.
Estes arquivos serão importados para o software Terraview e nestes serão
aplicados o efeito buffer, de forma que os pontos que representam a
localização das imagens se sobreponham ao mapa da região (Fig. 3),
indicando as áreas com cobertura mais densa de imagens (territórios
luminosos - vermelho) e as áreas com pouca cobertura ou sem cobertura de
imagens de satélite (territórios opacos - preto).

1
A utilização de softwares livres neste trabalho se justifica em função da acessibilidade, do
idioma, da existência de manuais de operação e pela possibilidade de comunicação com os
seus autores para dirimir eventuais dúvidas.
Figura 3. Territórios Luminosos e Opacos no Rio Grande do Sul – Terraview – 2006.

Fonte: Software Terraview (INPE)


Org. CARISSIMI, Eduardo. 2010.

Os resultados parciais aqui apresentados, focados no território do Estado


do Rio Grande do Sul, revelam significativo aumento no número de imagens
coletadas ao longo do período de 2002 a 2009. Em 2002 foram 118 imagens e
em 2009 foram 1.259.

A Figura 3 permite observar que os territórios luminosos estão localizados


principalmente nas porções leste e oeste do Estado. A porção leste, além de
compreender toda a faixa litorânea do RS, de Torres ao norte ao Chuí no sul,
engloba a região metropolitana de Porto Alegre na porção meso-oriental e a
Serra Gaúcha, localizada na região nordeste do Estado. Estas três regiões
citadas possuem características distintas que demandam recursos
geotecnológicos para as suas atividades.

O litoral, constituído dos municípios de Torres, Capão da Canoa,


Tramandaí e Rio Grande, entre outros, além da função turística de seus
municípios e da particularidade específica do município de Rio Grande em
função do porto, possui como característica importante a especulação
imobiliária, o que torna necessário o uso das geotecnologias para melhor
representar o território, buscando localizar os pontos da cidade mais propícios
ao investimento na construção de hotéis, pousadas e demais empreendimentos
do ramo imobiliário.

Na região da Serra Gaúcha, constituída por municípios como Gramado,


Canela, Nova Petrópolis e Cambará do Sul, entre outros, o potencial turístico é
proeminente, sendo útil, portanto, um bom conhecimento territorial da região de
forma a traçar roteiros turísticos, construir mapas de orientação, possibilitar
uma melhor organização espacial e planejar o território de forma a atender as
demandas desta finalidade. Já os municípios de Caxias do Sul, Bento
Gonçalves e adjacentes, em função de seu dinâmico parque industrial (móveis,
malhas, metal-mecânico, alimentos e vinhos, entre outros), das atividades em
torno da produção vitivinícola e de pólos regionais, demandam recursos de
representação espacial para a gestão e organização do seu território.

A grande área metropolitana de Porto Alegre tem como características: a


industrialização diversificada, grande população, prestação de serviços
diversos, exportações, densa rede de transportes e comunicações, além de
todas as demais especificidades inerentes às regiões metropolitanas. Parece-
nos inconcebível fazer um planejamento territorial, um estudo de melhoria do
sistema de trânsito ou estudos de impactos ambientais urbanos, em áreas
metropolitanas como a de Porto Alegre, sem ferramentas adequadas e
eficientes de representação espacial.

Já a região da fronteira oeste do Estado do Rio Grande do Sul possui


outras características específicas que justificam o emprego de imagens de
satélite no palnejamento de seu território. O imageamento destas áreas pode
ser explicado do ponto de vista estratégico, uma vez que municípios como
Santana do Livramento e Uruguaiana, limítrofes à fronteira com Uruguai e
Argentina respectivamente, localizam-se em áreas estrategicamente
importantes sob a perspectiva da circulação de bens, insumos, pessoas e
capitais, considerando o contexto de MERCOSUL (Mercado Comum do Sul).
Municípios como Rosário do Sul, São Gabriel e Alegrete, tanto por suas
extensões territoriais quanto pelas suas funções ligadas às atividades
agrícolas, exercem significativa importância no âmbito regional, demandando
bens e serviços urbanos, o que favorece e implica em adequadas
representações do território. Ainda na porção oeste, há a região noroeste, onde
municípios como Santa Rosa, Ijuí e Cruz Alta são responsáveis por parcela
significativa da produção agrícola de soja do Estado.

O número de relações que se pode estabelecer com a densidade de


informação do território é muito amplo, e está em permanente análise. Um
aprofundamento teórico-metodológico sobre os territórios opacos e suas
particularidades, a relação dos recursos geotecnológicos e seu emprego frente
à necessidade de Planos Diretores para municípios com população superior a
vinte mil habitantes, além do cruzamento de dados estatísticos e indicadores
de desenvolvimento, bem como de mapas temáticos diversos com os mapas
das áreas providas ou não de geoinformações nos parece bastante rico e
revelador das particularidades regionais que compõem o território em análise
nesta pesquisa.

Considerações finais

Esta investigação, aqui parcialmente apresentada, partiu da curiosidade


em compreender a relação entre imageamento de alta resolução por satélite e
o uso do território nos três Estados da Região Sul do Brasil. Para tanto,
procuramos compreender a importância dos recursos cartográficos e
geotecnológicos para a gestão, para o planejamento e para o desenvolvimento
de um território. Por que alguns territórios são intensamente imageados e
outros não? Quais são os usos do território que podem justificar – ou não – a
demanda por imagens de satélite? A busca das respostas a estas perguntas
nos levou a pesquisar o tema, orientados por uma reflexão teórico-
metodológica acerca do papel das novas tecnologias na representação do
território, bem como do significado do desenvolvimento territorial sustentável.

Assim, buscamos conhecer e sistematizar o conjunto de geotecnologias


imprescindíveis ao processo de representação da superfície terrestre. O
aprofundamento neste tema vem nos possibilitando ampliar o conhecimento
acerca dos Sistemas de Informações Geográficas, de sua importância nas
atividades de planejamento e gestão do território. Além disso, vem permitindo
definir os recursos e ferramentas mais adequados a serem utilizados para
atingir os objetivos de identificar os territórios luminosos e opacos na Região
Sul a partir das distintas densidades de imagens de satélite em alta resolução,
e relacionar estes territórios com os seus usos por meio do cruzamento de
dados obtidos em fontes secundárias.

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