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Conceito de consumidor na perspectiva das teorias: Finalista,

Maximalista e Finalista Aprofundada.

1. Teoria Finalista

A corrente finalista defende a teoria que o consumidor – destinatário final seria


apenas aquela pessoa física ou jurídica que adquire o produto ou contrata o serviço para
utilizar para si ou para outrem de forma que satisfaça uma necessidade privada, e que
não haja, de maneira alguma, a utilização deste bem ou deste serviço com a finalidade
de produzir, desenvolver atividade comercial ou mesmo profissional.
Nesta teoria, firma o entendimento de que se deve proceder in casu a uma
interpretação restrita do que se tem por consumidor, diminuindo sobremaneira
a protetiva incidência do Código, afeta, apenas, aos casos de rela existência de
um pólo hipossuficiente, inferior. (NUNES JÚNIOR, 2008).
Conforme explana Erika Cordeiro (2014), pela ótica dos finalistas, estão
excluídas da proteção do Código do Consumidor as empresas que, por exemplo,
compram uma máquina para a fabricação de seus produtos ou mesmo uma copiadora
para ser utilizada em seu escritório. Desse modo, se o produto apresentar defeitos ou
vícios, a empresa deverá resolver o problema com seu fornecedor pelas vias da
legislação civil, jamais se utilizando da legislação do consumidor. Doutrinadores
justificam tal posicionamento alegando que os referidos bens entram na cadeia
produtiva e nada têm a ver com o conceito de destinação final. Trata-se de perspectiva
altamente restritiva do âmbito de aplicação do CDC, que faz com que empresas e
profissionais praticamente estejam excluídos do conceito de consumidor.

2. Teoria Maximalista

A corrente maximalista defende a teoria de que o consumidor – destinatário final


seria toda e qualquer pessoa física ou jurídica que retira o produto ou o serviço do
mercado e o utiliza como destinatário final. Nesta corrente não importa se a pessoa
adquire ou utiliza o produto ou serviço para o uso privado ou para o uso profissional,
com a finalidade de obter o lucro. (NORAT, 2012).
A teoria maximalista alarga a noção de consumidor, para abranger também os
profissionais. Para os adeptos dessa corrente, “pouco importa se o produto será utilizado
com benefício econômico por quem o adquiriu, se o consumidor usa o bem com um fim
profissional. Avalia-se, apenas, se o produto foi retirado do mercado” (NEVES, 2006, p.
103).
Percebe-se, que a teoria maximalista trouxe uma grande visão ao conceito de
destinatário final constante no caput do art. 2º do CDC. Entende essa corrente, que o
CDC também é aplicável aos consumidores intermediários, pois somente a destinação
fática do produto ou serviço é levada em consideração, sendo desconsiderada a
destinação econômica do bem ou serviço. O foco da teoria maximalista é o objeto,
enquanto o da teoria finalista é o sujeito.

3. Teoria Finalista Aprofundada

Conhecida como teoria finalista temperada ou teoria finalista aprofundada.


Porém, não consideramos que esta teoria seria um mero aprofundamento da teoria
finalista. É bem verdade que esta teoria mescla elementos da teoria finalista e também
da teoria maximalista. Desta forma, consideramos errônea a denominação finalista
temperada ou finalista aprofundada, sendo, pois, mais adequado denominá-la como
teoria mista. (NORAT, 2012).

Conforme Norat (2012) nesta corrente doutrinária, o consumidor – destinatário


final seria aquela pessoa que adquire o produto ou o serviço para o uso privado, porém,
admitindo-se esta utilização em atividade de produção, com a finalidade de desenvolver
atividade comercial ou profissional, desde que seja provada a vulnerabilidade desta
pessoa física ou jurídica que está adquirindo o produto ou contratando o serviço.

A teoria finalista aprofundada trata diferenciadamente aqueles que adquirem um


produto ou serviço para utilizá-lo como forma de produção, pois estes adquirentes
podem possuir tanta vulnerabilidade em relação ao produto ou serviço que está sendo
adquirido, como qualquer outra pessoa que o utilizaria para satisfação de uma
necessidade própria.(NORAT, 2012).

Seria, por exemplo, a padaria que compra um veículo automotor para utilizá-lo
na entrega das encomendas e este apresenta diversos vícios de produção; ou ainda, a
empresa de entrega de correspondências que adquire um veículo para utilizar no
transporte de mercadorias e este apresenta os mesmos problemas encontrados no
automóvel adquirido pela padaria. Há de se notar que tanto o padeiro como a empresa
de entrega de correspondências possuem habilidades distantes da produção de
automóveis, portanto podem não ter o menor conhecimento técnico sobre veículos, da
mesma maneira que qualquer outra pessoa que adquire o veículo para uso privado. Para
a teoria mista, são todos igualmente vulneráveis neste aspecto. (NORAT, 2012).

Destarte, corrente criada pelo STJ, não restam dúvidas de que a corrente que
adota a teoria finalista aprofundada é a mais condizente com o intento e com os
princípios que conduzem todo o Código de Proteção e Defesa do Consumidor, a saber:
o reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor e a aferição da boa-fé nas relações
entre consumidores e fornecedores.(NORAT, 2012).

4. Jurisprudências

Teoria Finalista:
Ementa
Processo
REsp 1358231 SP 2012/0259414-1
Orgão Julgador
T3 - TERCEIRA TURMA
Publicação
DJe 17/06/2013
Julgamento
28 de Maio de 2013
Relator
Ministra NANCY ANDRIGHI

DIREITO CIVIL E DIREITO DO CONSUMIDOR. TRANSPORTE AÉREO


INTERNACIONAL DE CARGAS. ATRASO. CDC. AFASTAMENTO.
CONVENÇÃO DE VARSÓVIA. APLICAÇÃO.
1. A jurisprudência do STJ se encontra consolidada no sentido de que a determinação
da qualidade de consumidor deve, em regra, ser feita mediante aplicação da teoria
finalista, que, numa exegese restritiva do art. 2º do CDC, considera destinatário final
tão somente o destinatário fático e econômico do bem ou serviço, seja ele pessoa
física ou jurídica.
2. Pela teoria finalista, fica excluído da proteção do CDC o consumo intermediário,
assim entendido como aquele cujo produto retorna para as cadeias de produção e
distribuição, compondo o custo (e, portanto, o preço final) de um novo bem ou
serviço. Vale dizer, só pode ser considerado consumidor, para fins de tutela pela Lei
nº 8.078/90, aquele que exaure a função econômica do bem ou serviço, excluindo-o de
forma definitiva do mercado de consumo.
3. Em situações excepcionais, todavia, esta Corte tem mitigado os rigores da teoria
finalista, para autorizar a incidência do CDC nas hipóteses em que a parte (pessoa
física ou jurídica), embora não seja tecnicamente a destinatária final do produto ou
serviço, se apresenta em situação de vulnerabilidade.
4. Na hipótese em análise, percebe-se que, pelo panorama fático delineado pelas
instâncias ordinárias e dos fatos incontroversos fixados ao longo do processo, não é
possível identificar nenhum tipo de vulnerabilidade da recorrida, de modo que a
aplicação do CDC deve ser afastada, devendo ser preservada a aplicação da teoria
finalista na relação jurídica estabelecida entre as partes.
5. Recurso especial conhecido e provido.

Acordão

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da TERCEIRA Turma


do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas
constantes dos autos, por unanimidade, dar provimento ao recurso especial, nos
termos do voto do (a) Sr (a). Ministro (a) Relator (a). Os Srs. Ministros João Otávio de
Noronha, Sidnei Beneti, Paulo de Tarso Sanseverino e Ricardo Villas Bôas Cueva
votaram com a Sra. Ministra Relatora. Dr (a). ANNA PAOLA DE SOUZA
BONAGURA, pela parte RECORRENTE: KUEHNE + NAGEL SERVIÇOS
LOGÍSTICOS LTDA.

Teoria Maximalista:

Processo
REsp 445854 MS 2002/0079754-9
Orgão Julgador
T3 - TERCEIRA TURMA
Publicação
DJ 19/12/2003 p. 453
RJADCOAS vol. 54 p. 38
Julgamento
2 de Dezembro de 2003
Relator
Ministro CASTRO FILHO

Ementa
CONTRATOS BANCÁRIOS – CONTRATO DE REPASSE DE EMPRÉSTIMO
EXTERNO PARA COMPRA DE COLHEITADEIRA – AGRICULTOR –
DESTINATÁRIO FINAL – INCIDÊNCIA – CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR – COMPROVAÇÃO – CAPTAÇÃO DE RECURSOS –
MATÉRIA DE PROVA – PREQUESTIONAMENTO – AUSÊNCIA.
I – O agricultor que adquire bem móvel com a finalidade de utilizá-lo em sua
atividade produtiva, deve ser considerado destinatário final, para os fins do
artigo 2º do Código de Defesa do Consumidor.
II – Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor às relações jurídicas originadas
dos pactos firmados entre os agentes econômicos, as instituições financeiras e os
usuários de seus produtos e serviços.
III – Afirmado pelo acórdão recorrido que não ficou provada a captação de recursos
externos, rever esse entendimento encontra óbice no enunciado n.º 7 da Súmula desta
Corte.

IV – Ausente o prequestionamento da questão federal suscitada, é inviável o recurso


especial (Súmulas 282 e 356/STF). Recurso especial não conhecido, com ressalvas
quanto à terminologia.

Acordão

Vistos, relatados e discutidos os autos, acordam os Srs. Ministros da TERCEIRA


TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas
taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso especial. Os Srs.
Ministros Antônio de Pádua Ribeiro e Carlos Alberto Menezes Direito votaram com o
Sr. Ministro Relator. Ausentes, ocasionalmente, os Srs. Ministros Humberto Gomes
de Barros e Nancy Andrighi.

Resumo Estruturado
APLICAÇÃO, CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, CONTRATO,
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA, REPASSE, FINANCIAMENTO EXTERNO,
EMPRESTIMO, PESSOA FISICA, PRODUTOR RURAL, OBJETIVO,
AQUISIÇÃO, MAQUINA AGRÍCOLA, CARACTERIZAÇÃO, CONSUMIDOR
FINAL.

Teoria Finalista Aprofundada:

Processo
AgRg no REsp 1149195 PR 2009/0134616-0
Orgão Julgador
T3 - TERCEIRA TURMA
Publicação
DJe 01/08/2013
Julgamento
25 de Junho de 2013
Relator
Ministro SIDNEI BENETI

Ementa
DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR PARA PROTEÇÃO DE PESSOA JURÍDICA. TEORIA
FINALISTA APROFUNDADA. REQUISITO DA VULNERABILIDADE NÃO
CARACTERIZADO. EXIGIBILIDADE DE OBRIGAÇÃO ASSUMIDA EM
MOEDA ESTRANGEIRA. FUNDAMENTO DO ACÓRDÃO NÃO ATACADO.

1.- A jurisprudência desta Corte tem mitigado os rigores da teoria finalista para
autorizar a incidência do Código de Defesa do Consumidor nas hipóteses em que a
parte (pessoa física ou jurídica), embora não seja tecnicamente a destinatária final do
produto ou serviço, se apresenta em situação de vulnerabilidade.
2.- No caso dos autos, tendo o Acórdão recorrido afirmado que não se vislumbraria a
vulnerabilidade que inspira e permeia o Código de Defesa do Consumidor, não há
como reconhecer a existência de uma relação jurídica de consumo sem reexaminar
fatos e provas, o que veda a Súmula 07/STJ.
3.- As razões do recurso especial não impugnaram todos os fundamento indicados
pelo acórdão recorrido para admitir a exigibilidade da obrigação assumida em moeda
estrangeira, atraindo, com relação a esse ponto, a incidência da Súmula 283/STF.
4.- Agravo Regimental a que se nega provimento.

Acordão
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam
os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,
negar provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino (Presidente), Ricardo Villas Bôas
Cueva e João Otávio de Noronha votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente,
justificadamente, a Sra. Ministra Nancy Andrighi.

5. Referência

NEVES, José Roberto de Castro. O Código do Consumidor e as Cláusulas Penais. 2.


ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006.

NORAT, Markus Samuel Leite. O conceito de consumidor no direito: uma comparação


entre as teorias finalista, maximalista e mista. Cognitio Juris, João Pessoa, Ano II,
Número 4, abril 2012. Disponível em
<http://www.cognitiojuris.com/artigos/04/08.html>. Acesso em: 18 de Fevereiro de
2018

NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Código de Defesa do Consumidor Interpretado. 3.


ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

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