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APONTAMENTOS (5)
Sumário
4. O contexto de Jesus Cristo
4.1. A situação sociopolítica
4.2. A situação religiosa
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Introduzo aqui uma alteração ao programa proposto, tratando primeiro a situação sociopolítica e
só depois a situação religiosa.
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A raiz da palavra fariseu é disputada: segundo alguns, deriva de perushuim, termo que remete
para a ideia de um grupo separado; segundo outros, deriva de paroshim, termo que remete para a
ideia de rigor, nomeadamente na vivência da Lei (cf. A. PUIG, Jesus, 97).
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Saduceus
Não nos é fácil reconstituir com rigor a fisionomia dos saduceus, pois que as
informações que possuímos a seu respeito foram-nos legadas por outros
grupos (por isso, talvez não muito objetivas).
Os saduceus eram constituídos, no essencial, pela aristocracia sacerdotal de
Jerusalém (alguns autores incluem também a aristocracia laical da cidade).
Tratava-se de um grupo tradicionalmente próximo do poder, mesmo quando
esse poder era exercido por estrageiros. Assim, procuravam garantir a
normalidade no Templo de Jerusalém e o seu lugar privilegiado. Não seria de
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Zelotas
Entre os grupos referidos por Flávio Josefo contam-se também os zelotas5.
Os zelotas eram, no fundamental, um grupo de revolucionários irredutíveis,
que ofereciam resistência ao ocupante estrangeiro (a espaços, resistência
armada)6. Trata-se de um grupo claramente independentista, autonomista,
que perpetua a mística dos Macabeus (são descritos, precisamente, a partir
do seu «zelo» pela causa de Israel). Ora esta intencionalidade autonomista
revestia-se também de motivações de alcance religioso, na medida em que
essa posição política decorre de uma leitura literal da Lei e da soberania de
YHWH. Por isso, é possível que os zelotas tenham nascido como uma fação
radical no interior do farisaísmo. Esta linha de ação teve na revolta da
década de 60 o seu ápice, como também a sua grande derrota.
Flávio Josefo, por vezes, refere-se a eles como «bandidos», aproximando-os
de um grupo que por vezes é também chamado de sicários. Com efeito, os
sicários ficaram conhecidos pelo pequeno punhal (a sica) que usavam para
cometer certos homicídios. Assim, a fronteira entre a resistência política e o
crime organizado nem sempre seria nítida7.
Importa, porém, perceber que um movimento zelota em larga escala é coisa
que só podemos reconhecer a partir da década de 50, pelo que importa
perceber que ao tempo de Jesus não temos ainda esta resistência armada
sistemática8. O Novo Testamento refere a presença de um tal «Simão, o
zelota» (cf. Lc 6, 15; Act 1, 13) entre os doze de Jesus. Vários comenta-
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A. PUIG, Jesus, 104.
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A. PUIG, Jesus, 105.
5
Antiguidades Cristãs, 18, 23.
6
Act 21, 38 referir-se-á a um numeroso grupo de zelotas (quatro mil).
7
Admite-se que a figura de Barrabás pudesse estar associado a este tipo de grupos (cf. A. PUIG,
Jesus, 130-131).
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Cf. A. PUIG, Jesus, 133.
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Herodianos
Várias vezes referidos ao longo dos Evangelhos (por exemplo, Mt 22, 16; Mc
3, 6; 12, 13-17), os herodianos agrupam todos os que na sociedade israelita
de então sustentavam e apoiavam o domínio de Herodes, o grande e da sua
dinastia.
Essénios
O grupo dos essénios nasce da rutura de um sacerdote (ou de um grupo de
sacerdotes; ou de um grupo afeto a um sacerdote) com o status quo do
Templo de Jerusalém. Apesar de o grupo ser maior e de ter outras
comunidades, parece crível quem em Qumran se reuniria o núcleo principal
dos essénios (no deserto da Judeia, junto ao Mar Morto). Esse fundador da
comunidade nunca é identificado nos escritos descobertos em Qumran. Pelo
contrário, ele surge sempre nomeado como o «Mestre da Justiça» (a que se
opõe a figura do «Sacerdote ímpio», provavelmente uma referência a um
sumo-sacerdote ou ao rei sumo-sacerdote). Este é, pois, um grupo de tipo
sectário e apocalíptico, que nasce de uma automarginalizarão relativamente
ao culto do Templo de Jerusalém e do poder reinante da Palestina. Neles,
com certeza, havia a noção de serem o «verdadeiro Israel». Esta
consciência, era acompanhada de uma forte convicção escatológica, com a
viva expectativa de preparar o fim da história.
A vida desta comunidade caracterizava-se por uma intensa procura da
pureza ritual (com repetidas abluções ao longo do dia) e por um
compromisso muito austero com a vivência da Lei (comunidade
hierarquizada; vida pobre; partilha de bens; etc.). Um outro tópico de rutura
com o Templo de Jerusalém tem que ver com a questão do calendário das
festividades: enquanto em Jerusalém se adotara um calendário lunar (por
meados do séc. II a.C.), os essénios (reagindo violentamente contra isso)
mantêm-se fiéis ao calendário solar.
Os escritos de Qumran não nos permitem uma perceção clara acerca da
expectativa messiânica dos essénios. Fala-se do advento de um Messias de
tipo sacerdotal, mas fala-se também de um Messias de tipo político, sem que
seja claro se se refere a um só Messias ou a dois Messias distintos.
O final desta comunidade permanece ainda envolto em alguma penumbra,
embora seja de crer que a comunidade tenha sido dissolvida à mão dos
romanos, tendo mesmo os essénios de esconder os bens que julgariam mais
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A. Puig, por exemplo, chama a atenção que a rejeição de toda a violência por parte de Jesus; a
observância mitigada do Sábado; o convívio com publicanos e pecadores, ao ponto de um
publicano (Levi) fazer parte desse grupo dos doze, são indicadores da grande distância entre o
movimento de Jesus e os posteriores procedimentos dos zelotas (cf. A. PUIG, Jesus, 133).
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Outros dados objetivos podem ainda reforçar esta afirmação: atenda-se à quantidade massiva
de citações explícitas que o Novo Testamento faz do Antigo, bem como à ainda maior quantidade
de alusões veladas ao mesmo; atenda-se também à ideia (aparentemente arreigada nos
Evangelhos, mas também em Paulo) de que Jesus não veio revogar a «Lei e os Profetas», mas
dar-lhes pleno cumprimento (cf. Mt 5, 17).
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Alexandre Palma