Você está na página 1de 10

Miller SMC &

ARTIGO Ferrari MM
ESPECIAL

Estratégia de inclusão: resgate da


corporeidade no interior das escolas
Sandra Maria Correa Miller; Maira Miller Ferrari

RESUMO – O presente trabalho faz uma reflexão sobre os caminhos


da educação no futuro, centrada na condição humana, sob a égide do
princípio da unidade-diversidade proposto por Edgar Morin. Realiza
um contraponto entre educação e corporeidade no contexto do sistema
ofi­cial de ensino, enfatizando a importância de resgatar o ato motor e o
sig­nificado da corporeidade em diferentes etapas da educação básica.
Reapresenta o papel do corpo como um elemento essencial no processo de
aprendizagem e apresenta a valorização da corporeidade e do movimento
como estratégias para o sucesso da educação inclusiva e da escola como
espaço de convivência, inclusive durante a adolescência, considerando o
Ensino Fundamental e Médio. A educação inclusiva é vinculada à busca
incessante de proporcionar a autonomia de ser e de saber da(o) educanda(a),
valorizando e respeitando o seu conhecimento prévio, sua singularidade e
linguagem corporal, visto ser o estudante um sujeito social em construção.

UNITERMOS: Inclusão educacional. Percepção. Imagem corporal.

Sandra Maria Correa Miller – Educadora e Especialista Correspondência


Ambiental da Secretaria de Estado do Meio Ambien­ Sandra Maria Correa Miller
te-SP e Psicopedagoga e Educadora do Centro Paula Secretaria de Estado do Meio Ambiente
Souza – São José do Rio Preto, SP, Brasil. Rua Ulysses Jamil Cury, 715 – Distrito Industrial
Maira Miller Ferrari – Doutoranda do Programa de Ulisses Guimarães – São José do Rio Preto, SP, Brasil –
Pós-Graduação em Ciências Ambientais – Linha: CEP: 15092-601
Ambiente e Sociedade – Universidade Federal de E-mail: correa.miller@gmail.com
São Carlos (UFSCAR), São Carlos, SP, Brasil.

Rev. Psicopedagogia 2015; 32(99): 336-45

336
Estratégia de inclusão: resgate da corporeidade no interior das escolas

INTRODUÇÃO na rua, na igreja, no trabalho, na escola e em


Quais são os caminhos para que a educação todos os espaços sociais3. Tem um sentido amplo,
possa ser centrada na condição humana e con- extrapola o compromisso com a transmissão de
siga ilustrar o princípio de unidade-diversidade? conhecimentos via razão e busca abranger outras
É a unidade humana que traz em si os princípios dimensões, valorizando os processos criativos4.
de suas diversidades, portanto, unidades com- Henri Wallon, psicólogo e educador, ressal-
plexas como o ser humano ou a sociedade, são ta que é dever da escola oferecer, sem discri­
multidimensionais. Compreender o humano é minação, o que há de melhor na cultura, pois
compreender sua unidade na diversidade, sua a interação com o outro e a interação com a
diversidade na unidade. O ser humano é, ao cul­­tura ampliam o conceito de socialização5.
mesmo tempo, biológico, psíquico, social, afetivo Nessa visão, para respeitar o aluno é necessário
e racional e existem condições que permitem conhecê-lo, identificar sua etapa de formação,
interrogações fundamentais sobre o mundo, o ser não impor limites ao seu desenvolvimento e,
humano e o próprio conhecimento. Entretanto, principalmente, aceitar que a Educação é uma
para isso, é necessária a reforma do pensamento, relação evolutiva em transformação, que deveria
uma reforma paradigmática, e não programática. tender para a autonomia do aluno6. Em suma,
Essa é a questão emergencial da educação, já uma forte ética de trabalho cultural é traduzida
que se refere à nossa aptidão para organizar o em maior motivação, zelo e persistência, uma
conhecimento1. vantagem emocional. O significado básico da
A educação é um subsistema, e ao mesmo palavra emoção é “mover ”7. Goleman7 desta-
tempo um sistema, ele próprio, confrontado com ca que o psicólogo Robert Adler investigou e
o sistema global de que faz parte. Está moldado apresentou a descoberta de rotas biológicas que
sobre o paradoxo da pessoa humana, a rela­ levam a considerar que mente, emoção e corpo
ção dialética entre o indivíduo e a sociedade, a não são entidades separadas, mas intimamente
parte e o todo, que preocupa todos os sistemas interligadas.
políticos e pedagógicos. A educação da pessoa, A vida humana é substantivada por meio
como a própria pessoa, é parcialidade e totali­ do corpo. Ele materializa a nossa existência e
dade2. O ser humano é um ser de cultura e o que é expressão dessa identidade. “Entretanto, as
ele acrescenta à natureza é, basicamente, obra relações que estabelecemos com o nosso corpo
da educação. No futuro, modelos inteiramente estão inseridas e marcadas por uma visão de
diferentes do atual podem acarretar o gradativo mundo em que a razão ocupa o centro da cena”4.
desaparecimento do aparelho escolar tradicio- Contudo, a corporeidade do ser humano é in-
nal. A escola, se sobreviver, será a instância vestigada por filósofos, psicólogos, educadores
des­tinada a produzir estímulos, referências e físicos, pedagogos e psicopedagogos, assim
coordenações, atuando, portanto, muito menos como por especialistas da área da saúde. Na
por si que por intermédio de outras instâncias2. Psicopedagogia, por exemplo, é o ato motor no
Entre as contribuições positivas da educação campo da Educação, que leva indubitavelmente
para a sociedade destacam-se duas: a reorga- à questão da corporeidade.
nização da cidadania e o desenvolvimento das As bases da psicomotricidade, em sua ori-
habilidades, competências para a vida, que gem, são profundamente reeducativas e com a
permitam menos exclusão e desigualdades crescente complexidade das teorias cognitivas,
sociais e econômicas, levando-se em conta a das neurociências e das teorias da afetividade,
di­­versidade e a pluralidade cultural balizadas passou-se a discutir mais objetivamente a inte-
pelo conhecimento científico, técnico e huma- gração dessas funções na formação do sujeito e
nista na formação dos aprendizes. A educação é da sua corporeidade, de forma interdisciplinar
uma atividade para vida, que ocorre na família, e transdisciplinar8. Ferreira & Ramos8 indicam

Rev. Psicopedagogia 2015; 32(99): 336-45

337
Miller SMC & Ferrari MM

que Henri Wallon, Paul Schilder e Ajuriaguerra linear­mente, mas reflete a estrutura do nosso
já dialogavam interdisciplinar e transdisciplinar- corpo perante o entorno, em contextos múltiplos9.
mente na primeira metade do século XX. Se o corpo sempre suscitou questões, gerando
Desaprendemos a conviver com a realidade formulações diversas no interior de tantos cam-
corpórea e a aprender partindo da reversibili­ pos do conhecimento humano, ele certamente
dade dos sentidos. Privilegiamos a razão sem também não deixou de chamar a atenção dos
corpo. O corpo como elemento acessório no psicoterapeutas, como atesta o sucesso das te-
processo educativo ainda é predominante, en- rapias ditas “corporais”. O corpo toma a frente
tretanto, a percepção, compreendida como um da cena social13.
acontecimento da motricidade, pode resgatar Entretanto, qual é o lugar, de fato, do corpo
esse saber. Existem caminhos de compreensão na educação básica e formal? A proposta é iden­
do corpo na educação que buscam ampliar as tificar e discutir o conceito da corporeidade no
referências educativas ao considerar a fenome- ensino fundamental e médio, em resposta às
nologia do corpo e sua relação com o conhe- novas necessidades de transformações exigidas
cimento, incluindo reflexões contemporâneas na realidade educacional, que se apresenta em
sobre os processos cognitivos advindos de uma condições inusitadas com o processo de inclusão
nova compreensão da percepção9. vigente.
Goldberg10 destaca que, tanto em Freud como Ferreira & Ramos8 propõem a aplicação da
em Lacan11, as discussões sobre o conceitos psicomotricidade ao atendimento de pessoas
de corpo e percepção configuram um aspecto com necessidades especiais, na perspectiva da
im­portante, pois o estudo da percepção é fun- inclusão dessa clientela. E quando Nóbrega9
damental para se entender a noção de sujeito10. questiona o lugar do corpo na educação, indaga
Especialmente nos estudos da percepção sobre o modo pelo qual o corpo foi compreendido
apresentados por Merleau-Ponty12, há uma apro- nos currículos escolares, na construção e apro-
ximação com a pesquisa científica atual da cog- priação dos saberes na cultura escolar. Por sua
nição e, nessa visão, existe a crítica ao conceito vez, o documento construído pelo Ministério da
mentalista de representação, enfatizando-se a Educação (MEC) e o Ministério do Meio Am-
compreensão interpretativa do conhecimento biente (MMA)4 traz recomendações que são aqui
baseada na percepção e no movimento. Esses destacadas, entre outras: reinventar as relações
estudos têm contribuído para ampliar a com- com o corpo em movimentos de encontro de
preensão de cognição, no sentido de tornar mais cada um consigo mesmo; atentar às concepções
claro como acontece a realização do fenômeno e práticas de trabalho que reproduzem a cisão
conhecer9. entre corpo e mente; pensar um novo modo de
Merleau-Ponty12 redimensiona a compreen- funcionamento escolar que permita aprender a
são de sujeito no processo de conhecimento e respeitar as vontades do corpo; ampliar os es-
essa nova compreensão de sensação modifica a paços e tempos de movimentar-se livremente,
noção de percepção proposta pelo pensamento assim como relaxar, estar atento à respiração e
objetivo, fundado no empirismo e no intelec­ cuidar da postura.
tualismo10. A cognição emerge da corporeidade, Graciani3 aponta que, no amplo cenário só­
expressando-se na compreensão da percepção cio-econômico-cultural, reaparece a educação,
como movimento e não como processamento de cuja má qualidade, a falta de formação de seus
informações. O movimento tem a capacidade agentes, a pouca infraestrutura onde ocorre,
não apenas de modificar as sensações, mas de dentre outros inúmeros fatores, é responsável
reorganizar o organismo como um todo, consi- também pela pobreza, desigualdade e exclusão
derando ainda a unidade mente-corpo. Assim, social no Brasil, reafirmadas em estudos e pes-
a percepção não apenas decodifica estímulos, quisas que comprovam essa relação por falta

Rev. Psicopedagogia 2015; 32(99): 336-45

338
Estratégia de inclusão: resgate da corporeidade no interior das escolas

de condições para o pleno êxito do aprendiz condições que respeitem as leis que regulam o
no que se refere ao seu espírito crítico, criativo processo de desenvolvimento, levando em con-
e participativo, a partir de uma aprendizagem sideração as possibilidades orgânicas e neuroló-
competente e consequente, ampla e inquietan­ gicas do momento e as condições de existência
te. Há um movimento em marcha, na sociedade do aluno. A essência do educar é respeitar essa
global, onde as manifestações da sociedade civil integração no seu movimento constante5.
se propõem a novas crenças e capacidades de O estudo e a teoria de desenvolvimento de
organizar-se, mobilizar-se e conquistar por si Henri Wallon5,6 facilitou compreender o indiví-
pró­pria aquilo que os setores públicos não conse- duo em sua totalidade, mostrando uma visão
guem proporcionar, frente à pobreza e a exclusão3. integrada da pessoa no aluno. Para esse autor,
O médico e educador Decroly foi um dos pre- é preciso escapar de um raciocínio dicotômico,
cursores dos métodos ativos, fundamentados na motor ou afetivo ou cognitivo, na direção de
possibilidade do aluno conduzir o próprio apren- um raciocínio que apreenda a pessoa como se
dizado e aprender a aprender14. Dedicou-se a cons­tituindo dessas dimensões em conjunto.
experimentar uma escola centrada no aluno, e Qualquer atividade motora tem ressonâncias
não no professor, e que preparasse as crianças afe­tivas e cognitivas. Toda disposição afetiva
para viverem em sociedade14,15. Para esse edu- tem ressonâncias motoras e cognitivas, toda
cador, a pedagogia se modifica e se renova a operação mental tem ressonâncias afetivas e
cada idade, e é fundada sobre as relações que motoras. Wallon, afirma ainda que a questão
se estabelecem entre o indivíduo e a realidade fundamental é o estudo da consciência e que o
de cada época15. Poderíamos dizer que a edu- melhor caminho para a entender é buscar sua
cação compreende quatro dimensões básicas: a origem. Para ele a pessoa está continuamente
cidadania, o lazer, o trabalho e a cultura. Cada em processo, aberto, sempre a caminho de sua
uma delas, com a sua nota distintiva: a dimensão formação e nunca acabado. O resultado é a pes-
política, a dimensão criativa, a dimensão social e soa individual, única, que ao mesmo tempo em
a dimensão que é chave e síntese das demais – a que garante essa integração, é resultado dela. O
da consciência significante, através da qual se or- afetivo e o cognitivo têm sempre como suporte a
ganiza o universo humano. É evidente que o que atividade motora, ou em sua expressão exterior
distinguimos são apenas predominâncias, já que (deslocamento no espaço) ou em sua expressão
os quatro aspectos basicamente se confundem6. plástica (a forma do corpo mediante seu tônus),
Ivic16, na obra sobre Vygotsky, traz que todos reagem como um todo diferenciado aos estímu-
os instrumentos culturais são “extensões do ho­ los internos e externos5.
mem”, isto é, são considerados prolongamen­ Entre os pontos que se destacam na Teoria de
tos e amplificadores das capacidades humanas Wallon está a sua proposta de não limitar a ação
e que “a análise crítica das instituições e dos da escola na instrução e sim em converter-se em
agentes socioculturais – incluindo uma crítica um instrumento para o desenvolvimento e este
das instituições escolares – poderia contribuir pressupõe a integração entre todas as dimensões
para determinar as condições nas quais “os ins- da pessoa inteira5,6. No texto, O Estádio do Espe-
trumentos” socioculturais se tornam fatores de lho11,17,18, Lacan reforça que a apreensão do corpo
formação do desenvolvimento”16. é prematura em relação ao próprio domínio motor
Se o homem se forma e seu limite é determi- e fisiológico insuficientes da criança.
nado pelo social, a escola, como meio, deve ser Mesmo antes de nascer, já somos movimento.
um centro de divulgação da cultura, nas dife- Esse princípio de vida, pelo movimento, parece
rentes áreas, pois essa diferenciação possibilita não ter espaço na tradição escolar que se serve
um desenvolvimento mais completo e integrado do corpo como mero instrumento de acesso às
das várias aptidões6. Educar significa promover faculdades mentais. Cindidos, corpo e mente

Rev. Psicopedagogia 2015; 32(99): 336-45

339
Miller SMC & Ferrari MM

parecem travar batalhas diárias no ambiente se anuncia aquilo que faz a adolescência. É, por-
escolar19. Podemos apreender o interesse pelo tanto, aí dentro que há algo a pacificar, a velar.
corpo descrito nos Parâmetros Curriculares Pacificar esse efeito de real da novidade pube-
Na­­cional para a Educação Infantil (2006)19,20 ral23. Impulsionado pelas novas necessidades,
no eixo de trabalho Movimento. Nesse nível de o jovem alterna e combina o espírito de dúvida
ensino, vários espaços curriculares e físicos são e de construção, de invenção, de descoberta,
legalmente previstos para o corpo. O corpo da de aventura e de criação. Não se restringe sim-
criança é estimulado pelo toque e por atividades plesmente à parte do saber, pois, a afetividade
sensório-motoras. Porém, observa-se, na prática predomina nesse período e as leis, mágicas ou
e nas disposições legais da Educação Básica, científicas, dão ao mundo uma nova dimensão e
gradativa perda do espaço para o corpo em sala põem à prova a personalidade do jovem24.
de aula e nos espaços físicos e curriculares da Embora cada área do cérebro se desenvolva
escola como um todo. É notório que há nas es- em ritmo diferente durante a infância, o início
colas pouco interesse em apresentar uma visão da puberdade assinala um dos períodos mais
integral do corpo, assim como não há discussão abrangentes de poda neuronal em todo o cére-
em torno da interdependência entre corpo e bro. Várias áreas cerebrais críticas para a vida
mente. Portanto, a Educação ainda carece de emocional são as de mais lento amadurecimen-
práticas que ultrapassem o modelo limitado da to. Embora as áreas sensoriais amadureçam
resposta moral-disciplinadora dos corpos. Em durante a primeira infância, e os sistemas lím-
diversas etapas da aprendizagem escolar, é pos- bicos, na puberdade, os lobos frontais, sede do
sível apontar diferenças tanto nas proposições autocontrole emocional, compreensão e hábil
pedagógicas quanto na própria atuação dos resposta, continuam a se desenvolver até o fim
corpos, de discentes e docentes19. da adolescência, num momento qualquer entre
Freire21, inclusive, afirma que os profissionais os dezesseis e os dezoito anos7.
da Educação necessitam conhecer suas próprias O jovem expressa seus sentimentos com o
limitações e potencialidades, mantendo um eter- corpo todo. Mímicas, gestos exagerados frequen-
no diálogo entre os seus sentimentos e o mundo tes, que orientam seu comportamento exterior,
de forma consciente, buscando compreender traduzindo a falta de habilidade para dominar
o significado de cada uma de suas sensações todo o potencial de que o novo corpo é capaz,
pelo reconhecimento da importância delas no com o crescimento acelerado na estatura. De
cotidiano e na estruturação de ações flexíveis modo geral, é por meio de brincadeiras, risadas,
em relação aos seus educandos. conversas em tom de voz elevado e muita mo-
Para crianças com necessidades educati­vas vimentação que o jovem expressa o prazer em
especiais o contato com este tipo de profissio- estar realizando diferentes atividades24. Tantas e
nais pode representar a diferença entre buscar intensas transformações fazem surgir no jovem a
alternativas para superar suas dificuldades necessidade de se apropriar, novamente, de um
(fí­­sicas, sensoriais, mentais e outras) através corpo que se transforma rapidamente e que já
da possibilidade de reconhecer não apenas os não reconhece. Apresenta maior sensibilidade à
seus limites, mas as suas potencialidades, pois imagem corporal e surge, então, a necessidade
“a experiência do próprio corpo é uma unidade de reorganização do esquema corporal que é
em construção”22. condição para a construção da pessoa, de sua
A adolescência, por exemplo, é o tempo de personalidade. Reajustar-se ao novo corpo vai
descoberta da falta e do impossível, que atinge exigir do jovem um mergulho para dentro de si e
o saber. É o tempo da destituição dos pais e da confere uma orientação centrípeta a esse estágio
instauração da falta como constitutiva do corpo. de desenvolvimento. Uma das características
O corpo é, então, o primeiro elemento pelo qual mais marcantes da adolescência é a ambiva-

Rev. Psicopedagogia 2015; 32(99): 336-45

340
Estratégia de inclusão: resgate da corporeidade no interior das escolas

lência de atitudes e sentimentos, resultante da suas necessidades especiais, buscando na intera-


riqueza da vida afetiva e imaginativa que traduz ção psique-soma novas formas de comunicação,
o desequilíbrio interior24. desenvolvimento emocional e interação social.
Nos cursos de formação em Pedagogia e de No campo psicomotor, considera-se relevante o
Psicopedagogia, há recomendações a respeito da estudo da interação entre a imagem e o esquema
utilização do corpo como instrumento essencial corporal e estes são conceitos e objetos precisos
para o desenvolvimento cognitivo e propriocep- da psicomotricidade, cada vez mais discutidos na
tivo na Educação Infantil. Porém, esse mesmo contemporaneidade. Buscam fugir de velhos pa-
corpo, é suscetível a preconceitos e discrimi- radigmas e apostar no sujeito que está presente8.
nações desde a Educação Infantil, culminando Ainda segundo a Declaração de Salamanca26, “o
com o “bulling” comum no Ensino Fundamental, princípio fundamental da escola inclusiva é o de
marcante na adolescência. E ainda, estudos re- que todas as crianças deveriam aprender juntas,
ferentes às diversas síndromes e transtornos de independentemente de quaisquer dificuldades
aprendizagem são excluídos do “cardápio” de ou diferenças que possam ter, acomodando tanto
formação e especialização em Educação. Este fato estilos como ritmos diferentes de aprendizagem
impulsiona a atenção dos profissionais envolvi- e deveriam receber qualquer apoio extra que
dos, seja da saúde ou da educação, em direção possam precisar, para que se lhes assegure uma
ao polêmico processo de inclusão em andamento, educação afetiva”.
que gerou até o momento críticas e experiências Na medida em que há uma superação da hie-
frustrantes nas instituições escolares. rarquização entre pensamento e vida, é possível
Entendemos, dessa forma, a educação como chegar à seguinte lógica: existem as vivências,
condição de saúde, por se tratar de processo nos e isso é o que há de essencial; existem pessoas
quais subjetividades são produzidas. Saúde é pensando as vivências, o que já é algo tardio e
a possibilidade de nos manter criativos, capa- existem pessoas a pensar o pensamento. Se a
zes de (re) inventar-nos em todas as situações escola não consegue abarcar o mais simples, que
imagináveis. Dessa forma, a educação pode ser é o que há de mais fundamental, como poderá
entendida como condição de saúde, por se tratar abarcar o mais complexo?27
de processo nos quais subjetividades são pro- Educação e Saúde são áreas indissociáveis
duzidas. Como compreender que a questão da no atendimento a pessoas com necessidades
inclusão deve ultrapassar os corpos excluídos, se especiais, porém a ausência de diálogo entre
as práticas escolares, como têm se dado, produ- essas áreas é sentida na formulação das políticas
zem sujeitos desiguais, oprimidos, impotentes, e ações governamentais de atenção à pessoa
deficientes?25 e na organização da prestação de serviços te-
A fim de encontrar o lugar de cada um no rapêuticos e educacionais. Embora o trabalho
processo de aprendizagem e para contribuir com com essa clientela seja por princípio de nature-
a afirmação do processo inclusivo no âmbito za multidisciplinar, verifica-se com frequência
escolar, propõe-se repensar o ato de aceitação uma fragmentação de serviços, em que cada
do outro e entender, de forma multidisciplinar, a profissional considera sua área prioritária. Se
unicidade de cada corpo na prática pedagógica, não houver troca de saberes e experiências, in­­
independente de deficiências físicas ou neces- clusive, os futuros profissionais continuarão com
sidades especiais. uma postura fragmentada e especializada8.
Desde a Declaração de Salamanca (1994)26, O processo de formação se tornou mais um
discute-se sobre espaços e formas de inclusão. procedimento do que um processo, mais algo
Profissionais da área da Educação e da Saúde externo do que uma vivência. É por meio dessa
buscaram alternativas no campo psicomotor que mentalidade de longa duração, fruto de uma
pudessem contemplar o sujeito para além de hierarquização, que separa o pensamento da

Rev. Psicopedagogia 2015; 32(99): 336-45

341
Miller SMC & Ferrari MM

vida, que diversas leis foram criadas, como a das diversas partes ligadas a ele de modo inter-
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio- -retroativo ou organizacional e a sociedade é o
nal prevista na constituição, revogado pela Lei todo organizador de que fazemos parte1.
nº 9.394 de 199628. Não é possível utilizar o A aprendizagem de conteúdos é uma apren-
modelo pedagógico da Escola Tradicional para dizagem sem corpo, e não somente pela exi-
embasar as políticas inclusivas dos séculos XX gência do aluno ficar sem movimentar-se, mas,
e XXI, na medida em que é problemática a sobretudo, pelas características dos conteúdos
visão da escola enquanto ambiente, apenas, de e dos métodos de ensino, que o colocam em
“instrução formal”. Uma nova forma de conceber um mundo diferente daquele no qual ele vive
a educação gera uma nova forma de conceber o e pensa com seu corpo. Na escola, constata-se
humano. Inclusão não é submissão, “integração” o privilégio dado às operações cognitivas abs-
às normas a que os “normais” estão submetidos27. tratas, dissociando-as da participação corporal
Segundo Rumpf29, as práticas escolares su- e desvinculando-as de experiências sensoriais
pervalorizam as operações cognitivas e distan- concretas, além de esquecer o sentido existencial
cia progressivamente o sujeito da experiência do presente em função de um futuro abstrato30.
sensorial direta. Para esse autor, a escola, nos O ensino, ligado até agora à educação es-
últimos 150 anos de processo civilizatório, pre- peculativa e verbal, tem de refazer-se no todo
tende não somente disciplinar o corpo e, com para fazer-se prático. É ilusão supor-se que
ele, os sentimentos, as ideias e as lembranças a existe oposição entre educação geral e educa-
ele associadas, mas também anulá-lo. Este autor ção prática. O que existe são diversos tipos de
analisou as formas atuais de controle do corpo: educação geral, cada um deles estruturado de
nos regulamentos da escola, no conteúdo das modo diferente segundo as condições próprias
disciplinas, nos livros didáticos e nos discursos de cada tipo de sociedade2.
e hábitos metodológicos do professor30. “A aprendizagem formal, está presente de
Alunos em fileiras, professor à frente, livros corpo inteiro. Pois o ser que pensa é também o
didáticos, programas de estudo sobrecarregados ser que age e que sente. O sujeito realiza-se e
e falta de motivação, sugerem que, infelizmente, se constrói movido pela intenção, pelo desejo,
décadas de pesquisa em educação pouco fizeram pelos sentidos, pela emoção, pelo movimento,
para mudar nossas escolas. Há avanços, mas, pela expressão corporal e criativa31”. “A per-
de um modo geral, nossas escolas comportam- cepção do corpo é confusa na imobilidade, pois
-se como se Piaget, Vygostky, Freire ou Papert lhe falta a intencionalidade do movimento. A
jamais tivessem existido. A maioria concordaria intencionalidade não é algo intelectual, mas
que conhecimento se constrói (Piaget), que a uma experiência da motricidade”9.
escola precisa fornecer ferramentas de leitura Apesar de filósofos contemporâneos expli-
do mundo (Freire), que o “fazer” é um grande carem o corpo na sua totalidade, este não é um
instrumento de aprendizado (Papert) e poucos problema resolvido. Ao contrário, o resgate da
afirmariam que o melhor jeito de aprender é totalidade e, com isso, da corporeidade deve ser
com um aluno sentado durante horas, ouvindo uma preocupação perene para aqueles que, de
o professor4. alguma forma, lidam com a questão do corpo e
Existe inadequação cada vez mais ampla, com a educação. “A aprendizagem ocorre via
profunda e grave entre, de um lado, os saberes corporeidade em meio à cultura que nos cerca”32.
desunidos, divididos, compartimentados e, de Para responder à pergunta inicial colocada no
outro lado, as realidades ou os problemas cada início desse artigo, quais são os caminhos para
vez mais multidisciplinares, transversais, multi- que a educação do futuro possa ser centrada
dimensionais, transnacionais, globais e planetá- na condição humana e que consiga ilustrar o
rios. O global é mais que o contexto, é o conjunto princípio de unidade/diversidade em todas as

Rev. Psicopedagogia 2015; 32(99): 336-45

342
Estratégia de inclusão: resgate da corporeidade no interior das escolas

esferas? Buscou-se realizar um contraponto e jovens sem pensar nas deficiências e necessi-
entre educação e corporeidade no contexto do dades especiais do sistema educacional vigente?
sistema oficial de ensino; resgatar o ato motor A escola, como parte do sistema, apresenta defi-
e o significado da corporeidade em diferentes ciências que deveriam ser sanadas para acolher
etapas da educação básica; reapresentar o pa- toda diversidade de ser que nela adentra. E
pel do corpo como um elemento essencial no constata-se como um agravante que os espaços
processo de aprendizagem e apresentá-lo como educadores, na contemporaneidade, ainda estão
estratégia para o sucesso da escola inclusiva e impregnados do conceito do dualismo cartesia-
como espaço de convivência, inclusive durante a no, cisão entre corpo e mente. Contudo alguns
adolescência, no Ensino Fundamental e Médio. autores citados, entre outros, apontam há muito
tempo caminhos e descaminhos presentes na
CONSIDERAÇÕES FINAIS Educação, na tentativa de superar este modelo
ainda arraigado na sociedade ocidental.
Inicialmente, podemos considerar que na
O ato motor reconsiderado e a corporeidade
Educação estamos diante de dois desafios: o
valorizada no fazer pedagógico, como estratégia
primeiro deles é responder à pergunta que se
no processo de inclusão, de socialização e difu-
estende há anos: “qual escola que queremos?” E,
são de cultura, especialmente no Ensino Funda-
finalmente, começar a “co-responder” por meio
mental, contribuiria para amenizar dificuldades
de uma prática efetiva. Considera-se o fato de que
relacionadas ao processo de aprendizagem,
há subsídios teóricos em quantidade e diversi-
minimizando deficiências e carências presentes
dade para sustentar a prática. O outro e, talvez, no próprio sistema educacional e no subsistema
o maior desafio para um sistema edu­cacional Escola e poderia ganhar significado na prática
padronizado, sempre será a “unicidade do ser”. incipiente da inter e a transdisciplinaridade.
No cotidiano escolar é possível conferir a Como aponta Nóbrega9: “ler, escrever, contar,
singularidade de cada um. O que possibilita narrar, dançar, jogar são produções do sujeito
argumentar: se cada ser é único e diferente do humano que é corpo”. A gestualidade e os cuida-
outro, não se deveria trabalhar a questão da dos com o corpo podem e devem ser tematizados
diversidade apenas quando se depara com um nas diferentes práticas educativas propostas nos
processo de inclusão no âmbito escolar. Este currículos e viabilizados por diferentes discipli-
deveria ser um processo planejado e permanen- nas. Afinal, a educação inclusiva é vinculada à
te para não proporcionar o constante paradoxo busca incessante de proporcionar a autonomia
inclusão/exclusão. de ser e de saber da(o) educanda(a), valorizando
Durante reflexões sobre possíveis contribui- e respeitando o seu conhecimento prévio, sua
ções à inclusão, a questão que se apresenta à singularidade e linguagem corporal, visto ser o
frente é: como pensar em inclusão de crianças estudante um sujeito social em construção.

Rev. Psicopedagogia 2015; 32(99): 336-45

343
Miller SMC & Ferrari MM

SUMMARY
Inclusion strategy: rescue of embodiment within schools

This work is a reflection on the education of paths in the future, centered


on the human condition, under the aegis of the principle of unity-diversity
proposed by Edgar Morin. Performs a counterpoint between education and
corporeality in the context of the official education system, emphasizing the
importance of rescuing the motor act and the meaning of corporeality in
different stages of basic education. Restates the body’s role as an essential
element in the learning process and presents the valuation of corporeality
and movement as strategies for the success of inclusive education and
the school as living space, including during adolescence, considering the
elementary and high school. Inclusive education is linked to the incessant
quest to provide autonomy to be and to know the student, valuing and
respecting their prior knowledge, their uniqueness and body language, as
it is the student a social subject in construction.

KEY WORDS: Mainstreaming (Education). Perception. Body image.

REFERÊNCIAS 9. Nóbrega TP. Qual o lugar do corpo na edu-


1. Morin E. Os sete saberes necessários à edu- cação? Notas sobre conhecimento, processos
cação do futuro. 2ª ed. revisada. São Paulo: cognitivos e currículo. Disponível em: http://
Cortez; Brasília: UNESCO; 2000. www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&
2. Fávero MLA, Fávero O. Durmeval Trigueiro. Co- pid=S0101-73302005000200015 Acesso em:
leção Educadores. Recife: Fundação Joa­quim 27/01/2015
Nabuco, Editora Massangana, 2010. 158p. 10. Goldberg L. Percepção e corpo. Rev Filoso-
3. Graciani MSS. Pedagogia social: impasses, fia-ciência&vida. 2014;VIII(98):15-23.
desafios e perspectivas em construção. 1º 11. Lacan J. Escritos (1966). Trad. Ribeiro V. Rio de
Congresso Internacional de Pedagogia So- Janeiro: Jorge Zahar Editor; 1998. p.96-103.
cial, São Paulo, março de 2006. 12. Merleau-Ponty M. Fenomenologia da per-
4. Brasil. Vamos cuidar do Brasil: conceitos e cepção. São Paulo: Martins Fontes; 1994.
práticas em educação ambiental na escola. 13. Fernandes MH. Corpo. Coleção Clinica Psicana-
Brasília: Ministério da Educação e Ministério lítica. 4ª ed. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2011.
do Meio Ambiente, UNESCO; 2007. p.226. 14. Ferrari M. Ovide Decroly, o primeiro a tratar o
5. Mahoney A. Introdução. In: Mahoney AA, saber de forma única. Revista NOVA ESCO-
Almeida LR, orgs. Henri Wallon: psicologia LA - Edição Especial – Grandes Pensadores –
e educação. São Paulo: Loyola; 2000. p.9-18. 41 Educadores que fizeram história da Grécia
6. Almeida LR. Wallon e a Educação. In: Maho- antiga aos dias de hoje. Ed. Abril 2008.
ney AA, Almeida LR, orgs. Henri Wallon: 15. Dubreucq F. Jean-Ovide Decroly/Francine
psicologia e educação. São Paulo: Loyola; Dubreucq. In: Mafra JF, Freire LC, Mafra
2000. p.71-87. DH. Trad. Coelho CAV. Coleção Educadores
7. Goleman D. Inteligência emocional. Trad. – MEC. Recife: Fundação Joaquim Nabuco,
Santarrita M. 44ª ed. Rio de Janeiro: Educa- Edit. Massangana, 2010. 156p.
tiva;1995. p.93-4. 16. Ivic I. Lev Semionovich Vygotsky / Ivan Ivic;
8. Ferreira CAM, Ramos MIB. Psicomotricida- Edgar Pereira Coelho (org.) – Coleção Edu-
de: educação especial e inclusão. 2ª ed. Rio cadores. Recife: Fundação Joaquim Nabuco,
de Janeiro. WAK;2009. p.11. Editora Massangana; 2010. 140p.

Rev. Psicopedagogia 2015; 32(99): 336-45

344
Estratégia de inclusão: resgate da corporeidade no interior das escolas

17. Greco MG. Os espelhos de Lacan. Opção va. Educação Inclusiva: experiências pro-
Lacaniana online nova série Ano 2. Número fissionais em Psicologia/ Conselho Federal
6. Novembro 2011. ISSN 2177-2673 de Psicologia. Brasília: Conselho Federal de
18. Cavalcanti AE. O estádio do espelho. In: La- Psicologia; 2009. p.172
can. Grandes ícones do conhecimento hu- 26. UNESCO. Brasil/1998/PI/H/7. Declaração
mano. São Paulo: Mythos Editora. de Salamanca sobre princípios, política e
19. Campos FM. Relações Corpo e Educação: um prá­­­ticas na área das necessidades educativas
estudo sobre o lugar do corpo na escola. Dis- especiais 1994. Disponível: http://unesdoc.
ponível em: http://unb.revistaintercambio. unesco.org/images/0013/001393/139394por.
net.br/24h/pessoa/temp/anexo/1/190/163.pdf pdf Acesso em: 13/01/2015
Acesso em: 08/12/2014 27. Figueira F. Para uma nova imagem de in-
20. Brasil. Parâmetros Curriculares Nacional para clusão. Rev Filosofia ciência & vida. MEC.
a Educação Infantil. Brasília: Ministério da FNDE. PNBE Periódicos. ANO VIII.Nº 97.
Educação; 2006. agosto 2014. p.55-62
21. Freire P. Pedagogia da autonomia: saberes 28. Brasil. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de
necessários à prática educativa. 21ª ed. São 1996. Estabelece Diretrizes e Bases da Edu-
Paulo: Editora Paz e Terra; 2002. cação Nacional. Disponível em: http://www.
22. Tavares MCGCF. Imagem corporal: conceito planalto.gov.br/CCIVIL_03/LEIS/L9394.
e desenvolvimento. Barueri: Manole; 2003. htm> Acesso em: 20/12/2014.
145p. 29. Rumpf H. Die uebergangene Sinnlichkeit.
23. Ouvry O. Corpo e novidade puberal. Agora. Munique: Juventa Verlag; 1981.
2011;14(2). Disponível em: http://dx. doi.org/ 30. Gonçalves MAS. Sentir, pensar, agir: corpo-
10.1590/S1516-14982011000200004 Acesso reidade e educação. Coleção Corpo e Motri-
em: 08/12/2014 cidade. 15ª ed. Campinas: Papirus; 2012.
24. Dér LCS, Ferrari SC. Estágio da puberdade 31. Freire P. Pedagogia do oprimido. São Paulo:
e da adolescência. In: Mahoney AA, Almei- Editora Paz e Terra; 1991.
da LR, orgs. Henri Wallon: psicologia e edu- 32. Aragão M, Cardoso ANT. Consciência cor-
cação. São Paulo: Loyola; 2000. p.59-70. poral: uma concepção filosófica-pedagógica
25. Machado AM, Almeida I, Saraiva LFO. Rup- da apreensão do movimento. Rev Bras Cienc
turas necessárias para uma prática inclusi- Esporte. 2001;22(2):115-31.

Trabalho realizado na Universidade Federal de São Artigo recebido: 12/8/2015


Carlos (UFSCAR), São Carlos, SP, Brasil. Aprovado: 30/10/2015

Rev. Psicopedagogia 2015; 32(99): 336-45

345

Você também pode gostar