Você está na página 1de 18

1

HARMONIZAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS BRASILEIRAS ÀS


NORMAS INTERNACIONAS DE CONTABILIDADE

INTRODUÇÃO

As recentes mudanças ocorridas no cenário contábil mundial,


especialmente com o fortalecimento dos padrões internacionais de contabilidade
a partir de 2005, com a adoção desses padrões pela Comunidade Européia,
impactaram fortemente na cultura contábil brasileira, tanto que o ano de 2005
ficou marcado por dois acontecimentos importantes para a contabilidade
nacional: a criação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) que passa
a emitir os pronunciamentos brasileiros de contabilidade e a publicação da
Deliberação número 488, em novembro passado, pela Comissão de Valores
Monetários (CVM) do Brasil buscando a convergência das práticas contábeis
brasileiras com as práticas contábeis internacionais, visando ao aumento da
transparência e da segurança das informações contábeis divulgadas ao público
investidor, e possibilitando, a um custo mais baixo, o acesso das empresas
brasileiras às fontes de financiamento externas.

Essa busca pela convergência contábil internacional teve seu início com
as mudanças econômicas sentidas no Brasil com a abertura do mercado
brasileiro ocorrido no governo do Presidente Fernando Collor de Mello a partir de
1990, que criou uma nova cultura de globalização econômica para o país com a
abertura ao mercado internacional, associado ao aumento do fluxo de capitais
internacionais entrando no Brasil e o próprio aumento da capitação de recursos
de empresas brasileiras no mercado de capitais internacional. Segundo a
Wikipedia (2006), o Governo Collor buscou uma maior abertura do mercado
brasileiro à importação e exportação de bens e produtos, causada por um
programa massivo de redução das alíquotas, da burocracia e da intervenção
estatal no setor, significando, historicamente, a adesão do Brasil a um programa
neoliberal de desenvolvimento econômico.

Diante desse contexto histórico de mudanças sentidas pelo país nos


últimos anos, esse artigo busca, portanto, apresentar os principais pontos de
convergência das normas brasileiras às normas internacionais de contabilidade,
especialmente a partir da publicação da deliberação número 488 da CVM.

1.INÍCIO DO PROCESSO DE CONVERGÊNCIA

Essa mudança no perfil da contabilidade brasileira é defendida por muitos


pesquisadores, com destaque para o recém-eleito presidente do Conselho
Consultivo de Normas do IASB - International Accounting Standards Board e
membro da Comissão Consultiva de Normas Contábeis da CVM - Comissão de
Valores Mobiliários, professor Nelson Carvalho. Para Carvalho, “Uma linguagem
2

universal e única para medir e relatar o desempenho empresarial tem seus bons
frutos. As boas empresas, bem administradas, serão muito melhor entendidas.”
(IBEF, 2005, pg 1). Segundo o IBEF (2005), Carvalho ressalta que medir coisas
iguais, da mesma forma, em qualquer latitude do planeta, permitirá que os
investidores façam comparações de desempenho. O custo de capital cairá para
os negócios promissores e bem administrados, e baixos custos de captação
para as empresas que migrarem para as normas internacionais significam, no
fundo, geração de emprego e renda.

A importância da convergência da contabilidade nacional para a


contabilidade internacional, materializa-se, especialmente, na iniciativa do
Reports on the Observance of Standards and Codes (ROSC) do Banco Mundial
(World Bank), que estabelece um programa para auxiliar seus países membros
na implementação de padrões internacionais de contabilidade. Os objetivos
desse programa são os seguintes:

• Análise comparativa da contabilidade e dos padrões de auditoria


nacionais para determinar o grau de conformidade com os padrões
internacionais, para avaliar a qualidade dos relatórios financeiros;

• Capacidade do país de desenvolver e executar um plano de ação para


melhorar a capacidade do país, buscando o fortalecimento da qualidade
dos relatórios financeiros. (BANCO de WORD, 2006).

A adoção de normas internacionais de contabilidade poderá trazer


grandes vantagens para a economia brasileira, mas também exigirá uma série
de investimentos das empresas nacionais em treinamento e adaptação de
sistemas de informações. Mas, mesmo com esses investimentos, as vantagens
dessa convergência, a princípio, superam as poucas desvantagens que poderão
acarretar essas mudanças.

Algumas iniciativas isoladas dessa convergência já foram definidas no


Brasil, como é o caso da divulgação de informações por segmento de negócios,
que passou a ser incentivada pela CVM, segundo os padrões definidos pelas
normas internacionais (IAS 14).

Dentre as ações brasileiras, uma das que mais caracterizou a tendência


brasileira de convergir para a contabilidade internacional, foi a criação do Comitê
de Pronunciamentos Contábeis (CPC) através da Resolução Conselho Federal
de Contabilidade (CFC) nº 1.055 de 07.10.2005.

O CFC justifica que a criação do CPC deve-se a crescente importância da


internacionalização das normas contábeis e que esse fato vem levando
inúmeros países a caminhar para um processo de convergência que tenha como
conseqüência:
3

a)a redução de riscos nos investimentos internacionais (quer os sob a forma de


empréstimo financeiro quer os sob a forma de participação societária), bem
como os créditos de natureza comercial, redução de riscos essa derivada de um
melhor entendimento das demonstrações contábeis elaboradas pelos diversos
países por parte dos investidores, financiadores e fornecedores de crédito;

b)a maior facilidade de comunicação internacional no mundo dos negócios com


o uso de uma linguagem contábil bem mais homogênea;

c)a redução do custo do capital que deriva dessa harmonização, o que no caso
é de interesse, particularmente, vital para o Brasil.

O Art. 3º Resolução CFC nº 1.055, determina que o CPC tem por objetivo
o estudo, o preparo e a emissão de Pronunciamentos Técnicos sobre
procedimentos de Contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza,
para permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando à
centralização e uniformização do seu processo de produção, levando sempre
em conta a convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais.

Essa preocupação dom a harmonização não está limitada ao meio


profissional contábil, tanto que para o mercado financeiro nacional, um dos
aspectos prioritários para a adequação do Brasil às exigências dos investidores
internacionais, segundo a Revista RI (2005), aponta a harmonização das normas
contábeis como um assunto que ganha importância crescente junto às
companhias, mobilizando um grande número de especialistas. O tema, segundo
especialista financeiros do mercado brasileiro, não pode ficar ausente da agenda
dos profissionais de Relações com Investidores, até porque a adoção de
padrões contábeis compreensíveis para o universo global de investidores é um
ponto vital no processo de atração de recursos externos. Essa linguagem
contábil e de auditoria deve ser cada vez mais uniforme para assegurar a
confiança dos investidores depois dos recentes problemas contábeis e fiscais
que abalaram empresas norte-americanas e todo o mercado financeiro mundial.
Nesse sentido, o Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI)
participou, como um dos apoiadores institucionais, do Seminário Internacional “A
Convergência das Normas Contábeis no Brasil e no Mundo”, organizado pela
Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de
Capitais de São Paulo (Apimec/SP). Esse seminário incluiu um amplo debate
sobre os diferentes estágios desse processo no mundo e a importância da
implantação do modelo IRFS no Brasil, além da visão do Governo Federal e o
ritmo de implantação da convergência contábil no País.

Esse cenário desencadeou um processo irreversível para a convergência


brasileira às normas internacionais de contabilidade, culminando com algumas
mudanças econômicas e políticas no país, destacadas por Clark (2004):
4

• Representantes do Banco Interamericano de Desenvolvimento


(BID), em recente encontro com o Presidente Luis Inácio Lula da
Silva, enfatizaram a importância das IFRS para o contexto
brasileiro e a relevância de encorajar as empresas a adotarem
esse padrão internacional. Adicionalmente, o BID tem incentivado
o Banco Central do Brasil, inclusive com subsídios financeiros, a
desenvolver normas contábeis convergentes com as internacionais
para instituições financeiras brasileiras;
• O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
brasileiro (BNDES) oferece linhas de crédito exclusivas, com
condições favoráveis, a empresas que adotam as boas práticas de
governança corporativa e apresentam suas demonstrações
contábeis de acordo com as normas internacionais de
contabilidade;
• O uso crescente da linguagem comum XBRL (Extensible Business
Reporting Language) pelas empresas brasileiras facilita o
tratamento e a comparação de informações financeiras por parte
dos analistas e investidores, deverá contribuir para o aumento dos
investimentos transnacionais, criando condições para uma
ampliação do uso das IFRS.

Essa busca pela padronização contábil internacional propiciou que a


Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA) criasse algumas exigências para
que as Companhias brasileiras detentoras de padrão de governança corporativa
Nível 2 (“Companhias do Nível 2”) ou de Novo Mercado devam elaborar
demonstrações contábeis de acordo com Padrões Internacionais. Para isso,
segundo a BOVESPA (2006), após o encerramento de cada exercício social a
Companhia deverá, adicionalmente ao previsto na legislação societária vigente,
observar as seguintes exigências:

• (i) elaborar demonstrações contábeis ou demonstrações


consolidadas, conforme previsto nos padrões internacionais IFRS
ou US GAAP, em reais ou dólares americanos, que deverão ser
divulgadas na íntegra, no idioma inglês, acompanhadas do
relatório da administração, de notas explicativas, que informem
inclusive o lucro líquido e o patrimônio líquido apurados ao final do
exercício segundo os princípios contábeis brasileiros e a proposta
de destinação do resultado, e do parecer dos auditores
independentes; ou
• (ii) divulgar, no idioma inglês, a íntegra das demonstrações
financeiras, relatório da administração e notas explicativas,
elaboradas de acordo com a legislação societária brasileira,
acompanhadas de nota explicativa adicional que demonstre a
conciliação do resultado do exercício e do patrimônio líquido
apurados segundo os critérios contábeis brasileiros e segundo os
padrões internacionais IFRS ou US GAAP, conforme o caso,
5

evidenciando as principais diferenças entre os critérios contábeis


aplicados, e do parecer dos auditores independentes.

Esse processo de convergência brasileira em direção aos padrões


internacionais de contabilidade, culminou com a publicação da deliberação 488
da CVM, determinando como compulsória essa harmonização para as
Companhias de capital aberto no Brasil.

Esse pronunciamento, segundo a CVM (2006) dispõe sobre


considerações gerais para a apresentação de demonstrações contábeis,
diretrizes para sua estrutura e requisitos mínimos de seu conteúdo, incluindo a
descrição das práticas contábeis. Ao dispor sobre a estrutura e conteúdo das
demonstrações contábeis, este pronunciamento trata também de normas
específicas para a elaboração do Relatório da Administração aos investidores,
reafirma a prevalência do princípio da essência econômica sobre a forma e traz
para o ambiente das informações contábeis divulgadas para o mercado de
capitais brasileiros o alinhamento à norma internacional IAS 1 (International
Accounting Standards 1 - framework for the preparation and presentation of
financial statements).

2.RUPTURA HISTÓRICA DA CONTABILIDADE BRASILEIRA

A contabilidade brasileira vive um momento de ruptura com a sua própria


história, considerando que a primeira lei das sociedades anônimas editada no
Brasil, Lei número 2627 de 1940, era nitidamente influenciada pela escola
patrimonialista italiana. A segunda lei brasileira das sociedades anônimas,
publicada em 1976, Lei número 6404, mudou o foco brasileiro para a
contabilidade norte-americana, tanto que a estrutura das demonstrações
contábeis brasileiras segue a forma norte-americana de apresentação. Esse fato
pode ser caracterizado pela apresentação do Balanço Patrimonial em ordem
decrescente de liquidez para o ativo e de exigibilidade para o passivo. Com o
advento da Deliberação 488 da CVM, percebe-se, novamente, uma mudança de
foco, sendo que novamente a contabilidade brasileira passa a ter como base de
sustentação os padrões contábeis do IASB. O Brasil vive hoje, portanto, um
momento de nova transição, que deverá nortear seus rumos contábeis para os
próximos anos. Diante desse cenário histórico, pode-se entender o que a
Deliberação 488 da CVM representa para a contabilidade brasileira, pois não é
apenas uma nova lei de regulará a contabilidade, mas uma ruptura com a
própria história da contabilidade brasileira.

3.DELIBERAÇÕES 488 E 489 DA COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS

Esse momento de transição pode ser percebido na simples comparação


da Lei das Sociedades por Ações (Lei 6404) que ainda vige no Brasil, com a
Deliberação 488 da CVM. O Brasil vive uma situação conflitante, pois a Lei 6404
normatiza a contabilidade das empresas não afetadas pela Deliberação da CVM,
6

ou seja, todas as demais empresas que não são companhias abertas. Assim,
vive-se um momento em que as principais companhias brasileiras seguem uma
nova regra de contabilidade e as demais empresas que representam a maioria,
seguem a legislação anterior. Isso se deve ao fato de que existe uma lei
tramitando no congresso brasileiro que deverá seguir os mesmos passos da
Deliberação 488, porém, sem perspectiva de aprovação, considerando,
especialmente, o atual cenário político brasileiro de mudanças, em função de
novas eleições presidenciais ainda esse ano e de escândalos envolvendo parte
de dirigentes do governo, que acaba direcionando a atenção política nacional.
Portanto, apenas parte da contabilidade nacional está nesse processo de
mudanças, por isso, é importante destacar o que o que determina a atual Lei das
Sociedades por Ações, com influência, especialmente na parte de reporte, da
contabilidade norte-americana, e o que determina a Deliberação 488 da CVM,
com influência da contabilidade internacional, para as companhias abertas.

3.1.Demonstrações contábeis obrigatórias

De acordo com o artigo 176 da Lei 6404/76, as demonstrações contábeis


obrigatórias são: o balanço patrimonial, a demonstração dos lucros ou prejuízos
acumulados, a demonstração do resultado do exercício, a demonstração das
origens e aplicações de recursos e notas explicativas.

Para as companhias abertas, segundo o § 8 da Deliberação CVM nº


488/05, é composto pelo balanço patrimonial, demonstração das mutações do
patrimônio líquido, demonstração do resultado, demonstração do fluxo de caixa
ou, alternativamente, enquanto requerida pela legislação societária, a
demonstração de origens e aplicações de recursos, demonstração do valor
adicionado, se divulgada pela entidade; notas explicativas, incluindo a descrição
das práticas contábeis.

Percebe-se que a Deliberação CVM 488, buscou a aproximação com as


normas internacionais, pois, de acordo com o IAS 1, o conjunto de
demonstrações financeiras que deverão ser emitidos pelas companhias são:
balanço patrimonial (balance sheet); demonstração do resultado (income
statement); outras demonstrações que evidenciem todas as mudanças no
patrimônio líquido, ou as mudanças no patrimônio líquido, exceto as
modificações no capital e as distribuições para os proprietários; demonstração
do fluxo de caixa (cash flow statement); políticas contábeis e outras notas
explicativas (explanatory notes).

Pelas novas normas brasileiras existe a possibilidade de apresentar a


demonstração do fluxo de caixa, buscando a harmonização ao IAS 7, ou,
alternativamente, enquanto requerida pela legislação societária, a demonstração
de origens e aplicações de recursos e a demonstração do valor adicionado, se
divulgada pela entidade. A demonstração das origens e aplicações de recursos,
ainda obrigatória para as empresas não atingidas pela Deliberação CVM 488,
tem por objetivo apresentar de forma ordenada e sucinta as variações ocorridas
7

no capital circulante líquido da entidade, ou seja, a movimentação relativa às


operações de financiamento (origens) e investimento (aplicações) da entidade.
Segundo Santos e Schmidt (2002), o termo recurso é utilizado para expressar a
diferença entre os ativos circulantes e os passivos circulantes e não somente a
variação ocorrida nas disponibilidades, que é apresentada na demonstração de
fluxos de caixa. A demonstração do valor adicionado, segundo a NBC T 3.7
(2005), busca evidenciar, de forma concisa, os dados e as informações do valor
da riqueza gerada pela entidade em determinado período e sua distribuição. A
Demonstração do Valor Adicionado deve evidenciar os seguintes componentes:
a receita bruta e as outras receitas; os insumos adquiridos de terceiros; os
valores retidos pela entidade; os valores adicionados recebidos (dados) em
transferência a outras entidades; valor total adicionado a distribuir; e distribuição
do valor adicionado.

Portanto, em comparação com as normas internacionais as novas


demonstrações contábeis brasileiras ainda apresentam algumas diferenças,
embora em menor grau que o conjunto de demonstrações determinado pela Lei
6404, por possibilitarem as companhias abertas apresentarem a demonstração
de origens e aplicações de recursos em vez da demonstração do fluxo de caixa,
além de possibilitar a divulgação da demonstração de valor adicionado, embora
não de maneira obrigatória. Uma convergência percebida, embora com efeito
apenas semântico, foi a eliminação da palavra exercício na demonstração do
resultado, pois agora essa demonstração passa a se chamar demonstração do
resultado como determinam as normas internacionais.

Assim, serão discutidas com maior profundidade as principais


convergências e divergências existentes entre a Legislação societária brasileira,
de acordo com a Lei das Sociedades por Ações (Lei 6404/1976), a nova
Deliberação 488 da CVM e as normas internacionais, focando, especialmente,
no Balanço Patrimonial e na Demonstração do Resultado, já que nas demais
demonstrações, exceto pela possibilidade de apresentação da Demonstração de
Origens e Aplicações de Recursos em vez do Fluxo de Caixa, não existem
diferenças significativas.

3.1.1.Balanço patrimonial

O processo de harmonização buscado pela deliberação 488 fez com que


o Balanço Patrimonial para as Companhias abertas mudasse a sua forma de
apresentação patrimonial, buscando uma aproximação das normas
internacionais, embora ainda continue a disposição de acordo com a ordem
decrescente do grau de liquidez e de exigibilidade.

Assim, para as demais empresas (as empresas que não seguem as


deliberações da CVM) o Balanço Patrimonial continua com a estrutura anterior,
que de acordo com as normas brasileiras, descritas no § 1º do art. 178 da Lei
das Sociedades por Ações, é a seguinte:
8

“§1º No ativo, as contas serão dispostas em ordem decrescente de


liquidez dos elementos nelas registrados, nos seguintes grupos:
a) ativo circulante;
b) ativo realizável a longo prazo;
c) ativo permanente, dividido em investimentos, ativo imobilizado e ativo
diferido.”

Porém, de acordo com o § 50 da Deliberação CVM nº 488/05, as


companhias abertas devem efetuar, com base na natureza de suas operações, a
apresentação do ativo no balanço patrimonial em dois grupos: ativos circulantes
e ativos não circulantes, como prescrito nas normas internacionais, embora,
como destacado anteriormente, a ordem de liquidez continua sendo
decrescente, por isso a primeira conta do grupo ativo circulante é o caixa.

Dentro do ativo, outra mudança proposta pela Deliberação 488 e que


busca a aproximação da contabilidade internacional, é a classificação no
circulante. Para ser circulante, se espera que o ativo seja realizado, ou mantido
para venda, negociação ou consumo dentro dos 12 meses seguintes à data do
balanço; ou, quando é um ativo em dinheiro ou equivalente, cuja utilização não
está restrita. Essa classificação busca a convergência à normatização
internacional, pois, diferentemente da Lei 6404, a CVM não adota a expressão
“até o término do exercício seguinte”, mas sim “doze meses”, o que acaba com
uma discussão antiga sobre as reclassificações para curto prazo, nas
demonstrações contábeis intermediárias. Assim, de acordo com a CVM o prazo
para a classificação de um ativo como circulante é sempre de doze meses,
exceto quando o ciclo operacional for maior. Essa classificação em doze meses
está de acordo com o procedimento adotado internacionalmente.

Com relação à classificação dos ativos de longo prazo, da mesma forma


que no curto prazo, as normas brasileiras emitidas pela CVM eliminaram o grupo
do ativo intitulado de realizável a longo prazo, porém criaram um subgrupo do
ativo não circulante com essa denominação. Assim, de acordo com o § 55 da
Deliberação CVM nº 488/05, o ativo não circulante deverá ser desdobrado em
ativo realizável a longo prazo, investimentos, imobilizado, intangível (apenas
ativos intangíveis adquiridos isoladamente, não gerados de combinações de
negócios, como os determinados pelo IAS 38) e diferido, que não existe nas
normas internacionais. No caso dos ativos intangíveis, a amortização se dará de
forma normal pela como qualquer outro ativo que reduz a sua capacidade de
geração de benefícios, não devendo ser testado por impairment, como
determina o IAS 36.

Contrário às normas internacionais os créditos e estoques devem ser


classificados no realizável a longo prazo, quando não houver expectativa de
serem realizados dentro de doze meses da data do balanço, conforme
determina o § 56 da Deliberação CVM nº 488/05.
9

Uma das principais alterações ocorridas com o advento da Deliberação


CVM 488, foi à extinção do grupo ativo permanente e a transferência dos
subgrupos investimentos, imobilizado e diferido para o ativo não circulante,
seguindo os padrões internacionais de contabilidade. Além disso, a criação do
subgrupo intangível é uma novidade para a contabilidade brasileira. Para as
demais sociedades não impactadas pela CVM, a estrutura do ativo de longo
prazo continua sendo de realizável a longo prazo e ativo permanente dividido em
investimentos, imobilizado e diferido.

Assim, de acordo com o § 54 da Deliberação CVM nº 488/05, todos os


outros ativos que não sejam dinheiro ou equivalente, cuja utilização não está
restrita ou que se espera que seja realizado, ou é mantido para venda,
negociação ou consumo dentro dos 12 meses seguintes à data do balanço,
serão classificados no ativo não circulante.

Além disso, da mesma forma que acontece nas normas internacionais, de


acordo com o § 64 da Deliberação CVM nº 488/05, essas são as rubricas
mínimas, ou seja, podem ser criadas rubricas adicionais, desde que, tal
apresentação seja requerida por lei ou órgão regulador ou tornar-se relevante
para um adequado entendimento da posição patrimonial e financeira da
entidade, o que não era permitido no Brasil.

A principal diferença no ativo não circulante da contabilidade brasileira em


relação à internacional é a permanência do subgrupo diferido do ativo não
circulante. No Brasil, serão classificadas no ativo diferido todas as aplicações de
recursos em despesas que contribuirão para a formação do resultado de mais
de um exercício social.

Por outro lado, na classificação do passivo, conforme se depreende da


interpretação do art. 180 da Lei das Sociedades por Ações, as contas serão
dispostas em ordem decrescente de exigibilidade dos elementos nelas
registrados, ou seja, quanto menor o prazo de vencimento da obrigação mais no
início do passivo ela deverá ser classificada. Essa classificação não foi alterada
pela Deliberação CVM 488, portanto, não houve a convergência para o padrão
internacional de contabilidade.

Nas normas brasileiras, ao contrário das internacionais, não existe uma


definição do que seja passivo, nem de que o patrimônio líquido faça parte do
passivo. Esse posicionamento para a não classificação obrigatória do patrimônio
líquido como um passivo segue a abordagem utilizada internacionalmente e as
principais correntes doutrinárias teorias da contabilidade.

As normas internacionais, de acordo com o IAS 1, definem passivo


(liabilities) como sendo o provável futuro sacrifício de benefícios econômicos,
originado de obrigações presentes de uma entidade tendo em vista transferir
ativos ou fornecer serviços para outras entidades no futuro, como resultado de
transações ou eventos passados.
10

O passivo, segundo o § 2º do art. 178 da Lei das Sociedades por Ações é,


quando de sua estruturação, dividido nos seguintes grupos:
“§ 2º No passivo, as contas serão classificadas nos seguintes grupos:
a) passivo circulante
b) passivo exigível a longo prazo;
c) resultados de exercícios futuros;
d) patrimônio líquido, dividido em capital social, reservas de capital,
reservas de reavaliação, reservas de lucros e lucros ou prejuízos
acumulados.”

Segundo as normas brasileiras pela CVM, conforme se infere da análise


dos § 57 ao § 64 da Deliberação CVM nº 488/05, o passivo deve ser classificado
em passivo circulante e passivo não circulante, seguindo o conceito
internacional de classificação em dois grandes grupos.

A nova classificação brasileira, conforme determina o § 57 da Deliberação


CVM nº 488/05, segue os principais parâmetros internacionais, ou seja, será
classificada no passivo uma dívida quando é esperada sua liquidação dentro dos
12 meses seguintes à data do balanço e a entidade não tem nenhum direito de
postergar sua liquidação por período que exceda os 12 meses da data do
balanço. Para as demais sociedades, as obrigações, inclusive financiamentos
para aquisição de direitos do ativo permanente, serão classificadas no passivo
circulante, quando vencerem no exercício seguinte, e no passivo exigível a longo
prazo, se tiverem vencimento em prazo maior, observado o disposto no
parágrafo único do art. 179 da Lei 6404. Percebe-se, assim, que a nova
legislação buscou a harmonização com a contabilidade internacional.

Dentre as classificações do passivo, a mais significativa diferença entre as


normas brasileiras e as internacionais está na utilização do subgrupo de
resultados de exercícios futuros.

De acordo com o § 57 da Deliberação CVM nº 488/05, todas as demais


obrigações não classificadas no passivo circulante devem ser classificadas no
passivo não circulante, isto é, as obrigações cuja liquidação se espera que
ocorra após doze meses seguintes a data do balanço patrimonial, quando o item
não é mantido com a finalidade de ser transacionado ou a entidade possui o
direito de postergar a liquidação da obrigação por período superior aos doze
meses.

De acordo com as normas internacionais, as obrigações cuja liquidação


não se espera que ocorra dentro do ciclo operacional da empresa, serão
classificadas no passivo não corrente. Comparando as duas normas, não existe
diferença significativa para a classificação do passivo de longo prazo. Essa
diferença de tratamento evidencia-se com a utilização do subgrupo de resultado
de exercícios futuros, criado em 1976 quando da publicação da Lei das
Sociedades por Ações, recentemente reformulada pela Deliberação CVM nº
488/05.
11

De acordo com o § 64 da Deliberação CVM nº 488/05 serão classificadas


no grupo resultado de exercícios futuros as receitas líquidas recebidas, mas
ainda não realizadas contabilmente em função do atendimento ao regime de
competência dos exercícios, para as quais não haja qualquer tipo de obrigação
de devolução, seja pela entrega de ativos ou prestação de serviço, bem como o
deságio não eliminado na consolidação, quando aplicável.

Nas normas internacionais não existe um grupo no passivo denominado


de resultados de exercícios futuros, sendo que os valores classificados nesse
grupo no Brasil, registrados no passivo corrente ou não corrente em função do
prazo de liquidação ocorrer antes ou após doze meses.

Dessa forma, constata-se uma diferença significativa entre as normas


internacionais e as brasileiras no que tange as receitas recebidas
antecipadamente que devem ser classificadas nas normas internacionais como
adiantamentos recebidos antecipadamente no passivo corrente, e não como
resultado de exercícios futuros como ocorre nas normas brasileiras.

O último grupo que compõem o Balanço Patrimonial, o Patrimônio


Líquido, deverá, segundo o § 2º do art. 178 da Lei das Sociedades por Ações,
ser estruturado de acordo com os seguintes subgrupos: capital social, reservas
de capital, reservas de reavaliação, reservas de lucros e lucros ou prejuízos
acumulados.

Por outro lado, de acordo com as normas brasileiras pela CVM, segundo
determina o § 64 da Deliberação CVM nº 488/05, o patrimônio líquido será
dividido em capital, reservas, com indicação de sua natureza e lucros ou
prejuízos acumulados. Essa estruturação assemelha-se a internacional, pois, de
acordo com as normas dispostas no IAS 1, o patrimônio líquido divide-se em
capital social (share capital), reservas (reserves) e lucros acumulados (retained
earnings), sem a abertura dos tipos de reservas que podem compor o grupo.

Uma inovação trazida pela CVM 488, foi no caso de ocorrência de


prejuízos acumulados que excederem o total do capital e das reservas, a
diferença negativa passa a ser denominada legalmente de Passivo a
Descoberto, embora não exista referência de reclassificação do passivo a
descoberto para o ativo, ou seja, deve-se apenas modificar o nome do grupo e
classifica-lo no Patrimônio Líquido com saldo negativo.

3.1.2.Demonstração do Resultado

A nova norma brasileira regulamentada pela CVM manteve a


obrigatoriedade de elaboração e divulgação da demonstração do resultado
prevista na legislação societária anterior, mas suprimiu do título da
demonstração a expressão “do exercício”, como é determinado pela Legislação
Societária brasileira. Assim, esse componente das demonstrações contábeis
12

passará a ser denominado de demonstração do resultado, harmonizando-se


com as normas internacionais.

Os componentes da demonstração do resultado do exercício estão


descritos, nas normas brasileiras no art. 187 da Lei das Sociedades por Ações,
que estabelece:
“A demonstração do resultado do exercício discriminará:
I - A receita bruta das vendas e serviços, as deduções das vendas, os
abatimentos e os impostos;
II - a receita líquida das vendas e serviços, o custo das mercadorias e
serviços vendidos e o lucro bruto;
III - as despesas com as vendas, as despesas financeiras, deduzidas das
receitas, as despesas gerais e administrativas e outras despesas
operacionais;
IV - o lucro ou prejuízo operacional, as receitas e despesas não
operacionais;
V - o resultado do exercício antes do imposto de renda e a provisão para o
imposto;
VI - as participações de debêntures, empregados, administradores e
partes beneficiárias, e as contribuições para instituições ou fundos de
assistência ou previdência de empregados;
VII - o lucro ou prejuízo líquido do exercício e o seu montante por ação do
capital social”.
.

De acordo com as novas normas brasileiras definidas no § 78 da


Deliberação CVM nº 488/05, na demonstração do resultado devem ser
divulgadas, no mínimo: as vendas, serviços prestados ou outras receitas
operacionais, as deduções da receita bruta, a receita líquida, o custo das vendas
ou dos serviços prestados e lucro bruto, as despesas operacionais reduzidas por
recuperações, as despesas financeiras, segregadas das receitas financeiras, a
participação em controladas e coligadas (e a elas equiparadas) pelo método de
equivalência patrimonial (buscando a harmonização com o IAS 28), os
resultados não operacionais, o impostos sobre os lucros, o lucro líquido ou
prejuízo do período, a participação de acionistas não controladores e o lucro
líquido ou prejuízo por ação/quota do capital.

Comparando-se a nova estrutura da demonstração do resultado, observa-


se que seguindo a orientação das normas internacionais de uma maior
flexibilização e universalização das demonstrações contábeis, a CVM estipulou
apenas os dados mínimos a serem apresentados nesse componente das
demonstrações contábeis.

Embora a estrutura da demonstração do resultado brasileira tenha


convergido para a estrutura do IASB, permaneceram alguns tratamentos
contábeis diferenciados, especialmente a apresentações do resultado não
operacional pelas normas brasileiras e as operações em descontinuidade pelas
normas internacionais.
13

No tratamento dos resultados não operacionais, seguindo as


determinações do § 78 da Deliberação CVM nº 488/05, serão considerados
todos os ganhos e perdas não ligados à atividade principal da companhia.
Embora a CVM não tenha definido o que sejam esses resultados não
operacionais. Assim, tendo em vista a interpretação da doutrina serão
considerados como resultados não operacionais os ganhos ou perdas, por
exemplo, provenientes da venda de ativo não circulante.

Nas normas internacionais não existe uma classificação específica para


os resultados não operacionais. Esses itens são evidenciados como integrantes
das atividades ordinárias, não tendo o mesmo destaque que o exigido no Brasil.

Outra divergência significativa entre as duas normas, é a destaque


evidenciado pelo IASB para o resultado em descontinuidade.

Segundo as normas brasileiras, tanto da Lei das Sociedades por Ações,


como da Deliberação 488 da CVM, não existe um grupo intitulado resultado das
operações em continuidade, nem tampouco resultado em descontinuidade na
demonstração do resultado. Pois, de acordo com a doutrina contábil brasileira,
parte-se do princípio de que as demonstrações contábeis serão elaboradas no
pressuposto de continuidade de suas operações, a menos que a administração
pretenda liquidar a entidade ou cessar as operações, ou não tenha outra
alternativa para continuar adotando o pressuposto da continuidade operacional.
Quando a administração está ciente, ao fazer sua avaliação, de incertezas
significativas relacionadas a eventos ou condições que podem lançar dúvida
substancial sobre a capacidade de a entidade manter-se em situação de
continuidade operacional, essas incertezas devem ser divulgadas em notas
explicativas às demonstrações contábeis, embora as normas internacionais
também permitam a apresentação em notas de rodapé ou notas explicativas
explicações sobre as operações em descontinuidade.

Outra alteração proveniente do § 78 da Deliberação CVM nº 488/05, foi a


eliminação do grupo intitulado resultado antes do imposto de renda e da
contribuição social na demonstração do resultado, que existe na Lei das
Sociedades por Ações. Essa alteração buscou a similaridade as normas
internacionais, não dando destaque as contas de impostos.

Uma mudança não apenas de demoninação, mas conceitual, foi a


eliminação das participações societárias nos lucros da companhia, pois, pela
legislação societária existe um subtotal denominado resultado antes das
participações, utilizado em razão da doutrina, que é obtido através da diferença
entre o resultado antes da contribuição social e imposto de renda e a despesa
com contribuição social e a provisão para imposto de renda. As participações
são parcelas do lucro distribuídas a determinados favorecidos, nos termos
estabelecidos pelo estatuto de cada companhia. São registradas nesse item as
participações sobre os lucros atribuídas sucessivamente às debêntures,
empregados, administradores e partes beneficiárias, conforme dispõe o art. 187,
14

VI da Lei das Sociedades por Ações, com base nos lucros que remanescerem
depois de deduzida a participação anteriormente calculada.

Nas normas brasileiras pela CVM, de acordo com § 78 da Deliberação


CVM nº 488/05, não existe um grupo intitulado resultado antes das participações
na demonstração do resultado, de forma similar as normas internacionais.
Todavia, conforme evidenciado anteriormente nada impede de a entidade
apresentar esse subtotal se julgar necessário, uma vez que a CVM estipula,
apenas, as informações mínimas a serem apresentadas na demonstração do
resultado.

Além disso, constata-se que seguindo o padrão internacional, as normas


pela CVM não destacam na demonstração do resultado as participações
estatutárias. Conseqüentemente, quando for o caso, deverão ser classificadas
como despesas operacionais (administradores e empregados) ou despesas
financeiras (debêntures). É importante enfatizar que é vedada as companhias
abertas, nos termos do art. 46 da Lei das Sociedades por Ações, emitirem partes
beneficiárias.

Na apresentação dos lucros ou prejuízos por ações, as normas brasileiras


pela legislação societária a as normas brasileiras pela CVM, não divergem, pois
ambas determinam que o montante do lucro ou prejuízo por ação do capital
social deve ser indicado ao final da demonstração do resultado do exercício. O
lucro por ação, resumidamente, é apurado mediante a divisão do lucro ou
prejuízo líquido do exercício pelo número de ações em circulação, cujo objetivo
principal é o de permitir a mensuração, pelos acionistas, das ações que eles
possuem na entidade. Ações em circulação são aquelas em poder dos
acionistas, ou seja, refere-se ao total das ações emitidas pela companhia exceto
as ações ainda não integralizadas e as ações em tesouraria. Mesmo a norma da
CVM não buscou a harmonização com IAS 33, pois, segundo as normas
internacionais, deverá ser apresentado ao final da demonstração do resultado do
exercício o lucro por ação, sendo considerado no cálculo do lucro por ação os
dividendos pagos e os declarados ao longo do exercício.

É importante evidenciar que a nova Deliberação da CVM determina a


necessidade de divulgação em notas explicativas das principais práticas
contábeis adotadas pela Companhia de capital aberto, com destaque para os
procedimentos adotados para a conversão de demonstrações contábeis de
moeda estrangeira, inclusive o tratamento contábil dado aos ganhos e perdas
decorrentes da conversão, buscando a harmonização com o IAS 21, que
determina as principais normas internacionais para conversão de
demonstrações de moeda estrangeira; divulgação dos principais procedimentos
em função de mudanças de políticas contábeis e razões das mudanças,
seguindo o padrão do IAS 8; critérios adotados para o reconhecimento de
receitas, assim como também determina o IAS 18.
15

Como as demais demonstrações contábeis brasileiras não apresentam


diferenças significativas em termos de estrutura e apresentação em relação às
normas internacionais, não existe justificativa para serem discutidas nesse
artigo.

3.2.Critério de apropriação e divulgação Provisões, Passivos, Contingências


Passivas e Contingências Ativas.

A CVM aprovou em 28 de setembro de 2005 a Deliberação No 489 que


trata de Provisões, Passivos, Contingências Passivas e Contingências Ativas.
Seguindo o mesmo interesse da Deliberação 488 da CVM, foi considerada a
importância e a necessidade de que as práticas contábeis brasileiras sejam
convergentes com as práticas contábeis internacionais, seja em função do
aumento da transparência e da segurança das nossas informações contábeis,
seja por possibilitar o acesso, a um custo mais baixo, das empresas nacionais
às fontes de financiamentos externas.

Seguindo algumas características definidas no IAS 37, as normas


brasileiras, através dessa Deliberação, determinam que para fins de
classificação dos ativos e passivos em contingências ou não, os seguintes
conceitos devem ser observados:

• Praticamente certo: este termo é mais fortemente utilizado no


julgamento de contingências ativas. Ele é aplicado para refletir uma
situação na qual um evento futuro é certo, apesar de não ocorrido.
Essa certeza advém de situações cujo controle está com a
administração de uma entidade, e depende apenas dela, ou de
situações em que há garantias reais ou decisões judiciais favoráveis,
sobre as quais não cabem mais recursos.

• Provável: a chance de um ou mais eventos futuros ocorrer é maior do


que a de não ocorrer.

• Possível: a chance de um ou mais eventos futuros ocorrer é menor


que provável, mas maior que remota.

• Remota: a chance de um ou mais eventos futuros ocorrer é pequena.

Além dessa determinação, o tratamento contábil das contingências


dependerá da probabilidade de ocorrência, pois, para contingências ativas,
quando a possibilidade de ocorrência é praticamente certa, o ativo deverá ser
reconhecido; quando for provável, o tratamento contábil deverá ser de divulgar a
existência do ativo; e, quando a probabilidade de ocorrência for possível ou
remota, não deverá ser divulgado o ativo. Para as contingências passivas, o
tratamento que deverá ser utilizado é de que quando a contingência puder ser
mensurável com suficiente segurança, deverá ocorrer a provisão; quando não
for mensurável com suficiente segurança deverá ser divulgada; quando a
16

probabilidade de ocorrência for apenas possível, deverá ser divulgada; e,


quando a probabilidade for remota, não deverá ocorrer nenhuma divulgação.

Com relação a mensuração, a Deliberação 489 determina que o montante


reconhecido como provisão deva ser a melhor estimativa do desembolso exigido
para liquidar a obrigação presente na data do balanço patrimonial, ou seja, o
montante que uma entidade pagaria para liquidar a obrigação na data do
balanço ou para transferi-la para terceiros naquela data. As estimativas de
desfecho e os efeitos financeiros são determinados pelo julgamento da
administração da entidade, complementados pela experiência de transações
semelhantes e, em alguns casos, por relatórios de especialistas independentes.
As evidências consideradas devem incluir qualquer evidência adicional fornecida
por eventos subseqüentes à data do balanço.

Com relação ao tratamento contábil de Reembolso e Compensação, a


Deliberação determina que ocorra Reembolso quando se espera que algum ou
todos os dispêndios exigidos para liquidar uma provisão sejam reembolsados
por outra parte, o reembolso deve ser reconhecido somente quando for
praticamente certo que ele será recebido se a entidade liquidar a obrigação. O
reembolso deve ser tratado como um ativo separado. O montante reconhecido
para o reembolso não deve ultrapassar o montante da provisão. Para as
Compensações, a Deliberação determina que para valores depositados em
juízo, sem que haja a caracterizarão da liquidação do passivo e não havendo a
possibilidade de resgate do depósito (a menos que ocorra desfecho favorável da
questão para a entidade), o depósito deverá ser apresentado deduzindo o valor
do passivo, sendo os valores atualizados e divulgados.

Fica claro que não somente na estrutura das demonstrações a


contabilidade brasileira passa a seguir as normas internacionais, mas no
tratamento contábil de alguns de seus principais itens, o que caracteriza uma
convergência, provavelmente, irreversível rumo aos IFRS.

CONCLUSÃO

Diante desse novo cenário, percebe-se uma clara tentativa de mudança


de foco da contabilidade brasileira, com o abandono das normas norte-
americanas, consolidada, especialmente, a partir da publicação da Deliberação
CVM 488. Essa mudança de rumo direciona o Brasil para uma caminhada de
convergência às normas internacionais.

Essa mudança pode ser caracterizada como o início de um longo


caminho, pois apenas as Companhias de capital aberto estão sendo afetadas
pela nova legislação. As demais empresas brasileiras deverão sofrer esse
impacto tão logo a nova Lei societária brasileira seja aprovada no congresso
nacional.
17

Essas medidas poderão trazer vários benefícios para a economia


brasileira, especialmente poderá gerar um novo empuxo do mercado de capitais,
possibilitando a maior presença de capital estrangeiro em nossa bolsa,
especialmente de investidores institucionais, como os fundos de investimento e
de pensão, além de outros investidores que poderão ver no Brasil um menor
risco em função desse novo ambiente regulatório que o país vive.

O Brasil não poderia ficar fora desse esforço mundial em busca da


harmonização das práticas contábeis através da adoção das Normas
Internacionais de Contabilidade. Esse movimento integrado pelos principais
organismos internacionais, como International Organization for Governmental
Securities Commissions (Iosco), International Accounting Standards Board (Iasb)
e International Federation of Accountants (Ifac), visa diminuir as barreiras para
que o capital internacional flua mais facilmente para os países mais
necessitados. Em muitos países no mundo já existe o consenso de que a
padronização é uma necessidade mundial, tanto que em muitos existem projetos
de adoção das IFRS até 2007. Entre os projetos mundiais de maior significado,
está o compromisso dos Estados Unidos da América do Norte, que sempre
resistiram às normas internacionais, de eliminar as diferenças significativas entre
os dois conjuntos de normas (US Gaap e IFRS) até o final da década.

BIBLIOGRAFIA
ALTERAÇÕES NO OFÍCIO-CIRCULAR,
http://www.cvm.gov.br/port/snc/OF_CIRC_CVM_SNC_SEP_01_2006_marc.asp
acesso 15/03/2006 – CVM

Cresce a tendência de adoção de sistema universal de regras contábeis


http://www.ibef.com.br/artigos/coletanea.asp?offset=20 , IBEF acesso 12/12/05.

NORMA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE do CONSELHO FEDERAL DE


CONTABILIDADE NBC T 3.7 - Demonstração do Valor Adicionado, , D.O.U.:
25.01.2005, acesso http://www.portaldecontabilidade.com.br/nbc/res1010.htm,
15/03/2006.

Reports on the Observance of Standards and Codes (ROSC), Topics:


accounting and auditing, World Bank,
http://www.worldbank.org/ifa/rosc_aa.html, acesso 28/3/06.
18

Revista RI, setembro 2005, pg 42, Nº 91, IMF Editora Ltda Rio de Janeiro, RJ
www.revistari.com.br, acesso 12/03/2006.

SANTOS, José Luiz dos e SCHMIDT, Paulo. Contabilidade soceitária –


atualizado pela Lei N o. 10.303/01. São Paulo, Atlas, 2002.

Wikipédia, a enciclopédia livre, Fernando Collor de Mello


http://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Collor_de_Mello acesso 15/03/2006

Você também pode gostar