Você está na página 1de 3

Como a autogestão foi construída ? Uma análise histórica do DACS.

Nada surge do nada, nada é espontâneo, tudo tem um ponto de partida ou ao menos algum
processo de começo. Nesse contexto se insere a autogestão no Diretório Acadêmico de
Ciências Sociais, teria ele surgido do nada ? O que aconteceu para que ele se organizasse da
forma atual ? Entendendo que essas perguntas são essenciais para que se pense a
organização do DACS e para além deste, façamos então uma análise, através de documentos
e algumas entrevistas, de como o diretório acadêmico tornou-se de fato uma auto-gestão.

O início em 2007
O contexto em 2007 era, de acordo com documento encontrado no blog antigo do
DACS, de um DCE descentralizado, onde não tinha uma representação que exercesse um
poder central em relação a outros. O que por um lado, dificultava a logística, mas por outro, na
visão do autor do documento, não havia um “ “Presidente dos Estudantes” para se achar no
direito de falar e decidir, por conta própria e ou grupo político, no lugar de todos os estudantes”.
O que chama a atenção, é que nesse mesmo contexto ocorre a ocupação da reitoria, no dia 26
de outubro de 2007, contra a instituição do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e
Expansão das Universidades Federais (Reuni).- como o objetivo deste artigo é relatar
historicamente a construção da autogestão no DACS, não será detalhado aqui a questão do
REUNI, mas disponibilizada a voz do movimento acerca dessa questão, bem como outros
artigos que serão disponibilizados nas referências deste texto.- E por que é importante fazer
menção a esse acontecimento ? Porque essa ocupação, proporcionou vivências e experiências
que influenciaram na organização atual do DACS, na medida em que a organização política em
torno desse movimento de ocupação também foi autogestionada. E já naquele momento, em
2007, o DACS tinha nuances dessa forma de organização, através de reuniões abertas e sem
diferenciações entre os membros: “Viemos dessa experiência (da ocupação), do poder de
decisão vindo de forma coletiva, sendo executada por comissões que possuíam o mínimo de
autonomia – sendo sempre supervisionada, controlada, etc, pelos realmente interessados.”
Importante trazer também, a participação do “N.A.D.A- Núcleo de Apoio ao Diretório
Acadêmico”, na formação do movimento horizontal, que era composto de estudantes que
contribuíam com o D.A, mas não faziam parte da Gestão, apenas atuavam numa espécie de
“cogestão”. Trago mais uma vez o relato presente no documento do histórico do processo, a
fins de informação: “Visualizo hoje em dia, os NADA’s, como uma cogestão, onde se tem a
participação dos estudantes a partir de um próprio esquema (esquematização) da Gestão, com
os mesmos, em geral, se adequando a ela – não coincidência, que em geral (em vários
DA/CAs), os que fazem parte do NADA acaba entrando na Gestão/Coletivo nas eleições
seguintes, mesmo com oposição presente – seja por aproximação natural ou mesmo esta
“adequação”.
Porém isto sem dúvida já demonstrava uma preocupação por um movimento horizontal, tendo
sua máxima refletida e demonstrada na ocupação da reitoria.”
O começo do pensar de uma autogestão iniciava-se então em 2007, que mesmo tendo
eleições tradicionais, onde se lançava um edital e cada grupo formava suas chapas, ocorria
também, de antemão, um processo celular do que viria a se tornar uma autogestão.
2008, críticas e a gestão (ou chapão) “Baseados no Coletivo”
Os primeiros questionamentos diretos ao modelo de gestão aparecem em 2008,
especificamente no segundo semestre, onde realizou-se uma assembléia de fim de gestão, na
qual foi feita prestação de contas e o encaminhamento do processo eleitoral. Ocorre nesta
assembléia críticas acerca da ineficiência da gestão anterior, bem como críticas a participação
e interferência de partidos no movimento estudantil, sendo essa crítica influenciada pela própria
experiência das ocupações de 2007 e pela eleição do DCE “Levante e Cante”, que se intitulava
como (A) e Anti-Partidária, trazendo consigo a ideia de um movimento horizontal. Levando em
consideração esses fatores, é possível observar aqui uma das primeiras discussões sobre a
autogestão, e o que ela significava.
Dessa discussão, surge a ideia de se fazer uma chapa única. Que congregasse todos
os que estivessem interessados em construir o DACS, sendo este aqui, o princípio de uma
Gestão Coletiva nos moldes do estatuto vigente na época, tendo o nome de “Baseados no
Coletivo”. Esta Gestão pregava as decisões coletivas, principalmente referentes ao
posicionamento do DACS em relação aos CEBs (Conselho de Entidades de Base, que
compreende todos os DA’s existentes na Universidade), apesar de existir ainda uma certa
personalização em torno de algumas pessoas, essas decisões eram tiradas nas reuniões,
coletivamente. Importante destacar que essa gestão também tinha problemas e algumas
ineficiências, e pela leitura, talvez tenha se dado pelas disputas políticas dentro da própria
gestão.
2009-2011
O Problema da Autogestão no Diretório Acadêmico
Tendo em vista esses relatos históricos, é necessário estabelecer críticas, construtivas
e honestas, a esse modelo de autogestão no DACS. Os problemas são muitos. E aqui busca-
se enumerar cada um deles. O primeiro sendo a ausência de um planejamento da autogestão;
Ausência de um processo de imersão pedagógica de novos alunos, o que implica falta de visão
de futuro por parte de seus idealizadores; permanência de relações e disputas de Poder;
ausência de uma consciência coletiva. É possível dizer, inclusive, que à luz desses problemas,
o DACS não se constitui como autogestão de fato, mas como uma outra coisa que não isso.
É importante lembrar, que o modelo de autogestão não é desenhado para movimentos
estudantis, mas inicialmente para as Fábricas ou Cooperativas, na qual não existe nem o
patrão, nem mesmo o estado como o mediador das relações de produção, mas os próprios
trabalhadores, ao participarem da produção, do planejamento e da logística do Espaço. Em
outros termos,a autogestão, para que tenha sustentação, necessita antes de tudo de um
planejamento, objetivos principais, formas de efetivação da dinâmica social do modelo de
organização e principalmente de um processo de imersão daqueles que irão participar da
autogestão, o que implica aqui falar dos novos estudantes que virão a cursar Ciências Sociais e
consequentemente, atuar no D.A.

Você também pode gostar