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Revista Territórios e Fronteiras V.3 N.

2 – Jul/Dez 2010
Programa de Pós-Graduação – Mestrado em História do ICHS/UFMT

GIOVANI JOSÉ DA SILVA


ANNA MARIA RIBEIRO FERNANDES MOREIRA DA COSTA

ENTRE PINTURAS CORPORAIS E NOTAS MUSICAIS: HISTÓRIA E ETNOGRAFIA NAS OBRAS


DE DARCY RIBEIRO E DESIDÉRIO AYTAI

Resumo: Este estudo tem como objetivo Abstract: This study aims to analyze
analisar as contribuições de Darcy Ribeiro the contributions of Darcy Ribeiro and
e Desidério Aytai, tendo como ponto de Desidério Aytai, taking as its starting
partida a seguinte problemática: qual a point the following issues: the
contribuição de ambos à etnografia contribution of both the Brazilian
brasileira? Dividimos este artigo em duas ethnography? We split this article into
partes – Darcy Ribeiro e a “vontade de two parts – Darcy Ribeiro and “desire for
beleza” Kadiwéu e Desidério Aytai e a beauty” Kadiwéu and Desidério Aytai
musicalidade Nambiquara – que discorrem Nambiquara and musicality – that
uma breve biografia dos antropólogos e discourse a brief biography of
discutem a produção de ambos no que diz anthropologists and discuss the
respeito aos Kadiwéu e Nambiquara. production of both with respect to
Nossa experiência junto a esses índios Kadiwéu and Nambiquara. Our
responsabilizou-se pela decisão da escolha experience with these Indians was
das referidas etnias, já que Ribeiro e Aytai responsible for determining the choice of
estudaram também outras sociedades those ethnic groups, as Ribeiro and Aytai
indígenas. also studied other indigenous societies.
Palavras-chave: Darcy Ribeiro, Keywords: Darcy Ribeiro – Desidério
Desidério Aytai, etnografia indígena Aytai – Indian ethnography


Doutor em História pela UFG (Universidade Federal de Goiás). Docente da UFMS (Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul)/ Campus de Nova Andradina, e pesquisador colaborador da UnB (Universidade de
Brasília). Atualmente é diretor da Regional Centro-Oeste da ABHO (Associação Brasileira de História Oral) e
vice-presidente da Anpuh-MS (Associação Nacional de História – Seção Mato Grosso do Sul). Endereço
eletrônico: giovanijsilva@hotmail.com

Doutora em História pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). Docente do Univag – Centro
Universitário de Várzea Grande e pesquisadora da Funai (Fundação Nacional do Índio). Atualmente é
presidente do IHGMT (Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso). Endereço eletrônico: anna-
edu@hotmail.com

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Introdução

Nascidos na primeira metade do século XX e falecidos na década de 1990, o


brasileiro Darcy Ribeiro e o húngaro Desidério Aytai, ambos antropólogos, tiveram seus
nomes ligados à história de algumas sociedades indígenas localizadas em território
brasileiro, respectivamente os Kadiwéu e os Nambiquara. A respeito dos primeiros, Ribeiro
escreveu sobre a mitologia, o xamanismo e dedicou especial atenção à arte, notadamente a
cerâmica e as pinturas corporais. Em relação aos Nambiquara, Aytai estudou o complexo
mitológico do grupo e a estreita ligação deste com os rituais das flautas retas e das flautas
nasais. Os Halotesu, grupo Nambiquara do Cerrado, além dos Mamaindê e Katithaulu,
ambos do Vale do Guaporé, foram os sujeitos de suas pesquisas, transcorridas durante os
últimos anos da década de 1960. Ribeiro e Aytai, portanto, tiveram parte de suas trajetórias
acadêmicas estreitamente relacionadas ao estudo da arte em sociedades nativas,
representando uma enorme contribuição à etnografia indígena no Brasil.
Expressões da arte desenvolvidas por grupos indígenas localizados atualmente no
país fascinaram a viajantes, exploradores e etnógrafos, além de antropólogos e outros que
tiveram a oportunidade de entrar em contato com tais populações ao longo do tempo.
Especialmente no século XX, com a popularização das máquinas de registro de imagens e
vozes humanas, foi possível captar e preservar pinturas, músicas e outras formas de
manifestação artística que revelaram a aguçada sensibilidade dos indígenas.
Contudo, diferentemente do que ocorre entre os não índios:

[...] nas sociedades indígenas, a arte não é compreendida sob uma


perspectiva completamente intraestética, pois pertence ao mesmo contexto
de outras expressões dos objetivos humanos [...]. Como evocaram
Baudelaire e também Lévi-Strauss, o objeto estético é inteligível
justamente pelas correspondências, pelas analogias entre seus diferentes
domínios (VAN VELTHEM, 1994, p. 83).

As trajetórias de Darcy Ribeiro e Desiderio Aytai representam um momento


específico da Antropologia brasileira, em que os pesquisadores, crentes na iminente
desaparição das populações indígenas, imaginavam que, ao “colecionar” tais expressões e

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descrevê-las, legariam ao futuro vestígios de sociedades condenadas a se tornarem apenas
lembranças na consciência nacional, em futuro bem próximo.
Passado meio século das primeiras publicações destes dois pesquisadores, sabe-se
hoje que a ideia do desaparecimento das populações indígenas no Brasil está longe de se
concretizar. O valor dos resultados das pesquisas de Darcy Ribeiro e de Desidério Aytai,
entretanto, permanece inegável para a compreensão das trajetórias históricas dos Kadiwéu,
Nambiquara e de outros grupos com os quais estes antropólogos conviveram e sobre os
quais escreveram (Urubu-Kaapor e Ofayé, no caso de Ribeiro e Xavante, Bororo, Karajá e
Paresi, no caso de Aytai). O objetivo do presente artigo é desvendar aspectos da vida e da
obra desses dois pesquisadores, ao mostrar como entre pinturas corporais e notas musicais,
ambos, cada qual a seu modo e tempo, contribuíram para a compreensão da história
indígena no Brasil e, particularmente, sobre a presença de populações indígenas em
fronteiras étnicas e nacionais.

Darcy Ribeiro e a “vontade de beleza” Kadiwéu

“O corpo humano é a tela onde os índios mais pintam


e aquela que pintam com mais primor”
(Darcy Ribeiro)

Contratado como professor de História pela Prefeitura Municipal de Porto


Murtinho, Giovani José da Silva chegou pela primeira vez à Reserva Indígena Kadiwéu em
julho de 1997. Em sua bagagem, um livro em especial funcionaria como uma espécie de
guia para o seu primeiro contato com os “guerreiros” Kadiwéu: tratava-se de Kadiwéu:
ensaios etnológicos sobre o saber, o azar e a beleza (RIBEIRO, 1980a). O autor, Darcy
Ribeiro, falecera meses antes, razão pela qual José da Silva jamais pode entrar em contato
pessoalmente com o antropólogo durante os anos em que conviveu com aqueles índios.
Passou-se quase uma década (1997-2004) de contatos permanentes com a população
Kadiwéu, em um trabalho de Educação Escolar Indígena que resultou na criação da Escola
Municipal Indígena “Ejiwajegi” – Pólo e Extensões e a formação de crianças, adolescentes
e jovens da referida etnia no Ensino Fundamental e no Ensino Médio (Curso de Formação
de Professores). O livro “guia”, usado nos primeiros anos desta convivência, era, na

161
verdade, a publicação dos trabalhos de campo realizados por Ribeiro entre 1947 e 1948 e
embora tivessem se passado cinquenta anos desde que aquelas anotações etnográficas
haviam sido feitas, era possível estabelecer ali um “diálogo” com os Kadiwéu, por meio das
palavras e impressões registradas por Darcy Ribeiro.
Ribeiro nasceu em 26 de outubro de 1922 em Montes Claros, Estado de Minas
Gerais, no Vale do Rio São Francisco. Em 1946, formou-se em Antropologia pela Escola
de Sociologia e Política de São Paulo, dedicando seus primeiros anos de vida profissional
ao estudo dos índios do Pantanal, do Brasil Central e da Amazônia (1946-1956). Neste
período, criou o Museu do Índio e formulou o projeto de criação do Parque Indígena do
Xingu. Também elaborou para a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação,
a Ciência e a Cultura) um estudo sobre o impacto do contato de não indígenas e indígenas
brasileiros no século XX, publicando-o, pela primeira vez, em 1970 sob o título Os índios e
a civilização: a integração das populações indígenas no Brasil moderno (RIBEIRO, 1970).
Em 1954, colaborou com a OIT (Organização Internacional do Trabalho) na preparação de
um manual sobre populações indígenas de todo o mundo.
O primeiro livro publicado por Darcy Ribeiro foi Religião e mitologia Kadiwéu, em
1950. Com ele, recebeu naquele mesmo ano o Prêmio Fábio Prado de Ensaios. Mais tarde,
reuniu este e outros textos que publicara separadamente sobre os Kadiwéu, em belíssima
edição, com várias pranchas que retratam as artes gráficas e plásticas daqueles índios
(1980a).
Embora tenha sido “[...] econômico em mencionar passagens autobiográficas”
(PECHINCHA, 2000, p. 155), em seus escritos a respeito dos Kadiwéu, Darcy Ribeiro
revelou em Confissões que:

A primeira tribo com que trabalhei longamente foi a dos Kadiwéu,


remanescentes dos antigos Guaikuru, únicos índios do Brasil que
dominaram o cavalo e com ele impuseram sua suserania sobre muitas
tribos de uma área extensíssima, que ia desde o Pantanal até todo o Sul de
Mato Grosso e levava seus ataques ao Rio Grande, à fronteira de São
Paulo, a Boa Vista, ao alto rio Paraguai e às imediações de Assunção.
Com os Kadiwéu foi que, de fato, aprendi a ser etnólogo, porque tanto eu
os estudava a eles, como eles estudavam a mim e, por meu intermédio, à
minha gente. [...] Sua mitologia conta que, tendo sido feitos por último,
quando o Criador não tinha com que aquinhoá-los, lhes deu, em
compensação, sua propensão guerreira para conquistar na guerra contra
povos tudo o que quisessem ter. É a típica genealogia de um povo

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guerreiro, saqueador. Um herenvolk, que levou tão a fundo seu papel e sua
aristocracia que as suas mulheres deixaram quase totalmente de parir para
substituir os filhos próprios por crianças tomadas de outras tribos que eles
dominavam (RIBEIRO, 2002, p. 162-163).

Darcy Ribeiro, que começou sua vida profissional como antropólogo,


posteriormente ingressou na área educacional, chegando a ser ministro da Educação, em
1962, durante o Governo João Goulart, com apenas 29 anos! Sua trajetória sempre esteve
ligada à vida política: foi ministro-chefe da Casa Civil do presidente Goulart, em 1963;
vice-governador do Rio de Janeiro, em 1982; secretário de Cultura e coordenador do
Programa Especial de Educação do mesmo Estado, além de senador da República, de 1991
até sua morte, em 1997. Durante esses mandatos, também concretizou projetos na área
ambiental. A intensa produção de livros o transformou em um membro da ABL (Academia
Brasileira de Letras), em 1993.
Sua produção na área da educação e da cultura, no país, foi marcada por meio da
criação de universidades, centros culturais e de uma nova proposta educativa com os
Centros Integrados de Educação Pública, os Cieps, além de ter legado inúmeras obras
traduzidas para diversos idiomas. Dedicou-se, também, à educação superior, participando
da criação da UnB (Universidade de Brasília), da qual foi o primeiro reitor. Mais tarde,
chamado por João Goulart para ser ministro-chefe da Casa Civil, enquanto coordenava a
implantação de reformas estruturais no país ocorreu o golpe civil-militar de 1964, que o
lançou no exílio, onde começou a escrever os romances Maíra e O Mulo. No retorno ao
Brasil, em 1976, voltou a dedicar-se à educação e à política, tendo sido eleito vice-
governador do Estado do Rio de Janeiro, em 1982. No ano seguinte, assentou as bases do
que viria a ser o Programa Especial de Educação, com o encargo de implantar quinhentos
Cieps, em horário integral para crianças e adolescentes.
Dentre as muitas obras que idealizou estão a Biblioteca Pública Estadual do Rio de
Janeiro, a Casa França-Brasil, a Casa Laura Alvim, o Centro Infantil de Cultura de Ipanema
e o Sambódromo, que inicialmente também funcionava como uma enorme escola de Ensino
Fundamental, além do Memorial da América Latina, edificado em São Paulo e projetado
por Oscar Niemeyer. Ribeiro, por meio da atuação política, contribuiu ainda para o
tombamento de praias e encostas do litoral fluminense, além de mais de mil casas do Rio de

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Janeiro antigo. A propagação de suas ideias rompeu fronteiras, pois Darcy Ribeiro viveu
em vários países da América Latina, onde conduziu programas de reforma universitária.
Foi assessor do presidente Salvador Allende, no Chile, e de Velasco Alvarado, no
Peru. Neste período, escreveu cinco volumes de seus Estudos de Antropologia da
Civilização (O Processo Civilizatório; As Américas e a Civilização; O Dilema da América
Latina; Os Brasileiros: Teoria do Brasil e Os Índios e a Civilização), livros que atingiram,
em conjunto, mais de noventa edições, em diversas traduções. Neles, propôs uma teoria
explicativa das causas do desenvolvimento desigual entre os povos americanos. Como
reconhecimento de sua importância intelectual, Ribeiro foi agraciado com o título de
Doutor Honoris Causa por diversas universidades mundo afora.
Elegeu-se senador da República pelo Estado do Rio de Janeiro, em 1991, tendo
elaborado a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), sancionada pelo
presidente Fernando Henrique Cardoso, em 20 de dezembro de 1996, como Lei Darcy
Ribeiro. Entre 1991 e 1992, licenciado do Senado, assumiu a Secretaria Extraordinária de
Programas Especiais do Rio de Janeiro, completando a rede de Cieps e criando um novo
padrão de Ensino Médio. Planejou e criou, em 1994, a Uenf (Universidade Estadual do
Norte Fluminense), sediada em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, na qual
assumiu o cargo de chanceler. Durante a Conferência Mundial do Meio Ambiente –
ECO’92, realizada no Rio de Janeiro, em 1992 – implantou o Arboretum do Viveiro, dentro
do Parque da Floresta Branca.
Publicou, ainda, Aos Trancos e Barrancos, um balanço crítico da história brasileira
de 1900 a 1980; Sobre o Óbvio, uma coletânea de ensaios e Testemunho, um balanço de sua
vida intelectual. Editou, juntamente com Berta Ribeiro, a Suma Etnológica Brasileira, em
três volumes. Em 1992, publicou A Fundação do Brasil, um compêndio de textos históricos
dos séculos XVI e XVII, comentados por Carlos de Araújo Moreira Neto e precedidos de
um longo ensaio analítico sobre os primórdios do Brasil. Em 1995, publicou O Povo
Brasileiro, livro que encerrou a coleção de seus Estudos de Antropologia da Civilização,
além de uma compilação de seus discursos e ensaios, intitulada O Brasil como Problema.
Lançou, ainda, um livro para adolescentes, Noções de Coisas, com ilustrações de Ziraldo,
obra premiada pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, em 1996.

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Naquele mesmo ano, publicou Diários Índios: os Urubu-Kaapor, que reproduz
integralmente os diários de campo escritos em forma de cartas à Berta Ribeiro, no período
de 1949 a 1951, quando era etnólogo do SPI (Serviço de Proteção aos Índios). Ainda em
1996, recebeu o Prêmio Interamericano de Educação Andrés Bello, concedido pela OEA
(Organização dos Estados Americanos) a eminentes educadores das Américas. Organizou,
também, a Fundação Darcy Ribeiro, com sede própria, localizada em sua antiga residência
em Copacabana, com o objetivo de manter viva sua obra e elaborar projetos nas áreas
educacional e cultural. Um de seus últimos projetos, lançado publicamente, foi o Projeto
Caboclo. 1
2
Darcy Ribeiro faleceu em 17 de fevereiro de 1997. No seu último ano de vida,
dedicou-se especialmente a organizar a Universidade Aberta do Brasil, com cursos de
educação à distância, e a Escola Normal Superior, para a formação de professores de
Ensino Fundamental. Desde as viagens de 1947-1948, Ribeiro jamais voltou aos Kadiwéu,
mas sempre se referiu a eles, em palestras, entrevistas e conferências, com carinho e
reverência, chamando-os de “meus índios”.
Os Kadiwéu, por sua vez, ao que parece, jamais o esqueceram:

Muito me surpreendeu o entusiasmo que causava em dar notícias de


Darcy Ribeiro, bem como o de contarem passagens de sua passagem ali.
As velhas se recordavam de detalhes: a comida que fizeram, a dança a que
ele assistiu e o susto em ouvirem a sua voz emitida pelo seu aparelho de
gravação (PECHINCHA, 2000, p. 153).

As pinturas corporais dos Kadiwéu que tanto encantaram Darcy Ribeiro já haviam
fascinado outros tantos pesquisadores antes dele, como se pode verificar nas obras de
Guido Boggiani (1975), Claude Lévi-Strauss (2001) e Erich Freundt (1946). O conjunto de
manifestações artísticas, expressas por aquele grupo, recebeu do antropólogo a poética
alcunha de “vontade de beleza”.

1
O Projeto Caboclo, de autoria de Darcy Ribeiro, era destinado a criar um plano alternativo de ocupação da
Amazônia, baseado na experiência de adaptação dos índios à floresta, experiência esta herdada pelos caboclos
que a habitavam, segundo o autor, únicos capazes de fazê-la produzir e prosperar.
2
Para outras informações sobre a biobibliografia de Darcy Ribeiro, consultar o sítio eletrônico da Fundação
que leva seu nome, do qual algumas informações aqui apresentadas foram extraídas.

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A antropóloga Berta G. Ribeiro, companheira de Darcy Ribeiro por muitos anos,
assim se refere às pinturas corporais dos Kadiwéu, relacionando-as aos antigos e ancestrais
Mbayá-Guaikuru:

O corpo é o campo decorativo a que se aplica, de preferência, a elaborada


arte pictórica Mbayá-Guaikuru. Seus motivos entranham infinitas
combinações de desenhos curvilíneos, escalonados, espiralados,
meândricos e retilíneos, simetricamente contrapostos em oposição binária.
Dificilmente se verá a repetição de padrões (RIBEIRO, 1985, p. 44).

Darcy Ribeiro procedeu pesquisas de campo entre os Kadiwéu no final da década de


1940 e seus trabalhos mais importantes sobre os mesmos estão reunidos no volume
Kadiwéu: ensaios etnológicos sobre o saber, o azar e a beleza que, como já indica o próprio
título, trata de mitologia, xamanismo e arte. Escreveu, também, um artigo intitulado O
sistema familial Kadiwéu, de 1948, publicado em Uirá sai à procura de Deus: ensaios de
etnologia e indigenismo (1980b).
Ribeiro, de acordo com a antropóloga Mônica T. S. Pechincha (2000, p. 154),

[...] esteve entre os Kadiwéu nos últimos meses de 1947, e de julho a


outubro de 1948 [...]. Vinculado à perspectiva constituinte do pensamento
dos pioneiros da etnologia brasileira, que logo se ocuparam com questões
referentes a processos de aculturação e com a ordem e/ou fatores de
“desorganização social” causadas [sic] pelos impedimentos impostos
pelas compulsões do contato, o autor descreveu o povo que então estudou
como hostilizado e oprimido, como representante de uma “variante do
modo de ser dos brasileiros”, que vivia e vestia-se como a gente mais
pobre da região, e vendia, por temporadas, seu trabalho nas fazendas
vizinhas [...] Mas o caracterizou, ainda, como “representando uma ilha
cultural de origem indígena”, de qualquer forma resistente à dominação e
à assimilação.

Para Darcy Ribeiro (1980a, p. 269), a “vontade de beleza” Kadiwéu, observada por
ele, se expressava de maneiras distintas entre homens e mulheres. Sobre a pintura Kadiwéu,
de forma geral, observou que:

Nas pinturas das mulheres a arte Kadiwéu alcança sua mais alta
expressão, aquela que melhor espelha seu caráter nacional e, na fase de
destribalização que vivem hoje, eles próprios vêem nela o maior motivo
de orgulho tribal. Com estas pinturas embelezam os corpos dos jovens, os
objetos de uso, desde as esteiras e couros em que dormem e com que

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arreiam seus cavalos e bois, até os pequenos abanos de palha,
emprestando-lhes uma característica tribal inconfundível.

A progressiva extinção do uso das pinturas corporais entre os Kadiwéu, preconizada


por Ribeiro, felizmente não se concretizou. Embora em desuso, ainda são observadas entre
esses índios até os dias de hoje. A esse respeito, o antropólogo Jaime G. Siqueira Júnior
(1992, p. 53) afirma que:

Atualmente, as pinturas são feitas em dias de festa pelas mulheres, que


usam o suco do jenipapo misturado com o pó de carvão, aplicado no rosto
com uma lasca de madeira ou taquara. Os desenhos são tão variados que
nunca se repetem. Mesmo assim, eles marcam o estilo Kadiwéu.

Darcy Ribeiro, ou Bet’rra, como lhe chamaram os índios, legou um vasto painel
etnográfico sobre os Kadiwéu, ainda não superado por nenhum outro pesquisador até o
momento, em que retratou como viviam estes indígenas no final dos anos 1940, quando
formavam um contingente de pouco mais de duzentas pessoas. Embora não tenha sido um
estudioso da música Kadiwéu, recolheu por meio de gravações os sons produzidos por
aqueles índios em festas e rituais (CAMÊU, 1977). Nada comparado, contudo, com as
preocupações de Desidério Aytai e os estudos que desenvolveu sobre a musicalidade dos
Nambiquara e de outros grupos indígenas.

Desidério Aytai e a musicalidade indígena Nambiquara

“O espetáculo era muito parecido a uma orquestra moderna,


e alguns minutos antes do concerto,
cada músico tocando outro trecho da partitura.”
(Desidério Aytai)

Contratada pela Funai no ano de 1982, Anna Maria R. F. Moreira da Costa chegou à
Terra Indígena Nambiquara, a noroeste de Mato Grosso com a atribuição de implantar um
programa de Educação Escolar indígena direcionado às necessidades emergentes dos
Nambiquara, principalmente àquelas decorrentes do asfaltamento da rodovia Marechal
Rondon, a BR-364, antiga 029. Esperava-se que essa estrada atraísse um enorme
contingente de trabalhadores de diferentes partes do país, e sua abertura atingiria vários

167
territórios indígenas, dentre eles, o dos Nambiquara. Como um dos condicionantes do
Banco Mundial, instituição financiadora, as populações que viviam às suas margens,
indígenas e não indígenas, deveriam receber atenção especial para que não sofressem tanto
com o impacto que a movimentação da estrada traria às suas vidas. Na análise do
antropólogo Paul D. Price (1989, p. 2),

[...] os índios tiveram o infortúnio de estar no caminho da rodovia de mil


milhas, a ser construída ao longo da fronteira oeste do Brasil. A rodovia,
agora completa, é parte do controvertido Projeto Polonoroeste, que tentou
desenvolver, em uma única operação, uma área do tamanho da Califórnia.
O projeto custou mais de um bilhão de dólares, aproximadamente 1/3 do
que foi levantado como empréstimo garantido pelo Banco Mundial.
Morando no meio da região condenada pelo desenvolvimento estavam os
Nambiquara, um povo livre e orgulhoso, muitos dos quais tinham pouco
conhecimento dos ocidentais. [...] As sociedades tradicionais, pequenas
demais para revidar, são varridas para o lado; os sobreviventes são
cercados e deixados para trás. Os princípios gerais do que aconteceu aos
Nambiquara no Brasil nas mãos do Banco Mundial são os mesmos
encontrados em muitos outros países do Terceiro Mundo, onde as
sociedades tribais estão sendo esmagadas. 3

Foi esse cenário que recebeu a pesquisadora, uma das autoras do presente artigo, e
que certamente era mais assustador do que aquele descrito por Claude Lévi-Strauss em
Tristes Trópicos, quando foi invadido pela bucólica vastidão da Chapada dos Parecis,
percorrida apenas “[...] por pequenos bandos de índios nômades, que estão entre os mais
primitivos que se possam encontrar no mundo; e cruzado, de um lado a outro por uma linha
telegráfica” (Lévi-Strauss, 2001, p. 256). A necessidade de conhecer a vida Nambiquara
direcionou-a a uma multiplicidade de campos ainda por explorar, a substituir e/ou traduzir
códigos daquele novo universo. A inexatidão das coisas, das ideias e até mesmo de
comportamentos a fez pensar que “[...] compreender menos, ser ingênuos, espantar-se, são
reações que podem nos levar a enxergar mais, a apreender algo mais profundo, mais
próximo da natureza” (GINZBURG, 2001, p. 29).
Tal preocupação também se circunscreve nos escritos de Deleuze, para quem:

3
Paul David Price foi um estudioso dos índios Nambiquara e que, também, de 1974 a 1976 assumiu, na
Funai, o cargo de coordenador do “Projeto Nambikwara” e, em 1980, a consultoria do Banco Mundial, órgão
financiador do Polonoroeste (Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil), implantado
nas áreas da Amazônia Legal.

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Aprender diz respeito essencialmente aos signos. Os signos são objetos de
um aprendizado temporal, não de um saber abstrato. Aprender é, de
início, considerar uma matéria, um objeto, um ser, como se emitissem
signos a serem decifrados, interpretados. Não existe aprendiz que não
seja “egiptólogo” de alguma coisa. Alguém só se torna marceneiro
tornando-se sensível aos signos da madeira, e médico tornando-se sensível
aos signos da doença. A vocação é sempre uma predestinação com relação
a signos. Tudo que nos ensina alguma coisa emite signos, todo ato de
aprender é uma interpretação de signos ou de hieróglifos (DELEUZE,
2003, p. 4).

Assim, a tentativa de compreensão das práticas cotidianas indígenas foi enriquecida


pela busca de estudos sobre os Nambiquara. Desde o momento em que ingressou na Funai,
Costa procurou informações em arquivos, livrarias, bibliotecas, sebos, hemerotecas, além
de bibliotecas eletrônicas virtuais que possibilitassem investigar a presença Nambiquara em
lugares não registrados e que fornecessem novas pistas. Também foram feitos contatos, por
correspondência, com pesquisadores que estudaram os índios Nambiquara. No decorrer do
ano de 1987, organizou-se o Centro de Documentação e Pesquisa na sede da Funai, em
Vilhena, Rondônia. Além dos raros livros sobre os Nambiquara, foram reunidos
documentos, fotografias, artigos de jornais e revistas com a preocupação de
instrumentalizar os funcionários recém-contratados que passaram a atuar junto aos
Nambiquara da Serra do Norte, Chapada dos Parecis e Vale do Guaporé.
Várias correspondências foram enviadas àquelas pessoas que entraram em contato
com os índios e que realizaram pesquisas etnográficas, para que incorporassem seus
estudos ao acervo que então se organizava. A criação do centro foi um esforço em
proporcionar um suporte documental e bibliográfico àqueles funcionários que passariam a
ter uma estreita vivência com os Nambiquara e que chegariam às suas terras completamente
desprovidos de informações. As correspondências endereçadas a Claude Lévi-Strauss, Paul
David Price e Desidério Aytai foram extremamente oportunas para que o acervo da Funai
pudesse incorporar estudos de etnografia Nambiquara.
Foi nesse contexto que Costa passou, com regularidade, a se corresponder com
Desidério Aytai, entre 04 de dezembro de 1987 e 18 de janeiro de 1998, compondo um total
de 129 cartas recebidas. O ir e vir desses estudos resultou na constância de uma
correspondência que perdurou até 1998, ano da morte de Aytai, e que passou a orientar os
trabalhos acadêmicos realizados pela pesquisadora juntos aos índios Potiguara, na Paraíba,

169
e aos Nambiquara, de Mato Grosso. Em dez anos, ofícios, cartas, cartões postais,
aerogramas e telegramas caracterizaram-se por ser da maior relevância à Antropologia, em
especial, à etnografia indígena. Mais do que ler e orientar escritos e desenhos, a presença de
Aytai significou, na aldeia, a segurança do percurso acadêmico que Costa necessitava para
adentrar em um terreno tão árido – o da cultura material. E, assim, teve-se acesso ao
resultado das pesquisas de campo realizadas nos anos 1960, em especial aquelas
desenvolvidas entre os vários grupos Nambiquara das três áreas culturais: Cerrado, Serra do
Norte e Vale do Guaporé.
A seguir, pretende-se apresentar uma breve biografia, bem como a contribuição de
Desidério Aytai para a etnomusicologia indígena Nambiquara, tendo por base metodológica
uma análise do levantamento bibliográfico, sonoro e iconográfico realizado ao longo desses
anos, inclusas as cartas trocadas durante os anos de 1987 a 1998. Dentre os estudiosos que
desenvolveram pesquisas com os Nambiquara, Aytai foi o que mais contribuiu para o
enriquecimento do acervo que se pretendeu criar em Vilhena. Foi nesse período que se teve
acesso às Publicações do Museu Histórico de Paulínia e aos estudos que Aytai escreveu
sobre a etnologia Nambiquara, Xavante, Karajá, dentre outras. Na década de 1960
iniciaram-se os trabalhos de campo do engenheiro etnógrafo4 junto aos grupos Nambiquara,
bem como a publicação de uma série de artigos. Entre 1963 e 1966, esteve entre os
Mamaindê e os Sararé, ambos os grupos localizados no Vale do Guaporé. Com os grupos
da Chapada dos Parecis realizou estudos em 1967, mais precisamente com o grupo
Halotesu, e, nesse mesmo ano, retornou ao Vale do Guaporé para pesquisar os Wasusu.
A história de Aytai no Brasil teve início após a Segunda Guerra Mundial, quando a
Hungria tornou-se um Estado comunista. Avesso ao ideário comunista, Desidério Aytai
deixou a Hungria com sua família e trabalhou no Museu da Smithsonian Institution, em
Washington, no Musée de l´Homme, em Paris, e no Museu do Vaticano, em Roma. Em
1948, o engenheiro mecânico formado pela Real Universidade Húngara imigrou para o
Brasil, encontrando o espaço propício para construir sua carreira como antropólogo, depois
de uma longa trajetória como engenheiro mecânico.

4
Para conhecer mais sobre a atuação acadêmica de Aytai, ler a tradução de Thekla Hartmann para o texto de
Price (1988), intitulado Desidério Aytai: o engenheiro como etnógrafo. Nessa mesma revista, Hartmann,
então etnóloga do Museu Paulista, apresenta uma breve bibliografia de Desidério Aytai, às páginas 165-168.

170
No campo da Arqueologia, iniciou suas pesquisas nos sambaquis do litoral sul de
São Paulo. Os resultados das escavações realizadas por Desidério Aytai e os alunos do
curso de Ciências Sociais da PUCC (Pontifícia Universidade Católica de Campinas), no
final da década de 1950 e no decorrer dos anos 1960, encontram-se no acervo da
instituição, que também reúne peças coletadas em expedições a comunidades indígenas do
Centro-Oeste e Norte brasileiros. No ano de 1963, recebeu convite da PUCC para ocupar a
cadeira de Antropologia do curso de Ciências Sociais. Também foi professor e pesquisador
na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e em várias faculdades. Após aposentar-
se, fundou na PUCC a Faculdade de Engenharia, momento em que ocupou o cargo de
primeiro diretor.
Como professor, Aytai passou grande parte de sua vida na região de Campinas.
Entretanto, em outras cidades próximas sua presença marcou uma trajetória no campo da
Antropologia e da Arqueologia. Fundou o Museu Histórico Municipal de Paulínia 5, em
Paulínia, o Museu Municipal Elisabeth Aytai, em Monte Mor, nome atribuído em
homenagem a sua esposa, pesquisadora que encontrou, no ano de 1971, uma urna funerária
de tradição Tupi, datada de 800 a 1.000 anos. O desejo pelo campo antropológico, todavia,
permaneceu acima de quaisquer outros interesses acadêmicos. Organizou diversas
expedições às terras Xavante, Bororo, Paresi, Guarani, Karajá, Nambiquara (grupos
Halotesu, Katithaulu, Wasusu, Mamaindê), vinculado ao antigo sonho de estudar culturas
ágrafas da África e da América do Sul. Seus estudos preocuparam-se, em especial, pela
música indígena.
Desidério Aytai, conforme Deise Lucy Oliveira Montardo (2000, p. 6),
[...] foi um dos primeiros autores a realizar uma análise aprofundada da
música indígena. Ao transcrever mais de uma centena de canções xavante,
o autor apontou, por exemplo, a existência de uma estrutura polifônica
nesta música, desmistificando um dos preconceitos vigentes até o
momento de que a música indígena não apresentaria tais “sofisticações”.

5
Rene Sarli informa que o Museu Histórico Municipal de Paulínia “funciona em prédio construído em 1913.
Em 1977 graças ao empenho do professor Desidério Aytai, é feito um acordo entre a Prefeitura Municipal e a
Pontifícia Universidade Católica de Campinas para criação do museu que é inaugurado no ano seguinte.
Criado para reunir e preservar a documentação, memória e objetos de imigrantes que vieram para o Brasil em
busca de esperança, aventuras, fortuna ou simplesmente fugindo de uma situação difícil nas suas pátrias de
origem. Conta com um acervo histórico de 1.300 peças [...]”. Disponível em
http://www.conhecapaulinia.com.br/a-cidade/pontos-turisticos/637-museu-historico-municipal-de-paulinia.
Acesso em 11/11/2010.

171
Assim como José da Silva, em relação a Darcy Ribeiro, Costa não teve a
oportunidade de conhecer pessoalmente Desidério Aytai. Contudo, a etnologia “aytaiana”
sobre os grupos Nambiquara deram a ela a oportunidade de conhecê-lo e colocaram-na
mais próxima do grande legado deixado por ele. Na época da troca de correspondências,
Costa exercia a função de professora de diversas aldeias da Terra Indígena Nambiquara,
localizada na Chapada dos Parecis. Logo após a aquisição da cópia de seu acervo
fotográfico, a correspondência entre Aytai e Costa passou a ter um caráter mais acadêmico,
na medida em que o pesquisador se incumbiu de orientá-la em pesquisas direcionadas à
cultura material e imaterial dos índios Potiguara, na Paraíba. Por outro lado, depois de certo
tempo, as cartas também passam a ter um teor mais pessoal, quando foram trocadas
informações sobre preocupações cotidianas, família e ambiente de trabalho.
Todos os textos da pesquisa desenvolvida entre os Potiguara foram lidos por
Desidério Aytai. Após o levantamento dos artefatos confeccionados por esses índios,
iniciou-se a descrição de cada um deles, a partir da proposta de Berta G. Ribeiro, elaborada
na obra Dicionário do Artesanato Indígena (1988). Assim, os artefatos foram distribuídos
em nove categorias e receberam uma denominação em consonância ao estudo, com o
6
intuito de uniformização da taxonomia. As descrições passaram pelo olhar criterioso do
professor Aytai, quando também se pode entrar em contato com obras teórico-
metodológicas fundamentais à abordagem, a partir de suas indicações.
Em meados de 1989, prosseguiram-se os estudos direcionados à cultura material dos
Nambiquara do Cerrado, quando também se contou com a orientação de Aytai. Novamente,
as cartas foram uma fonte preciosa de informações. Ao contrário da documentação
fotográfica apresentada no estudo da cultura material e das plantas utilitárias e medicinais
dos índios Potiguara, no estudo Nambiquara optou-se pelos desenhos a nanquim sobre
papel vegetal. Dessa maneira, a produção iconográfica também foi enviada à Aytai, para
obter seu parecer, em que textos e desenhos passaram por sua criteriosa análise. Algumas
imagens, a fim de se obter maior clareza nos detalhes das peças, foram redesenhadas, a
pedido dele. O resultado desta pesquisa, inicialmente depositada na Biblioteca Nacional, no
Rio de Janeiro, possibilitou a edição de dois livros: Hatisu Nambiquara: lembranças que

6
O resultado da pesquisa sobre os artefatos Potiguara foi publicado pela Secretaria de Cultura do Estado da
Paraíba, no livro intitulado Potiguara: cultura material (COSTA; MOREIRA DA COSTA, 1989).

172
viraram histórias (COSTA, 2005) e Além do artefato: cultura material e imaterial
Nambiquara (COSTA, 2009), publicações estas que infelizmente o professor Desidério
Aytai não conheceu.
A última participação de Desidério Aytai nos trabalhos acadêmicos de Costa
ocorreu entre os anos de 1997 e 1998, durante a elaboração de Irmãos do chão: os
Nambiquara na etno-história contemporânea (COSTA, 1998), monografia apresentada à
UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso), no Curso de Especialização em História.
Nesse estudo, Aytai contribuiu de forma ímpar na análise dos textos e no enriquecimento
da bibliografia referente aos Nambiquara, especialmente os estudos escritos em língua
estrangeira. Junto às cartas do professor, foram recebidos os números das Publicações do
Museu Histórico de Paulínia, com artigos direcionados aos interesses de estudo da
pesquisadora. Ao final de poucos anos, pode-se colecionar todos os números do periódico,
cuja edição foi interrompida após a sua morte.
Poucos estudiosos dedicaram-se especialmente às pesquisas sobre a música
Nambiquara. A esse respeito, Aytai informa que:

[...] vários autores que visitaram os Nambikuara falam das flautas, sem,
porém, dar muitos detalhes. C. Lévi-Strauss, por exemplo, no seu
excelente trabalho sobre vários grupos destes índios, diz que as flautas são
usadas nas festas do fim da época das chuvas, mas não menciona a
existência de uma choupana específica para guardá-las – pelo contrário,
conta que os índios esconderam as flautas recém-fabricadas entre os
galhos de uma árvore perto da aldeia, e fizeram, a pedido dele, uma
demonstração da música a certa distância da aldeia, para evitar qualquer
indiscrição feminina (AYTAI, 1967-68, p. 69-70).

As pesquisas de Aytai e, posteriormente, as de Costa, mostram que o espaço


musical entre os Nambiquara dá-se tanto no pátio central, circundado por casas
habitacionais, como no interior de uma casa ritual, construída pelos homens especialmente
para entoarem os instrumentos de bambu, com e sem ressonador de cabaça. Não há a
obrigatoriedade da guarda das flautas retas ser exclusivamente na casa das flautas. O
interior da mata, longe da curiosidade e dos olhos femininos, pode ser também um local
apropriado para esconder os instrumentos musicais, entre galhos e, até mesmo, enroladas
em cobertores. São entoadas durante o cultivo de plantas comestíveis e utilitárias,
necessária à sobrevivência dos Nambiquara. Ao som da música, os Nambiquara ingerem

173
uma bebida à base de mandioca e despejam-na também no interior das flautas,
alimentando-as, pois creem que ali se encontra a alma do menino que, no tempo mítico,
transformou-se em plantas utilitárias e comestíveis para seu povo.
Outros pesquisadores dedicaram-se ao estudo da música Nambiquara tais como
Halmos que escreveu La flûte nasale chez les indiens Nambicuara (BOGÁR; HALMOS,
1962), Melody and form in the music of the Nambicuara Indians (Mato Grosso, Brazil)
(1964) e The music of the Nambiquara indians (1979). Avery destaca-se entre os autores
por ter maior produção voltada à música dos Mamaindê, um dos grupos Nambiquara do
Vale do Guaporé. Publicou, na década de 1970, vários artigos de suma importância para o
conhecimento da música vocal Mamaindê (AVERY, 1977). Aspectos musicais da música
Nambiquara também foram apresentados por Lesslauer (1999).
Contudo, num cenário geograficamente mais amplo, o antropólogo Rafael José de
M. Bastos aponta que:

[...] o cenário atual da etnomusicologia das terras baixas da América do Sul é


extremamente promissor. Se, por um lado, pode-se aqui contar com a existência
de um número significativo de estudos, por assim dizer, inaugurais no período
aqui enfocado [...] por outro, ele inclui, tipicamente no Brasil e a partir da
segunda metade dos anos 1990, uma fértil floração de pesquisas realizadas por
uma nova geração de etnomusicólogos, a maioria deles antropólogos (BASTOS,
2007, 295-296).

Em relação aos índios Nambiquara do Cerrado e do Vale do Guaporé, a maior parte


dos estudos de Aytai encontra-se nas Publicações do Museu Histórico de Paulínia (de início
denominadas Publicações do Museu Municipal de Paulínia), atualmente esgotadas e de
difícil acesso àqueles interessados em conhecê-los e estudá-los. 7 Duas décadas marcaram a
existência das Publicações, sendo que de 1977 a 1997, apresentou 72 números, com artigos
escritos por diversos autores, especialmente no campo da Antropologia. Dentre eles,
Desidério Aytai escreveu 74 artigos sobre etnologia indígena, com temática variada:
7
Anna Maria Ribeiro F. M. da Costa repassou ao acervo do IHGMT (Instituto Histórico e Geográfico de
Mato Grosso) a coleção completa das Publicações do Museu Histórico de Paulínia, a fim de que seja
digitalizado e disponibilizado no site da referida instituição. Em breve, sob a coordenação de Paulo Pitaluga
Costa e Silva, as Publicações Avulsas do IHGMT, dedicadas às obras raras e esgotadas sobre Mato Grosso,
disponibilizarão, em dois volumes, todos os números das Publicações que tratam sobre os Nambiquara, de
autoria de Desidério Aytai. Outra oportunidade em se ter acesso a alguns números das Publicações foi
ofertada por João Veridiano Franco Neto, mestre em Antropologia Social pela Unicamp e membro do Centro
de Pesquisa em Etnologia Indígena da mesma universidade, que digitalizou parte dos números das
Publicações e disponibilizou diversos links de acesso aos downloads.

174
mitologia, música, cultura material, arqueologia e outros temas como manuais para
etnomusicólogos e recomendações para um antropólogo principiante. Destes, Aytai
reservou 29 artigos exclusivamente para estudos sobre a etnomusicologia Nambiquara,
Xetá, Xavante, Bororo, Karajá, inclusas as canções e assovios. Os estudos intitulados Da
caderneta de campo do antropólogo (1986 a 1987) caracterizam-se por apresentar um
conjunto de informações contidas em seus apontamentos de pesquisas realizadas no período
em que esteve em expedição junto aos índios Xetá, Bororo, Karajá, Nambiquara e Xavante.
Os minimanuais para etnomusicólogos, em três artigos, preocuparam-se em apresentar ao
pesquisador iniciante condutas para os estudos de campo, atentando-se principalmente para
a coleta de dados.
Os escritos específicos sobre música indígena abarcam desde a gravação em campo
dos rituais até a descrição do instrumento musical propriamente dito, como fez com os
Xavante, em sua tese de livre-docência (AYTAI, 1985). Sua trajetória etnográfica percorre
as fontes e a estrutura da música, os sons que formam os cantos, as melodias, a polifonia, a
letra, o ritmo. Os ornamentos e a maneira de cantar não passaram despercebidos por Aytai
e, muitas vezes, foram comparados a outros ritmos musicais. Há, em todos os artigos, um
rico registro iconográfico, elaborado por suas próprias mãos, que extrapola o intento de
apenas ilustrar, mas que integra o próprio corpo do texto, enriquecendo-o e facilitando sua
compreensão.
A música vocal também mereceu a atenção do pesquisador. Cuidou de realizar uma
compilação de relatórios completos e detalhados dos fatos etnomusicológicos coletados e
registrados em pesquisas de campo durante a década de 1960, oportunizando o
conhecimento dos segredos e encantos da música Nambiquara, até hoje não superada por
nenhum outro estudo. Desidério Aytai reuniu um vasto acerto sonoro, gravado em fitas-
cassetes e que, após sua morte, chegou às mãos de Costa como herança de uma amizade de
dez anos, calcada nas sensações que a escrita forneceu a ambos. A coleção das gravações
foi repassada ao Museu do Índio, da Funai, no Rio de Janeiro, a fim de receber
armazenamento adequado e gravação em CD, resguardando-se tão precioso registro sonoro.
Mas, não somente as Publicações do Museu Histórico de Paulínia apresentam
estudos de etnomusicologia Nambiquara, de autoria de Desidério Aytai. A Revista da
Universidade Católica de Campinas publicou, entre os anos de 1965 a 1972, os artigos Os

175
cantores da floresta (Partes I, II, III e IV) (AYTAI, 1964; 1965; 1966; 1972), contendo
importantes notas etnográficas sobre os índios Mamaindê, do Vale do Guaporé, nelas, com
exceção da parte IV, inclusas referências musicais. Periódicos estrangeiros também
contemplaram os escritos de Aytai: os Cahiers de musiques traditionnelles (1989),
publicados em Genebra, reservaram algumas páginas para La Flûte Nasale des Indiens
Nambikuara, um volume dedicado especialmente à música instrumental. Nesse estudo, a
flauta nasal tem um destaque merecido por ser um instrumento raro entre populações
indígenas. Dois fragmentos de cabaça, de formato arredondado, são unidos por cera de
abelha. Em uma das partes possui três orifícios: um destinado ao sopro nasal e dois à
digitação dos dedos indicadores. Tanto a flauta reta de bambu como a flauta nasal são
instrumentos musicais que estabelecem uma relação dos Nambiquara com o mundo
espiritual. A música instrumental como a vocal são uma das possibilidades que os
Nambiquara têm para estabelecer vínculos com os espíritos ancestrais e da natureza.
Desidério Aytai, em suas pesquisas de campo, não se ateve somente a descrever e estudar
os sons produzidos por essas flautas. Estendeu sua aguçada observação aos patamares mais
recônditos da religiosidade, como comprova seus escritos sobre a etnomusicologia
Nambiquara.
As mais de cem cartas recebidas de “Desi”8 oportunizaram a Costa conhecê-lo, além
do inestimável legado etnográfico deixado para a Antropologia. Sem dúvida, os tantos selos
postais colados nos envelopes de cores e tamanhos diversos selaram, também, uma amizade
que rompeu distâncias e minimizou a impossibilidade de não conhecê-lo pessoalmente.
Entretanto, as cartas de trabalho, aos poucos, foram se tornando também cartas de amizade.
E na cadência de conversas tão variadas, de experiências compartilhadas, desenhou-se seu
perfil. Pouco antes de sua morte, ainda trabalhando do Museu Elizabeth Aytai, em Monte
Mor, aos 93 anos, suas últimas cartas eram assim assinadas como “Desidério fóssil”!

Conclusão

8
“Desi”, segundo informações pessoais repassadas aos autores por Zilda Rangel, era a maneira carinhosa com
que as pessoas mais próximas se dirigiam a Desidério Aytai. Rangel é, atualmente, coordenadora do Museu
Elizabeth Aytai e teve o privilégio de trabalhar um longo período ao lado de Aytai.

176
É fato que os prognósticos de Darcy Ribeiro a respeito do desaparecimento de
populações indígenas no Brasil, felizmente, não se fizeram cumprir. Passados quarenta anos
da publicação de Os índios e a civilização verifica-se não apenas que muitas das
populações dadas como “extintas” pelo autor, de fato, não apenas não desapareceram, como
estão crescendo demograficamente de forma expressiva. Por outro lado, o registro de
atividades artísticas Kadiwéu, especialmente as ligadas às pinturas corporais, teve o mérito
de preservar informações a respeito de uma manifestação de arte estritamente relacionada
ao universo feminino e que se não está em completo desuso nos dias de hoje, já não
apresenta o vigor de outrora.
O próprio Darcy Ribeiro foi um crítico contumaz da tradição antropológica de
colecionar objetos de “arte indígena”, com fins museológicos, prática que segundo Lúcia
Hussak Van Velthem (1994) teve início com a descoberta do Novo Mundo e se estendeu
até princípios do século XX.
Para Ribeiro:

Vivendo a vida indígena e tratando de colecionar objetos com propósitos


museológicos, sentimos a estranheza que provocava nos índios a nossa
ocupação. Para eles, retirar aquelas coisas do uso corrente e retê-las seria
como perder a fé de que os homens sejam capazes de continuar a fazê-las.
O importante para os índios não é deter o objeto belo, mas ter os artistas
ali, fazendo e refazendo a beleza, hoje como ontem, amanhã e sempre.
Essa certeza de que a vida está composta de coisas que têm tanto
potencialidades práticas como expressões de beleza, lhes dá uma grande
segurança. Segurança que não temos nós que tanto colecionamos
espécimes raros, como desprezamos seus criadores (RIBEIRO, 1987, p.
30).

Darcy Ribeiro voltou inúmeras vezes, em seus escritos, ao tema das pinturas
corporais Kadiwéu, desde que publicou, em 1951, Arte dos índios Kadiuéu. Certa vez,
afirmou que “A mais elaborada arte de desenho dos índios americanos é a dos padrões de
pintura de rosto e de corpo dos meus Kadiwéu. Esta velha arte feminina assombrou até os
colonizadores europeus, habitualmente cegos para as expressões de beleza dos povos
indígenas” (RIBEIRO, 1987, p. 46; grifo dos autores). Não somente os Kadiwéu se
destacaram no cenário artístico indígena com suas pinturas corporais, mas também os
Asurini, os Xavante e os Wayana, dentre inúmeros outros. Trata-se de uma atividade não

177
apenas de cunho artístico, mas de importância social relevante para muitos grupos
indígenas.
De acordo com Lux Vidal (1985, p. 16),

Aplicada no corpo, a pintura possui uma função essencialmente social e


mágico-religiosa, mas é também a maneira reconhecidamente bonita e
correta de apresentar-se, havendo aqui uma correspondência entre o ético
e o estético. Em muitas sociedades indígenas, a decoração do corpo
confere ao homem a sua dignidade humana, o seu ser social, o seu
significado espiritual e identidade grupal. A decoração é concebida par o
corpo, mas o corpo só existe através dela.

Já em relação à música, a contribuição acadêmica do antropólogo húngaro, radicado


no Brasil, Desidério Aytai foi inquestionavelmente decisiva para o conhecimento da cultura
musical dos indígenas no país, em especial, dos grupos Nambiquara. Seus estudos são
considerados de referência para pesquisadores interessados em ter acesso às especificidades
da música daqueles índios. E, ainda, considerando a escassez de obras sobre a cultura
musical dos índios que atualmente habitam o território brasileiro, a contribuição de Aytai
atinge maior dimensão, pois teve o mérito de conservar informações etnomusicológicas de
grupos humanos que hoje passam por rápidas transformações sociais. Os estudos são,
certamente, uma referência aos interessados em conhecer o campo da música indígena,
ainda pouco explorado pela Antropologia e pela História.
O antropólogo Anthony Seeger afirma que:

[a] música – estruturas de som e tempo – é geralmente considerada pelos


índios parte fundamental de sua vida e não apenas uma de suas opções
[...] Os instrumentos musicais na América do Sul compartilham da
importância da música. São tidos, freqüentemente, pelos nativos, como
objetos que incorporam um poder identificado com diversas espécies de
espíritos, seres ou grupos de pessoas. [...] A música é uma faceta
importante na vida social e os instrumentos musicais são parte importante
da cultura material (SEEGER, 1987, p. 174).

Dessa forma, Aytai, por meio de seus estudos, revelou um dos aspectos mais
relevantes na vida dos grupos indígenas – a música –, geralmente negligenciada como
objeto de estudo por pesquisadores de distintas áreas do conhecimento. A exiguidade de
material sobre a música indígena deve-se, por um lado, à dificuldade em registrar fenômeno
tão efêmero como o som e, por outro, à dificuldade em se compreender a música indígena
178
nos contextos em que ela é produzida. Desidério Aytai conseguiu superar tais dificuldades,
legando um riquíssimo acervo ainda a ser explorado. 9
Ribeiro, por sua vez, legou uma vasta etnografia a respeito dos Kadiwéu e foi
considerado por estes indígenas, um “(quase) Kadiwéu”, uma vez que “História e mito
definiram uma aliança e fizeram de Darcy Ribeiro alguém capaz de reconfirmar os
símbolos Kadiwéu” (PECHINCHA, 2000, p. 161).
Assim, entre pinturas corporais Kadiwéu e notas musicais Nambiquara, Darcy
Ribeiro e Desidério Aytai legaram um vasto conhecimento sobre expressões artísticas e
culturais que, de outra forma, poderiam estar irremediavelmente perdidas, posto que as
pinturas corporais entre os Kadiwéu hoje em dia encontram-se em progressivo desuso,
enquanto entre os Nambiquara os interesses musicais começam a se aproximar dos ritmos
não indígenas. A contribuição de ambos para a etnografia indígena no Brasil, portanto, é
ímpar e revela a trajetória histórica de modos de ser e viver únicos de populações indígenas
cujo passado, graças aos trabalhos de dois incansáveis pesquisadores, é mais belo e sonoro.

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9
Desse acervo, mesmo que a questão central da discussão não discorra totalmente sobre a etnomusicologia
Nambiquara, destaca-se o primoroso artigo intitulado Os cantores da floresta. Parte IV: a origem dos índios
Mamaindê (AYTAI, 1972). Isso porque se desconhece hipóteses consistentes que expliquem a existência dos
mais de trinta grupos que compõem a sociedade Nambiquara atual. Os Nambiquara, “embora partilhando de
uma mesma filiação linguística e de elementos culturais comuns, distinguem-se claramente entre si por
determinados aspectos de sua organização social, de sua cultura material e de seu sistema de crenças”
(COSTA, 2010, p. 91). Nesse estudo de Aytai sobre os Mamaindê, ao partir de uma análise glotocronológica
das línguas classificadas como Nambiquara, acredita-se que um grupo ancestral comum (proto-Nambiquara)
ocupava uma área localizada no divisor das águas do alto curso dos rios Guaporé e Juruena. Em decorrência
de uma grave crise há aproximadamente 4.000 anos, esse grupo se dividiu em cinco: os Mamaindê, Sararé
(Katithaulu), Tauitê, Tagnani (Tawentê), Kôkôzú (Wakalitesu). Aytai calculou que o epicentro da separação
ocorreu no território ocupado atualmente pelos Mamaindê, forçando a dispersão do que viria a se constituir no
Tawentê, ao Norte; no Tauitê e o Katithaulu, ao Sul; e no Wakalitesu, ao Leste. Este último grupo deu
origem, durante a migração, há 1.400 anos, ao Anunzê (Kithãulhu). Pouco depois, há 1.100 anos, se cindiu
novamente, formando o Halotesu e, finalmente, há cerca de 400 anos, o Wasusu se separou.

179
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Artigo recebido em 01 de novembro de 2010.


Artigo aceito em 02 de dezembro de 2010.

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