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TRIBUNAL MARÍTIMO

AR/GAP PROCESSO Nº 28.041/13


ACÓRDÃO

Flutuante “MARCIO SOUZA” e Flutuante “MARTINS”. Incêndio em flutuante


provocando a perda total do flutuante “MARCIO SOUZA” e avaria na
superestrutura do flutuante “MARTINS”, sem danos pessoais e sem danos ao
meio hídrico. Péssimo estado de conservação do sistema elétrico do flutuante
aliado à falta de qualificação da tripulante para realização do reparo elétrico em
uma tomada de um freezer. Imprudência. Imperícia. Condenação.

Vistos, discutidos e relatados os presentes autos.


Trata-se de analisar acidente e fato da navegação envolvendo os Flutuantes
“MARCIO SOUZA” e “MARTINS”, ambos propriedades de Marcos de Souza Martins-ME,
quando, cerca das 07h30min do dia 26/06/2012, encontravam-se abarrancados na beira do
lago Uarini, município de Uarini-AM, realizando uma ligação elétrica de um freezer,
momento em que ocorreu um curto circuito provocando centelhas irrompendo um incêndio,
provocando a perda total de um dos flutuantes e avaria na superestrutura de outro.
Dos depoimentos colhidos e documentos acostados extrai-se que o Flutuante
“MARCIO SOUZA”, com 13,30 m de comprimento e 90,6 AB e o Flutuante “MARTINS”,
com 16,06 metros de comprimento e 47 AB estavam abarrancados à beira do lago Uarini,
quando a Moradora do Flutuante “MARCIO SOUZA”, Maria do Perpétuo Socorro Souza
Martins, resolveu realizar uma manutenção da parte elétrica de seu flutuante - ligação
elétrica de um freezer, quando ocorreu um curto circuito provocando centelhas que caíram
sobre um isopor umedecido de gasolina originando o fogo. Segundo a Moradora Maria
foram feitas várias tentativas para liberar o Flutuante “MARTINS”, que ficava ao lado do seu
flutuante, para que o fogo não se alastrasse, pois se tratava de um flutuante para
armazenamento de combustível, porém as tentativas foram em vão, e não conseguiram cortar
os cabos que amarravam as duas embarcações. O fogo então se propagou para o outro
flutuante, mas que, logo depois do fogo ter se alastrado, conseguiram liberar os cabos, mas o
fogo só foi extinto após serem desamarrados e soltos da margem do lago. O flutuante
“MARCIO SOUZA” foi totalmente destruído e o flutuante “MARTINS” teve sua
superestrutura danificada e perda total de equipamentos.
Maria do Perpétuo Socorro Souza Martins, comerciante e Moradora do
Flutuante “MARCIO SOUZA”, 50 anos de idade, em seu depoimento declarou, em resumo,

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que estava no interior do flutuante e devido a uma faísca ocasionada pela tomada elétrica que
caiu em cima dos isopores que estavam em estoque, aconteceu o incêndio; que um dos
flutuantes pertence ao seu irmão e o outro é de sua propriedade.
Marcos Souza Martins, comerciante, em seu depoimento, declarou, em resumo,
que estava viajando e foi avisado do acidente por um telefonema de sua filha, às 06h30min
da manhã; que não sabe informar como ocorreu o acidente.
Jose Paulo Marques Vieira, frentista, em seu depoimento, declarou que não sabia
de nada a respeito do acidente.
Laudo de Exame Pericial, ilustrado com fotos e croqui dos flutuantes sinistrados,
concluiu que a causa determinante foi a imperícia da proprietária do flutuante “MARCIO
SOUZA”, Maria do Perpétuo Socorro Souza Martins, ao fazer reparo na instalação elétrica
de flutuante de sua propriedade, sem, no entanto, tomar os mais elementares cuidados para a
realização desse tipo de serviço, causando um incêndio de grandes proporções.
Juntada a documentação de praxe.
No relatório a Encarregada do Inquérito após resumir o depoimento de três
testemunhas, descrever a sequência dos acontecimentos e analisar os dados do acidente,
concluiu que o fator material contribuiu pelo mau estado de conservação da instalação
elétrica e o fator operacional pela imperícia para fazer o reparo elétrico. Apontou como
possível responsável direto Maria do Perpétuo Socorro Souza Martins, responsável pelo
flutuante “MARCIO SOUZA”, por realizar reparo nas instalações elétricas sem possuir
qualificação para tal e manter seu flutuante próximo ao flutuante “MARTINS” que
armazenava combustível.
Notificada, a Indiciada não apresentou defesa prévia.
A D. Procuradoria ofereceu representação contra Maria do Perpétuo Socorro
Souza Martins, com fulcro no art. 14, alínea a e art. 15 alínea e, da Lei n° 2.180/54,
sustentando, em resumo, que a representada realizou reparo nas instalações elétricas do
flutuante sob sua responsabilidade, sem possuir qualificação para tal e sem a observância de
cuidados básicos para afastar materiais inflamáveis. Foi ainda incauta ao manter o seu
flutuante próximo ao flutuante “MARTINS”, que armazenava combustível.
Recebida a representação e citada, a representada, que não possui antecedentes
no Tribunal Marítimo, foi regularmente defendida.
Maria do Perpétuo Socorro Souza Martins, por I. advogado constituído, após
apresentar a síntese dos fatos, alegou, em resumo, que não praticou qualquer ação que
pudesse responsabilizá-la tanto dolosa ou culposamente, haja vista ser uma vítima do

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sinistro, cuja ocorrência pode acontecer com qualquer pessoa, em qualquer residência, mera
fatalidade; que não sabe precisar a razão de ter ocorrido o curto circuito ao ligar o freezer na
tomada, todavia, não foi sua intenção nem desejo de causar danos a si mesma e nem a
terceiros, por meio de incêndio que lhe trouxe inúmeros prejuízos.
Aberta a instrução, nada foi requerido pelas partes em provas.
Em alegações finais, falaram as partes.
Decide-se.
De tudo o que consta nos presentes autos, conclui-se que a natureza e extensão
do acidente da navegação sob análise, tipificado no art. 14, alínea “a”, da Lei nº 2.180/54,
ficaram caracterizadas como incêndio em flutuante provocando a perda total do flutuante
“MARCIO SOUZA” e avaria na superestrutura do flutuante “MARTINS”, sem danos
pessoais e sem danos ao meio hídrico.
A causa determinante foi o péssimo estado de conservação do sistema elétrico
do flutuante aliado à falta de qualificação da tripulante para realização do reparo elétrico em
uma tomada de um freezer.
Analisando-se os autos verifica-se que a Proprietária e Representada Maria do
Perpétuo Socorro Souza Martins não possuía, à época do evento, qualquer curso
profissionalizante que a habilitava como autorizada a realizar reparos elétricos a bordo de
Flutuante de sua propriedade. Ao lado da instalação elétrica considerada sofrível pelos
Peritos, o que representa sem dúvida um perigo constante a incolumidade do flutuante, a
Representada não avaliou o risco eminente da presença de recipientes de isopor nas
proximidades do freezer, o que levou uma simples faísca a proporcionar a ignição necessária
e irromper o incêndio a bordo. Foi, portanto, imprudente ao realizar a faina estando próximo
de combustível e imperita por não adotar medidas de segurança necessárias durante o reparo
elétrico, ensejando o acidente em questão, destruindo totalmente um dos flutuantes e
parcialmente um outro que estava a contrabordo.
Pelo exposto, deve-se julgar procedente a representação da D. PEM,
responsabilizando Maria do Perpétuo Socorro Souza Martins. Na aplicação da pena deve-se
levar em consideração o prejuízo causado pelo incêndio em flutuante de sua propriedade.
Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à
natureza e extensão do acidente da navegação: incêndio em flutuante provocando a perda
total do flutuante “MARCIO SOUZA” e avaria na superestrutura do flutuante “MARTINS”,
sem danos pessoais e sem danos ao meio hídrico; b) quanto à causa determinante: péssimo

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estado de conservação do sistema elétrico do flutuante aliado à falta de qualificação da
tripulante para realização do reparo elétrico em uma tomada de um freezer; e c) decisão:
julgar o acidente da navegação, previsto no art. 14, alínea a, da Lei nº 2.180/54, como
decorrente de imprudência e imperícia de Maria do Perpétuo Socorro Souza Martins,
condenando à pena de repreensão de acordo com o art. 121, inciso I, da Lei nº 2.180/54, com
a redação dada pela Lei nº 8.769/94. Custas processuais na forma da Lei.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 26 de setembro de 2017.

GERALDO DE ALMEIDA PADILHA


Juiz-Relator

Cumpra-se o Acórdão, após o trânsito em julgado.


Rio de Janeiro, RJ, em 12 de dezembro de 2017.

MARCOS NUNES DE MIRANDA


Vice-Almirante (RM1)
Juiz-Presidente
PEDRO COSTA MENEZES JUNIOR
Primeiro-Tenente (T)
Diretor da Divisão Judiciária
AUTENTICADO DIGITALMENTE

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COMANDO DA MARINHA
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MARINHA
2018.03.14 10:33:53 -03'00'

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