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Eletricidade

Uma das principais fontes de energia da civilização contemporânea é a energia elétrica. O princípio físico em
função do qual uma das partículas atômicas, o elétron, apresenta uma carga que, por convenção, se considera
de sinal negativo constitui o fundamento dessa forma de energia, que tem uma infinidade de aplicações na vida
moderna.

Eletricidade é o fenômeno físico associado a cargas elétricas estáticas ou em movimento. Seus efeitos se
observam em diversos acontecimentos naturais, como nos relâmpagos, que são faíscas elétricas de grande
magnitude geradas a partir de nuvens carregadas. Modernamente, confirmou-se que a energia elétrica permite
explicar grande quantidade de fenômenos físicos e químicos.

A constituição elétrica da matéria se fundamenta numa estrutura atômica em que cada átomo é composto por
uma série de partículas, cada uma com determinada carga elétrica. Por isso se define carga elétrica como
propriedade característica das partículas que constituem as substâncias e que se manifesta pela presença de
forças. A carga elétrica apresenta-se somente em duas variedades, convencionalmente denominadas positiva e
negativa.

Primeiras noções. Nas civilizações antigas já eram conhecidas as propriedades elétricas de alguns materiais. A
palavra eletricidade deriva do vocábulo grego elektron (âmbar), como conseqüência da propriedade que tem
essa substância de atrair partículas de pó ao ser atritada com fibras de lã.

O cientista inglês William Gilbert, primeiro a estudar sistematicamente a eletricidade e o magnetismo, verificou
que outros materiais, além do âmbar, adquiriam, quando atritados, a propriedade de atrair outros corpos, e
chamou a força observada de elétrica. Atribuiu essa eletrificação à existência de um "fluido" que, depois de
removido de um corpo por fricção, deixava uma "emanação". Embora a linguagem utilizada seja curiosa, as
noções de Gilbert se aproximam dos conceitos modernos, desde que a palavra fluido seja substituída por
"carga", e emanação por "campo elétrico".

No século XVIII, o francês Charles François de Cisternay Du Fay comprovou a existência de dois tipos de força
elétrica: uma de atração, já conhecida, e outra de repulsão. Suas observações foram depois organizadas por
Benjamin Franklin, que atribuiu sinais - positivo e negativo - para distinguir os dois tipos de carga. Nessa
época, já haviam sido reconhecidas duas classes de materiais: isolantes e condutores.

Foi Benjamin Franklin quem demonstrou, pela primeira vez, que o relâmpago é um fenômeno elétrico, com sua
famosa experiência com uma pipa (papagaio). Ao empinar a pipa num dia de tempestade, conseguiu obter
efeitos elétricos através da linha e percebeu, então, que o relâmpago resultava do desequilíbrio elétrico entre a
nuvem e o solo. A partir dessa experiência, Franklin produziu o primeiro pára-raios. No final do século XVIII,
importantes descobrimentos no estudo das cargas estacionárias foram conseguidos com os trabalhos de Joseph
Priestley, Lord Henry Cavendish, Charles-Augustin de Coulomb e Siméon-Denis Poisson. Os caminhos estavam
abertos e em poucos anos os avanços dessa ciência foram espetaculares.

Em 1800, o conde Alessandro Volta inventou a pilha elétrica, ou bateria, logo transformada por outros
pesquisadores em fonte de corrente elétrica de aplicação prática. Em 1820, André-Marie Ampère demonstrou as
relações entre correntes paralelas e, em 1831, Michael Faraday fez descobertas que levaram ao
desenvolvimento do dínamo, do motor elétrico e do transformador.

As pesquisas sobre o poder dos materiais de conduzir energia estática, iniciadas por Cavendish em 1775, foram
aprofundadas na Alemanha pelo físico Georg Simon Ohm. Publicada em 1827, a lei de Ohm até hoje orienta o
desenho de projetos elétricos. James Clerk Maxwell encerrou um ciclo da história da eletricidade ao formular as
equações que unificam a descrição dos comportamentos elétrico e magnético da matéria.

O aproveitamento dos novos conhecimentos na indústria e na vida cotidiana se iniciou no fim do século XIX. Em
1873, o cientista belga Zénobe Gramme demonstrou que a eletricidade pode ser transmitida de um ponto a
outro através de cabos condutores aéreos. Em 1879, o americano Thomas Edison inventou a lâmpada
incandescente e, dois anos depois, construiu, na cidade de Nova York, a primeira central de energia elétrica
com sistema de distribuição. A eletricidade já tinha aplicação, então, no campo das comunicações, com o
telégrafo e o telefone elétricos e, pouco a pouco, o saber teórico acumulado foi introduzido nas fábricas e
residências.

O descobrimento do elétron por Joseph John Thomson na década de 1890 pode ser considerado o marco da
passagem da ciência da eletricidade para a da eletrônica, que proporcionou um avanço tecnológico ainda mais
acelerado.

Natureza elétrica da matéria. Segundo a visão atomista do universo, todos os corpos são constituídos por
partículas elementares que formam átomos. Estes, por sua vez, se enlaçam entre si para dar lugar às
moléculas de cada substância. As partículas elementares são o próton e o nêutron, contidos no núcleo, e o
elétron, que gira ao seu redor e descreve trajetórias conhecidas como órbitas.
A carga total do átomo é nula, ou seja, as cargas positiva e negativa se compensam porque o átomo possui o
mesmo número de prótons e elétrons - partículas com a mesma carga, mas de sinais contrários. Os nêutrons
não possuem carga elétrica. Quando um elétron consegue vencer a força de atração do núcleo, abandona o
átomo, que fica, então, carregado positivamente. Livre, o elétron circula pelo material ou entra na configuração
de outro átomo, o qual adquire uma carga global negativa. Os átomos que apresentam esse desequilíbrio de
carga se denominam íons e se encontram em manifestações elétricas da matéria, como a eletrólise, que é a
decomposição das substâncias por ação da corrente elétrica. A maior parte dos efeitos de condução elétrica,
porém, se deve à circulação de elétrons livres no interior dos corpos. Os prótons dificilmente vencem as forças
de coesão nucleares e, por isso, raras vezes provocam fenômenos de natureza elétrica fora dos átomos.

De maneira geral, diante da energia elétrica, as substâncias se comportam como condutoras ou isolantes,
conforme transmitam ou não essa energia. Os corpos condutores se constituem de átomos que perdem com
facilidade seus elétrons externos, enquanto as substâncias isolantes possuem estruturas atômicas mais fixas, o
que impede que as correntes elétricas as utilizem como veículos de transmissão.

Os metais sólidos constituem o mais claro exemplo de materiais condutores. Os elétrons livres dos condutores
metálicos se movem através dos interstícios das redes cristalinas e assemelham-se a uma nuvem. Se o metal
se encontra isolado e carregado eletricamente, seus elétrons se distribuem de maneira uniforme sobre a
superfície, de forma que os efeitos elétricos se anulam no interior do sólido. Um material condutor se
descarrega imediatamente ao ser colocado em contato com a terra.

A eletrização de certos materiais, como o âmbar ou o vidro, se deve a sua capacidade isolante pois, com o
atrito, perdem elétrons que não são facilmente substituíveis por aqueles que provêm de outros átomos. Por
isso, esses materiais conservam a eletrização por um período de tempo tão mais longo quanto menor for sua
capacidade de ceder elétrons.

Eletrostática. A parte da eletricidade que estuda o comportamento de cargas elétricas estáticas no espaço é
conhecida pelo nome de eletrostática. Ela desenvolveu-se precocemente dentro da história da ciência e se
baseia na observação das forças de atração ou repulsão que aparecem entre as substâncias com carga elétrica.

Estudos quantitativos de eletrostática foram feitos separadamente por Coulomb e Cavendish. A chamada lei de
Coulomb estabelece que as forças de atração ou repulsão entre partículas carregadas são diretamente
proporcionais às quantidades de carga dessas partículas e inversamente proporcionais ao quadrado da distância
que as separa. Determinada de forma empírica, essa lei só é válida para cargas pontuais em repouso. Sua
expressão matemática é:

F=h*Q*Q’

Q e Q' indicam a grandeza das cargas, r é a distância entre elas e k é a constante de proporcionalidade ou
constante dielétrica, cujo valor depende do meio em que se acham imersas as partículas elétricas. A direção
das forças é paralela à linha que une as cargas elétricas em questão. O sentido depende da natureza das
cargas: se forem de sinais contrários, se atraem; se os sinais forem iguais, se repelem. A unidade de carga da
lei de Coulomb recebe a denominação de coulomb no sistema internacional. A força se expressa em newtons e
a distância, em metros.

Campo elétrico. Com o desenvolvimento da eletricidade como ciência, a física moderna abandonou o conceito
newtoniano de força como causa dos fenômenos e introduziu a noção de campo. A liberação das partículas
passou a ser associada às diferenças de níveis energéticos e não à ação direta de forças.

Define-se campo elétrico como uma alteração introduzida no espaço pela presença de um corpo com carga
elétrica, de modo que qualquer outra carga de prova localizada ao redor indicará sua presença. Por meio de
curvas imaginárias, conhecidas pelo nome de linhas de campo, visualiza-se a direção da força gerada pelo
corpo carregado.

As características do campo elétrico são determinadas pela distribuição de energias ao longo do espaço afetado.
Se a carga de origem do campo for positiva, uma carga negativa introduzida nele se moverá,
espontaneamente, pela aparição de uma atração eletrostática. Pode-se imaginar o campo como um armazém
de energia causadora de possíveis movimentos. É usual medir essa energia por referência à unidade de carga,
com o que se chega à definição de potencial elétrico, cuja magnitude aumenta em relação direta com a
quantidade da carga geradora e inversa com a distância dessa mesma carga. A unidade de potencial elétrico é
o volt, equivalente a um coulomb por metro. A diferença de potenciais elétricos entre pontos situados a
diferentes distâncias da fonte do campo origina forças de atração ou repulsão orientadas em direções radiais
dessa mesma fonte.
A intensidade do campo elétrico se define como a força que esse campo exerce sobre uma carga contida nele.
Dessa forma, se a carga de origem for positiva, as linhas de força vão repelir a carga de prova, e ocorrerá o
contrário se a carga de origem for negativa. Diz-se, portanto, que as cargas positivas são geradoras de campos
magnéticos e as negativas, de sistemas de absorção ou sumidouros.

Dielétricos. As substâncias dielétricas (que isolam eletricidade) se distinguem das condutoras por não
possuírem cargas livres que possam mover-se através do material, ao serem submetidas a um campo elétrico.
Nos dielétricos, todos os elétrons estão ligados e por isso o único movimento possível é um leve deslocamento
das cargas positivas e negativas em direções opostas, geralmente pequeno em comparação com as distâncias
atômicas.

Esse deslocamento, chamado polarização elétrica, atinge valores importantes em substâncias cujas moléculas
já possuam um ligeiro desequilíbrio na distribuição das cargas. Nesse caso, se produz ainda uma orientação
dessas moléculas no sentido do campo elétrico externo e se constituem pequenos dipolos elétricos que criam
um campo característico. O campo é dito fechado quando suas linhas partem do pólo positivo e chegam ao
negativo.

O campo elétrico no interior das substâncias dielétricas contém uma parte, fornecida pelo próprio dielétrico em
forma de polarização induzida e de reorientação de suas moléculas, que modifica o campo exterior a que está
submetido. O estudo dos dielétricos adquire grande relevância na construção de dispositivos armazenadores de
energia elétrica, também conhecidos como condensadores ou capacitores, os quais constam basicamente de
duas placas condutoras com potencial elétrico distinto, entre as quais se intercala a substância dielétrica. Cria-
se um campo elétrico entre as placas, incrementado pela polarização do dielétrico que armazena energia. A
capacidade de armazenamento de um condensador se avalia mediante um coeficiente - conhecido como
capacitância - que depende de suas características físicas e geométricas. Essa grandeza tem dimensões de
carga por potencial elétrico e se mede comumente em faradays (coulombs por volts).

Circuitos elétricos e forças eletromotrizes. Do estudo da eletrólise - intercâmbio eletrônico e energético entre
substâncias químicas normalmente dissolvidas - surgiram as primeiras pilhas ou geradores de corrente, cuja
aplicação em circuitos forneceu dados fundamentais sobre as propriedades elétricas e magnéticas da matéria.

Uma carga introduzida num campo elétrico recebe energia dele e se vê impelida a seguir a direção das linhas
do campo. O movimento da carga é provocado físico segundo o qual todo corpo alcança o equilíbrio em seu
estado de energia mínima. Portanto, a carga tende a perder a energia adquirida, ao movimentar-se para áreas
menos energéticas.

Em termos elétricos, o movimento das cargas é provocado por diferenças de potencial elétrico no espaço, e as
partículas carregadas se dirigem de zonas de maior para as de menor potencial. Nessa propriedade se
fundamentam as pilhas e, em geral, todos os geradores de corrente, que consistem em duas placas condutoras
com potenciais diferentes. A ligação dessas duas placas, chamadas eletrodos, por um fio, produz uma
transferência de carga, isto é, uma corrente elétrica, ao longo do circuito. A grandeza que define uma corrente
elétrica é sua intensidade, que é a quantidade de cargas que circulam através de uma seção do filamento
condutor numa unidade de tempo. A unidade de intensidade da corrente é o ampère (coulomb por segundo).

Muitos físicos, entre eles Gay-Lussac e Faraday, pesquisaram as relações existentes entre a tensão e a corrente
elétricas. Georg Simon Ohm estudou as correntes elétricas em circuitos fechados e concluiu que as intensidades
resultantes são diretamente proporcionais à diferença de potencial fornecida pelo gerador. A constante de
proporcionalidade, denominada resistência elétrica do material e medida em ohms (volts por ampères),
depende das características físicas e geométricas do condutor. Nesse contexto se dispõem de diferentes
recursos que permitem a regulagem e controle das grandezas elétricas. Assim, por exemplo, a ponte de
Wheatstone se emprega para determinar o valor de uma resistência não conhecida e as redes elétricas
constituem circuitos múltiplos formados por elementos geradores e condutores de resistências distintas.

Efeitos térmicos da eletricidade. A passagem de cargas elétricas a grande velocidade através de condutores
origina uma perda parcial de energia em função do atrito. Essa energia se desprende em forma de calor e, por
isso, um condutor sofre aumento de temperatura quando a corrente elétrica circula através dele.

James Joule calculou as perdas de uma corrente num circuito, provocadas pelo atrito. Nesse fenômeno,
denominado efeito Joule, se fundamentam algumas aplicações interessantes da eletricidade, como as
resistências das estufas. O efeito também ocorre no filamento incandescente - fio muito fino de tungstênio ou
material similar que emite luz quando aumenta a temperatura - utilizado nas primeiras lâmpadas de Edison e
nas atuais lâmpadas elétricas.

Deve-se ao efeito Joule a baixa rentabilidade industrial do sistema de correntes contínuas, em função das
elevadas perdas que se verificam. Esse problema foi solucionado com a criação de geradores de corrente
alternada, nos quais a intensidade elétrica varia com o tempo.

Aplicações. A principal vantagem oferecida por uma rede elétrica é a facilidade de transporte de energia a baixo
custo. Diversas formas de energia, tais como a hidráulica e a nuclear, se transformam em elétricas mediante
eletroímãs de orientação variável que produzem correntes alternadas. Essas correntes são conduzidas com o
auxílio de cabos de alta tensão, com milhares de volts de potência.
Normalmente, a eletricidade é utilizada como fonte de energia em diversos tipos de motores com múltiplos
usos, cuja enumeração seria interminável: eletrodomésticos, calefação, refrigeração de ar, televisão, rádio etc.
Nos centros de telecomunicação, a corrente elétrica funciona como suporte energético codificado que viaja por
linhas de condução para ser decifrado por aparelhos de telefonia, equipamentos de informática etc.

Energia elétrica. Junto com as energias mecânica, química e térmica, a eletricidade compõe o conjunto de
modalidades energéticas de uso habitual. De fato, como conseqüência de sua capacidade de ser transformada
de forma direta em qualquer outra energia, sua facilidade de transporte e grande alcance através das linhas de
alta tensão, a energia elétrica se converteu na fonte energética mais utilizada no século XX.

Ainda que a pesquisa de fontes de eletricidade tenha se voltado para campos pouco conhecidos, como o
aproveitamento do movimento e da energia dos mares, as formas mais generalizadas são a hidrelétrica, obtida
pela transformação mecânica da força de quedas d'água, e a térmica, constituída por centrais geradoras de
energia alimentadas por combustíveis minerais sólidos e líquidos.

Desde que se passou a utilizar eletricidade como fonte energética, sua produção experimentou um crescimento
vertiginoso. A importância dessa forma de energia se pode provar pelo fato de, modernamente, os países mais
industrializados duplicarem o consumo de energia elétrica a cada dez anos. Entre os países de maior produção
e consumo em todo o mundo estão os Estados Unidos, a Rússia, o Reino Unido e a Alemanha. Também
ostentam consideráveis índices de produção os países que dispõem de importantes recursos hídricos, como o
Canadá e a Noruega.

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