Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1. Introdução
Aplicado pela primeira vez em âmbito municipal, no início da década de 1980, no
Recife, capital do estado de Pernambuco, o instrumento de política urbana habitacional
chamado de ZEIS – Zona Especial de Interesse Social, buscava inicialmente associar
ações de melhorias na infraestrutura de favelas, com a legalização dessas áreas,
garantindo posse das terras aos seus moradores.
Atualmente, após se estabelecer em âmbito nacional, graças ao novo
ordenamento jurídico brasileiro previsto na Constituição Federal de 1988 e ao Estatuto
da Cidade, as ZEIS possuem aplicação ligada a um outro objetivo além da regularização
fundiária, que é reservar terras para produção habitacional. Consolidadas como um tipo
especial de zoneamento urbano, elas delimitam, tanto áreas previamente ocupadas por
assentamentos precários, como vazios urbanos com potencial para abrigar novas
moradias populares, podendo ser classificadas então, como ZEIS de áreas ocupadas ou
como ZEIS de áreas vazias.
É justamente por se tratar de um zoneamento urbano, que uma ZEIS é criada
pela Lei do Plano Diretor ou outra lei municipal, para interferir na forma de
aproveitamento do solo, podendo atingir áreas de uma cidade de maneiras distintas de
acordo com regras de parcelamento, uso e ocupação do solo, estabelecidas na própria
lei. Mesmo que essas normas sejam de certa forma, específicas, variando de município
ao município, todas possuem o mesmo direcionamento, que é destinar esses conjuntos
habitacionais, predominantemente à população de baixa renda, garantindo condições de
moradia digna a essas pessoas.
Por moradia digna, diversas interpretações podem ser feitas, já que esse termo
pode ser visto como algo subjetivo, onde cada pessoa elenca aquilo que lhe cabe ser
digno ou não. Mas mesmo estando ligado aos valores de cada um, muito provavelmente,
para grande parte das pessoas, um dos critérios que ajudam a estabelecer se uma
moradia é digna ou não, é a presença de infraestrutura básica no local onde a edificação
está inserida. Logo, espera-se sempre que uma ZEIS, ofereça essa infraestrutura aos
seus moradores.
A Lei nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979, em seu segundo artigo, no
parágrafo 6, inclusa no Estatuto da Cidade (2004), elenca quatro itens que devem ser
presentes em uma ZEIS, para que a mesma ofereça infraestrutura básica aos seus
moradores:
§ 6o A infraestrutura básica dos parcelamentos situados nas zonas
habitacionais declaradas por lei como de interesse social (ZHIS) consistirá,
no mínimo, de:
I – vias de circulação;
II – escoamento das águas pluviais;
III – rede para o abastecimento de água potável; e
IV – soluções para o esgotamento sanitário e para a energia elétrica
domiciliar. (Estatuto da Cidade, 2004)
3.2. Passeios
Figura 6: Todos os lotes foram entregues aos moradores, já com uma lixeira
Fonte: Arquivo pessoal
O loteamento foi entregue aos moradores, com calçadas de aproximadamente 2 metros
de extensão, todas feitas de concreto moldado in loco e tijolo cerâmico maciço e
circundando todas as quadras (Figura 5).
Há ainda em todas as esquinas rebaixo de guia para acesso de cadeirantes,
entretanto em alguns pontos, o estado de conservação do concreto encontra-se
degradado, dificultando o uso (Figura 5). Além dos rebaixos de guia as calçadas
possuem ainda uma lixeira por lote (Figura 6), além de espaços permeáveis destinados à
arborização (Figura 7).
Como o terreno onde foi implantado o loteamento era assolado por uma grande
depressão (Figura 11), esse tipo de traçado não foi a melhor opção para o local. Assim
como descrito por Mascaró (2003), o asfalto em menos de 6 anos já encontra-se
totalmente deteriorado. É o que nota-se na Figura 12, que apresenta uma imagem
constantemente vista no local.
Figura 12: Asfalto em má qualidade, com buracos que tomam quase toda a rua
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 13: Apenas uma via faz a ligação do conjunto com o município
Fonte: Google Maps
4.2. Passeios
Antes de ser entregue aos moradores, a construtora responsável pelo loteamento não se
preocupou com os passeios, entregando todos os lotes, sem execução de calçadas.
Coube a cada morador decidir se fazia ou não o calçamento do exterior do lote. Isso
resultou em uma falta de continuidade e despadronização do local (Figura 14), além
claro, da falta de acessibilidade.
É muito comum, encontrar entulhos, vegetação, e até mesmo cercas entre
calçadas, obrigando os pedestres a utilizarem a rua como espaço para locomoção.
Apesar da falta de uma área livre para circulação, a não existência de calçadas levou os
moradores a plantar corriqueiramente, espécies arbóreas, fazendo com que o Conjunto
Ettore Giovine possa ser considerado, em alguns pontos, bem arborizado, para um
loteamento tão recente.
6. Conclusão
A partir das informações levantadas e análises realizadas, conclui-se que apesar dos dois
conjuntos habitacionais abrigarem pessoas de mesmo poder aquisitivo, as realidades
quando se trata de infraestrutura são totalmente diferentes, provando a importância do
urbanismo, de um planejamento e de um projeto bem feito, no funcionamento bem
sucedido de um loteamento.
O Conjunto Habitacional Vila Operária II, existe a somente 3 anos, e justamente
por ter sua estrutura viária pensada para atender àquele determinado terreno, com boa
infraestrutura nos passeios e ser inserido em uma área já consolidada do município, que
ele ainda se mantém em bom estado, servindo de exemplo entre as ZEIS construídas
recentemente em Paranavaí. Ele não está livre de problemas, já que possui vazios
urbanos que poderiam dar lugar a diversos espaços públicos para os moradores, mas ao
menos, quando foi entregue a esses, não possuía problemas iminentes apenas esperando
para estourar.
Já o Conjunto Habitacional Deputado Flavio Ettore Giovine, ao contrário do
exemplo anterior, não foi bem planejado, a começar pela sua localização, sem qualquer
articulação com a malha viária, segregando a população do restante da cidade. Não há
qualquer interação socioespacial de seus moradores com o entorno, e muito menos dos
moradores do entorno com quem vive ali, já que o local ganhou uma má fama devido à
falta de segurança (Figura 16) que esse isolamento causou, recebendo até mesmo o
apelido de “Cidade de Deus”. É como se o bairro fosse um estado além de Paranavaí,
onde as leis do município não se aplicam. E os problemas vão além disso, a falta de
calçadas no projeto original, e o traçado sem levar em consideração o relevo, não são
deficiências que apareceram com o tempo, mas que estão ali, antes mesmo de sua
ocupação.
Com isso é possível perceber como o planejamento e a presença de
infraestrutura de qualidade em ZEIS contribuem para o crescimento e desenvolvimento
desses espaços. Se há uma boa infraestrutura a chance do loteamento evoluir e se tornar
uma área consolidada dentro do município é muito maior.
Figura 16: Edificações destruídas no Conjunto Ettore Giovine devido à falta de
segurança
Fonte: Arquivo pessoal
7. Referências
PARANAVAÍ. Lei complementar Nº 08/2008. Dispõe sobre o Plano Diretor e define
princípios, políticas, estratégias e instrumentos para o desenvolvimento municipal e
para o cumprimento da função social da propriedade no Munícipio de Paranavaí e dá
outras providências. Prefeitura do Município de Paranavaí, Paranavaí, 20 nov. 2008.
SOUSA, F. L. L. Estudo sobre as ZEIS/Zonas Especiais de Interesse Social de
Teresina. Disponível em: <http://leg.ufpi.br/21sic/Documentos/RESUMOS/
Modalidade/Exatas/Fernanda%20Larissa.pdf> Acesso em: 08 de jun de 2017.
ROMEIRO, P. S. Zonas Especiais de Interesse Social: materialização de um novo
paradigma no tratamento de assentamento informais ocupados por população
de baixa renda. Disponível em: <http://dominiopublico.mec.gov.br
/download/teste/arqs/cp135509.pdf> Acesso em: 08 jun de 2017.
BRASÍLIA. Estatuto da Cidade e legislação correlata. Dispositivos Constitucionais. Lei
nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Lei nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979. Senado
Federal, Secretaria Especial de Editoração e Publicações, e Subsecretaria de Edições
Técnicas. Brasília, 2004.
Habitação – Rogério Lorenzetti realiza, nesta segunda-feira, entrega das 180 casas do
Conjunto Vila Operária II. Blog do Joaquim de Paula. Disponível em:
<http://joaquimdepaula.com.br/index.php/2014/06/habitacao-rogerio-lorenzetti-
realiza-nesta-segunda-feira-entrega-das-180-casas-do-conjunto-vila-operaria-ii/>
Acesso em: 08 jun 2017.
Programa Minha Casa Minha Vida entrega 316 casas em Paranavaí. Zeca Dirceu.
Disponível em: <http://www.zecadirceu.com.br/noticias_view.php?id=7738> Acesso
em: 08 jun de 2017.