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* Psicólogos, Doutorandos e Mestres em Psicologia pela Universidade Federal da Paraíba, Brasil. Contato: jandilsonsilva@gmail.com
** Psicológa, Professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal da Paraíba, Brasil, e Doutora em Neuropsiquiatria e Ciências
do Comportamento pela Universidade Federal do Pernambuco, Brasil.
*** Professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal da Paraíba, Brasil, e Doutor em Neurociências e Comportamento pela
Universidade de São Paulo, Brasil.
Para citar este artículo: Silva, J. A, Galdino, M. K. C., Gadelha, M. J. N., Andrade, M. J. O., & Santos, N. A. (2013). Revisão sobre o proces-
samento neuropsicológico dos atributos tonais da música no contexto ocidental. Avances en Psicología Latinoamericana, 31 (1), pp. 86-96.
study of sensory and perceptual processes of hearing, homens das cavernas, seja como estimulante ou co-
or changed unharmed, has been Neuroscience, which mo relaxante, e ainda como facilitador dos contatos
is interested in the interaction between the brain areas sociais. No homem primitivo, a linguagem musical,
corresponding to different cognitive processes. Thus, de forma rudimentar, precedeu a linguagem falada
the purpose of this study was to review the studies that (Deus & Duarte, 1997).
dealt processing models of the attributes of tonal Western Segundo Omar, Hailstone, Warren, Crutch e
music, based on the conception that neuropsychological Warren (2010), o conhecimento da música é mul-
neural structures are interdependent sensory pathways. tidimensional, envolvendo ramos como compo-
Keywords: auditory perception, musical processing, sições, instrumentos e notações musicais. Ainda
pitch perception, neuroscience. assim, a música é considerada uma linguagem
universal, na medida em que sua percepção glo-
Resumen bal ocorre mesmo que não se tenha realizado uma
preparação formal para isso (Deus & Duarte, 1997;
En los últimos años se han llevado a cabo gran número Ogasawara, 2008; Rui & Steffani, 2007).
de discusiones acerca del procesamiento de la música. Além das questões antropológicas e sociais
Se afirma, por un lado, la existencia de un único sistema relacionadas ao entendimento da música enquanto
para la aprehensión de la música o de cualquiera de sus produto final, questões mais específicas ligadas
atributos por el sistema nervioso central. Por otra parte, ao processamento de seus atributos componentes
se aduce la existencia de sistemas múltiples y diversos devem ser mencionados. A percepção da música
para la comprensión de cada uno de los aspectos de la se trata do processamento de ondas sonoras den-
música. En general, con independencia del modelo de- tro de uma linguagem musical, e deste modo está
finido, los estudios centrados en el procesamiento de los pautada na percepção sonora de aspectos físicos do
componentes sonoros, específicamente de los tonos mu- som. Em termos neuropsicológicos, isso significa
sicales, pueden aclarar el funcionamiento básico del sis- que qualquer música pode ser decomposta em seus
tema auditivo y otras funciones superiores del cerebro. atributos principais para que seja processada exter-
En este sentido, uno de los enfoques más importantes na (por meio dos órgãos sensórios respectivos) e
en el estudio de los procesos sensoriales y perceptivos internamente (por meio do encéfalo) pelo Sistema
de la audición, normales o patológicos, ha sido la neu- Nervoso Central (SNC). Dessa forma, a Neurociên-
rociencia, la cual se interesa en la interacción entre las cia, enquanto área que se preocupa com as relações
áreas del cerebro que corresponden a diferentes procesos entre SNC e os aspectos sensoriais, perceptivos e
cognitivos. Por lo tanto, el propósito de este estudio fue cognitivos tem se destacado ao longo dos anos,
revisar los estudios que se ocupan de los modelos de desde os primeiros estudos experimentais acerca da
procesamiento de los atributos de la música occidental música, na formulação de modelos de compreensão
tonal, basados en la idea de que las estructuras neurales do processamento musical (Goldstein, 2007; Kan-
son interdependientes de las vías sensoriales. del, 2003; Levitin, 2010; Schiffman, 2005).
Palabras clave: percepción auditiva, procesamiento A música começou a ser observada em pesqui-
musical, percepción tonal, neurociencia sas de laboratório por volta do século XIX (Cam-
pos, 2006). Em 1865, Boillaud realizou um dos
primeiros estudos acerca da neuropsicologia dos
Os indivíduos são constantemente impelidos a atributos musicais. Ele registrou em sua pesquisa
perceber, distinguir e identificar os sinais do meio vários casos de diferentes tipos de deficiências na
ambiente acústico (Overath et al., 2007). A música compreensão dos diversos atributos musicais de-
é compreendida como a arte de combinar sons e correntes de lesões no cérebro de indivíduos de sua
coordenar fenômenos acústicos de maneira cômo- época (Andrade, 2004).
da e prazerosa aos ouvidos (Machado & Borloti, Nas últimas décadas, particularmente, tem sido
2009). Para Deus e Duarte (1997), ela é também um crescente o interesse no estudo das bases cognitivas
elemento cultural que tem sido encontrado desde os e neurológicas do processamento musical (Omar
et al., 2010). Esses estudos vão da acústica, que é caloso na parte mais frontal (responsável por impli-
a ciência propriamente dita do som, passando pela cações motoras e cognitivas), ou da área de Broca
psicoacústica, que é o estudo de como o cérebro (associada com a linguagem e com os processos
percebe o som, até os estudos em psicoacústica viso-espaciais).
musical, que examinam aspectos da percepção e Rodrigues, Guerra e Loureiro (2006), do mes-
da performance musicais (Campos, 2006). Nesse mo modo, realizando comparações neurológicas
último campo são importantes as pesquisas relacio- entre músicos e não músicos sugerem a atuação
nadas à fonologia musical, que tratam de estudar de determinadas regiões encefálicas responsáveis
o processo de agrupamento e de incremento dos por outras atividades cognitivas no processamento
sons básicos na formação de peças musicais mais musical. Os autores encontraram alterações anatô-
complexas (Ogasawara, 2008). micas e funcionais, representadas pelo aumento de
Dessa forma, portanto, o estudo do processa- tamanho ou da taxa de funcionamento nos campos
mento musical em suas bases neurais tem sido do plano temporal do hemisfério esquerdo do cé-
importante na apreensão desses processos sensório- rebro, da região anterior do corpo caloso (Schlaug,
perceptivos e cognitivos da audição, ilesos ou alte- Jäncke, Huang & Steinmetz, 1995a; 1995b), e do
rados. O conhecimento a respeito do processamen- cerebelo (Schlaug, 2001). As alterações encontra-
to musical pode ser importante referente na discus- das no cerebelo foram vistas apenas em pessoas do
são de questões sociais, clínicas e neurobiológicas sexo masculino.
relacionadas aos aspectos auditivos (McDermott O estudo de Elbert, Pantev, Wiendbruch, Rock-
& Oxenham, 2008; Omar et al., 2010). E deste stroh e Taub, (1995) mostrou que existe uma maior
modo, o objetivo desta pesquisa foi revisar estu- representação dos dedos da mão esquerda de vio-
dos que tratassem dos modelos de processamento linistas no córtex sensorial primário, bem como
dos atributos da música ocidental, baseando-se na uma maior representação cortical auditiva para tons
concepção de que as estruturas neurais são inter- tocado no piano (Pantev et al., 1998). Nessas pes-
dependentes das vias sensoriais, e que, portanto, quisas, as citadas áreas aparecem como mais des-
servem de base para o processamento auditivo de envolvidas quanto mais jovens as pessoas tenham
forma geral, bem como para seus aspectos mais começado a realizar estudos musicais (Rodrigues,
específicos como o processamento musical. Guerra, & Loureiro, 2006).
Em outros estudos (Schmithorst & Holland,
Processamento neuropsicológico 2003; Sluming, Barrick, & Howard, 2002) foram
dos atributos musicais revelados aumentos na densidade de substância
cinzenta da área de Broca, importante para a lin-
Dentro das neurociências há quem considere a guagem falada e para as localizações espaciais,
música como produto de um arranjo cerebral que visuais e auditivas. Foi encontrado também o uso
é usado também para outros processos cognitivos de diferentes redes neurais nas regiões parietais
(Pinker, 1999), enquanto que outros analisam a inferiores para a percepção de harmonia e melodia,
existência de organizações neurológicas especí- respectivamente nas áreas 39 e 40 de Brodmann,
ficas que podem estar ligadas à percepção da mú- envolvidas também no processamento visuoespa-
sica (Peretz, 2001; Zatorre, 2001). Estes últimos cial. Segundo Trainor et al. (2002), entre as muitas
acreditam que o córtex auditivo é configurado para regiões do encéfalo que estão envolvidas no proces-
extrair informações específicas da música (Trainor, samento melódico, incluem-se as regiões temporal
McDonald & Alain, 2002). e frontal, e o tálamo.
Andrade (2004), por exemplo, sugere que o trei- Independente das especializações neurais, a
namento da performance musical pode desenvolver compreensão do processamento musical no en-
habilidades espaciais e matemáticas. Ele indica que céfalo produz esclarecimentos importantes sobre
podem ocorrer alterações plásticas nos cérebros dos o funcionamento básico do córtex auditivo e das
músicos, como o aumento das conexões do corpo funções cerebrais superiores. A audição musical,
além de envolver mecanismos perceptuais básicos às afasias (que se tratam das inabilidades na fala)
no processamento dos eventos auditivos, envolve (Andrade, 2004).
outros aspectos da cognição (Andrade, 2004). As disfunções nas capacidades musicais são
Elementos básicos da música, como contornos dificilmente aludidas entre os problemas neuropsi-
(padrões de subida e de descida das notas musicais) cológicos, principalmente pela pouca quantidade de
e intervalos (distância de tom entre as notas musi- testes adequados para avaliação dessas habilidades.
cais) melódicos são codificados automaticamente, No entanto, a performance musical pode contribuir
inclusive pelo cérebro de não músicos (Trainor et de forma importante para a avaliação operacional
al., 2002). No entanto, Trainor, Desjardins, e Roc- das atividades cognitivas (Correia et al.,1998).
kel (1999) afirmam que a detecção de mudanças De acordo com Omar et al. (2010), os mecanis-
nos intervalos melódicos depende de formação mos cerebrais que processam o significado da músi-
musical, enquanto que o contorno melódico é pro- ca têm sido abordados principalmente por imagens
cessado de forma semelhante para qualquer pessoa. das funções cerebrais e por análises eletrofisiológi-
A música, do mesmo modo que a linguagem ver- cas de indivíduos que não sofreram nenhum tipo de
bal, consiste na organização intencional dos sons ba- lesão cerebral, e em estudos clínicos de indivíduos
seada na modulação de suas propriedades espectrais com lesão cerebral focal. Segundo Correia et al.
(tons) e temporais (ritmo) para a produção de um (1998), a correlação entre elementos perceptuais
significado (Andrade, 2004). Deste modo, modelos e a dominância cerebral possibilitam uma melhor
derivados da compreensão dos elementos verbais compreensão das funções cognitivas tanto em re-
têm sido aplicados aos domínios de conhecimento lação ao papel dos hemisférios cerebrais, quanto
não-verbal, como a música (Omar et al., 2010). da colaboração funcional entre ambos. Segundo o
Para Omar et al. (2010), a música é comparável modelo do processamento musical de Peretz (2001),
à linguagem falada, em complexidade, na sua ex- ambos os lobos temporais estão envolvidos. Nesse
tensa utilização de artifícios sensoriais e símbolos modelo, o hemisfério direito atua no processamento
abstratos, e na riqueza das suas associações semân- tonal (particularmente, a parte central do giro tem-
ticas. A neuropsicologia do conhecimento musical, poral superior, onde se localiza o córtex auditivo
por exemplo, tem sido fortemente influenciada primário, e as áreas circundantes, do córtex auditivo
pelo estudo de pacientes com déficit verbal. No secundário). Já o hemisfério esquerdo, atuaria no
entanto, embora existam muitas semelhanças for- processamento temporal. Acredita-se também que
mais entre a música e a língua falada, os processos exista uma organização dos hemisférios de forma
cognitivos que as sustentam são independentes hierárquica de modo que o funcionamento se dá do
(Correia, Muszkat, Vicenzo, & Campos, 1998), hemisfério direito para o esquerdo (Andrade, 2004).
e os mecanismos do cérebro responsáveis pelas Porém, de acordo com Correia et al. (1998), a
mesmas, permanecem controversos. No domínio performance de músicos para alguns desses aspec-
da música, o quadro é ainda menos visivelmente tos musicais pode se dar de forma diferente da po-
definido. Embora pareça claro que ela tem uma pulação em geral, já que eles possuem um histórico
arquitetura modular na organização cognitiva, ou de aprendizagem e treinamento nesta área. Assim,
seja, seus diferentes atributos são compreendidos os músicos podem desenvolver o conjunto de ha-
por processos diferentes, o status desses módulos e bilidades musicais nos dois hemisférios cerebrais.
suas supostas relações neuropsicológicas ainda são
amplamente debatidas (Omar et al., 2010). Estudos desenvolvidos sobre
Análises criteriosas de estudos em pacientes os atributos sonoros tonais no contexto
com danos neurológicos sugerem que a percepção da música ocidental
musical envolve ambos os hemisférios cerebrais.
Sugerem também que as amusias (um tipo de ag- Para Trainor et al. (2002), os elementos ou atributos
nosia auditiva, na qual a pessoa não é capaz de re- sonoros são codificados através das informações
conhecer melodias) geralmente ocorrem associadas gerais do contorno melódico, que consistem nos pa-
drões de mudanças do tom para cima ou para baixo nageando mais uma vez São João Batista (Sancte
sem levar em conta o tamanho dos mesmos e das Iohannes). Já o Dó foi inserido em uma revisão
informações específicas de intervalo que consistem desse sistema de notação no século XVII, pelo
na distância exata da altura entre os tons sucessivos. músico italiano Doni. A mudança se deu porque o
Os contornos melódicos são cruciais tanto para músico acreditava que era difícil solfejar (realizar
a compreensão da prosódia da fala quanto para o a leitura das notas musicais) com a nota Ut, por
entendimento da estrutura musical. Contudo, as terminar em uma consoante surda, substituindo-a
informações de intervalo são privativas para a assim pela sílaba inicial de seu nome.
música, permitindo o surgimento de estruturas es- Além desse grupo de notas musicais padrão,
calares e harmônicas, e de sequências de tons que existem suas variações que são chamadas semitons
distinguem os diferentes sistemas musicais (Trainor por se localizarem entre elas. Os semitons corres-
et al., 2002). pondem às teclas pretas e são representados pela
Na atualidade, a escala ocidental utilizada é a própria nota musical acrescido dos símbolos “b”
que foi criada por J. S. Bach (1685-1750) que pa- (bemol) quando o semitom é considerado de forma
dronizou as frequências das notas musicais através descendente em relação a uma nota musical especí-
de uma regra lógica. Essa escala é chamada de fica e “#” (sustenido) quando de forma ascendente
Escala Musical Dodecafônica, por ser constituída (Goldstein, 2005; Mattos, 2010; Ulloa, 2008).
no piano por 12 sons equivalentes a teclas pretas O intervalo de frequências que abrange um con-
e brancas, cada uma delas tendo um aumento na junto de 13 teclas brancas e pretas no piano, refe-
frequência de aproximadamente 5 % em relação à rentes ao mesmo número de notas (de Dó a Dó), é
nota da tecla anterior (Levitin, 2010; Mattos, 2010). chamado de oitava, por conter oito teclas brancas.
O piano é o instrumento musical que possui uma Cada uma das notas musicais (os tons) e de suas
ampla extensão sonora, que é a faixa de variação variações (os semitons) corresponde a um valor
que vai da frequência mais baixa a mais alta (Via- específico de frequência do som. Quando se avança
na, 1998). Ele possui 88 teclas, sendo 52 brancas uma oitava (12 notas para frente) a frequência da
correspondendo aos tons, e 36 pretas correspon- nota dobra (Mattos, 2010).
dentes aos semitons (Viana et al., 1998). As teclas Na década de 50, convencionou-se o padrão de
brancas correspondem ao conjunto das sete notas 440 Hz para a nota Lá central, localizada na quarta
musicais padrão, que são: Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá oitava do piano, como referência para a afinação
e Si (Ulloa, 2008). de qualquer instrumento musical. Essa convenção
Segundo Sousa (2010) e Ulloa (2008), essa foi elaborada pela Organização Internacional de
notação musical tem suas origens na Idade Média, Padronização (International Standardizing Or-
quando um monge beneditino francês nascido no ganization - ISO). Na Tabela 1, são apresentadas
fim do século X, chamado Guido de Arezzo, elabo- as frequências das notas musicais localizadas na
rou um sistema simplificado com o intento de faci- oitava central do piano.
litar o ensino da escrita e leitura musical. Para isso, Ao longo da história da música ocidental, per-
ele aproveitou-se das iniciais dos versos em latim correram-se diferentes padrões em torno deste
da seguinte estrofe de um hino cantado em louvor valor. No entanto, na atualidade, as frequências de
ao santo católico João Batista: “Ut quant laxis / outras notas musicais em uma mesma oitava ou em
Resonare fibris / Mira gestorum / Famuli tuorum / oitavas diferentes são estabelecidas a partir deste
Solve polluti / Labii reatum / Sancte Iohannes” (Pa- valor padrão (Dourado, 2008; Ulloa, 2008). As
ra que teus servos / Possam, das entranhas / Flautas notas musicais são diferentes frequências sonoras
ressoar / Teus feitos admiráveis / Absolve o pecado relacionadas ao tom (Levitin, 2010).
/ Desses lábios impuros / Ó São João). O tom é uma sensação subjetiva, na qual um ou-
Segundo Lima (2008) e Sousa (2010) poste- vinte atribui ao som percebido uma posição relativa
riormente, o próprio Guido resolveu que a última em uma escala musical baseada principalmente na
nota musical deveria mudar de Sa para Si home- frequência de vibração. A Just-Noticeable Diffe-
Nessa direção, alguns outros estudos têm sido reita ou esquerda. Cinco humanos adultos (dois
realizados em termos de processamento do tom. No do sexo masculino, com idades entre 24-40 anos)
entanto, grande parte dessa literatura está voltada foram também testados em uma tarefa similar de
para o desenvolvimento de softwares utilizando discriminação de tom. Os ouvintes humanos que
a escuta de notas musicais para o treinamento da não possuíam experiência anterior superaram os
percepção musical tonal (Tomedi, 2002; Jesus, furões na presente tarefa, mas apontaram efeitos
Uriarte, & Raabe, 2007; Neto & Matos, 2009). similares quanto ao tipo de estímulo e de referência.
Contudo, uma série de estudos tem utilizado tam- Estes pesquisadores sugeriram, então, que quando
bém métodos que medem em animais ou humanos os animais podem ser treinados para nomear sons
a percepção e a discriminação do tom, o tempo de complexos, como mais altos ou mais baixos que
reação ao tom, as diferenças no processamento do determinado tom, essa tarefa pode ser muito mais
tom em diferentes gêneros, e/ou na utilização de difícil para os animais e que não se trata de uma
substâncias tóxicas, como as bebidas alcoólicas, simples detecção de mudança na frequência.
entre outras variáveis. Pfordresher e Brown (2009) exploraram a capa-
Sloan, Dodd & Rennaker (2009), analisando a cidade de utilização de tons na língua nativa para
habilidade de discriminação de sons, por exemplo, analisar as habilidades de imitação e discriminação
compararam a discriminação de frequências por de determinadas frequências sonoras. Eles conduzi-
ratos albinos em duas tarefas distintas. A primeira ram dois estudos sugerindo que os indivíduos cuja
requisitava a detecção de uma mudança instantâ- língua materna é uma língua tonal (na qual o tom
nea da frequência, relacionada à fase, dentro de um contribui para o significado da palavra), são mais
tom de referência permanente. A segunda requeria capazes de imitar e discriminar perceptivamente
a detecção de uma mudança de frequência entre as os tons musicais. Participaram do primeiro estudo,
reproduções de uma sequência de referência de tons no qual se comparou os resultados de falantes de
discretos repetidos. língua tonal (Mandarim, por exemplo) e não tonal
Para cada tarefa, o limiar diferencial de frequên- (Inglês), 12 estudantes universitários falantes de
cia foi medido em uma faixa de referência de 2.31 língua tonal com média de 19 anos, sendo metade
a 27.7 kHz a 60 dB em nível de pressão sonora, deles do sexo feminino, e 12 falantes de língua não
com deslocamentos de frequência para cima e para tonal com média de 21 anos. No segundo estudo
baixo. Todos os 24 indivíduos aprenderam rapida- participaram 22 estudantes, também universitários,
mente a primeira tarefa, mas apenas 13 aprenderam sendo metade deles falante de uma língua tonal (6
também a segunda. O desempenho dos sujeitos em mulheres e 5 homens), com média de 28 anos e a
cada uma delas melhorou em média com o aumento outra metade falantes de uma língua não tonal (5
da frequência de referência e, em ambas as tarefas mulheres e 6 homens), idade média de 20 anos.
os limiares de mudança ascendente da frequência Em cada estudo o participante passava por três
foram significativamente maiores do que os limia- testes diferentes. Um teste era de imitação de tons,
res de mudanças descendentes. e outros dois de discriminação de notas e de dis-
Já Walker, Schnupp, Sheelah, Hart-Schnupp, criminação de intervalos, respectivamente. Para a
King e Bizley (2009) treinaram quatro furões (Mus- discriminação de notas eram apresentados pares
tela putorius) para o método de escolha forçada de notas musicais, sendo a primeira sempre um
entre duas alternativas em uma tarefa de discri- Dó em quinta oitava e a segunda variando entre a
minação de sons que eram maiores ou menores mesma nota ou outra diferente da primeira que se
que um som de referência, utilizando tons puros alterava em frequências de 8, 15, 30, 61, 122, 183,
e vogais artificiais como estímulos. A tarefa dos e 250 Hz, de forma ascendente ou descendente. O
furões era indicar se a frequência fundamental do participante tinha que dizer “sim” quando o par
som-alvo era maior ou menor do que a referência de notas apresentado fosse composto por notas
ativando respectivamente bicos periféricos à di- diferentes, ou “não” quando fossem iguais. A dis-
criminação de notas nos dois estudos foi melhor Os intervalos eram indicados por caixas na tela
para os indivíduos que tinham como língua nativa do computador (denominadas 1 e 2). A resposta
uma língua tonal. poderia ser feita clicando em uma das duas caixas
Outro estudo realizado por Brancucci, Dipinto, usando o mouse do computador ou usando as te-
Mosesso, e Tommasi (2009), com cinquenta e dois clas “1”e “2” no teclado numérico. Moore e Vinay
músicos italianos voluntários (36 homens e 16 mul- (2009) concluíram que uma região morta para altas
heres) com média de idade de 25.2, analisou o fenô- frequências é associada com uma melhor capacida-
meno do ouvido absoluto. Esse fenômeno trata-se de de processar informações em baixas frequências.
da capacidade de nomear o tom de um som sem o Estes efeitos podem refletir a plasticidade cortical
uso de qualquer referência externa (Levitin, 2010). induzida pela zona morta.
Esse estudo avaliou se quando os indivíduos erra- Antunes e Gouveia Jr. (2009), em um estu-
vam na identificação de um tom musical tendiam a do com 17 homens e 17 mulheres que verificou
confundir mais frequentemente o nome da nota co- o desempenho em uma tarefa de discriminação
rrespondente com outro nome de nota que continha sonora, usando notas musicais, sugeriram que as
a mesma vogal (o que os experimentadores chama- habilidades musicais são diferentes nos homens e
ram de Mesmo Erro) do que com o nome do tom nas mulheres. Cada participante escutava 20 faixas
que continha uma diferente vogal (chamado de Erro de um CD, cada uma delas composta por 10 sons.
Diferente). Os pares de nota que podiam ser con- Cinco desses sons eram diferentes, e cinco eram
fundidos com base na vogal eram Dó-Sol, Si-Mi, iguais e estavam dispostos de forma intercalada
Fá-Lá. O número de “Mesmos Erros” cometidos foi entre os sons diferentes. O primeiro dos sons era
comparado com o número de “Erros Diferentes”. o modelo. Os participantes tinham que identificar
As respostas foram dadas em dois testes distintos. qual dos sons diferentes apresentados em cada faixa
Em um primeiro, todos os nomes das notas estavam equivalia ao estímulo modelo, que eram sempre
dispostos na tela de um computador, e após ouvir o terças e quintas harmônicas retiradas das duas oi-
som, o participante deveria clicar no nome da nota tavas centrais do piano. Antunes e Gouveia Jr. não
que ela acreditava ter ouvido. No segundo teste era encontraram diferenças estatísticas significantes
apresentado um teclado sem indicação do nome das entre o desempenho de homens e mulheres, no
notas, e o participante deveria clicar sobre a tecla entanto, concluíram que as mulheres apresentam
que ele acreditava ser correspondente ao tom que melhor desempenho quando não possuem expe-
ele tinha ouvido. Os resultados de Brancucci et al. riência prévia na discriminação de sons e os ho-
mostraram que os músicos que não possuíam ou- mens apresentam melhor desempenho quando são
vido absoluto confundiam mais frequentemente as experientes neste aspecto.
notas que tinham uma vogal semelhante no nome. Diferentemente, Zaidan, Garcia, Tedesco e Ba-
Eles tendiam a confundir, por exemplo, um tom de ran (2008), realizaram um estudo comparativo de
261 Hz (Dó) mais frequentemente com a nota Sol gênero do desempenho de 25 universitários, sen-
do que, um Sol com um Lá. do 11 homens e 14 mulheres, a partir de testes de
Moore e Vinay (2009) testaram dois grupos de resolução temporal, no qual encontrou diferenças
sujeitos com e sem lesões na porção basal da có- entre homens e mulheres. Eles utilizaram os testes
clea, região responsável por processar os sons de Random Gap Detection Test (RGDT) e Gapsin-
alta frequência. Doze indivíduos de 22 a 74 anos Noise (GIN), que analisam o tempo de reação a
diagnosticados com perda auditiva neurossensorial determinadas frequências sonoras. Tanto o RGDT
para frequências altas participaram do estudo. Eles quanto o GIN têm por objetivo a determinação do
utilizaram o método da escolha forçada entre duas limiar de um “gap” (intervalo de silêncio) medido
alternativas. A tarefa do participante era escolher em milisegundos (ms) a partir de sua apresentação
a alternativa em que um som mudava ao longo de binaural inserido entre pares de tons puros. Em
quatro apresentações dentro de um intervalo de ambos, o gap aumenta e diminui de duração alea-
tom. toriamente e o participante é orientado a dizer se
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