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TIPOLOGIA, COMPOSIÇÃO E PECULIARIDADES DOS

RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS E ESPECIAIS


João Carlos Xavier de Brito

INTRODUÇÃO

Não é a toa que a legislação americana proíbe que pessoas não vinculadas à
limpeza urbana examinem ou vasculhem o lixo das residências. Um exame
cuidadoso do lixo gerado em uma casa conduz à identificação quase completa do
“status” dos seus moradores e de suas condições sócio-econômicas, através do
conhecimento de seus hábitos, do tipo de alimentação preferido, dos
supermercados utilizados, dos bancos usados nas transações comerciais, das
lojas onde se fazem as compras, das doenças dos moradores (se houver alguma)
e podendo chegar até ao ponto de identificar o comportamento sexual dos
moradores.
Quando se projeta um sistema de limpeza urbana, com muito mais razão, é de
fundamental importância o conhecimento dos resíduos a serem trabalhados, não
só com vistas ao conhecimento dos habitantes da cidade ou região, mas também
de uma forma mais objetiva, com o intuito de se dimensionar adequadamente
cada um dos sub-sistemas a serem implementados. De fato, as características
dos resíduos sólidos a serem coletados e destinados interferem diretamente em
cada um dos serviços de limpeza urbana, desde a estruturação do órgão
responsável pelos serviços até a destinação final dos resíduos, passando pela
tarifação, manuseio, acondicionamento, estocagem, coleta, transporte e
tratamento. A Tabela 1, a seguir, dá uma idéia da influência das características
do lixo nos diversos serviços de limpeza.

Tabela 1
INFLUÊNCIA DAS CARACTERÍSTICAS DO LIXO NOS SERVIÇOS DE LIMPEZA

CARACTERÍSTICAS IMPORTÂNCIA
Importante para todo o sistema de gestão de resíduos sólidos,
com influência direta no planejamento.
Fundamental no dimensionamento de veículos e instalações.
Geração per capita
Elemento básico para a determinação da taxa de coleta e
destinação dos resíduos sólidos.

Indica a possibilidade de aproveitamento das frações


recicláveis e da matéria orgânica.
Composição Gravimétrica Quando realizada por regiões da cidade, pode influenciar no
cálculo da tarifa de coleta e destinação final.

Ajuda a indicar a forma mais adequada de destinação final.


Composição Química
Fundamental para o correto dimensionamento da frota de
Peso Específico Aparente coleta.

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(continuação Tabela 1)

CARACTERÍSTICAS IMPORTÂNCIA
Muito importante para o dimensionamento de veículos
Compressividade coletores e caçambas compactadoras.

Tem influência direta sobre a velocidade de decomposição da


matéria orgânica no processo de compostagem.
Influencia diretamente o poder calorífico e o peso específico
Teor de Umidade
aparente do lixo.
Diretamente relacionado com a produção de chorume.

Indica a possibilidade de aproveitamento do lixo para a


Teor de Matéria Orgânica produção de composto orgânico.

Influencia o dimensionamento das instalações de incineração.


Poder Calorífico

CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

O conhecimento dos resíduos sólidos gerados em uma cidade começa pela


classificação dos mesmos.
São várias as maneiras de se classificar os resíduos sólidos. As mais comumente
utilizadas são: quanto ao risco ambiental, quanto à origem e quanto à natureza
física.

A- Quanto aos Riscos Potenciais de Contaminação do Meio


Ambiente

De acordo com a NBR 10.004, os resíduos sólidos podem ser classificados em:
• Classe I ou Perigosos: são aqueles que, em função de suas
características intrínsecas de inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxicidade ou
patogenicidade, apresentam riscos à saúde ou
ao meio ambiente.
• Classe II ou Não Inertes: são os resíduos sólidos que podem
apresentar características de combustibilidade,
solubilidade ou biodegradabilidade, com
possibilidade de acarretar riscos à saúde ou ao
meio ambiente, não se enquadrando nas
classificações de resíduos Classe I (perigosos)
ou Classe III (inertes).
• Classe III ou Inertes: são aqueles que, por suas características
intrínsecas, não oferecem riscos à saúde e que
não apresentam constituintes solúveis em água
em concentrações superiores aos padrões de
potabilidade.

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B- Quanto à Origem

A origem é o principal elemento para a caracterização dos resíduos sólidos.


De acordo com esta classificação, os resíduos podem ser agrupados em quatro
classes, a saber:

I) Lixo Doméstico ou Residencial1


Composto pelos resíduos gerados nas atividades diárias em casas,
apartamentos, condomínios e moradias de qualquer natureza.
II) Lixo Comercial1
É o lixo produzido em estabelecimentos comerciais, cujas características
dependem da atividade ali desenvolvida.
III) Lixo Público1
São os resíduos da varrição, capina, raspagem, poda de árvores e outros
serviços, provenientes dos logradouros públicos, bem como móveis
velhos, restos de cerâmica, entulho de obras2 e outros materiais
inservíveis deixados pela população, indevidamente, nas ruas ou
retirados das residências através de serviço de remoção especial.
IV) Lixo de Fontes Especiais
Considerado como o lixo que, em função de determinadas características
peculiares que apresenta, passa a merecer cuidados especiais em seu
manuseio, acondicionamento, estocagem, transporte ou disposição final.
Dentro desta categoria merecem destaque os seguintes tipos de
resíduos:
* Lixo Industrial, que são os resíduos originados nas atividades dos
diversos ramos da indústria. A composição destes resíduos é
extremamente variável, em função da atividade industrial exercida e,
na maioria das vezes, se enquadra na Classe I.
* Resíduos de Serviços de Saúde (mais conhecidos como Lixo
Hospitalar), que são os resíduos gerados em estabelecimentos
destinados à prestação de assistência sanitária à população. São os
resíduos provenientes de atividades médicas, paramédicas,
farmacêuticas, odontológicas e afins, realizadas em hospitais, clínicas,
casas de saúde, prontos-socorros, ambulatórios, postos de saúde,
laboratórios, farmácias, drogarias, consultórios, clínicas veterinárias e
congêneres. Este tipo de resíduo possui classificação própria (Norma
NBR 12.808 da ABNT - apresentada em anexo).
* Resíduos Radioativos, que são os resíduos que contem metais
radioativos como o césio, lítio e urânio. No Brasil, o manuseio, coleta,
transporte e destinação destes resíduos está normatizada pelo CNEN
(Conselho Nacional de Energia Nuclear).

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* Resíduos Agrícolas, também conhecidos como Resíduos
Agrotóxicos, que são os resíduos sólidos provenientes de atividades
agrícolas e pecuárias, como embalagens de adubos, restos de
defensivos agrícolas, pesticidas, rações, esterco animal e restos de
colheita.
* Lixo de Portos, Aeroportos e Terminais Rodoviários,
constituído pelos resíduos sépticos ou potencialmente sépticos trazidos
aos terminais de portos, aeroportos e rodoviários. Basicamente
originam-se de materiais de asseio pessoal e restos de alimentação que
podem veicular doenças de outras cidades, estados e países.

OBSERVAÇÕES:
1) Nas atividades de limpeza urbana, os tipos doméstico e comercial
constituem o chamado lixo domiciliar, que junto com o lixo público,
representam a maior parcela dos resíduos sólidos produzidos nas
cidades. É muito comum se encontrar o enquadramento do lixo domiciliar
na Classe III (resíduos inertes), entretanto o correto enquadramento
deste tipo de resíduo é na Classe II (resíduos não inertes), face às
características poluidoras do chorume e de outros materiais que se
acham dispersos no meio da massa do lixo domiciliar, como lítio e cádmio
(pilhas e baterias), tintas e solventes (restos de material de pintura),
inseticidas e pesticidas (produtos para jardinagem e para proteção de
animais), frascos de aerossóis e lâmpadas fluorescentes.
2) Na maioria das cidades de grande porte, como quase todas as capitais, a
quantidade de entulho de obras é tão grande que estes resíduos são
tratados em separado. O entulho pode ser definido como os resíduos
provenientes das atividades de construção civil, como escavações,
construções e demolições. Estes resíduos normalmente se enquadram
na Classe III - resíduos inertes, existindo o entulho “sujo” (misturado) e o
entulho “limpo” (só resto de obra civil, sem metais, madeiras e outros
materiais).

C- Quanto à Natureza Física

A classificação quanto à natureza física é muito utilizada quando se trata de


reciclagem ou coleta seletiva. Segundo esta classificação, os resíduos podem ser:

 Resíduo Úmido ou Lixo Orgânico, constituído pela matéria orgânica


presente no lixo, como restos de comida, folhas de árvores e outros.

 Resíduo Seco ou Lixo Inorgânico, representado pela fração dos


demais componentes do lixo, normalmente constituída de materiais
recicláveis e rejeitos inertes.

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CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

As características dos resíduos gerados variam conforme a cidade, em função de


diversos fatores, como o porte, a atividade dominante (industrial, comercial e
turística), os hábitos e costumes da população (principalmente quanto à
alimentação e ao nível educacional) e o clima.
Além disto, as cidades se transformam sem parar. Dentro de uma mesma
comunidade, as características vão se modificando com o decorrer dos anos,
tornando necessários levantamentos periódicos visando a atualização das
características dos resíduos gerados.
As características dos resíduos podem ser reunidas em três grupos, a saber:
características físicas, químicas e biológicas.
Destes três grupos, o mais importante de todos é o das características físicas,
por influenciar em todos os aspectos da gestão dos resíduos sólidos.

A- Características Físicas

As principais características físicas são:


• Geração Per Capita: relaciona quantidade de resíduos urbanos gerada
diariamente e o número de habitantes de determinada região. Muitos
técnicos consideram de 0,5 a 0,8 kg/habitante/dia como a faixa de
variação média para o Brasil. É a característica que mais varia com o
crescimento das cidades. No Rio e em São Paulo, o per capita de lixo está
na faixa de 1,0 kg/hab.dia, enquanto que Tóquio e Nova Iorque estão na
faixa de 1,3 kg/hab.dia. Outro erro muito comum cometido por alguns
técnicos é correlacionar a geração per capita somente ao lixo domiciliar
(doméstico + comercial), em lugar de correlacioná-lo aos resíduos
urbanos (domiciliar + público + entulho, podendo até incluir os resíduos
de serviços de saúde).
• Composição Gravimétrica: traduz o percentual de cada componente
em relação ao peso total da amostra de lixo analisada. Os componentes
mais utilizados na determinação da composição gravimétrica dos
resíduos sólidos urbanos são os apresentados na Tabela 2. Entretanto,
muitos técnicos se utilizam de uma determinação simplificada, contando
somente com alguns poucos componentes, como: papel/papelão;
plásticos; vidro; metais; matéria orgânica e outros. Este tipo de
composição simplificada, embora possa ser usada no dimensionamento
de uma usina de compostagem e de outras unidades de um sistema de
limpeza urbana, não se presta, por exemplo, a um estudo de reciclagem
ou de coleta seletiva, já que o mercado de plásticos rígidos é bem
diferente do mercado de plásticos maleáveis, assim como os mercados
de ferrosos e não ferrosos. Da mesma forma, este tipo de composição
gravimétrica não se presta ao dimensionamento de unidades de
aproveitamento de pneus e elastômeros em geral.

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TABELA 2
RELAÇÃO DE COMPONENTES MAIS COMUNS DA COMPOSIÇÃO GRAVIMÉTRICA

Papel e Papelão Madeira


Plástico Rígido Borracha
Plástico Maleável Couro
Metal Ferroso Pano/Trapos
Metal Não Ferroso Ossos
Vidro Cerâmica
Matéria Orgânica Agregado Fino

• Peso Específico Aparente: é o peso dos resíduos em função do volume


por eles ocupados, expresso em kg/m3. Sua determinação é fundamental
para o dimensionamento de equipamentos e instalações.
• Teor de Umidade: medido em porcentagem em peso, esta
característica tem influência decisiva, principalmente nos processos de
tratamento e destinação do lixo. Varia muito em função das estações do
ano e da incidência de chuvas.
• Compressividade: também conhecida como Grau de Compactação, a
compressividade indica a redução de volume que uma massa de lixo
pode sofrer, quando submetida a uma pressão determinada e é utilizada
para o dimensionamento de equipamentos compactadores. A
compressividade do lixo situa-se entre 1:3 e 1:4 para uma pressão
equivalente a 4 kg/cm2.

B- Características Químicas

• Poder Calorífico: indica a capacidade potencial de um material


desprender determinada quantidade de calor quando submetido à
queima.
• Potencial Hidrogeniônico (pH): indica o teor de acidez ou
alcalinidade dos resíduos.
• Composição Química: que consiste na determinação dos teores de
cinzas, matéria orgânica, carbono, nitrogênio, potássio, cálcio, fósforo,
resíduo mineral total, resíduo mineral solúvel e gorduras: importante
conhecer, principalmente quando se estudam processos de tratamento
aplicáveis ao lixo.
• Relação Carbono/Nitrogênio: indica o grau de decomposição da
matéria orgânica do lixo nos processos de tratamento/disposição final.

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C- Características Biológicas

Que é a pesquisa da população microbiana e dos agentes patogênicos presentes


nos resíduos sólidos.
As características biológicas dos resíduos sólidos urbanos, ao lado das suas
características químicas, permitem que sejam selecionados os métodos de
tratamento e disposição mais adequados.
O conhecimento das características biológicas dos resíduos tem sido muito
utilizado no desenvolvimento de inibidores de cheiro e de
retardadores/aceleradores da decomposição da matéria orgânica normalmente
aplicados no interior de veículos de coleta para evitar ou minimizar problemas
com a população ao longo do itinerário dos veículos.
Da mesma forma, estão em desenvolvimento processos de destinação final e de
recuperação de áreas degradadas com base nas características biológicas dos
resíduos.

FATORES QUE INFLUENCIAM AS CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS


SÓLIDOS

É preciso tomar cuidado com os valores que traduzem as características dos


resíduos, principalmente no que concerne às características físicas, pois os
mesmos são muito influenciados por fatores sazonais, que podem levar o
projetista a conclusões equivocadas quanto à real contribuição de um
determinado parâmetro no total do lixo gerado na cidade. É fácil imaginar que
em época de chuvas fortes o teor de umidade no lixo tenda a crescer, ou que
haja um aumento do percentual de latinhas de cerveja no carnaval, ou ainda que
no outono o cresça o número de folhas a serem recolhidas. Em resumo:
A escolha da época certa para a realização da coleta e a sua repetitividade ao
longo dos anos é que dá confiança e reprodutibilidade aos dados obtidos.
Os principais fatores que exercem forte influência sobre as características dos
resíduos estão listados na Tabela 3 a seguir.

Tabela 3
FATORES QUE INFLUENCIAM AS CARACTERÍSTICAS DOS RESÍDUOS

FATORES INFLUÊNCIA
1 - Climáticos
• Chuvas Aumento do teor de umidade
• Outono Aumento do teor de folhas
• Verão Aumento do teor de embalagens de bebidas (latas, vidros e
plásticos rígidos)
2 - Épocas Especiais

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• Carnaval Aumento do teor de embalagens de bebidas (latas, vidros e
plásticos rígidos)
• Natal / Ano Novo / Páscoa Aumento de embalagens (papel/papelão e plásticos maleáveis
e metais)
Aumento de matéria orgânica
• Dia das Mães Aumento de embalagens (papel/papelão e plásticos maleáveis
e metais)
• Férias Escolares Esvaziamento de áreas da cidade em locais não turísticos
Aumento populacional em locais turísticos
3 - Demográficos
• População urbana Quanto maior a população urbana, maior a geração per capita
4 - Sócio-Econômicos
• Nível Cultural Quanto maior o nível cultural, maior a incidência de materiais
recicláveis e menor a incidência de matéria orgânica
• Nível Educacional Quanto maior o nível educacional, menor a incidência de
matéria orgânica
• Poder Aquisitivo Quanto maior o poder aquisitivo, maior a incidência de
materiais recicláveis e menor a incidência de matéria orgânica
• Poder Aquisitivo (no mês) Maior consumo de supérfluos perto do recebimento do salário
(fim e início do mês)
• Poder Aquisitivo (na semana) Maior consumo de supérfluos no fim de semana
• Lançamento de Novos Produtos Aumento de embalagens
• Promoções de Lojas Comerciais Aumento de embalagens
• Campanhas Ambientais Redução de materiais não biodegradáveis e aumento de
materiais biodegradáveis

No texto a seguir, alguns destes fatores serão analisados em maior profundidade,


com relação à sua influência sobre as características físicas dos resíduos sólidos,
dada a importância destas.

A- Aspectos Quantitativos

A quantidade de lixo gerada em uma cidade só pode variar de duas formas: com
a variação da geração per capita e com alterações do contingente populacional,
sendo que esta última ainda exerce uma certa influência sobre a primeira.

A.1 - Variação do Per Capita


Foi dito anteriormente que a taxa de geração de lixo per capita varia diretamente
com a população urbana de uma cidade. Na realidade, isto não é verdade. O que
ocorre realmente é que, com o desenvolvimento das cidades, melhoram as
condições sócio-econômicas da população, que passam a consumir mais e,
conseqüentemente, a gerar mais lixo.
É importante que se tenha este fato em mente porque no Brasil, devido à falta de
informações sobre resíduos sólidos, é muito comum os técnicos extrapolarem
dados de uma cidade para projetar o sistema de limpeza de uma outra cidade.

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É conveniente, e até intuitivo, que a geração per capita de uma cidade de
pequeno porte no interior paulista certamente será maior que o per capita de
uma cidade de mesmo tamanho na região do polígono das secas.
Analogamente, o per capita de uma cidade de grande porte da região norte-
paranaense não será muito menor que o per capita de Curitiba.

A.2 - Sazonalidade

Ao contrário do que pensa boa parte dos técnicos, a sazonalidade da geração de


resíduos sólidos não está restrita somente à variação do contingente
populacional em função do afluxo de turistas em fins de semana, feriados
prolongados e períodos de férias escolares ou do esvaziamento de determinadas
regiões quando por ocasião dos citados períodos.
Ela ocorre em qualquer tipo de cidade (não só as turísticas) ao longo dos dias da
semana e ao longo das semanas no mês, por força de hábitos da população local.
Desta forma, para efeito didático, a sazonalidade será estudada separadamente
nos dois tipos existentes: sazonalidade turística e sazonalidade não turística (ou
de hábitos).

A.2.1) Sazonalidade Não Turística

Como já se mencionou anteriormente, há uma forte tendência no mundo


ocidental a se consumir mais nos fins de semana, com o conseqüente aumento
da geração de lixo.
Por isto, a determinação do per capita de resíduos sólidos jamais poderá ser feita
numa segunda feira, pois, além do incremento na geração de resíduos, a maioria
dos serviços de limpeza urbana não opera no domingo, acarretando um acúmulo
de lixo a ser coletado na segunda feira.
Caso isto ocorra, todo o sistema projetado estará superdimensionado, a
quantidade de veículos será maior que a necessária, haverá mão de obra ociosa
e as instalações de tratamento e destinação final terão dimensões acima das
necessidades, causando um duplo prejuízo à Prefeitura contratante, pois além
das perdas no investimento inicial, o custo operacional deste sistema será mais
caro.
Com muito mais razão, vale a recomendação de jamais se efetuar o cálculo ou a
determinação de qualquer característica física dos resíduos urbanos no primeiro
dia após fins de semana prolongados.
Da mesma forma, recomenda-se que a determinação do per capita seja feita
entre os dias 10 e 20 do mês, uma vez que, o período de 25 a 10 do mês
seguinte reflete a época de recebimento salarial, ocasião em que há um maior
consumo por parte da população e, conseqüentemente, uma maior geração de
lixo e o período de 20 a 25 do mês espelha o período em que parte da população
está sem dinheiro, provocando um decréscimo no consumo e na geração de lixo.

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A.2.2) Sazonalidade Turística

A sazonalidade turística traduz-se por uma variação do contingente populacional


localizada no tempo, com a correspondente variação na quantidade de resíduos
coletada.
Este tipo de variação ocorre somente em termos de fins de semana, de feriados
ligados a festas populares e da época de férias escolares, sendo este último
período o de maior relevância na variação do per capita, exceção feita a cidades
onde o carnaval é forte atração turística (Rio de Janeiro e Salvador) e aquelas
onde as festas religiosas são marcantes (Juazeiro).
Com a sazonalidade turística anual, podem ocorrer dois fenômenos distintos: o
aumento populacional (sazonalidade positiva) e o esvaziamento da cidade
(sazonalidade negativa).
Nesta situação, ao se dividir o peso de lixo coletado pela população da cidade,
chega-se a uma geração per capita maior ou menor que a real, induzindo o
projetista a super ou subdimensionar o sistema de limpeza urbana.
Exemplos típicos de cidades que tem que lidar com a sazonalidade turística
positiva são as cidades litorâneas de uma forma geral e em especial as do litoral
nordestino, as cidades serranas e aquelas vinculadas a atrações turísticas
específicas, como a região do pantanal e as cataratas de Foz de Iguaçu.
Um exemplo típico de sazonalidade turística anual negativa é o da cidade de
Porto Alegre, onde nos meses de dezembro e janeiro, praticamente metade da
cidade se muda para a região das praias.
Na região litorânea da cidade do Rio de Janeiro ocorrem os dois fenômenos
simultaneamente, com uma sazonalidade positiva no período de novembro a
março e outra negativa no mês de setembro, quando há um “esvaziamento”
relativo da região provocado pela atratividade de preços da “baixa estação
turística” de outros locais.
Entretanto, a maior particularidade ligada a este tipo de sazonalidade é que, para
cidades de pequeno porte, as quantidades de lixo geradas podem chegar até a
três ou mais vezes o valor médio mensal determinado nos meses do restante do
ano, enquanto que as grandes cidades como Rio de Janeiro, Salvador, Natal e
Fortaleza, absorvem esta variação com relativa facilidade, pois as mesmas não
chegam a ultrapassar 50% da geração média mensal.
No caso do Rio de Janeiro, por exemplo, a região da orla marítima chega a gerar
o dobro da quantidade média mensal, mas, se comparada à quantidade total de
lixo gerado no município, este acréscimo não chega a 3%.
Já para a cidade de Búzios, na Região dos Lagos no Rio de Janeiro que possui
uma população residente fixa de aproximadamente 15.000 habitantes, este valor
ultrapassa a casa dos 50.000 habitantes nos meses de dezembro a fevereiro,
desestruturando completamente o serviço de coleta de lixo e de limpeza urbana
de uma forma geral.
Observe-se ainda que o aumento da geração de lixo não é diretamente
proporcional à geração per capita da população residente, pois os turistas, além
de terem um poder aquisitivo maior que o desta população, estão em período de
férias, com espírito propício a consumir.

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B- Aspectos Qualitativos

B.1 - Variações da Composição Gravimétrica

São três os grandes fatores que influenciam nas alterações da composição


gravimétrica dos resíduos sólidos urbanos: os hábitos populacionais, o “status”
sócio-econômico da população e o avanço da tecnologia de materiais.
Estes fatores, associados a campanhas de conscientização ambiental contra
materiais não degradáveis são os que determinam a composição gravimétrica de
cada país, de cada região e de cada cidade.
A influência do avanço da tecnologia de materiais e das campanhas contra
materiais não degradáveis pode ser observada quando se atenta para a
substituição progressiva do componente papel/papelão pelos plásticos, seguida
de uma estagnação destes últimos, em virtude de não serem degradáveis,
enquanto que os metais e o vidro permanecem praticamente inalterados ao
longo dos anos.

B.2 - Variações do Peso Específico Aparente

As variações do peso específico aparente dos resíduos sólidos ocorrem em


função de inúmeros fatores. Este texto limitar-se-á a apresentar apenas os
principais fatores que são o poder aquisitivo da população e o avanço da
tecnologia de materiais.
Com o aumento do poder aquisitivo, a população tende a consumir uma maior
quantidade de supérfluos, acarretando um acréscimo significativo de
componentes leves do lixo, como papel, papelão e plásticos, ao mesmo tempo
em que diminui sua geração de lixo úmido (matéria orgânica).
A Tabela 4 a seguir, dá uma idéia da variação do peso específico com o poder
aquisitivo da população de alguns bairros do Rio de Janeiro, lembrando que a
população da Zona Sul do Rio, de uma forma geral, tem um poder aquisitivo
maior que o das demais regiões da cidade.

Tabela 4
VARIAÇÃO DO PESO ESPECÍFICO
EM FUNÇÃO DO PODER AQUISITIVO DA POPULAÇÃO

PESO ESPECÍFICO APARENTE


BAIRRO (kg/m3)
Leblon 129,89
Copacabana 143,63
Centro 158,95
Botafogo 168,18
Vila Isabel 176,06
S. Cruz 194,56
C. Grande 196,99
Bangu 205,53

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Por outro lado, o desenvolvimento tecnológico está introduzindo materiais cada
vez mais leves, fazendo com que o peso específico do lixo seja menor a cada ano
que passa.

B.3 - Variação do Teor de Umidade

O teor de umidade dos resíduos sólidos varia significativamente com a


localização geográfica da cidade e com a estação do ano. Assim, o lixo de
cidades como Brasília, apresentam teor de umidade bastante baixo, enquanto
que em Poços de Caldas o teor de umidade do lixo ultrapassa os 70%. No Rio de
Janeiro, este valor se situa na casa dos 65%.
Como se mencionou anteriormente, o teor de umidade tem grande importância
no dimensionamento de unidades de compostagem, uma vez que este parâmetro
interfere de forma direta na velocidade de decomposição do lixo.
Se não houver água em quantidade suficiente, a massa de lixo a compostar
tenderá a secar, reduzindo a velocidade de decomposição e aumentando o
tempo de compostagem.
Se o teor de umidade for muito alto, odores desagradáveis serão produzidos,
além de poder ocorrer uma percolação de nutrientes do composto pela elevada
concentração de água. Nesta situação, a compostagem também ocorrerá
lentamente.
O teor de umidade ideal para uma compostagem aeróbia está na faixa de 40 a
60%.

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