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Resenha
Democracia e representação:
territórios em disputa
Por: Luis Felipe Miguel. – 1. ed. – São Paulo: Editora Unesp, 2014. 331p.
http://dx.doi.org/ 250
T&P Democracia e representação: territórios em disputa
Esse conflito explícito e aberto é central nos argumentos que Miguel aponta du-
rante a obra. Há dois importantes problemas de funcionamento da democracia repre-
sentativa, que também são elementos de disputa: lidar com as preferências dos indi-
víduos e manipular os interesses através de uma agregação de preferências mediante
determinada bandeira ou corrente política.
O sistema representativo carrega consigo a disputa e o conflito como inerentes aos
âmbitos político e social. Miguel alerta que a representação necessita prevenir a criação
de gigantescos problemas a partir de quatro imperativos: 1. separação entre governan-
tes e governados; 2. formação de uma elite política distanciada da massa popular; 3.
ruptura do vínculo entre vontade dos representados e representantes; 4. distância entre
o momento em que se firmam compromissos com os eleitores e o momento do exercí-
cio do poder. Segundo o autor, para executar essas medidas é necessário pensar os vie-
ses da representação a partir das desigualdades existentes e, por meio delas, construir
uma representação democrática.
No capítulo intitulado “A democracia elitista”, o autor continua a reflexão sobre
temática representativa, mas focado no cerne do problema das assimetrias: a represen-
tação como coextensiva à política e a representação como princípio da democracia.
Para tal questão, há uma evolução no pensamento teórico-democrático. O autor inicia
seu diálogo com o elitismo representativo a partir dos três principais autores da corrente
elitista da democracia: Mosca, Pareto e Michels. Miguel percebe que apesar das diferen-
ças de pontos de vista na teoria dos três autores, há um ponto em comum: a rejeição
relativa à teoria clássica da democracia, que pregava objetivos igualitários, o que para os
três autores é uma ilusão. “O elitismo pode ser descrito como a crença de que a igualda-
de social é impossível, de que sempre haverá um grupo naturalmente mais capacitado
detentor dos cargos de poder” (p. 32).
Para Miguel, termos como natureza, desigualdade e dominação são comuns ao
elitismo. Há também, segundo o autor, uma fruição estética que gera a sensação de
superioridade e a sua exaltação. A simples existência de uma elite, para essa corrente
teoria, revela a desigualdade entre as pessoas e a desigualdade social são consequên-
cias uma da outra. Michels, Schumpeter e Olson acreditam que a existência de uma elite
política se deve à incapacidade da massa em se organizar; portanto, para Schumpeter
principalmente, a função do cidadão comum é apenas legitimar a elite através de seu
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